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terça-feira, 7 de março de 2023

Guiné 61/74 - 24124: Memórias cruzadas: A base (logística) de Sinchã Djassi / Hermancono, na fronteira com o Senegal (contributos de Carlos Silva, Leopoldo Amado e A. Marques Lopes)


Guiné > Região do Oio > Carta de Jumbembem (1953) / Escala 1/50 mil >  Posição relativa de Jumbembem e do "corredor de Lamel" (que partindo da estrada Farim-Jumbembem, acompanhava o curso do rio Lamel, afluente do rio Jumbembem, passando por Fantambã e Farincó até à fronteira)... Já em território senegalês havia a base (logística) de  Sintchã Djassi (assim chamada talvez em homenagem a Abel Djassi, nome de guerra de Amílcar Cabral ?!...) ou Hermancono  (também grafada como Hermacono ou até Hermangono). Na fronteira com o Senegal, estão sinalizados os números dos marcos, de 105 a 112. Era por aqui que se localizava a base.

Infogravuras: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


Excerto de manuscrito do Carlos Silva, ex-fur mil Carlos Silva, ex-Fur Mil Arm Pes Inf, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem, 1969/71). (Trata-se de um livro, inédito, sobre a sua experiência de vida na Guiné, aonde, de resto, foi por diversas vezes, a seguir à independência, em trabalho e em turismo de saudade). O nosso camarada é advogado de profissão; tem um valioso espólio documental (fotográfico e literário sobre a Guiné); é um histórico da nossa Tabanca Grande, para a qual entrou em 20/7/2007.

O manuscrito do IN, encontrado no corredorde  Lamel, em 3/3/1970, vem reproduzido também na História da Unidade, BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71), Cap II, pág. 20. Escrito em muito mau português, diz o seguinte (revisão / fixação de texto: LG):

Hermancono, 3-3-70

Oficiais, soldados e fantoches do exército colonial, estão a fazer muito ronco na estrada. Devem saber, e preparem-se,   [a base de] Canjambari já recebeu novo dirigente militar para vos 'tirar no abuso'.   Já estão muito atrevidos no caminho tanto de Bricama como de Sulucó. Temos que vos mostrar qual é o vosso lugar.

Ao nosso primeiro encontro todo o vosso comando tem de vir.

Assinado: FARP. Aviso ao Exército Colonial.




Excertos da História da Unidade - BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71), HU-Cap II -Pág. 20: 

(i) No dia 14 de março de 1970, pelas 8h30, forças da CCAÇ 2548 (Jumbembem, 1969/71) detetaram um acampamento IN a Oeste do marco fronteiriço nº 107. Lançado um golpe de mão, foram feridos 2 elementos IN, e capturado 1 LGFog e 2 granadas de RPG 2, entre outro material. O IN reagiu com armas automáticas e morteiro ligeiro, batendo a área do acampamento a partir da Repúbica do Senegal.

(ii) No dia seguinte, 15, forças da milícia de Cuntima, comandadas pelo cmdt da CCAÇ 2549, executaram uma patrulha de reconhecimento ao longo da fronteira até ao marco nº 105. Detetaram dois elementos IN, que perseguiram.

(iii) A 20 do mês, às 13h30, e durante a interdição do corredor de Lamel, forças da CCAÇ 2548 (Jumbembem) detetaram e perseguiram um grupo IN estimado em 80 elementos. que se deslocavam de Sul para Norte, a 400 metros da sudoeste da ponte. O IN não reagiu ao fogo das NT, e retirou para Norte. De Jumbembem form feitos 13 tiros de obus para a zona de retirada do IN. E, a seguir, a FAP, chamada a intervir, fez um ataque ao solo entre o rio Lamel e Fantambã. Feita uma  batida imediata, foram encontradas 10 granadas de RPG 2, entre outro material.

Infografias: Carlos Silva  / Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné (2023) 


1. O Carlos Silva teve a gentileza, no domingo passado, de me mandar cópia dos dois documentos que acima reproduzimos. Afinal, ele lembrava-se desta base (ou barraca), ou pelo menos do seu nome,Hermancono ou Hermacono. Ficaria no limite do subsetor de Jumbembem, mas já em território senegalês. Nos mails que trocámos, ele esclareceu:

(...) Luís, este nome   [Hermancono]  ficou-me na orelha, Consultei o meu livro e  História do Bat Caç 2879 e cá está ele.

Como referi participei na operação que fizemos à zona, mas não encontramos qualquer vestigio. Segue o panfleto que apanhamos em Lamel. (...)

(...) Eu andei por lá em fins de 1969, Mas quando fizemos a operação, não ouvi falar na base de Hermancono. Não está muito longe de Cumbamori. No meu livro dos Roncos de Farim  eu falo na 1° operação a Cumbamori em dezembro de 1967. (...)

(...) Durante toda a comissão nunca ouvi falar em tal base, apesar de ter ido lá. (...)

(...) As fotos do poste P24110 são de 1973, de certo os gajos deambulavam entre Cumbamori e Hermancono, esta designação não é guineense. (...)

Ao telefone, disse-me que já tinha andado  naquela estrada Ziguinchor-Dacar, duas vezes, quando foi à Guiné. Numa delas entrou por Cuntima, se não erro.

2. Pesquisando no nosso blogue, descobri que o toponónimo, Hermancono (*),  já sido citado mais do que uma vez: pelo historiador guineense, e nosso amigo, Leopoldo Amado (1960-2019), e pelo A. Marques Lopes, que reproduz   o Subintrep nº 32, de junho de 1971. Aqui vão alguns excertos:

(i) Leopoldo Amado, poste P 1566 (**)

(...) Com efeito, Cabral procurou a partir de 1971, estabelecer estruturas sociais de partido-Estado em Tigili/Iador/Sara/Zona Oeste (Biambi), Catió e Quintafine, enquanto que, por outro, se preocupava com as ameaças às áreas libertadas, traduzindo-se tal situação na polarização da sua actividade em torno da estrada Mansabá-Farim, na sua reacção ao reordenamento de Bissássema e na intenção de instalar forças no Unal, visando libertar corredores de infiltração que favorecessem os ataques aos centros urbanos. 

Assim, o PAIGC inicia, a partir desta altura, as acções contra Bissau e Bafatá, há muito anunciadas, num momento em que procede à desconcentração das unidades dos CE 199/A e 199/B, que se haviam deslocado para as áreas de Sano e Cumbamori (Senegal), dando por findo o esforço realizado na área de Barro-Bigene-Guidaje.

Nesta desconcentração, o CE 199/A regressou à área de Campada, enquanto o 199/B foi ocupar e reactivar a base de Hermancono, que voltou a constituir área fulcral na fronteira norte, praticamente abandona­da desde Fevereiro de 1971, aquando da sua transferência para Canjeno. 

Como consequência desta nova ocupação de Sinchã-Djassi, aumentou de forma considerável o trânsito pelo “corredor” do Lamel, que passou a ser o mais usado, seguindo-se-lhe, em menor grau de utilização, o de Canja. (...) (**)

(ii) A. Marques Lopes, poste P3258 (Subintrep nº 32, junho de 1971 - Itinerários de abastecimento do PAICG) (***)

(...) 

- Para a Frente de Morés/Nhacra

Para o Sector do Morés são utilizados os “corredores” de Lamel e Sitató, podendo também com menos frequência utilizar o de Sambuiá, segundo os itinerárioa que se referem:

“Corredor” de Lamel

Morés – estrada Mansabá/Farim sensivelmente em direcção a Biribão – Biribão – cambança do rio Canjambari nas proximidades da tabanca de Béssia – Bricama – cambança do rio Jumbembem – cambança do rio Lamel – estrada Jumbembem/Farim – Fambantã, seguindo depois um carreiro até um local nas proximidades da fronteira onde a coluna aguarda a chegada do material. 

Este vem da arrecadação existente na base de Sinchã Djassi e é transportado até ao referido local em viaturas, sendo ali entregue às colunas que o esperam. 

O regresso é feito pelo itinerário inverso, tendo o percurso (ida e volta) uma duração de cerca de seis dias. Os locais de pernoita pensa-se que serão em Biribão  [a sudeste do Olossato] e Fambantã.

O IN utiliza para movimentar as suas viaturas de reabastecimento às bases desta Frente a chamada “Estrada Grande”, isto é, a estrada que, a partir de Koundara, segue por Linnkiring – Velingará – Dabo – Kolda – Bantankoutou – Sonco – Sare Tening – Tanaf – Ierã – Samine – Ziguinchor. É pois a partir deste itinerário principal que saem ramificações que conduzem às diferentes bases. Assim,

- Para Faquina: Kolda – Bantankoutou – Sonco – Lenquerim – Faquina

As viaturas vão apenas até Bantankoutou. Os reabastecimentos a partir daqui são transportados por carregadores que em Lenquerim cambam a bolanha de canoa para passarem à base de Faquina.

- Para Sinchã Djassi (Hermancono): Kolda – Sare Tening – Hermacono

- Para a base de Cumbamori: 
Kolda – Tanaf – Ierã – Mankolecunda – Cumbamori

- Para Dungal: 
Kolda – Tanaf – Dungal

- Para Sano: Kolda – Samine – Sano

- Para Sikoum Bafatá: Kolda – Tanaf – Samine – Goudomp – Sekoum

O material e víveres vindos da República da. Guiné (Koundara) passa, como vimos,  em Dinnkiring e Kolda, locais onde é feito pelas autoridades da República do Senegal controle das viaturas e material transportado; a partir de Kolda o material é usualmente acompanhado por pessoal do Exército Senegalês, embora em escolta à distância.

