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sábado, 13 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25380: Os nossos seres, saberes e lazeres (623): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (149): No Museu Militar de Lisboa, o mais antigo da cidade (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Janeiro de 2024:

Queridos amigos,
É de facto o mais antigo museu de Lisboa, e num local cheio de história, por aqui houve arsenais, fundições, estaleiros, até se chegar ao Arsenal Real do Exército, e depois foi a fase de aformosear o interior do edifício, há para ali salas deslumbrantes, combinam a azulejaria e artilharia, a pintura e a escultura. Não deixa de intrigar como houve dinheiro a rodos para tornar todas aquelas salas deslumbrantes e dinheiro para pagar a Sousa Lopes, Columbano, Rafael e Gustavo Bordalo Pinheiro, Malhoa, Carlos Reis, Veloso Salgado, a coleção de peças de artilharia não podem deixar ninguém indiferente, tal como os 26 painéis de azulejos nos esplendoroso Pátio dos Canhões. E ao consultar a publicação Roteiro dos Museus Militares descobri que há um núcleo museológico destinado às Ex-Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento, estou absolutamente seguro que lá irei encontrar a indumentária que usámos entre a cidade e a floresta equatorial.

Um abraço do
Mário


Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (77): No Museu Militar de Lisboa, o mais antigo da cidade - 1

Mário Beja Santos

Vezes que não sei contar que entrei por esta majestosa fachada do Museu Militar de Lisboa, encimada pela escultura de Teixeira Lopes, À Pátria, entrei pelo Pátio dos Canhões, virei à direita, para frequentar o Arquivo Histórico-Militar, estávamos no ano de 2011 e eu ultimava o livro "A Viagem do Tangomau", eram pesquisas sobre unidades militares que tinham passado pelo Leste, antes de 1968, e depois. E não havia um assomo de curiosidade para dar uma volta ao edifício e entrar no museu. E um dia adquiri uma publicação intitulada Roteiro dos Museus Militares, edição By The Book, 2019, ardido pela curiosidade de ter uma cartografia dos ditos museus militares, que os há em Bragança, Porto, Elvas, Alverca e Ovar, Lisboa, Buçaco, não faltam os da Madeira e dos Açores e até a fragata de D. Fernando II e Glória. Creio que estes são os museus que estão na órbita do Ministério da Defesa Nacional, temos também os centros interpretativos, como os do Vimeiro e de Aljubarrota, mas não fazem parte deste roteiro. Fiquei a salivar sabendo que há um núcleo museológico das Ex-Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento, sito no Campo de Santa Clara, espero oportunidade para lhe bater à porta.

Este local do Museu Militar de Lisboa tem mesmo história, aqui assentou o antigo Real Arsenal do Exército, local onde D. Manuel I, cerca de 1488, mandara construir as tercenas (arsenais ou estaleiros), das Portas da Cruz, indo por aí fora, e depois de fábrica de pólvora, oficinas de fundição, em 1760 concluiu-se por ordem do Marquês de Pombal aqui o Real Arsenal do Exército. Os interiores foram enriquecidos com talha dourada, pinturas e murais e estatuária de artistas portugueses. No reinado de D. Maria II, o edifício passou a dominar-se Museu de Artilharia, em 1926 mudou de nome para Museu Militar e em 2006 para Museu Militar de Lisboa.
Neste Pátio dos Canhões há aqui um vislumbre de grandeza, como se pode ler no desdobrável oferecido ao visitante, “A coleção de peças de artilharia em bronze é considerada uma das mais completas a nível mundial, e cujas peças são preciosos documentos históricos, tanto pelas suas inscrições e símbolos heráldicos, como pelas suas ornamentações bem ao estilo das épocas das respetivas fundições. A azulejaria é constituída por 26 painéis de azulejos, dos séculos XVIII, XIX e princípios do séc. XX, que representam os factos mais notáveis da história nacional, no período compreendido em 1139 e 1918.”

A fachada principal, obra de Teixeira Lopes
Pátio dos Canhões, ao fundo era o Arquivo Histórico-Militar e lá em cima vê-se o ponto alto do zimbório do Panteão Nacional, perto do largo de Santa Clara
Pátio dos Canhões, uma mostra do potencial em bronze e uma bela azulejaria de relance
É o mais antigo museu da cidade de Lisboa, o seu valioso património museológico impressiona. O que nos é dado a observar resulta fundamentalmente dos trabalhos desenvolvidos em finais do séc. XIX e inícios do séc. XX em que o então diretor, general José Eduardo Castelbranco, fez decorar novas salas com trabalhos dos nossos melhores artistas da época. E daí este museu arrogar-se a uma vasta compilação de quadros dos nomes mais sonantes da pintura portuguesa do séc. XIX e inícios do séc. XX, caso de Sousa Lopes, Columbano, Malhoa, Carlos Reis ou Veloso Salgado. E há também as peças de escultura executadas por Delfim Maya, Rafael Bordalo Pinheiro e José Núncio.
Na parte mais antiga do museu há equipamentos como esta balança ou carro usado para o transporte das colunas do Arco da Rua Augusta, de dimensão gigantesca, como se pode ver
Berlinda do séc. XVIII, reinado de D. José, restaurada pela Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra
Há muito para ver neste Museu Militar: uniformes, barretinas, capacetes, a evolução das armas, inúmeros objetos que aludem à participação de Portugal em conflitos bélicos. Da coleção de artilharia de bronze já falámos, há depois a profusão decorativa dos tetos, como aqui se exemplifica.
A exuberância azulejar, a riqueza do mármore e a ornamentação de uma peça de artilharia, estamos a passar do rés-do-chão para o primeiro andar.
Outro detalhe, cada sala tem a sua singularidade pictórica, os frescos estão muito bem restaurados.
“Rendição nas Trincheiras”. Soldados portugueses na frente de batalha em França, quadro da autoria de Sousa Lopes
Carvalho Araújo em combate com o submarino alemão, um dos mais significativos episódios de heroísmo da nossa participação na Primeira Guerra Mundial

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 6 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25345: Os nossos seres, saberes e lazeres (622): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (148): No Museu Agrícola da Atalaia, uma obra de respeito (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24726 Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (10): I want you, dead or alive!



