Mostrar mensagens com a etiqueta poilão. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta poilão. Mostrar todas as mensagens

sábado, 27 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13657: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (3): "Mãos", "Balantão" e "Cachimbêro", três poemas do poeta maior desta antologia, natural de Farim, Pascoal d' Artagnan [Aurigema] (1938-1991), pp. 9/11




Elementos da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias Poilão", editada em dezembro de 1973 pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU foi criado em 1924).







[Local e data: Catió — Campo de aviação. Junho de 1971]





1. O nosso camarada Albano Mendes de Matos [, ten cor art ref, que esteve no GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74, e foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo], mandou-nos uma cópia, em pdf, do Caderno de Poesias "Poilão"...

Temos a sua autorização para reproduzir aqui, para conhecimento de um público lusófono mais vasto, este livrinho, de que se fizeram apenas 700 exemplares, policopiados, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. A iniciativa foi do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (BNU), cuja origem remonta a 1924.

2. Reproduzimos hoje  três poemas do poeta guineense, natural de Farim, Pascoal D’Artagnan Aurigema (1938-1991).  É o poeta "maior" desta antologia.  Sobre ele escreveu Moema Parente Augel:

(...) "Pascoal D’Artagnan Aurigema nasceu em Farim, em 1938, e morreu em  Bissau, em 1991, sem tem conseguido publicar em vida seus poemas, embora  tivesse tido a preocupação de distribuir várias cópias datilografadas de um conjunto deles e ofertado a amigos. Depois de sua morte, foi publicada em Brasília  uma pequena coleção sob o título de Amor e esperança (1994), dentro da coleção  Vozes d’África, e em 1997, em Bissau, com o número cinco da Colecção Kebur,  sob o título Djarama e outros poemas, com 136 páginas e quase oitenta poemas (1996).

A obra de Pascoal D’Artagnan Aurigemma, em seus diferentes aspectos,  pode ilustrar como o escritor, assumindo seu papel social, identifica-se com  seu povo, convencido de sua função como porta-voz e tcholonadur, expressão guineense muito apropriada para designar o mensageiro, o intérprete." (...)
(in: Moema Parente Augel   Vozes que não se calaram. Heroização, ufanismo e guineidade- SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 14, n. 27, p. 13-27, 2º sem.2010)

Tem vários poemas. anteriores e posteriores à independência do seu país,  publicados na  Antologia poética da Guiné-Bissau. Coordenação do Centro Cultural Português em Bissau e da União Nacional dos Artistas e Escritores da Guiné-Bissau. Prefácio de Manuel Ferreira. Lisboa, Editorial Inquérito, 1990. (*)

CANÇÃO DE CRIANÇA

Vento forte
vento norte
lá vem a criança
na sua esp’rança.

Vento forte
vento norte
lá vem a criança 
na sua pujança.

Da tabanca erguida
toda ela de vida
lá vem a criança
na sua embalança.

Lá vem a criança
na sua bonança
lá vem lá vem
saudar alguém.

Lá vem a criança
na sua esp’rança
lá vem a criança
na sua pujança.

Lá vem a criança
na sua bonança
lá vem lá vem
beijar a mãe.

Iha das Galinhas, 1967

PRATO DE FOME

Uma mesa triste onde talher e tudo falta
p’ra vingar fome

Mão de alguém-menino
corre [?] como esqueleto numa tigela de fome.

Alguém-menino
saído dum ventre feliz de parir.

Vida de amor de alguém-menino
talvez sonhando um futuro risonho
como tantas outras vidas sonharam.

Alguém-menino — alma simples
contemplando a certeza da revolução.

Nem pilão pila
colonial vida de pilão vazio.

Bissau, Safim, 1973

In: Antologia poética da Guiné-Bissau. Coordenação do Centro Cultural Português em Bissau e da União Nacional dos Artistas e Escritores da Guiné-Bissau. Prefácio de Manuel Ferreira. Lisboa, Editorial Inquérito, 1990

Fonte: Sítio  Tripov > Guiné-Bissau > Poetas > Pascoal d'Artagnan (com a devida vénia...)

