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terça-feira, 12 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20335: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (113): Nha Maria Barba, ou avó Barba, a grande cantadeira de mornas da ilha da Boa Vista, foi minha vizinha, em Bissau: morávamos na antiga Rua Engenheiro Sá Carneiro, a dos serviços metereológicos e da messe de sargentos da FAP... (Nelson Herbert, Mindelo, Cabo Verde)


Guiné > Bissau > s/d>  Nha Maria Barba, com um dos seus netos... Morava na Rua Eng Sá Carneiro, frente à messe de sargentos da FAP. Viveu na Guiné desde os anos 40.

Foto (e legenda): © Nelson Herbert  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição elegendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Bissau > c. 1975 > Roteiro da cidade pós-independência > Rua Eduardo Mondlane (Antiga Rua Engenheiro Sá Carneiro), que parte do Chão de Papel (Av do Brasil), atravessa a Av Amílcar Cabral, a artéria central  (. a antiga Av República, ) e vai até ao Hospital Simão Mendes, ao cemitério municipal  e à antiga zona industrial...

Era a rua dos Serviços Meteorológicos e da messe de sargentos da FAP... O nosso amigo Nelson Herbert lembra-nos que "Nha Maria Barba viveu na Guiné, na então Rua Engenheiro Sá Carneiro, a rua dos Serviços Meteorológicos, numa casa... de três moradias (nasci e cresci numa das moradias adstritas) , mesmo defronte à Messe dos Sargentos da Força Aérea .(Com a independência, foi a primeira chancelaria da embaixada da China.) "


1. Mensagem de anteomtem, dia 10, enviada ao  Nelson Herbert Lopes  [, jornalista, nascido em Bissau, filho da antiga glória do futebol cabo-verdiano e guineense, Armando Duarte Lopes, o "Búfalo Bill; viveu nos EUA, onde trabalhou na VOA - Voice of America; vive hije no Mindelo; tem ceca  de 60 referências no nosso blogue; toto à esquerda]

Meu caro amigo.. e "mano":

O que é que tu sabes (, a gente trata-se por tu, em homenagem aos nossos "velhos" que estiveram como expedicionários, no Mindelo, no RI 21, em 1943) sobre a "história" desta mítica morna, a "Maria Barba", e da sua intérprete original, que seria da Boa Vista, e que terá inclusive morrido na Guiné-Bissau, em 1974 ?...

A morna era ainda muito popular no tempo dos nossos "velhos"... Vê o que podes saber mais... Mantenhas. Luís (*)

2. Resposta imediata do Nelson Herbert,antigo jornalista da Voz da América, agora a viver no Mindelo:

Conheci de facto Nha Maria Barba... ou avó Barba vizinha de toda uma vida e como diria o mindelense “ d’mema solera d’porta”... cresci praticamente com ela por perto... seus netos figuram entre os amigos de berco da Rua Engenheiro Sa Carneiro (, a rua da messe dos sargentos da FAP) (**)...

Mas aqui ficam mais  alguns apontamentos (e um texto, de um investigador da Universidade de Cabo Verde, o António Germano Lima, a publicar posteriormente, na íntegra ou como nota de leitura.) (***)


Morna,  Património Imaterial da Humanidade / UNESCO, por Nelson Herbert


A homenagem de António Germano Lima a uma das mais influentes cantadeiras de mornas... Nha Maria Barba, minha vizinha de uma mesma “solera de porta” na antiga Guiné Portuguesa...

Nha Maria Barba viveu e faleceu na Guiné, estando os seus restos mortais sepultados no Cemitério Municipal de Bissau.

Retenho ainda hoje a imagem desta boavistense, negra e alta, de uma voz singular na interpretação de mornas e acompanhada ao violão por um outro boavistense, também ele emigrado para a Guiné, de então, -refiro-me pois a “Zezinho Caxote”...

Que viva a Morna, Candidata a Patrimóio Imaterial da Humanidade.


______________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 9 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20328: Meu pai, meu velho, meu camarada (59): "Maria Bárbara, canta mais uma morna... / S’nhôr Tenente, ‘m câ pôdê cantá más... Uma morna imortal, numa homenagem à Morna, em vias de ser oficialmente consagrada como "património cultural imaterial da humanidade"

(**) Vd. 11 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13718: Recuerdos de uma infância: a Nha Maria Barba, a avó Barba, cantadeira de mornas, da Boavista, minha viziinha de Bissau (Nelson Herbert, VOA - Voice of America)

(...) Nha Maria Barba viveu na Guiné, na então Rua Engenheiro Sá Carneiro, a rua dos Serviços Meteorológicos, numa casa... de três moradias (nasci e cresci numa das moradias adstritas) , mesmo defronte a Messe dos Sargentos da Força Aérea .(Com a independência, foi a primeira chancelaria da embaixada da China) .

Sobre esta senhora postei há uns anos, na minha página do Facebook,. um pequeno texto de homenagem..que aqui partilho...

 (...) Nha Maria Barba ou avó Barba, minha vizinha de soleira de porta geminada, na Guine dé minha infância e adolescência...

Os restos mortais desta senhora, natural da ilha da Boavista, Cabo Verde, repousam hoje no cemitério municipal de Bissau !

Uma das relíquias da música de Cabo Verde é da autoria de Nha Maria Barba, aqui na voz do rei na Morna, Bana ! (...)

 Até à independência da Guiné Bissau, a então Emissora Oficial da Guiné Portuguesa conservava registos da voz desta senhora na interpretação de algumas das mais antigas mornas de Cabo Verde.(...)

Para quem frequentava a Messe dos Sargentos da Força Aérea, esporadicamente era natural, nos serões da noite da nossa/minha rua de infância, ver Nha Maria Barba, com Zezinho "Caxote" ao violão (este um cabo-verdiano amante das serenatas que emigrou para a Guiné) interpretar algumas das lindas mornas de Cabo Verde...

Em jeito de rodapé, recordo-me entretanto, e perfeitamente, apesar da magistral interpretacão da morna em questão pela voz do Bana, de Nha Maria Barba queixar-se da 'adulteração" de algumas estrofes da composição original de sua autoria...

"Nha mae é fraca e nha pai é malandre'
S'un ca bai um' ta bà prese' pa porto
Nha mae é fraca e nha pai é malandre'
S'un ca bai um' ta bà prese' pa porto"

Negava, por exemplo, que no original da composicão, tenha se referido ao pai, nos termos em que a versão interpretada pelo Bana o faz: "Nha Pai e Malandre" ( Meu pai e um malandro)-

Apenas tenho vivas recordaçõees de uma mulher...da avó Barbara, figura que marcou a minha infância e adolescência em Bissau. (...)

(ª***) Último poste da série > 15 de outubro de 019 > Guiné 61/74 - P20243: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (111): Notícias do Fernando Jorge Gonçalves, o "Spinolazinho", mascote da CCAÇ 3373 (Empada, maio de 1971/ maio de 1972), filho da professora da escola primária local, e amigo do alf mil Quintas, infelizmente já falecido

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20332: Historiografia da Presença Portuguesa em África (185): O modelo (Maria Barba) e o fotógrafo (José Bacelar Bebiano)... A propósito de uma morna "imortal"...Resta saber quem era o "senhor tenente Serra"...evocado na letra "Mária Bárbara, canta mais uma morna... / S’nhôr Tenente, ‘m câ pôdê cantá más...


Cabo Verde > José Bacelar Bebiano > c. 1926/32 > Retrato de duas mulheres... Nanie Lima, que vive nos EUA, com antepassados na ilha da Boa Vista, Cabo Verde, diz que a Maria Barba seria a primeira das duas mulheres, a da esquerda... O Nelson Herbert, nosso amigo da Tabanca Grande, teve-a em Bissau como vizinha e amiga da família, conforme relato que publicaremos em próximo poste... Confirma-se portanto que a cantadeira, autora da "imortal morna", emigrou nos anos 40 para a Guiné, onde morreu com cerca de 64 anos... Na mesma altura, no Mindelo, o "meu pai, meu velho, meu camarada" (*) ouvia, pela primeira vez, a música nostálgica e letra pungente desta morna, sem saber que a sua autora já tinha emigrado (ou estava em vias de emigrar) para a Guiné para fugir da fome e da miséria...


Cabo Verde > José Bacler Bebiano > 1926/32 > Euipa da missão... Bacelar Bebiano é 2º, um dos outros pode ser o tenente Serra....O talvez não: estão todos à civil... O tenente Serra podia não fazer parte da missão, estando destacado, na altura,  na ilha da Boa Vista por razões de serviço militar...