O célebre Tio Sam, desenho por J.M. Flagg... Cartaz norte-americano, de 1917, inspirado no original britânico, de 1914. Foi usado pelo exército norte-americano para recrutar soldados tanto para a Primeira como para a Segunda Guerra Mundial. Imagem do domínio público. Cortesia de Wikipedia.


À memória:

do Umaru Baldé,, menino de sua mãe,  que morreu de sida e tuberculose, no terminal da morte que dava pelo nome de Hospital do Barro, em Torres Vedras; membro da nossa Tabanca Grande a título póstumo);

do Abibo Jau (o gigante do 1º Gr Comb da CCAÇ 12, fuzilado em Madina Colhido, logo a seguir à independència da Guiné.Bissau);

do Joaquim de Araújo Cunha (1948-1970), que o Abibo Jau trouxe às costas, da antiga estrada Xime-Ponta do Inglês, até Madina Colhido, o primeiro de seis mortos e nove feridos graves da Op Abencerragem Candente, em 26/11/1970, trágica lista onde se incluem os nomes do Ribeiro, do Soares, do Monteiro, do Oliveira, todos da CART 2715, e ainda o nosso guia e picador Seco Camará;

do cap art Victor Manuel Amaro dos Santos (1944- 2014),  primeiro cmdt da CART 2715, que começou a morrer nesse fatídico dia de 26/11/1970;

do Abdulai Jamanca (cmdt da CCAÇ 21, fuzilado também em Madina Colhido que eu conheci em Fá Mandonga, por ocasião da formação da 1ª CCmds Africanos);

do Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015). membro da nossa Tabanca Grande, e o único comando africano, ao que se saiba, que escreveu e publicou em vida as suas memórias;

do Iero Jaló (o 1º morto em combate, da CCAÇ 12, em 8/9/1969);

do Manuel da Costa Soares (sold cond auto, da CCAÇ 12, morto em Nhabijões, em 13/1/1971, por uma mina A/C, sem nunca ter chegado a conhecer a sua filha);

do Luciano Severo de Almeida (furriel mil, da CCAÇ 12,  que "morreu de morte matada", já como paisano, após o regresso da guerra, em data que ninguém sabe precisar);

do José Carlos Suleimane Baldé (c. 1951-2022), que chegou a estar encostado ao poilão de Bambadinca para ser fuzilado. tendo sido salvo 'in extremis' pelos homens grandes de regulado Badora; membro da Tabanca Grande;

do António da Silva Baptista (1950-2016), o "morto-vivo" do Quirafo, membro da nossa Tabanca Grande;

 de todos os demais camaradas  de armas, brancos e pretos, mortos em combate no TO da Guiné, ou feitos prisioneiros, ou abandonados à sua sorte, depois do regresso a casa ou da independência da Guiné-Bissau;

de todos os soldados desconhecidos de todas as guerras;

enfim, dos mortos da minha terra que lutaram pela pátria na batalha do Vimeiro,  em 21 de agosto de 1808.
 

I want you, dead or alive!


F_d_r_m-te, meu irmão! Enganaram-te, meu irmãozinho! Traíram-te, amigo! Deixaram-te para trás, camarada!

Não, não era este país milenário que vinha no cartaz de promoção turística, com montes, vales,  montados, e charnecas, com rios, praias e enseadas, com fama de gente patriótica, clima ameno e aprazivel, riqueza gastronómica, brandos costumes e forte sentido identitário. 

Não, não era esta a terra prometida onde corria o leite e mel... 

“I want you”, disseram-te eles, e tu respondeste sem hesitar: “Pronto!”. 

Meu tonto, disseste "presente!", mesmo sem poderes avaliar todas as consequências presentes e futuras da tua decisão, em termos de custo/benefício.

Decidiste com o coração, não com a razão, deste um passo em frente, abnegado e generoso, mesmo sem saberes onde era o distrito de recrutamento, e sem sequer conheceres o teatro de operações, o estandarte, o fardamento, a ciência e a arte da guerra, o comandante-chefe ou até mesmo a cara do inimigo. Nem sequer o RDM, o regulamento de disciplina militar nas principais línguas do mundo.

Um homem não vai para a guerra sem fixar a cara do inimigo, sem reconhecer a voz do inimigo, pode ser que seja teu pai, mãe, irmão, irmã, vizinho, amigo, ou até mesmo um estrangeiro, um pobre e inofensivo estrangeiro, apanhado à hora errada no sítio errado, num dos setes caminhos de Santiago ou na peregrinação a Meca. 

Camarada, um homem não mata outro homem só porque é estrangeiro, ou é branco, ou é preto, ou tem os olhos em bico. Ou só porque não pensa ou não sente como tu. Ou não come carne de porco como tu. Um homem não puxa o gatilho ou saca da espada, sem perguntar quem vem lá!

Enfim, não se mata um homem, de ânimo leve, gratuitamente, só porque alguém o elegeu como teu inimigo. Malhado ou corcunda, tuga ou turra, rojo ou blanco, cristão ou mouro, comunista ou fascista, bárbaro ou romano.

Não, meu irmãozinho, não eram estes outdoors e muros grafitados, ao longo da picada, não, não era este trilho, que era pressuposto levar-te do cais do inferno do Xime às portas do paraíso em Bagdá..