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

uiné 63/74 - P13647: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (2): "Párti um peso" e "Canção de Mamã Negra", de Albano de Matos, pp. 6/7







Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > CCS/BART (1979/72) > Fotos do álbum do fur mil op esp. Pel Rec Info, Bemjamin Durães: tributo à beleza das crianças. bajudas, muheres e  mães fulas.

Fotos: © Benjamim Durães (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]



Elementos da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias Poilão", editada em dezembro de 1973 pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU foi criado em 1924).











1. O nosso camarada Albano Mendes de Matos [, ten cor art ref, que esteve no GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74, e foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo], mandou-nos uma cópia, em pdf, do Caderno de Poesias "Poilão"...

Temos a sua autorização para reproduzir aqui, para conhecimento de um público lusófono mais vasto, este livrinho, de que se fizeram apenas 700 exemplares, policopiados, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. A iniciativa foi do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, cuja origem remonta a 1924.

Reproduzimos hoje mais dois dos três dos poema de Albano de Matos (pp. 5/7), que abrem o pequeno livro, de 35 pp. O Albano de Matos, editor literário, juntou nesta primeira antologia da poesia guineense, 24 poemas, de 11 poetas lusófonos (4 da Guiné, 3 de Cabo Verde e 4 de Portugal). Dos poetas guineenses o destaque vai para Pascoal D’Artagnan Aurigema (1938-1991), com três poemas que apresentaremos no próximo poste. (LG)

PS - Para os nossos leitores mais jovens, e os demais que não conheceram o território da Guiné no tempo dos portugueses: "parte peso" (crioulo) = dar dinheiro ("patacão)", dar um tostão... O peso era a unidade da moeda local. o escudo guineense (no tempo colonial). Esta cena aqui evocada no poema "parti un peso, patrão" era frequente, num país em guerra,  nomeadamente em Bissau, pejada de soldados, nas ruas e nas esplanadas, geralmente em trânsito (uns a partir, outros a chegar)...Muitos miúdos mascaravam a mendicidade, vendendo "mancarra" (amendoim)... Já o termo "patrão", como sinónimo de branco, seria mais usado em Angola (, território por onde também passou o Albano de Matos, camarada de grande sensibilidade sociocultural)...

Quantao ao poema "Canção de Mamã Negra" tem evidentes ressonâncias angolanas...Vem-me à memória poetas angolanos como: (i) o Viriato da Cruz (Porto Amboim, 1928- Pequim, China, 1973), autor do magistral poema "Mamã negra: canto de esperança"; ou como  (oo) Alda Lara (Benguela, 1930-Cambambe, 1962) e o seu poema "Prelúdio"  (que é datado de Lisboa, 1951) e onde se encontram as famosas estrofes da Mãe Negra, cantadas por angolanos e portugueses (com destaque para o Paulo de Carvalho). 

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7129: (Ex)citações (100): Do alto dos poilões da Amura, séculos de história nos contemplam... (Nelson Herbert)







Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > 100 anos separam estas duas fotos, 1908-2008... O poilão até podia  ser o mesmo, mas seguramente não  é. A foto mais antiga, proveniente do Arquivo Histórico Militar, é de 1908 (*). A foto mais recente foi tirada em 7 de Março de 2008, junto ao mausoléu Amílcar Cabral, aquando da minha visita a Bissau, no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008). O poilão da foto de  hoje poderia estar  "mais enterrado": de facto, a base da árvore, em 1908, parece ser maior, e o tronco mais largo... De qualquer modo, há ainda  bastantes poilões seculares na Amura, seguramente contemporâneos das "campanhas de pacificação" da Guiné e do capitão Teixeira Pinto (1913-1915)... Este foi apenas o único que fotografei e que me inspirou um poema (*)... E a propósito, dizem que o maior poilão é de Maqué, no Oio, e o mais tristemente famoso o de Brá, em Bissau...(LG).


