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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13295: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (35): A missa celebrada na igreja de Monte Real, por intenção de todos os nossos camaradas já falecidos, incluindo o António Rebelo (1950-2014), vítima de morte súbita na véspera do nosso convívio (Fotos de Manuel Resende e Rui Silva)



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real, às 11h30, conforme o programa.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real, celebrada pelo padre Patrício Oliveira, vigário paroquial da Marinha Grande.



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real >  O Manuel  dos Santos Gonçalves (Carcavelos / Cascais).


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real >  O Joaquim Mexia Alves (Monte Real / Leiria), membro da Comissão Organizadora


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real > O celebrante, vigário paroquial da Marinha Grande 


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real > O Joaquim Luís Fernandes (Maceira / Leiria).



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real >  Aspeto parcial da assistência > Em primeiro plano, a Isaura Serra, mulher do Manuel Resende, e a sua mãe Palmira Serra, de 95 anos. Em segundo plano, à esquerda, o nosso camarada Joaquim Luís Fernandes (Maceira / Leiria). E à direita  na ponta, o Joaquuim Mexia Alves.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real > À saída da igreja, dois camaradas da 3ª CART /BART 6520/72 (Fulacunda, 1072/74), o Jorge Pinto (ao meio, de camisola vermelha, entre o Joaquim Jorge e o Eduardo Jorge Ferreira), e o José Louro (de perfil, no lado direito) que deveriam ter trazer com eles o António Rebelo,  também da mesma companhia, e que infelizmente foi vítima de morte súbita, no passado dia 10 do corrente.

Fotos: © Manuel Resende  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real >  Aspeto geral da assistência (1).


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Missa na igreja paroquial de Monte Real >  Aspeto geral da assistência (2).

Fotos: © Rui Silva  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


1. Um dos momentos de grande recolhimento, espiritualidade e solidariedade,  neste  nosso encontro, foi a missa celebrada às 11h30 na igreja paroquial de Monte Real,  pelo jovem vigário paroquial  da Marinha Grande, padre Patrício Oliveira, de 29 anos, e amigo do Joaquim Mexia Alves, da comissão organizadora, e que é também seu paroquiano.

Devemos ao padre Patrício e ao Joaquim o privilégio deste momento. O ato religioso teve a assistência de numerosos camaradas nossos e seus acompanhantes. Publica-se a seguir dois textos, da autoria do Joaquim Mexia Alves, e que foram lidos no decorrer da celebração litúrgica.


INTENÇÕES DA MISSA

Esta Eucaristia é celebrada pelas seguintes intenções:

(i)  por todos aqueles nossos camaradas de armas que faleceram na guerra do Ultramar:

(ii) por todos aqueles que lutaram contra nós e faleceram na mesma guerra;

(iii) por todos os civis inocentes que morreram nessa guerra; 

(iv) por todos aqueles nossos camaradas de armas que faleceram já depois do seu regresso a casa; 

(v) por todos aqueles que de alguma maneira ainda sofrem por causa da guerra; 

(vi) pelas nossas famílias, e as famílias de todos aqueles que combateram na guerra do Ultramar;

(vii) muito especialmente ainda pelo nosso camarigo António Rebelo e sua família, que, estando inscrito para este nosso encontro, faleceu repentinamente no dia 10 de Junho.


ACÇÃO DE GRAÇAS

Senhor, somos ex-combatentes que serviram a sua Pátria.

O que fizemos de bem e o que fizemos de mal, colocamos nas tuas mãos, agradecendo-te pelo bem e pedindo-te perdão pelo mal.

Nós Te damos graças, Senhor, pelo dom da amizade, que colocas em todos nós, irmanados num mesmo sentir, porque vivemos as mesmas experiências.

Nós Te damos graças, Senhor, pelas famílias que nos deste e nos sabem acolher no dia a dia, às vezes com dificuldades, por causa das marcas de guerra que alguns de nós ainda vivem.

Nós Te damos graças, Senhor, porque ao fazermos a guerra percebemos bem melhor a importância do dom da paz.