No terminal da “Estrada Grande” encontra-se Zinguinchor, sede do comando da Inter-Região Norte, mas que no quadro da logística do PAIGC não parece desempanhar papel relevante dado que, segundo os elementos disponiveis, apenas apoiará os grupos sediados em M’Pack e Kassou.

O reabastecimento das Frentes do interior da Inter-Região Norte é feito por colunas de carregadores através dos “corredores” tradicionais de infiltração e suas variantes, sendo sempre feitos em movimentos vindos do interior, razão pela qual se descrevem estes “corredores” no sentido inverso àquele em que, até aqui, se tem descrito p fluxo dos reabastecimentos.

Estão detectados os seguintes:
  • “Corredor” de Sitató, com início em Faquina
  • “Corredor” de Sambuiá, com início em Cumbamori
  • “Corredor” de Lamel, com início em Sinchã Djassi [ / Hermancono]
  • “Corredor” de Sano, com início em Sano [pelo lado Este, entre Barro e Bigene - A.Marques Lopes]
  • “Corredor” de Canja, com início em Pirgui [pelo lado Oeste, entre Barro e Sedengal - A. Marques Lopes]
_______________

Notas do editor:

(*) Vd.  poste de 1 de março de  2023 > Guiné 61/74 - P24110: Memórias cruzadas: onde ficava a base (logística e operacional), do PAIGC, de Hermacono? Segundo informação recolhida por Cherno Baldé, junto de um antigo guerrilheiro, ficava na linha de fronteira com o Senegal, no vértice de um triângulo que tinha como base as tabancas (abandonadas) de Farincó e Fambantã, a oeste da estrada Farim-Jumbembem

(...) Comentários de Carlos Silva:

Conheci bem o nosso Sector de Farim e principalmente o nosso subsector de Jumbembem onde estivemos de 2/01/1970 a 16/6/1971.

Quando estivemos em Farim chegámos a fazer uma operação ao Dungal que fica na fronteira na qual eu não participei.

Fomos a Lambã duas  vezes, onde se dizia haver por lá uma base, andamos para diabo e nada.

Estivemos destacados no K3 / Saliqunhedim, e fizemos operações para esse lado para a bem conhecida Fátima onde tivemos contacto com IN e todas as Companhias por lá andaram.

Picagens para Lamel ponto de encontro de Farim/Jumbembem. Patrulhas e operações nessa área até ao rio Jumbembem/Farim/Cacheu.

Em Novembro de 1969, estava o meu 4º Pelotão destacado no K3 e a minha CCaç 2548 foi fazer nomadização para a fronteira norte Sitató/Cuntima onde tivemos o 1º morto a 28 de Novembro.

Palmilhamos todo o subsector de Farim enquanto ali permanecemos. A partir de Janeiro/69 até ao nosso regresso palmilhamos todo o nosso subsctor de Jumbembem que ia da picada Farim - Jumbembem - Cuntima até ao Senegal.

Fui diversas vezes emboscar para Farincó Mandiga, Fanbamtã,  Sare Soriã que fica a oeste de Jumbembem.

Muitas vezes para Sare Mancamã, Saman que fica a norte e fomos fazer operações para a fronteira para os Marcos 109 e 110,  Sare Sofi,  onde tivemos contactos com IN, bem como
fomos lá 2 ou 3 vezes buscar população.

Palmilhamos em picagens, patrulhas Jumbembem/Lamel; Jumbembem/Sare Tenem / Canjambari; Jumbembem/Norobanta, e em todos estes percursos levantámos muitas minas e tivémos azar com 2 camaradas, um ficou sem o pé no percurso Jumbembem/Sare Tenem / Canjambari e outro já a chegar ao termo da picagem Jumbembem/Norobanta.

Das operações à fronteira aos marcos, saímos de Jumbembem via Sare Mancamã, Samã e regressávamos via Galgega e apanhávamos as viaturas em Norabanta de regreeso a Jumbembem.

Tivémos contactos Fanbamtâ e Sare Soriâ bem como ao longo das picadas, principalmente Jumbembem/Lamel.

Nunca ouvi falar em Hermacono / Hermangono, mas perguntei aos meus amigos de Jumbembem que me disseram que existe no Senegal próximo da fronteira uma tabanca com esse nome, que não aparece nos mapas.

Como disse fomos a Lambã duas  vezes e não ouvi falar dessa tabanca. Para mim, Lambã ficou-me na memória porque da 2ª vez que lá fomos o meu camarada Furriel Enfermeiro já falecido, quando da retirada perdeu a pistola na bolanha e andamos a pisar o terreno até encontrá-la. (...)

(...) Cumbamori fica a uma dúzia de quilómetros a noroeste de Guidaje. Sambuiá (corredor de Sambuiá) fica a oeste de Bigene e a sul de Talicó, na picada de Farim - Bigene - Barro - Ingoré. Já fiz esta picada 2 vezes em férias, a primeira em 1997 ainda não havia a ponte de S Vicente,  e a 2ª vez já atravessei a ponte. (...)

(...) No nosso Sector de Farim enfrentávamos os Corredores de Lamel e Sitató. Em Lamel no meu tempo ficava lá emboscado e patrulhava a zona diariamente e alternadamente um pelotão de Farim; Nema ou Jumbembem.

Colunas e picagens desde 1970 até regressarmos, fazia-se colunas diárias para abastecimentos alimentares, transporte de cibes e materiais para a construção das tabancas.

De Jumbembem saíam 3 pelotões para picagens para sul, Lamel/Farim; para norte Norobanta/Cuntima e para este Sare Tenem / Canjambari.

Para além desta actividade das picagens, patrulhas, operações etc, ainda tivemos a tarefa de construir um aldeamento completo, demolição das tabancas velhas e construção de tabancas novas. (...)

sábado, 28 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5367: Controvérsias (57): Os Oficiais do Quadro Permanente Não Fugiram à Guerra (Carlos Silva, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, 1969/71)


1. Comentário do nosso amigo e camarada Carlos Silva ao Poste P5303 - O Direito ao bom nome (*) O Carlos Silva foi Fur Mil Inf, e pertenceu ao CCaç 2548/BCaç 2879 (Jumbembem, 1969/71) É autor da melhor pãgina, na Net sobre o sector de Farim >  Guiné 63/74, por Carlos Silva.

Amigos:

1 - Como decorre da intervenção do Sr Coronel Vasco Lourenço (*), [apesar de termos uma relação pessoal desde há 40 anos, nunca o tratei por tu e não é agora no âmbito do blogue que o vou fazer], a mesma prende-se essencialmente com a questão do livro Elites Miitares e a Guerra de África, de Manuel Godinho Rebocho [ Roma Ed., Lisboa, 2009, Colecção Guerra Colonial, nº 8]  .

Bem como, presumo, com alguns comentários ao Post 5275 em relação à sua pessoa.

2 – Tal como diz o LG em comentário a este Poste: Outra das nossas regras básicas de convívio, nesta caserna virtual, é que nenhum de nós faz (ou deve fazer) juízos de valor (e muito menos de intenção) sobre o comportamento (operacional e pessoal) dos seus camaradas da Guiné. Este blogue não foi criado para fazer ajustes com ninguém, nem sequer com a História.

Assim, deveria ser, mas tal não aconteceu e atente-se nos ditos comentários, o que desvirtua os princípios básicos estabelecidos no Blogue, o que é de lamentar. Pois todo cidadão tem o direito de liberdade de expressão, mas tal direito não constitui um direito absoluto, ao ponto de lesar os direitos ao bom nome, à dignidade e honra de uma pessoa. Uma coisa foi os bocados menos bons que passámos naqueles anos idos anos de 60 e outra coisa é ofender os invocados direitos.

3 – E, quer se aceite ao não, sejam ou não abrilistas, porque também têm o direito de o não ser, o Sr Cor Vasco Lourenço, o qual não necessita de apresentações, foi um dos que lutou, como é público e notório, para que hoje se possa ter a garantia do direito de liberdade de expressão, consagrado constitucionalmente.

4 - Dito isto, quanto ao outro aspecto que presumo esteja relacionado, não só, mas essencialmente com a polémica estabelecida com a tese de doutoramento sobre a A Formação das Elites Militares em Portugal de 1900 a 1975, em que "o autor sustenta que os oficiais do quadro permanente fugiram da guerra, a qual se aguentou devido aos oficiais milicianos e aos sargentos do quadro permanente”.]... (Vd. os dois micro-vídeos da apresentação do livro, pelo seu autor, em Lisboa, dia 17 do corrente](**)

Sobre isto já me pronunciei em comentário ao  Poste 5275 (***)

5 – Contudo, apesar de não ter ainda lido o livro [do Manuel Rebocho], e uma vez que sou referenciado na intervenção do Sr Cor Vasco Lourenço (*), sempre direi no que se refere à afirmação acima, com todo o devido respeito pelo Autor, mesmo que a citada afirmação esteja fora do contexto dum estudo global do livro/tese/livro, como o Autor mencionou no dia da sua apresentação, estou em total desarcordo com ele, porquanto,

6 – Tive a honra de ser comandado por um ilustre Capitão do QP, originário da Academia Militar, 1º classificado do seu curso. Cor Luís Fernando da Fonseca Sobral, um jovem, tal como nós, talvez mais 2 anos, que tinha a seu cargo o Comando da Companhia e que em termos operacionais era dos primeiros a encabeçar, quer a Companhia, quer a nível de grupo de combate por ele criado, atacar o IN na sua toca, ir ao encontro do IN. Daí, a nossa CCaç 2548 ser a única Unidade em toda a História da guerra da Guiné, que não sofreu durante a sua comissão qualquer ataque ao Aquartelamento do Subsector de Jumbembem.