Foto (de cima): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados




1. Comentário do nosso amigo Nelson Herbert, ao poste P7125 (**)


A longevidade ! E que longevidade ! O poilão (polon) que serve de fundo/cenário a algumas das fotos deste post... fotos essas por sinal datadas de 1908... Será a mesma robusta árvore que ainda hoje, de ramos longos e multiformes qual tentáculos de um polvo gigante, se espraia, sob o Mausoléu  Amilcar Cabral e dos heróis nacionais, no forte da Amura...uma aprazível e fresca sombra !


Da minha última visita ao local ainda retenho a imponência de uma árvore similar "prostrada" sobre o mausoléu...


Um poilão com pelo menos um século de contemplação da história ?


Mantenhas


Nelson Herbert
Washington DC,USA (***)
 ________________


Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 25 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3669: Blogpoesia (27): A velha Amura dos tugas (Luís Graça)


(...)


A velha Amura dos tugas
agora cercada de guinéus
por todos os lados.
Ilha de areias movediças
num mar de belugas,
foi rampa de lançamento de lançados.
Dizem que aqui nasceu Bissau.
De linhas tortas,
as ruas direitas da capital.

Saúdo os ilhéus,
figuras de museu de cera,
de faces mortiças:
à frente, o capitão-diabo,
o bigode farfalhudo,
espadeirando a torto e a eito,
de peito feito
ao fogo do canhangulo.
Mais os seus soldadinhos de chumbo,
que eram uma ternura:
em linha,
em formatura,
nas suas fardas multicolores,
coloniais,
do tempo dos Cabrais.
Davam vivas à Pátria
e à Rainha.
Aqui como em toda a parte,
onde o Império tinha engenho e arte.

Ah! A velha Amura,
inútil baluarte,
com os seus canhões
de bronze,
incandescente...
Casamata,
prisão,
dormitório,
agora panteão,
nacional,
coberto de poilões.

Eram onze
os soldadinhos,
como no jogo de matraquilhos.
E combatentes da liberdade da Pátria,
contei-os pelos dedos da mão.

Que fazes aqui, Amílcar,
que já te mataram, Cabral ?
E de que traições podias falar,
se fosses vivo,
tu, Osvaldo ? E tu, Vieira ?

E quanto a ti, Titina,
que incendiavas paixões
pelo Oio ?
Que fazes também aqui,
jazida entre os poilões,
debruados de branco,
da triste Amura ?
Cuidado, Silá,
que os tugas montaram-te a cilada
na cambança do Rio Farim.

Vejo mais à frente o Domingos,
O valente Ramos,
herói de banda desenhada,
que irá morrer de morte matada
em Madina do Boé.

E tu, Rui Demba Djassi,
de quem eu não sei nada,
a não ser que morreste em 1964,
depois do mítico Congreso de Cassacá ?
Sei ainda que tens nome de rua,
suja e esburacada,
na capital da tua terra...

E o camponês balanta,
Pansau Na Isna,
herói do Como,
guerrilheiro-cowboy,
enfrentando as naves loucas dos tugas
com a sua Kalash de contrafacção ?

Na Amura fez-se história,
diz-me o guia.
Ou a história dos vencedores
que contam a história
de como venceram
os vencidos.

Luís Graça
Bissau, 7 de Março de 2008 (...)



(**) Vd. poste de 14 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7125: Historiografia da presença portuguesa (38): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte IV) (Carlos Cordeiro)


(**) Último poste da série (Ex)citações >  14 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7126: (Ex)citações (99): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (Carlos Cordeiro)

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Guiné 63/74 - P2021: Cusa di nos terra (3): Poilão ou poilon, árvore sagrada (Paulo Santiago / Carlos Fortunato / Torcato Mendonça)

Guiné-Bissau > Região do Óio > Maqué > 20 de Novembro de 2006 > Mais uma chapa do famoso poilão de Maqué. Tirada pelo nosso camarada Carlos Fortunato, ex-Fur MIl da CCAÇ 13 (Os Leões Negros), na sua última viagem à Guiné e à região do Óio.

