quarta-feira, 12 de maio de 2010

Guiné 63/74 – P6375: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (19): Tabanca de Fá Mandinga

19.ª Estória de Mansambo, série do nosso camarada Torcato Mendonça, ex-Alf Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69).

2.º GCOMB/CART 2339

Repasto

ESTÓRIAS DE MANSAMBO II - 19

Tabanca de Fá Mandinga

Sento-me num banco de madeira, baixo e feito de uma só peça.
Banco confortável e muito usual nas tabancas.

Observo a destreza do artesão a dar cor ao cabedal. Gestos quase de ritual, repetidos de há muito, gestos, certamente herdados e transmitidos há séculos pelo seu Povo. O povo Mandinga.

Falamos, entre um português que ele não domina bem, e um crioulo que eu, ainda, nada sabia. Entendemo-nos contudo.

Observo o artesão e toda a zona envolvente. Tudo é novidade para mim. Estou na Guiné há cerca de um mês. Um mês a parecer já muito tempo.

Um mês de descobertas e um mês a mostrar que, de África, muito pouco sabia. Tantas questões que a mim colocava. Logo essa da língua e porque, em cinco séculos, só ínfima minoria sabia falar português.

África era terra praticamente desconhecida, terra a necessitar quase uma aprendizagem total. O que lemos ou o que nos explicaram pouco, muito pouco, tinha a ver com a realidade vivida.

Os cheiros, a cor da terra, as gentes e a guerra. Tudo. Praticamente tudo merecia total aprendizagem. Em Fá de Cima, onde estava com a minha Companhia, reinava a paz e era um bom local para se aprender.

Não parávamos lá por muito tempo. Depois de termos ido ao Xime receber o treino operacional, sendo a Companhia de intervenção do Batalhão, estávamos quase sempre de saída.

Rusgas aos Nabijões, seguranças a Mato de Cão ou, em Bafatá à visita do Presidente da Republica, em operação, bem sucedida, ao Galo Corubal e onde recebemos o baptismo de fogo.

Mês intenso que relato em poucas linhas. Intensidade a prolongar-se até final.

Para ali viver, para estar de bem comigo e com aquela gente, para sentir África e passar melhor aqueles tempos, tentava adaptar-me o melhor e o mais rápido possível. Relevo só dois ou três acontecimentos:

- Bafatá; a primeira ida aquela cidade mostra-me uma realidade diferente. Cidade bonita, edifícios com ar colonial, vivendas a ladearem a rua principal e esta a terminar no rio Geba.

Só que antes estava um edifício, o que mais gostei em Bafatá, o Mercado com a sua arquitectura a imitar edifícios árabes. Um pouco mais abaixo, já com o Geba à vista uma piscina.

Recordo bem a primeira visita ao mercado. Os cheiros agoniaram-me.

Visita curta a não conseguir ver a diversidade dos produtos, a variedade das cores dos panos e o bulício de mercadores e compradores. Um encanto a ser vivido posteriormente.

O cheiro que me fez sair do mercado. Já, tempos antes, me tinha incomodado numa rusga aos Nabijões ou, pior ainda, numa visita para encontro de sexo. Foi sol de pouca dura e rapidamente me habituei e adaptei.

Agora, ali estava eu a ver a bainha da espada mandinga cada vez mais composta. Já tinha o cabo e a bainha da faca de mato coberta com um entrançado em preto e branco, em desenho mandinga.

O artesão tinha-me oferecido uns amuletos. Retribuí com outros objectos.

A afabilidade daquele povo, mandinga ou fula, era admirável e deixou-me marcas indeléveis. O modo como as mães tratavam os filhos ou o carinho e respeito para com os “velhos” não se esquecem.

A minha aprendizagem continuou até ao fim da comissão. Muito, mesmo muito, ficou por aprender.

O Povo das tabancas é diferente do das cidades, das “elites” dominadoras. Certamente, o fosso entre os detentores de poderes e dinheiro, de hoje, aumentou negativamente claro.

São conjecturas subjectivas. Certamente e infelizmente estão próximas da realidade.

A minha velha espada Mandinga ainda vive. A guerra acabou felizmente e a amizade, o carinho, o respeito e a saudade que sinto por aquela gente, aumentou com o tempo.

Não se explica e para quê? Parece um paradoxo a guerra, a convivência com o povo e a recordação de hoje.

Mas de facto não se explica. Só vivendo o ontem e o hoje.

Um abraço,
Torcato Mendonça
Alf Mil At Art da CART 2339
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Nota de CV:

Vd.último poste da série de 10 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6363: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (18): Dia final

Guiné 63/74 - P6374: Recortes de imprensa (25): Há 40 anos o Papa Paulo VI recebia em audiência privada, em 1 de Julho de 1970, Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos (Luís Graça)






Título de caixa alta do Diário de Notícias, de 5/7/1970, fazendo-se eco da indignação da "Nação Portuguesa"... Alguém se lembra das repercussões deste caso no TO da Guiné ? 



Com cinco dias de atraso, o Diário de Notícias, jornal afecto ao regime de então, e que tinha à sua frente o inefável  Dr. Augusto de Castro, dava a notícia, que caiu que nem uma bomba nos restritos círculos políticos da época, segundo a qual o Papa Paulo VI tinha recebido, no Vaticano, em audiência, os três chefes dos principais movimentos que combatiam Portugal em África, mais exactamente em Angola, Moçambique e Guiné, respectivamente Agostinho Neto (MPLA), Marcelino dos Santos (FRELIMO) e Amílcar Cabral (PAICG)…

Tratou-se de um audiência “privada” (de que de resto não encontrei registo fotográfico: o Vaticano terá procurado ser cauteloso e discreto), ocorrida no dia 1 de Julho de 1970. Os três dirigentes nacionalistas encontravam-se em Roma, por ocasião da "Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas”…

Como seria de esperar, o Governo Português reagiu como tinha que reagir:  ou seja, de maneira consequente com a sua política do "orgulhosamente sós", mostrando-se indignado e chamando a Lisboa o seu representante na Santa Sé. Em vão: a diplomacia do Vaticano não deu satisfação às exigências de reparação (moral) à Nação fidelíssima… Os tempos eram outros e, senão os novos ventos, mas pelo menos a nova brisa que soprava do Concílio Vaticano II, não desapareceu com a morte  do popularíssimo Papa João XXIII.

