sábado, 23 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10063: Tabanca Grande (345): O nosso camarada Miguel Pessoa deu uma queda, fracturou o úmero, estando internado em Santa Maria para colocação de uma prótese

Através da Tabanca do Centro, tomámos conhecimento ontem que o nosso camarada Miguel Pessoa sofreu uma queda e partiu um braço.

A coisa podia ser mais fácil de resolver não fora a fractura se localizar no úmero, junto ao ombro. Como homem jovem e activo que é, o nosso camarada Miguel, para ficar como novo, vai ter que levar uma prótese, como quem diz, uma dobradiça nova no braço.
Camarada C. Martins, se estiveres por aí, explica à gente como se fazem estas coisas.

Falei há minutos via telemóvel com o Miguel, que está internado no Hospital de Santa Maria (Lisboa), que me autorizou a dar esta notícia, que não sendo nada agradável, não é de todo infausta como foi afirmado no Blogue da Tabanca do Centro.
Quando li o título apanhei cá um susto de morte.

Lá para o meio da semana o nosso camarada será então sujeito a uma intervenção cirúrgica para poder voltar à normalidade. Ficará como novo, todos desejamos e cremos.

Pela minha parte vou tentando estar a par da evolução das melhoras do nosso camarada sinistrado, servindo-me para o efeito dos diversos meios de comunicação, reportando-as aqui para conhecimento da tertúlia.

Caro Miguel, a Tabanca Grande está contigo e a torcer para que voltes à normalidade o mais rápido possível, sempre cumprindo as normas clínicas vigentes.

Recebe um abraço colectivo de amizade e solidariedade.
Carlos Vinhal

Hoje, como ontem, o nosso camarada Miguel Pessoa pode contar com o seu "Anjo da Guarda" privativo, a sua esposa Giselda.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10039: Tabanca Grande (344): José Alberto Leal Pinto, ex-1º Cabo Escriturário da CCS do BCAV 8320, Bula e Cumeré, 1971/74 (Luís Gonçalves Vaz)

Guiné 63/74 - P10062: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (57): Tenho na minha colecção peças de fardamento, de 1961, de António Sousa Teles, Major de Infantaria (Miguel Andrade)

1. Mensagem datada de 19 de Junho de 2012 do nosso jovem leitor Miguel Andrade a propósito do nosso Poste 9483*:

Muito boa noite
Desculpe incomodá-lo com este meu email mas não consigo não dizer nada após ter lido com atenção o seu blog e a troca de mensagens entre os participantes.

Eu tenho apenas 30 anos, quando o senhor e seus Camaradas já defendiam e honravam Portugal, eu ainda nem projecto era de meus pais, portanto informação importante para a questão que é debatida no blog confesso que não tenho.

Eu sou coleccionador de militaria, portuguesa e estrangeira e sempre que consigo comprar alguma coisa tento sempre obter mais alguma informação sobre ela... É exactamente este meu hábito que me fez chegar a vós... Recentemente adquiri um uniforme de Coronel de Infantaria do Exército Português, tanto na etiqueta do casaco como na etiqueta das calças estava escrito o nome do seu antigo proprietário e uma data:

"Major António Sousa Teles, 12/08/1961"

Uma das questões debatidas era realmente a arma dos oficiais em questão, neste caso o uniforme tem a arma de Infantaria. Não sei se será o mesmo oficial ou não, decerto que Sousa Teles não será exclusivo dos dois irmãos de que falavam, mas seria uma grande coincidência não corresponder ao que é debatido e as datas parecem-me bater certo.

Vou enviar algumas fotos do uniforme.

Outra coincidência engraçada é ver que uma pessoa que sempre estimei, o sr. engenheiro Hélder Sousa, pessoa com quem trabalhei na empresa Tecnep há uns largos anos atrás,  é colaborador neste blog. Um abraço para ele pois deixei de ter qualquer tipo de contacto com ele.

Resta-me enviar-lhe,  a si e a todos os seus camaradas ex-combatentes da Guerra do Ultramar,  a minha profunda gratidão e o meu obrigado sincero por todos os sacrifícios. Apesar de não os conhecer enchem-me de orgulho.

Com os melhores cumprimentos
Miguel Andrade






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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9483: As Nossas Tropas - Quem foi quem (8): António Sousa Teles (1922-2006), ten cor art, comandante do BCAÇ 4514/72 (Cadique, 1973/74)

Vd. último poste da série de 19 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10049: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (56): Desde a ilha de Luanda, evocando o bom irã de Bedanda e enviando um abraço para todos os bedandenses que estiveram no 2º encontro das Onças Negras, e em especial o Tony, o Pinto Carvalho e o Belmiro Pereira (Luís Graça)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10061: Notas de leitura (371): "Bissau, Entre o Amor e a Guerra", de Leonel C. Barreiros (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 7 de Maio de 2012:

Queridos amigos,
Foi um privilégio conhecer o soldado Calvário. Telefonei-lhe para a sua terra, Caçador, em Viseu, ficou feliz por saber que o seu livro fora desencantado de uma estante. Juntou a contracapa do seu diário original, onde ele registou o que se encontrava gravado num pequeno monumento situado dentro da Amura. Reproduz também uma página do seu documento.
O Leonel Barreiros tem vários livros publicados . Andou emigrado na Alemanha, foi continuo em duas escolas secundárias, andou sempre envolvido em ranchos folclóricos.
É uma alegria acolhermos mais um genuíno diário da Guiné.

Um abraço do
Mário


Diário do soldado Calvário, da Companhia de Polícia Militar 590, Guiné 1963/1965 (3)

Beja Santos

Devemos ao diário do soldado Calvário um relato minucioso das atividades da Polícia Militar em Bissau e arredores, entre finais de 1963 e 1965. É um rol infindável de escoltas, rondas, segurança no Hospital Militar, ordenança ao comandante militar e misteres afins. Calvário é pândego, namoradeiro tipo Don Juan, gostou de Canjala, teve derriço por Arcanja Patrícia, gosta agora de Mariana e vai ficar pelo beicinho por Liége. E regista a captura de guerrilheiros, o aparecimento de armas, os bailes, as informações que lhe chegam de vários pontos do teatro de operações, quando encontra patrícios ou malta conhecida. Dá-nos igualmente um quadro vivacíssimo da caserna, das idas ao Pilão e desmandos de vária ordem durante as rondas e até fascinas ao refeitório. Tem imensa correspondência com madrinhas de guerra, o dinheiro é pouco para aquelas praças a viver as delícias citadinas, ele e os camaradas vão vender regularmente sangue, sempre são mais umas centenas de escudos para a estroina.