Cortesia de Instituto de Investigação Cientifica Tropical (IICT),

1. O seu a seu dono... A foto de "duas mulheres, Boavista, 1926" (*), tem uma marca de água... que me levou ao portal do Instituto de Investigação Cientifica Tropical (IICT), Lisboa, Portugal. Essa foto tem autoria: José Bacelar Bebiano, e foi obtida no âmbito da Missão Geográfica de Cabo Verde (1926-1932).

O que diz o sítio do IICT nem que localizei a foto de cima, a das duas mulheres:

Missão Geográfica de Cabo Verde 1926-1932 [Negativos originais]

Negativos correspondentes ao álbum MGG/Alb14, com o mesmo título. No interior da caixa com os negativos contem um papel datilografado com a seguinte inscrição "Centro de Documentação Científica - Uma caixa contendo 14 caixinhas com negativos de Cabo Verde e Angola, enviados pelo Exmº Senhor Bacelar Bebiano. Lisboa, 27 de Outubro de 1962. recebido por Enrique Cortesão." Existe um mapa online com a distribuição dos Marcos Geodésicos pela Ilha. Disponível no ACTD em: http://actd.iict.pt/maps/cvsa; Author: José Bacelar Bebiano; Local: Cabo Verde; Data: 1926-1932

Ficha técnia da foto "Retrato de Duas Mulheres"
Data da captura / Date photo taken 1926-1932
Tema / Topic Missão Geográfica de Cabo Verde 1926-1932 [Negativos originais]
Localidade / Local Cabo Verde
Fotógrafo / Photographer José Bacelar Bebiano
Copyright Instituto de Investigacao Cientifica Tropical, Lisboa Portugal
Tipologia / Source Fotografado a partir do negativo em vidro original 6x9cm, cota MGG/VC 42
Número ID / ID Number 25419
Data da digitalização / Date scanned 2013-04-11
Instituição / Institution Instituto de Investigação Científica Tropical
Proveniência / Provenance IICT/Cartografia; Centro de Documentação e Informação; Centro de História
Entidade Detentora / Custodian Instituto de Investigação Científica e Tropical


2. Para se perceber o contexto da letra  (pungente) da morna "Maria Barba"

(i) "Manga" devia ser no norte da ilha da Boa Vista, ciclicamente atingida por pragas de gafanhotos;

(ii) por outro lado, é bom não esquecer a mortalidade devida a seca e fome: a crise de 1941-1943, terá matado em todas as ilhas mais de 24 mil pessoas. [Vd. CARREIRA, António. Cabo Verde: aspectos sociais. Secas e tomes do século xx. Lisboa: Ulmeio, 1984. p. 17-19[

(iii) se a cantadeira Maria Barba emigrou, nessa altura, em que parte da Guiné terá vivido ? E onde é que morreu? Se morreu em 1974, alguns de nós podê-la-ão ter conhecido...Foram estas questões que eu pus ao nosso amigo Nelson Herbert. no pressuposto de que a terá conhecido na Guiné.

(iv) O Nelson Herbert acabou de me confirmar, ontem,  às 16h11: "Conheci de facto Nha Maria Barba... ou avó Barba,  vizinha de toda uma vida e,  como diria o mindelense, “ d’mema solera d’porta”... Cresci praticamente com ela por perto... seus netos figuram entre os amigos de berço da Rua Engenheiro Sá Carneiro (a rua da messe dos sargentos da FA), em Bissau"...

Mandou-me mais alguns apontamentos e postes, a propósito... De facto, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

3. A modificação da letra original parece-nos ter sido muito "infeliz"... Não sei  quem terá sido o responsável: refiro-me à versão "popularizada" pelo grande Bana, de quem eu tenho, de resto,  grande apreço como  cantor...

No contexto (desgraçado) daquela ilha (Boa Vista ) e daquele arquipélago (Cabo Verde) nos duros anos de 1920/30/40, quem é que se podia dar ao luxo de ter "um pai malandro"?... Uma filha nunca o diria, lamentaria, isso, a sua ausência, a sua morte...

"Malandro" talvez no Mindelo / São Vicente, terra do Bana e da Cesária, mas na Boa Vista, terra da Maria Barba, por favor!...

Há concessões de mau gosto, e esta parece ser uma delas: a morna, tal como o fado (e o tango), tem um origem (mítica) na prostituição e na malandragem dos portos atlântico...

4. Na letra original da "Maria Barba" o senhor engenheiro é... o fotógrafo José Bacelar Bebiano, que chegará a "ministro das colónias" no 5º governo da Ditadura Militar, que esteve em vigor entre 10 de novembro de 1928 e 8 de julho de 1929, liderado por José Vicente de Freitas, e sendo o ministro das Finanças o Prof Oliveira Salazar.

Encontrei, além disso,  mais a seguinte referência ao José Bacelar Bebiano, de resto autor de diversas obras, em especial de geologia de minas, em Angola.

Geólogo (1894-1967): Foi um dos pioneiros no estudo científico do ultramar português. A partir de 1919 dedicou-se aos estudos geológicos e mineiros em Angola, Moçambique e Cabo Verde, os quais se tornaram de extrema importância. A sua formação iniciou-se em Lisboa, na Escola Politécnica, mas depois prosseguiu os estudos em Londres, na Royal School of Mines, onde se formou em Engenharia de Minas e Geologia. Presidiu a Junta das Missões Geográficas e de Investigação Coloniais e foi ainda ministro do Comércio e das Colónias.

Resta-nos saber quem seria esse tenente Serra que devia integrar a missão, chefiada pelo engº José Bacelar Bebiano... (**)

Na letra original, atribuída à cantadeira Maria Barba [ou Bárbara] (Boavista, 1910-Bissau, 1974), a última parte reza assim:

(...) Maria Barba não me esquecerei de vocês
Principalmente de ti, Maria Barba,
Maria Barba,
Não me esquecerei das cantadeiras
Nem das lavadeiras, nem de ti Maria Barba.

- Saúde, Sr. Tenente, saúde Sr. Inginher,
Saúde e vivas, pâ Vossas Excelências 

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quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20272: In Memoriam (353): Júlio Herbert (Bissau, 1954 - Praia, 2019), diplomata e político, irmão do nosso grã-tabanqueiro Nelson Herbert (Zeca Macedo, ex-2º ten fuz esp. DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74)


Júlio Herbert (Bissau, 1954 - Praia, 2019). 
Fonte: Cortesia de A Semana, Praia, Cabo Verde


1. O nosso camarada da Tabanca da Diáspora Lusófona,  Zeca Macedo [ex-2º tenente fuzileiro especial, DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74), nascido na Praia, Santiago, Cabo Verde, em 1951, e a viver nos Estados Unidos, onde é advogado, sendo membro da nossa Tabanca Grande desde 13/2/2008],  deu-nos a triste notícia da morte do irmão do nosso grã-tabanqueiro, Nelson Herbert.  

Trata-se de Júlio Herbert, que exercia funções no atual Governo da República de Cabo Verde, como ministro adjunto do  primeiro-ministro para a Integração Regional. Morreu, no passado dia 21, de morte súbita (, enfarte agudo do miocárdio), no seu gabinete, na Praia. Ia completar 65 anos no próximo dia 16 de novembro. Nasceu em Bissau em 1954, tal como o seu irmão Nelson Herbert.

Era formado em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco, de Brasília, e em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Era embaixador de carreira,  tendo desempenhado, entre outras funções, as de cônsul-geral adjunto de Cabo Verde em Boston, Estados Unidos da América, assessor político-diplomático da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), conselheiro do Presidente da República e conselheiro político e diplomático do primeiro-ministro.

Foi decretado dois dias de luto nacional em Cabo Verde. As cerimónias fúnebres decorretam esta quinta-feira, 24 de outubro,  no Palácio do Governo, na Várzea, seguidas da missa de corpo presente na Paróquia Nossa Senhora da Graça, terminando depois no cemitério da Várzea.