Já em 1964, a deslocação de Paulo VI, a Bombaím, na Índia, tinha causado mal estar entre os fiéis do regime de Salazar. Em 1967, Paulo vem discretamente a Fátima como peregrino. Em 29 de Outubro desse ano redige a Carta Apostólica Africae Terrarum (Terras de África). Entre diversos públicos-alvo, há uma mensagem para os novos dirigentes políticos, saídos das independências, cujo teor também não deve ter agradado aos sectores mais intransigentes do regime em matéria de política ultramarina:

(…) A Voi, Governanti d’Africa, la grave responsabilità di operare per il consolidamento delle istituzioni sorte con l’indipendenza dei vostri Paesi. A voi compete il rinnovare e l’interpretare, in senso moderno, gli antichi valori della tradizione africana. Da voi dipende il formulare, il perfezionare e l’eseguire la legislazione sulla quale si ordina la vita presente dell’Africa. In ciò Noi siamo sicuri che vi guiderà sempre il desiderio del vero bene del popolo. Siate cercatori della pace, pronti al dialogo e ai negoziati più che alla rottura e alla violenza, memori della tradizione sociale più autentica dell’antica Africa, che era quella di trattare. (…)

Mas em 1970 a diplomacia portuguesa terá sido apanhada de surpresa. A audiência papal (mesmo privada...) a três inimigos declarados do “colonialismo português”,  deixou o Governo de Marcelo Caetano em estado de choque. Não eram apenas inimigos políticos: eram homens que chefiavam movimentos de luta armada...As repercussões internacionais deste acontecimento só poderiam ser negativas. Internamente, legitimavam e encorajavam ainda mais as vozes da oposição democrática (e não só) que reclamavam soluções políticas para o conflito ultramarino.

A imprensa portuguesa “situacionista” amplificou os ecos dessa indignação. O título de caixa alta do Diário de Notícias, de 5/7/1970,  era sugestivo. O Papa é acusado de “receber terroristas responsáveis pela chacina de milhares de cristãos” (sic).

Nessa altura eu estava em comissão de serviço na Guiné... Já não me recordo exactamente se em  Julho de 1970 estava de férias, na Metrópole, ou se estava em Bambadinca… Presumo que a notícia tenha caído mal no CTIG, na própria entourage de Spínola, empenhado no sucesso da política “Para uma Guiné Melhor”.

Provavelmente, nesta altura ainda havia alguns ilusões sobre a liderança política de Marcelo Caetano … Deopis da fraude eleitoral de Outubro de 1969,  poucos teriam ilusões sobre a "primavera política" marcelista... Entre as revistas e jornais que eu recebia (entre eles, o Comércio do Funchal e o Notícias da Amadora…), tenho a ideia de que o assunto (a audiência papal aos três dirigentes nacionalistas) terá passado, com discrição, no “exame prévio” (nova designação da censura)… Mas julgo que a notícia, em si,  não teve grandes repercussões no meio militar, quer entre os oficiais do quadro quer entre os milicianos… Em contrapartida, este sucesso diplomático foi habilmente explorado por Amílcar Cabral e pela propaganda do PAIGC.

Diga-se, en passant, que qualquer coincidência entre a edição deste poste e a visita,  de Estado,  iniciada hoje (e que vai até ao dia 14), pelo Papa Bento XVI ao nosso país, é mera coincidência. Por razões estatutárias, não devemos (nem podemos) discutir aqui questões da actualidade política dos nossos dois países, Portugal e a Guiné.  Neste caso, trata-se apenas de uma efeméride, relevante para a historiografia da guerra colonial. (*)  (LG)

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Nota de L.G.:


terça-feira, 11 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6373: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (12): Algumas aventuras em Bissau

De Empada a Bissau - 2

por Arménio Estroninho(ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70)

Algumas aventuras em Bissau

Serviço efectuado como o previsto, inicia-se o desenrolar dos meus planos com algumas situações imprevistas.

Saíra do Quartel dos Adidos e não apresentara a guia de marcha, escudando-me como antes disse, pois tratava-se de fim de semana e para o efeito me favorecera. Desenfiei-me e fui procurar local para hospedagem. Tendo encontrado o que pretendia, voltei com o fim de ir buscar as minhas malas, caixas e sacos, não havendo qualquer problema.

Hospedei-me na Pensão Regional, a qual se localizava numa rua onde terminava o alcatrão (Foto 8) e começava a terra batida do Pilão (hoje, Cupelon de Cima, situada num cruzamento da nova Av. da Cintura). Um camarada orientou-me, e a partir dai de preferência a roupinha civil era para vestir, evitar de ser interpelado pela polícia civil e/ou militar, não me meter em situações de distúrbios e/ou rusgas.

Foto 8 > Bissau > 1970 > Cintura do Pilão > Av. da Cintura > Pensão Regional > Era um estabelecimento onde muitos se hospedaram, com aceitáveis condições. Para quem estava habituado a pouco “chamava-lhe um figo.”

Não é que o Arménio encontra uns companheiros estudantes de Silves, entre eles o José Júlio Franco, ex-Fur Mil, que tinha chegado de férias da Metrópole (foto9). Certa noite do mês de Fevereiro de 1970, com os amigos antes encontrados, lá fomos parar a uma Verbena. Era tipo feira das tasquinhas (comes e bebes) e divertimentos, estava montada junto ao estádio de futebol Sarmento Rodrigues (foto 10), pelo que presumo que a dita era organizada pela UDIB. Não sei como nem porquê, deram-se umas tricas com uns cabo-verdianos que eram “protectores” das bajudas de uma barraca das setas, e com os meus argumentos tentei acalmá-los. Mas quem estava também a ver a situação era um PSP em serviço no local, que em tempo tinha sido nosso colega de Escola Primária em Lagoa. Era alentejano e tinha a alcunha do “Polícia.” Antes que houvesse problemas com as palavras e se chegassem a vias de factos, despedi-me por não ser conveniente ali estar, dando uma justificação qualquer, pondo-me ao fresco que já se fazia tarde. Ufa, que desta já me safei.

Foto 9 > Bissau > 1970 > Praça da Fortaleza da Amura > Eu e um amigo de infância, o ex-Fur Mil, José Júlio Franco que pertencia à CCaç 6, 1969/70, colocada em Bedanda. Íamos para o Bar-Esplanada “O Pelicano.”

Foto 10 > Bissau > 1970 > Estádio Sarmento Rodrigues (Estádio Lino Correia) > Jogo de futebol entre o Sporting de Bissau e a UDIB, com transmissão radiofónica. Se a memória não me falha, quem fazia o relato era o Carlos Soares (está numa mesa). Vemos à esquerda, a zona onde se localizava a Verbena e o Cinema UDIB.

Em 28 de Fevereiro de 1970, atracou no Porto de Bissau a Lancha LDM 105, a qual era tida como proveniente de Empada onde vinha a CCaç 2381 “Os Maiorais.” (fotos 11).

Foto 11 > Bissau > 1970 > Porto e Cais de Pidjiguiti > Chegada da minha Companhia. Estou a cumprimentar o ex-1.º Cabo Pinheiro. O camarada que aparece entre nós é o Soldado “O Galhordas.”

Vinham destinados ao Quartel dos Adidos em Brá (foto 12), a fim de a aguardarmos embarque para a Metrópole que estava previsto para meados de Março. Foi no entanto adiado devido a atrasos por avaria e/ou sabotagem do NTT Niassa.

Com a chegada da Companhia, logo que possível, dirigi-me ao 2.º Sargento Monteirinho e regularizei a situação da guia de marcha. Obrigado Monteirinho e “paz à tua alma.”

Foto 12 > Bissau > 1970 > Porto de Bissau - Cais do Pidjiguiti - LDM 105 > Transferir para o Cais os haveres. Dentro da Lancha está o Soldado Carvalho de Azevedo, “O Condeixa”, e em primeiro plano “O Turra.”

