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quarta-feira, 18 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13302: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (15): Fadista e locutor, para cumprir o destino

1. Mensagem, de 11 do corrente, do Armando Pires
[ex-Fur Mil Enf,  CCS/BCAÇ 2861,Bula e Bissorã, 1969/70], [, foto à esquerda, Monte Real, 14/6/2014]

Meu Caro Luís Graça.
Camarada e Amigo.

Faz tempo que esta história te estava prometida. Mas o tempo não é coisa que se comande. Se eu fosse supersticioso diria que foi por ter chegado ao número 13 da série "Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista", que a veia secou.

Mas não sendo supersticioso, porque é coisa que dá muito azar, limito-me a dizer que mais vale tarde do que nunca. Aqui tens, com o titulo de "Fadista e locutor, para cumprir o destino", o número 14 de uma série que, espero eu, passe a fluir com melhor ritmo.
Um abraço para ti, para os nossos editores, e para todos os camarigos.

2.  Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (14)  Fadista e locutor, para cumprir o destino 

Portanto, o João Rebola mais o Vilas Boas foram para Binar e o fado acabou em Bissorã.

Isto foi em Junho de 70, altura em que a companhia a que eles pertenciam, a CCAÇ 2444, foi rendida por uma outra companhia de intervenção, a CCAÇ 13.

Desculpem os camaradas se os faço recuar ao P12905 para melhor compreenderem este antes e o que vem já depois, mas a vida de “escritor-amador” é muitas vezes atapetada de escolhos tais, que nem a sua muito boa vontade consegue derrubar às primeiras.

Prosseguindo.

Foram-se embora os meus violas e, oh coincidência, também partiu o capitão Luís Barros, que ali foi terminar o seu tempo de serviço no comando da CCS, grande impulsionador e animador daquelas noites sábado, com cantos ao fado e às bolas do bingo onde sempre se sorteava uma garrafa de whisky Haig, vá lá saber-se porquê, escolha pessoal do cap Barros, facto que acabou por lhe granjear, entre a sargentada, a alcunha do “capitão Haíg”, lido assim, com assento agudo e tudo, alcunha que vai certamente surpreender o hoje coronel reformado Luís Andrade Barros, fugaz leitor do nosso blog, meu recém correspondente em troca de emails, num dos quais, sobre estas noites que lhe lembrei, escreveu:

“Caríssimo Armando Pires, furriel enfermeiro, ribatejano, fadista e companheiro da guerra .
Recebi com muito agrado as suas notícias de Bissorã, nomeadamente recordando as sessões de bingo com uma afluência capaz de fazer inveja às melhores casas da especialidade. Lembro o entusiasmo que tal iniciativa despertou, a preparação - decoração da sala com pinturas alusivas e os convites para o evento, incluindo a amigos do IN, isto na certeza de então não sermos atacados.”
– P13065

O fim das sessões de bingo, e das grandes noites de fado, poderiam ter sido uma forte machadada nos relatórios da acção psico-social, não se desse o caso de nas cabeças do major Alcino e do Alferes Vinagre, ter nascido a ideia de sacar umas massas que o comandante Polidoro Monteiro tinha para a psico, para com elas comprarem uma aparelhagem sonora que o Alfredo, o libanês, mandara vir da África do Sul. A aparelhagem foi ligada a uma corneta sonora, o 1º cabo sapador Marques Catarré emprestou a sua substancial discografia, e assim nasceu a “Rádio Bissorã-70”, com emissões diárias das sete às nove da noite.

Todos estes pormenores vieram à luz do dia graças à prodigiosa memória do Furriel Sousa, uma espécie de “secretário-confidente” do comandante Polidoro. É que todos os da companhia, eu incluído, nos lembramos da “rádio”, mas de como ela nasceu é que… já lá vão 44 anos.

É preciso dizer que o major Alcino era o oficial de operações, e o João Vinagre, alferes miliciano de informações, para que se percebam os objectivos propagandísticos da coisa.

“A rádio” foi instalada no vão de escada de um edifício em
cujo rés-do-chão funcionava a secretaria do
batalhão. O 1º andar fora reservado para quartos dos oficiais. O edifício era conhecido, e ainda o é, por Casa Gardete, família guineense de grande prestigio social, na qual sobressaiu o Dr. Manuel Gardete Correia [, foto à direita], já falecido, licenciado em medicina pela Universidade de Coimbra no ano de 1959, e que se tornou numa das figuras africanas, e mesmo mundiais, mais prestigiadas na luta contra a doença do sono e a malária. (**)

A família Gardete rumou a Bissau logo nos alvores da guerra, deixando de aluguer a vários comerciantes a loja, até à chegada a Bissorã do comando do meu batalhão, que tomou de arrendamento todo o edifício.



A Casa Gardete.  Foto de 2006, cedida pelo camarada Carlos Fortunato, ex-fur mil. da  CCAÇ 13, e tirada aquando de uma das suas deslocações a Bissorã ao serviço da ONG Ajuda Amiga, de que é presidente.  Actualmente o edifício funciona como tribunal civil. A escadaria dava acesso aos quartos dos oficiais. Entre o vão de escada e a porta onde se lê “Secretaria Judicial”, funcionava “a rádio”. A corneta sonora era montada sobre aquela grande coluna que suportava um portão de ferro de entrada para o edifício. 

Foto: © Carlos Fortunato  (2006).  Todos os direitos reservados.


E à noite, aquela rua enchia-se de militares e povo, povo das tabancas, já se vê, que “a sociedade” local, o Alfredo Khalil, o senhor Rachid Aral, o velho Michel… de tão perto que moravam nem precisavam de sair de casa para ouvirem as canções do Nelson Ned, da Rita Pavoni, do Roberto Carlos, do Nico Fidenco…, em forma de discos pedidos deste para aquele, dedicados pelo soldado tal para a sua lavadeira que tinha direito a nome e tudo, e muitas vezes, num extravasar de saudade, querendo que o som da corneta chegasse lá longe, até se dedicavam canções às queridas mães e às namoradas que ficaram à espera.

E havia um concurso. Perguntas sobre história e geografia, que as fazia o furriel Sousa, professor na vida civil, sobre desporto, em que era perito o 1º cabo Santos, da messe dos oficiais, ou ainda perguntas acerca dos valores pátrios, trazidas pelo alferes Vinagre, que fora para isso que “a rádio” nascera.

Quem acertasse nas perguntinhas tinha direito a prémios de que não me lembro quais.

Lembro-me dos locutores. Sim, que “a rádio”, como não podia deixar de ser, tinha locutores. O Filipe, furriel vagomestre, o Basso, furriel cripto, e o furriel Bonito, da secretaria do batalhão.
–  Ó Pires – disse-me o Filipe – tu também podias ir para lá fazer locução.

Chamem-lhe destino, digam que era o Senhor a escrever direito por linhas tortas, ou, mesmo, que estava escrito nas estrelas, a verdade é que ser locutor era uma das possibilidades que me acompanharam até à Guiné.

Eu explico.

Quando desembarquei em Bissau levava mais recomendações do que medalhas um general tem ao peito. (Passe o exagero, se faz favor)

Desde logo para o dono do “Solar do Dez”. Um cartão, daqueles com nome ao meio, que tanto serviam para enviar boas festas como para expressar sentidos pesamos, onde o Carlos Lisboa, fadista da minha terra que em Bissau servira na policia militar, garantia que eu era apaz para repetir os êxitos que ele próprio alcançara nas grandes noites de fado que realizara naquele restaurante.