Sim, porque no final, meu irmão, há sempre alguém a prometer-te o paraíso, o olimpo, o panteão nacional ou a cruz de guerra com palma, um coro de anjos e querubins, ou a prenda nupcial das 72 virgens  para os mártires.... em troca da dádiva suprema da tua vida, do teu corpo, da tua alma ou da tua liberdade (no caso de teres o azar de ser apanhado à unha pelo inimigo que te espreita por detrás do bagabaga).

Todos te querem, todos te queremos. "I want you”, sim, quero-te, mas por inteiro, quanto mais não seja para tirar uma fotografia contigo, beber um copo contigo, não vales nada cortado às postas, decepado, decapitado, dinamitado, ou, pior ainda, perdido, errático, com stress pós-traumático,  sem bússola nem mapa, levado para o campo de prisioneiros do Boé ou fuzilado no poilão de Bambadinca ou de Madina Colhido. Ou para forca de Ariz dos anos sombrios das nossas guerras fratricidas de 1828-1834.

Fuzilado, és um cadáver incómodo, apanhado, és um embaraço diplomático, pior do que tudo isso, doente psiquiátrico, apátrida, refugiado... Deixas de ter valor de troca, muito menos valor de uso, diz o comissário político da base central do Morés, de Kalashnikov em punho. 

Não, não foi este destino que compraste, com o patacão do teu sangue, suor e lágrimas, enganaram-te, os safados, os profetas, os iluminados, os gurus, os estrategas, os generais e os seus ajudantes de campo, os burocratas da secretaria, os recrutadores, a junta médica, os psicotécnicos, os instrutores e até os historiadores que escrevem direito  por linhas tortas.   Ou a corte que fugiu para o Brasil para que o Napoleão não pudesse apanhar a rainha louca e o seu filho primogénito, João.

“Guinea-Bissau, far from the Vietnam”, alguém escreveu no poilão de Brá ou na estrada de Bandim, a caminho do aeroporto, tanto faz, "Tuga, estás a 4 mil quilómetros de casa”. 

Ou então foi imaginação tua, pesadelo teu, deves ter sonhado com essa placa toponímica, algures, numa noite de delírio palúdico, deves tê-la visto a sul do deserto do Sará no avião da TAP de regresso a casa. Um pesadelo climatizado. Carregaste no botão errado. Ou então foi um erro de casting. Ou um sonho de menino esse de ires para os rangers, os páraa, oa comandos ou os fuzos.

Alguém sabia lá onde ficava a Guiné, longe do Vietname, alguém se importava lá com o teu prémio da lotaria da história, mesmo que em campanha te tenhas coberto de honra e glória!

Acabaram por te meter num avião “low cost” ou num barco de lata, ferrujento, deram-te um pontapé no cu ou cravaram-te a tampa do caixão de chumbo. "Bye, bye, my friend. Fuck you, man”. Nem sequer te desejaram "Oxalá, inshallah, enxalé, que a terra te seja leve!"

“País de merda!"... Tinha razão o polícia, racista, que te quis barrar a entrada no aeroporto de Saigão (ou era Lisboa ? ou era Amsterdão?). 

Quem disse que os polícias de todo o mundo são estúpidos ? Até o polícia racista entende o sofisma do país de merda: “Pensando bem, soletrando melhor, país de merda, país de merda, só pode ser o meu”.  Por que todos os outros fazem parte da rede turística do paraíso. 

Os gajos estavam fartos de ti, meu irmão, meu camarada, meu amigo. Os gajos pagavam-te, se preciso fosse, para se verem livres de ti, vivo ou morto, devolvido à procedência, usado e abusado.

“I want you, alive or dead”, porque na contabilidade nacional tudo tem de bater certo, diz o cabo RM, readmitido. Todo o que entra, sai, é o deve e o haver do escriturário, encartado, mesmo que seja merda: “Garbage in, garbage out”, se entra merda, sai merda, diz o gajo dos serviços mecanográficos do exército.

Procuraram-te por toda a parte, os fotocines, do Minho ao Algarve, do Cacheu ao Cacine, só te queriam fotogénico, bem comportado, escanhoado, ataviado, de botas engraxadas, se possível herói de capa e espada, medalhado, condecorado, de cruz de guerra ao peito, mesmo que viesses amortalhado, as persianas dos olhos fechadas,  as mãos sobre o peito em derradeira oração, o enorme buraco atrás das costas, feito por um bálizio de 12.7, cozido e recozido pelo cangalheiro da tropa.

E tu ? Sabias lá tu o que era a pátria, onde ficava a tabanca da pátria, onde começava e acabava o chão da pátria ?!...

 Muito menos sabias a geografia da guerra, as nossas geografias emocionais,  Aljubarrota, Alcácer Quibir, Vimeiro, Waterloo, Nambuangongo, lha do Como, Gandembel,  Guidaje, Guileje, Gadamael,  Madina do Boé, Ponta do Inglês, Madina/Belel, Morés, Caboiana, Fiofioli... Ah!, e La Lyz!... Ah, e  o desembarque da Normandia!... Ah!, e Dien-Bien-Phu onde combateste pela Legião Estrangeira!...

Conhecias lá tu, da pátria,  a anatomia e a fisiologia , o intestino grosso e delgado, o que é que a pátria comia, o que é que a pátria defecava, ou até mesmo o que é que a pátria sentia e pensava, se é que a pátria deveras sentia e pensava.

Queriam-te sedado, anestesiado, amnésico, de preferência, sobretudo amnésico, alienado, aculturado, desformatado, paisano, só assim eles te queriam de volta ao teu anódino quotidiano, à tua origem obscura, à tua Sintchã qualquer-coisa, ao teu Montijo, â tua Ventosa do Mar...