À família enlutada, e em particular ao nosso amigo Nelson Herbert, a Tabanca Grande apresenta a manifestação do seu pesar. Um alfabravo também para o Zeca Macedo, que nos mandou os elementos com que elaboramos a notícia, dada por A Semana, "on line"

Recorde.se que o o Nelson Herbert Lopes é jornalista, nascido em Bissau, filho da antiga glória do futebol cabo-verdiano e guineense, Armando Duarte Lopes, o "Búfalo Bill, vivendo nos EUA, onde trabalha ou trabalhou na VOA - Voice of America, e tendo  mais de meia centena de referências no nosso blogue. [Nelson Herbert, toto à esquerda]

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Nota do editor:

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20160: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (14): continuando a falar de..."futebol, elites e nacionalismo"


Gâmbia > Bathurst > 1953 > Comemorações da entronização da Rainha Isabel II, de Inglaterra (n. 1926) > Foto da seleção de futebol da Província Portuguesa da Guiné > De pé, da esquerda para a direita, Antero Bubu (Sport Bissau e Benfica; capitão), Douglas (Sport Bissau e Benfica), Armando Lopes (, pai do nosso amigo Nelson Herbert) (UDIB), Theca (Sport Bissau e Benfica), Epifânio (UDIB) e Nanduco (UDIB); de joelhos, também da esquerda para a direita: Mário Silva (Sport Bissau e Benfica), Miguel Pérola (Sporting Club de Bissau), Júlio Almeida (UDIB), Emílio Sinais (Sport Bissau e Benfica, Joãozinho Burgo ( Sport Bissau e Benfica) e João Coronel (Sport Bissau e Benfica).

No 1º jogo, a seleção da Guiné ganhou à seleção da Gâmbia por 2-0, com golos de Joãozinho Burgo (, falecido recentemente em Portugal 22/1/2019); no 2º jogo, as duas seleções empataram 2-2 (com golos, pela Guiné, de Mário Silva e Joãozinho Burgo). Antiga colónia inglesa, a Gâmbia acederá à independência em 1965.

Legenda de João Burgo Correia Tavares: vd. livro Norberto Tavares de Carvalho - "De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita", Porto, edição de autor, 2011, p. 41.

Foto: © Armando Lopes / Nelson Herbert (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Quer queiramos quer não, não conseguimos deixar de falar... de futebol. Temos mais de seis dezenas de referências no nosso blogue... Hoje retomamos o tema "futebol e nacionalismo" (*)...  E continuamos a celebrar os nossos 15 de existência, enquanto blogue e enquanto grupo de amigos e camaradas da Guiné que se reune à sombra do simbólico poilão daTabanca Grande (**)

Fomos encontrar, no livro do Norberto Tavares de Carvalho, a foto acima, já nossa conhecida, da seleção de futebol da província portuguesa da Guiné, onde figura o Armando Lopes (jogador da UDIB, pai do nosso amigo Nelson Herbert, e que também era conhecido como Búfalo Bill).

Recorde-se que ele fez o seu serviço militar no Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, em 1943, na altura em que também lá estava, como expedicionário, o meu pai, meu velho e meu camarada, Luís Henriques; ambos nasceram em 1920 e, infelizmente, já faleceram od dois, o meu, em 2012, o pai do Nelson Herbert, mais recentemente, em 2018. Ambos tinham igualmente uma paixão pelo futebol...

A foto que publicamos acima,  é do arquivo pessoal do João Nascimento Burgo Correia (ou Corrêa) Tavares, o Joãozinho Burgo, do Sport Bissau e Benfica... Mas o nosso blogue já tinha publicada uma igual, em 15 de agosto de 2010, do arquivo do Armando Lopes / Nelson Herbert.

Cabo-verdiano, da ilha do Fogo, onde nasceu em 1929, Joãozinho Burgo era mais novo do que o Armando Lopes (1920-2018),  mas mais velho que o Bobo Keita (1939-2009). O auge da sua carreira é em 1960, com o apuramento da seleção de futebol da Guiné para a fase de qualificação para a disputa da taça Kwame Nkrumah.

Vencedora da Série D, a seleção guineense foi disputar a final em Acra, capital do Gana: além de Joãozinho Burgo, fizeram parte dessa equipa Bobo Keita, Júlio Semedo (Swift, guarda-redes), Antero 'Bubu', Vitor Mendes (Penicilina), 'Djinha', João de Deus, 'Chito', Luís 'Djató', 'Nhartanga' (que jogará depois em Portugal), entre outros...

O Joãozinho Burgo deixou de jogar já época, distante,  de 1966/67, para de seguida ir tirar o curso de treinador, ainda em 1967, em Setúbal (onde teve como colegas de curso o José Augusto, o Coluna e o Cavém) (p. 36).

O Bobo Keita, mais novo (1939-2009), embora sportinguista de coração, assinou e jogou pelo Sport Bissau e Benfica, clube do seu pai, alfaiate... O mais interessante era verificar a grande popularidade que tinha o futebol nessa época, nomeadamente em Bissau, mas também no interior (primeiro em Bolama, depois Bissau, Mansoa, Bafatá...).

O futebol também foi um viveiro de militantes, combatentes e dirigentes do PAIGC (Júlio Almeida, Júlio Semedo, Bobo Keita, Lino Correia...). Era interessante aprofundar as razões deste fenómenos...


Guiné > Bissau > Março de 1970 > Estádio Sarmento Rodrigues (hoje, Estádio Lino Correia) > Jogo de futebol entre o Sporting de Bissau e a UDIB, com transmissão radiofónica. Se a memória não me falha, quem fazia o relato era o Carlos Soares (está numa mesa). Vemos à esquerda, a zona onde se localizava a Verbena e o Cinema UDIB.  O estádio foi construído em 1947 e electrificado, já no tempo de Spínola, em 1971. O Lino Correio, antigo jogador da UDIB, morreu precocemente, em 25/11/1962, em Conacri, de acidente, numa sessão de preparação física. 

Foto do nosso grã-tabanqueiro, Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Os Maiorais, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70).

Foto (e legenda): © Arménio Estorninho (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Recorde-se que o Júlio Almeida, antigo funcionário da granja de Pessubé, que trabalhou com Amilcar Cabral, é referenciado como um dos fundadores, em 1956, do PAIGC, ou melhor do PAI, mais tarde PAIGC. Segundo informação do Nelson Herbert, a indicação e a consequente transferência de Júlio Almeida do futebol mindelense (São Vicente, Cabo Verde) para a UDIB de Bissau foi iniciada, a pedido do clube guineense, no ínício dos anos 50, pelo seu pai, Armadndo Lopes, que na altura estaava a passar férias em S. Vicente, a ilha de natal de ambos.

Bobo Keita, que nasceu no Cupelom [ ou Pilão] de Baixo, em Bissau, jogava na equipa do bairro, o Estrela Negra... Dela faziam parte futuros militantes nacionalistas como o Umaro Djaló, Julião Lopes, Corona, Ansumane Mané (outro que não o brigadeiro), Lino Correia (que era de Mansoa)... Keita, miúdo de rua, não tinha botas. As primeiras que teve foram-lhe emprestadas (e depois dadas) pelo Sport Bissau e  Benfica. Jogou com elas em Mansoa. Jogará depois nos juniores do Benfica e, dada o seu talento, chega rapidamente à seleção provincial.

Tinha então 17 anos. Como a idade mínima legal eram os 18, à face das normas internacionais do futebol, tiveram que lhe fazer uma "nova" certidão de nascimento (sic)... "A partir daí, segundo as circunstâncias, passei a exibir dois bilhetes de identidade, um com dezassete anos e outro com dezoito anos", confidencia o Bobo keita ao seu biógrafo (p. 31).

Acabou por jogar a defesa direito no Benfica. Dos juniores passa às reservas e depois à equipa principal. Para além de ser o orgulho do seu pai, tornou-se muito popular entre os adeptos. O grande dérbi, em Bissau, eram o jogo Benfica-Sporting. Na época, o Benfica era de longe a melhor equipa de futebol da província, recheada de estrelas (que integravam por sua vez a seleção da província).

Foi o Victor Mendes, um treinador português, que levou Bobo Keita para a seleção e que o pôs a jogar como defesa lateral esquerdo, depois de muito trabalho... Outro clube cotado localmente era o UDIB - União Desportiva e Internacional de Bissau, onde jogava o seu primo João de Deus.

Nas conversas com Noberto Tavares de Carvalho, Bobo Keita recorda o Torneio da África Ocidental, que começou na Ilha de São Vicente, Cabo Verde, em 1958, e que juntou outras  seleções (Cabo Verde, Senegal, Gâmbia e Guiné-Conacri) (pp. 39-40). Também, jogou na Gâmbia, onde a seleção guineense era, de há muito, temida, desde o tempo do Armando Lopes.

E acrescenta o Nelson Herbert: "Convém não perder de vista que ante a então apertada vigilância da PIDE, a 'bola' foi por sinal a via encontrada por Amílcar Cabral para a conglomeração, na periferia de Bissau, de guineenses e cabo-verdianos em redor de ideais nacionalistas.

"E falando ainda de futebol, recordo ter lido em tempos no blogue um poste que fazia referência ao papel dos soldados portugueses na Guiné, na 'massificação'  do futebol naquela antiga província ultramarina."