Nós Te damos graças, Senhor, porque hoje “tocaste a reunir” e nós aqui estamos, reunidos à tua volta, pedindo-te que nos ensines e ajudes a sermos sempre testemunhas e proclamadores da paz, para que os homens se amem, como Tu, Senhor, nos amas.

Amen.

2. Comentário de L.G.:

Joaquim: tive pena de não ter conhecido pessoalmente o teu jovem vigário paroquial, mas fica aqui, no blogue, uma palavra de apreço pela sua preciosa colaboração neste evento, em que celebrámos também 10 anos de camarigagem (como tu gostas de dizer, usando um palavra nova, da tua autoria, e que nós já grafámos no léxico da Tabanca Grande).  Dá-lhe um alfabravo nosso, dos grandes, e diz-que eu, pessoalmente,  lhe desejo as melhores venturas para a sua carreira sacerdotal e para sua missão espiritual.

Obrigado também pela  oração que me mandaste, que, não tendo estado presente na missa,  li agora com emoção e que te agradeço do fundo do coração. Obrigado também em nome dos camaradas do António Rebelo, da 3ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), presentes no nosso encontro e na missa, o Jorge Pinto e o José Miguel Louro. Obrigado em nome de todos nós, grã-tabanqueiros, membros da Tabanca Grande. 
________________

Nota do editor:

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5797: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (11): A recolha de fundos vai continuar... Saldo: 430 € (Manuel Reis / Luís Graça)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > A Capela,  da CART 1613 (1967/68), renasceu das cinzas, graças ao empenho da população local, da AD do Pepito e do Domingos Fonseca, e da boa vontade de alguns velhos tugas. Data da sua inauguração oficial: 20 de Janeiro de 2010. Guileje volta a ser um local de paz, de fé, de solidariedade, de (re)encontro, de ecumenismo, de esperança... E espero que possamos lá voltar a rezar um dia... Talvez no próximo ano, por que não ?!

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Direitos reservados.

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > 2 de Março de 2008 > Três homens com um ar de felicidade... Ei-los aqui fotografados com um tesouro, a estatueta, em metal, da santa protectora dos Gringos de Guileje, encontrada nas escavações arqueológicas do antigo aquartelamento de Guileje...

Da esquerda para a direita os valorosos representantes da penúltima unidade de quadrícula de Guileje, a CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972): José Carioca, Abílio Delgado e Sérgio Sousa... Entraram para a nossa Tabanca Grande em Maio de 2008 (*)... O Zé Carioca é actor de teatro (amador) e  vive em Cascais, tendo mostrado interesse em projectos de cooperação com a Guiné-Bissau. O Abílio Delgado era, na altura, o mais jovem capitão miliciano no TO da Guiné. Vive na Ericeira. De nenhum deles (e muito menos ainda do Sérgio Sousa) tenho tido notícias... Outro Gringo de Guileje que me vem à cabeça é o Amaro Samúdio,  que conheci em Matosinhos: foi o primeiro Gringo a chegar até nós. Também não tenho sabido dele nos últimos tempos. Foi graças ao Samúdio que os Gringos se Guileje se reuniram pela primeira vez (em 2008). A maior parte do pessoal da companhia era de origem açoriana.

 Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (1971/77) > Oráculo, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres... Na imagem, o Amaro Munhoz Samúdio, ex-1º cabo enfermeiro, está a pegar ao colo um bébé chimpazé que ele comprou a um caçador local por 500 pesos...Na foto pode ler-se ainda a oração em verso: "Santo Cristo dos Milagres / Nesta capelinha oramos / Para sempre sorte dares / Aos Gringos Açorianos".

Esta lápide assim como a estatueta e diversos outros objectos de uso corrente, foram encontrados por ocasião das escavações arqueológicas... Associado aos trabalhos de  capela e ao núcleo museológico de Guileje, fica também doravante o nome do Domingos Fonseca, engenheiro técnico agrícola, quadro da AD, e o grande arqueólogo de Guileje. Peças como esta estatueta da Nossa Senhora  forem encontradas por ele.