Foto: © Carlos Fortunato (2007). Direitos reservados.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > CART 2339 (Mansambo, 1968/69) > O Torcato Mendonça mais o seu Gr Comb na tabanca em autodefesa de Candamã, tirando partido dos frondososos e grossos poilões.

Fotos: © Torcato Mendonça (2006) . Direitos reservados

1. Mensagem do Paulo Santiago, de há uns dias atrás:

Luís:

Tinha-me esquecido de ir ao Dicionário de Guineense-Português da autoria do padre italiano Luigi Scamtamburlo.

Polon > n., espécie de árvore sempre verde e corpulenta,de aparência majestosa, muito comum na Guiné-Bissau,utilizada para construção de canoas; é também considerada árvore sagrada,enquanto proteje as tabancas, é tradicional morada de espíritos, é local de cerimónias, e à sombra dela fazem-se juízos e consistórios.

Serpenti mora na kumbu di polon (T.M.)- (POILÃO).N.F. Guin.N.S.n.v. Ceiba pentranda ou Eriodendron anfractuosum

Agora vou dormir, tenho de me levantar às 6,00 horas e,ainda bem que não encontrei nada de embondeiro, para não estar a fazer mais uma transcrição.

Abraço e Boa Noite

2. Mensagem de Carlos Fortunato (ex- Fur Mil, CCAÇ 13, Bissorã, 1969/73):

Luís:

Aqui vai uma foto do poilão do Maqué, sem dúvida um dos mais fotografados.

Numa tentativa de falar sobre o significado destas imponentes árvores, aqui vai o meu contributo, com base no pouco que sei sobre este tema:

O poilão é uma árvore sagrada, pois o irã vive nela, não pode por isso ser cortado, muitas cerimónias ocorrem à sua sombra, cada família (em sentido alargado) procura ter o seu poilão para a proteger.

Um alfa bravo

Carlos Fortunato


3. Mensagem do Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339, Mansambo, 1968/69.:

Luís: Vê as Fotos Falantes I – 8 e 9 (Candamã). O poilão apoiava a cozinha, refeitório, posto de sentinela, abrigo, etc. (2).

Fotos Falantes III – 13, a dos 17 passarinhos em Mansambo e 14, outra já derrubada, e nas F. F. II a i9, ainda de pé.

Ainda há mais. Não me lembro o nome das árvores, embondeiros?... e outras… desde que dessem abrigo.

__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

18 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1965: Cusa di nos terra (1): Emdondeiro (cabaceira) e poilão (Paulo Santigo / Leopoldo Amado)

18 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1968: Cusa di nos terra (2): O Embondeiro, aliás, Poilão, de Mansoa (Germano Santos)


(2) Vd. post de 11 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1167: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (4): Candamã, uma tabanca em autodefesa

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1968: Cusa di nos terra (2): O Embondeiro, aliás, Poilão, de Mansoa (Germano Santos)

Guiné > Região do Óio > Mansoa > c. 1972 > O Germano Santos junto a um enorme embondeiro

Foto: © Germano Santos (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do Germano Santos, ex-operador cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Mansoa, 1971/73)(1)

Caro Luís,

Creio que uma das fotos que te enviei oportunamente, aquela que tem o nº. 19, é de um embondeiro.

Neste caso, pena é que o fotógrafo se tenha preocupado mais comigo do que com o embondeiro (2).

Este embondeiro está em Mansoa e, pelo que me lembro, é enormíssimo.

Um abraço.

Germano Santos

2. C omentário dos editores:

O Henrique Matos vem dizer, e tem razão, que o teu Embondeiro é um Poilão.