2. Mas voltando ao Bobo Keita e à selecção de futebol da Guiné, que foi apurada para a final da taça Kwame Nkrumah, jogada em  Acra, capital do Gana, em 1959. 

O encontro com o presidente Kwame Nkrumah terá sido decisivo na vida de Bobo Keita. Recorde-se que a antiga colónia inglesa, Golden Coast, a Costa do Ouro, proclama oficialmente a sua independência em 6 de Março de 1957. Nkrumah, num cerimónia de receção nos jardins do seu palácio, incentivou então os jovens futebolistas a lutarem pela independência dos seus países. 

Em 1 de outubro de 1960, Keita está em Lagos, capital da Nigéria, outra vez num torneio de futebol, por ocasião das festas da independência de mais um grande país africano (p. 44-46). Que memórias guarda desse tempo ?

"Como acontecera com o discurso do Nkrumah, fui de novo sacudido por um mar de interrogações, sempre falando com os meus botões e acabando por concluir que tudo aquilo era bonito, mas completamente impensável na Guiné. No entanto, pela segunda vez, o acaso punha-me de caras com os pensamentos revolucionários daquele tempo. Só que desta vez senti algo a despertar em mim" (p. 45)...

E mais à frente acrescenta, na entrevista com Norberto Tavares de Carvalho, publicada em livro, que temos vindo a citar:

"Fiquei com aquela imagem de um povo confiante, independente e livre. Esse quadro ficou gravado em mim como o segundo factor de formação da minha consciência nacionalista" (p. 46).

Três meses depois, em 26 de dezembro desse ano, Bobo Keita, que tinha apenas a 4ª classe da instrução primária, "vai no mato", isto é, entra na clandestinidade, mais exatamente segue em viagem para o sul, disfarçado de alfaiate, mas com destino certo: Conacri. Em 12 de janeiro de 1961 tem à sua frente Amílcar Cabral, o homem que lhe tinha dado um bola, quando "djubi" do Cupelom, seu bairro natal...

Como é que um jovem e promissor jogador de futebol chega até aqui, ou seja, entra em ruptura com a sociedade onde, mal ou bem, está integrado ? Antes de mais, é de referir o sentimento de injustiça e de revolta que começa a apoderar-se dos jovens jogadores da seleção da Guiné. Na Nigéria não recebem os prometidos e ansiados prémios de jogos. Sentem-se explorados e inferiorizados quando comparados com os jogadores das outras seleções africanas, em particular os nigerianos. Na capital da Gâmbia, Bathurst, o conflito, latente, estala, passando a conflito aberto, manifesto... Recusam-se a jogar... Acabam por ceder para "não ficarmos mal vistos" (p. 48), mas recebem no final o dinheiro prometido...

Os dirigentes da seleção estranharam o comportamento jogadores e não gostaram... No regresso a Bissau, entra a PIDE em ação. O ambiente é de crispação, dentro e fora do balneário. Chegou-se a pensar prender toda a selecção, mas acabou por imperar o bom senso... Os jogadores, incluindo Bobo Keita, foram discretamente interrogados, um a um, pela PIDE nas instalações dos Bombeiros Voluntários de Bissau (pp. 52 e ss.). Dada a sua popularidade, os jogadores da seleção, envolvidos no conflito passado na Gâmbia, acabaram por se safar... Acrescenta o Bobo Keita, que até o próprio Governador, na altura o Peixoto Correia [1913-1988; governador entre 1958 e 1962], "uma ardente adepto do futebol", não terá apreciado a ação da PIDE (p. 53)...



Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A valorosa equipa de futebol da CCAÇ 12, que disputou campeonatos em Bafatá...  Supremacia branca, discriminação racial, elitismo ?... Nada disso, os graduados e especialistas metropolitanos da companhia eram apenas um terço; o resto da companhia era do recrutamento local, de etnia fula... Os fulas, pastores, místicos  e guerreiros,  não jogavam à bola, ou   não tinham especial apetência pela prática do futebolmuitos deles numa tinham visto uma bola de futebol, ou um equipamento desportivo, lá nas suas tabancas dos regulados de Badora e de Cossé...

Mas é bom lembrar que, na Guiné do nosso tempo, e devido à guerra o futebol estava praticamente confinado a Bissau... se bem, que houvesse também equipas de futebol no interior (Bafatá, Mansoa)... Do Clube de Futebol Os Balantas de Mansoa (Mansoa) [Região do Oio], era, ao que parece o Corca Só, lendário comandante do PAIGC que um dia terá prometido "limpar o sebo" ao "Tigre de Missirá", o nosso amigo e camarada Mário Beja Santos...

Enfim, o futebol continuava a ser  o desporto, por eleição, dos "tugas", no final dos anos 60...mas também fora um viveiro de dirigentes e militantes do PAIGC no início da década...

Os "tugas" da CXAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71=, aqui fotografados,  da esquerda para a direita, são, na primeira fila:

(i) Gabriel Çonçalves, o "GG" (1º cabo cripto, vive em Lisboa),

(ii) Francisco Moreira (alf mil op esp, cmdt do 1º Gr Comb, vive em Santo Tirso);

(iii) Arlindo Roda (fur mil at inf,. do 3º Gr Comb, vive em Setúbal);

(iv) Arménio Fonseca, o "Campanhã" (sold at inf, 1º Gr Comb, vive no Porto);
(v) e o guarda-redes, João Rito Marques (o 1º cabo quarteleiro, vive no Souto, Sabugal);

e na segunda fila:

(vi) Fernando Sousa (1º cabo aux enf, vive na Trofa),

(vii) Luciano Pereira de Silva (1º cabo at inf, 4º Gr Comb, natural de São Mamede do Coronado, Trofa, emigrado em França);

(viii) Fernando B. Gonçalves (1º cabo aux enf, que veio substituir o 1º cabo aux José M. Sousa Faleiro, evacuado logo no início para o Hospital Militar de Doenças Infecto-Contagiosas; morada atual desconhecida)

(ix) Alcino Carvalho Braga (sold cond auto; vive em Lisboa)

(xi) Manuel Alberto Faria Branco (1º cabo at inf, 2º Gr Comb; vive na Póvoa do Varzim)

(xi) e o António Manuel Martins Branquinho (fur mil at inf, 1º Gr Comb; falecido, vivia em Évora).

Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

__________

Notas de leitura:

(*) Vd. postes de:



(**) Último poste da série > 24 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20091: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (13): Hoje faz anos, 73, o António Fernando Marques... Porque recordar é viver duas vezes, e blogar é três... Relembramos o fatídico dia, 13/1/1971, em que o PAIGC nos quis mandar para os anjinhos... O meu querido Marquês, sem acento circunflexo, tem filhos, netos, amigos e camaradas que o adoram... E o Mário Mendes, morto de morte matada 16 meses depois... será que alguém ainda o recorda na sua terra natal? (Luís Graça)

sábado, 7 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20129: O nosso livro de visitas (202): O nosso amigo e grã-tabanqueiro, Nelson Herbert Lopes, dos EUA, a "partir mantenhas" e a pedir informações sobre postes relativos aos trágicos acontecimentos de Morocunda, Farim, de 1 de novembro de 1965 (Carlos Vinhal)

1. Mensagem do nosso amigo e grã-tabanqueiro Nelson Herbert Lopes [, jornalista, nascido em Bissau, filho da antiga glória do futebol cabo-verdiano e guineense, Armando Duarte Lopes, o "Búfalo Bill; vive nos EUA, onde trabalha ou trabalhou na VOA - Voice of America; tem mais de meia centena de referências no nosso blogue]: 

Data - segunda, 19/08, 20:28

Assunto - Só pra falar Mantenha!

 Luís e Carlos:

Antes de mais para saber de notícias dos meus amigos... pelo que faço votos, desde já, que estejam ambos desfrutando de uma boa saúde.

Mas, é também propósito deste email recorrer a um préstimo vosso... o aceder aos postes do blogue referentes às mortes/ataques/acontecimentos registados em 1965 na Tabanca de Morkunda [, Morocunda,] em Farim.

 Li no blog, e já faz tempo, alguns postes alusivos ao acontecido. E como voltar a aceder a esses “postados” ?

 Um abraço aos dois.

Nelson Herbert Lopes

 PS - Luís, a esta hora quem sabe os nossos “Mais Velhos” já tenham se encontrado lá no Céu e a “rememorar” as peripécias e experiência de ambos na ida década 40 do século passado como integrantes da força expedicionária portuguesa em São Vicente, Cabo Verde. E que meu pai faleceu em Dezembro último (2018) em Cabo Verde, tendo sido sepultado no seu Mindelo Natal. Mantenhas e um rijo abraço aos “Tabanqueiros”... da nossa, porque minha também, Tabanca Grande.