Segundo amável informação do Samúdio, o monumento foi contruido pelos Gringos e inaugurado pelo então Ministro da Defesa Nacional, general Sá Rebelo e também pelo então governador, general Spínola, em 12 de Junho de 1972.

Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Março de 2006 >  Um elemento da equipa de detecção e  levantamento de minas e outros engenhos explosivos


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Novembro de 2004 > Aspecto da antiga porta de armas do quartel...



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Dezembro de 2005 > Foto de elementos da população local  envolvida na desmatação do antigo aquartelamento e suas imediações


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Novembro de 2005  > Sinalética  usada para identificar as diferentes instalações do antigo aquartelamento




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Janeiro de 2006  > Restos da capela, incluindo a lápide original, mandada fazer pelo Zé Neto...

 Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Direitos reservados.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Restos do oráculo ao Santo Cristo dos Milagres

 Foto: © Xico Allen (2005). Direitos reservados.


1. O Manuel Reis, nosso prezado camarada, professor do ensino secundário, reformado, ex-Alf Mil da CCAV 8350, a última unidade de quadrícula de Guileje  (1972/73), enviou-nos a lista  dos donativos recolhidos até agora, no âmbito da campanha do nosso blogue a favor da reconstrução e manutenção da capela de Guileje. O dinheiro, que tem sido depositado numa conta da Caixa Geral de Depósitos, Agência de Ílhavo, em nome do Manuel Reis, será oportunamente transferido para a AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, a ONG que liderou este projecto.


O dinheiro até recolhido foi de € 430 (quatrocentos e trinta euros), o equivalente a pouco mais do que um euro por cada membro da nossa Tabanca Grande (4 centenas). Mas até aqui as estatísticas (neste caso a média aritmética) são enganadores: esssas contribuições são apenas de 7 camaradas nossos, que passam a figurar na lista do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje... São eles o Amílcar Ventura, o António Graça de Abreu , o Coutinho e Lima, o Hélder de Sousa, o João Seabra e o Luís Graça, que se vêm juntar aos os primeiros registados, Patrício Ribeiro, António Cunha, Manuel Reis e António Camilo (**)

A estes dez temos que juntar, por um questão de elementar justiça,  os dois elementos da AD que de alma e coração levaram este projecto até ao fim, o Pepito e o Domingos Fonseca, também eles membros da nossa Tabanca Grande.  E, naturalmente a Júlia Neto, viúva do Zé Neto, o pai espiritual e material da capela, contruída no tempo da CART 1613 (1967/68) e depois completamente destruída, com a retirada de Guileje em 22 de Maio de 1973... Há sempre o risco de, involuntariamente, esquecer alguém... Fazemos questão de mencionar aqui o nome do Paulo Santiago por intermédio de quem se conseguiu arranjar o crucifixo, em madeira... Também ele pode e deve ostentar o título de Amigo da Capela de Guileje...



Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Guileje > 1 de Março de 2008 > Visita ao sul, no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março ded 2008) > Restos de granadas de obus 14, recuperadas durante as escavações do antigo aquartelamento. Hoje Guileje é um local de paz e de (re)encontro.

 Foto: ©  Luís Graça (2008). Direitos reservados.


A campanha de angariação de fundos vai-se manter, apesar da capela já ter sido recentemente inaugurada (***), de modo a permitir ainda,  a eventuais retardatários,  dar a sua (e aumentar a nossa) contribuição (material e simbólica) para esta causa.

Guileje é hoje um ponto de paz e de (re)encontro de homens que no passado se bateram, de armas na mão, sob bandeiras diferentes. A própria ideia da constituição de um  Grupo de Amigos da Capela de Guileje tem, por certo,  um certo simbolismo.

Pagamento por multibanco: NIB: 003503720000835570006

Pagamento por transferência Bancária: Conta nº: 0372008355700 da Caixa Geral de Depósitos de Ílhavo, em nome de Manuel Augusto Ferreira Reis.

A todos os nossos camaradas, contribuintes (em géneros e/ou em espécie), independentemente da sua ligação efectiva (e afectiva) a  Guileje, o nosso muito obrigado. Manuel Reis & Luís Graça.