___________

Notas dos editores:

(1) Vd. posts de:

4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1814: Tabanca Grande (8): Apresenta-se o Operador Cripto da CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832 (Mansoa, 1970/73) , Germano Santos

11 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1835: Tabanca Grande (10): Germano Santos, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73

12 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1840: A trágica história dos sapadores Alho e Fernandes da CCS do BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73 (César Dias / Gerrmano Santos)

(2) Vd. post de 18 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1965: Cusa di nos terra (1): Emdondeiro (cabaceira) e poilão (Paulo Santigo / Leopoldo Amado)

Guiné 63/74 - P1965: Cusa di nos terra (1): Embondeiro (cabaceira) e poilão (Paulo Santigo / Leopoldo Amado)


Guiné > Zona Leste > Galomaro > c. 1972 > Poilão atingido por um raio. 

 Foto: © Paulo Santiago (2007). Direitos reservados. 



  1. Mensagem do Paulo Santiago, em reposta a um e-mail meu (1): 

 Não sou grande especialista em Silvicultura,mas também penso que o embondeiro é diferente do poilão. Julgo ver,na minha memória, um embondeiro, árvore com um tronco mais ovalizado e não tão esguio como o do poilão. 

O mais célebre deve ser o de Brá, perto do qual se encontravam, há dois anos, carcaças de viaturas militares senegalesas, destruídas quando da guerra de 1098/99. O Pepito, pela sua formação académica [ é engenheiro agrónomo pelo ISA, de Lisboa],é que poderá dissipar esta dúvida. 

 Junto, possivelmente já a tens, foto de um poilão, em Galomaro, atingido por um ou mais raios.  

Abraço Paulo Santiago 

  2. Comentário do Leopoldo Amado: 

 Caros amigos: Embondeiro (cabaceira) e poilão são duas coisas diferentes, pese embora serem ambas árvores milenares e gigantescas (sobretudo o primeiro). Embondeiro dá fruto, denominado cabaceira na Guiné e múcua em Angola. No caso da Guiné, tanto a árvore como o fruto possuem o mesmo nome. Actualmente, a maior quantidade do sumo que se faz da Guiné é justamente do fruto do embondeiro, ou seja, da cabaceira. Guiné-Bissau exporta muita cabaceira, seja para o Senegal, seja para Cabo-Verde, países esses onde é sobretudo utilizado como ingrediente principal para sumos e sorvetes.

 Curiosamente, no Senegal, embondeiro denomina-se baobab e o seu sumo bissap de baobab. Em Cabo-Verde, onde essa árvore rareia ou é mesmo inexistente, é chamado sumo de fresquinha ou gelado de fresquinha, no caso de sorvete. 

  3. Comentário de L.G.: 

Aquela terra também foi nossa... Não nos acusem de imperialistas, colonialistas, saudosistas... Foi nossa porque amámo-lo... Porque continuamos a manter uma certa relação (quase umbilical) com a Guiné-Bissau e o seu povo... Tínhamos 20 anos e uma enorme capacidade de deslumbramento... Pepito, Leopoldo, Mussá Biai, Sadibo Dabo e tantos outros amigos da Guiné: não nos interpretem mal... 

Cusa di nos terra, coisas da nossa terra, é isso mesmo! 

A terra é só uma e não tem dono, não deveria ter dono. Há um pedacinho do planeta, Portugal e a Guiné-Bissau, de que nós gostamos com um carinho especial, que nós amamos com um amor especial...  
________ 

 Notas de L.G.: 

 (1) E-mail enviado para todo o pessoal da Tabanca Grande: 

 Amigos e camaradas: Leiam o belo poema do nosso Palmeirim de Catió sobre o "embondeiro do Cachil" (Ilha de Caiar)... E depois mandem-me fotos vossas de embondeiros da Guiné... Do que eu me recordo é dos poilões. Há quem diga que é a mesma coisa, mas não é (do meu ponto de vista de leigo)... Fotos de poilões serão também vindas, que é para comparar... O mais fotografado dos poilões deve ser o de Maqué. Uma das maravilhas da Guiné... Mas o poeta é que sabe (2)... 

terça-feira, 17 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1963: Blogpoesia (1): O embondeiro do Cachil (J. L. Mendes Gomes)

Angola > Na estrada do sul, em frente ao Mussulo > 26 de Setembro de 2004 > Lá está o embondeiro que tem muito para contar.