2. Resposta do nosso coeditor Carlos Vinhal:

Caro Nelson Herbert:

Não sei se o Luís já lhe deu resposta. Em todo o caso aqui está a minha ajuda. Pode aceder à informação que pretende através do descritor Morocunda [, um bairro de Farim, na altura, em 1965].

 Quem fala dessa tragédia é o António Bastos (**).

Lembro que ao navegar na página, encontrará no rodapé ao lado direito, uma ligação para os posts (mensagens) mais antigos. Fará sempre isso até receber a informação de voltar à página inicial.
Com respeito à saúde, tudo bem, tirando um ou outro sobressalto próprio da "septuagenidade". Obrigado pelo cuidado.
Esperando que esteja tudo bem consigo, deixo-lhe um abraço em meu nome pessoal e do resto da malta que ainda sobrevive por aqui. (***)

(**) Vd. postes de:


domingo, 30 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19345: In Memoriam (332): Armando Duarte Lopes (1920-2018): antiga glória do futebol guineense, morreu no passado dia 18 o "Búfalo Bill"; foi a enterrar na sua terra natal, o Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde (Nelson Herbert Lopes, EUA)



Gâmbia > Bathurst > 1953 > Comemorações da entronização da Rainha Isabel II, de Inglaterra > Foto da seleção de futebol da Província Portuguesa da Guiné > De pé, da esquerda para a direita, Antero Bubu (Sport Bissau e Benfica; capitão), Douglas (Sport Bissau e Benfica), Armando Lopes (UDIB), Theca (Sport Bissau e Benfica), Epifânio (UDIB) e Nanduco (UDIB); de joelhos, também da esquerda para a direita: Mário Silva (Sport Bissau e Benfica), Miguel Pérola (Sporting Club de Bissau), Júlio Almeida (UDIB), Emílio Sinais (Sport Bissau e Benfica, Joãozinho Burgo ( Sport Bissau e Benfica) e João Coronel (Sport Bissau e Benfica).

No 1º jogo, a seleção da Guiné ganhou à seleção da Gâmbia por 2-0, com golos de Joãozinho Burgo; no 2º jogo, as duas seleções empataram 2-2 (com golos, pela Guiné, de Mário Silva e Joãozinho Burgo). Antiga colónia inglesa, a Gâmbia acedeu à independência em 1965.

Legenda de João Burgo Correia Tavares: vd. livro Noberto Tavares de Carvalho -  "De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita", Porto, edição de autor,  2011, p. 41.

Caboverdiano, da Ilha do Fogo, onde nasceu em 1929, Joãozinho Burgo era mais novo do que o Armando Lopes (n. 1920) mas dez anos  mais velho que o Bobo Keita (n. 1939). O auge da sua carreira é em 1960, com o apuramento da seleção de futebol da Guiné para a fase de qualificação para a disputa da taça Kwame Nkrumah.

Vencedora da Série D, a seleção guineense foi disputar a final em Acra, capital do Gana: além de Joãozinho Burgo, fizeram parte dessa equipa Bobo Keita, Júlio Semedo (Swift, guarda-redes), Antero 'Bubu', Vitor Mendes ('Penicilina'), 'Djinha', João de Deus, 'Chito', Luís 'Djató', 'Nhartanga' (que jogará depois em Portugal), entre outros...

O Joãozinho Burgo deixou de jogar na época de 1966/67, para de seguida ir tirar o curso de treinador, ainda em 1967, em Setúbal (onde teve como colegas de curso o José Augusto, o Coluna e o Cavém)

O Bobo Keita  (1939-2009), embora sportinguista de coração, assinou e jogou pelo Sport Bissau e Benfica, clube do seu pai, alfaiate... O mais interessante era verificar a grande popularidade que tinha o futebol nessa época, nomeadamente em Bissau, mas também no interior (Mansoa e Bafatá, por ex.).

O futebol, tal como o exército,  também foi um viveiro de militantes, combatentes e dirigentes ao PAIGC (Júlio Almeida, Júlio Semedo, Bobo Keita, Lino Correia...). Era interessante saber porquê...

O pai do nosso amigo e grã-tabanqueiro Nelson Lopes Herbert, de seu nome Armando Duarte Lopes, foi também, pois, uma antiga glória do futebol cabo-verdiano e guineense ("Armando Bufallo Bill, seu nome de guerra, o melhor futebolista da UDIB - União Desportiva e Internacional de Bissau. Também jogou no Sport Bissau e Benfica, de longe a melhor equipa de futebol da província,  e foi internacional pela selecção guineense.

Trabalhou depois na administração de portos da Guiné, e inclusive na   porto fluvial de Bambadinca, entre 1969 e 1971, na altura em que eu estive em Bambadinca, na CCAÇ 12 (julho de 1969/março de 1971). Tenho pena de o não ter conhecido pessoalmente, mas seguramente que nos cruzámos algumas vezes....


Foto: © Armando Lopes / Nelson Herbert (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].





Armando Duarte Lopes (Mindelo, 1920 - Mindelo, 2018),antiga glória do futebol de Cabo Verde e da Guiné


Fotos: © Nelson Herbert Lopes  (2018. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Monte Cara, Mindelo, S Vicente, Cabo Verde  >  Monte Cara é uma montanha na parte ocidental da ilha de São Vicente, Cabo Verde. Assemelha-se a um rosto humano olhando para o céu, daí o seu nome, o que significa 'Montanha do rosto'. Foto (e legenda) de cronologia da página do Facebook do nosso amigo Nelson Herbert. (Reproduzida aqui com a devida vénia).


1. Mensagem, com data de 26 do corrente, nosso amigo e grã-tabanqueiro Nelson Herbert Lopes [jornalista, nascido em Bissau, filho da antiga glória do futebol cabo-verdiano e  guineense, Armando Duarte Lopes, o "Búfalo Bill; vive nos EUA, onde trabalha ou trabalhou na VOA - Voice of America):

Meu Caro Luis

Espero que tenha tido um bom Natal cheio de surpresas agradaveis.

Estas linhas apenas para lhe deixar saber que infelizmente o meu “Velho” Armando Duarte Lopes faleceu no passado dia 18 de Dezembro com 98 anos de idade... e foi a enterrar na última sexta feira no seu Mindelo natal. Não resistiu a uma paragem cardíaca...

Um abrço e um Feliz Ano Novo.

Nelson Herbert

2. Comentário do nosso editor Luís Graça:

Tínhamos até agora uma meia dúzia de referências ao pai do nosso amigo Nelson Herbert Lopes (*). Chega agora ao fim da sua viagem terrena. 

Cabo-verdiano do Mindelo, nasceu em 1920 (ou em 1922 ?)  fez o serviço militar na sua terra natal, no RI 23. em 1943, na altura em que também lá estava, como expedicionário, o meu pai, meu velho e meu camarada, Luís Henriques (1920-2012):  ambos tinham uma paixão pelo futebol, e ainda é possível que se tenham conhecido...(**)

O RI 23 foi também a unidade onde prestaram serviço, como expedicionários durante a II Guerra Mundial,  o Ângelo Ferreira de Sousa (1921-2001), pai do nosso camarada Hélder Sousa, e o Porfírio Dias (1919-1988), pai do nosso  camarada Luís Dias. (*)

Ao filho Nelson Herbert e demais família e amigos, ficam aqui registadas as condolências dos amigos e camaradas da Guiné que se sentam sob o poilão da Tabanca Grande. (***)

3. Mensagem de Nelson Herbert, de 20 de outubro de 2011,  21:05 (***)

Assunto: Futebol e Nacionalismo

Caro Luis

"As equipas de futebol deram bastantes militantes ao PAIGC... Era interessante saber porquê...No caso do Bobo Keita, foram decisivas as viagens ao estrangeiro (Ghana, Nigéria...) com a seleção nacional, até 1960, ano em que ele passou à clandestinidade"... E eis (mais) um capítulo da história da Guiné ainda por aprofundar !!!

Repare que a seleção de que Bobo Keita fazia parte, contava igualmente com um dos elementos fundadores do PAIGC, refiro-me pois ao cabo-verdiano Júlio Almeida (guarda redes, que deduzo estar na foto a que fez referência) , então técnico agrário da Granja de Pessubé, [onde trabalhou com] Amílcar Cabral !!!