_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2815: Tabanca Grande (67): Os Gringos de Guileje: Abílio Delgado, Zé Carioca e Sérgio Sousa (CCAÇ 3477, Nov 1971/ Dez 1972)


(**) Vd. postes de:

7 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5603: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (10): Recolha de fundos para ajudar a reconstrução (Manuel Reis / Luís Graça)

30 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5567: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (9): Reconstrução, quase pronta, da capelinha de Guileje, terra de fé e de coragem, nas palavras do saudoso Zé Neto (CART 1613, 1967/68)

16 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4534: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (2): António Camilo oferece 300 sacos de cimento e 150 litros de tinta

6 de Junho de 2009 > Guiné 64/74 - P4469: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (1): Já temos três: Patrício Ribeiro, António Cunha e Manuel Reis

(***) Vd. poste de 29 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5726: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (10): A inauguração da capela, em 20 de Janeiro, na presença do embaixador de Portugal (Pepito)

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2718: Fórum Guileje (11): Relembrando a velha Guileje do Zé Neto e do Eurico Corvacho, onde perdi 2 soldados em combate (Idálio Reis)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > A capela do aquartelamento, assinalando-se, a vermelho, a lápide que estava afixada na parede exterior, e que vinha lembrar que Guileje era uma terra de fé e de coragem (1). Fotos do saudoso Cap Ref José Neto (1929-2007).

Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007) / © AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Antigo aquartelamento de Guileje > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > 1 de Março de 2008 > O que resta da capela, erigida pelos homens da CART 1613 (Junho de 1967/Maio de 1968), a companhia do Zé Neto e do Eurico Corvacho, dois nomes aqui justamente evocados pelo Idálio Reis. A lápide que foi encontrada, em 2005, sob os escombros do antigo aquartelamento, pertencia à capelinha. Nela havia/havia os seguintes dizeres, gravados:

"A Ti, Deus Único E Senhor / Da Terra, Oferecemos Estas / Gotas De Suor Que Nos / Sobrararam da Luta Pela / Tua Palavra Eterna. /Soldados da C.A.R.T. 1613".

Sabemos, pelo depoimento do nosso saudoso camarada Zé Neto, que a placa da Capela foi feita em cimento forte, que a dedicatória era da sua autoria e que a inscrição em baixo-relevo foi obra do Furriel Miliciano de Transmissões Maurício Mota de Almeida, natural de Fornos de Algodres, radicado há muito nos EUA (Veio de propósito a Portugal para estar presente no Almoço/Convívio da CART 1613 que teve lugar em Braga no dia 3 de Junho de 2005) (1).


1. Mensagem do Idálio Reis, com data de 15 de Março:

Meus caros Luís, Vinhal e Virgínio.

Aquando do Simpósio [Internacional de Guiledje] e da passagem [dos participantes ] por Ponte Balana e Gandembel, julguei que a efeméride merecia um singelo 'escrito´da minha parte. Porque o mesmo não foi publicado, considero que será melhor fazê-lo reenviar.

Um abraço do Idálio Reis


Assunto - Simpósio de Guileje

Um singelo e gratificante contributo para os que se lembraram da minha pessoa e dos que comigo partilharam aqueles intensos dias de Gandembel/Ponte Balana.
Um bem-haja do Idálio Reis.



Fórum Guileje (2): Vou dispor de um cantinho em Guileje, para que um antigo combatente, no calcorreio dos seus chãos de outrora, escute e olhe para relembrar. Das crónicas do Luís Graça e de depoimentos pessoais de alguns companheiros, fico imensamente feliz ao constatar que o Simpósio de Guiledje mostrou ser, reconhecidamente, um marco importante na história soberana do povo irmão da jovem Guiné-Bissau.

Em zona onde a guerra travada pelos 2 contendores, arrostada em constante e acirrada premência, quanto cruel e pungente, que os testemunhos dos que nela se viram coagidos a participar não enganam, sentir forças-vivas de um pobre país, passadas mais de três décadas, a organizarem um ponto de encontro de sublime transcendência, é nobre feito por quem o ousa suplantar, dadas as características do seu reconhecimento e que só a singularidade patenteia.