Certa noite do mês de Março, andava eu na rambóia por Bissau, um dos muitos grupos de camuflados à paisana (seis Alferes, dois Furriéis e um 1.ºCabo) entre eles o ex-Alf Mil Joaquim Barbosa (foto 13), paz à sua alma, e eu ex-1.º Cabo. Um dos alferes tinha um automóvel e então alugou-se também um táxi, com a finalidade de irmos jogar “O Bingo” na Esplanada da Messe dos Oficiais, em Santa Luzia (hoje, Hotel 24 de Setembro).

A parte complicada para entrar na porta de armas, foi acertada de forma que nas viaturas, nos bancos da frente, iriam os oficiais para que com os respectivos cartões se identificassem aos sentinelas. Quem não era Oficial se lhe fosse solicitada a identificação, era-lhes dito que a deixara no Quartel. Entramos como o planeado e sem qualquer problema.

Foto 13 > Bissau > 1970 > Bar-Esplanada “O Pelicano > Em plena cavaqueira, cá o rapaz, o ex-Alf Mil Barbosa e dois camaradas do nosso conhecimento de ocasião

Já na esplanada do Bingo da Messe de Oficiais, estávamos todos sentados em duas mesas e devidamente compenetrados a jogar. Não tive intenção de o fazermas fi-lo só o foi para evitar qualquer suspeição.

No decorrer de um jogo, faltava-me um número para preencher o cartão e fazer Bingo. Fiquei aflito porque tinha presenciado que ao completar, se tinha que apresentar o cartão premiado, dizer o nome, o posto militar e o Serviço a que pertencia, e assim, era dada a divulgação através do equipamento sonoro. Devido ao posto que eu tinha, era-me interdita a permanência em zona de lazer de Oficiais. Assim, a solução foi de fazer a permuta, disfarçadamente, dos cartões com o ex-Alf Mil Barbosa e ser ele a tomar conta do meu jogo.

Que embrulhada onde eu estive metido, coisa que poucos provavelmente fizeram. Tudo decorreu a contento, mas sempre “bate-bate o coração.” Ai o RDM..!

Enquanto aguardávamos o embarque para o regresso, o CMDT da CCaç 2381, “Os Maiorais,” Capitão Mil Grd Eduardo Moutinho (hoje, Advogado na cidade do Porto), ofereceu um jantar convívio e de despedida, no Restaurante ”O Solar dos 10.” Foram também oferecidos algumas dezenas de milhares de Pesos, os quais eram provenientes dos prémios sobre cerca de meia tonelada de diverso material de guerra e que a nossa Companhia tinha capturado ao IN.

Finalmente em fins de Março de 1970 é chegado o NTT Niassa, tendo presenciado o desembarque de mais de dois mil militares, não reconhecendo nenhum.

No dia seguinte dirigi-me ao Quartel dos Adidos, para procurar conterrâneos, mas só encontrei o “Xico da Quinta do Lobo” (foto 12). As outras Companhias já se tinham “pirado” para o IAO.

Foto 14 > Bissau > Brá > Quartel dos Adidos > Março de 1970 > Nos Adidos com um camarada e colega de escola, o ex-Fur Mil Francisco Cabrita da Silva, natural de Lagoa e residente em Silves, acabadinho de chegar no NTT Niassa.

E assim a minha permanência em Bissau aproximava-se a passos largos do fim e com ela o final da comissão de serviço. Por conseguinte serão realizados eventos que antecedem a viagem de regresso no NTT Niassa.

Com um grande abraço para todos os bloguistas, deste algarvio que se subscreve,
Arménio Estorninho
1.º Cabo, Mec. Auto Rodas
CCaç 2381 “Os Maiorais”
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Nota de CV:

Vd. poste de 9 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6352: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (11): De Empada a Bissau no Batelão Corubal, acompanhando os restos mortais do camarada Mário Caixeiro

Guiné 63/74 - P6372: (Ex)citações (70): Obrigado a todos os que me ajudaram a (re)conhecer o meu pai (Marisa Tavares, Toronto, Canadá)


1. A Marisa Tavares mandou-nos, por mail,  ontem o seguinte comentário ao poste sobre o Alcides Silva (*):

Não tive muitos anos com ele [, o meu pai, Júlio Tavares, ex-Sold Cond Auto, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69, aqui na foto, à esquerda]. Era muita  menina quando ele morreu [, em 1986, no Canadá, para onde emigrara em 1975].. Lentamente,  com a ajuda dos seus amigos, eu estou a descobrir o homem que ele era. Um grande amigo (?) às pessoas do mundo inteiro.

Agradeço  a todos os que me ajudaram a  (re)conhecer o meu pai.
Obrigada.

Marisa


2. Demos conhecimento ao Alcides Silva (bem como ao Victor Condeço, ambos da CCS / BART 1913, Catió, 1967/69, camaradas do Júlio Tavares, o Madragoa) (**)

Alcides: Estás a ver o "milagre" que provocaste ? É uma mensagem da filha do nosso camarada, que te agradece... Ela é enfermeira no Canadá. A sua língua principal é o inglês. Quando o pai morreu, era pequena [, tinha seis anos]. Se quiseres, escreve-lhe, na língua de todos nós que ela entende.

 Leste o nosso  poste (*)  ?

Um Alfa Bravo (ABraço). Luis.

PS - Não te esqueças das "tuas" fotos para a "montra" da Tabanca Grande

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Notas de L.G.

(*) 10 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6365: Tabanca Grande (217): Alcides Silva, ex-Sold Cond Auto, amigo do Madragoa (Júlio Tavares), CCS / BART 1913, Catió, 1967/69

 (**) O Victor, infelizmente, não está a passar bem, enfrentando algumas problemas de saúde. Vamos fazer votos para que ele nos dê  boas notícias dentro em breve. Força, Victor!

Guiné 63/74 - P6371: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (17): Devolver os corpos às famílias e Bibliografia

1. Recordemos parte da mensagem do nosso camarada Daniel Matos (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74), datada de 3 de Março de 2010:

Caro Camarada
Conforme prometi, aqui estou a "pagar o ingresso" e a enviar as fotografias para formalizar a adesão à Tabanca Grande.
Junto também o prometido texto, em "word", reconhecendo que tem uma dimensão desapropriada para o blogue, mas vocês utilizá-lo-ão (ou não) como melhor entenderem.
[...]
Cumprimentos
Daniel de Matos



No dia 16 de Março de 2010 começámos então a publicar este importante documento, que hoje tem o seu fim, e que narra os acontecimentos trágicos vividos em Guidaje em Maio de 1973.


Os Marados de Gadamael

e os dias da Batalha de Guidaje


Parte XVII

por Daniel de Matos


Devolver os corpos às famílias

Agradecimentos

A exumação dos restos mortais dos dez (depois, onze) militares que se encontravam no cemitério de Guidaje foi efectuada no âmbito de uma operação que envolveu a Liga dos Combatentes, o Ministério da Defesa, a Universidade de Coimbra e o Instituto de Medicina Legal. Uma equipa liderada por Eugénia Cunha, antropóloga forense da Universidade de Coimbra, procedeu ao levantamento e identificação das ossadas entre 7 e 21 de Março de 2009 e posteriormente, após as análises genéticas, trasladadas para o Cemitério Municipal de Bissau (talhões da Liga dos Combatentes).