O alferes Mário Tomé foi promovido, a malta da PM gosta imenso dele. A religiosidade é uma das marcas de água de Calvário, como ele escreve em 12 de Outubro de 1964: “Não faltei ao ato religioso que se celebrou na catedral”. Apesar de só o fazer de vez em quando, vive impressionado pelo Nazareno. Com frequência, somos inteirados da chegada de feridos ao Hospital Militar. As queixas sobre a alimentação levam-nos a percorrer a generalidade das tasquinhas de Bissau, ele, o Rei do Sono, o Cabo Banharia, o Entretela, o Arrentela, o Narciso, mas há muitos mais. Há aviões alvejados, dá para perceber que o armamento do PAIGC se aperfeiçoa mês após mês.

Há descrições tocantes: “Um militar dos comandos de Angola veio visitar um irmão que acabara de chegar da metrópole. Quando estava prestes a partir para Luanda adoeceu gravemente. A doença não perdoou e morreu aos olhos do irmão”. E também: “Um militar do B490, que sofria de úlcera, foi internado de urgência. Pouco lhe valeram as pressas. Acabou por sucumbir antes de ser operado. De olhos abertos, sem vida, ali ficou para sempre, naquela parcela do mundo vivo”. E assim se passou um ano de comissão. A PM tem artes e manhas para fugir à rotina. Logo no dia de S. Martinho vão até à caça e nesse dia assistem a um espetáculo de folclore no cinema UDIB. Vai aparecendo gente que esteve na operação Tridente, deixou sequelas, anda muita gente em consulta no hospital militar. Um camarada fala de coisas insólitas que se passaram na ilha do Como: “A um, uma bala partiu-lhe dois dentes; a outro, furou-lhe a orelha. Um outro levou com uma bala no pescoço e saiu por o outro lado sem cuidados de maior; a um fuzileiro levou-lhe a cabeça do dedo quando carregava no gatilho. A um colega meu a bala bateu-lhe no salto da bota e arrancou-lho. Era tudo assim…”.

Recusa mostrar o diário seja a quem for. E verseja, pois claro, já leva um romanceiro longo, assim: “A tua boca é um cravo/ Os dentes são as folhinhas/ As tuas falas me agradam/ Além de serem pouquinhas./ Sem ti são tristes os dias/ É penoso o meu viver/ Salta daí vem comigo/ Atenua o meu sofrer”. Se há muitos feridos que chegam ao hospital, também impressiona o seu registo em inúmeros desastres, envolvendo militares e civis. Deixa lavrado que consta que James Pinto Bull é dado como presidente da Guiné caso Portugal venha a dar independência à região. No final de Novembro é acionada uma mina que fez explodir uma viatura que transportava bidons de gasolina, ficaram carbonizados 10 homens. Calvário e os camaradas já não aguentam mais o arroz e o peixe do rancho, até já se insinua um levantamento de rancho. De vez em quando aparece pela Amura gente da sua região: “Chegaram do mato os vizinhos de Fragosela. Para os recompensar das novidades que me mandava quando me escreviam, ofereci-lhes um jantar na taberna do ligeiro, com o dinheiro do sangue. Quim Bispo, Tó Vicente, Zé Pêssego, Tó Medo e furriel Lourenço, dificilmente nos voltaríamos a juntar todos naquela mesa. Na opinião de todos nós, era de facto triste ver cair um companheiro; vê-lo cheirar a flor da vida no chão da terra”.

É impressionante como Calvário é imparável nos amores, nas diversões, na galhofa, em apontar tudo quanto ouve, os guerrilheiros que se entregam, os acidentes aparatosos, a audição da rádio Argel, a alegria nas patuscadas, as peripécias nas rondas, botes que se voltam e militares que se afundaram nos rios, temo-lo de faxina à cozinha, de serviço à porta de armas, de plantão, a gozar desabridamente nas suas folgas, o serviço no hospital militar é sempre acompanhado de relatos de dor. Chegam navios repletos de tropas, ele próprio anda aturdido com a extensão daquela guerra, tanto avião cheio de bombas. A comissão avança e também os processos disciplinares crescem: as orgias do Cabo do Rancho, os que irão presos porque prometeram casar com as meninas, é um nunca mais acabar de tragicomédia. Há cada vez mais álcool e farras com o passar dos meses. Cresce a pancadaria na caserna.

É uma arte tratar matéria comezinha com tanto enredo e cores vivas, a sinceridade de Calvário impõe-se nesta escrita do quotidiano, é um processo infatigável de se encontrar, era nesta escrita que ele aportava como numa enseada de serenidade, vagabundeia, olha as estrelas, o Geba, vibra com todos os seus engates o que lhe permite escrever coisas como: “Achávamos tudo tão inocente naquelas horas que chegávamos a procurar a nós próprios que raio andávamos por ali a fazer”. Calvário anda dividido, ama Mariana mas quer regressar descomprometido. Os encontros são descritos com sensualidade discreta: “Brincamos como duas crianças e acabámos trancados nos braços um do outro como dois amados legítimos. Despedimo-nos daquela noite com o respirar leve de quem amava e sofria sem saber do seu futuro”.

Estamos nos reboliços dos últimos dias, há ainda mais cenas de paixão, o embarque avizinha-se, Calvário descreve a euforia da partida. Faz o discurso do adeus a Bissau e escreve: “E, quando fores país, que a tua felicidade prospere e cresça, sem barreiras. Que as tuas necessidades cresçam no pleno esplendor da democracia. Desejo-te um destino nobre”. O navio “Niassa” chega à rocha de Conde de Óbidos, lá está a sua mãe para o abraçar. E assim conclui: “Hoje, nos momentos curtos e loucos em que escrevo, debruço-me sobre a folha branca e procuro-lhe fazer o mais belo poema da minha vida (refere-se à madrinha de guerra que virá a ser sua mulher) mas a grande ansiedade de começá-lo faz com que tudo se me afunde”.

Leonel Barreiros enviou-me, autorizando a divulgação no blogue, de elementos do seu diário. A carta que me enviou termina assim:

Rezo por aquele belo povo guineense para que procure a sorte de caminhar por caminhos novos e diferentes, mesmo dentro dos perigos e guerras forçadas, a que tanto tem estado sujeito. 
Abraços fraternos do seu amigo Calvário”.

Em 2009 ele conclui o 12.º ano de escolaridade. Tem 11 livros publicados. Este achado trouxe-me ainda mais entusiasmo para continuar a ler esta literatura escondida em edições de autor, estou em crer que há pedras preciosas, pepitas de ouro a juntar para o tesouro da literatura da guerra da Guiné.


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10045: Notas de leitura (370): "Bissau, Entre o Amor e a Guerra", de Leonel C. Barreiros (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10060: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte X: Depois de Ingoré e Bigene, o regresso a casa



Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > Humor de caserna: guia de marcha para Ziguinchor, Senegal...






Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > Bajudas e bajudinhas...


Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > Terras de Portugal, no regresso a casa: região de Sintra ? Praia Grande à direita ? Ou península de Setúbal, serra da Arrábida ? Dão-se alvíssaras para quem acertar na legenda...


Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > A imagem, sempre reconfortante, de Lisboa e dos ícones, o Tejo e a sua ponte...


Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > O Tejo e a baixa pombalina...


Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > A chegada, a Lisboa, de avião, no regresso definitivo a casa... Sobre a última ele escreveu na sua página no Facebook: "Vista da Alameda D. Afonso Henriques e do Instituto Superior Técnico de que, finalmente, guardo boas recordações"... 

Fotos (e legendas): © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Fotos editadas e parcialmente legendadas por L.G.].

ÍNDICE



1. Curso de Oficiais Milicianos
1.1. Mafra – Escola Prática de Infantaria
1.2. Vendas Novas – Escola Prática de Artilharia – Especialidade: PCT (Posto de Controlo de Tiro)
2. Figueira da Foz – RAP 3 - Instrução a recrutas do CICA 2
3. Viagem para a Guiné (10 de Dezembro de 1967)
4. Chegada à Bateria de Artilharia de Campanha nº 1 (BAC 1) e partida para Bissum
5. Bissum-Naga
6. Regresso a Bissau para gozar férias na Metrópole (Julho de 1968)
7. Piche
8. Bissau, BAC 1
9. Bedanda
10. Gadamael-Porto (Parte I e Parte II)
11. Guileje
12. Bigene e Ingoré e regresso a casa





A. Memórias da minha comissão na Província Ultramarina da Guiné - Parte X (*)

por João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69)




2 – Bigene e Ingoré e regresso a casa



Depois de ter gozado umas férias, mais que merecidas, em Agosto de 1969, regressei à Guiné, onde me esperava nova missão. Desta vez, calhou-me o Norte, Bigene e Ingoré, o que me permitiu um conhecimento geral de toda a Guiné.

A missão consistia em tiro orientado por avioneta Dornier e exigia elevada precisão, suponho que o objectivo consistia em neutralizar um depósito de armas e munições fazendo-o explodir com granadas de obus. Para o efeito, levei comigo um goniómetro, aparelho semelhante aos teodolitos, com elevada precisão em tirar azimutes e fazer pontaria.
Recordo que em Bigene o tiro de obus se limitou a dar apoio às nossas tropas “limpando “ o caminho à sua frente e facilitando a progressão, operação que durou poucos dias e depois transitámos para Ingoré, a escassos quilómetros do Senegal.

Em Ingoré havia um campo de futebol que me pareceu um lugar adequado para instalar os obuses, e, no outro extremo do campo, havia uma pequena capela com uma cruz no topo que era bem visível apesar da distância a que se encontrava ser apreciável. Foi essa cruz que me servíu para regular a direcção do tiro, pois em cada disparo os obuses dão um salto e saiem da direcção pretendida. Recordo que o tiro supervisionado da avioneta foi certeiro logo à primeira tentativa e que o paiol que era o objectivo explodiu com grande fragor.
Lembro-me que não éramos muito atacados: nada que se parecesse com Guilege, Bissum, ou Bedanda, mas uma vez estando eu, como era meu hábito, passeando pela tabanca e convivendo com a população que achei particularmente simpática, o IN começou uma flagelação.

Era um ataque cerrado, e enquanto a população corria para os abrigos, eu corri para as bocas de fogo com as granadas a caírem relativamente perto de mim. A situação foi de tal ordem que o coronel falando comigo me disse:
- Então você veio a correr para os obuses debaixo de fogo sujeito a ser atingido? - Ao que eu respondi:
- Meu coronel, se não morri até agora é porque não tenho que morrer!

Foi aqui, em Ingoré, que apanhei um tal ataque de paludismo que não via nada à minha frente. Presumo que devo ter chegado aos 40º de febre, o que me atirou para a cama de onde não sairia qualquer que fosse a intensidade do ataque e recordo que não me encontrava em nenhum abrigo.

Recordo também as bajudas, que eram particularmente simpáticas, e, pelo que me apercebi, bem merecíam um futuro mais risonho. Da Guiné, trago comigo a felicidade de ter conhecido gente de bom coração, talvez porque muito menos agarrada do que nós, ao “vil dinheiro” que tudo corrompe e sem o qual não sabemos viver.

Por último e a fechar este meu relatório de atividades no cenário de guerra da Guiné, reproduzo uma última ocorrência.

A certa altura sou chamado ao gabinete do comando da unidade, e, com ares muito circunspectos, vários alferes me informaram que tinham uma notícia muito preocupante para me dar, e entregaram-me uma guia de marcha de que anexo cópia

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 16 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10038: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte IX: Os maus ares de Guileje, aos 18 meses de comissão

Guiné 63/74 - P10059: Parabéns a você (439): António José Pereira da Costa, Coronel de Artilharia Reformado (Guiné, 1968/69 e 1972/74)

Para aceder aos postes do nosso camarada A. J. Pereira da Costa clicar aqui
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10054: Parabéns a você (435): António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/73)

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10058: Efemérides (105): A nossa malta no 19º Encontro de Combatentes em Belém/Lisboa. 10 de Junho de 2012 (2) (Arménio Estorninho)


1. O nosso Camarada Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, IngoréAldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), enviou-nos hoje a seguinte mensagem:

Lagoa, 20 de Junho de 2012

Camaradas,

Embora este trabalho seja apresentado um pouco atrasado, mas é devido ao apoio logístico do fotografo não se ter concretizado atempadamente e no entanto mais vale tarde do que nunca. Para que não volte a acontecer, vou iniciar a fotografar mas com as novas tecnologias

Assim este ano, mais uma vez deu-se pela presença, “junto ao Portão de Armas do Forte do Bom Sucesso,” de grande número de Camaradas e Amigos da Tabanca Grande, no evento ocorrido na Praça do Monumento aos Combatentes do Ultramar.

Também como vem sendo habitual o Núcleo de Lagoa/Portimão da Liga dos Combatentes, organizou a deslocação, “ao XIX Encontro Nacional de Combatentes, em Lisboa”, de um grupo de Camaradas Associados e tendo sido efectuada em autocarro, concedido pelo Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Dr. José Inácio. 

Conforme programado para o dia 10 de Junho de 2012, Dia de Portugal, deu-se também o Encontro Nacional de Combatentes, em Lisboa, tendo como objectivo reunir o maior número de portugueses de qualquer idade, credo, raça ou ideologia política que, amantes da sua Pátria, pretendessem celebrar Portugal e prestar homenagem à memória de todos quantos, ao longo da nossa História, foram chamados a servir o seu País, tombaram no campo de Honra, em qualquer época e em qualquer local. 

As cerimónias decorreram em Lisboa; sobre o Dia de Portugal, junto ao Mosteiro dos Jerónimos e do Encontro Nacional dos Combatentes, junto ao Monumento dos Combatentes do Ultramar, em Belém. (Excertos extraídos do Programa das Cerimónias e adaptados sem alterar a sua essência). 

A ocasião deu azo ao reencontro, bem como de novas presenças e ao convívio entre Camaradas que prestaram serviço em locais diferentes do Ultramar. 

Pelo motivo da proximidade dos lugares e simultaneidade destes eventos, notou-se menos presenças nas cerimónias junto ao Monumento dos Combatentes do Ultramar.

Para que uma Nação possa viver, trabalhar, enriquecer e progredir, é imprescindível a existência do serviço militar e o qual exerce grandíssima influência na vida geral da Nação. 

Contudo, sempre tem havido Soldados desde que houve Nações. Primeiramente só era Soldado na ocasião do perigo, nesta altura largava-se o trabalho do campo ou da oficina e pegava-se em armas para defender o País e/ou os seus direitos. Depois começou a haver exército, constituído por homens que faziam da carreira militar um modo de vida, e assim ganhavam o seu jornal ou soldo. O nome de Soldado veio do então se chamar soldo “ou soldada,” como hoje se domina “pré” o dinheiro recebido em pagamento. 

(Excertos extraídos do Livro de Leituras do Ensino Secundário Oficial, com data 1907).


Foto 1 – Um grupo de lagoenses: Manuel Banha, Beng. 447, Brá – Bissau 1972, Vitor Nascimento, Bateria 692, Angola 1964/66, Arménio Estorninho, Joaquim da Conceição, Companhia Ind., Carmona – Angola, 1973/74, Alfredo Ramos, C.Caç. 556, Enxalé, Porto Gole, Guiné 1963/65.

Foto 2 – Pequena cavaqueira com duas Alferes, da esq. Um veterano procurando ex-camaradas, ao centro António Paiva e José Colaço. 

Foto 3 – Sessão de cumprimentos, da esq. Vigínio Briote, Miguel Pessoa, António Pimentel, Vasco da Gama, Fernando Chapouto, (Combatente não identificado) e Jorge Cabral. 

Foto 4 – Amena conversa, António Paiva, Mário Fitas, Esposa do Castro e Magalhães Ribeiro.

Foto 5 – António Duarte, Arménio Estorninho, Agostinho Fernandes, Henrique Jesus e Duarte Azevedo.

Foto 6 – Sessão de cumprimentos, Mário Fitas, José Colaço, Jorge Cabral e António Paiva.

Foto 7- Tribuna de Honra das cerimónias, junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar.

Foto 8 – Vista parcial do decorrer das Cerimónias.

Foto 9 - No final do desfile, Os Portas – Guião de Associações de Comandos, seguindo na frente o ex-Fur. Mil. Comando Fernando Venâncio “Agraciado com a Cruz de Guerra de 3ª Classe. “Informação dada em 2011, por Abreu dos Santos (Sénior)”

Foto 10 – Memorial aos Militares que Tombaram no Ultramar, com colocação de flores nos nomes de ex-Camaradas Amigos; da esq. António Duarte, Duarte Azevedo e António Brandão.

Foto 11 – Memorial dos Militares que Tombaram no Ultramar, tendo eu colocado uma flor no nome do Sol. Cond. Auto Albino Carneiro de Oliveira, da C.Caç. 2381, falecido por acidente “negligência do electricista” dentro de um abrigo em Empada-Guiné. Provavelmente também estava marcado para mim, mas por sorte a minha, cheguei ao lugar já depois do inditoso. 

E assim apresentei uma resenha sobre a homenagem à memória de todos os que tombaram no campo de Honra, agora celebrando a Pátria e honrando os seus Combatentes.

Com Fortes Abraços para Todos
Arménio Estorninho
C.Caç. 2381 “Os Maiorais de Empada” 


Fotos: © Arménio Estorninho (2012). Direitos reservados.    

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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

16 DE JUNHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10040: Efemérides (71): A nossa malta no 19º Encontro de Combatentes em Belém/Lisboa. 10 de Junho de 2012 (Magalhães Ribeiro)

Guiné 63/74 - P10057: Patronos e Padroeiros (José Martins) (27): Bartholomeu Costa, Patrono do Serviço de Material




1. Em mensagem do dia 16 de Junho de 2012, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos mais um trabalho para a série Patronos e Padroeiros.






Patronos e Padroeiros XXVII

Patrono do Serviço de Material

Bartholomeu da Costa


Figura pouco conhecida da nossa história, nasceu em Lisboa no dia 1 de Novembro de 1731, e aos 17 anos, como era hábito na época, iniciou a sua carreira militar, como artilheiro e andou embarcado, na Armada da Guarda Costeira, durante quatro anos.

Em 1758, ao ser promovido a Condestável-Mor de Artilharia da Guarnição da Corte, passa ao serviço de terra, e desenvolve a sua actividade no Arsenal do Exército, no aperfeiçoamento da técnica, aperfeiçoamento de máquinas e de novos procedimentos tecnológicos, que muitos úteis se tornaram em Portugal.

A sua carreira foi considerada extraordinária. Aos 27 anos era Condestável-Mor de Artilharia; Ajudante de Artilharia em Janeiro de 1762 (31 anos) e a Julho desse ano, Capitão de companhia de Bombeiros; é promovido a Sargento-Mor de Artilharia, em Maio de 1764 (33 anos); e em Dezembro de 1774, com 43anos, ascende a Tenente-coronel de Infantaria, mas continuando a prestar serviço em Artilharia.

Aos 58 anos, Maio de 1789, é promovido a Marechal de Campo e com 67 anos a Tenente-General (Dezembro de 1796).

Da sua actividade industrial, realçaremos que em 1762, toma a iniciativa de orientar a fundição de 12 peças de artilharia ligeira, para suprir atrasos verificados na encomenda que havia sido feita a Inglaterra. Para tal utilizou as instalações de uma antiga fundidora de sinos. Construiu dois obuses e aumentou o número de oficinas de duas para vinte no Arsenal, aumentando a autonomia do exército, evitando, desta forma, a recorrer a fornecedores particulares. A duração das peças de artilharia, devido a uma nova liga que criou, passaram a ter o dobro de tempo de duração, assim como inventou uma máquina para brocar, perpendicularmente, as peças de artilharia de vários calibres.

Inventou máquinas para tornear munhões, peças para canhões, e máquinas de tornear morteiros.

Fez história na arte de fundir, um feito sem precedentes, ao fundir, de um só jacto, a estátua equestre de D. José I, assim como a máquina que haveria de retirar da “cova de fundição” a peça inteira e o seu transporte, assim como providenciou um carro, para o transporte das colunas para o Convento do Santíssimo Coração de Jesus da Estrela, mandada erigir por D. Maria I.

Inventou um granador e um peneiro cilindrado, para separar vários tipos de pólvora, assim como iniciou a manufactura de espingardas, com fechos idênticos, permitindo, assim, não só a produção das mesmas em série, mas também a possibilidade de trocas de peças avariadas mais facilmente.

Exerceu, ainda, outras actividades como o desenvolvimento de um novo tipo de porcelana, melhoria da fundição de ferro, em Paço de Arcos, recuperação da mina de carvão natural no Cabo Mondego, melhorou o método de fabrico de alcatrão, recuperação do pinhal de Leiria, etc.

Propôs que o Arsenal da Marinha fosse transferido para a margem sul, facto que só se veio a concretizar dezenas de anos mais tarde.

Uma das suas últimas obras foi a construção e direcção da doca seca da Ribeira das Naus que permitiu, em pouco mais de dois anos – Dezembro de 1792 a Março de 1795 – a reparação de cinco naus.

Foi Cavaleiro da Ordem de Cristo, Fidalgo da Casa de Sua Majestade, sócio da Academia Real das Ciências, entre outras.

Foi um insigne militar e técnico industrial, pelo que foi eleito como Patrono do Serviço de Material.

Vindo a falecer em Calhariz, com 70 anos de idade, no dia 7 de Junho de 1801, tendo-lhe sido dado sepultura na Igreja do Mosteiro de Belém.

José Marcelino Martins
16 de Junho de 2012
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10050: Patronos e Padroeiros (José Martins) (26): Patrono do RI 14 (Viseu) e Curso da Escola do Exército - 1951/1954

Guiné 63/74 - P10056: (Ex)citações (187): A secção de funerais, 1ª Rep / 2ª Fun QG/CTIG do meu tempo (Francisco Jorge de Pinho)

Esclarecimento do nosso camarada Francisco Pinho, que vive em Castelo Branco, e que esteve na  1ª Rep-2ª Fun-QG/CTIG (1973/74), em comentário ao poste P10046




1. A secção de funerais, 1ª Rep/2ª Fun-QG/CTIG, era constituída por;

(i) um tenente do SGE; 
(ii) um primeiro sargento;
(iii) dois furrieis milicianos;
(iv) dois primeiros cabos;
(v) e cinco soldados, estando um sediado em Nova Lamego (tinha a seu cargo tudo o que respeitava a tratamento de mortos no COP5). 

2. NUNCA foram juntos cadáveres ou parte destes na mesma urna. 

3. Quando era impossível recuperá-los por diversos motivos, eram declarados desaparecidos, com forte presunção de morte, ou então era comunicado que os mesmos ficavam sepultados na Guiné, sendo fornecidas todas as indicações sobre as suas sepulturas, caso de Guidaje. 

Francisco Jorge de Pinho, Fur Mil 1ª Rep-2ª Fun-QG/CTIG (1973/14-10-1974)
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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10018: (Ex)citações (186): Éramos alferes, furrieis e... prontos! (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P10055: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (57): Que alegria ver outra vez o meu amigo Ludgero Sequeira, da 38ª CCmds, e hoje professor da Universidade do Algarve (Bernardino Parreira)

1. Comentário do Bernardino Parreira ao poste P10028, de 13 do corrente:

Que alegria, ver outra vez o meu amigo Ludgero Sequeira, jovem, como naquele longínquo ano de 1972! Também me parece conhecer o Amilcar Mendes! Tive várias operações no mato com o meu amigo Ludgero e a Companhia de Comandos a que ele pertencia, [a 38ª CCmds]. 


Também em Teixeira Pinto nos encontrámos várias vezes. Talvez tenha estado algumas vezes com o Amilcar, junto do Ludgero. Depois, eles regressaram a Mansoa [, CAOP1]. E eu, como se sabe, regressei à Metrópole em Março de 1973. 

Ainda sofro ao recordar como, cerca de 2 meses depois de cá estar, recebo a triste notícia de que o Ludgero tinha sido ferido numa mina e corria risco de vida...e que estava cego... Foram meses de angústia para a família e para os amigos. Apesar de ter ficado com grande perda da visão, graças a Deus o Ludgero salvou-se e hoje é um ilustre professor da Universidade do Algarve, [doutorado em Ciências Económicas e Empresariais pela Universidade de Huelva, Espanha, 2003].

Quando nos encontramos, a conversa foge, forçosamente, para o futebol e para o nosso tempo de guerra na Guiné.

Foto à direita: O ex-fur mil cmd Ludgero Sequeira com o ex-1º cabo cmd Amilcar Mendes, em Gampará, 1972. 


Foto: © Amilcar Mendes (2007). Todos os direitos reservados.~

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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10049: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (56): Desde a ilha de Luanda, evocando o bom irã de Bedanda e enviando um abraço para todos os bedandenses que estiveram no 2º encontro das Onças Negras, e em especial o Tony, o Pinto Carvalho e o Belmiro Pereira (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P10054: Parabéns a você (438): António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/73)

Para aceder aos postes do nosso camarada António Teixeira clicar aqui
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10051: Parabéns a você (434): Cherno Baldé, Gestor de Projectos na Guiné-Bissau

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10053: História da CCAÇ 2679 (51): Uma dívida por pagar (José Manuel M. Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 12 de Junho de 2012:

Caríssimo Carlos,

Para não pensares que te esqueci, aqui vai mais um nico da história da minha companhia.
Para não te castigar, é coisa pouca, mas suficiente para reflectir o ambiente que ali reinava.
Anexo ainda a resposta do Pedro ao meu pedido para confirmação dos dados. Exageradamente refere: "está mais que correcto".