Não se julgue, contudo, que o contexto desta realização não tenha um cunho de cariz político. Procurou-se que o acontecimento extravasasse as fronteiras, e eis que felicito veementemente o editor deste Blogue, ao estar desde sempre mancomunado com a sua organização.

Mas é insofismável que a Guiné-Bissau dá mostras que deseja estar com os seus combatentes, mesmo que nós tenhamos de reconhecer a sua negra sombra pelo estigma do morticínio dos que serviram o exército colonial a seguir à independência.

Quem viveu naquelas paragens do Sul do País, tem de reconhecer que só uma força militar forte, organizada e disciplinada, consiga gizar uma estratégia de ímpar sucesso, comandado por um guerrilheiro de estirpe, mas sem nome, pois que os sucessos obtidos foram partilhados por um povo em armas, através do seu braço armado: o PAIGC. E esta frente militar, teve efectivamente um líder de enorme estatura, Amílcar Cabral, com a sua figura de relevo a prevalecer no Simpósio.

Ao invés, todos somos capazes de reconhecer que os nossos estados-maiores sitiados em Bissau procuraram escamotear uma grande fracção dos factos militares ocorridos no CTIG.

No 1º ano da comissão, em 1968, a minha Companhia [ a CCAÇ 2317,] esteve muito certamente num dos piores locais da Guiné. Todavia, quem for ao Arquivo Histórico Militar e compulsar o seu historial, peremptoriamente nega tal asseveração.

A guerra que travámos, está repleta de desastres fatídicos que ineptos ou obstinados não quiseram ou souberam antever. Muitos e muitos, fomos servos numa guerra impiedosa, porque dependentes de alguns suseranos sem valia.

Mesmo nesta era pós-25 de Abril, ingloriamente sentimo-nos cada vez mais frustrados, pois o nosso protesto já esmorece, parecendo que o bafiento “a bem da Nação” ficou a perdurar. A estrutura militar que prevaleceu, pareceu arredar os melhores, e em pouco se alterou. Honras às poucas excepções que ainda vigoram.

Mas deixem-me regressar atrás 40 anos precisos, à velha Guileje do Zé Neto e do Eurico Corvacho, por onde passei alguns dias e impiedosamente perdi 2 soldados em combate. Hoje, na pujante mata do Cantanhez, foi reabilitado um aldeamento indígena e do desenrolar da sua implementação não é esquecido o soldado do exército colonizador, a quem lhe é atribuído um dos seus cantinhos.

Sem vencedores ou vencidos, o povo guinéu abre os seus corações, para nos receber fraternalmente, em franco e são convívio, numa amplexo aberto e carinhoso. Há mesmo um só vitorioso: a vida em liberdade.

Era pois previsível que o Simpósio de Guileje iria ter um retumbante sucesso. Lamentavelmente, sinto um profundo vazio por não poder estar presente, tanto mais que um numeroso grupo de companheiros tiveram a possibilidade de percorrer as minhas pisadas de outrora.

A passagem para o outro lado do inebriante rio Balana foi entusiasmante, que julgo estar inserida quase no mesmo local que então atravessávamos. Os vestígios do destacamento de Ponte Balana vão-se transformando em poalha, porquanto a força da mãe-natureza assim o determinou.

E fez-se uma primeira pausa, e o Luís fez uma douta descrição, que o meu SPM 4738 registou com enlevo. Porém, a fotografia das lavadeiras no Balana causou-me uma incontida estupefacção, e absorto fitei-a e um há um comovido encantamento que trespassa.

Luís, agora o remanso das águas rumorejantes do Balana, com a presença resplandecente daquelas mulheres que de todo não existiam, tornar-se-á mais refulgente. Esta suavidade cândida e doce, é o maior sinal da conciliação, o sinal de paz atingido no seu zénite.