7 - Assim aconteceu com a CCaç 2549, Comandada pelo Sr Cor Vasco Lourenço, então ex-Capitão, que sempre acompanhara os seus homens, aliás, as nossas Unidades chegaram a operar em conjunto.

8 – Também não posso deixar de recordar e invocar aqui o excelente Comandante de Batalhão, hoje Maj Gen Agostinho Ferreira, então Ten-Coronel, que connosco alinhava para o “mato”, e como se costuma dizer: era um homem com os T… no sítio.

9 – Donde, este meu testemunho pessoal, porque com eles calcorreei as terras “o mato” do Sector de Farim, é a prova, provada,  que estes Oficiais do QP originários da Escola do Exército e da Academia, não fugiram à guerra tal, como afirma o Autor,  Manuel Rebocho


10 – Aliás, os factos e feitos do nosso glorioso BCaç 2879, podem ser analisados em parte neste Bolgue, quer no meu site: http://www.carlosilva-guine.com/

11 – Quando o nosso Camarada Manuel Rebocho, pisou terras da Guiné, já nós tínhamos deixado lá bem marcada a nossa posição, além de várias baixas provocadas ao IN, fizeram-se capturas relevantes de material, incluindo na participação do maior “Ronco” da História da Guerra Colonial e das Guerras da África Ocidental, que foram só 24 toneladas de material, em que também participaram os nossos camaradas pára-quedistas.

12 – Face ao exposto e ao que tenho escrito no Blogue, no meu Site e ao que tenho lido sobre a guerra na Guiné, que serviu de base para o estudo do nosso Camarada Manuel Rebocho, com todo o devido respeito, estou em total desacordo nesta sua análise.

OS NOSSOS OFICIAIS NÃO FUGIRAM À GUERRA

13 – Também já li o Documento do Sr Cor Morais da Silva que corrobora de forma brilhante o que atrás é afirmado, apesar de ter de confrontar ainda com a Tese relativamente a outros aspectos.

14 – Poderá haver e haverá com certeza outras questões subjacentes de ordem política, militar, social etc, que conduziram à diminuição de frequência de alunos na Academia Militar e consequentemente à diminuição do número de oficiais do QP, mas isso é outra questão que merece com certeza um estudo profundo.

E esta a minha a opinião que aqui deixo com um abraço amigo

Carlos Silva

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 20 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5303: O direito ao bom nome (1): Vasco Lourenço, ex-Cap Inf da CCAÇ 2549/BCAÇ 2879 (Cuntima e Farim, 1969/71)

(**) Vd. vídeos em You TUBE > Nhabijoes >

Elites Militares e a Guerra de África, de Manuel Godinho Rebocho (Parte II) (9' 57'')

Elites Militares e a Guerra de África, de Manuel Godinho Rebocho (Parte III) (3' 46'')

(***) Vd. poste de 15 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5275: Controvérsias (53): Polémica M. Rebocho / V.Lourenço: Por mor da verdade e respeito por TODOS os camaradas (A. Graça de Abreu)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2477: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (3) (Carlos Silva)

Continuamos a transcrever a História do BCaç 2879. Depois da formação do Batalhão e da viagem rumo à Guiné, publicamos hoje a chegada a Bissau, com as impressões que a cidade deixou ao nosso Camarada Carlos Silva, ex-Furr Mil do Batalhão e hoje um ilustre advogado, há mais de vinte anos a defender causas de ex-combatentes brancos e negros.
 vb
 __________ 

Bissau - Breve descrição Durante a estadia que foram de alguns dias na Amura e no Quartel dos Adidos, sediado nos arredores da cidade e a caminho do aeroporto de Bissalanca, sempre que surgia uma oportunidade e tínhamos possibilidade, apanhávamos boleia nas viaturas militares e lá íamos dar uma passeata até à baixa, onde éramos matraqueados com o célebre cantarolar de pelos mais velhos de “salta periquito, salta periquito, a velhice vai no metrópole”…

1969 – Vista aérea de Bissau e do ilhéu do Rei 

Podemos caracterizar Bissau como uma cidade bastante bonita, simpática e alegre, plantada à beira mar, praticamente plana, com declives pouco acentuados, aliás, na Guiné o relevo é pouco acentuado.

Dotada de boas avenidas e ruas transversais, bastante arborizada com mangueiros, cajueiros, a ponciana, espécie de acácia que embeleza a urbe na época da floração, etc.

É de salientar a avenida principal, Av. da República, que parte da zona ribeirinha do Cais do Pidjiguiti até à Praça do Império, onde se situa o Palácio do Governador da Província. A avenida marginal, lindíssima, repleta de palmeiras e coqueiros, passando pelo jardim junto à Fortaleza de S. José da Amura.

As ruas perpendiculares umas às outras, tem uma extensão enorme, como por exemplo a célebre Estrada de Sta. Luzia que parte da Fortaleza da Amura, e vai até onde ficava situado o Quartel-general. Nesta estrada situa-se o Hospital Civil Central.

As casas térreas, com a sua traça típica da época colonial e rodeadas de lindíssimos jardins, sempre bem tratados. Apenas se via um ou outro prédio de dois ou três andares, tal como aquele onde estavam instalados os serviços da TAP. Portanto, não destoavam do restante casario, enquadrando-se na cidade de forma harmoniosa. Praticamente, com o início, por trás do Palácio do Governador, estendia-se até ao Quartel-General o célebre bairro designado por Pilum ou Pilão.

A cidade estava dotada de boas infra-estruturas escolares, Liceu Honório Barreto, hospitalares, Hospital Central – após a independência da Guiné passou a designar-se por Hospital Simão Mendes em homenagem a um combatente responsável pela área da saúde do PAIGC e que morreu em combate (1) e Hospital Militar, considerado um dos melhores hospitais da África Ocidental, desportivas, tais como o Estádio do Sport e Benfica de Bissau e outras, o Hotel Portugal e o Grande Hotel, pensões etc.

Infelizmente devido à guerra, havia muito movimento na cidade, pelo facto de ali se concentrarem milhares de militares. Os que ali estavam colocados, cumprindo a sua comissão até ao fim e os que estavam por lá em trânsito, ora aquando da sua chegada à Guiné, ali teriam de aguardar por transporte a fim de serem colocados nas suas respectivas zonas de intervenção no interior, ora quando aguardavam pela hora do embarque de regresso para a Metrópole.

Havia muito movimento devido à circulação constante das viaturas militares, na cidade, e, entre esta e as Unidades instaladas na periferia, a caminho do aeroporto, assim como se via uma grande circulação de viaturas civis.

Existia muita actividade comercial e de restauração. Na baixa, as lojas estavam completamente cheias; Casa Gouveia, Ultramarina, Pinto, Taufik Saad, Mercado Central etc. Os militares compravam tudo e mais alguma coisa. Desde roncos (2) para levarem para as suas famílias, namoradas e amigos, passando pela compra de máquinas fotográficas, aparelhagem, gravadores Akai, gira-discos, ventoinhas Termozeta, whisky, tapetes com motivos orientais, carpetes, arcas de cânfora, enfim, um mundo de objectos.

Nos restaurantes e cervejarias verificava-se um ambiente de frenesim constante, essencialmente com os militares. Os clientes não deixavam os empregados de mesa descansarem um minuto. Ora pedindo mariscada com aquele molho picante, gindungo, que sabor! Ora pedindo ostras, quentinhas a sair do forno, que maravilha! Bem regadas com cerveja grande bazucas, fantas, coca-cola, whisky, gin, etc., pois o calor apertava e a sede também, pelo que, havia uma grande necessidade de refrescar as gargantas sequiosas.

Deste modo, quer durante o dia, quer à noite, a rapaziada passava o tempo de lazer na cervejaria Sol Mar ou na esplanada do Bento, mais conhecida pelo Q.G, onde se saboreava o cair violáceo da tarde sob as acácias, numa amena cavaqueira, bebendo umas bazucas, apreciando a passagem de modelos multicoloridos das guineenses e de algumas europeias, ou ainda na mais recente e mais moderna cervejaria O Pelicano (3), situado na marginal, mais cosmopolita, onde à noite se podia desfrutar duma esplêndida vista para o cais e para o Ilhéu do Rei, experimentando os sabores, quer da comida guineense, ostras ou camarão com gindungo, chabéu, moqueca, caldo de mancarra, acompanhado dumas imperiais, bebendo um bom whisky, um refrescante gin tónico ou misturas destas bebidas alcoólicas com coca-cola que ainda não era conhecida na Metrópole e onde também se podia comer um bom bife com ovo a cavalo.

Os mais atrevidos davam uma saltada até ao Pilão (Cupilão ou Pilum) ver o desfile da moda feminina, aproveitando para satisfazer os prazeres da carne, não descurando a segurança, mantendo sempre um camarada de sentinela, ou então iam até à boite, designada pomposamente por Chez Toi, onde paravam as meninas da Metrópole.

Bissau, 1969 > Praça do Império e Palácio do Governador

Bissau, 1969 > Avenida da República: Casa Gouveia (à esquerda); Palácio da Justiça (à direita)

Bissau, Praça do Império,1969 > Monumento ao Esforço da Raça.