Meu irmão, meu pobre camarada, fizeste por eles o trabalho sujo que compete a qualquer bom soldado em qualquer guerra. Mas nem como soldado eles te trataram, nem sequer como mercenário te pagaram, em espécie ou em géneros.

Afinal a guerra acabou, como todas as guerras acabam, até mesmo a guerra dos cem anos teve um fim com o seu rol de mortos, feridos e desaparecidos, a sua nave de loucos, a sua vala comum dos esquecidos...

 “Para quê mexer agora na merda, ó nosso cabo ?!”, interpela o sorja da companhia. “Boa pergunta, meu primeiro, mas há muito já que eu não cheiro, a guerra embotou-me os sentidos”.

Luís Graça
Lourinhã, Vimeiro, 18/7/2015.

Reconstituição histórica da batalha do Vimeiro (21/8/1808).

Revisto em 1/9/2023, 84 anos depois do início da II Guerra Mundial.
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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de setembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24626: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (9): Requiem para um paisano

domingo, 17 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22638: Memória dos lugares (427): Coimbra, cemitério da Conchada, onde repousam os restos mortais do alf mil António Maldonado, morto em combate em Porto Gole, em 4/3/1966 (João Crisóstomo)


Foto nº 5 - Coimbra > Cemitério da Conchada > 22 de setembro de 2021 > Jazido da família de Maria Conceição Maia Antunes. leirao nº 15, nºs 9 e 10. Placa que foi posta na frente, na parede exterior do jazigo, e onde se lê: "Alferes António Aníbal Maia de Carvalho Maldonado, morto em combate na Guiné em 4.3.1966".

 
1. Mensagem, com data de 23 de setembro último, enviada pelo João Crisóstomo, o nosso camarada luso-americano que está de visita à sua Pátria, tendo logo nos primeiros dias ido a Coimbra, a casa de uns amigos, com quem está ligado "por mor de Timor"... Aproveitou para ir ao Bussaco e ao cemitério da Conchada, em Coimbra, à procura do túmulo do nosso camarada António Maldonado, morto em combate em Porto Gole, na Guiné, em 4/3/1966, e que era natural de Coimbra.

O Eduardo Jorge Ferreira (1952- 2019) veio-me à memória outra vez quando visitei o Bussaco. Lá encontrei uma evocaçãoda batalha do Vimeiro, de cuja “reencarnação" o nosso saudoso Eduardo era o um dos interprtes mais entusiastas,. Incluo uma foto dessa pedra onde a evocação da batalha aparece. (Foto nº 1).



Foto nº 1 - Mealhada > Buçaco > Antigo Convento de Santa Cruz do Buçaco > Placa alusiva a Arthur Wellesley, 1.º Duque de Wellington que, no contexto da Guerra Peninsular, em 1810, que comandou as forças anglo-portuguesas contra as do general francês André Massena na batalha do Buçaco, e que esteve ali hospedado.

 

Mas isto foi só a "ponta do fio”. Uma vez que ia a Coimbra, pois queria ver o barco de Timor onde, já faz quatro anos, estão dois contentores cheios de coisas para a escola de S. Francisco de Assis que tanta falta fazem nessa escola e aos seus alunos, eu lembrei-me de ir visitar um nosso antigo  camarada, o infeliz Maldonado. Nunca o cheguei a encontrar pessoalmente na Guiné, mas a sua vida e morte cruzaram-se comigo, conforme posts 22131 e 19517 , em que ele é mencionado pelo Jorge Rosales.

Pelo que depreendo,  o Rosales esteve em Porto Gole até 1964. Porto Gole era um dos destacamentos a que pertencia ao (ou estava a cargo do)  Enxalé, embora os comandantes destes destacamentos fossem de outros unidades ou em rendição individual. 

Quando o Rosales saiu de Porto Gole quem o devia ter substituído era o Maldonado. Que por sua vez iria ser substituído pelo Henrique Matos. Mas por razões que desconheço, o Maldonado não veio logo e, como sucedia com Missirá, antes da chegada dos alferes Marchand e depois Beja Santos, nestes casos o Enxalé servia de “tapa-buracos”. Em ambos os casos ( Missirá e Porto Gole) eu desempenhei esse papel de tapa-buracos mais que uma vez. Estive em Porto Gole umas semanas e, quando o Maldonado estava para chega,  eu voltei ao Enxalé, sem nunca o ter encontrado pessoalmente ( ou pelo menos eu não me lembro dessa “rendição”.)

Uma semana ou duas depois do Maldonado chegar, o destacamento de Porto Gole foi alvo dum ataque violento por parte do IN e o infeliz Maldonado foi atingido por uma granada de morteiro 82 que lhe causou morte quase imediata. 

Por razões que desconheço fui instruido para voltar para Porto Gole mais uma vez, onde fiquei até que o Henrique Matos, do Pel Caç Nat 52, chegou, para assumir o comando desse destacamento. Mas …não me posso esquecer que podia ter sido eu no seu lugar, como podia ter sucedido em outras ocasiões em que as vítimas estavam mesmo a meu lado, como no caso do Queba Soncó em 1966 ou logo no início da minha estadia na Guiné em Agosto de 1965 na operação Avante.



Foto nº 2 -  Coimbra > Cemitério da Conchada > 22 de setembro de 2021 > Talhão dos combatentes, naturais de Coimbra


Foto nº 3 - Coimbra > Cemitério da Conchada > 22 de setembro de 2021 > Lápide fúnebre, evccativa da memória dos  antigos combatentes. Liga dos Combatentes, Núcleo de Coimbra, Talhão dos combatentes: 

"Silêncio… Névoa… Campos sepulcrais 
Ali dormem soldados de alma forte.
Deram à Pátria e vida num transporte
Que foi o seu Deus p’ra nunca mais

Eram Homens… Tornaram-se imortais
Souberam dominar a própria morte.
Na guerra todos são irmãos na sorte!
Na sepultura todos são iguais."