Gandembel, em ruínas, também lá está, já sem o eco das canhoadas ou das morteiradas, que a letra do hino superiormente recriado pelos Furkuntunda tinha traduzido em alegria africana.

Mas na minha (nossa) taciturna Gandembel, fustigada em tão pouco tempo, cansou e parece adormecida num sono lânguido e profundo. Talvez haja ainda por lá, ecos abafados de passos incertos a vaguear…

José Teixeira, que a planta que lá deixaste, cresça, se revigore e perdure. O teu generoso gesto e a bela e brilhante mensagem que proferiste, tocaram-me profundamente (sou um piegas, sabes!), e prometo-te que vai ser difundida por aquela plêiade de homens que já tiveste o ensejo de conhecer.

Mas sobre Gandembel, tenho um pedido feito ao Pepito, que gostaria de ver concretizado: o de juntar ao acervo do Núcleo Museológico de Guileje, um dos pilares metálicos das casernas-abrigo e a lápide de betão com o emblema da Companhia. Seria um parco contributo do espólio da CCaç 2317, como forma de perpetuar a memória de todos os que por aquele lugar, batalhando, tombaram para sempre. De ambas as partes beligerantes, foram muitos seguramente, mais do que tomámos conhecimento.


E ao terminar, apenas um breve comentário.

Poderá haver divergências quanto ao papel que coube à Tabanca Grande a este Simpósio. Julgo que até é positivo haver uma ou outra dissonância, sinal maior da enorme abrangência da nossa Tertúlia.

No cômputo geral de toda a guerra, aérea, terrestre e naval, fomos sempre demasiado poucos e com exíguos meios à disposição, mesmo com o território a apresentar frentes de batalha com algumas diferenciações.

Todos desempenhámos uma acção que nos enobrece, com os múltiplos riscos que lhe eram obviamente inerentes. Mas a odisseia de Guileje, e o Simpósio veio demonstrar isso, conduz-nos mais uma vez à mesma triste conclusão: fomos vítimas de uma guerra escusada.

A toda a Tertúlia, mas muito em especial aos que participaram no Simpósio, um caloroso abraço do Idálio Reis.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

14 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXVII: Guileje, terra de fé e de coragem (Luís Graça)

3 de Fevereiro de 2006> Guiné 63/74 - CDXCVII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto)(5): ecumenismo e festa do fanado


(2) Vd. últimpo poste desta série: 25 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2679: Fórum Guileje (10): Não ao endeusamento do PAIGC e ao apoucamento das Forças Armadas Portugueses (Joaquim Mexia Alves)

domingo, 24 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1873: Reflexão sobre Fátima, o drama da guerra e o conflito com a Fé que nos inculcaram (Zé Teixeira)

Mensagem do nosso camarada Zé Teixeira, de 7 de Maio último:

Comandante e comandante adjunto para quem faço votos de bom, profícuo e agradável trabalho: Saúde, paz e felicidade!

Junto um texto sobre a Fé dos nossos militares e familiares e a forma como a punham em prática durante a guerra.

Se entendereis que merece ser publicada . . . o prazer será meu.

Fraternal abraço
J.Teixeira
Esquilo Sorridente


O drama da Guerra e o conflito com a Fé que nos inculcaram


Ontem, dia seis de Maio, ao passar na IC1, perto de S. João da Madeira, tive oportunidade de apreciar um espectáculo deslumbrante. Uma procissão de gente, talvez milhares, que na berma da estrada caminhavam em peregrinação, com destino a Fátima.

Gente nova, menos nova, velhos, mulheres e homens, com bom calçado, de chanatos ou descalços. Em grupos organizados, com carros de apoio, ou colados. Gente de Fé, caminhava a passo firme e apressado para chegarem a tempo no dia 12 e participarem nas cerimónias religiosas. Alguns em silêncio (promessa de não falar), outros fazendo alguns dias a pão e água, outros rezando e cantando. Ainda outros em amena cavaqueira com algum conhecido na jornada. Movidos por razões de Fé, muitos em cumprimento de promessas que, não podendo aceitar, pois com Deus não se negoceia, não contesto, pois sei que perante as dificuldades, os problemas, e sofrimento, as reacções que a fé imprime a cada um, só ele as sente. Daí o meu o profundo respeito.