Foto: © Luís Graça (2004). Direitos reservados

Guiné-Bissau > Região do Óio > Maqué > 20 de Novembro de 2006 > O secular poilão, local de paragem obrigatória para tirar uma foto. No meio do grupo, o nosso camarada Carlos Fortunato, ex-Fur MIl da CCAÇ 13 (Os Leões Negros).

O poilão é uma árvore sagrada para os guineenses, habitada pelos irãs ou espíritos superiores, sendo um elemento de grande importância para a compreensão do papel do pensamento mágico na vida e na cultura, ainda hoje, dos nossos amigos da Guiné. Espero que eles saibam defender e preservar os seus belos poilões, verdadeiros monumentos vivos, do mundo vegetal, que nos fascinaram, quando lá chegámos... Não imagino a Guiné, as suas tabancas, sem os seus frondosos poilões... Oxalá os guineenses saibam defender o seu país e o seu património, as suas raízes, a sua identidade, dos novos colonialistas, internos e externos, que, quais predadores, farejam o lucro imediato e fácil que é o abate das árvores de grande porte... Não sei se é o caso do poilão. De qualquer modo, é preciso sensibilizar os guineenses mais jovens para a importância decisiva que tem já o ambiente para o futuro de todos nós, a começar pelos guineenses, hoje teoricamente donos do seu destino... (LG)

Foto: © Carlos Fortunato (2007). Direitos reservados.


1. Texto do Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins (Como, Cachil, Catió, 1964/66) (1), enviado em 5 de Abril de 2007:

Caríssimo Luís: Acabaram-se as crónicas (1)... Aqui vai mais um texto para publicares, se o entenderes. J.L. Mendes Gomes

Comentário de L.G.: Um ternura! Volta, temos saudades das tuas crónicas! E já agora esclarece a minha dúvida: embondeiro (termo que não se usava na Guiné no meu tempo, sim em Angola e em Moçambique) ou poilão ?


__________________

O Embondeiro do Cachil (2)


Havia um embondeiro (3)
no quartel dos Palmeirins,
erguido bem a prumo,
naquela ilha de ninguém.

Era um gigante,
eterno,
verdadeiro,
tão velho
como o mundo.

Tronco largo,
de mil nervuras,
fazia capelas,
em ogivas grossas.

Um enxame de raízes
agarrava-o firme
à terra,
ora seca
ou enlameada.

Uma floresta,
ramalhuda,
de toucado,
e mil grinaldas,
no chapéu.

Batia-lhe forte
o sol,
todo o dia,
mas não entrava.

Que majestoso paraíso
prós imponentes jagudis,
que em bandos multicores,
lhe poisavam
serenos,
em voo planado.

Um enxame de passaredo,
buliçoso e chilreante
acordava alegre,
cada manhã,
sua majestade,
aquele gigante.

À sombra perene
dos seus pés
três tendas
se ergueram:

Uma para escrita
do Primeiro...

outra pró bar
dos sargentos
e oficiais

e uma enfermaria
para os demais.

Índa fazia de catedral
prá missa de Natal,
p´rás folias
e noitadas
do fado e cavaqueira...

Não morreu...
desapareceu
de noite,
inteiro,
com a metralha da canalha...
que não queria bem
aos Palmeirins!

Que saudades
do embondeiro!...

J.L. Mendes Gomes~


_______________

Notas de L.G.:


(1) Vd. posts de:

5 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu

29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez

11 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)

8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha

22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-
Feira


8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo

11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar


1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG

20 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia

2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo

20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo

(2) Uma dúvida para o poeta esclarecer: Já tenho visto confundir-se o embondeiro com o poilão. Dois exemplos:

(i) "Poilão - Correspondente do Imbondeiro, mas na Guiné-Bissau. Também pode significar mangalho, utilizado para não assustar as catorzinhas: Anda cá, põe-te à sombra do meu poilão!". In: DICIONÁRIO D'O BAZONGA DA KILUMBA.