Sentados à mesa, no centro da qual estava uma coisa chamada lagosta que nunca, até ali, me passara pelo estreito, eu e o dono do “Solar do Dez”, cujo nome, esteja ele onde estiver, vai perdoar que me tenha esquecido, rapidamente começámos a falar nas hipóteses de eu ficar no Hospital Militar de Bissau, garantia de umas sessões de fado aos sábados à noite lá no Solar, com um dinheirinho extra, está claro, tudo coisas que umas pessoas que ele bem conhecia tratariam de facilitar num abrir e fechar de olhos.
– Venha cá jantar logo à noite que estará cá gente para tratarmos logo do assunto.

O pior é que por volta daquela hora encontrei o Vitor “Cascais”, rapaz que eu conhecia das noites no “Galitos”, casa de fado vadio no Estoril, junto da cosmopolita praia do Tamariz, que me quis logo apresentar a umas amigas e uns amigos, gin para um lado conversa para o outro, “está aqui um gajo que toca bem guitarra, queres ouvir?”, uns camarões para entreter a cerveja, “é pá, dá aí o tom para o mouraria”, e qual jantar no “Solar do Dez” qual quê, saí dali já era outra vez dia, e sem modo de explicar a minha ausência, só voltei ao Solar muito mais tarde, quando vim numa coluna a Bissau.

E havia o célebre “PIFAS”, o Programa das Forças Armadas.

Embora ainda não de forma profissional, antes de ser mobilizado eu já fazia locução de vários programas na rádio da minha terra. Era a Rádio Ribatejo, propriedade do capitão Jaime Varela Santos, homem que vale uma nota antes de prosseguir o relato.

O capitão Varela pertencia à arma de cavalaria. Em finais dos anos 40 inicio dos anos 50, mandaram-no comandar a força da GNR de segurança ao Forte de Peniche.
– Não aceito! Eu sou oficial de cavalaria, não sou carcereiro.

Valeu-lhe a afronta ao regime a sua passagem à reserva, por incapacidade física, que foi o melhor que se arranjou para evitar escândalo maior no meio social em que se movimentava.

Pois mal fui mobilizado, em Outubro de 68, o capitão Varela mandou que eu à chegada à Guiné, me apresentasse a um brigadeiro seu amigo que trataria de me levar para a rádio das forças armadas.

E até o meu primo Carlos Fernandes, que tal como eu iniciou a sua profissão na Rádio Ribatejo, e que estava em Madina do Boé, de furriel miliciano atirador da CCAV 1662, quando foi chamada para o “PIFAS”, ao chegar a Portugal, em Dezembro de 68, tratou de escrever uma carta que eu levaria em mão a José Vale de Figueiredo, o director do Programa das Forças Armadas, dando-lhe nota de como eu podia ser “útil à rádio”.

Pois foi. Só que com aquela cena das amigas e dos amigos do “Cascais”, mais dos copos e dos fados até de madrugada, quando dei por mim estava a marchar em direcção a Bula, com a carta do meu primo dentro do bolso, sem conhecer o tal brigadeiro amigo do capitão Varela, e sem ter ido ao tal jantar no “Solar do Dez”.

E eu, que tudo tinha para fazer a guerra de fato e gravata em Bissau, fui cantar fados para Bula e, em Bissorã, ao microfone de uma “rádio” manhosa, apresentar o Gianni Morandi a cantar o “Non son degno di te”.

Mas, porra! Também não tinha feito os amigos que fiz e que me têm dado um jeito do caraças.

(E querem saber mais? O que eu queria mesmo era andar com a minha malta.)


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Em primeiro plano, o Armando Pires: em segundo plano, o Rui Silva, o Jorge Rosales, o Manuel Joaquim (de perfil) e o Francisco Palma. No decorrer do almoço, tive oportunidade de apresentar o Armando Pires ao António Gracez Costa que foi locutor do PFA, em 1970/72. Ficaram os dois à conversa

Foto: © Manuel Resende  (2014).  Todos os direitos reservados.
________________

Notas do editor:

(*) Vd, postes anteriores e da série>

(...) Urge proceder à reformulação da divisa desta Tabanca Grande. De facto, onde ela proclama que “o mundo é pequeno e a nossa Tabanca … é grande”, já não é sem tempo que se aumente o grau ao adjectivo, passando então a escrever-se que, “o mundo é pequeno e a nossa tabanca… é muito grande”.

Ocorreu-me isto após as incidências que resultaram do meu post anterior (P12905*), no qual, desastradamente, troquei o nome a um capitão. A correcção chegou num comentário do nosso camarada Grantabanqueiro, coronel Hilário Peixeiro, feito nos termos que aqui recordo. (...)

(...) Tirando uns mal entendidos com a rapaziada do Morés, os dias corriam pachorrentos em Bissorã. Desde logo porque o Rodrigues, quando à chegada lhe fui oferecer os meus préstimos, ficou-me muito agradecido mas respondeu que “a malta cá se arranja”. A malta era a CCAÇ 2444, mais conhecida pelos “Coriscos”, companhia da qual o Rodrigues, Felizardo Rodrigues, era furriel miliciano enfermeiro. O felizardo neste caso era eu, melhor dito, até, era a minha equipa, porque com uma companhia operacional a prescindir do nosso apoio, passámo-nos a ocupar, a tempo inteiro, das micoses, paludismos e gonorreias entre os nossos, e da saúde de toda a população em geral, coisa que caía muito bem dentro dos relatórios da “psico-social”. (...)


(...) Queiramos ou não, a primeira imagem, a primeira impressão que causamos, acompanha-nos vida fora, cola-se-nos à pele como lapa. Podemos melhorá-la, ou piorá-la, “vê lá tu, pá, quem diria que aquele gajo se transformava no que é hoje”, mas a primeira impressão fica para sempre. À primeira, eu vi o Polidoro assim. Emproado, como um pavão. Escreva-se, por ser verdade, ele fez tudo menos querer causar uma primeira boa impressão. (...)


(...) Aquelas primeiras horas em Bissorã não foram fáceis. Desde logo, como já escrevi, o não me sentir dentro de um quartel. Era assim a modos como que um exército que tivesse ocupado uma cidade e “vamos lá instalar-nos”. Não quero com isto dizer que fossem más aquelas acomodações. Antes pelo contrário. Mas num quartel está ali tudo próximo, estamos ali todos juntos, tipo ó militar chegue aqui, e em Bissorã não, era mais ó furriel dê um salto à enfermaria e lá ia eu, no jeep, rua acima. E depois, o que também me fez confusão, abrigos "cá tem". (...)


(...) Portanto, o DO aterrou em Bissorã eram nove da manhã. Nem fanfarra nem guarda de honra à minha espera. Apenas um Unimog para me levar a mim, mais ao correio e outras mercadorias que o avião transportara. Sem esquecer, evidentemente, o Machado, o meu cabo enfermeiro, que viera receber-me, dar-me as boas vindas, e levar-me ao comando onde era devida a minha apresentação ao comandante da companhia. (...)


(...) Mais um reencontro para agasalhar a idade. Estava eu posto em sossego e chama-me o João Rebola para perguntar:
- Ó Pires, sabes quem está aqui?

A pergunta foi feita através desse prodígio da comunicação chamado Skype. Sabem os que sabem, quem não sabe fica a saber que é um software que podemos instalar no computador, e que nos permite falar com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, e, o melhor de tudo, estar a vê-la do outro lado. (...)