Ao apreciar este profundo movimento de Fé, a minha mente saltou para os anos 60/70.

Para a minha avó que em 1965, com 70 anos partiu no dia 2 de Maio, de uma aldeia, algures a 40 Km a norte do Porto, com o mesmo destino e os mesmos objectivos. Dar graças a Deus, pela intercessão da Virgem Maria, pelo facto do meu irmão mais velho, ter regressado da tropa sem ter ido à guerra (expressão que ela usava). Da sua promessa de repetir a façanha, se eu tivesse a mesma sorte e ou pelo menos regressasse são e salvo. Da sua atitude de quando eu parti para a tropa, ir, ao Domingo assistir a duas missas: uma por ela e a outra por mim, pois segundo afirmava, eu era um bom malandreco e facilmente me iria esquecer do meu compromisso de cristão. Passou a ser para mim o meu anjo da guarda o que muito a envaidecia.

Da sua morte em 1968, quando eu pensava estar quase safo da ida ao ultramar, pois a escola de enfermeiros da incorporação seguinte estava a sair. Desapareceu o meu anjo da guarda e oito dias depois estava mobilizado para a Guiné.

A divagação dolorosa continuou a perseguir-me.

Quantas avós, mães, pais, esposas, namoradas, prometeram trilhar estes caminhos, na esperança de que Deus por intermédio da Virgem os (as) ia atender. Quantas avançaram até Fátima ou outro Santuário, dos muitos espalhados por este País, para mais perto de Deus, aí fazerem as suas orações de acção de graças e os seus pedidos e promessas.

Quando parti para a Guiné, ainda no Niassa, fiquei impressionado ao ver muitos companheiros da viagem com o terço pendurado ao pescoço, qual amuleto ou talismã protector, ou então a medalhinha a quem se dava devotados beijos.

Ao chegar à Guiné, mais propriamente a Ingoré, apreciei e comecei a acompanhar um grupo razoável de velhinhos que se reuniam à noite no refeitório para rezarem o Terço. Ao qual se foram juntando outros elementos da minha Companhia.

A Fé que me foi transmitida gerava um agudo conflito dentro de mim, pois fora sempre um desafio à construção da paz entre os homens e eu aceitara, como o cordeiro que vai para o matadouro, partir e viver uma guerra que em consciência rejeitava, mas que o dever para com a Pátria (tal como me tinha sido inculcado, quer na escola, quer na família) me obrigava a fazer a guerra.

No meu Diário escrevi um dia:

...Senti mais uma vez a presença do Senhor em mim quando ia na coluna. Muito calmo, com atenção a todos os lados, sempre nos rodados das viaturas para não ser atingido por uma 'bailarina'.

As Vossas orações valem imenso. Quando sinto as balas e granadas passarem por alto pergunto a mim mesmo se não são as vossas orações.

Odeio.. Odeio os homens que se guerreiam e matam. No entanto eu também sou um deles...

O Inimigo também tem namorada, mulher, filhos... também se agarra aos seus santos protectores...

Pergunto-me se quantas vezes ao sair para o mato as portas das Tabancas se abrem e surgem caras, um sorriso, um braço no ar ... um desejo de 'bom biaje', se não serão essas mesmas caras com o ódio estampado que nos esperam no meio da bolanha prontos a matar quem não quer fazer guerra, mas foi obrigado pelo sentido de Pátria em que foi educado ?

Toda a cara preta me parece um IN. Odeio o IN porque é traiçoeiro, porque mata.

O Evangelho foi feito só para brancos ? Como poderei amar os homens onde só existe o ódio !


Via os nossos soldados, com o amuleto do terço, que não rezavam, pois muitos deles eram agnósticos ou as obras que a verdadeira fé exige, era algo que não lhes dizia nada, quando saíam para o mato, beijarem a medalhinha que traziam ao pescoço, ou a cruz do terço, benzerem-se toscamente e darem um beijinho na mão, tal como hoje os jogadores de futebol continuam a fazer e cujo sentido religioso continua a ser para mim um enigma, pois não vem nos cânones nem nos catecismos.