(ii) (...) "Três homens [manjacos], munidos dumas estranhas vestes, uma faca enorme e outros apetrechos para mim desconhecidos, irrompem no meio da pequena multidão, transportando, um deles, um porco. Ao passarem, apercebo-me de grande borborinho…é que as mulheres deveriam voltar as costas aos sacerdotes daquele estranho cerimonial, pois seria mau presságio elas visualizarem aquele misterioso cenário. Lá se dirigem ao poilão, aquilo que nós designamos de embondeiro, e sacrificam o animal. Fazem mais uns gestos esquisitíssimos, para mim, e deixam lá o porco já sem vida. Mais tarde, será saboreado pelos homens da família. O importante, para o defunto, estava feito: o sangue derramado pelo animal iria libertar a alma e levá-la à glória! Será bom lembrar que talvez a maioria dos Guineenses é animista… mesmo os Cristãos e Islâmicos vivem sob o universo dos Irãs (uma espécie de intermediários entre os homens e Deus), num mundo povoado de sacrifícios constantes, no mato grande" (...).

In: Fundação Evangelização e Culturas > 19 de Maio de 2005 > Fátima Rodrigues > Rituais

(iii) Saboreado o (belo) poema do Mendes Gomes, deixem-te também meter a minha colherada no caldo de cultura... Eu, que não sou especialista de botânica nem de línguas africanas, limito-me a consultar o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, de que sou fã. Ora estes dois termos existem, estão lá, e pelo que percebo são termos comuns para árvores de espécies diferentes, embora aparentadas (vd. portal EcoPort).

Poilão - Designação comum, na Guiné-Bissau, a algumas árvores da família das bombacáceas. O mesmo que Sumaúma (Ceiba pentandra). Há diversos nomes comuns em português: ceba, mafuma, mafumeira, ocá, paina lisa, poilão, poilão de sumaúma, poilão forro, sumaúma, sumaúma da várzea... O português é a língua que tem mais nomes comuns para esta árvore.

Embondeiro - Árvore com comprimento até 20 m (Adansonia digitata), da família das bombacáceas, com tronco gigantesco, erecto, madeira branca, mole e porosa, etc. Nativa de regiões tropicais de África, pode viver mais de dois mil anos, e o seu tronco alcançar mais de 1 metros de diâmetro. As folhas, flores, frutos e sementes são comestíveis e têm diversas aplicações medicinais. Tem vários nomes comuns, como baobá.

Na Guiné-Bissau, os nalus também fazem a distição entre o poilão (n´kauuê) e o embondeiro, segundo a etnóloga Amélia Frazão-Moreira. Como nunca estive na Ilha de Caiar, também nunca vi o embondeiro do Cachil. Resta-me a consolação da sua evocação poética... Em Angola, vi alguns, esquelécticos e moribundos, nos musseques de Luanda... Outros, mais viris e portentosos, na região do Mussulo...Dizem que pode armazenar água até 120 litros de água dentro do seu bojo...

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1367: Concurso O Melhor Bagabaga (3): Fajonquito (1964) (Tino Neves)

Guiné > Zona Leste > Fajonquito > 1964 > Um poilão...

Guiné > Zona Leste > Fajonquito > 1964 > Um bagabaga...

O Tino Neves manda-nos duas fotos tiradas em Fajonquito, no já distante ano de 1964... Nas duas aparece o seu irmão (que presumimos ter feito a sua comissão militar na Guiné nessa época).

Trata-se de dois monumentos nacionais da Guiné, diz ele: Um bagaga (1) e um poilão.
Fajonquito pertencia ainda à Zona Leste (hoje, região de Bafatá): fica a meio caminho entre Contuboel e a fronteira (norte) com o Senegal: vd carta de Colina do Norte.

Fotos: © Tino Neves (2006). Direitos reservados (2).

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores sobre o Concurso O Melhor Bagabaga:

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1347: Concurso O Melhor Bagabaga (1): Bambadinca (Humberto Reis / Luís Graça)

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1348: Concurso O Melhor Bagabaga (2): Bissau (David Guimarães)