Os restos mortais de alguns desses camaradas, (os que viriam a ser reclamados pelas famílias, nomeadamente o Machado e o Telo, d’Os Marados, o Geraldes e os três pára-quedistas já referidos anteriormente) foram trasladados para os cemitérios das respectivas terras de origem.

As trasladações ficaram a dever-se ao trabalho empenhado de diversas pessoas e entidades, a quem se deve um agradecimento mais do que justo.

É o caso da União Portuguesa de Pára-quedistas (UPP, dirigida pelo major-general pára-quedista Avelar de Sousa, na reserva) que desde o início assumiu a responsabilidade das despesas para transladar os corpos dos três pára-quedistas e dos militares do exército reclamados pelas respectivas famílias. A par da Liga dos Combatentes, foram mobilizados apoios diversos que se revelariam decisivos para as trasladações sem envolver financeiramente as famílias, mormente junto de uma empresa funerária e da TAP Portugal.

No que diz especificamente respeito a José Lourenço, de Fornos, Cadima, foi efectuada uma campanha de recolha de fundos pela Associação de Veteranos de Guerra da Região Centro (sede em Cantanhede).

Manuel Godinho Rebocho, ex-sargento pára-quedista que foi operacional na Guiné, (Maio de 1972/Julho de 1974), hoje sargento-mor pára-quedista na reserva, entretanto doutorado pela Universidade de Évora em Sociologia da Paz e dos Conflitos (tese de doutoramento: "A formação das elites militares portuguesas entre 1900 e 1975"), ao aproveitar inteligentemente o lema dos páras “ninguém fica para trás”, empenhou-se neste objectivo e incentivou a campanha pró-trasladação. De facto, se existem 4.000 sepultados em cerca de 400 lugares nas ex-colónias, das quais, 1250 nascidos nas actuais fronteiras de Portugal, o mediatismo da Batalha de Guidaje e a campanha que a partir de determinada altura foi feita no mesmo sentido, terão contribuído para que fossem estes, e não outros, os primeiros corpos a serem oficialmente exumados e trasladados para Portugal.

Também as Câmaras Municipais de Cantanhede, Castro Verde, Vila do Conde, Vimioso, Calheta e Valpaços manifestaram (e concretizaram) apoios para o sucesso da operação.

A missão da Liga dos Combatentes é levantar os corpos que se encontram dispersos por esses matos fora e colocá-los em cemitérios que tenham dignidade, zelando pela manutenção dos mesmos. É uma tarefa tão nobre quanto morosa, difícil e dispendiosa. E igualmente insuficiente, pois aquilo que o Estado Português deve fazer é providenciar (e custear por inteiro) a devolução desse corpos às famílias, excepto se estas decidirem em contrário! Urge criar-se um movimento de ex-combatentes, e não só, que arrume a questão de vez, quanto aos mortos que jazem além-fronteiras, especialmente em solo africano. Sendo verdade que existem centenas de casos desde a 1.ª Grande Guerra (Bélgica, etc.) a que a Liga quer deitar mãos, o facto é que quase ninguém se lembrará hoje em dia de reivindicar esses corpos para fazer funerais aos tetravós. Mas aqueles, cujos pais (irmãos, filhos, outros familiares e amigos) ainda estão vivos, têm de merecer um outro tratamento. Os que caíam na guerra até 1968 não vinham, ficavam em cemitérios militares, salvo se as famílias cobrissem as despesas (mais uma vez a protecção aos mais poderosos, aos de maior poder económico). Porém, os cemitérios, ou talhões militares, normalmente nas capitais de distrito ou de província, eram minimamente decentes e cuidados, não o lamaçal do mato. Depois de 1969, creio que após a morte de Salazar, o Estado passou a custear o regresso dos mortos salvo, quando por razões operacionais, foi de todo impossível fazê-lo, como em Guidaje. Mas, por exemplo, com que coerência pode o Estado negar os encargos da trasladação do Telo e do Machado, se providenciou em devido tempo a entrega à família do corpo do soldado Jorge Gonçalves, que morreu em consequência da mesma granada e no mesmo abrigo? (A diferença foi que o Gonçalves sucumbiu aos ferimentos mais algumas horas e ainda conseguimos transportar o seu cadáver para Bissau, enquanto que Telo e Machado tiveram o destino que é conhecido).


Bibliografia

A PIDE/DGS na Guerra Colonial (1961/74), Dalila Cabrita Mateus, 2004, Terramar.

Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume – Mortos em Campanha, Tomo II Guiné – Livro 2, Estado-maior do Exército, 2001, Comissão para o Estudo das Campanhas de África.

História da Guiné e Ilhas de Cabo Verde, PAIGC – 1974, Afrontamento

Crónica da Libertação, Luís Cabral, Edições O Jornal/1984

Textos Políticos de Amílcar Cabral Cadernos Maria da Fonte

Guinée “Portuguaise”, Le Pouvoir des Armes, Amílcar cabral, Cahiers Libres, 1970

Comemorações Centenárias da Guiné – Discursos e Alocuções, Eng.º Ruy de Sá Carneiro (Subsecretário de Estado das Colónias), Agência Geral das Colónias, 1947

A Libertação da Guiné, Basil Davidson, Penguin Books, 1969 e Sá da Costa, 1975

Os Congressos do Povo da Guiné, Manuel Belchior, Arcádia, Agosto de 1973

Quem Mandou Matar Amílcar Cabral? José Pedro Castanheira, Relógio d’Água, 1995

Três Tiros da PIDE, Oleg Ignatiev, Prelo

Amílcar Cabral, Oleg Ignatiev, Edições Progresso (Moscovo)

Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné – http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

vários testemunhos e depoimentos, entre os quais:

ex-furriel miliciano José Afonso, da CCav3420

ex-primeiro-cabo pára-quedista Victor Tavares, da CCP 121

ex-1º cabo comando da 38ª CCmds (Os Leopardos) Amílcar Mendes (Brá, 1972/74)

ex-primeiro-cabo Manuel Marinho, da 1ª companhia do BCaç 4512 (Nema)

ex-coronel Pilav Miguel Pessoa (reformado)

ex-comandante do navio Orion, Pedro Lauret

Guerra Colonial/Associação 25 de Abril

http://www.blogger.com/www.balagan.org.uk/war/portuguese-colonial-war/cazadores4512.htm (sítio do BCaç 4512)

http://www.blogger.com/www.guerracolonial.org

http://ultramar.terraweb.biz/

http://guerracolonial.home.sapo.pt/

http://ci.uc.pt//cd25a/wikka.php?wikka=guerracolonial

http://www.blogger.com/www.rtp.pt/guerracolonial

http://www.blogger.com/www.ensp.unl.pt/lgraca/guine_guerracolonial_historia.html
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Nota de CV:

Vd. todos os postes da série de:

16 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6000: Os Maradados de Gadamael (Daniel Matos) (1): Por onde andaram e com quem estiveram?