Para ti e para o tabancal vai um abraço fraterno
JD



HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (51)

Uma dívida por pagar

Nos primeiros dias de Fevereiro o Pedro devia ter vindo de férias à metrópole, todavia, o Pedro andava em conflito com a corja, ou melhor, a corja conflituava com todos que lhe dificultassem a actividade de locupletanço. Ora, o Pedro tinha muitas dificuldades de relacionamento, por via das gasolinas, da aberração das constantes viaturas paradas, pelo seu feitio não aderente, razões suficientes para ter sido aleivosamente prejudicado, com a impiedosa desautorização para partir em gozo das férias que tinha planeado. O parque automóvel era o espelho da corja, mas esta fazia-o um reflexo do Pedro, o chefe dos auto-rodas, na senda dos militares implicados para desresponsabilização de quem manda. E a corja é que mandava. E convinha-lhe assim. Os mapas para Bissau davam indicações falaciosas, que justificavam os consumos de combustível, que a corja, em sociedade com o tipo da Casa Gouveia, "empochava" (termo vulgar, derivado do francês poche - bolso, referido quando alguém enche os bolsos à custa do alheio). A corja também não tinha preocupações com o pessoal operacional, que se deslocava em viatura sem quaisquer condições de segurança, pois em caso de emboscada, ou de accionamento de minas, os estragos eram tão maiores, quanto mais compactado o pessoal seguisse. Tenha-se em conta, que raramente dispúnhamos de mais de duas viaturas operacionais, ainda reflexo do material herdado da companhia anterior, e incrivelmente aceite. E a impunidade reinava, porque a máquina militar não contemplava o controle dos gastos.

O Pedro, naturalmente furioso, chispava lume, quando não foi autorizado o necessário "passaporte" para férias. Nesse dia e no seguinte, revelaram-se inúteis as tentativas de solução para aquela crise. O Pedro, com o orgulho dos sérios, recusava-se a pedir batatinhas, a mendigar por um direito que lhe assistia, e era-lhe vedado. O capitão, e os sargentos, resmungavam à guisa de justificação, que as viaturas careciam de reparação. A reparação consistia em retirar peças de umas viaturas para outras, sendo que, algumas delas, já não teriam viabilidade. E a corja, que sempre protelou a recuperação do parque automóvel, só agora, surpreendentemente, manifestava preocupação. Estariam a adivinhar alguma inspecção? Quereriam ter alguma margem de segurança perante uma eventualidade dessas?

No segundo dia o Pedro lastimava-se de ter empatado a meia-dúzia de contos do bilhete do avião, que para as férias já nem queria saber. Decidi então comprar-lhe o bilhete. Quando me dirigi ao Trapinhos a comunicar-lhe que partiria de férias, ainda me dificultou a decisão. Quem ficaria com o pelotão, questionou. Por sorte, estava o alferes Leite no gabinete, que imediatamente referiu, que se encarregaria dequela matéria. O Leite era o segundo-comandante da companhia, e o Trapinhos não teve como não aceitar a solução.

Dei uma rapadela ao cabelo, cortei a mosca, vesti-me apinocadamente de número dois, e apresentei-me em Nova Lamego, no primeiro andar, onde pontificava o comandante com a partente necessária para o passaporte. Encontrava-se no varandim do gabinete em conversa, e esperei até ter oportunidade. Mandou-me avançar, enquanto questionava sobre a minha pretensão. Quando lhe estendi o papel e leu o nome, deu um sorriso por não me ter reconhecido, o que avalisava a minha apresentação. Entrou, assinou, e despedimo-nos. Fui direitinho à pista, onde um tenente do exército, velhote, fazia a lista de embarque. Naturalmente, já muita gente se tinha apresentado. O tenente disse-me que eu só embarcaria se houvesse desistências. Argumentei sem resultados, ele "não podia fazer nada". Ora, era mais que óbvio, que ninguém dos militares e civis iria faltar ao embarque.

Desorientado e mal conformado, dirigi-me para um bar no centro, mesmo em frente ao comando, que era onde costumava encontrar malta conhecida. Quando assomei à porta, logo ouvi o meu nome, chamado de uma mesa de páras. Estavam ali alguns militares com quem me tinha relacionado no mato e, particularmente um furriel, de quem não recordo o nome, acenava para ali me sentar. Foi o que fiz. Depois das apresentações, o pára mandou-me pagar uma rodada, a que acedi, mas contei-lhe que era o segundo azar que tinha naquela manhã. A minha cabeça andava longe dali, pois enquanto eles conversavam alegremente, eu só pensava no que teria que dizer convincentemente ao tenente. Depois de umas bejécas, manifestei vontade de voltar à pista, mas o furriel convenceu-me a ficar até à chegada do avião militar. Covenceu-me a pagar outra rodada. Quando o avião já devia estar na pista, antes de me levantar e despedir, bebemos novamente em saúde de todos. O furriel levantou-se, pegou na boina, convocou o condutor que abancava connosco, e mandou-me acompanhá-lo.

A fila alongava-se, e movimentava-se vagarosamente, apesar dos escassos lugares vagos, enquanto o tenente verificava a lista de embarque. O pára mandou-me segui-lo, fez uma palada ao tenente, e disse-lhe que eu estava requisitado pela companhia de pára-quedistas e tinha que embarcar para Bissau. E foi assim que cheguei à capital provincial. Depois foi só dirigir-me ao balcão da TAP e regularizar a situação.

Embarquei de manga curta tendo em conta os calores daqueles trópicos, e desembarquei de manhã em Lisboa com três graus positivos. Lembro-me de que só a meio da tarde senti necessidade de vestir uma camisola. Tinha pedido ao meu pai para convidar dois amigos para o jantar, e comi peixe.

Daquele furriel pára-quedista que me dispensou tanta gentileza, não tenho qualquer referência, mas ainda lhe estou devedor de outa bejéca, ou de um tinto refinado.

JMMD
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9914: História da CCAÇ 2679 (50): Uma motivação imprevista

Guiné 63/74 - P10052: Cartas do meu avô (9): Sétima carta: A universidade, o 25 de abril... (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)

A. Continuação da publicação da série Cartas do meu avô, da autoria do nosso camarigo Joaquim Luís Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins de Catió, que esteve na região de Tombali (Cachil e Catió) e em Bissau, nos anos de 1964/66. [, Foto à esquerda, com os netos]. As cartas, num total de 13, foram escritas em Berlim, onde vivem os netos, entre 5 de março e 5 de abril de 2012. (*)

B. Sétima carta: Universidade

No princípio de Outubro de 1966, começaram as aulas de Direito. Estava ansioso. Tomei o autocarro para o Campo Grande. Estou a lembrar-me de o atravessar apressado, com uma mala, e subir a pé a alameda da universidade.


Fui o primeiro aluno a entrar no anfiteatro onde ia assistir à primeira aula. Um grande salão em escadaria de balcões, como num cinema. No palco, ficava, imponente, a secretária do professor. Tive a noção exacta de que aquele, sendo o meu curso inicial, não seria com ele que eu chegaria ao fim. E senti-me triste.

Dentro em pouco estaria casado e a trabalhar. Sabia que não ia adiar a vinda dos filhos por causa do curso. Os colegas começaram a entrar e a ocupar as cadeiras livremente. Eu escolhi uma da coxia na 4ª fila. Para poder alcançar tudo bem.


Eram todos mais novos que eu. Rapazes e raparigas. Muito tenros. Tinham acabado o liceu. Lembro-me duma colega que viria a ser célebre, a Leonor Beleza, e doutro, o… O resto era tudo desconhecido. As aulas iriam acontecer lentamente, no dia a dia. Sem provas nem frequências. Exame, só no final do ano.


Se corresse tudo bem, teria de esperar cinco anos pelo fim do curso. O ramerrame do dia-a-dia, no meio daquela turma de gente muito mais jovem que eu, era-me muito desagradável. As mentalidades eram naturalmente diversas.


Tinha de avançar noutro ritmo. Eu sabia que poderia utilizar o regime de estudante-militar. Nele, preparar-me-ia por mim, e, quando entendesse que estava habilitado, requeria exame. Em qualquer data. Era uma pequena compensação para quem tinha perdido tempo no serviço militar. Abalancei-me a utilizar esse regime.

Depressa me apercebi de que os professores não gostavam muito dos estudantes trabalhadores, muito menos de ex-militares. Tinha sido uma imposição do governo. Quem sofria éramos nós. As notas eram baixas, à partida. Muito facilmente se reprovava. Bastava um deslize estava tudo perdido. Havia que repetir. Com mais duas tentativas. Se chumbasse três vezes, estava erradicado da universidade nessa cadeira. Só noutra faculdade. A única existente era Coimbra.

Foi o que aconteceu numa das primeiras cadeiras do segundo ano. Teoria Geral de Direito. O professor era o célebre Paulo Cunha [, 1908-1986]. Um catedrático veterano, distante e pomposo. Um vozeirão de meter medo. Fui ao exame oral. A tremer de medo. Sentado diante daquela bisarma, lá em cima no seu cadeirão, varreu-se- me tudo da cabeça, à primeira questão que me pôs:
- O aluno vai dizer-me quais os vícios da vontade na formação do contrato. – foi a primeira pergunta. Dá pano para muita manga.

Eu sabia que a lista dos vícios era uma fila enorme. Ocupava folhas e folhas na sebenta.Todos muito ligados uns aos outros por ligeiras nuances que teriam de ser logo muito bem distinguidas e explicadas.

Num primeiro momento, fiquei atordoado. Não me lembrava, rigorosamente, de nenhum. Fiquei calado por instantes. Eu sabia que não podia demorar muito. Numa tentativa de me desenlaçar, respondi para o ar:
- Os vícios da vontade na formação da vontade… são sete.

Ele sorriu.
- Como os sete pecados mortais?... - gracejou.
- Bem. Então vamos ao primeiro.

Mais uns momentos de silêncio. E nada. Bom. Tenho de desistir, para não chumbar.
Foi o que fiz.
- Senhor Professor! Quero desistir…
- Porquê? Não quer tentar mais um pouco?

Fiquei calado, a ver se recuperava a memória. Afinal, eu tinha-os estudado muito bem. Não deu certo.
- Bem, então pode levantar-se. Voltará cá outra vez. - disse o professor.

Grande desaire!... A partir daí, foi uma desgraça. Eu que sempre fora um aluno superior, não habituado a chumbar, a dispensar da oral, passei a levar de todos. Tinha entrado automaticamente para o lote dos que deveriam ser escorraçados da faculdade.

A minha luta, porém, foi titânica. Nunca desarmei. Ia dando em maluco. Eu e a namorada que viria a ser a minha mulher, a breve trecho.

Andei a caminhar para a faculdade como um viciado ou que vai à missa, a todas as horas, durante anos e anos. Não havia recanto ou café de Lisboa onde não tivesse estado a estudar. Até nas maternidades, quando acompanhava a mulher, no nascimento de mais um filho. Cheguei a levar o primogénito, o Paulo Alexandre, aí com uns 3 a 4 anitos, a ver as notas dum exame, na pauta.

Os colegas que ali estavam puseram-se a brincar com ele. Nas correrias, as calças caíram-lhe pelas pernas abaixo e ficou com o rabito ao léu… foi uma risota no átrio. Nunca mais esqueci.

Entretanto, a situação política do país e a internacional, tinha evoluído muito. Com grandes manchetes. Em 1967, subitamente, Israel, sob o comando do Moshe Dyan, invade a Palestina, com um poderio bélico de tal ordem, que sufocou o adversário em meia dúzia de dias, com o espanto de todo mundo.

Cá dentro, a guerra colonial agravava-se num crescendo assustador. Como alimentá-la em material e homens?...As gerações jovens estavam cada vez mais esclarecidas. Começava a dar-se uma hemorragia preocupante, deles para o estrangeiro, na hora de se apresentarem. Portugal estava a ser flagelado nos aerópagos internacionais, pela adversidade de todos os países ocidentais. 

A polícia política exaspera-se, de dia para dia, na caça aos comunistas clandestinos que desestabilizavam as universidades e as empresas. A universidade torna-se palco de pancadaria pelos corredores e escadas, entre os “gorilas” (uma tropa de seguranças escolhidos a dedo) e os estudantes “insurrectos”. Cada vez se tornava mais difícil salvaguardar o regular funcionamento das aulas.

A mim, não me preocupava essa pancadaria. Já tinha feito a minha guerra. Não tomava partido por nada. Um clima de incerteza geral e de preocupação instala-se na universidade. Havia que concluir o curso o mais depressa possível.

Quando, em 1974 se desencadeia o vinte cinco de Abril, eu estava quase a concluir o 4º ano. Durante os dias que se seguiram ao golpe, as universidades colapsaram com as rebeliões internas. Os saneamentos dos professores, a torto e a direito, despovoaram as cátedras de mestres. Era a vingança da estudantada.

Não se sabe donde, surgem mil movimentos ideológicos que querem apoderar-se das rédeas das escolas superiores. Os confrontos, agora, passaram a ser entre os MEC {, Movimento Estudantil Comunista] e os MRPP [, Movimento de Reorganização do Proletariado Português], comunistas e maoístas…

Sucedem-se repetidas RGAS (e uniões gerais de alunos) para se obterem votações directas. Os estudantes eram quem tinha o poder de traçar rumos para a universidade. Verdadeiras batalhas campais, com muita violência, martirizavam aquelas magnas assembleias, sem se chegar a conclusão nenhuma. Só pela alta madrugada, quando já se tinham ido embora a maior parte dos estudantes, é que vinham as decisões.

Tudo foi posto em causa. Rasgaram-se os programas de ensino. Ensaiaram-se os métodos e currículos o mais utópicos que se possa imaginar. Foi uma terrível frustração geral. Parecia que nunca mais as Universidades funcionariam outra vez.
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Nota do editor:


Guiné 63/74 - P10051: Parabéns a você (437): Cherno Baldé, Gestor de Projectos na Guiné-Bissau

Para aceder aos postes do nosso amigo tertuliano Cherno Baldé, clicar aqui
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10049: Parabéns a você (433): Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4640/72 e Leopoldo Amado, Historiador e Professor Universitário, natural da Guiné-Bissau

terça-feira, 19 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10050: Patronos e Padroeiros (José Martins) (26): Patrono do RI 14 (Viseu) e Curso da Escola do Exército - 1951/1954




1. Em mensagem do dia 15 de Junho de 2012, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos mais um trabalho para a série Patronos e Padroeiros.






Patronos e Padroeiros XXVI

Patrono do Regimento de Infantaria n.º 14 (Viseu) 
e Curso da Escola do Exército - 1951/1954 

Viriato – Painel, em azulejo, que existiu no Restaurante Viriato, em Odivelas (Bons Dias). 
© Foto José Martins 

Viriato 
Capitão da Lusitânia 

A LUSITANIA foi um território que existiu, em grande parte, no território que é agora ocupado por Portugal, mas que acabou dominado por Roma cerca do ano 29 a.C. Eram povos ibéricos pré-romanos, com origem indo-europeia e habitavam estes territórios desde a idade do ferro. Não existem registos escritos anteriores à dominação romana, mas pensa-se tratar-se de tribos celtas, oriundas dos Alpes suíços que, migrando em busca de climas mais amenos, se tenham vindo a estabelecer nestas zonas, e miscigenaram-se com celtas, dando origem aos Lusitanos.

Tinha como chefe um homem a que chamaram Viriato e, sobre o qual, a história pouco regista. Não existe data em que poderá ter nascido e, como data da sua morte, é referido o ano de 139 a.C., com a idade de cerca de 50 anos.

Esse homem, devido às agruras do terreno e da época, habituado à dureza da vida e às privações que esta lhe impunha, não deixava de ser um nómada – pastor e guerreiro – mas não trocava hipotéticos luxos, pela sua liberdade e pela liberdade do seu povo, com o qual se identificava.

Viriato – Desenho existente na Pastelaria Viriato, em Odivelas (Jardim da Radial). 
© Foto José Martins

Caio Vetílio, no ano de 147 a.C, cerca os Lusitanos na Turdetânia, concretamente no vale de Bétis, aos quais de opõem sob o comando de Viriato que, viria a derrotar as tropas romanas no desfiladeiro de Ronda, onde Vetílio vem a encontrar a morte.

Nova força romana, sob o comando de Caio Pláucio, é derrotada em Segóbriga e, em 146 a.C, é a vez de Cláudio Unimano, governador da Hispânia Citerior ser derrotado e, no ano seguinte, teve igual sorte a força comandada por Caio Nígido.

Nesse ano de 145 a.C, Roma nomeia cônsul da Hispânia Citerior Fábio Máximo, irmão de Cipião o Africano, a quem são dadas ordens de dar combate a Viriato, pelo que lhe é entregue o comando de duas legiões. Os lusitanos sofrem algumas derrotas mas, em 143 a.C, passam à ofensiva e conseguem empurrar os romanos até Córdova. É o inicio duma revolta dos celtibéricos que só vem a terminar em 133 a.C, com a queda de Numância,

Viriato inflige uma pesada derrota ao novo cônsul, Máximo Servilliano, a quem são mortos cerca de 3000 romanos e que, para evitar represálias sobre si, garante a autonomia dos lusitanos. Mas, quando a notícia chega a Roma, o Senado considera o acordo humilhante, pelo que toma a decisão de continuar a luta contra a Lusitânia, pelo que envia nova força sob o comando do general Servílio Cipião, com o apoio das tropas de Popílio Lenas.

O general ao sofrer nova derrota, altera a estratégia para dominar as forças lusitanas, recorrendo ao suborno de alguns companheiros de Viriato, acabando este por ser morto à traição.

Viriato viria a ser sucedido por Sertório, antigo general romano, acabando por ser capturado pelos romanos.

Estrabão, (63 a.C. ou 64 a.C. - ca. 24), historiador, geógrafo e filósofo grego, definiu, assim, a Lusitânia: "A mais poderosa das nações da Península Ibérica, a que, entre todas, por mais tempo deteve as armas romanas".

Armas 

- Escudo de Prata, cinco aneletes de negro em sautor, cada um com uma cabeça de águia contornada e cortada, também de negro, e ensanguentada de vermelho, inclusa;
- Elmo militar, de Prata, forrado a vermelho, a três quartos para e dextra;
- Correia de vermelho perfilada a oiro;
 - Paquife e virol de Prata e de negro;
- Timbre um toiro furioso e de negro;
- Condecorações: Pendentes do escudo a medalha de Cruz de Guerra de 1ª Classe;
- Divisa: num listel de branco, ondulado, sotoposto ao escudo em letras de negro, maiúsculas, de estilo elzevir «CUJA FAMA NINGUÉM VIRÁ QUE DOME».
- Grito de Guerra: num listel ondulado, sobreposto ao timbre, em letras de negro, maiúsculas, de estilo elzevir «VIRIATOS».

Simbologia e Alusão das Peças 

- No escudo, a PRATA enlaça a «humildade» - dos meios disponíveis – com a «esperança» - na inventiva do homem das serranias – em alcançar a «vitória», simbolizado no VERMELHO do sangue que escorre das cabeças decepadas das águias.
- Os aneletes - «virae» em latim – recorda a forma como os romanos identificaram VIRIATO, a quem se referiam denominando-o por « o que usa braceletes ».
- As cinco cabeças de águia decepadas em sinal de derrota das forças romanas, invocam as vitórias de VIRIATO sobre os cinco pretores que venceu antes de pela traição se abatido.
- O Touro, alude a VISEU porque perpetua a recordação do ardil de guerra com que os lusitanos desbarataram as forças de CAIO NIGIDIO que, encurraladas na cave – hoje designada de VIRIATO – debandaram em pânico quando sobre elas carregou em tropel uma manada de trezentos touros enlouquecidos pelo aguilhão de varas de ferro aquecidas ao rubro.
- VIRIATOS inscreve no brasão o tradicional grito de guerra da Unidade.


Os Esmaltes Significam 

- PRATA: humildade e esperança;
- VERMELHO: vitória;
 - NEGRO: constância e firmeza.

Imagem e texto retirados, com a devida vénia, da página do Exercito Português. http://www.exercito.pt/sites/RI14/Historial/Paginas/Heraldica.aspx

José Marcelino Martins
14 de Junho de 2012
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9163: Patronos e Padroeiros (José Martins) (25): Anjo Custódio de Portugal