A indicação e a consequente transferência de Júlio Almeida do futebol mindelense para a UDIB de Bissau foi iniciada, a pedido do clube guineense - creio que [no ínício dos] anos 50- pelo meu pai [ Armadndo Lopes], na altura de férias em S. Vicente, a ilha de natal de ambos.

Convém não perder de vista que, ante a então apertada vigilância da PIDE, a "bola" foi por sinal a via encontrada por Amílcar Cabral para a conglomeração, na periferia de Bissau, de guineenses e cabo-verdianos em redor de ideais nacionalistas.

E falando ainda de futebol, recordo ter lido em tempos no blogue um poste que fazia referência ao papel dos soldados portugueses na Guiné, na "massificação" do futebol naquela antiga província ultramarina.

Obrigado por partilhar!

Mantenhas

Nelson Herbert
_______________

Notas do editor:

(*) Vd. por exemplo postes de;



sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19342: Memória dos lugares (384): Tradições do Natal crioulo em Bissau: o "fanal" e o "mbim pidi festa" da meninada do meu tempo (Nelson Herbert)


Desenho de um "capelinha"  feitas pelas crianças de Bissau  no Natal... Segundo Nelson Herbert, era o "fanal2 (que tinha sempre no interior um pequeno presépio montado e uma vela acesa)...

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo Nelson Herbert [jornalista, de origem guineense e cabo-verdiana, filho da antiga glória do futebol guineense,  Armando Duarte Lopes, o "Búfalo Bill (1920-2018); vive nos EUA, onde trabalha ou trabalhou na VOA - Voice of America]:

Data - quarta, 26/12, 16:00

Assunto - Tradições do Natal crioulo da Guiné (*)

O “esqueleto” da capela [, vd. imagem acima]  era feito do “miolo-esponjado” da cana de bambu [escapa-me agora o nome em crioulo do material também usado na confecção de peças de mobiliário tradicional- (cadeiras e banquinhos - particularmente no Leste da Guiné )] e as “paredes”  eram forradas de papel de seda, meio transparente, e de várias cores.

Ao artefacto que tinha sempre um pequeno presépio montado no interior e uma vela acesa, nós,  a meninada,  dávamos o nome de “Fanal”...

"Kandi foi, kandi foi para Belem..." (quando foi, quando foi para Belem...)  era um dos versos da lírica da “ladainha” que metia ainda referências ao “Menino de Jesus” e demais figuras do “Presépio”... É tudo o que ainda me recordo.

De resto havia um “Ritual” (De Pidi Festa)  que, de porta à porta, pelo Natal, se impunha como o tal arauto de “Boas Festas” pelo “nascimento do Menino” às famílias visitadas... e sempre a troco de alguns “trocados”...

Mbim Pidi Festa !

Nelson  Herbert
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Notas do editor:

(*) Vd,. postes de:

27 de dezembro de  2018 > Guiné 61/74 - P19338: Memória dos lugares (383): Essa tradição do Natal crioulo, descrita pelo Mário Dias, e vivida por ele em 1952, em Bissau, vou ainda encontrá-la em Nova Lamego, 15 anos depois, em 1967!... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933,1967/69)

25 de dezembro de 2018 >  Guiné 61/74 - P19334: Memórias dos lugares (382): Bissau, 1952, quando lá passei o meu primeiro Natal, aos 15 anos: uma tradição crioula que se perdeu, as crianças de Bissau, vindas do Chão Papel, Alto do Crim, Cupilon, Gã Beafada, Santa Luzia e outros bairros, que inundavam as ruas com as suas casinhas luminosas ou com os “kinkons” articulados e garrafas para marcar o ritmo, "tintim, tintim, kinkon, kinkon"... (Mário Fernando Roseira Dias, compositor musical, ex-srgt 'comando' reformado, Brá, 1963/65)

11 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5628: Antropologia (16): Canções antigas do Natal de Bissau (Manuel Amante da Rosa)

domingo, 12 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18915: Memória dos lugares (380): O "Chez Toi", a casa de duas moradias, em frente aos serviços metereológicos, e que foi o primeiro cabaré da cidade... E depois da independência, era a chancelaria e a residência do embaixador... de França! (Nelson Herbert, EUA)


Guiné > Bissau > s/d > "Aspecto parcial e Câmara Municipal"... Bilhete postal, nº 133, Edição "Foto Serra" (Colecção Guiné Portuguesa")...

Segundo o nosso amigo guineense, de origem cabo-verdiana, Nelson Herbert,  jornalista que trabalhou na VOA - Voice of America, e vive nos EUA, a casa de duas moradias que se vê à direita, na imagem acima,  foi a antiga "boite" ou "cabaret" "Chez Toi"... Em frente era a "Estação Meterológica de Bissau" (edifício nº 8, assinalado no mapa em baixo)... Antes da independência, esta rua, que era perpendicular à Av da República (que partia da Praça do Império até ao cais do Pidjiguiti) chamava-se rua do engº Sá Carneiro (antigo subsecretário de Estado das Colónias que visitou o território em 1947, sendo governador-geral Sarmento Rodrigues).


Colecção de postais ilustrados: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).


1. Mensagem de ontem, às 16h29, do nosso amigo Nelson Herbert


Ahahahaha, já estive no blog... cujas coordenadas não perdi... e a deliciar-me com as estórias do Chez Toi... num "flashback"!

Ahahaha, as fantasias sexuais nossas... nós, a meninada da rua/bairro... do Cabaret... E sabíamos lá nós o que era um Cabaret? 

Attached uma foto que creio ter sido já postado no blogue em que aparece a casa de duas moradias... do lado oposto do muro dos serviços de meteorologia... onde funcionava a boite/cabaret Chez Toi... e onde,  no pós-independência,  funcionou, pelo menos até 1980, a chancelaria e a residència da embaixada da França em Bissau...  (*)

Mantenhas cordiais, meu velhos amigos... Abraço fraterno

Nelson Herbert




 


Fonte: Milheiro, Ana Vaz, e Dias, Eduardo Costa - A Arquitectura em Bissau e os Gabinetes de Urbanização colonial (1944-1974). usjt - arq urb , nº 2, 2009 (2º semestre), pp.80-114 [ Disponível aqui em pdf ] (**)

_________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 11 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18914: Memória dos lugares (379): No restaurante e cervejaria Pelicano, à noite, acabado de desembarcar em Bissau, em 9 de novembro de 1970, ouvindo "embrulhar" lá longe, talvez Tite, talvez Fulacunda...(Hélder Sousa)


(**) Vd. postes sobre a arquitetura e o urbanismo de Bissau, antes da independência:


14 de abril de 2014

25 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13042: Manuscrito(s) (Luís Graça (26): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte III): Sarmento Rodrigues, o seu palácio e a sua praça do império (fotos de Benjamim Durães, julho de 1971)

19 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13164: Manuscrito(s) (Luís Graça (28): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte IV): Na antiga avenida da República (, hoje Amílcar Cabral), os edifícios da Sé Catedral (João Simões, 1945) e dos Correios (Lucínio Cruz, 1950/55)


20 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13312: Manuscritos(s) (Luís Graça) (33): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte VI): O novo bairro da Ajuda (1965/68), um "reordenamento" na estrada para o aeroporto...

12 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13392: Manuscritos(s) (Luís Graça) (36): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte VII): O melhor edifício da cidade, a Associação Comercial, hoje sede do PAIGC, projeto do arquiteto Jorge Chaves, de 1949-1952

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18908: Estórias de Bissau (20): A cidade onde vivi 25 meses, em 1968/70: um roteiro (Carlos Pinheiro)... [Afinal o "Chez Toi" era a antiga casa de fados "Nazareno"...]

1. Texto (e fotos) de Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro* (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 17 de Abril de 2011 (, já publicado sob o poste P8138) (*).
O Carlos Pinheiro tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue e conheceu Bissau como poucos de nós, já que lá viveu 25 meses... Colocado no QG, nas horas também dava uma ajuda no estabelecimento do o seu parente, Costa Pinheiro, estabelecido em Bissau desde os princípios dos anos 50. A casa Costa Pinheiro era uma das boas casas comerciais de Bissau. Achamos oportuno revisitar a cidade de Bissau dos anos de 1968/70 (**)


A Cidade de Bissau em 68/70

Texto e fotos de Carlos Pinheiro

A esta distância no tempo, recordar a cidade de Bissau onde passei mais de 25 meses da minha vida, obrigatoriamente e sem alternativa de escolha, não é fácil, mesmo assim é bom recordar Bissau, para que a memória não esqueça e para que outros possam também recordar e testemunhar.