18 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6014: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (2): Levar a lenha e sair queimado

20 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6027: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (3): Os dias da batalha de Guidaje - Antecedentes à nossa chegada

24 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6041: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (4): Os dias da batalha de Guidaje, 15 a 18 de Maio de 1973

30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6069: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (5): Os dias da batalha de Guidaje, 19 de Maio de 1973

2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6090: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (6): Os dias da batalha de Guidaje, 20 e 21 de Maio de 1973

5 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6108: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (7): Os dias da batalha de Guidaje, 22 e 23 de Maio de 1973

14 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6154: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (8): Os dias da batalha de Guidaje, 24, 25 e 26 de Maio de 1973

18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6178: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (9): Os dias da batalha de Guidaje, 27 e 28 de Maio de 1973

21 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6201: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (10): Os dias da batalha de Guidaje, 29 e 30 de Maio de 1973

24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6235: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (11): Os dias da batalha de Guidaje, 31 de Maio e 1 a 12 de Junho de 1973

27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6255: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (12): Os três G e a proclamação da Independência

30 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6283: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (13): Baixas da CCAÇ 3518 em Guidaje

3 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6307: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (14): Cemitérios de Guidaje e Unidades mobilizadas na Madeira

7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6334: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (15): Hino de Os Marados, Dedicatória e Balada dos Amigos Separados

9 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6351: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (16): Composição da CCAÇ 3518

Guiné 63/74 - P6370: Blogpoesia (72): Escondam-se que eles vêm aí (Albino Silva)

1. Mensagem de Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 6 de Maio de 2010:

Escondam-se que eles vêm aí.

Pois é Carlos Vinhal.
Este é o grito de um camarada da CCaç 2367, do meu Batalhão, de quem há tempos tive a informação de que estava sendo difícil para a familia, porque a qualquer hora da noite, era o grito deste camarada e ex-Soldado.

De facto conheço a causa de ele se encontrar assim, pois em parte assisti ao lamentavel acontecimento.

Por ele e por outros camaradas na mesma situação infelizmente, é que eu quis escrever todo este conteúdo para a Tabanca Grande, como me dá mais geito e vontade, voltei a escrever em poemas.

Assim até creio que desperta mais vontade de ler a qualquer leitor da nossa Tabanca, que sei não é só vista por ex-Combatentes, mas também por familiares e outras pessoas que gostam e admiram nosso trabalho, apreciam nossos lamentos, ao mesmo tempo que vão aprendendo a história do nosso passado, e também confirmando aquilo que nós já havíamos dito.

São estas coisas em que penso no meu dia a dia, procurando encorajar aquele camarada de quem estou mais perto, e que sei que após um tempinho em sua companhia lhe tenho dado a coragem suficiente para esquecer traumas de um passado triste.

É pois tudo o que tenho a dizer por hoje, continuarei por minha parte com todo o empenho a fazer crescer a Nossa Tabanca.

A toda a equipa que me vai aturando, o meu agradecimento e um grande abraço, este a ser distribuído por todos os tertulianos e visitantes da nossa tabanca.

Albino Silva,
Ex-Sold Maq
Esposende


Escondam-se que eles vêm aí

Foi na Guiné que lutamos – Nossa Pátria defendemos
Por Portugal e Soldados - E tudo aquilo que sofremos …

Rapazes com vinte anos - Habituados ao lar
Portugal estava em perigo - E fomos para a Guiné lutar …

Com a nossa juventude - Deixamos família e a terra
De camuflado e G3 - Assim nos mandaram para a guerra …

A Guiné era difícil - Toda a Guiné era um perigo
Um território pequeno - E em todo o lado inimigo …

Eram tantos os ataques - Eram muitas emboscadas
Eram armadilhas na mata - Eram minas nas estradas …

Atacavam os mosquitos - Sem nos deixar descansar
Eram enxames de abelhas - Que nos faziam desesperar …

Eram rações de combate - Tantas vezes o nosso comer
Era o calor e a sede - Sem ter água para beber …

Eram chuvas tropicais - Ou era calor de assar
Eram rios e bolanhas - Que tinhamos de atravessar …

Era o pernoitar nas matas - Cansados das caminhadas
Sentindo o frio da noite - Quando havia cacimbadas …

Com os nossos vinte anos - No palco da guerra então
Muitos de nós sem ter cama - Dormindo debaixo do chão …

Com os nossos vinte anos - Coisas más que nós tivemos
Naquela guerra metidos - Só Deus sabe o que sofremos …

Com os nossos vinte anos - Na Guiné a combater
Ver camaradas feridos - Ver camaradas morrer …

Depois que a guerra acabou - Deixamos de ser soldados
Sem nunca curar as feridas - Ficamos traumatizados …

Há casos que eu conheço - Em camaradas que são
Uns da minha Companhia - Outros do meu Batalhão …

Com muitos anos passados - Cada um em sua terra
Não descansam nem de noite - Por tanto pensar na guerra …

Escondam-se eles vêm aí - Não deixam ninguém descansar
Com pesadelos que vivem - E não param de gritar …

São camaradas que sofrem - Por a guerra não esquecer
Muitos ainda se julgam - Na Guiné a combater …

São camaradas que sofrem - Muitos deles estão mal
E como eles a familia - Que com eles sofre igual …

Camaradas que conheço - Dos quais eu vejo sofrer
Traumatizados da guerra - Que não conseguem esquecer …

Muitos estão bem doentes - Sem puderem trabalhar
Vão sofrendo e nada dizem - Só pensam no ultramar …

Fazem sofrer a familia - Que nada podem fazer
Já vivem também em trauma - No dia a dia a sofrer …

Já são longos os anos - Em que a guerra acabou
Deixamos as fardas e armas - Mas o stress ficou …

Continuo a lamentar - A Pátria que não nos conhece
Já não precisam de nós - A Pátria de nós se esquece …

Esta Pátria portuguesa - Ao pouco nos esta a matar
Porque apenas quer de nós - Impostos para pagar …

Eu não fico espantado - Pela Pátria nada dar
Àquele que combateu - Na guerra no ultramar …

Nós fomos bons portugueses - Pois a Pátria defendemos
A mesma que nos faz pagar - Aquilo que nós não temos …

Esta Pátria que nos despreza - E nem sequer nos quer ver
Só nunca se esqueceu de nós - Quando nos mandou combater …

Já com tantos governantes - Dos quais guardo em memória
Não sabem o que foi a guerra - Não conhecem nossa História …

Não conhecem os heróis - Ainda nos tratam mal
São assim os governantes - Deste nosso Portugal …

Talvez até tenham razão - Mas calado nunca fico
O que nos pertence a nós - É para um ministro mais rico …

Camarada mutilado - Mesmo com trauma ou stress
A Pátria nos esqueceu - A Pátria nada merece …

A Pátria nos abandonou - Nós que fomos lutadores
De nós só querem os votos - Pois são eles os caçadores …

Como tu fui combatente - Também lutei com coragem
Da guerra que não ganhei - Apenas a camaradagem …

Para ti meu camarada - Que deixaste de combater
Morreste sem seres HERÓI - Mas nunca te irei esquecer …

No Serviço de Saúde - Na Guiné estava eu
Albino Silva Soldado - Que tudo isto escreveu …

A todos deixo um abraço - Mas a todos sem excepção
Ex-combatentes como eu - Na defesa da Nação …

E ficas sabendo camarada - Que aqui só tem valor
Aquele que nada fez - Seja o cobarde e traidor …

Deixo aqui o meu lamento - Por ti o deixo também
Fomos úteis para a Pátria - Agora não somos ninguém …


Por: Albino Silva
Sold Maq 011004/67
Guiné, Teixeira Pinto
1968/70
SPM 4948
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6344: Convívios (148): Pessoal da CCS, CCAÇ 2366 e CCAÇ 2367 do BCAÇ 2845, ocorrido no dia 1 de Maio em Buarcos (Albino Silva)

Vd. último poste da série de 29 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6275: Blogpoesia (71): Giselda, o anjo que vinha do céu (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P6369: Memória dos lugares (79): Bissau, cidadezinha colonial (Parte II) (Agostinho Gaspar / Luís Graça)


Guiné > Bissau > s/d > Vista aérea parcial e Ilhéu do Rei. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 142". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal,  Imprimarte -  Publicações e Artes Gráficas, SARL).