Foto nº 4 - Coimbra > Cemitério da Conchada > 22 de setembro de 2021 >
Jazido da família de Maria Conceição Maia Antunes, onde foi inumado o António Maldonado, leirao nº 15, nºs 9 e 10

 
Foram estas considerações que me levaram a procurar o cemitério da Conchada em Coimbra. Depois de longa e repetida exposição do que pretendia, consegui convencer a pessoa que se encontra na administração do cemitério a procurar o nome do nosso Maldonado que foi encontrado depois de longa procura. Encontra-se no “ leirão" 15, número 9 e 10 deste leirão. (Foto nº 4).

Foi um encontro duro e emocionante para mim. Na pessoa dele eu revia e lembrava o Mano, o Abna na Onça ,o Queba Soncó, o Açoriano e tantos outros que acabaram a sua vida nas terras da Guiné e outros que voltaram mas que também da lei da morte já se libertaram: os Zagalos, os Pires, os Rosales, os Eduardos…

Saí do cemitério em busca de umas flores; e foi pensando em todos aqueles nossos camaradas para quem a memória dos nossos falecidos é algo sagrado que deixei este pequeno ramo de flores na porta/entrada do jazigo onde se encontram os restos mortais do Maldonado (Fotos nºs 5 e 6). Naquele momento o Maldonado não era ele só, mas todos aqueles irmãos nossos , mortos em qualquer situação, incluindo os nossos camaradas nativos que foram vítimas de represálias, depois de já termos deixado terras da Guiné; e por eles todos "elevei o meu pensamento”,  independentemente da sua raça, religião e posição ideológica.



Foto nº 5 - Coimbra > Cemitério da Conchada > 22 de setembro de 2021 > Pequeno ramo de flores o melhor que pude arranjar) que deixei em nome de todos nós, conforme se pode ler no improvisado “cartão" (Vd. Foto nº 6)


 Foto nº 6 > Coimbra > Cemitério da Conchada > 22 de setembro de 2021 > Ramo de flores depositado à pporta do jazigo da família do Maldonado: "Ao Maldonad com saudades. Os teus amigos e camaradas da Guiné, 22/9/2021". 

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2021).. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Entretanto o Gaspar Sobral e esposa (, meus amigos, ligados à causa de Timor, ele timorense e ela natural do Sabugal) tinham encontrado uma área grande onde descobriram que "todos as sepulturas são de militares; mas todas as sepulturas são iguais…" E logo me dirigi a esse lugar do cemitério. (Foto nº 2).

Verifiquei que todos aquelas sepulturas ( um total de 75 ) são de militares da região de Coimbra que prestaram serviço nas diversas campos de acção fora de Portugal territorial em Angola, India, Moçambique etc, mas a grande maioria era de militares que estiveram na Guiné. Soldados, sargentos e oficiais de todos as patentes... Na base dum pequeno monumento aí erguido está gravado: "na guerra todos são irmãos na sorte; na sepultura todos são iguais." (Foto nº 3).
Voltei , mas o resto do dia foi um contínuo reviver. (*)

João Crisóstomo



Guiné > Bissau > Praça do Império > Novembro de 1965 > O Jorge Rosales mais o Maldonado, junto ao monumento "Ao Esforço da Raça" ...

De seu nome completo, António Aníbal Maia de Carvalho Maldonado, morreu no dia 4/3/1966. Natural da Sé Nova, Coimbra, foi inumado no cemitério da Conchada. Pertenceu à 1ª CCAÇ / BCAÇ 697 (Fá Mandinga, 1964/66). (**)

Foto (e legenda): © Jorge Rosales (2010).. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 7 de setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22520: Memória dos lugares (426): Paço, União das Freguesias de São Bartolomeu dos Galegos e Moledo, Lourinhã, inaugura o seu monumento aos antigos combatentes (46 no total estiveram presentes nos vários teatros de operações do séc. XX, da I Grande Guerra à Guerra do Ultramar)

(**) Vd. poste de 22 de fevereiro de 2019 > uiné 61/74 - P19517: In Memoriam (340): Até sempre, 'comandante' Jorge Rosales (1939-2019)

sábado, 16 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22635: Os nossos seres, saberes e lazeres (472): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (20): Da Roliça até ao Vimeiro… E o derrotado Junot regressou a França com o nosso ouro e prata (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Setembro de 2021:

Queridos amigos,
À volta do meu casebre de Reguengo Grande não disponho só de moinhos, peras e abóboras, vinhas e fráguas que vêm dos tempos jurássicos. Aqui perto o tal el-rei Junot teve a sua malquerença, tudo lhe correu mal na Roliça e no Vimeiro, o absurdo é que regressou de malas aviadas cheias de riquezas portuguesas. A boa estrela protegia o Duque de Wellington, mas não se livrou dos apupos que ele viu no parlamento britânico, dera-se o ouro ao bandido, uma absurda condescendência com o invasor ainda por cima destruidor, vinha naquele contingente um general maneta, de nome Loison, de triste memória. Assim começava o século XIX todo ele acompanhado de destruição, guerra civil, descrença nas instituições, o Brasil independente e então acordou-se para as riquezas de África, isto enquanto o nosso património edificado se arruinava a olhos vistos. Mas ao pé do meu casebre os franceses levaram coça, Napoleão ainda decretará mais duas invasões, conhecerá brutas derrotas, suficientes para não haver menção delas no Arco do Triunfo...