Em Fátima a hierarquia religiosa alimentava a oração e o sacrifício, pela paz no Mundo, em especial na nossa Pátria, fechando-se teimosamente os ouvidos ao troar das metralhadoras, ao ribombar das minas e armadilhas que ambos os contendores escondiam traiçoeiramente e das bombas que os canhões faziam vomitar das suas bocas de fogo, pela acção malévola dos homens e dos aviões que destruíam aldeias completas produções agrícolas e matas, para que o inimigo na sua própria terra morresse se não da guerra que lhe fazíamos, pela fome.

Da nossa banda eram jovens, a flor da nossa pátria que tombava. Os naturais , donos da sua terra, viam quantas vezes, as mulheres, as crianças, os velhos, tombarem debaixo do fogo de uma e outra frente ou devido à fome e miséria a que eram votados, pela acção militar dos portugueses.

E em Fátima continuava-se a rezar pela paz. . . .

O próprio Papa Paulo VI, veio a Fátima em 1965, rezar pela Paz no Mundo. Ele que pouco antes tinha recebido os três líderes das frentes de combate, que lutavam da outra banda, pela libertação, dos seus povos. Sinal bem claro de que o mundo cristão estava consciente e reconhecia a existência de uma guerra em que Portugal tentava pela força calar a voz dos povos que em África entendiam que a sua felicidade passava pela autodeterminação e independência.

Os povos que ousavam fazer-nos frente também tinham a “sua Fé”, os seus Santos a quem se agarravam nos momentos difíceis, os amuletos que lhes víamos à cintura. Também tinham avós, pais esposas, namoradas. Algumas, na frente de guerra, combatiam lado a lado, outras na retaguarda, sofriam como as nossas mães, os nossos familiares.

Pensei no Kebá, a quem tive o enorme e gratificante prazer de reencontrar em 2005. Nas duas mulheres que tinha e que fugiram com os filhos ou foram apanhadas pelo IN. O seu esforço para as recuperar, entranhando-se na mata entre dois fogos para as localizar. O desgosto por elas não aceitarem segui-lo no seu regresso a Empada. A sua recusa em usar arma, para não matar, como ele dizia minha fidjo.

Pensei em quantos de nós não regressaram. Tantos em que o amuleto do terço, as suas convictas orações, a fé e as orações dos seus familiares, não bastaram. Uma bala traiçoeira, um estilhaço de uma mina ou de uma granada fez o seu sangue correr e regar aquela terra vermelha, levando-lhes a vida, ou marcando-os pelo sofrimento e pela invalidez.

Pensei nos que regressámos. Tantos convictos que foram as suas orações e as orações dos seus familiares. A fé forte que os animava e faziam dela razão da sua luta para sobreviver. . . matando, se necessário.

Quantos de nós aceitaram o desafio que a Pátria lhes impôs, em luta com a sua própria consciência. Quem não sentia isso mesmo, nas expressões e orientações dos furriéis e oficiais milicianos e mesmo em alguns dos que conheci pertencentes ao Q.P. quando estavam a dar as suas ordens, na forma como procuravam proteger o seu pessoal e furtar-se ao contacto com o IN.

Conheço outros e conto-me entre eles que aceitando ir para a frente de combate, tomaram por opção não fazer fogo, não dar um tiro, mesmo especialistas da G3 (atiradores).

E . . . com este desabafo, crie mais uma frente de conversa, que espero tenha continuidade.

Ressalvo que não é de modo algum minha intenção provocar ou ferir susceptibilidades. Quer em questões de ordem religiosa, quer de ordem patriótica. É apenas o resultado de uma reflexão pessoal que me pareceu merecer ser posta em comum, nesta altura que Fátima- altar do Mundo, se vai encher de novo para orar pela paz no Mundo e em especial na nossa Pátria.

Zé Teixeira