Guiné > Bissau > s/d > Vista aérea de Bissau. Ao centro, o Palácio do Governo e a a Praça do Império. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 118". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal,  Imprimarte -  Publicações e Artes Gráficas, SARL).


Guiné > Bissau > s/d > Vista aérea da Ponte Cais, Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 119" . (Edição Foto Serra, COP 239 Bissau. Impresso em Portugal,  Imprimarte -  Publicações e Artes Gráficas, SARL).



Guiné > Bissau > s/d > Ponte-cais, Bissau.  Em primeiro, vê-se o monumento a Diogo Cão. Bilhete Postal, colecção "Guiné Portuguesa, 110". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal,  Imprimarte -  Publicações e Artes Gráficas, SARL).


Guiné > Bissau > s/d >  Casa Carvalho, Rua Laminé Injai, 63/71, Bissau - Guiné Portuguesa. Em cima, à esquerda, vê-se o monumento a Teixeira Pinto; e à direita, o Palácio do Governador, e o Monumento ao Esforço da Raça, na Praça do Império. (Edição ANCAR, Caixa Postal 314, Tels 3871/2/3, Telegr. "ANCAR").


Guiné > Bissau > s/d > Sem legenda: Av da República ? (Hoje, Av Amílcar Cabral) >  Ao fundo, o Palácio do Governador, e a Praça do Império; do lado direito, a Catedral de Bissau  (Edição Comer, Trav do Alecrim, 1 -Telef. 329775, Lisboa).

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).


Continuação da publicação de alguns postais da Guiné, da colecção do nosso camarada, natural do concelho de Leiria, Agostinho Gaspar (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74) (*).

Pede-se aos nossos leitores para completarem, reverem ou melhorarem as legendas, identificando monumentos, ruas, lugares ou contando pequenas histórias associadas a Bissau... Alguém tem um mapa da cidade de Bissau anterior à Independência ? Se sim, agradecíamos que nos mandassem uma cópia digitalizada... (LG)



Guiné-Bissau > Bissau, capital do país. Planta da cidade, pós-independência. Pormenor


Cortesia do nosso camarada e amigo  A. Marques Lopes (2005)


___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

Guiné 63/74 - P6368: O Spínola que eu conheci (20): "Erros graves cometidos do ponto de vista de segurança explicam o êxito da emboscada do IN, em 26/11/1970, na região Xime-Ponta do Inglês [, Op Abencerragem Candente] " (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)



Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74), Os Unidos de Mampatá  > Maio de 1974 > Um bigrupo do PAIGC, a caminho de um encontro (desta vez, pacífico) com o pessoal aquartelado em Mampatá.  

Em 26 de Novembro de 1970, por volta das 8h50, no decorrer da Op Abencerragem Candente, a CART 2715 e a CCAÇ 12 sofreram uma violenta emboscada, de que resultaram 6 mortos, 9 feridos graves e um número indeterminado de feridos ligeiros entre as NT... Quinze dias depois, Spínola visita o aquartelamento do Xime (CART 2715) e tece duras críticas ao comando do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

Foto: © José Manuel Lopes (Josema)  (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada (alcatroada) Bambadinca - Xime > Chegada ao Xime, em 9 de Março de 1974, da CCAÇ 3491 (Dulombi,  1971/74), para embarque em LDG a caminho de Bissau. A esta companhia pertencia o nosso camarada Luís Dias.  O Xime era a porta de entrada na zona leste...

Foto: ©  Luís Dias  (2008). Direitos reservados. (com a devida vénia...)

Continuação da publicação do Despacho do Com-Chefe, de 7/1/1971, relativo à visita de inspecção ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), um documento de 12 páginas (*)



7. Visita a Xime em 12dez70 

- A impressão colhida na inspecção à Companhia do Xime [, CART 2715, ] foi má.

- O Comandante da Companhia  revelou uma muito precária preparação táctica para conduzir a sua subunidade no mato, nomeadamente no que toca a noções elementares de segurança.

Com base na descrição que me foi feita da acção realizada em 26 de Novembro [de 1970]  na região Xime-Ponta do Inglês [, Op Abencerragem Candente,] (**), conclui que o êxito da emboscada do IN se deve fundamentalmente a erros graves cometidos pelos Comandos de Batalhão [na altura o comandante interino era o Major de Artilharia José António Anjos de Carvalho ] e Companhia, do ponto de vista de segurança. Ao primeiro por ter marcado um itinerário a percorrer numa operação,  tirando iniciativa ao Comandante da Companhia, e ao segundo por não se ter deslocado em adequado dispositivo.

É evidente que uma força que se desloca no mato por uma picada [a antiga estrada Xime-Ponta do Inglês] constitui um objectivo altamente vulnerável para uma emboscada.

Encontrei a Companhia com fraco moral em consequência das baixas sofridas (**), e não encontrei por parte dos Comandos a determinação de cumprir a missão cometida às forças emboscadas. Uma emboscada é um incidente e não pode nunca constituir motivo impeditivo do cumprimento de uma missão.

O Comando do Batalhão deveria ter imediatamente, com reforço ou não, providenciado no sentido de no mais curto prazo de tempo ter sido reconhecida a região de Ponta do Inglês (objectivo da operação). (***).

- O Comando da Companhia [CC] desconhecia a quem competia a responsabilidade da área do Destacamento do Enxalé durante o espaço de tempo em que aquele Destacamento esteve temporariamente dependente do CC; assim como também não teve conhecimento da altura em que cessou aquela responsabilidade.

É incompreensível tal situação.

- O Comandante de Companhia queixou-se que passam barcos de noite no Xime sem que este tenha conhecimento, o que dificulta o cumprimento da sua missão. Este problema deveria já ter sido coordenado pelo Comandante de Batalhão, ou posto superiormente.

- Não tem sido respeitada a orgânica das subunidades.

A Companhia do Xime foi reforçada com 1 Grupo de Combate de Mansambo [CART 2714] que foi desmembrado, ficando o seu Comandante no Xime a comandar uma secção, e tendo sido destacadas para o Enxalé duas Secções. Essa solução carece de lógica e afecta os laços orgânicos.

- Há que averiguar as condições em que está a ser pago,  com carácter permanente, pessoal nativo destinado a “picagem”, pois não é permitida a utilização de pessoal nativo a título permanente (O Tenente-Coronel Robin esclarecerá este assunto).