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (20):
Da Roliça até ao Vimeiro… E o derrotado Junot regressou a França com o nosso ouro e prata


Mário Beja Santos

Quem diria que este meu casebre, incrustado numa área protegida, está bem próximo de acontecimentos capitais ocorridos em 1808, o combate da Roliça e a batalha do Vimeiro? Há indicações nas proximidades que sugerem a visita ao Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro, e bem perto do meu Reguengo Grande há sinalética que fala da Roliça e do seu interesse histórico. Tudo tem a ver com a primeira Invasão Francesa, Napoleão quis sufocar o poder económico e naval da Grã-Bretanha, decretou o Bloqueio Continental, o regente D. João disse sim, não ou quem dera, e Napoleão nomeou o general Jean Andoche Junot para nos reduzir a pó, era importante apanhar à mão a família real portuguesa e anular qualquer veleidade de independência nacional.

Irão dar-se aqui os primeiros passos gloriosos de um senhor que passará à História com o título de Duque de Wellington, e a primeira cena do primeiro ato ficará com o nome de refrega ou combate da Roliça, tudo se travou na localidade do mesmo nome em 17 de agosto de 1808. O tenente-general Sir Arthur Wellesley confronta-se com as forças francesas do general Henri-François Delaborde. Dia aziago para Napoleão, o Cerco de Saragoça era assumido pelos franceses como um fracasso, resistiram heroicamente, as tropas de Napoleão recuaram.

Combatemos ao lado dos britânicos, Bernardim Frei de Andrade era o comandante do corpo de forças portuguesas. Procurei aqui dar-vos algumas imagens esclarecedoras do campo de batalha, a Roliça fica na parte norte do concelho do Bombarral, o exército francês ocupou um pequeno planalto e para norte estende-se uma planície onde se deu a aproximação do exército anglo-luso. Houve vários movimentos estratégicos na Serra do Picoto e Planalto das Cesaredas, os franceses quiseram explorar a superioridade numérica. Os britânicos começaram a subir em relação às posições francesas. Os homens de uma brigada procuraram ultrapassar um regimento francês, foram atacados à retaguarda, apanhados de surpresa. Neste combate morre o tenente-coronel George Lake, foram feitos muitos prisioneiros e apreendidos estandartes que só serão recuperados dias mais tarde no Vimeiro. Os franceses retiram, acabou a refrega, os franceses perderam cerca de 600 homens, o exército anglo-luso tem 70 mortos, centenas de feridos e mais de 70 desaparecidos. A carreira europeia do duque começou aqui, tempos depois cometer-se-á o erro estratégico, ao assinar-se a Convenção de Sintra com Junot, de os deixar sair de Portugal com o nosso espólio, o Parlamento britânico entrou em fúria. Mas o significado da Roliça é muito mais do que simbólico: afinal, era possível bater os franceses em terra.

Travessa do Casal da Esperança, Reguengo Grande, Lourinhã, o paraíso do velho combatente
Monumento funerário do Tenente-Coronel George Lake
Legenda constante no monumento funerário
O ponto alto da Roliça, assistiu ao intenso dos combates
Aqui se combateu, por aqui se subiram estas veredas, num verdadeiro jogo do gato e do rato, muitos mortos e feridos, afinal os franceses não eram inexpugnáveis
Imagem da fachada da Sociedade Recreativa Sobralense, vinha dos plainos da Roliça e por aqui passei, dá gosto ver esta fachada curiosamente marcada por aspetos tradicionais e as linhas da Arte Deco. Posto isto, sigo para o Centro Interpretativo da Batalha do Vimeiro
Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro
Visita guiada ao Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro
Monumento comemorativo do I Centenário, o rei D. Manuel II esteve presente na inauguração, em 21 de agosto de 1908
Conjuntos de azulejos que se espalham pelo jardim circundante, mostrando aspetos alusivos à batalha, recomenda-se ao visitante que os observe atentamente, são belos e dão uma ajuda à compreensão da evolução da batalha
Foi neste extenso campo que se travou a Batalha do Vimeiro, em 21 de agosto de 1808, Junot está à frente de 13 mil homens, Wellington comanda o exército anglo-luso com cerca de 19 mil homens. Junot decidiu um ataque direto ao outeiro do Vimeiro (onde hoje se encontra um monumento comemorativo) e procurou uma manobra de envolvimento. Os confrontos mais importantes e decisivos aconteceram no outeiro. As tropas de Junot atacam e fracassam, vêm a possibilidade de fixar o inimigo na colina. Na localidade do Vimeiro travou-se uma sangrenta peleja que acabou com a retirada dos franceses, perseguidos pela cavalaria anglo-lusa. Sem conhecimento do que se estava a passar no flanco esquerdo, duas brigadas francesas confrontaram os britânicos nos altos da Ventosa e Fonte de Lima, tudo lhes correu mal. Junot entendeu propor a Wellington um acordo de cavalheiros, dará pelo nome de Convenção de Sintra. Diz-se em português que nunca se deve dar o tesouro ao bandido, ainda hoje é um enigma o que levou os britânicos a autorizar o vencido a partir para França com o nosso querido património. O dado fundamental é que acabara no continente europeu a invencibilidade francesa. E tudo às portas do meu casebre.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22613: Os nossos seres, saberes e lazeres (471): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (12) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21574: In Memoriam (374): Eduardo Jorge Ferreira (Vimeiro, Lourinhã, 1 out 1952 - Torres Vedras, 23 nov 2019): um ano de saudade - Testemunhos: Parte II (Luís Graça e Jaime Silva)



Foto nº 1 > Lourinhã, Vimeiro, Cemita´rio local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  > Pequena placa deixada pelos amigos, colegas e camaradas: as palavras são do 1º quarteto do soneto lido por Luís Graça [vd. texto abaixo]


Foto nº 2 >  Lourinhã, Vimeiro, Cemiério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  > Aspeto da campa (que é da família da São)


Foto nº 3  >  Lourinhã, Vimeiro, Cemiério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  > A viúva, Conceição Ferreira, e o filho João junto à campa. [O outro filho, Rui, vive e trabalha em Inglaterra.)