Bissau, 1969 > Praça do Império: Monumento ao Esforço da Raça, Palácio ao fundo

Bissau, 1969 > Ponte Cais e Ihéu do Rei no Estuário do Rio Geba.

Bissau, 1969 > Av Marginal, com os seus belos coqueiros, Ponte Cais e Ihéu do Rei.

Bissau, 1969 > Av Marginal

Fotos: Carlos Silva

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Notas de Carlos Silva: (1) Cabral, Luís, Crónica da Libertação – Edição “ O Jornal “ 1984, pág.

(2) Roncos -Objectos de missanga, amuletos etc. A palavra poderia também significar êxitos ou triunfos.

(3) O postal pode ver-se in Loureiro, João – Livro de Postais Antigos da Guiné, postal 102, pág. 66

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Nota de vb: Fotos da responsabilidade de Carlos Silva e postal in Loureiro, João – Livro de Postais Antigos da Guiné, postal 102, pág. 66. vd artigos de 20 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2464: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (2) (Carlos Silva) 15 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim : O Batalhão dos Cobras (1) (Carlos Silva)

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2520: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (6) (Carlos Silva)

Continuação da História do BCaç 2879.
Texto e imagens de Carlos Silva.

24 toneladas de material apreendido em Faquina, na zona de Cuntima, junto à fronteira com o Senegal (I)

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Actividade no TO - Teatro de Operações do Sector 02> Farim e do CTIG

Agosto de 1969

Durante este mês desenvolveu-se treino operacional intenso, manteve-se a actividade anteriormente delineada no que diz respeito ao esforço de contra-penetração nos corredores de Lamel e Sitató e começaram a alargar-se as zonas a patrulhar, com vista a um conhecimento mais profundo e à detecção de locais mais rendosos para a actividade operacional.

Paralelamente começaram a ser estudados pelo Batalhão, o problema relacionado com o reordenamento das populações e sua organização em auto defesa.

Neste mês salientam-se os seguintes factos.

10-08-69, Domingo:

O 4º GComb/CCAÇ 2533 que interditava o corredor de Sitató, na zona de Farincó, junto ao carreiro, teve contacto com um grupo IN avaliado em cerca de 15 elementos.

O 2º Gr Comb comandado pelo Cmdt da Companhia, Cap Sidónio Ribeiro da Silva, saiu de imediato em socorro daquelas forças e no caminho tiveram também contacto com o IN, causando-lhe 1 morto e alguns feridos confirmados e capturado:

1 Esp Aut Kalashnikov;
1 Caçadeira de 2 canos;
Munições diversas e
Saco de roupa e documentação.

11-08-69, Segunda-feira

Às 14h 30m o 3º Gr Comb/CCAÇ 2533 saiu para interditar o corredor de Sitató, na região de Farincó. Ao chegar lá, fez uma batida na zona de contacto havido com o IN do dia anterior e quando se preparavam para voltar para trás, avistaram um grupo IN composto de 5 elementos.
O pessoal imediatamente se instalou e quando o IN atravessava a zona de morte abriram fogo. Desse encontro resultou 1 morto e 2 ou 3 feridos para o IN.

13-08-69, Quarta-feira

Eram 20h quando se desencadeou uma violenta flagelação do IN ao aquartelamento de Canjambari do lado Este e Oeste. Caíram várias morteiradas e roquetadas dentro do aquartelamento. O ataque foi repelido com o rebentamento de armadilhas comandadas à distâncias e instaladas fora do perímetro do arame farpado. As NT sofreram 1 ferido ligeiro e a danificação de diverso material.

O Ronco : 24 toneladas capturadas ao IN na região de Faquina Fula>Faquina Mandinga (povoações junto à fronteira com o Senegal)

13/14-08-1969 - Operação Talião em Faquina - Subsector de Cuntima.

Tomaram parte nesta operação:

O Cmdt do BCAÇ 2879
Forças pára-quedistas
CCAÇ 2529 (-) reforçada com 1 Gr Comb da CCAÇ 2549
CCAÇ 2547 (-)
CARt 2478
Gr Comb Os Roncos




Faquina Mandinga, localização onde se desenrolou a acção

Capturada elevada tonelagem de material entre o qual avultou:

Granadas de canhão sem recuo : 185
Granadas de morteiro 82 : 123
Granadas de morteiro 60 : 63
Metralhadoras ligeiras : 5
Espingardas automáticas : 1
Espingardas semi-automáticas : 10
Pistolas-metralhadoras : 23
Lança-Roquetes : 1
Granadas de mão defensivas : 140
Granadas de LGF : 26
Granadas anti-carro : 19
Minas anti-carro : 7
Minas anti-pessoal : 83
Munições de armas ligeiras : 149.244
Munições de armas pesadas : 2.550



Cuntima, 13-08-1969 – Pista – Foto cedida pelo ex Fur Carlos Fragoso, da CCAÇ 2549.
Armamento capturado ao IN em consequência da operação Talião podendo-se observar diferentes espécies de armas, tais como: Espingardas automáticas (AK-47, Kalash), semi-automáticas, metralhadoras ligeiras, pistolas metralhadoras, lança-roquetes, pistola-metralhadora Shpagin (PPSH ) (ou costureirinha)

Durante a manhã do dia 14, o IN flagelou as NT que sofreram 3 feridos metropolitanos, 4 feridos milícias e 2 feridos caçadores nativos.



Cuntima, 13-08-1969 – Descarregamento do material na Pista. Transporte do material capturado nas bolanhas de Faquina Fula e Mandiga. Curiosidade e satisfação dos militares que não participaram na operação. Fotos cedidas amavelmente pelo camarada ex- Furriel Fragoso da CCAÇ 2549.


Descarregamento do material capturado na Pista de Cuntima. O armamento capturado seguiu depois para Bissau no Dakota.

Sobre este ronco consta na História da CCAÇ 2529 (1) o seguinte:

"... No dia 12 de Agosto pelas 15 horas observámos movimentos de vários helicópteros em direcção a Faquina. Inicialmente não sabíamos o que se estava a passar, mas decorrido algum tempo chegavam a Cuntima carregados de material capturado ao IN. Informaram-nos que junto à bolanha de Faquina havia uma viatura IN carregada de material que forças pára-quedistas se incumbiram da sua segurança a fim de ser retirado dali o mesmo.

Como regressaram a Bissau as forças que se encontravam no local, a nossa Unidade recebeu ordem para com os obuses do Pelotão de Artilharia bater a zona onde estava a referida viatura. Posteriormente recebemos ordem de deslocação para a região de Faquina a fim de no dia seguinte (13-08-1969) reforçar e permitir que fosse retirado o restante material não evacuado na véspera.

Sob o comando desta CCAÇ o 1º e 4º Grupo de Combate reforçado com um grupo de combate da CCAÇ 2549 e com um Pelotão de Milícias de Cuntima, pelas 3 horas e 30m do dia 13 saíu em direcção a Faquina Mandinga onde devíamos estar às 6 horas e 30m. A noite encontrava-se bastante escura o que dificultou a progressão.

Chegámos a Faquina Mandinga às 6 h e 15m onde instalámos e aguardámos ordens. Pelas 9 horas, os hélis transportando forças pára-quedistas desceram em Sare Demba Chucael iniciando a retirada do material.

Os bombardeiros sobrevoaram a zona e do PCV foi-nos dada ordem para batermos a zona em frente a Sare Demba Chucael (povoação senegalesa, situada junto à fronteira, marco 99, zona compreendida para Norte de Faquina Mandinga e Faquina Fula, na direcção de Sare Demba Chucael).

Iniciada a batida à bolanha encontrámos material de guerra (granadas de morteiro e de canhão s/r, LGFog, munições e minas), material escolar, sacos de sal e arroz, material este que foi evacuado em dois hélis.

Continuando em direcção a Faquina Fula e a 100 metros da bolanha, debaixo de uma árvore, havia certa porção de terra que parecia ter sido ali colocada há pouco tempo. Verificado o local e depois de serem tomadas medidas de segurança, concluímos tratar-se de uma arrecadação de material IN com apreciáveis quantidades.

Esteve no local o Com-Chefe, Gen Spínola, que observou a arrecadação e o material que lá se encontrava.

Faquina Fula foi totalmente batida encontrando-se várias casas de zinco que destruímos, retirando material de uso corrente (esteiras, arroz, açúcar e panelas) e mais, distribuídos pelo pessoal milícia que tomou parte na operação.

A fim de serem efectuadas batidas pormenorizadas a toda a zona e por ordem do ComChefe, foram deslocados para a área dois Grupos de Combate e CCAÇ 2547 e o Pel Milícias ”Os Roncos” de Farim.
Ao anoitecer e por ordem do Cmdt do BCAÇ 2879, foi montada segurança ao estacionamento, entre Faquina Mandinga e Faquina Fula. No local encontravam-se as forças sob o comando desta Companhia, um pelotão de pára-quedistas, 2 grupos de combate da CCAÇ nº 2547 e "Os Roncos” de Farim sob o comando do Cmdt do Batalhão, Ten Coronel Agostinho Ferreira.

A noite decorreu normalmente, apesar das enormes chuvadas que caíram a partir das 2 horas. Pelas 6 horas e 30 minutos do dia 14 o IN iniciou uma flagelação ao estacionamento, tendo duas granadas de Mort. 61 rebentado na zona em que se encontrava o 1º Gr Comb desta Unidade, de que resultaram 9 feridos graves e 1 ligeiro. As NT reagiram imediatamente pelo fogo e movimento, tendo "Os Roncos” de Farim saído em perseguição do IN.