Bissau era uma cidade simpática onde havia um pouco de tudo e acima de tudo muita tropa, muitos militares em movimento, a chegar, a partir e a estar. Não era uma grande metrópole mas tinha infra-estruturas que uma cidade de província, na Metrópole de então, não tinha, não podia ter e nem tinha que ter. 

Tinha por exemplo um Aeroporto, na Bissalanca, que é certo se confundia de algum modo com a BA 12, já que as pistas eram as mesmas e, aliás, o Boeing da TAP só lá ia uma ou duas vezes por semana, levar de regresso combatentes que tinham vindo de férias, buscar outros em sentido contrário e acima de tudo levar e trazer correio tão indispensável para o apoio moral das tropas e especialmente dos seus familiares cá na santa terrinha. 

Na maior parte do tempo eram os FIAT G91, os T6 e os DO27, para além de outros meios aéreos, os únicos a utilizar as pistas quando eram lançadas Operações onde o apoio aéreo tinha uma preponderância mais que evidente.

E, claro, também era dali que saíam os helicópteros, os Alouette III, para as Operações, mas acima de tudo para fazer as evacuações dos doentes e dos feridos

Tinha também um porto de mar, que por acaso era no rio Geba onde, por vezes, os barcos maiores, o Uíge ou o Niassa, não atracavam.

Mas barcos como o Rita Maria, o Ana Mafalda, o Alfredo da Silva, o Manuel Alfredo, todos da Sociedade Geral, da CUF, esses porque eram mais pequenos, atracavam. Também o Carvalho Araújo, penso que dos Carregadores Açorianos, nos seus últimos tempos de vida, também ali atracava. Mas era um porto com poucas condições. Este último barco, porque tinha pouca autonomia, tinha que ir, na viagem de ida, a S. Vicente, Cabo Verde, meter água e nafta e no regresso, era no Funchal que atestava.

Tinha ainda outro porto, este mais de pesca, o Pidjiguiti, tristemente célebre pelos massacres que precederam a guerra da independência.

Mas tinha o Palácio do Governador, tinha a Associação Comercial, tinha algumas casas apalaçadas de arquitectura tipicamente colonial, tinha um cinema, a UDIB tinha dois campos de futebol, o campo da UDIB e o Estádio dos Cajueiros,  à Ajuda, tinha um comércio florescente, especialmente dominado pelos libaneses, onde tudo se vendia desde o alfinete ao camião, tudo importado, principalmente do Japão, mas também dos States, da Inglaterra, da Escócia, da Itália, da Holanda, da Checoslováquia, da França, etc., e naturalmente da Metrópole.

E Bissau tinha algumas casas que toda a malta conhecia pois era lá que convivia, que matava saudades e acima de tudo matava a fome e a sede. 

Logo à saída do QG havia o Santos, a que simplesmente, mas com muito carinho, chamávamos o “Enfarta Brutos”, onde se comia, talvez a maior febra de Bissau. Parecia que tinha as orelhas de fora do prato, tal era a sua dimensão. Mas as batatas fritas a acompanhar também mereciam respeito. Quanto à cerveja, ela era igual em todo o lado, desde que estivesse bem fresca e isso às vezes conseguia-se e muita até era da Manutenção Militar.

Mas lá em baixo, na cidade, tínhamos outras casas emblemáticas. Tínhamos a Solmar, que não tinha nada a ver com a outra de Lisboa, mas que já era um bom restaurante que também vendia muita cerveja para acompanhar as ostras e o camarão.

Tínhamos o Solar do 10, casa mais pequena mas mais requintada, onde por vezes à noite se cantava o fado depois de uma jantarada ou ceia.

Tínhamos o Zé da Amura onde se comiam uns chispes que iam para lá enlatados não sei de onde, mas que, à falta de melhor, eram apreciados.

Tínhamos, na Praça Honório Barreto, o Internacional, o Portugal e o Chave de Ouro, tudo cafés/cervejarias mas também onde se comiam umas febras ou uns bifes, quando havia.

Mas na Avenida principal [ , a Av da República], que ía do porto ao Palácio do Governo, também havia o Bento, café e esplanada característica da cidade a que vulgarmente nós, os militares, chamávamos de “5ª Rep.” já que o Quartel-general só tinha 4 Rep, 4 Repartições.

Para a malta, ali era portanto a 5ª repartição onde quem chegava do mato se encontrava com os residentes, onde se trocavam informações e onde, se dizia, que essas informações vadiavam ali dum lado para o outro do conflito. Ao lado do Bento,  mais para o interior, era a Bolola, onde esteve o Serviço de Material, depois transferido para Brá, e onde era o Cemitério que ainda guarda os restos mortais de muitos camaradas nossos.

Nessa avenida estavam talvez as maiores casas comerciais. Por exemplo a Casa Gouveia, da CUF, que vendia ali de tudo e que tudo comprava o que os naturais produziam, principalmente a mancarra (2), o Banco Nacional Ultramarino, o banco emissor da Província, o Cinema UDIB e ao lado uma boa gelataria, mais acima, a Pastelaria, Padaria e Gelataria Império, assim baptizada por estar já na Praça do Império onde se situava o Palácio do Governo e  a Associação Comercial.

Também era nessa Avenida que estava a Sé Catedral, templo de linhas tão simples quanto austeras.

A caminho de Brá e da SACOR, havia um local chamado Benfica onde havia um café com o mesmo nome e onde se apanhavam os transportes para os vários quartéis daquela zona como eram o Hospital Militar 241, o Batalhão de Engenharia 447, os Comandos, os Adidos e mais à frente a BA 12 e o BCP 12 [, em Bissalanca]..

Mas havia outros estabelecimentos dignos de recordação. A casa de fados Nazareno, mais tarde rebaptizada de Chez Toi, a Meta com as suas pistas de automóveis eléctricos, e como novidade também apareceu naquela altura O Pelicano, café-restaurante construído pelo Governo e explorado por privados, com uma belíssima vista sobre o Geba e avenida marginal.

Na Avenida Arnaldo Shulz, que ligava a Estrada de Santa Luzia à tal SACOR, a caminho de Brá, sempre ao lado do Cupelão [ou Pilão], estava o Comando Chefe das Forças Armadas à esquerda de quem subia, um pouco mais abaixo, os Bombeiros Voluntários de Bissau num grande quartel nessa altura muito bem equipado, a Cruz Vermelha, estes do lado direito e até a sede local da PIDE, que nessa altura já se chamava DGS, também do lado direito mas já junto ao Largo do Colégio Militar.

Era uma avenida nova, como se fosse uma circular urbana onde as boas vivendas também começaram a aparecer.

No princípio da Avenida que ia para Santa Luzia, antes de se chegar ao Hospital Civil, estava o Grande Hotel, nome pomposo do melhor estabelecimento hoteleiro da cidade. O resto era pensões, algumas de quinta escolha.

Mas o comércio de Bissau não era constituído só por cafés, restaurantes e tascas. Havia de tudo. E há nomes que não se esquecem. Para além da Casa Gouveia, o maior empório daquele então Província Ultramarina, como então se dizia, a Casa Pintosinho, a Taufik Saad, a Costa Pinheiro, e muitas outras vendiam de tudo, são nomes que ficaram para sempre na memória.

Havia, claro, várias casas de fotografia, como por exemplo a Agfa perto da Amura, que ganhavam muito dinheiro na medida em que era raro o militar que não tivesse comprado a sua Fujica, Pentax, Nicon, etc., a que davam muito uso. Muitas casas vendiam roupa barata, nessa altura já confeccionada em Macau, especialmente aquelas camisas de meia manga, calças de ganga e sapatos leves.

Era assim Bissau naquela época.

Carlos Pinheiro
 [, Torres Novas,]
16.04.11


2.  Comentário do nosso editor LG:

Recorde-se aqui a "dica" sobre a localização do Chez Toi, dada em tempos pelo nosso amigo Nelson Herbert, jornalista guineense que foi para a América, onde trabalhou na VOA - Voice of America:  era na mesma rua onde ele vivia, e onde ele e os putos seus amigos brincavam com o seu "primeiro carro de rolamentos" (sic), utiliziando para o efeito o "declive que ia dos serviços metereológicos/Boite Cabaret Chez Toi... no cimo da então nossa rua, Engenheiro Sá Carneiro [, subsecretário de Estado das Colónias, que visitou a Guiné em 1947, ao tempo do Sarmento Rodrigue]"... Essa rua era "a mesma da Praça Honório Barreto, do Hotel Portugal, do Café Universal, do Restaurante ou Pensão Ronda... já agora que ia dar ao cemitério, passando lateralmente pelo hospital" e indo dar "à messe dos Sargentos [da Força Aérea]"...
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de abril de 2011 >  Guiné 63/74 - P8138: Memória dos lugares (152): A cidade de Bissau em 1968/70: um roteiro (Carlos Pinheiro)

(**)  Último poste da série > 9 de agosto de  2018 > Guiné 61/74 - P18907: Estórias de Bissau (19): O Pilão e o Chez Toi que eu conheci... (António Ramalho)... Comentários de Valdemar Queiroz, Virgílio Teixeira, Costa Abreu e Juvenal Amado sobre o primeiro "night club" que abriu na capital guineense...

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18904: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (108): O Carlos Silvério, nosso futuro grã-tabanqueiro... n.º 783... Encontrei-o na Lourinhã e ele contou-me o seu... "segredo" ... Também me disse que morou em Bissau, na rua do "Chez Toi", quando lá esteve, casado, com a Zita, em 1972/73...


Oeiras > Algés  > 35.º almoço-convívio da Tabanca da Linha > 18 de janeiro de 2018 >  "O Carlos Silvério, meu amigo, camarada, vizinho e conterrâneo... Veio com a Zita. O casal é lourinhanense... 'Periquitos', na Tabanca da Linha. Ele, furriel miliciano,  da CCAV 3378, andou pelo Olossato e por Brá, antes de a gente fechar as portas da guerra, entre abril de 1971 e março de 1973. A Zita esteve com ele em Bissau... Já o convidei meia dúzia de vezes para se sentar à sombra do nosso poilão... Mas ele diz que prefere o sol... Lugares ao sol..., não temos na Tabanca Grande, só à sombra... Espero que ele ainda entre ao 7.º convite... Ficou a ponderar: parece que o problema é a foto... fardada. Enfim, temos que compreender e respeitar quem tem alergias às fardas" (*)...

Foto: © Manuel Resende (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Encontrei, este domingo passado, o meu amigo e camarada Carlos Silvério (**). Tinha vindo à missa da tarde, aqui na igreja da Lourinhã. Perguntei-lhe pela saúde da sua esposa Zita,  bem como  pelo padre Batalha, prior da freguesia de Ribamar onde ele mora (, e que é um grande amigo da Guiné-Bissau)... Um vai passando melhor, a outra, lá vai lidando (mal) com os seus problemas de coluna... Bem diz o povo: "Até aos quarenta bem eu passo, depois dos quarenta, ai a minha perna, ai o meu braço!"...

Como não podia deixar de ser, sempre que o reencontro, voltei a perguntar-lhe, pela enésima vez, quando é que ele tem pronta (leia-se: digitalizada...) a tal foto do tempo da tropa ou da guerra... Garantiu-me que sim, que a foto já está digitalizada pela sua filha e só ainda não a mandou porque está à espera do nº... 783 para formalmente pedir a inscrição no blogue...

Porquê este "fétiche", esta obsessão com o n.º 783?... Nós só vamos no n.º 776 (***). Faltam, portanto, 7 números para chegarmos ao 783, altura em que ele se quer inscrever... Em boa verdade, e ao ritmo de entrada de novos membros da Tabanca Grande, só daqui a dois ou três meses é que ele nos dará a honra da sua presença, sentando-se então à sombra do nosso poilão...

Ele já tinha feito essa confidência ao nosso coeditor Carlos Vinhal. E, respeitando a sua vontade, vamos ter mesmo que honrar seu pedido. Que é uma ordem, tratando-se de uma camarada da Guiné, e para mais filha da Lourinhã... Vamos então reservar esse número, o 783, para ele.

Vamos lá explicar melhor, para que não se pense que é um capricho dele... O 783 era o seu número de soldado-instruendo na recruta, em Santarém. Acabada a recruta, e quando ele se preparava para ir uns dias de férias, andava a passear com a sua Zita nas ruas de Santarém, quando passa rente a um major de cavalaria... Distraído com a namorada, mal deu conta dos galões amarelos do oficial superior que lhe fez a tangente... Mas ainda foi a tempo de se virar e de lhe bater a pala... O major continuou o seu caminho, mas, matreiro ou sacana, foi dar uma volta e, logo mais à frenre,  virou em sentido contrário  para o apanhar de frente. O Carlos desta vez não foi apanhado desprevenido e fez-lhe, corretamente, a devida continência... Mas o senhor oficial estava mesmo determinado em lixá-lo. Tirou-lhe o número (o 783) por causa da desatenção anterior.

Resultado: quando o Carlos Silvério chegou ao quartel, já tinha a participação do major... Enquanto o  resto do pessoal (cerca de 400)  foi gozar unsmerecidos  dias de licença em casa, o Carlos ficou de castigo no quartel... Seguindo depois diretamente, de Santarém para Tavira,  para o CISMI, numa penosa viagem de comboio que levou toda a noite, ...

Compreensivelmente, o Carlos Silvério "ficou com um pó" aos oficiais de cavalaria, em geral, e aos majores, em particular, nunca mais se esquecendo do seu azarento n.º 783 da recruta em Santarém. Ele é primo do tenente general reformado Jorge Manuel Silvério, nascido em Ribamar, em 1945, e já lhe contou em tempos esta peripécia que o deixou desgostoso em relação à instituição militar...

Está, pois,  explicado o "mistério" do n.º 783... e o desejo de só entrar para a Tabanca Grande depois do n.º 782...

2. Também me disse que gostou muito de ler a minha "short story" sobre o "Chez Toi" (****). Ele morava em Bissau, depois de vir do Olossato, com a Zita, já casado, justamente na rua do "Chez Toi"... Já não se lembra do nome da rua, só sabe que ia dar à  messe dos sargentos da Força Aérea (*****).

De resto, era complicado sair e entrar, numa rua "mal afamada" como aquela, sobretudo de noite, para uma jovem branca, casada, como era o caso da Zita.

Ficamos a saber, pelo depoimento do Carlos Silvério, que o "Chez Toi" existia (ou ainda existia) em 1973/74... Ele e a Zita costumavam ir ao Pelicano jantar e também comer ostras numa casa ali perto.. Eram 25 pesos uma travessa... Também costumavam comprar camarão, acabado de apanhar no Rio Geba, às vendedeiras locais que por ali passavam...

Boa noite, Carlos, fica registado o teu pedido e é hoje divulgado o teu desejo de seres o nosso grã-tabanqueiro n.º 783... Esperemos que, rapidamente, apareçam seis camaradas ou amigos da Guiné para perfazermos o teu número. Fica aqui a nossa promessa: o 783 fica reservado para ti!...

Um beijinho para a Zita, com votos de rápidas melhoras.
Um alfabravo para ti.

(LG)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 22 de janeiro de  2018  > Guiné 61/74 - P18241: Convívios (839): 35º almoço-convívio da Tabanca da Linha, Algés, 18/1/2018 - As fotos do Manuel Resende - Parte II: Tudo gente magnífica... "Caras novas", com destaque para o pessoal da CART 1689, camaradas dos escritores Alberto Branquinho e José Ferreira da Silva

(**)  Último poste da série > 15 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17474: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca ... é Grande (108): Na Lourinhã, fui encontrar o ex-1º cabo at inf Alfredo Ferreira, natural da Murteira, Cadaval, que foi o padeiro da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70)... e que depois da peluda se tornou um industrial de panificação de sucesso, com a sua empresa na Vermelha (Luís Graça)

(***) Vd. poste de 2 de agosto de 2018 >  Guiné 61/74 - P18891: Tabanca Grande (466): Manuel Gonçalves, ex-alf mil manutenção, CCS / BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73; ex-aluno dos Pupilos do Exército, transmontano, vive em Carcavelos, Cascais. Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 776.

(****) Vd. poste de  4 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18895: Estórias de Bissau (18): Uma noite no Chez Toi: o furriel Car…rasco, meu anjo da guarda... (Luís Graça)

(*****) Segundo o nosso amigo Nelson Herbert,  jornalista guineense  que para a América, era aí que ele e os putos seus amigos brincavam com o seu "primeiro carro de rolamentos", utiliziando para o efeito o "declive que ia dos serviços metereológicos/Boite Cabaret Chez Toi... no cimo da então nossa rua, Engenheiro Sá Carneiro [, subsecretário de Estado das Colónias, que visitou a Guiné em 1947, ao tempo do Sarmento Rodrigue]"...  Essa rua era "a mesma da Praça Honório Barreto, do Hotel Portugal, do Café Universal, do Restaurante ou Pensão Ronda... já agora que ia dar ao cemitério, passando lateralmente pelo hospital" e indo dar "à messe dos Sargentos [da Força Aérea]"...