 Foto nº 4  >  Lourinhã, Vimeiro, Cemiério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  >  Em primeiro plano, a Alice Carneiro, fotogrfando a placa deixada pelos amigos


Foto nº 5  >  Lourinhã, Vimeiro, Cemitério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  > Um aspeto da assistência, composta apenas de amigos e colegas, num total de 11, para além da viúva São e do filho João, e todos da Lourinhã, com exceção do João Baptista, que veio de òbidos. Aqui ficam os seus nomes: Rui Chamusco, Jaime Silva, Luís Graça e Alice Carneiro, Joaquim Pinto Carvalho e Maria do Céu Pinteus, Carlos Silvério e Zita, Laurentino Marteleira e Glória 



Foto nº 6 > Lourinhã, Vimeiro, Cemitério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  > O Rui Chamusco lendo os seus versos-



Foto nº 7 > Lourinhã, Vimeiro, Cemitério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  >  Intervenção do nosso camarada Jaime Bonifácio Marques da Silva, membro da nossa Tabanca Grande (tal como Pinto Carvalho, o Carlos Silvério e a Alice Carneiro, além do nosso editor).



Foto nº 8 > Lourinhã, Vimeiro, Cemitério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  > O Rui Chamusco, professor reformado, junto à campa do seu amigo e colega da Escola C +S de Ribamar, Lourinhã  (*)


Foto nº 10 >  Lourinhã, Vimeiro, Cemitério local > 23 de novembro de 2020 > Homenagem ao Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)  > Cruz encimando a entrada do cemitério local, que construído em 1887


Foto nº 11 > Lourinhã > Vimeiro > Centro de Interpretação  da Batalha do Vimeiro: O Eduardo Jorge Ferreira foi um um dos grandes animadores da recreação histórica da batalha do Vimeiro  que se travaou aqui em 21 de agosto de 1808... Mais dos 1500 mortos desse dia terão ficado por aqui e arredores, em valas comuns...



  Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019) (**)


Fotos (e legendas): © Luís Graça  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Texto lido pelo Luís Graça, editor do nosso blogue, amigo e conterrâneo do Eduardo:

Para o nosso (e)terno Eduardo:
notícias dos amigos



Eduardo, p’lo bem, amor e amizade
Qu’ em vida connosco quiseste partilhar,
A tua memória prometemos honrar,
Deixando aqui o rasto doce da saudade.

Notícias te damos também da nossa terra,
Onde nasce e se põe o sol todos os dias,
Sabes como é, há tristezas e alegrias,
Mais a pandemia, que lavra como guerra.

Mas faz-nos falta teu sorriso luminoso,
Tua gargalhada fraterna e sonora,
Teu abraço acolhedor e generoso.

Teimamos em falar contigo, cá deste lado,
Também um dia chegará a nossa hora,
Mas até lá serás sempre... por nós lembrado!


Vimeiro, 23 de novembro de 2020

Os teus amigos, colegas, companheiros, camaradas.


 
2. Intervenção do Jaime Bonifácio Marques da Silva [Seixal, Lourinhã]:

Lembro-me que os primeiros contactos que tive com ele foi através do hóquei em patins nos encontros entre Seminários.

Depois, cada um fez-se à vida e só nos anos oitenta volto a reencontrá-lo, por acaso, em Guimarães, quando ele fazia a Profissionalização em Exercício na Escola Secundária Francisco de Holanda.

A partir daí os nossos encontros foram mais frequentes, mas só no início dos anos 2000 eu e Dina começamos a partilhar mais assiduamente nas suas iniciativas:

Primeiro, nos encontros de professores de Educação Física na festa de Ribamar, depois nas caldeiradas com o nosso pessoal na Festa e em Porto Dinheiro.

Como homem amigo, generoso e atento aos outros apercebeu-se bem cedo da evolução da doença da Dina e, a partir dai nunca mais nos largou e sempre que surgia uma oportunidade de convívio, telefonava-me para aparecermos. E lá estava ele e muitas vezes a esposa, a São, à nossa espera para nos acompanhar.

Durante o “Tempo Dele” foi, para mim e a Dina, de uma dedicação e ajuda que nunca mais o esquecerei. Lembro-me da Dina, apesar de já não reconhecer quase ninguém, dizer um dia quando estávamos com ele – Nós temos muita sorte em termos estes amigos!

Como te disse, há dias, li um poema do Ruy Belo que me fez lembrar o Eduardo.

O Poema intitula-se: José, o homem dos sonhos  e foi editado na obra – Homem de Palavra, numa edição da Assírio e Alvim (1.ª Edição de 2011).

Pensei em dar o meu modesto contributo neste ato de solidariedade e de memória lendo o poema do Ruy Belo, mas alterando o nome que o poeta usou.

Ficaria assim, após a minha alteração afetuosa que o Ruy Belo aprovaria, certamente, nesta causa:


EDUARDO… O HOMEM DOS SONHOS!

Por Ruy Belo / Jaime Bonifácio


Que nome dar ao poeta,
esse ser dos espantos medonhos?
um só encontro próprio e justo:
o de EDUARDO…o homem dos sonhos!

Eu canto os pássaros e as árvores
Mas uns e outros nos versos ponho-os…
Quem é que canta sem condição?
É EDUARDO…o homem dos sonhos!

Deus põe e o homem dispõe
E aquele que ao longo da vereda vem,
homem sem pai e sem mãe,
homem a quem a própria dor não dói,
bíblico no nome e a comer medronhos,
só pode ser EDUARDO…o homem dos sonhos!