Nos locais de retirada havia indícios sangrentos que nos levaram a concluir ter havido baixas para o IN. Durante este dia efectuaram-se batidas na área, não tendo sido encontrado qualquer vestígio nem material IN.

Pelas 16 horas iniciou-se o regresso ao aquartelamento de Cuntima pelo itinerário Faquina Mandinga - Jajalvo - Tendito – Tonhataba - Cuntima, enquanto os obuses batiam toda a zona em que decorreu a operação.

Esta Unidade (CCAÇ2529) capturou ao IN cerca de 7 toneladas de armamento e munições sendo de salientar o seguinte:


Metralhadoras ligeiras Degtyarev DP : 3
Carregadores circulares de Met Lig Degtyarev DP : 3
Metralhadoras Degtyarev - RDP : 1
Metralhadoras Degtyarev - mod. 52 : 1
Pistola metralhadora M-52 : 5
Pistola metralhadora Sudayev : 6
Pistola Met Shapagin (PPSH) ("ostureirinha” ): 11
Carregadores Pist Met Shapagin (PPSH) : 8
Espingarda semi-automática Simonov (SKS ) : 10
Espingarda automática Kalashnicov ( AK ) : 1
LGrFog - RPG 2 : 1
Pistola metralhadora M-23 : 1
Minas anti-carro A/C TMD : 3
Minas anti-carro A/C : 4
Minas anti-pessoal A/P G1 : 80
Granadas A/C do L. G. F - RGP 2 : 26
Granadas de canhão sem recuo S/R : 29
Granadas de canhão sem recuo S/R T-21 : 48
Granadas A/C c/ bem. canhão S/R 82 : 108
Embalagens vazias de gran A/C 82 : 7
Granadas de morteiro 82 : 123
Granadas de morteiro 61 : 63
Caixas de espoletas ( 25 cada ) : 12
7 caixas com um total de espoletas : 70
Granadas de mão defensivas F 1 : 140
Caixas de detonadores gran. de mão defensivas F 1 : 7
Cartuchos propulsores de morteiro 82 : 100
Munições 7,62 normal : 61.360
Munições 7,62 tracejantes : 23.680
Munições 7,62 tracejantes verdes : 880
Munições 12,67 : 1530
Munições 9 mm : 3000
Diversas : 2015
Caixas met. c/ cartuchos propulsores : 8
Cargas suplementares redondas : 163
Very lights : 18
Tubos c/ espoletas de bazookas : 4
Cunhetes met. transporte gran morteiro : 9
Peças de culatra do canhão S/R : 2
Caixas para transporte de espoletas : 2
Caixas c/ detonadores : 70

Foto do ex-Alf Mil Carmo Ferreira da CCaç 2549 (Cª do Cap Vasco Lourenço)

As populações da área de Cuntima receberam com entusiástica manifestação de alegria as notícias dos êxitos obtidos, colaborando activamente no transporte do material capturado.

Esta operação foi designada por Operação "Talião", tendo esta Unidade a honra de capturar 7 das 24 toneladas que foi a quantidade total de material apreendido.

Em consequência dos ferimentos obtidos nesta operação faleceu no dia 19 de Agosto no H.M.P, o soldado M. F. Gouveia.

Entretanto recebemos várias visitas, salientando-se a de um jornalista inglês que observou e fotografou o material capturado.

Definimos ao IN a nossa posição e valor dentro do sector, aguardando no entanto a sua reacção que não se fez esperar, pois a 25 de Agosto pela 1 hora, durante vários minutos, flagelou de 3 frentes o aquartelamento e a povoação de Cuntima, com canhões S/R, Mort 82, Mort 81, LGFog e armas automáticas, que, como de costume actuavam numa cadência infernal. A reacção das NT foi imediata e o fogo coordenado forçou o IN a pôr-se em retirada na direcção do Senegal.

As NT efectuaram a perseguição e batida, não tendo tido qualquer resultado.
Foram encontrados vestígios abundantes de sangue. As NT sofreram 6 feridos ligeiros...."



O nosso camarada Carmo Ferreira, Alf Mil da CCAÇ 2549, no seu trabalho “A Luta Pelo Regresso, 1975” ainda não publicado, a págs. 23 a 28 refere-se a este Ronco nos termos seguintes:

“....Chegou, enfim, a altura da actuação na qual, em simultâneo, somos actores e assistentes. O palco, esse era pisado pela primeira vez.
Faquina. Zona limítrofe do território, encostada à linha de fronteira, correspondente a uma grande bolanha cuja linha média é a própria fronteira com o Senegal. Constituía, para a grande maioria da malta estacionada em Cuntima, como que um bicho de sete cabeças. Na verdade, sempre que se entrava na zona, dizia-se, havia 'choça' É que o IN , acolhido do lado de lá, montava as suas baterias de morteiros e desancava uma vez que nem sequer se podia reagir. Os nossos morteiros 60, pouco mais de meia bolanha atingiam e para isso era necessário sair a campo aberto.

A 12 de Agosto, a acalmia da tarde soalheira igual a outras já passadas, ainda que poucas, é quebrada pelo ensurdecedor aparecimento de dois Fiat que sobrevoavam o quartel e daí seguem para leste em direcção a de Faquina. Duas centenas de interrogações, quatro centenas de olhos, seguem as evoluções dos aviões que a cada picagem vão metralhando o solo. Um rebentamento mais forte assinala o lugar de uma “ameixa” de maior calibre.
Uma palavra vai correndo, entretanto, de boca em boca, ao mesmo tempo que se divisam, ao longe, 7 helicópteros Alouette, em formação rumando para o mesmo objectivo.

- É “ronco”. Agora são os páras que vão acabar o “rancho”.

Havia “ronco” na verdade. O IN detectado no Senegal a descarregar material de uma viatura, havia sido posto em fuga pelo piloto que os detectara, abandonando o material. Entretanto, a tarde vai caindo. As primeiras evacuações de material vão aparecendo se bem que a grande maioria siga directamente para Bissau. É um delírio ver, apalpar, fotografar aqueles brinquedos mortíferos arrancados às mãos do “turra”.

E a noite cai calma, serena e quente. O jantar decorreu, como normalmente, na cubata indígena a que tínhamos a veleidade de chamar messe. O pensar, nestas alturas, nos “senhores” que às suas secretárias e nos seus gabinetes arejados pelo indispensável ar condicionado, exigiam sempre mais e mais esforço, fazia-nos já rilhar os dentes, desejar tudo virar às avessas.

O calor é tal que, enquanto se come, o suor vai caindo pingo a pingo dentro do prato. O ambiente, pouco a pouco, torna-se sombrio. Todos advinham que daí a nada a operação complemento será delineada.

Retiro para o quarto juntamente com outros camaradas. Sobre um esqueleto de ferro, que papelões de caixotes de bebidas amaciam, deitamos os corpos alagados de suor. Não notam a dureza. Um treino de cerca de uma vintena de noites consecutivas tornaram-nos já moldáveis.

Havia adormecido há pouco quando oiço:
- Meu alferes, meu alferes Ferreira, chegue ao nosso capitão.
Esfregando os olhos, estremunhado, adivinho o que se passa, ao mesmo tempo que sigo o Salgado – o “impedido” do capitão. Olho o relógio. São onze (23) horas quando entro na messe apertando ainda as calças.

- Ferreira, prepare-se para sair a qualquer hora - diz-me o capitão Lourenço.
- Para onde, meu capitão? – pergunto, adivinhando qual a resposta.
- Para Faquina.
- Vou eu – adianta o Capitão Homem da Costa – o pelotão de milícias, o do Costa, o do Rocha e o seu.
- Okay. Terei então de ir prevenir a maralha. Até já.

Passo a notícia ao Nunes e ao Ferreira, os furriéis do meu grupo de combate. Ponho-os ao corrente do que irá passar-se. Bem pouco, aliás, pois que, muito pouco, também sabia. Entretanto os soldados continuam a dormir despreocupados, não adivinhando que a qualquer momento serão acordados e mandados preparar para uma operação que, para os meus homens, seria talvez o baptismo de fogo e donde alguns poderíamos não voltar.
Com violência, irrompe então verdadeiramente a luta contra o medo de poder ser julgado covarde. O medo de ter medo, é enorme. O medo de poder com esse acto prejudicar outras lutas semelhantes é ainda maior. O sono falha-me e desgasta-me.

São três da manhã quando está tudo pronto para a arrancada. É dia 13. Como habitualmente a noite é breu, opaca, obrigando o pessoal a repetidas paragens e a constantes interrupções na coluna a fim de se evitarem perdas de contacto. Três horas nos separam ainda do objectivo, caminhando noite dentro, cruzando o rio Carantabá e bolanha adjacente, ainda com pouca água. Todo o peso da noite nos envolve. Cerca das 5h 30m da manhã, a coluna pára e a palavra de ordem vai passando até à cauda da coluna.

- Cuidado. Olhos e ouvidos atentos. Nada de ruídos. Estamos já muito próximos do objectivo.

Uns minutos mais e a coluna pára desta feita por completo. Instala-se aguardando as 6h 30m, hora em que chegará a Força Aérea. Na nossa frente, silenciada e misteriosa, Faquina, o objectivo, a incógnita das próximas horas. O mito e a realidade estavam frente a frente.
Os nervos, de tensos, parecem estalar ao primeiro ruído. Então quando uma manada de javalis, atravessa a coluna num estardalhaço do demónio....Uf!