- A tabanca de Xime não tem chefe. O Comandante do Batalhão já devia ter levantado este problema junto da Administração.

- Verificou-se que a Companhia não emprega minas e armadilhas, especialmente em zonas onde não há população, o que não tem justificação, face à carência de meios disponíveis.

- A população da tabanca [do Xime] encontra-se completamente entregue a si própria, desconhecendo o que terá de fazer em caso de ataque e apresentando as suas armas em estado manifestamente precário de limpeza, nem tão pouco as sabendo utilizar. Não há qualquer plano de defesa da tabanca.

- O Comandante da Companhia desconhecia o plano de tráfego de canoas no Rio Geba, o que é inadmissível. Como é possível controlar o tráfego quando se desconhecem os respectivos condicionamentos (zonas amarela, azul e vermelha) ?

- O plano de defesa do Xime necessita de ser elaborado em novas bases, em ordem a englobar a defesa da tabanca.

- Não está a ser tirado rendimento da mobilidade da Artilharia [, 20º PEL GAC 7, operando o 0bus 10.5, ] que se deve deslocar por entrada para apoiar operações nas zonas nevrálgicas.

-Os abrigos da defesa encontram-se concentradas em determinadas zonas em detrimento de defesa global do quartel e tabanca.

- Não está a ser tirado rendimento da metralhadora Breda que se encontra mal localizada.

- Na missão atribuída à Companhia refere-se que deve colaborar na defesa de Bambadinca. Como ? (pp. 5/8).
_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6335: O Spínola que eu conheci (19): "Fiquei francamente mal impressionado com a visita à Companhia sediada em Mansambo" (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

(**) Desta emboscada  resultaram 6 mortos (quase uma secção inteira, massacrada)  e 9 feridos graves... Os mortos foram o guia e picador da CCS / BART 2917, Seco Camará (natural e residente no Xime, mandinga); e, da CART 2715, o Fur Mil Joaquim de Araújo Cunha, 1º Cabo José Manuel Ribeiro, o Sold Fernando Soares, o Sold Manuel da Silva Monteiro e o Sold Rufino Correia de Oliveira. 

(***) Vd. postes de:

26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1317: Xime: uma descida aos infernos (1): erros de comando pagam-se caros (Luís Graça)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6367: Em busca de ... (132): Malta da CCAÇ 2436 do BCAÇ 2856 (Bissau, Galomaro, Contuboel, Fajonquito, 1968/70)


1. O nosso Camarada José Alves (ex-Fur Mil da CCAÇ 2436), que foi comandada pelo Cap Inf José Rui Borges da Costa e pertencia ao BCAÇ 2856 (Bafatá, 1968/70), deixou uma mensagem no poste P4646 da autoria do Cherno Baldé, onde mostrou o desejo de saber do pessoal da sua Companhia:
CCAÇ 2436 do BCAÇ 2856

Caro Cherno,

José Alves, ex-Fur Mil da CCAÇ 2436. Vejo que tem uma memória incrível de nomes e de quem esteve na zona de Bafatá.
De certeza que o conheci e que tive o prazer de conviver consigo, como muitos habitantes de Contubuel e Fajonquito.

Desejo a todos muitas felicidades e que nos lembremos desses tempos, com saudades e não com amargura, ou ódios.

Nunca mais consegui saber nada do pessoal da minha companhia e espero que por este meio, algum camarada apareça!

O meu contacto: zasevlas@gmail.com
Um grande Abraço,
José Alves

2. No blogue apenas se encontra uma referência a este batalhão, com data de 16 de Junho de 2007, no poste
P1852, acerca do convívio da CCS do BCAÇ 2856, que teve lugar em Alfeizerão em 2 de Junho de 2007, da autoria do Jorge Tavares (ex-Furriel Miliciano Radiomontador), Bafatá, 1968/1970, mas sem a indicação de qualquer contacto.

Guião e Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.

____________

Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P6366: Tabanca Grande (218): Armando Faria, ex-Fur Mil da CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74

1. Mensagem do nosso camarada e tertuliano Armando Faria* (ex-Fur Mil, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74), com data de 5 de Maio de 2010:

Boa noite companheiro.

Já noutra altura enviei para vós e publicaram, duas palavras sobre a CCAÇ4740.

Hoje e após as inúmeras visitas feita ao Blogue, penso que não posso continuar só pelas visitas, talvez tenha chegado o tempo de mais alguma coisa, participar.

Assim vou juntar aqui um texto que dedicarei a todos aqueles que connosco partilharam o pão e os sabores da vida que nos foi “oferecida”.

A todos vós,
Um abraço do tamanho do Cumbijã.

Armando Faria,
ex-Fur Mil da CCAÇ 4740 – Cufar – Guiné


2. Tempo de recordar amigos de sempre

Companheiro, amigo, camarada, irmão…

Muitos poderiam ser os adjectivos e os nomes chamados e bem merecidos a cada um de vós/nós, porém a todos nós basta saber que um dia, algures em algum lugar, fomos irmanados, não pelo nosso querer ou vontade própria, mas pelas circunstâncias do momento que a todos chamou, a PÁTRIA precisou de nós.

O nosso caminho vai sendo percorrido ao sabor deste tempo que nos é concedido, pachorrentamente na companhia daqueles que nos acolheram como família, dos amigos e das memórias que habitam todo o nosso ser.

Foi e será assim, as memórias do tempo que para lá ficou, dos amigos ‘deixados’ pelo caminho da vida, das alegrias e tristezas então vividas, não nos deixaram jamais.

Foi tempo de ser herói, sim, porque todos à nossa maneira o fomos, tempo de dar o melhor que tínhamos, a nossa juventude, tempo de fazer dos medos a nossa maior arma de combate e assim ganharmos a ‘guerra’ do nosso próprio medo, em suma, ser herói.

Desse tempo resta uma nostalgia de gente que connosco viveu e de uma ou outra forma nos marcou para sempre.

Gente que fomos, vida que vivemos, terras que visitamos, lugares lindos que se ficaram e da nossa memória não se esbatem, amigos que partiram para junto das suas famílias, mas que hoje queremos rever e com eles reviver as alegrias de então, não pela saudade de algo que ficou, mas pela amizade que aí se construiu.

Hoje, aqui no meu canto, sou assaltado por essas memórias e pelo que então foi um pouco a nossa vida, não pelo que alguém possa pensar de saudoso desse tempo de alguma desventura, mas, como disse, da amizade aí encontrada em pessoas nunca antes conhecidas e que se vieram a revelar de muito valor, no tempo e agora, pois é com essas memórias e ‘essas’ pessoas que hoje estamos aqui em contacto, não fora isso e nunca teríamos tido a ventura de conhecer gente que se veio a tornar tão importante para nós neste momento da vida.

Sois, como então, parte da família que me orgulho de ter, fomos heróis, vencemos os medos, conseguimos alcançar a liberdade para viver a vida que nos foi proposta viver, juntamo-nos à família e juntos hoje vivemos a alegria de sermos livres.