Vimeiro, 23 de novembro de 2020
 

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 23 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21571: In Memoriam (373): Eduardo Jorge Ferreira (Vimeiro, Lourinhã, 1 out 1952 - Torres Vedras, 23 nov 2019): um ano de saudade - Testemunhos: Parte I (Rui Chamusco e João Crisóstomo)

(**) 31 de agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8714: Tabanca Grande (300): Apresenta-se o Eduardo Jorge Ferreira, lourinhanense, ex-Alf Mil da Polícia Aérea (BA12, 1973/74)

(...) Estive [, na Guiné, em Bissalanca,] na BA12 de 20 de janeiro de 1973 (, triste data, a do assassínio de Amilcar Cabral, ) a 2 de setembro de 1974, colocado na EDT (Esquadra de Defesa Terrestre) como Alferes miliciano da Polícia Aérea, onde era conhecido por Ferreira.

(...) Depois de vir da Guiné, e como era voluntário na Força Aérea por 6 anos, passei pela Comissão de Extinção da PIDE/DGS (Gabinete de Imprensa) e pelo Estado Maior General das Forças Armadas (1ª Divisão) donde passei à disponibilidade em junho de 1977.

Entretanto tirei o curso de Instrutores de Educação Física e, mais tarde, a licenciatura em Administração Escolar, realizando o percurso normal de professor até uma determinada altura, a que se seguiram 15 anos de ligação à gestão escolar, dos quais 12 como presidente. Voltei a ser unicamente professor nestes últimos 9 anos lectivos acabando a minha carreira profissional em Abril último. (...)

 

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P21017: Manuscrito(s) (Luís Graça) (183): Paimogo, poema para dizer em voz alta à janela ou à varanda, uma boa terapia contra os "irãs maus" que infestam agora os poilões das nossas tabancas, em tempos de COVID-19


Lourinhã > Praia de Paimogo > 19 de maio de 2020 > Fim de tarde > Enseada, pequeno porto piscatório e forte militar do séc. XVII (ao alto) (*)


Lourinhã > Praia do Caniçal, contígua à Praia de Paimogo, a sul > 19 de maio de 2020, fim de tarde >



Lourinhã > Praias de Paimogo e Caniçal > 12 de maio de 2020 > Ao fundo, em primeiro plano, à direita, antigos viveiros de lagosta, agora em ruina.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Praia de Paimogo (*)


À memória de Ruy Belo (Rio Maior, 1933 - Queluz, 1978),  

poeta maior da língua portuguesa, vitima do Portugal mesquinho, 

e que nunca aqui esteve, em Paimogo, 

mesmo sendo meu vizinho da praia da Consolação



Oh!, quem me dera que tu fosses o meu berço,
Praia de Paimogo da minha infância,
Trocaria por ti a transumância
Dos passos perdidos pelo universo.

Do alto das tuas jurássicas muralhas,
Questiono a vida e as suas origens,
E o que sinto são apenas vertigens
De barcos naufragados em batalhas.

Quantos dos teus filhos, soldados, marinheiros,
Deram p’lo teu chão as suas vidas,
Que a morte é de todas as medidas
A mais crua, relógio sem ponteiros.

Gostava de subir, um a um, os degraus
Da escadaria do teu velho forte,
Agora abandonado à sua sorte,
E aí ver passar as últimas naus.

Fosse a vida uma ciência, dura ou mole,
Mais do que arte, com os seus horrores,
Não se mataria por mal d’ amores,
A filha do capitão, ao pôr de sol.

Falésias que são lições de geologia,
E extensos, de fósseis,  cemitérios…
E que sei eu da evolução ? Mistérios
Que nem o Darwin desvendaria.

Gosto de perscrutar o sol, o sal, o sul,
Ao fim de tarde, contando as traineiras,
Que à sardinha vêm, lambareiras,
Entre tons de vermelho e de azul.

Lourinhã, Praia de Paimogo, 19 de maio de 2020,
no desconfinamento da pandemia de COVID-19
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Vd também postes de:

18 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11950: Manuscrito(s) (Luís Graça) (8): Périplo amoroso pelas praias da Lourinhã, no nosso querido mês de agosto de todos os aniversários...



18 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16398: Manuscrito(s) (Luís Graça) (91): A ilha da praia do Caniçal...

20 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16405: Manuscrito(s) (Luís Graça) (92): Praia do Caniçal: memórias

(**) Sobre o Forte no Lugar de Paimogo / Forte de Nossa Senhora dos Anjos de Paimogo IPA.00006327. Portugal, Lisboa, Lourinhã, União das freguesias de Lourinhã e Atalaia.

Arquitectura militar, barroca. De planta regular compõe-se de um único corpo com casa forte de planta rectangular, terreiro lajeado e terraço e no interior por corpo principal constituído por 3 divisões maiores, onde seriam os quartéis e por 2 outras dependências onde eram utlizadas ou como casernas ou como paióis. 

O corpo principal do Forte é semelhante ao Forte de Milreu na Ericeira (v. PT031109060052 ) edificado na mesma altura. Constitui o 2º ponto fortificado a S. de Peniche e integra-se na 2ª linha fortificada, de Peniche a Cascais e à barra do Tejo. 

Exemplar quase único de fortificações posteriores à Restauração sem alterações arquitectónicas. Faz parte de um conjunto de fortes constituídos no reinado de D. João IV para defesa da costa contra possíveis investidas de barcos espanhóis. 

Está ligado à história militar porque a pequena enseada protegida pelos seus fogos, serviu de desembarque às tropas inglesas que vieram reforçar as forças anglo-lusas do comando do marechal Wellington que tomaram parte no combate da Roliça e Batalha do Vimeiro *5, aquando da 1ª invasão francesa em 1808. 

Situando-se no limiar do barroco, constitui um valioso exemplar de arquitectura militar do séc. 17 do tipo abaluartado, chamado "obra corna"