São já nove horas. O pessoal aguarda impaciente o apoio aéreo que apesar das duas horas e meia de atraso, parece não mais chegar. O Comando decide que se avance e avança-se. Num vaivém contínuo, os olhos correm a mata, as árvores, o chão. Nenhum tiro. O inimigo fugira possivelmente para solicitar auxílio ou então, algures, espreita e mede a força com que terá de bater-se.

Chega finalmente o apoio aéreo: um heli-canhão e dois T6. No terreno e espalhado por todos os lados, começa a aparecer o material precipitadamente abandonado: cunhetes de granadas de mão , munições das mais diversas, candeeiros a petróleo, folhetos, livros, etc.

- Meu capitão, meu capitão, manga di ronco. Manga dele mesmo. Pessoal encontra “arrecadação”. Grita eufórico um milícia, o Faram, para o Capitão Homem da Costa.

Um toco oco, servindo de respiro e espetado no alto de um pequeno morro, havia sido detectado por um milícia que, intrigado, havia vasculhado o terreno acabando por encontrar a chapa que cobria o poço servindo de arrecadação. Dentro, várias centenas de granadas de morteiro 82 e canhão sem recuo, meia centena de armas, dois lança granadas e cerca de uma centena de minas anti-carro e anti-pessoal de todos os tamanhos, gostos e feitios. Quanto a munições era um nunca acabar. Desde as de calibre 7,62 às de 12,7 havia de tudo. Talvez umas 150 mil, sem exagero.

- Manga di ronco mi alfero.. Manga dele – vai-me dizendo o carregador.

E o frenesim da recolha continua. O grupo de milícias parte, entretanto, a fazer uma batida a Faquina Mandiga. Aí, a recolha de meios é em moldes diferentes, dado que, se encontram simplesmente géneros alimentícios que são destruídos – umas boas centenas de quilos de arroz foram transportadas de helicóptero – sacos de campanha de origem soviética, de óptima qualidade em comparação com os quais os nossos bornais se sentiam envergonhados, tachos, panelas, cantis, enfim, artigos dos mais diversos.

Com o aproximar da noite e com o levantar do último helicóptero, monta-se a segurança para aí ficarmos instalados até ao dia seguinte. A noite, calma e serena, passou sem que nada houvesse a registar. A presença inimiga, contudo, pairava constante. Sentia-se no ar.

Pela manhã, cerca das 6h e 30m, eles aí estão na sua “visita” já esperada de há muito. Com uma série de morteiradas logo de imediato acompanhadas pelo matraquear feroz das “costureirinhas” (como eram denominadas as metralhadoras ligeiras PPSH, de fabrico soviético)desencadeiam o ataque, feroz e certeiro. A reacção, de nossa parte, é imediata e em força.

- Cheguem-lhes duro. Protejam-se e dêem-lhes forte – grita o Ten Cor Agostinho Ferreira, Comandante do Batalhão (conhecido pelo metro e oito, em face da sua baixa estatura) que entretanto, chegara durante a tarde e que connosco quisera partilhar a situação.

Logo ao início da refrega alguns feridos há a lamentar. O fogo certeiro e objectivo dos seus morteiros, correndo quasi toda a linha defensiva, havia apanhado com estilhaços os nossos apontadores de morteiro que, um pouco recuados, cumpriam a sua missão de cobertura.
De soslaio observo o Reguila, o apontador do meu grupo de combate. Furibundo e urinando dentro do morteiro, roga pragas sem conta. Deixa entrar terra para dentro e agora o percutor não funcionava. Entre o desenroscar e enroscar frenético da parte inferior para a necessária limpeza do percutor vão uns segundos que, contudo, parecem uma eternidade. Com satisfação o vejo depois , a meter as granadas e, com um sorriso nos lábios, seguir a sua trajectória!
Bastante desenrascado sem dúvida. Aquilo que constantemente lhes havia sido dito e redito para terem cuidado com a terra e o pó dentro dos morteiros e outras armas teve a sua prova dos nove na altura mais imprópria. Como sempre as coisas acontecem quando menos se espera. Felizmente, foi possível ultrapassar o percalço.

A fuzilaria é enorme. Cada disparo parece ser um empurrão na má sina que se quer afastada. Pouco mais de meia hora volvida (uma eternidade para quem a viveu), tudo volta a acalmar. A evacuação dos feridos é imediata. São eles 3 metropolitanos, 4 milícias e um caçador nativo. Pela batida feita, logo de seguida, e pelos numerosos rastos de sangue, constata-se que o inimigo também tivera baixas e não poucas.

Pouco depois, é apanhado um nativo senegalês que se encontrava na zona . Com umas “carícias” ei-lo cantando. Dois outros depósitos se encontram, enterrados, a poucas dezenas de metros da arrecadação que localizáramos no início. Duas centenas mais de cunhetes de munições a juntar a tudo o resto já apanhado.

Porém, é do outro lado da linha de fronteira que se encontra a arrecadação-mãe. Esta informação, por isso, mobiliza de imediato as atenções para o assalto que se impunha, sem delongas.

Com o pelotão de milícias, sob o comando do Cherno, que entretanto chegara, em reforço, com outros elementos da CCAÇ 2547, passo a bolanha. Levávamos como missão trazer o mais possível e de seguida estoirar com tudo. A travessia não é fácil. Penosa, lenta e cansativa expõe-nos, abertamente, ao inimigo. Sem problemas, contudo, chegamos ao lado de lá. Emboscados. Junto à mata, no limite da bolanha, protegemos a entrada das milícias “ Os Roncos” além-fronteira.

Tropas senegalesas, contudo, fazem-lhes frente. Cherno não hesita. Aprisiona o comandante da força e quer avançar a todo o custo contra tudo e contra todos.

Pela rádio o Ten Cor Agostinho Ferreira é posto ao corrente do que se passa. Após várias trocas de impressões o rádio avaria-se. É por isso necessário alguém vir, pessoalmente, bolanha fora, narrar o que se passa. Venho eu.

A cada passo, com a arma acima da cabeça, as pernas enterram-se-me até às coxas no lodo negro e mal cheiroso. Analisada a situação, a retirada é ordenada, a fim de se evitarem complicações políticas a nível internacional. Retorno, portanto, para junto dos meus homens levando a ordem a cumprir, com toda a precaução. O esforço despendido no regresso ao convívio dos camaradas além bolanha é enorme. O nosso olhar não disfarçava a frustração que vivíamos... Quando regresso e cruzo a bolanha pela terceira vez, as energias vão-se faltando. Já não ando, arrasto-me, arrastam-me. A espaços, exausto , tombo de costas e deixo-me repousar.

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Notas de Carlos Silva:

(1) - História da Unidade da CCAÇ nº 2529 (Caixa nº 115 - 2ª Div./4ª Sec, do AHM)
(2) - Estado-Maior do Exército - Comissão para o Estudo das Campanhas de África
Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África [1961-1974]
7º Volume - Fichas das Unidades- Tomo II - Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002 - p. 375

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Notas de vb: vd tb artigos de:

1 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2496: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (5) (Carlos Silva)

30 de Janeiro de 2008>
Guiné 63/74 - P2491: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (4) (Carlos Silva)

24 de Janeiro>
Guiné 63/74 - P2477: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim : O Batalhão dos Cobras (3) (Carlos Silva)

20 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2464: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (2) (Carlos Silva)

15 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim : O Batalhão dos Cobras (1) (Carlos Silva)



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10290: Em busca de... (200): Camaradas da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (K3 e Lamel, 1969/71) (Ricardo Almeida)

1. Mensagem do nosso camarada Ricardo Almeida* (ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71), com data de 20 de Agosto de 2012:

Luís,
Escrevo para tentar encontrar o meu camarada de Peloão, Alberto Marques Apolinário, Soldado NM 11892168 para voltar a cantar os meus versos como acontecia no K3 (Saliquinhedim) e em Lamel.
Decorava e alegrava a malta recitando-os.

Já agora, onde pararão os violas que o acompanhavam?

Se algum de vós me ler, agradeço que entrem em contacto comigo para o telemóvel 965 361 450.
Abraça-vos o Lisboa ou Marques de Almeida.

Para ti Luís, o meu bem haja e reconhecimento do teu valor.

Aquele abraço
Ricardo Almeida
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10217: Tabanca Grande (352): Ricardo Marques de Almeida, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Farim, K3, Cuntima e Jumbembem, 1969/71)

Vd. último poste da série de 22 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10288: Em busca de... (199): Pessoal da CCS/BCAÇ 2834 (Buba, Aldeia Formosa, Guileje, Cacine, Gadamael, Buba, 1968/69) (Francisco Gomes)

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13735: Memória dos lugares (275): Jumbembem, ao tempo da CCAÇ 2548, 1969/71 (Carlos Silva)


Guiné > Região Oeste > SO2 > Farim > Jumbembem > CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (1969/71) >  Foto nº 1 > Vista do lado W/E caserna grande, arrecadação e secretaria, do lado esquerdo  3 casas com chapa de zinco; a primeira, era  a messe conjunta e quartos dos alferes; a segunda, era o quarto do capitão e quartos dos furréis; e a uma outra, que era era o que restava da antiga tabanca demolida  no tempo da CART 2548.




Guiné > Região Oeste > SO2 > Farim > Jumbembem > CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (1969/71) >  Foto nº 2 > A parada e as 2 casas, messe à esquerda;  e a do capitão e furriéis,  à direita  onde se vê a janela do quarto do Carlos Silva.

Fotos (e legendas): © Carlos Silva (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]



1. Mensagem, de ontem, do nosso amigo e camarada Carlos Silva, jurista, ex-fur mil arm pes inf,  CCAÇ 2548 / BCAÇ 2879,Jumbembem, 1969/71), membro da Direcção da ONGD Ajuda Amiga 

Assunto: Poste  P13729 - Cap Rui Romero (*)

Luís

Aqui vão 2 fotos de Jumbembem, onde se pode ver a zona principal do aquartelamento:

Foto nº 1, a preto,  vista do lado W/E caserna grande, arrecadação e secretaria, do lado esquerdo  3 casas com chapa de zinco:

(i) A 1ª,  messe conjunta e quartos dos alferes;

(ii) A 2ª , quarto do capitão e quartos dos furréis;  a cabeceira da minha cama encostava à janela que se vê;

(iii) E outra era o que restava da antiga tabanca demolida no meu tempo, pois construímos uma cidade nova...

Ao centro era a parada que se estendia até às árvores.

Na foto nº 2,  a cores, tirada  de um slide, vê-se bem a parada e as 2 casas, messe à esquerda e a do capitão e furriéis à direita  onde se vê a janela do meu quarto.

Presentemente apenas existem estas 2 casas.




Guiné > Região do Oeste > Setor O2 > Farim > Jumbembem > 2ª CCAÇ do BCAÇ 4512 (Jumbembem, 1973/74) > 1974 > Parada do quartel e chegada de um helicóptero com o correio.

Foto: © Fernando Araújo (2010). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]

Na foto publicada do Fermando Araújo,  que esteve lá a seguir ao batalhão que me foi render, vê-se as 2 janelas da secretaria/arrecadação viradas para a parada.

Nesta foto as 2 janelas são para W para o lado do refeitório.

Na minha foto colorida, anº 2, vê-se as 2 casas,  sendo que a da esquerda está afastada 10 mts da casa da arrecadação/secretaria.

A casa da esquerda era messe, zona das esteiras e sala de convívio com janela, os quartos ficavam atrás. Casa da direita,  em frente à bandeira,  a porta do quarto do capitão e a janela que se vê era onde encostava a cabeceira da minha cama. A parada era tudo que se vê, mas no tempo do Artur  Conceição (1964/66) e no início da minha estadia,  existia a tabanca velha que encostava ao meu quarto e prolongava-se até aos mangueiros e estrada Farim- Jumbembem-Cuntima.

Podes publicar para ajudar a compreender. (**)

Um abraço
Carlos Silva

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13729: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (88): Revivendo, 48 anos anos depois, a tragédia de Jumbembem, a morte do cap mil inf Rui Romero, da CCAÇ 1565, em 10/7/1966 (Ana Romero / Artur Conceição)

(**) Último poste da série > 9 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13711: Memória dos lugares (274): As estradas (cortadas) de Bissorá-Biambe e Bissorã-Encheia, em plena região do Oio (Carlos Fortunato, ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, 1969/71, e presidente da direção da Ajuda Amiga)

domingo, 27 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21397: Os nossos médicos (89): No BCAÇ 2879, sediado em Farim, onde estava integrada a minha companhia, havia dois médicos: um na sede e outro em Cuntima, e eram de facto mais "civis" do que "militares" (Eduardo Estrela, ex- fur mil, CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)



Eduardo Estrela, membro da Tabanca do Algarve

1. Comentário do nosso amigo e camarada o Eduardo Estrela [ ex- fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)

Caro Luis! Acabo de ler o teu comentário na sequência da apresentação do livro do Gonçalo Inocentes.  (*)

No que diz respeito ao Batalhão de Farim [ BCAÇ 2879, 1969/71] onde a minha CCaç 14 estava integrada como Companhia  de reforço, havia dois médicos. Um em Farim e outro em Cuntima. (**)

Eram, tal como os da tua zona, mais médicos civis do que militares, pois nunca saíam para o mato. Mas o Fur Mil Enf da minha Companhia, o Ilídio Vaz,  era um operacional como nós. Estabeleceu uma escala com a sua malta da enfermagem e alinhava em todas quando chegava a sua vez.  (***)

Quanto ao Inocentes, infelizmente e apesar dele morar em Faro, não o conheço. Mando-lhe daqui um forte abraço extensivo a toda a Tabanca. 

Eduardo Estrela.

____________

Notas do editor:

(*)  Vd. poste de 22 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21383: Notas de leitura (1309): "O Cântico das Costureiras", de Gonçalo Inocentes (Matheos) - Parte III (Luís Graça): a conquista da Ponta de Jabadá, em 29/1/1965, importante posição na defesa do rio Geba

(...) Recorde-se que, no meu tempo (1969/71), haveria (, quando havia!) um médico por batalhão. E que ficava no "bem bom" da sede do batalhão, a trabalhar na "psico", nunca ou raramente saindo para o mato em operações... Era mais médico "civil" do que "militar",,, O mesmo se aplicava ao furriel enfermeiro... (Estamos a falar do tempo de Spínola, em que aumentaram os efectivos militares e o país não tinha médicos suficientes para mandar para a guerra; por outro lado, a política "Por uma Guiné Melhor" absorvia uma grande parte dos recursos sanitários das Forças Armadas.)

Aqui, nesta época [, 1964/65], no tempo ainda da malta do caqui amarelo, há um médico para cada 150/160 homens (=1 companhia), e que dorme no mato, nos mesmos buracos dos "infantes"... E participa em operações, como a conquista da Ponta de Jabadá! (...)


(**) Vd. poste de 18 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11724: Os nossos médicos (50): Os batalhões que passaram pelo setor de Farim tinham um número variável de médicos, de 1 a 4... Quanto ao HM 241, era só... o melhor da África Ocidental (Carlos Silva, 1969/71)

(...) BCav 490 - 1º Batalhão sediado em Farim, 1964/65. Pois na sua HU consta na data do embarque 4 médicos adstritos às unidades. a saber:

CCS - 1 médico
CCav 487 - 1 médico
CCav 488 - 1 médico, Jumbembem do qual existe 1 foto no meu site
CCav 489 - 1 médico Cuntima

Nota: Não sei se os outros 2 médicos estavam em Farim, há aqui camaradas tabanqueiros desta Unidade que podem esclarecer. (...)

(...) BCaç 2879 (1969/71) - 5º Batalhão sediado em Farim. Já referi no post anterior. Apenas 1 médico integrou o Batalhão, embora no sector pelo menos durante um ano lá estivessem estado 2, um em Farim e outro em Cuntima. (...)

(***) Último poste  da série> 3 de julho de  2020 > Guiné 61/74 - P21132: Os nossos médicos (88): Fernando António Maymone Martins, especialista de cardiologia pediátrica, ex-alf mil, CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, e HM 241, Bissau, 1968/70

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10217: Tabanca Grande (352): Ricardo Marques de Almeida, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Farim, K3, Cuntima e Jumbembem, 1969/71)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Ricardo Marques de Almeida (ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71), com data de 28 de Julho de 2012:

Caro amigo Vinhal,
Boa tarde e bem assim para toda a tertúlia da Tabanca Grande, onde também me revejo e, ter alguma coisa para dizer acerca da Guiné, enquanto ex-combatente naquela província.

Sou o 1.º Cabo 08922568, Ricardo Marques de Almeida da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 que esteve no Oio, sector 2, entre 1969 e 1971.

********************

2. Um poema meu escrito na minha primeira noite passada em Lamel:

Foi numa noite de breu
que tudo aconteceu
perdidos naquela mata!

Uma forte trovoada
com vento forte a soprar
e chuva diluviana
que até uma liana
não suportando o temporal
veio cair mesmo à frente,
onde eles estavam deitados
e num circulo apertados
mais parecia um festival.
Pondo à prova a sua mente
e num arrepio constante
deixaram de ter noção
do perigo que então corriam!
E pondo à prova o coração
deram um salto para diante,
e nas armas então pegaram
desafiaram a natureza
e com alguma ligeireza,
suas armas disparavam.
Também queriam tomar parte
daquele festival oferecido!
E com o coração dorido
de já tão empedernido
Gritavam
gritavam
Portugal! Portugal! Portugal!

Com um abraço
Marques de Almeida




 Ricardo Almeida, na foto de baixo com uniforme completo


3. Comentário de CV:

Caro camarada Ricardo Almeida, bem-vindo à nossa Tabanca Grande onde acabas de entrar pela porta principal. Parece termos em perspectiva mais um vate.

Esperamos a tua colaboração com textos em prosa, ou verso como foi o caso de hoje, assim como em fotos que devem trazer as legendas respectivas para sabermos a data (se possível), o local e o nome dos fotografados. No caso da foto que hoje publicamos, os camaradas que estão contigo muito gostariam de ver os seus nomes referidos.

Tens que te habituar ao tratamento por tu, já que aqui na tertúlia não se fazem distinções de espécie alguma entre os camaradas da Guiné. Respeitamos as nossas diferenças, isto sim é uma norma a seguir. Sempre que utilizamos uma imagem ou partes de textos que não sejam nossos, devemos indicar o seu autor ou a sua proveniência. Não acalentamos discussões estéreis nem trocamos insultos. Os editores sentem-se no direito de não publicar ou eliminar os comentários que não cumpram estas condutas elementares de convivência.

Não te sintas atingido porque isto não é (só) para ti porque convém de vez em quando lembrar que para vivermos em comunidade, mesmo virtual, o respeito mútuo é fundamental.

Não sei se sabes, mas tens no nosso Blogue um camarada da tua Companhia, o ex-Fur Mil Carlos Silva, hoje advogado em Lisboa, que faz parte da Associação Ajuda Amiga que na Guiné-Bissau tem como alvo a tua tão conhecida Região do Oio, sector de Farim. Clica aqui  para saberes mais.
Por outro lado podes, e deves, visitar a sua página em: http://www.carlosilva-guine.com/, onde poderás recordar muito da tua Unidade e dos teus camaradas.

Já agora, por curiosidade, se bem te lembras, no fim da comissão quando o teu Batalhão saiu de Farim com destino a Bissau, indo pela estrada que começava no K3 e atravessava Mansabá, Cutia e Mansoa, nas imediações de Mansabá era a minha Companhia que estava a fazer a segurança enquanto vocês passavam.

Não tenho muito mais para te dizer, a não ser que deves enviar a tua correspondência para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e para um dos co-editores (Carlos Vinhal ou Eduardo Magalhães), cujos endereços estão no lado esquerdo da página.

Recebe da tertúlia e dos editores deste blogue um fraterno abraço de boas-vindas.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10180: Tabanca Grande (351): Guilherme Gabriel da Costa Ganança, ex-Alf Mil da CCAÇ 1788/BCAÇ 1932 (Cabedú, Catió e Farim, 1967/69)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5303: O direito ao bom nome (1): Vasco Lourenço, ex-Cap Inf da CCAÇ 2549/BCAÇ 2879 (Cuntima e Farim, 1969/71)

Capa do livro No Regresso Vinham Todos, de Vasco Lourenço, originalmente publicado pela Editorial Notícias, Lisboa, 1978.

1. Mensagem de Vasco Correia Lourenço, Cor Inf Ref (ex-Cap Inf, CCAÇ 2549,Cuntima e Farim, Julho de 1969/Junho de 1971), com data de 17 de Novembro

Caro Luis Graça,

Junto uma carta para si, que confio publique no seu blogue, acompanhada por um estudo do cor Morais da Silva.

Dou conhecimento desta carta ao dr Carlos Silva, combatente na Guiné na CCaç 2548 do meu batalhão, o BCaç 2879.

Cordiais saudações. Vasco Lourenço


Caro Luís Graça

As referências que me são feitas no seu blogue, enquanto ex-combatente na Guiné (*), obrigam-me a escrever-lhe, na esperança de que trate esta carta da mesma maneira que trata as que lhe são enviadas por outros ex-combatentes também na Guiné.

Não pretendo entrar em polémicas, não pretendo ofender ninguém, apenas quero esclarecer um pouco da minha posição.

Tomei conhecimento da existência da tese de Manuel Rebocho, através do chefe do EME (actual CEMGFA) [General Valença Pinto], que me sugeriu uma forte reacção.

Ao ver o tipo de tratamento de que era alvo, na referida tese, decidi que “para esse peditório já dera o suficiente”. Com efeito, tratava-se de um episódio da “guerra” entre mim e o general Spínola, analisada de forma muito incompleta, com conclusões aberrantes, face à estória verídica do que efectivamente se passara.

Algum tempo depois, sou surpreendido com um convite para assistir à defesa da tese na Universidade de Évora.

Contactei, então, o próprio sargento Manuel Rebocho, a quem manifestei a minha estranheza pelo convite, dado o que escrevera sobre mim, sem me ouvir. Como lhe referi, enviei essa carta aos membros do júri, a quem manifestei a opinião de que “me não ouvira, talvez porque tem a noção da malévola deturpação que faz do que se passou na Guiné”.

O referido sargento-mor considerou-se ofendido por aquela frase e fez queixa de mim. O promotor público não acompanhou a queixa, não houve acusação, por não haver matéria que justificasse a mesma, pelo que o juiz determinou o seu arquivamento.

Inconformado com essa atitude, Manuel Rebocho deduziu acusação particular no Tribunal de Évora, desacompanhado do procurador da República, ao mesmo tempo que requeria uma indemnização cível.

Conseguiu o que pretendia e eu tive de me sentar no banco dos réus. O julgamento fez-se, fui totalmente absolvido e o queixoso condenado a suportar todas as despesas judiciais. Uma vez mais inconformado, apresentou recurso, que ainda corre termos.

Confesso que tive vontade de ser eu, agora, a apresentar uma queixa pelo crime de difamação, requerendo a competente indemnização. Decidi não o fazer, ainda, tudo dependendo do evoluir da situação.

Quanto à natureza da tese, agora apresentada em livro, remeto-lhe em anexo um estudo sobre a mesma da autoria do coronel António Carlos Morais da Silva. Por mim, não perco mais tempo, por agora, com o assunto.

No que se refere à minha acção na Guiné, no comando da CCaç 2549, do BCaç 2879, procuro esclarecê-la no livro “Do Interior da Revolução”, para além do que já fora publicado em “No regresso vinham todos” (o único livro que conheço que terá sido escrito durante a Guerra, sendo, que eu saiba, a única “história de unidade”, escrita daquela maneira) (**).

Não me compete a mim analisar a minha acção. Para isso, podem ouvir-se os homens que comandei, ou os homens do resto do BCaç. O que aliás pode ser visto no blogue do mesmo, da responsabilidade do ex-furriel Carlos Silva da CCaç 2548 (que, penso, estará em ligação com o vosso blogue) (***).

Caro Luís Graça,

Espero e confio que compreenda estes esclarecimentos.

Fui para a guerra, sendo oficial do QP, convencido que estava a cumprir o meu dever de cidadão. Fi-la o melhor que pude, com a enorme preocupação de, sem abdicar dos princípios, tentar não perder nenhum dos homens que comandava.

O decorrer da guerra ajudou-me a “abrir os olhos” para a realidade portuguesa. Tenho muito orgulho da maneira como me comportei, como tenho muito orgulho da minha acção, no seguimento dos ensinamentos aí obtidos.

Com 67 anos, ao olhar para trás, tenho a presunção de ter uma vida de que me posso orgulhar. Certamente com alguns erros, pois não tenho a veleidade de não errar e não ter dúvidas.

Mas, com um saldo que – presunção e água benta… – considero francamente positivo.

Quero continuar a poder olhar para o espelho, sem me envergonhar. Por isso, vou tentar não me desviar dos princípios morais e éticos que me têm norteado até aqui.

Não ia, portanto, permitir a quem quer que seja – e o sargento-mor Manuel Rebocho não está isolado nessa pretensão – que me insulte de ânimo leve.

Por muita vaidade que possa transparecer, afirmo que o meu passado fala por mim. Daí esta carta.

Cordiais saudações

Vasco Lourenço

2. Comentário de L.G.:

Todos os camaradas da Guiné, com ou sem visibilidade pública, têm antes de mais o direito ao bom nome... (Daí, de resto, esta nova série que inauguramos hoje). É umas regras básicas do nosso blogue. Esse direito implica, naturalmente, o direito de resposta sempre o que o bom nome é posto em causa (Publicaremos todas as respostas, desde que redigidas dentro do espírito de elevação e de cultura democrática que nos caracteriza).

Outra das nossas regras básicas de convívio, nesta caserna virtual, é que nenhum de nós faz (ou deve fazer) juízos de valor (e muito menos de intenção) sobre o comportamento (operacional e pessoal) dos seus camaradas da Guiné. Este blogue não foi criado para fazer ajustes com ninguém, nem sequer com a História.

Agradeço ao Vasco Lourenço os esclarecimentos que entendeu dar-nos. A sua mensagem chegou-nos no dia em que foi apresentado ao público o livro do Manuel Rebocho que é membro do nosso blogue e camarada da Guiné, livro de que faremos oportunamente uma recensão crítica. O facto do Vasco não ser membro do nosso blogue não o impede de nele ver publicados ulteriores esclarecimentos que queira fazer sobre a sua actuação como comandante da CCAÇ 2549 ou outros aspectos da sua comissão serviço na região de Farim.

Como eu costumo lembrar, aqui o nosso maior denominador comum é o facto de termos sido combatentes na Guiné, durante a guerra colonial. De resto, o nosso core business é esse, é partilhar histórias, memórias e até afectos.

Sendo seu contemporâneo da Guiné (pertenci à CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971), fico naturalmente triste de o ver envolvido num processo judicial com outro camarada, por questões de "bom nome"... Espero que o bom senso, a honradez, o patriotismo e o melhor dos valores militares (que nos foram incutidos no Exército, na Marinha e na Força Aérea) acabem por se sobrepor a um conflito pessoal que, infelizmente, veio parar à praça pública. Um Alfa Bravo. Luís Graça

PS - Quanto ao documento do Morais da Silva, antigo professor da Academia Militar, e nosso contemporâneo na Guiné, o próprio já mo tinha feito chegar, a meu pedido, à minha caixa de correio, gentilmente, em "versão amigável" (formato doc). Ainda não o li (trata-se de uma apreciação, em 22 páginas, da tese de doutoramento do Manuel Godinho Rebocho) mas fá-lo-ei em breve, com todo o gosto, avaliando aquilo que for considerado pertinente e útil para a informação e o conhecimento dos membros do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.
______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 15 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5275: Controvérsias (53): Polémica M. Rebocho / V.Lourenço: Por mor da verdade e respeito por TODOS os camaradas (A. Graça de Abreu)

(**) Vd. poste de 23 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2207: Tugas - Quem é quem (1): Vasco Lourenço, comandante da CCAÇ 2549 (1969/71) e capitão de Abril

(***) 21 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4718: Efemérides (19): Em 20 de Julho de 1969, eu estava no Uíge em pleno oceano, a caminho de Farim... (Carlos Silva, BCAÇ 2879)