Elementos da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias Poilão", editada em dezembro de 1973 pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU foi criado em 1924).
[Local e data: Catió — Campo de aviação. Junho de 1971]
1. O nosso camarada Albano Mendes de Matos [, ten cor art ref, que esteve no GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74, e foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo], mandou-nos uma cópia, em pdf, do Caderno de Poesias "Poilão"...
Temos a sua autorização para reproduzir aqui, para conhecimento de um público lusófono mais vasto, este livrinho, de que se fizeram apenas 700 exemplares, policopiados, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. A iniciativa foi do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (BNU), cuja origem remonta a 1924.
2. Reproduzimos hoje três poemas do poeta guineense, natural de Farim, Pascoal D’Artagnan Aurigema (1938-1991). É o poeta "maior" desta antologia. Sobre ele escreveu Moema Parente Augel:
(...) "Pascoal D’Artagnan Aurigema nasceu em Farim, em 1938, e morreu em Bissau, em 1991, sem tem conseguido publicar em vida seus poemas, embora tivesse tido a preocupação de distribuir várias cópias datilografadas de um conjunto deles e ofertado a amigos. Depois de sua morte, foi publicada em Brasília uma pequena coleção sob o título de Amor e esperança (1994), dentro da coleção Vozes d’África, e em 1997, em Bissau, com o número cinco da Colecção Kebur, sob o título Djarama e outros poemas, com 136 páginas e quase oitenta poemas (1996).
A obra de Pascoal D’Artagnan Aurigemma, em seus diferentes aspectos, pode ilustrar como o escritor, assumindo seu papel social, identifica-se com seu povo, convencido de sua função como porta-voz e tcholonadur, expressão guineense muito apropriada para designar o mensageiro, o intérprete." (...) (in: Moema Parente Augel Vozes que não se calaram. Heroização, ufanismo e guineidade- SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 14, n. 27, p. 13-27, 2º sem.2010)
Tem vários poemas. anteriores e posteriores à independência do seu país, publicados na Antologia poética da Guiné-Bissau. Coordenação do Centro Cultural Português em Bissau e da União Nacional dos Artistas e Escritores da Guiné-Bissau. Prefácio de Manuel Ferreira. Lisboa, Editorial Inquérito, 1990. (*)
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(**) Dos poemas da época colonial
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 25 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13647: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (2): "Párti um peso" e "Canção de Mamã Negra", de Albano de Matos, pp. 6/7
(*) Último poste da série > 25 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13647: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (2): "Párti um peso" e "Canção de Mamã Negra", de Albano de Matos, pp. 6/7
(**) Dos poemas da época colonial
CANÇÃO DE CRIANÇA
Vento forte
vento norte
lá vem a criança
na sua esp’rança.
Vento forte
vento norte
lá vem a criança
lá vem a criança
na sua pujança.
Da tabanca erguida
toda ela de vida
lá vem a criança
na sua embalança.
Lá vem a criança
na sua bonança
lá vem lá vem
saudar alguém.
Lá vem a criança
na sua esp’rança
lá vem a criança
na sua pujança.
Lá vem a criança
na sua bonança
lá vem lá vem
beijar a mãe.
Iha das Galinhas, 1967
Da tabanca erguida
toda ela de vida
lá vem a criança
na sua embalança.
Lá vem a criança
na sua bonança
lá vem lá vem
saudar alguém.
Lá vem a criança
na sua esp’rança
lá vem a criança
na sua pujança.
Lá vem a criança
na sua bonança
lá vem lá vem
beijar a mãe.
Iha das Galinhas, 1967
PRATO DE FOME
Uma mesa triste onde talher e tudo falta
p’ra vingar fome
Mão de alguém-menino
corre [?] como esqueleto numa tigela de fome.
Alguém-menino
saído dum ventre feliz de parir.
Vida de amor de alguém-menino
talvez sonhando um futuro risonho
como tantas outras vidas sonharam.
Alguém-menino — alma simples
contemplando a certeza da revolução.
Nem pilão pila
colonial vida de pilão vazio.
Bissau, Safim, 1973
In: Antologia poética da Guiné-Bissau. Coordenação do Centro Cultural Português em Bissau e da União Nacional dos Artistas e Escritores da Guiné-Bissau. Prefácio de Manuel Ferreira. Lisboa, Editorial Inquérito, 1990
Fonte: Sítio Tripov > Guiné-Bissau > Poetas > Pascoal d'Artagnan (com a devida vénia...)