(...) Tal como prometera, envio um conjunto de 12 (doze) fotografias de Bula. Tenho dúvidas quanto à forma de as editar. Por essa razão permito-me enviar duas versões. Como podes ver, a que tem o titulo de Bula 2 ocupa menos espaço no blog, mas algumas das fotos perdem em qualidade. Deixo ao teu critério, ou ao critério do "Editor de Dia", escolher qual das duas versões publicar. Do mesmo modo, também fica ao vosso critério decidir em que série as inscrever. Se na série "furriel enfermeiro,ribatejano e fadista", se em "Álbum fotográfico..." do que for. (...)


 (...) A oito de agosto, deixei Bula com um nó na garganta e sem saber que não mais lá voltava. Tinha férias marcadas para Portugal e pedi ao comandante que me permitisse ir uns dias mais cedo para Bissau, de forma a poder visitar o Daniel no Hospital Militar. (...)


(...) Raios te partam, Manel Jaquim, que as tuas Cartas de Amor e Guerra incendeiam-me a memória na razão directa do respeito que me provocam. Começo pelo fim, em que sou mais breve, para dizer de quanta admiração sinto por essa cumplicidade entre ti e a Dionilde, tua mulher, nascida no tempo do amor e dos segredos, trazida pela vida fora, chegando hoje à comum aceitação da partilha dessas palavras escritas, tão intensas de paixão e raiva, que só os amantes sabem dizer. (...)


(...) A coluna estava pronta para se pôr em marcha. À frente o rebenta minas, logo atrás uma das Panhard’s do EREC 2454, depois um Unimog com munições para o Óbus 14 e as restantes viaturas. Eram seis camionetas civis que, vindas de Bissau, tinham sido cambadas, uma a uma, através do Rio Mansoa para João Landim e daí escoltadas até Bula, onde foi organizado o comboio militar que iria levar os reabastecimentos ao aquartelamento de Binar. (...)


(...) Eu tinha dois doutores. Era para ter três, mas perdi um mesmo à saída da escada de portaló. Era um oftalmologista em quem alguém descobriu, logo ali, insuspeitadas capacidades para ver fundo na raiz dos dentes, razão porque ficou em Bissau para uma especialização de três meses em medicina dentária, findos os quais percorreu todos os quadrantes dessa Guiné, em socorro de algum militar carente dos seus serviços. (...)


(...) Já era noite fechada em Bula quando o Teixeira, meu soldado maqueiro, veio ao bar dizer-me:
– Furriel, está uma mulher à porta de armas a pedir para tratarmos o filho.
– Já lá vou.
– Mas, ó furriel, olhe que o miúdo se não está morto, parece.
– Leva-a para a enfermaria que eu é só acabar o café. (...)


(...) - Então doutor, o puto safa-se?
Não me respondeu. Limitou-se a olhar-me assim como quem diz “vamos ver”, e a dizer-me com um sorriso benevolente:
- Vá lá dormir que você está com cara de quem precisa de descansar. (...)


(...) Bula, 15 de Abril de 1969, depois das oito da noite.

Ofegantes, os noventa cavalos da velha GMC galgaram a cancela do aquartelamento e estacaram às dez rodas em frente ao bar. Ao lado do condutor ergueu-se o Caeiro e gritou-me:
– Salta práqui, ó pira, que esta noite vai haver espectáculo no Esquadrão. (...)

(**) Manuel Gardete Correia (1928-19_?)



Fonte: Assembleia da República > Deputados à Assembleia Nacional (1935-1974)

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13240: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (14): Homenagem do nosso "poeta todos os dias", Silvério Dias, ex-radialista do PFA,... que infelizmente não vai poder estar connosco em Monte Real, no dia 14... E, a propósito, já temos 110 inscrições, 6 das quais da diáspora lusitana (França, EUA, Holanda)

1. Mensagem do nosso camarada Silvério Dias [ex-1º srg art ref, com 9 anos de Guiné, de 1967 a 1976, radialista no PFA, entre 1969 e 1974], com data de 3 do corrente

Assunto >  10º aniversário da Tabanca Grande

Ao "Homem-Grande" e a todos os "Tabanqueiros", votos de saúde, alegre disposição e alguna euros para gastos, deste vosso companheiro, o 651 - Silvério Dias.

Definitivamente, não me é possível marcar presença em Monte Real,no dia 14 de junho, o que lamento. Porém, homem previdente que sou, tinha alinhavado um escrito para. vos ler, com "voz Pifas". Delego no António Garcez Costa, vulgo "Tony Sacavem", tal tarefa. Prometeu estar convosco, tal como esteve, comigo no PFA [, Porgrama das Forças Armadas] da Guiné.

Assim sendo:

Frase nº .26., fora de concurso: "A Tabanca é Grande... Nela cabe, sempre mais um!" (*)

O Mundo era pequeno.
Portugueses o tornaram maior.
Povo aguerrido mas sereno,
O dilatou, pela Fé e com Valor!

E descobriu,...uma tabanca.
Grande. Tão grande que acolhe milhares.
Homens vários, de cor branca.
Estiveram na Guiné como militares.

Tabanca! É aí que se encontram,
A contar as suas "estórias".
O que dizem quando as contam,
Nesse rapar, do baú das memórias?

Talvez blogando, recordando e sorrindo,
Outras vezes, gemendo e chorando,...
Porque foi bom, de lá ter vindo,
Sem males, mas algo lá deixando.

Tabanca Grande, onde cabemos,
Qualquer que seja a origem ou posto,
Perfilhando memórias e afetos serenos,
De há dez anos, com muito gosto!

E hoje, em dia tão memorável,
Tenhamos na mente esta união,
Dizendo, de forma sustentável,
Filhos de camaradas, nossos são!

Lembrar também ao povo Português:
A nossa bandeira tem sete castelos.
Quem a comprar, na loja do chinês,
Terá pagodes. Nela, espadas seriam cutelos.

Não há que mentir nem disfarçar.
Dizer sim, estive lá e voltei!
Na Guiné, em guerra do Ultramar.
Me disseram que defendia Pátria e Grei.

D'alguém como eu, me fiz amigo.
Partilhámos a saudade e os anseios.
E porque dormimos no mesmo abrigo,
Juntos ultrapassamos os receios.

Não deixes os outros falarem por ti.
As histórias são pertença só tua.
A mim, as mensagens que recebi,
Me confortam, se sinto a alma nua.

Quanto ao resto, "a roupa suja",
Ela é privada e na caserna se lava.
Nunca na parada. Aí, que apenas surja,
Aquele gigantesco poilão que nos abrigava!

................................................

Utopias, devaneios... são o que são!
Esta amálgama compilada da lista,
Sujeita a bem intencionada votação.
Eleita a melhor, que a ela se assista!

De parabéns, todos os "tabanqueiros"
Desde os mais recentes aos primeiros.
E, justiça, aqui e agora de faça:
O movimento (louvável) deve-se ao Luís Graça.

Para ele uma salva de palmas,
Como agradecimento das nossas almas!

Oeiras, 3 de Junho 2014. (**)

________________

Notas do editor: 

(*) Vd. poste de 1 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13222: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (12): Escolhidas as cinco melhores frases por 69 grã-tabanqueiros... E a menos de 2 semanas, temos já 94 bravos voluntários para a Operação Monte Real 2014, no dia 14 deste mês...

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13233: Estórias e memórias de Silvério Dias, radialista, PFA, 1969/74 (3): Acompanhando artistas de variedades como o Horácio Reinaldo, o Rui de Mascarenhas e outros em digressões pelo mato


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > 17 de fevereiro de 1970 , 3ª feira  (nesse ano, o Carnaval foi a 10) > 14h > Espetáculo de variedades, organizado pelo Programa das Forças Armadas (PFA) > Na foto o cantor Horácio Reinaldo (1992-1993) é apresentado ao auditório, nmum improvisado palco montado de manhã.


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > 17 de fevereiro de 1970 , 3ª feira  (nesse ano, o Carnaval foi a 10) > 14h > Espetáculo de variedades, organizado pelo Programa das Forças Armadas (PFA) > Aspeto da assistência, incluindo à direita o piloto da avioneta que trouxe a Canjambari o artista e um furriel do PFA.

Fonte: "Histórias da CCAÇ 2533", s/d, s/l, pp. 46-47 (*)


1. Resposta de ontem, a um pedido do editor sobre o cantor Horácio Reinaldo (*) ao nosso camarada Silvério Dias, no âmbito das suas funções no Programa das Forças Armadas (PFA) (**):


Ao tempo, tive por missão acompanhar Horácio Reinaldo, na sua digressão de alegrar as hostes espalhadas pelos aquartelamentos da Guiné.. O "artista" era possuidor de refinada brejeirice e alegrava sem duvidas os auditórios mais improvisados.

De compleição um tanto frágil, "o pobre" sofria imenso com o calor. Após breves actuações, já o ouvia:
- Oh senhor sargento, conte lá algumas anedotas do seu reportório, até eu recuperar deste clima!...

Contou-me histórias hilariantes da sua vida artística, que desenvolveu mundo fora.

Tal como aconteceu com o Horácio Reinaldo [Luanda, 1922- Entroncamento, 1993] (*), muitos mais artistas colaboraram, nessa base da diversão. Acompanhei muitos e destaco um espectáculo memorável na Base Aérea de Bissalanca, em que a "estrela" foi o saudoso, Rui de Mascarenhas [Vila Pery, Moçambique,1929 - Vila Nova de Gaia, 1987].(***)

Algum dos "tabanqueiros" da FAP . assistiu?

Meu Deus, há quanto tempo!...

terça-feira, 3 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13231: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte IX: (i) um dia diferente: quando o cantor Horácio Reinaldo veio atuar a Canjambari, no âmbito do Programa das Forças Armadas (PFA); e (ii) um dia inesquecível: aquela mina A/P que estava montada para o fur Fernando Pires...











1. Histórias da CCAÇ 2533 > Parte IX (Fur mil at inf, 3º pelotão, Fernando Pires)


Continuamos a publicar as "histórias da CCAÇ 2533", a partir do livro editado pelo 1º ex-cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). Esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças).

A brochura chegou-nos digitalizada através do Luís Nascimento (que também nos facultou um exemplar em papel e que, até ao momento, é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande). Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as peripécias por que passou o pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).

Continuamos a publicar a colaboração do fur mil at inf Fernando J. do Nascimento Pires, que pertenceu ao 3º pelotão. O poste de hoje corresponde às pp. 46/49 e a duas narrativas:

 (i) um dia diferente: quando o cantor Horácio Reinaldo (*) veio atuar em Canjambari, no âmbito do Programa das Forças Armadas (PFA); 

e (ii) um dia inesquecível: aquela mina A/P que estava montada para o fur Fernando Pires... (LG).

____________

Notas do editor:

Último poste da série > 30 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13213: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte VIII: (i) os primeiros dias em Canjambari: em mês de santos populares, o batismo de fogo, os primeiros contactos com o IN; e (ii) a santa ingenuidade: um episódio com um cobra venenosa

(*) Encontrei esta referência ao cantor e bem como um vídeo, no You Tube, editado por Canal António Moreira > Horácio Reinaldo / África Oy

 "Horácio Reinaldo foi um cantor brasileiro que fez praticamente toda a sua carreira em Portugal. "África Oy", foi um dos seus maiores sucessos. O áudio deste vídeo foi recuperado por mim de um velho disco EP de vinil."

O nosso conhecido Hino de Gandembel foi buscar a música...  a este EP do Horácio Reinaldo...

Outra referência ao cantor:

"Horácio Reinaldo e os seus Camundongos> EP,  ALVORADA, 1968

(...) Este Brasileiro fez praticamente toda a sua carreira em Portugal, a solo ou com os seus Camundongos. Lançou uma série de discos em várias editoras. Nos vários discos que editou, cantou e tocou um pouco de tudo! Desde o samba ao fado, da marcha á canção ligeira, passando pelo yé yé.
Neste EP, destaco o tema "Eu sou trabalhador". Musica com um ritmo bastante yé yé e com uma letra bem humorada. (...)
[Fonte: Blogue Os Reis do Yé Yé]

Neste mesmo blogue, um filho do Horácio Reinaldo [ou Reynaldo]  escreveu o seguinte, em comentário, de 28/6/2009:

(..) Meu nome é Reinaldo Horácio Rodrigues Nunes, sou o filho mais velho de Horácio Reynaldo Monteiro de Figueiredo Nunes.Também sou músico e compositor. Meu pai faleceu no final de 1993 no Entroncamento onde se encontrava a fazer trabalho para a Sociedade Portuguesa de Autores. Infelizmente grande parte da sua obra ardeu no incêndio do Chiado, nos arquivos da Valentim de Carvalho.Para mais informações o meu contacto movel é 936059009. Obrigado pela dedicação.
 

(...) Nasceu no Bairro de São Paulo em Luanda no dia 26 de Setembro [de 1922].  Há 87 anos. (...).

Outro visitante confirmou que ele era angolano, em comentário de 27/8/2009::

(...) Grandes recordações do Horácio Reinaldo. De facto,  sim,  ele era Angolano, conheci-o era eu tripulante do navio Uige e trouxe-o de Angola para Portugal em finais de 73 (Outubro, parece).

O Horácio era muito amigo dos electricistas do paquete,andava ate a ensinar um deles a tocar guitarra. Eu era um jovem de 18 anos e tive a sorte do Horácio simpatizar comigo,a partir dai, sempre que o navio parava,  iamos a terra juntos.

De facto ele contava estorias maravilhosas da sua gente de Angola,e falava de um filho que afinal está neste blogue. Tinha ele na altura um disco que era, se me nao falha a memória,  "África meu verso de embalar, com palmeiras ao luar" (...) [a letra começa assim: África, meu verso de embalar, tens palmeiras ao luar...]

sábado, 19 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13009: Estórias e memórias de Silvério Dias, radialista, PFA, 1969/74 (2): Relembrando outras Páscoas bem mais amargas...







Fotos: © Silvério Dias (2014). Todos os direitos reservados.

1. Mensagem do Silvério Dias, enviando-nos uma divertida sequência com o PIFAS lá de casa, mais este pequeno texto, que se segue e nos vem relembrar outras Páscoas, bem mais amargas do que as de hoje para muitos portugueses, ex-combatentes ou não...


Nesta Quadra e relembrando, "Páscoas do Passado", veio-me à memória uma iniciativa levada a cabo pela já falada "Senhora Tenente do P.F.A." [, foto à esquerda,] ao tempo, "madrinha" de um sem número de "afilhados", dispersos por aquela Guiné.

Batendo às portas do comércio local de Bissau, como. por exemplo, "Casa Gouveia", "Pintosinho", "Mussá Soda", "Taufik Saad" e outras, angariou uns quilos de amêndoas.  Com paciência de "madre", embrulhou-as em pequenos pacotes e através do S.P.M., enviou-os aos "castiços" espalhados pelo "mato".

Calculem, quantos "bate estradas" de agradecimento! E foi tão simples, adoçar a boca, cumprindo a tradição!...

Fica o registo e uns singelos versos, dedicados a tantos que, como nós, tiveram várias Páscoas de Solidão:

Páscoa, celebra-se agora.
E as outras, de outrora?
Quando, em distante missão,
Se sofria de saudade,
Naquela amarga verdade
Do viver em solidão?

Tantas Páscoas se perderam.
Tantos sonhos feneceram,
Porque não foram vividos?
E o que foi, já não regressou.
A vida depressa passou,
Com mágoas nos cinco sentidos.

Silvério Dias
"Poeta Todos os Dias" - Abril 2014.
____________

Nota do editor:

segunda-feira, 31 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12919: Estórias e memórias de Silvério Dias, radialista, PFA, 1969/74 (1): Como, por causa de um amigo, deixei a CART 1802, fiz provas para locutor do PFA e, mais tarde, abandonei voluntariamente o Exército


Guiné > Bissau > PFA - Programa das Forças Armadas, c. junho de 1971 > Noite 7 (Emissão especial aos Sábados).

Na foto, o 1º cabo José Camacho Costa e o 1º srgt Silvério Dias. Reconhecem-se excertos musicais de Carlos do Carmo, José Mário Branco, Beatles e outros... Faz-se referência á chegada do homem à lua, à guerra no Laos e no Camboja, e dá-se a notícia da flagelação, à cidade de Bissau, com foguetões 122 mm de origem russa (em 9 de junho de 1971)...

[Ouvir aqui o Compacto aúdio, de Garcez Costa, antigo locutor.  Vídeo (6' 31''): Alojado em You Tube > Nhabijoes ]

1. Mensagem do Silvério Dias, com data de hoje

Assunto: Voltar à Tabanca


Agora que "desbravei a picada" (*), é com maior naturalidade que me desloco até junto dos bons "rapazes da nossa Guiné". Para criar o tal ambiente, só falta mesmo o calor húmido. Porque, "manga de chuva" temos nós, nesta prima bera que não muda para melhor. 

Fora o humor negro, passo a expor alguns dados relativos à minha pessoa, face à curiosidade do barbas Luís Graça:

O meu percurso com a CArt 1802 incluiu presenças em Farim, S.João e Jabadá, com todas as contingências inerentes a uma Companhia Operacional.

Ao tempo, em deslocação a Bissau para reabastecimento de frescos, encontrei velho amigo que,  de forma entusiástica e sabendo das minhas actividades radiofónicas em Moçambique, me deu conta de que estavam necessitando de um locutor para o Programa das Forças Armadas. 

A "reboque", lá prestei provas de  leitura e dicção. "Tiro e queda"!

Substitui o então profissional da E.N. [Emissora Nacional] 
Lima Jorge, dando início a nova missão e a possibilidade de ter comigo parte da família. Esse foi sem dúvida o prémio maior.

Também não será desajustado dizer que o encontro fortuito com o amigo, António Martins, mudou radicalmente o meu futuro. Quiçá o meu destino, porquanto começava a desenhar-se um certo desencantamento, quanto às missões que aos militares estavam destinadas.

Na Guiné, mercê do empenho do então Major, António Ramalho Eanes e a influência do General Spínola, abandonei voluntariamente, o Exército, para muitos, impensável, tratando-se de um 1º Srgt .do Quadro Permanente.

Já nesse tempo: Mandava quem podia!

Fica por hoje este fragmento. Prometo voltar, dissipando duvidas e contando "estórias"...

Oxalá tenham paciência para as ouvir!

De mim para todos os "tabanqueiros"... aquele abraço. 

Silvério Dias
_________________

Nota do editor:

(*) Vd. postes de:

24 de março de  2014 > Guiné 63/74 - P12894: Tabanca Grande (430): Silvério Dias, 1º srgt art ref, o senhor PIFAS, e "poeta todos os dias!...Nove anos de permanência em terras guineenses, incluindo uma comissão na CART 1802 (Nova Sintra, 1967/69)... É agora o grã-tabanqueiro nº 651


30 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12914: (In)citações (63); Senhor Ministro da Defesa, vamos lá falar, com toda a franqueza: dizer-lhe que militar não é, propriamente, um funcionário público. Já lhe ocorreu pensar nesta verdade? (Silvério Dias, ex-2º srgt art, CART 1802, Nova Sintra; ex-locutor do PFA, QG/CTIG, Bissau, 1969/74)

segunda-feira, 24 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12894: Tabanca Grande (430): Silvério Dias, 1º srgt art ref, o senhor PIFAS, e "poeta todos os dias!...Nove anos de permanência em terras guineenses, incluindo uma comissão na CART 1802 (Nova Sintra, 1967/69)... É agora o grã-tabanqueiro nº 651

1. Mensagem do nosso novo grã-tabanqueiro, Silvério Dias, o ex-1º srgt art, locutor do PFA;


Data: 23 de Março de 2014 às 18:51
Assunto: Alistamento no Regimento dos "Tabanqueiros"


 Assim seja, desejo alistar-me, voluntariamente, tomando a posição 651. Que me seja conservado o posto de 1º.Sargento de Artilaharia, bem assim, todos os louvores e condecorações, constantes na caderneta!

Brincadeira aparte, caro "Homem-Grande", Luís Graça (*), não se culpe. Se erro existe é apenas meu, ainda que desculpável.

Só muito recentemente e de modo ocasional, tive conhecimento da existência da "Tabanca Grande" e dos seus efeitos benéficos, reunindo à sombra de gigantesco poilão, grande parte daqueles que, da Guiné, guardam tantas boas e más recordações.

Para descrever as minhas, diria que só num livro de muitas páginas. Basta referir que "por lá andei", durante 9 (nove) anos, de 1967 a 1976. Granjeei amigos de todas as etnias e credos, admiradores ouvintes do PFA. e agradecimentos pelo bem-fazer, na minha condição de Delegado de Propaganda Médica, após abandono voluntário do Exército.

Sucintamente, apenas contrariado pelo clima adverso (que todos conhecemos), diria que me senti "em casa", embora bem longe dela.

Alguns utentes da "Tabanca Grande" já ouviram falar de mim, mercê da atitude louvável do Furriel Mil Garcez da Costa, que ao "Pifas" deu voz (considera que fui o seu paizinho) e deu a conhecer a minha existência. Lhe agradeço por isso e pela possibilidade futura de conviver convosco.

Na plenitude da minha velhice, estou dedicado à poesia. Prometo divulgar o que escrevo e relativo à "nossa Guiné". Para consulta, o blogue, Poeta Todos os Dias.

Não vos prometo maçar mais. Há manga de chuvas para podermos dialogar. Até lá e até sempre, firme e hirto, a minha continência à virtual bandeira da Tabanca Grande. na presença do seu "Comandante Luís Graça"!

Ex-camarada e presente amigo, Silvério Dias.


2. Comentário de L.G.:

Camarada, mandam as boas regras do blogue, tratarmo-nos por tu, como camaradas de armas que fomos!... Além disso, pertencemos à mesma geração, e recusamos desaparecer sem deixar rasto. Este é um blogue, como sabes, de partilha de memórias e de afetos, seja em prosa em verso.  És bem aparecido e bem vindo e serás seguramente acarinhado por todos os amigos e camaradas da Guiné.

Com nove anos de Guiné (que conheceste bem, antes e depois da independência, mais a Índia e a Moçambique), não te faltam histórias e fotos para publicar. Para já, instala-te e senta-te confortavelmente à somba do nosso mágico, fraterno, centenário e protetor poilão. Estás mais do que "arregimentado". És o grã-tabanqueiro nº 651 (**). Um alfabravo para ti e para a "senhora tenente". Muita saúde e longa vida, deseja-te o nosso bom irã, acocorado lá no alto do poilão!


PS1 - Silvério, devo arescentar que és o único representante, até à data, da CART 1802, "Pioneiros de Nova Sintra", que andou pela região de Quínara (Nova Sintra, Fulacunda, Jabadá, S.João, 1967/69). Julgo que na altura eras 2º srgt. E daí terás ido para o PFA - Programa das Forças Armadas, onde trabalhaste com, entre outros, o então cap inf António Ramalho Eanes. Confere ?

Da tua CART 1802, composta por rapaziada alentejana, fizeste um breve historial em verso. Tens fotos desse tempo ? Tens a história da unidade ? Vocês costumam reunir-se em convívio anual ?  O nosso crítico litérário, o Mário Beja Santos, já aqui em tempos fez a recensão de uma brochura. da autoria de  um camarada que esteve em Moçambique, Manuel Pedro Dias, que conta a história da tua companhia. Ora vê clica aqui (***)... Como vês, e como costumamos dizer, o Mundo É Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. E, a propósito, também também temos uma página, mais aberta e mais ligeira, no Facebook > Tabanca Grande Luís Graça,

PS2 - Sobre a CART 1802, independente: Mobilizada pelo RAL 3, partiu para o TO da Guiné em 28/10/1967 e regressou a 23/8/1969. Esteve em Farim, Bissau, S. João, Nova Sintra, Bissau, Teixeira Pinto, Pelundo e Bula. Comandantes: (i) cap mil art António Nunes Augusto;  cap art Luís Fernando Machadoo de Sousa Vicente;  e (iii) cap mil art  Emílio Moreira Franco.

_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de março de 2014 >  Guiné 63/74 - P12870: Agenda cultural (295): O camarada "pifaniano" Silvério Dias, ex-1º srgt, locutor do PFA - Programa das Forças Armadas, e "poeta todos os dias", convida os poetas da Tabanca Grande para a sessão de hoje, "Há Poesia no CASO", ou seja, no Centro Acção Social de Oeiras, às 17h00

(...) Comentário de L.G.: (...) Silvério, agora me dei conta que o meu amigo e camarada ainda não tem lugar cativo, na Tabanca Grande, à sombra do nosso poilão!...

Mas isso imperdoável! E a falta só pode ser minha!.. Uma foto do tempo do PIFAS já temos, falta uma atual... E o resto é simples: é um paleio do género, a enviar por email:

(... "Apresenta-se o camarada tal que, deslumbrado com este ponto de encontro virtual dos amigos e camaradas da Guiné, também bate a pala e pede licença para entrar e contar, em prosa ou em verso, algumas das suas andanças e peripécias por aquela terra verde e rubra a que ainda hoje chamamos a nossa Guiné, sem falsos paternalismos nem muito menos com inconfessáveis intenções neocolonistas, enfim, de cara lavada e coração limpo" (...) Blá- blá, blá-blá...

Um alfabravo. Luís Graça

PS - Não se aceitam negas...O nº 651 está vago... mas por pouco tempo! (...) 


(...) Manuel Pedro Dias, que prestou serviço militar em Moçambique fez amizade com Manuel Balhau (proprietário da Gráfica 2000) e que prestou serviço militar na Guiné. Manuel Pedro Dias deitou mãos ao trabalho, consultou no Arquivo Histórico-Militar a história da CART 1802, e fez-se brochura.

É um exemplo para muitos. Temos aqui um documento sóbrio, destacando as principais andanças, não descurando o In Memoriam e mostrando até os guiões dos outros batalhões com quem os “Pioneiros da Nova Sintra” tiveram articulação. Coisa bonita.

A CART 1802 andou por Teixeira Pinto, Binar, Pelundo, Farim, S. João, Nova Sintra e Jabadá, ou seja percorreram o Sul, Centro e Norte. Tiveram ainda pelotões destacados em Enxudé e ilha de Jeta.

Foram mobilizados pelo Regimento de Artilharia 3 (Évora), a sua divisa era “Honra e Glória”. Uma comissão que se estendeu de Outubro de 1967 a Agosto de 1969. Mal desembarcados, seguiram para Farim; depois de treino operacional participaram numa operação na Ponta do Inglês e noutra em Binar, em ambas tiveram mortos e feridos.

Estavam de intervenção ao Comando-Chefe. Começaram o ano de 1968 numa operação em Binar e depois partiram para S. João, aqui construíram abrigos, patrulharam e limparam itinerários com vista à criação do subsector de Nova Sintra na zona de acção do BART 1914. 


É um período de intensa actividade operacional. Em Outubro vão para Jabadá dois pelotões, um outro fica em S. João e mais outro em Enxudé. Em Março, uma parte da companhia chega a Teixeira Pinto, vão para a ilha de Jeta e para o Pelundo. A partir daqui, apoiam trabalho de desmatação na estrada Teixeira Pinto – Bachile, bem como na estrada Pelundo – Có. 

Em Agosto de 1969, a 1802 recolhe a Bula, seguindo depois para Bissau. (...) 

sexta-feira, 21 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12870: Agenda cultural (305): O camarada "pifaniano" Silvério Dias, ex-1º srgt, locutor do PFA - Programa das Forças Armadas, e "poeta todos os dias", convida os poetas da Tabanca Grande para a sessão de hoje, "Há Poesia no CASO", ou seja, no Centro Acção Social de Oeiras, às 17h00

1. Duas mensagens do Silvério Dias, o ex-1º srgt, locutor do PIFAS,  que nos chegaram ontem, através do correio do Garcez Costa (que também Tony Sacavém):


(i) Saudações a todos os bons "tabanqueiros" na pessoa do "homem grande", Luís Graça, ao qual se deve o extraordinário "movimento da Tabanca Grande".

Desde já e lamentavelmente, muito em cima da hora, dou conta que amanhã, pelas 17H00, no Auditório Princesa Benedita, será levado a efeito, um evento de Poesia, aberto a todos os que queiram "dizer" o poeta da sua eleição.

Sem preciosismos, perfeitamente amadores, poetas da casa e seus convidados têm portas abertas para o convívio.

Quem não me conhece, terá o ensejo de aliar o tão "badalado Pifas" a um dos intervenientes que o celebrizou como Programa da Rádio na Guiné. Lá estarei, como mentor da Tertúlia, "Há Poesia no CASO".

A sigla traduz o Centro de Acção Social de Oeiras (IASFA) e situa-se junto à Escola Secundária Sebastião e Silva, em Oeiras, claro.

Para mais completa informação, sou o tal que se intitula, Poeta Todos os Dias. Se poetas, juntem-se a nós!

Abraço de camarada, Silvério Dias


(ii) O nosso furriel teve uma ideia brilhante e eu tentei corresponder em absoluto.Fiz aquele belo relato de circunstância e quando vou enviar, o mesmo é rejeitado por erro de endereço. Estou vendo mal mas não completamente ceguinho, e não descortinei o erro.

Assim, com toda a desenvoltura, "atirei" o texto ao Tony que por sua vez, com toda a sua capacidade, o remeterá ao Luís Graça. É possível?  Em boa verdade,  a tua ideia faz sentido, e antigos camaradas da Guiné serão muito bem-vindos ao COSFA.. Oxalá consigamos reunir uns quantos.

Lá te espero. E concordo que vás bem munido porque naquela Casa, dada a idade dos utentes, por vezes as presenças são escassas.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12657: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (79): Notícias do nosso primeiro Silvério Dias e da "nossa tenente", rostos do Programa das Forças Armadas (ou PIFAS)

Silvério Dias
1. O nosso leitor Poeta Todos os Dias deixou, hoje, um comentário ao poste P10366  (*):

Olá amigos!
Que comoção! 
Ao fim de quase meio século, poder escrever:
"sempre ao vosso lado", 
quando "lá"
o dizia de viva e sentida voz.

Sou o "velho" 1º Sarg Silvério Dias,
vivo na Graça de Deus 
e tendo a meu lado a "senhora tenente" 
que me acompanha em 53 anos de matrimónio.

O que tenho para recordar? 
Um rol infinito de que procurarei ir dando conta. 
Para já, o reencontro!




Página principal do bogue do Silvério Dias, "Poeta Todos os Dias"... e onde se lê: "Sou beirão; ex-militar; Índia, Moçambique e Guiné. Na velhice, o vício da poesia, e o amor que me une às boas tradições beirãs"...


2. Comentário de L. G.:

Camarada, em nome da Tabanca Grande, os amigos e
camaradas da Guiné que já são mais do que um batalhão, damos as boas vindas ao nosso primeiro Dias e à "nossa tenente!" [, foto à direita,] que, durante alguns anos  foram o rosto do Programa das Forças Armadas (PFA), na Guiiné..

É caso para dizer, depois deste nosso reencontro, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... É Grande, no sentido de nela caberam sempre... mais dois!... Ficamos à espera de novas. O mail é o seguinte: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

Descobrimos que o camarada Silvério Dias criou, em 2011, e mantém até agora um bogue que dá pelo nome de Poeta Todos os Dias... Já tem mais de 26 mil visualizações. Aqui, para ilustração, um poema que ele publicou em 30 de dezembro de 2011:

Heróis do meu País

São dez mil, identificados,
Na pedra fria do Bom Sucesso!
Todos eles foram chorados,
A quando da ida, sem regresso.

São os mártires do meu país,
Vítimas do chamado Ultramar.
Por lá andei e Deus quis
Conceder-me a Graça de voltar.

Perdi amigos; chorei a perda;
Hoje, quando a dúvida se instala,
Mando, mentalmente, "à merda",
"Ilustres" a quem "bati a pala".

Onde mora o brio, o amor à farda?
O juramento feito à Bandeira?
Será que uma geração bastarda
Se rendeu, à bandalheira?


3. Já agora, aqui vão, ao sabor dos (a)casos da Guiné, mais alguns versos, com a devida vénia a autor [, Silvério Dias,. foto à esquerda,] e reforçando o convite para se juntar à nossa Tabanca Grande:

Silvério,  "O nascido na selva"

Significado bem original
Do nome que me foi dado.
Corrijo, algo errado.
Foi na serra que fui gerado!
13/1/2014






P.F.A. Noturno

"2001 Uma Odisseia no Espaço"
É referência que agora faço.
Abertura, "Programa das Forças Armadas"
Que na Guiné de então,
Unia todos os camaradas
Em "encontros" ao serão.

...no espaço do tempo, já lá vai meio século!


Testemunho Público

Também eu, estive lá!...

O MEU TESTEMUNHO
Ao Ilustre, António Ramalho Eanes

Do Presidente e General, falará a História.
Daquele Capitão que "promovi" a Major, *
No meu raro momento de glória,
Me pronuncio eu, em tom maior!

Servi-lo, uma honra na circunstância.
Foi fácil obedecer, vindo o exemplo
De quem, esquecendo a importância,
Desceu até nós, face ao momento.

Momentos que na Guiné partilhámos,
Sabendo ambos qual era o Dever.
Cada um por si, bem o prestámos,
À Causa que se viria a perder.

Ficou o elo, bem firme em mim,
Da admiração pelo Homem-Militar
Para prosseguir, agora e sem fim,
Até que esta minha vida durar.

Na mente, guardo o conceito,
Reservado às figuras duma existência.
A saber: Deus, meu pai e "Este Eleito",
Pelos exemplos, associados à evidência.

* Na cerimónia, impôs que fosse eu, a
colocar um dos galões.
Era, ao tempo, 2º Sarg.do Exército.

25/11/2013


Ao Soldado Desconhecido

Da CART 1802, "Pioneiros da Nova Sintra"

O Alentejo os viu nascer.
Do mesmo, um dia partiram
Para certo destino, a saber,
Sem saberem, ao que iam...

Defender a Pátria, a mensagem.
E com espingardas vos armaram.
Bilhete, só de ida na bagagem,
Pois quantos foram e não voltaram!...

Teu número de condenado, 1802-
Como "fato de riscas", o camuflado-
Trabalhos forçados, te deram depois,
Desde esse dia, malfadado.

Do mesmo lugar de antanho,
Donde partiram as caravelas,
Eis que partem, sem arreganho.
No coração, mil mazelas.

Falar da viagem, a odisseia,
É o dizer, de agonia prolongada,
Feita de enjoos, à mão cheia,
Da novidade não programada.

A chegada a lugar estranho,
De calor tórrido, pegajoso,
Terra à vista, de mau amanho,
Sem vestígios de algo vistoso.

Nova viagem, novo atropelo,
Na barca cinza, de nome lancha.
Todos ao monte, como em novelo
Que desordenado se desmancha.

Pé firme em terras de Farim.
Aqui ficarás, nobre Zé soldado,
Até que um toque de clarim,
Te remeta, a qualquer outro lado.

E foste, como "um pau mandado"
Tropeçando aqui, levantado além,
Por vezes mal comandado,
Tu cumpriste, forte e bem!

Comendo o pão do diabo,
Por ele amassado e com teu suor,
"Temperaste"o que te era negado,
Por falhas, de vulgar superior.

Soubeste traduzir, "bolanha",
Num momento, todo ele sacrificado,
Quando em prova de esforço, tamanha,
Tiveste de passar, p'ró outro lado.

E foste, de novo "baptizado"
Na pia baptismal da picada.
Causou danos, mas bafejado,
Subtraíste o corpo à rajada.

Alguém ficou. Por ti chorado
Em dia fatídico de má desdita,
Sem honras devidas a um finado
Que, longe dos seus, já não palpita.

Quantas palpitações, tantos medos,
Sofridos, em constante desalento...
E os dias parecendo quedos,
Pois decorriam, de modo lento...

Do teu Mundo do Alentejo,
À terra que te viu nascer,
Juntaste nomes de sobejo
Que te obrigaram a conhecer:

Fulacunda, Jabadá, S.João...
São hoje recordações a rever.
Lá deixaste parte do coração,
Não por amor, mas p'lo sofrer.

Construíste, um lugar novo.
Nova Sintra, assim registado.
E, por seres homem do povo,
Como "pioneiro" serás recordado!

O regresso. Missão cumprida.
Dela esquece, a má memória.
Ao longo da tua vida,
Constarás, da nossa História,

Lembrando o Homem-soldado
Que obrigaram a lutar,
Por um ideal mal contado
Que o futuro veio revogar.

Porque tens a alma pura,
Perdoa a quem te fez mal.
Acabada a ditadura,
Temos um novo Portugal.

Embora, com outras sequelas.
Pois parece ser nosso Destino,
Viver sempre em más novelas,
Quando se é pequenino!

"Pioneiros de Nova Sintra"
Em comissão na Guiné, de 1967-69.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12467: Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74) (Parte VII): Como é que a malta pssava os 'tempos livres'...


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) >  Capa do jornal de caserna, mensal,  "O Serrote", edição nº 1, 1973, editado pela 3ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74). Diretor: alf ml [Jorge] Pinto. 









Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > Jornal de caserna "O Serrote", mensal, edição nº 1, 1973, editado pela 3ª CART / BART 6520 (Fulacunda, 1972/74). Diretor: alf ml [Jorge] Pinto. Páginas do meio: 12/13. Total de páginas: 24.



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª C/BART 6520/72 (1972/74) > Um jogo de bridge entre oficiais. Em 2º plano, do lado esquerdo, o alf mil Jorge Pinto.


Fotos (e legendas): © Jorge Pinto (2013). Todos os direitos reservados. [Edição; L.G.]



1. Mensagem do Jorge Pinto [ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) , com data de 14 do corrente,  em resposta a um comentário anterior do nosso editor [ " Toda a Guiné era concentracionária e claustrofóbica... Mas quem estava em Bambadinca, como eu, tinha - nas horas vagas, fora da intensa atividade operacional - a doce ilusão da liberdade de pôr viajar 30 km em estrada alcatroada, e ter em Bafatá um 'cheirinho' da civilização... O mesmo se pode dizer da malta que estava em Bafatá e em Lamego...E talvez em Mansoa e Teixeira Pinto... Ou não ? Bissau não conta, para nós não era mato"]...


Vejo que voltaste a caprichar, obrigado.  Enviei estas fotos (*) com o objectivo de revelar um aspecto do modo como se passava algum do tempo, naquele "ambiente concentracionário", como tu bem dizes. Contudo, por incrível que pareça, grande parte do nosso tempo era passado fora do arame farpado: patrulhamentos, emboscadas, operações, reabastecimentos, idas à lenha... Devo salientar que fora do arame farpado as deslocações eram sempre feitas, no mínimo, ao nível de bigrupo, mais uma ou duas secções de milícias.

Dentro do aquartelamento havia sempre assuntos que nos envolviam.  Muita leitura, lembro-me, por exemplo, da chegada do primeiro exemplar do jornal Expresso. Sebentas de Direito e de História também eram companheiras inseparáveis de alguns oficiais.

Ouvíamos a BBC,  de Jorge Letria. Da Argélia vinha a voz do Manuel Alegre e o pensamento de Piteira Santos [Rádio Voz da Liberdade]. O próprio PIFAS, e o amigo [Armando] Carvalheda nas rubricas radiofónicas também muito ajudaram tal como a "Maria Turra" [Rádio Libertação, emitindo de Conacri].. 

Muita conversa, sobretudo após ouvirmos a BBC. Claro que também havia conversas filosóficas, sobretudo com o régulo Malã, que após ter estado em Meca, S. Francisco da Califórnia, Macau, Lisboa, Londres e outras urbes europeias,  afirmava com grande veemência que Fulacunda é que era BOM. 

Muitos jogos, não só de futebol e voleibol mas também jogos de sala: longas noites de bridge (foto acima)), King, sueca, ramin, poker de dados, ping-pong...


Atividades culturais, como por exemplo a feitura de um jornal mensal, O Serrote (capa reproduzida acima ) aberto à colaboração de todos. Ali se escreveram:  (i)  piadas de caserna relacionadas com episódios rocambolescos da comunidade residente; (ii)  resumos de livros lidos por alguns; (iii)  poemas que fazem lembrar as medievais cantigas de amigo e amor; (iv) assuntos de atualidade interna (anexo) e externa; além de (v) anedotas, concursos de cultura geral, contos.

Como vês,  Luís, o tempo lá se ia passando. Cada dia era religiosamente riscado um a um nos calendários pendurados nas grossas paredes dos abrigos.

Bom fim de semana para toda família. Forte abraço.

Jorge Pinto [, foto da época, à esquerda]

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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12381: O que é que a malta lia, nas horas vagas (3): o trissemanário "A Bola" (Garcez Costa, ex-fur mil, radialista, Com-Chefe, Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica, Serviço de Radiodifusão e Imprensa, Programa das Forças Armadas, Bissau, 1970/72)


Guiné > Bissau > Com-Chefe > Programa das Forças Armadas > c. 1970/72 > Álbum de Garcez Costa > Foto nº 3 > "Garcez Costa a ler... 'a bíblia' [, o jornal 'A Bola'] e o João Paulo Diniz à espera qu'eu lhe passe... "a bola".

Foto (e legenda) : © Garcez Costa (2012). Todos os direitos reservados


1. Garcez Costa (de seu nome completo, António Manuel Garcez da Costa), nosso grã-tabanqueiro,  nº 577 (desde setembro de 2012), foi radialista do PIFAS (designação popular do Programa de rádio das Forças Armadas, PFA, que emitia 3 horas diárias, em Bissau), tendo cumpriu o serviço militar entre fevereiro de 70 e fevereiro de 72, como fur mil. Foi substituído no final da comissão, ao que parece, pelo Armando Carvalheda, atual locutor da Antena 1 e realizador e apresentador, desde 1996, do popular programa Viva a Música.

O Garcez Costa trabalhou, em Bissau, no PFA,  com outro dos nossos membros da Tabanca Grande, o João Paulo Diniz.

2. Nota sobre o jornal "A Bola":

O jornal desportivo A Bola foi fundado a 29 de janeiro de 1945, em Lisboa, por Cândido de Oliveira [, autor de Tarrafal: o pântano da morte. Lisboa, República, 1974,]  Ribeiro dos Reis e Vicente de Melo, aproveitando um título cedido pelo Diário de Lisboa. 

A ideia nasceu à mesa de um café de Lisboa, numa altura em que a Segunda Guerra Mundial estava perto do fim e renascia o interesse pelo desporto. O primeiro número, sob a direção de Álvaro Andrade, foi elaborado por um grupo de amigos do jornalismo desportivo e teve uma grande aceitação por parte do público, tendo esgotado a sua edição. O seu preço era de um escudo, mais caro que os 15 tostões que custava a revista Stadium, a líder de mercado. De início, o jornal era editado às segundas e sextas-feiras, mas depois optou-se por trocar a sexta pela quinta-feira. 

Cerca de um ano após o lançamento, A Bola teve a edição suspensa durante pouco menos de um mês, entre 25 de março e 19 de abril de 1946, porque a Comissão de Censura não gostou da maneira como foi tratada uma seleção inglesa de futebol. Em julho de 1950, A Bola passou a ser um jornal trissemanário dado o interesse manifestado pelos leitores, especialmente a partir do momento em que a equipa de futebol do Benfica venceu a Taça Latina.
O sábado foi o terceiro dia escolhido para a publicação do jornal. Esta fórmula manteve-se durante quase 39 anos até que, em março de 1989, se passou a publicar também ao domingo. Esta quarta edição semanal surgiu pela necessidade de dar mais destaque às modalidades de alta competição, uma vez que, por essa altura, houve várias conquistas internacionais de corredores portugueses a nível de atletismo.

Entretanto, nesta altura, o jornal já era impresso em offset, tendo posto de parte o chumbo por imposição da administração do Diário Popular, quotidiano de Lisboa onde era composto e impresso. O ano de 1992 ficou marcado pela introdução da cor na primeira e última páginas. Mas a maior transformação deu-se em fevereiro de 1995, quando A Bola passou a ser um jornal diário, ao mesmo tempo que trocava o grande formato pelo tabloide, de modo a poder ser lido com mais comodidade.

Em janeiro de 2000, as edições diárias de A Bola passaram a estar também disponíveis na Internet.

O jornal A Bola é vendido em todo o território nacional e conhece também grande expansão junto dos núcleos de emigrantes.


Fonte: A Bola. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-12-02].
Disponível na www: .

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12380: O que é que a malta lia, nas horas vagas (2): a revista brasileira, ilustrada, "O Cruzeiro" (Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)