Somos feitos de uma massa que já não se usa muito por cá, fomos temperados na vida e para a vida por outras experiências e vivências que não nos envergonha, tivemos pais que da vida nos ensinaram o melhor e temos filhos, os que têm, que são o nosso orgulho, afinal «os filhos são a coroa de glória de seus pais» e somos o que somos porque trabalhamos para o merecer.

Hoje é tempo de reencontrar esses ‘velhos’ companheiros, É este o tempo escolhido, a hora chegada a quem dedico este momento de fim de tarde, para aqui e agora fazer minhas as palavras do poeta. Saudade.

Por aqueles que desta vida já tiveram que se ‘despedir’ elevo a Deus a minha Oração.

Um abraço, até sempre, ou para alguns de vós, até ao dia 19 Junho em Fátima, onde espero poder fazê-lo pessoalmente.

Armando Silva Faria,
Ex-Fur Mil
C CAÇ 4740
Cufar – Guiné 72/74


3. Comentário de CV:

Caro Armando Faria

No teu caso, nem precisas de boas-vindas uma vez que estás instalado na Tabanca já há algum tempo.

Apresentado que estás oficialmente, tomaste a responsabilidade de contribuir para o pecúlio deste Blogue com as tuas memórias e fotografias.

No lado esquerdo da nossa página poderás certificar-te das nossas normas de conduta, além de, através dos diversos marcadores, acederes às numerosas publicações do nosso Blogue. Clicando por exemplo no marcador CCAÇ 4740, terás acesso ao que se publicou já sobre a tua Companhia.

Posto isto, cabe-me enviar-te, em nome da tertúlia, um abraço.
O camarada e amigo
Carlos Vinhal
__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

30 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5730: Blogues da nossa blogosfera (33): Site da CCAÇ 4740 (Armando Faria)
e
4 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6311: Convívios (143): Encontro Anual da CAÇ 4740, dia 19 de Junho de 2010 em Fátima (Armando Faria)

Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6365: Tabanca Grande (217): Alcides Silva, ex-Sold Cond Auto, amigo do Madragoa (Júlio Tavares), CCS / BART 1913, Catió, 1967/69

Guiné 63/74 - P6365: Tabanca Grande (217): Alcides Silva, ex-Sold Cond Auto, amigo do Madragoa (Júlio Tavares), CCS / BART 1913, Catió, 1967/69











Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/ BART 1913 (1967/69) > Três fotos, em que aparece o Madragoa, o Sold Cond Auto Júlio Tavares, condutor de GMC... Nasceu em Lisboa em 1945 e morreu em 1986, no Canadá, para onde emigrara em 1975. Os seus pais eram de Pardilhó, Estarreja. Quando jovem, o Júlio viveu na Madragoa, em Lisboa. Quando voltou da Guiné, fixou-se em Pardilhó, onde casou e teve o seu filho Pedro. A sua filha Marisa, que tinha 6 anos quando o pai faleceu, de doença prolongaada, anda à procura de camaradas dele. Graças ao nosso blogue, já localizou alguns. Diz que tem muito orgulho no seu pai.

O seu gesto sensibilizou-nos a todos. Convidei a Marisa para integrar o nosso blogue, o que ela aceitou, embora não domine bem o português. O pai foi trabalhador da construção civil. Conseguiu dar, no entanto, uma educação de nível superior aos seus dois filhos. A Marisa diz que ele tem outro filho, que terá ficado em Catió. Recentemente lançou um blogue para procurar esse meio irmão perdido: Are You My Brother ? É meu irmão ?( Estamos a ajudá-la nesta procura do paradeiro do seu eventual mano guineense, de Catió, que a ser vivo e viver ainda na Guiné-Bissau deverá rondar os 42 anos).



Recebemos hoje notícias de mais um camarada do Madragoa, o Alcides Silva que eu ainda não sei onde vive, e a quem convido para ingressar na nossa Tabanca Grande.

Fotos: © Alcides Silva (2010). Direitos reservados


1. Mensagem de Alcides Silva:

Data: 10 de Maio de 2010 18:27
Assunto: Madragoa

Luís Graça, só nesta altura tive conhecimento da vossa página na Internet e daí ficar a saber a triste notícia do falecimento do Júlio Marques Tavares, que para nós era conhecido por Madragoa.

Só agora é que fiquei a saber o nome próprio dele, se não fosse a fotografia a mim o nome de Júlio nada dizia.

Pois, quanto ao Júlio, foi um grande amigo, fazia parte do Pelotão de Manutenção como eu. A nota que consta na vossa página onde refere que, nas colunas para transporte de alimentos, a GMC levava no soalho da cabina sacos de areia para assim proteger o possível de qualquer mina. Devo dizer que essa GMC estava pedida a sua evacuação pelo Batalhão que fomos render, foi posta a trabalhar pelos nossos mecânicos e na carroçaria foi montada uma metralhadora, envolvida com sacos cheios de areia a fazer de parede, para proteger o colega que fazia de atirador e o municiador.

Era essa a GMC, que tinha o chão da cabina carregado com sacos de areia, a que o Madragoa conduzia nas referidas colunas, onde o pessoal da mecânica fazia parte.

Junto 3 imagens onde ele está:

(i) a n.º 1 e 2, sou eu o 1 e ele o 2; o outro que também está a ajudar o cozinhar o frango que tinha fugido aos oficiais e caiu na nossa panela, já não recordo o nome, creio que também era condutor;

(ii) na fotografia n.º 3, está o pessoal da oficina, onde eu sou o 1 e ele o 2, para assim o identificar.

Para mim foi uma grande surpresa saber que ele deixou lá um filho, éramos amigos, mas a vida particular de cada um não era conversada. Maior surpresa foi saber que ele faleceu por doença grave, é um pesadelo que se vive, mas nada se pode fazer. Estávamos em Catió há sete meses quando recebi a noticia da morte do meu pai por doença igual, aí ele foi um grande amigo que me ajudou a ultrapassar essa fase critica. Que Deus o tenha em Paz.

Por último pergunto, o Luís Graça é alguma coisa ao Fernando Graça? Se acaso tiver alguma proximidade solicito que lhe dê um abraço por mim, foi também um bom amigo, para melhor identificar eu era o estofador.
Um grande abraço para todos .

Alcides.

2. Comentário de L.G.:

Alcides, antes de mais, diz-me onde vives. Em segundo lugar, deixa-me agradecer a tua mensagem e as fotos que enviaste, em nome da Marisa Tavares e do resto da Tabanca Grande. Em terceiro lugar, ficas automaticamente convidado a entrar para o nosso lugar, como digno representante da CCS do BART 1913 e da malta que passou por Catió, entre 1967 e 1969. A família do Madragoa vai, por certo, ficar feliz com as tuas notícias. Acabei agora mesmo de reenviar a tua mensagem à Marisa. Manda-me duas fotos tipo passe, tuas, uma actual e outra do teu tempo de Catió, para completar as formalidades da tua entrada na Tabanca Grande (**).

Quanto à pergunta que me fazes, a resposta é não: não tenho qualquer relação de parentesco com o Fernando Graça, nem sequer o conheço pessoalmente. O contacto com ele é através do ex-Fur Mil Victor Condeço, que era mecânico de armamento, e que vive no Entroncamento.

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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de: