quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13597: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (4): os comerciantes de Nova Lamego... Era gente de confiança ? (Joaquim Cardoso, ex-sold trms, Pel Mort 4574, 1972/74)



Guné > Região de Gabu > Nova Lamgo > Pel Mort 4574 (1972/74) > Eram tapetes, de estilo oriental, com motivos exóticos (como a fauna e a flora africanas), que os militares  compravam aos comerciantes libaneses. Eles também aproveitaram a "economia de guerra" (LG).

Fotos: © Joaquim Cardoso  (2014). Todos os direitos reservados.



1. Mensagem de Joaquim Cardoso [, ex-sold trms,   Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74],, com data de 17 de agosto passado:


Olá, caro amigo Vinhal

Este simples Olá, é o cumprimento sugerido, em e-mail do nosso " Comandante "Luís Graça, em gozo de férias (?), que, apesar de simples, encerra nele toda a minha consideração, esperando, estou certo, que te encontrarás muito bem por essas praias Matosinhenses, tomando banhos de água e sol.

No dito e-mail, o Luis refere-se também ao estado da sua nova anca e, pelo que diz, está em evolução muito positiva. Ainda bem, pois certamente toda a tertúlia espera que em breve fique em condições de fazer parte de uma qualquer corrida de atletismo ou até de tríplo salto!

Comento de seguida o tema que o Luís colocou, relativo aos Libaneses na Guiné (*):

Tendo estado em Nova Lamego em 1972/74,  direi, sem ter a certeza, que nessa altura na localidade, não chegariam a meia dúzia os estabelecimentos pertencentes a Libaneses, onde se vendiam entre outras coisas, tapetes de estilo oriental, idênticos aos das fotos que junto, adquiridos esencialmente por militares para suas recordações, e tecidos para a feitura de panos com que as nativas tapavam algumas das suas "vergonhas".

Partindo do pressuposto, que essas pessoas eram refugiadas de guerra no seu País, o seu refúgio na Guiné, também em guerra, era por isso muito polémico.

Era voz corrente que, sendo os militares os maiores compradores, esses comerciantes estariam interessados na continuação do conflito por forma a manter os seus negócios, colaborando por isso com o IN. Dizia-se também que, sempre que houvesse encerramento temporário dos seus estabelecimentos, estava à vista ataque iminente!


A ser verdade, é evidente que teriam informação antecipada, por parte do nosso adversário, permitindo-lhes, assim, a possibilidade de se ausentarem do local ou tempo suficiente para uma melhor proteção.

Nessa altura, nos dois principais ataques com foguetões a Nova Lamego, em que felizmente nada de grave aconteceu, não vi, nem obtive informações que dessem firmeza à versão desses procedimentos.

Termino, deixando estes simples apontamentos à consideração, com um fortíssimo abraço a todo o pessoal.

J. Cardoso
Ex-Sold. Transmissões em Nova Lamego - Guiné , 
1972/74 

[. Foto acima, com o António Santos, também do Pel Mort  4574, à sua direita, no posto de rádio]
_____________

Nota do editor:

Guiné 63/74 - P13596: Em busca de... (248): Pessoal do Pel Mort 2297 (Bula, 1969/71)... a que pertenceu o meu pai, Eurico Lopes Pereira, natural de Boticas...Quero levá-lo lá, em 2015 (João Pereira, a residir em Angola)



Pormenor da carta de Bula (Escala 1/50 mil). Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)

1. Mensagem do nosso leitor João Pereira, com data de 6 do corrente:


Assunto: Pelotão de Morteiros 2297,  Bula 1969/71


Boa tarde,

Não o conheço, nem estive no ultramar, estou agora no antigo ultramar, em Angola.

Sou filho de um ex combatente pertencente ao Pelotão de Morteiros nº 2297 ,entre os anos de 1969 e 1971.

O meu pai esteve em Bula nesses anos e gostava muito de encontrar ex camaradas desse pelotão. Se tiver informação de algum ex-camarada dele, números de telefone ou email ou até fotos agradecia imenso que me informasse. Estou a planear uma viagem á Guiné para 2015, com o meu pai, o qual me disse que não quer morrer sem lá voltar.


O nome do meu pai é..Eurico Lopes Pereira. É natural de Boticas, Vila Real, Trás os Montes.
Saudações

João Pereira
(0244924989288)
(00351960033914)

__________________


2. Informações que recolhemos sobre o Pel Mort 2297 (Bula, 1969/71), através do nosso colaborador permanente José Martins [, foto à esquerda]:


Luis

(i) Não localizei encontros do Pel Mort 2297, aliás uma PU (Pequena Unidade) formada com cerca de 50 elementos.

No link http://santamargarida.blogspot.pt/2007/09/954-os-progressistas-de-salgueiro-maia.html pode ler-se:


As tropas aquarteladas na zona são em Agosto de 1971:

Bula:
- Batalhão de Caçadores [BCAÇ] 2928;
- [CCAV] 3420;
- Esquadrão de Reconhecimento Panhard 2641
- Pelotão de Morteiros 2297;
- Pelotão de Artilharia 26;
- Pelotão de Milícias 224;
- Pelotão de Milícias 293;

Binar:
- Companhia de Caçadores 17
- Pelotão de Milicias 291

Bissum:
- Companhia de Caçadores 2781
- Pelotão de Milicias 284.

Inhamate:
- Companhia de Artilharia 3330

Destacamentos de Capunga Pete e Ponta Consolação:
- Companhia de Caçadores 2789.

Destacamentos de João Landim, Mato Dingal e Augusto Barros:
- Companhia de Caçadores 2791

Só se o pessoal do Pel Mort 2297 se encontrar com estas (ou algumas destas) unidades.

Se existir História da Unidade no AHM [, Arquivo Histórico Ultramarino, (i] para este caso apenas terão interesse os nomes dos elementos da mesma.

(ii) Tambem encontrei informação sobre o Encontro Anual da Companhia de Caçadores 2465 do Batalhão de Caçadores 2861 Guiné 1969/1970

Data de realização do evento: 4 de Junho de 2011

Hora de início: 11H00

Local: Ponte de Lima

Distrito: Braga

Inscrição  (Telefone, email ou outro contacto): Telefone: 914 272 083

Nome do responsável: José Barbeiro

Fonte: Portal UTW [Ultramar TerraWeb] >  Encontro Anual da Companhia de Caçadores 2465 do Batalhão de Caçadores 2861 Guiné 1969/1970


3. Comentário adicional do nsso editor LG:

João, obrigado pelo contacto. Aqui fica o teu apelo bem como os teus e outros contactos. Não é nada provável que o Pel Mort 2297 se reuna anualmente, já que o número de efetivos destas subunidades era escasso, inferior a um companhia (que tinha quatro pelotões) ou um batalhão (que tinha quatro companhais). Em geral, estas subunidades (pelotões de morteiro, pelotões de artilharia, pelotões de reconhecimento Daimler, etc.) juntam-se, para efeitos de convívio anual, às CCS dos batalhões a que estavam adidas...

Sobre Bula, temos já 220 referências no nosso blogue, muitas histórias, muitas fotos... Dversos camaradas por lá passaram, mas ninguém do Pel Mort 2297, que eu me recorde... Também temos a carta de Bula  (mapa que usávamos nas operações). Clica aqui, o teu pai vai gostar de reconhecer os sítios que vêm na carta.

Esperemos que apareça malta do tempo do teu pai, que tenha estado em Bula, e que o reconheça. O mais prático é mandares fotos digitalizadas do teu pai, em Bula. Diz-me exatamente em que período é que ele lá esteve (1969/71)... É importante o mês de chegada e o de partida.

Manda também uma foto atual, se possível.  Ele não estava sozinha em Bula...Tinha camaradas de outras unidades (CCS/BCAÇ 2928, CCAV 3420. EREC 2641, 26º Pel Art, etc.).

De qualquer modo, vai dando conta dos desenvolvimento das tuas diligências. E quando decidires levar o teu pai à Guiné-Bissau, em 2015, em "romagem de saudade". contacta-nos. Dá uma alfabravo [ABraço] ao teu pai e nosso camarada Eurico Lopes Pereira, grande transmontano. Muita saúde e longa vida para ele e a família. Boa saúde e bom trabalho, para ti, em Angola

PS - É possível que o teu pai tenha conhecido o nosso camarada Armando Pires [ex-Fur Mil Enf, CCS/BCAÇ 2861,Bula e Bissorã, 1969/70].  Ele tem diversas fotos e histórias de Bula. Posso dar-te o contacto dele, se o teu o pai o reconhecer.

______________

Nota do editor:

Último poste da série > 3 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13564: Em busca de... (247): Afonso Pombinho, ex-Soldado da CART 676 (Pirada, 1964/66), procura camaradas


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13595: Agenda cultural (335): Semana Cultural - 90 anos - Amílcar Cabral - 11 e 12 de Setembro de 2014, pelas 17h00, no Auditório Armando Guebuza - Universidade Lusófona, Lisboa





Pedido de publicação desta iniciativa cultural, enviado pelo NUGAU - Núcleo Guineense.de Arquitetura e Urbanismo. Vd. também poste de  2 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13083: Agenda cultural (313): 1ª Conferência Internacional de Arquitetura e Urbanismo na Guiné-Bissau, Bissau, 26-29 de novembro de 2014: resumos de comunicações até 15 de maio (Naldo Nogueira, NUGAU, Odivelas)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 4 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13572: Agenda cultural (334): Noites de Verão no Museu do Chiado, com Kimi Djabaté, o grande artista lusoguineense, oriundo de Tabatô, lídimo representante da tradição da música afromandinga, sexta-feira, 5 de setembro de 2014, 19h30... Entrada livre.

Guiné 63/74 - P13594: Inquérito online sobre os capelães no CTIG: Num total de 73 respondentes, um terço (n=24) nunca conheceu nenhum capelão, e outros tantos (n=28) guardam boas recordações deles


Resultados da nossa sondgem sobre os capelães militares no CTIG. A votação encerrou em 5 de setembro. Houve 73 respondentes. Como se pode verificar, a opinião dos respondentes é simpática e favorável à presença dos capelães no seio das nossas fileiras.

Embora um terço dos respondentes (n=24) não tenha conhecido nenhum capelão, outros tantos guardam boas recordações deles (n=28)... Cerca de um em cada quatro (n=17) acham que  eles "davam algum conforto espiritual aos nossos soldados"... Apenas cerca de 18% dos respondentes disseram que "nunca sentiram a sua falta" (n=13)...

É óbvio que a amosttra, de reduzida dimensão e de conveniência, não permite generalizar as conclusões.

Lembre-se que,  em pelna guerra (1966), não haveria mais do que centena e meia de capelães miliatres no seio das Forças Armadas Portuguesas, empenhadas numa guerra em três frentes: Angola, Guiné e Moçambique. A década de 1960, que é também a do Concílio Vaticano II, foi fortemente marcada pela crise de vocações sacerdotais no seio da Igreja Católica. Dois dos quatro membros da nossa Tabanca Grande que foram capelães no TO da Guiné, acabaram por deixar o sacerdócio: o Arsénio Puim e o Horácio Fernandes (*).

_____________

Guiné 63/74 - P13593: Convívios (625): I Encontro de paraquedistas do Oeste... Lourinhã, 6 de setembro de 2014... Parte IV: Saltos de paraquedas no estádio municipal... Revivendo emoções fortes


Vídeo (0' 26'')




Vídeo (0' 16'')

Lourinhã > 6 de setembro de 2014...I Encontro de Paraquedistas do Oeste > Saltos de paraquedas no estádio municipal local... Foram três saltos que fizeram reviver emoções fortes a muitos dos presentes (que têm brevet mas deixaram de saltar há muito)... Os jovens paraquedistas (civis)  que saltaram eram dois rapazes e um rapariga.. Lamento não saber a que escola ou associação pertencem...




Lourinhã > 6 de setembro de 2014...I Encontro de Paraquedistas do Oeste > Saltos de paraquedas no estádio municipal local > Entre a assistência, em primeiro plano, à direita, o Jaime Silva e a esposa Dina... À esquerda, um dos furrieis do seu grupo de combate, da 1º CCP / BCP 21 (Angola, 1970/72)...  Este camarada (aqui acompanhado da esposa) veio de Aveiro, e é já um velho amigo do Jaime (um dos organizadores do encontro).


Lourinhã > 6 de setembro de 2014...I Encontro de Paraquedistas do Oeste > Saltos de paraquedas no estádio municipal local >  Aspeto parcial da assistência... Este espetáculo foi possível graças à conjugação de um,a série de boas vontades... Mesmo assim é preciso pagar o avião. etc. O grupo seguiu depois para o restaurante "O Braga", no Vimeiro, a 5 km da vila da Lourinhã.  O almoço de convívio teve 114 inscritos.


Fotos e vídeos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.

______________

Guiné 63/74 - P13592: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (7): Primeiro, Wakefield e arredores, depois Derbyshire

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Agosto de 2014:

Queridos amigos,
Estamos em Julho e volto a Inglaterra.
A maior satisfação era ter comigo a Joana e a Benedita.
Começamos na região de Yorkshire e depois subimos até Derbyshire. Vimos parques, museus, exposições, passeámos em florestas, entrámos em casas magnificentes como Hardwick Hall e Temple Newsam House. Não faltaram jardins nem passeatas por os parques infantis. Contagiei a Joana com as visitas às charity shops, onde se compra bom e barato, praticando filantropia. Ali me abasteço de roupa, de música, de quinquilharia vária. Tivemos sorte com o tempo. E todos queremos voltar, haja oportunidade, pois claro.

Um abraço do
Mário


Biblioteca em férias (7)

Primeiro, Wakefield e arredores, depois Derbyshire

Beja Santos

Aterrou-se em Manchester e viajámos imediatamente para Wakefield, pedi para irmos visitar um museu onde tinha encontro aprazado com a escultora do século XX que mais admiro, Barbara Hepworth. Entrámos no museu, a Benedita deslumbrou-se com aqueles minérios incandescentes de um artista cujo nome não retive e posou para a câmara, penso que ela julgou que estava numa sala de brinquedos.


Barbara Hepworth foi altamente influenciada por Brancusi mas cedo ganhou autonomia. É uma escultura que apela às raízes fundas da natureza, sentimos a cultura megalítica, as árvores, os cursos de água; mas há algo de anatómico naquela pedra polida, permanentemente esburacada, por vezes é o ente humano reduzido ao esquematismo, parece que a artista regista o fundamental da nossa magnitude, é tudo tão depurado que não é preciso pedir mais, contentamo-nos com a justa medida.


Deambulando pelo museu, cometi uma barbaridade: à socapa, disparei o flash sobre esta pintura de Fernand Léger, felizmente foi a alguma distância, a vigilante veio alvoraçada: No flash! No photos! O mal estava feito. Nunca mais vou esquecer este quadro de Fernand Léger, cores suaves, está marcado pelo cubismo, ainda não é o Fernand Léger das construções maquinais, das tubagens e seres humanos quase tirados da BD.


Continuamos em Wakefield, estamos agora de visita ao parque de esculturas de Yorkshire, espaço de serenidade pontoado por esculturas extremamente originais. Foi a vez da Joana se sentar ao lado de figuras mudas, gostei da fotografia, se me permitem a imodéstia.


Almoçámos no parque e seguimos para Temple Newsam House, na região de Leeds, é uma casa esplêndida em mobiliário, pintura, cerâmica, têxteis, prataria, é só riqueza, magnificência. A Benedita esteve-se nas tintas, queria brincar, pular, pôr tudo num badanal. E ganhou, visitámos a casa à pressa, a correr atrás dela, neta menos fleumática não pode ser, os vigilantes de expressão severa, a Benedita só queria correr, a riqueza não a impressionou.


Já estamos em Derbyshire, impunha-se mostrar à Joana Hardwick Hall, mandada construir por Bess de Hardwick, a mulher mais rica do seu tempo, viveu sempre nas graças de Isabel I. Não conheço uma sala como esta, tão contemporânea do início do século XVII, Bess devia ter dinheiro graúdo, uma parte da casa aparece forrada com toda esta tapeçaria flamenga, esplendorosa e bem mantida. A Joana sentiu-se bem, e eu feliz por vê-la feliz.


Mudámos de paragem, estamos no Peak District, onde se situa o primeiro parque nacional. Ilam Hall é uma casa vitoriana reconvertida em albergue de juventude. Ali perto, com as ovelhas a balir à volta, temos a capela e gostei muito deste túmulo jacente, são belas esculturas, impressionantes. Não resisti e pumba. Espero que gostem.


Agora estamos em Buxton, cidade termal, com ópera, hotéis luxuosos, parques frondosos, por ali, entre os séculos XIX e XX passearam-se os que vinham a banhos. Estava um dia de sol e havia uma exposição de carripanas gloriosas do passado, com intervenções imaginativas. Filha e neta estavam divertidas. Eu não menos, este registo impunha-se.


E passámos para o parque infantil, a Benedita viveu momentos gloriosos, nunca conhecera tamanho escorrega, gostou que se fartou, misturou-se com os mais crescidos, subiu e desceu inúmeras vezes, nunca se cansou, nós a debitar de quinze em quinze minutos duas libras esterlinas, ela queria divertir-se, indiferente ao valor da libra. E todos nós contentes com o contentamento dela.

E ficamos por aqui, vamos para a última jornada, ver parques, jardins sumptuosos, Haddon Halle, berços da Revolução Industrial, em Cromford, Derwent Valley, Matlock e depois Hartington e Eyam. Não há bem que sempre dure, acabaram as férias. O importante é mesmo o que fica: estas gratas memórias, vermos as pessoas que amamos felizes. E esta intensa vontade de querer voltar, Inglaterra vale.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 de Setembro de 2014 > > Guiné 63/74 - P13563: Biblioteca em férias (Mário Beja Santos) (6): De Swanage para Faringdon, de Dorset para Oxford

Guiné 63/74 - P13591: Parabéns a você (787): Rui Baptista, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489 (Guiné, 1971/74) e Tony Grilo, ex-Soldado Ap Art.ª do BAC 1 (Guiné, 1966/68)


____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13588: Parabéns a você (786): Filomena Sampaio, Amiga Grã-Tabanqueira e Raul Azevedo, ex-Cap Mil do BART 6522 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13590: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte IX: outubro de 1972: (i) no final das chuvas, e ao fim de dez meses de comissão, o primeiro ataque a um barco civil, o "Mampatá", no Rio Geba Estreito, à 1 hora da noite, de que resultaram feridos, 1 militar e 3 civis; (ii) Spínola no encerramento do 3º turno de instrução de milícias; e (iii) 37 balantas de Mero recebem instrução militar...



Guiné > Zona leste > O Rio Geba... o estreito (do Xime para montante) e o largo (do Xime para jusante)... c. 1970, no tempo seco... O rio era navegável de Bissau até Bafatá!... Mas normalmente, as embarcações (civis) iam até Bambadinca... As LDG ficavam pelo Xime, mas chegavam a Bambadinca, pelo menos até a 1968... Dois pontos vulneráveis do percurso eram a Ponta Varela (na margem esquerda do Rio, entre a Foz do Corubal/Ponta do Inglês e o Xime), e o Mato Cão (entre o Xime e Bambadinca, no troço serpenteante do Geba Estreito).

Fotos do álbum do Humberto Reis, ex-fur mil op esp (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)


Fotos: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Continuação da publicação da história do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da história da unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte.

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; foi voluntário para a CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado, foto atual à esquerda].

Destaque, no mês de outubro de 1972, para:

(i) no final das chuvas, e ao fim de dez meses de comissão, o primeiro ataque a um barco civil, o "Mampatá", no Rio Geba, de que resultaram feridos, 1 militar e 3 civis [foi um ataque no Rio Geba Estreito, no subsetor de Bambadinca,  às 1h15 da noite!);

(ii)  Spínola, mais uma vez, presente no CMIL de Bambadicna, nestte caso no encerramento do 3º turno de instrução de milícias;

e (iii) 37 homens de Mero (incluindo o chefe da tabanca) começaram a ser treinados, por sua inicaitiva, no CIMIL (Centro de Instrução de Milícias) de Bambadinca... (Esta tabanca balanta era, desde sempre,  conotada como simpatizante da guerrilha).


Outubro de 1972: no final das chuvas, e ao fim de dez meses de comissão do BART 3873, o primeiro ataque a um barco civil, o "Mampatá", no Rio Geba Estreito, de que resultaram vários feridos, 1 militar e 3 civis...








 (Continua)
_____________

Guiné 63/74 - P13589: Convívios (624): I Encontro de paraquedistas do Oeste... Lourinhã, 6 de setembro de 2014... Parte III: Homenagem ao sod paraquedista Carlos Alberto Ferreira Martins (1950-1971), da CCP 123/BCP12... Vídeo com a alocução do seu antigo comandante, hoje maj gen ref Avelar de Sousa



Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar >  6 de setembro de 2014 >  I Encontro dos Paraquedistas do Oeste > Coroa de flores de homenagem ao sold paraquedista Carlos Alberto Ferreira Martins (1950-1971), oferecida pela junta de freguesia do Vimeiro, donde era natural.



Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar >  6 de setembro de 2014 >  I Encontro dos Paraquedistas do Oeste > O Carlos Alberto Ferreira Martins é um dos muilitares lourinhanenses mortos no TO da Guiné (num total de 20, na guerra colonial). Faria 64 anos no próximo dia 24, se fosse vivo. Não temos, infelizmente, nenhuma foto dele.

[Observ:: Esta placa já foi substituída. A imagem não é atual, tem já uns anos... O segundo milita,  a contar de cima, é o José Henriques Mateus (e não Martins), natural de Areia Branca... De momento, era a foto de que dispunhamos... O lapso já foi, oportunamente, corrigido pela Câmara Municipal da Lourinhã]




Vídeo (4' 23''). Alojado no You Tube > Nhabijoes

Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar >  6 de setembro de 2014 >  I Encontro dos Paraquedistas do Oeste.(*)

 Homenagem ao sold paraquedista da CCP 123 / BCP 12. Carlos Alberto Ferreira Martins, (1950-1971), natural de Toledo. freguesia de Vimeiro, concelho da Lourinhã,  morto em combate no subsetor de Canjadude, região de Gabu, leste da Guiné, em 15/4/1971. É um dos vinte lourinhanenses mortos na guerra colonial (seis dos quais na Guiné).

No uso da palavra, o major general paraquedista reformado Avelar de Sousa [, de seu nome completo, Cristóvão Manuel Furtado Avelar de Sousa] (**), que comandava a CCP 123 em 1971,  quando morreu o Carlos Martins (n. 21 de setembro de 1950, tinha o brevet nº 8065.

Fotos e vídeo: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.
_____________

Nota do editor:

(*) Vd. postes  anteriores da série:

8 de setembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13587: Convívios (623): I Encontro de paraquedistas do 

Oeste... Lourinhã, 6 de setembro de 2014... Parte II: O Hino dos Boinas Verdes

7 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13581: Convívios (622): I Encontro de paraquedistas do Oeste... Lourinhã, 6 de setembro de 2014... Parte I: As primeiras imagens


(**) Nota curricular:

Cristóvão Manuel Avelar de Sousa:

(i) nasceu em São Roque, Ponta Delgada, nos Açores, a 4 de Abril de 1944;

(ii) terminou os seus estudos liceais no Liceu Nacional de Ponta Delgada em 1961:

(iii) ingressou o na Academia Militar na Amadora nesse mesmo ano;

(iv) promovido a oficial em 1965, ingressou, no ano seguinte, nas tropas paraquedistas, onde se manteve durante toda a sua vida de oficial no ativo;

(v) cumpriu missões de serviço em África na Guiné (198/69 e 1970/71), Moçambique (1974) e Angola (1975);

(vi) depois da promoção a oficial superior desempenhou diversos cargos no âmbito da Força Aérea e do Exército dos quais se destacam: Ajudante de Campo do Presidente da República (1976 a 1981); Adido de Defesa em Angola (de 1989 a 1992); Comandante das primeiras Tropas Portuguesas na Bósnia-Herzegovina (1996); Coordenador da Cooperação Técnico-Militar Luso-Angolana em Luanda (1996 a 1997); Chefe do Estado Maior do Comando Operacional dos Açores, em Ponta Delgada (1197 a 1998); Adido da Defesa na Austrália, em Camberra (1999 a 2000), com deslocações frequentes a Timor-Leste na fase pré-independência;

(vii) promovido a oficial general em 1998, passou a situação de reserva em 2003, no comando das Tropas Aerotransportadas (brigadas de paraquedistas), seu último cargo oficial;

(viii) tem  mais de 1400 saltos em paraquedas, tendo integrado diversas equipas nacionais de pára-quedismo militares e civis, com diversos títulos conquistados, em Portugal e em competições internacionais;

(ix) Possui licença de piloto de aviões, piloto profissional e piloto de planadores;

(x) Depois de 2004 desempenhou as funções de: presidente da Associação da Força Aérea Portuguesa, da União Portuguesa de Paraquedistas; presidente da Associação de Bombeiros Voluntários de Bucelas;

(xi) É actualmente: presidente da Assembleia Geral do Aeroclube de Portugal; presidente da direcção do Corpo Nacional de Guardas-nocturnos, com sede na Bemposta, Bucelas.

(xii) é casado,  tem três filhos e cinco netos;

(xiii) reside em Freixial,  freguesia de Bucelas, concelho de Loures,, há  duas dezenas de anos;

Guiné 63/74 - P13588: Parabéns a você (786): Filomena Sampaio, Amiga Grã-Tabanqueira e Raul Azevedo, ex-Cap Mil do BART 6522 (Guiné, 1972/74)


____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13584: Parabéns a você (785): Alberto Grácio, ex-Alf Mil Op Especiais do BCAÇ 4615/73 (Guiné, 1973/74)

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13587: Convívios (623): I Encontro de paraquedistas do Oeste... Lourinhã, 6 de setembro de 2014... Parte II: O Hino dos Boinas Verdes







Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 6 de setembro de 2014 > I Encontro dos Paraquedistas do Oeste > Lourinhã >  Um grupo de antigos páras, da Associação de Pára-quedistas Tejo Norte, com sede em Oeiras, canta o "Hino dos Boinas Verdes"...

Vídeo (2' 10''):. Alojado em You Tube > Nhabijões.

Foto e vídeo: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.


Hino dos Boinas Verdes

Lá do céu com valentia,
Descem sempre de noite ou dia,
São soldados desconhecidos,
Boinas Verdes são destemidos.

Olhem bem, sintam respeito,
Eles têm asas ao peito,
Cabeça erguida, heróis do ar,
Boinas verdes vão a passar.

Com orgulho em defender
A Nação p'ra não morrer,
Lutadores são, afinal,
Boinas Verdes de Portugal.

Lá do céu a gente pede
Para na terra morrer de pé,
Dando a vida que Deus nos deu,
Boinas Verdes sobem ao céu.

Olhem bem, sintam respeito,
Eles têm asas ao peito,
Cabeça erguida, heróis do ar,
Boinas verdes vão a passar.


[Fonte: Cortesia de Boinas Verdes de Portugal]

Música dos americanos  SSgt [Staff Sargent] SF[Special Forces] Barry Sadler  e Robin Moore. Título original "The Ballad of The Green Berets", 1966. Vd. no You Tube uma interpretação do próprio Barry Sadler]

_____________

Guiné 63/74 - P13586: Manuscrito(s) (Luís Graça (42): Extremadura(s)...



Lourinhã > Praia do Caniçal > Finais de agosto de 2014 (1)


Lourinhã > Praia do Caniçal > Finais de agosto de 2014 (2)


Lourinhã > Praia de Paimogo > Finais de agosto de 2014


Lourinhã > Praia de Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) >Finais de agosto de 2014


Lourinhã > Vimeiro > Monumento comemorativo e centro de interpretação da Batalha do Vimeiro > Azulejo alusivo ao desembarque das tropas luso-britânicas, na Praia de Paimogo, em 19 de Junho de 1808, sob o comando do brigadeiro-general Robert Anstruther... A batalha do Vimeiro foi em 21 de Agosto de 1808. Azulejo desenhado e pintado à mão por Salvador (2000).



Torres Vedras > Maceira > Estrada (particular) das Termas do Vimeiro (Fonte dos Frades) até à Praia de Porto Novo (1)

Torres Vedras > Maceira > Estrada (particular) das Termas do Vimeiro (Fonte dos Frades) até à Praia de Porto Novo (2) >  Margem direita do Rio Alcabrichel



Torres Vedras > Maceira > Estrada (particular) das Termas do Vimeiro (Fonte dos Frades) até à Praia de Porto Novo (3) > Rio Alcabrichel (que nasce na Serra de Montejunto e desagua na Praia de Porto Novo)

Foto: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados


Extremadura(s)


1. 
Casas caiadas, paradas,
O silêncio escorrendo pelas paredes;
Nas águas furtadas
Já não dormem as criadas
E na praça, ah!, da liberdade,
Já não se ouve o frufru das sedas
Roídas pelo bicho da traça.

2. 
“Esquecei o que vedes”,
Avisa o guia da cidade,
Poeta, cego, negro, escravo,
Enquanto os voyeuristas
Espreitam por ruelas e veredas.


3.
Há bonecas de porcelana,
Quiçá das Chinas,
Às janelas
E os dedos delas
Confundem-se com as rendas de bilros,
As teias de aranha,
As cortinas,
Os brocados de cetim,
Os deveres e os lavores femininos,
As máscaras de Arlequim,
As fantasias de antigos carnavais.

4. 
Dedos que teceram intrigas e redes,
Redes de pescadores
Há muito perdidos nas colinas
Do alto mar.
Ou dedos que fiaram outras redes
Clientelares, sociais, clandestinas,
Sob os portais,
Os corredores e as esquinas
Dos paços,
Dos passais,
Dos passos perdidos,
Das antecâmeras reais.

5. 
O silêncio não pára
Ou só vai parar
A um metro do chão,
Na barra azul
Dos moinhos de vento
Mais a sul,
Entre pomares e vinhedos.
À entrada.
Fora das muralhas,
O cemitério,
Cofre forte de segredos.
Aqui acabam-se todos os medos.

6. 
Valha-me a brisa do mar
Que me faz algum refrigério
Na canícula do fim de estação
Da minha civilização.

7. 
Casas paradas, caiadas
Com a mesma cal viva
Das valas comuns.
Pelos claustros do convento,
Entre suspiros, sussurros e zunzuns,
Esquivam-se furtivos noctívagos
Trânsfugas,
Infiéis,
Pecadores,
Hereges,
Proscritos,
Desertores,
Penitentes,
Almas penadas,
Poetas malditos,
Quiçá bruxas e duendes.

8. 
A calçada outrora portuguesa,
Gasta pelos cascos dos cavalos
Dos invasores,
Picam-se os brasões dos solares
Da mui antiga nobreza,
Corta-se rente
A árvore genealógica
Dos velhos senhores
E arrasados e salgados são, até às fundações,
Os seus doces lares.

9. 
Um estranho cheiro
A incenso, mirra, algas e maresia
Sobe pelos ares.
Violadas as filhas,
Raptadas as servas,
Passados a fio de espada
Os primogénitos,
Fundido o ouro e a prata,
Postos os novos deuses nos altares,
Pergunta o guia
O que é pior
Se a triste e vil desonra do presente
Ou o silêncio premonitório do futuro.

10. 
Por mim, nada de bom auguro.
Não sei que lugar é este
Sem memória
Nem glória,
À beira da estrada
Do Atlântico
Da minha infância revisitada.

11. 
Não há mais quem cante o cante
Dos poetas,
A doce cantilena das Naus Catrinetas,
O fero cântico dos últimos guerreiros
Do Império,
Ou até a última oração,
De lamento e impropério,
Em canto chão,
Que é devida
Aos bravos
Que pela Pátria deram a vida.

12. 
Fora de portas,
Num atalho ou trilho
Que leva ao monte das forcas,
Compro o último pão de centeio
E a última boroa de milho
À última padeira de Aljubarrota
Que ainda estava viva,
À hora do pôr do sol.
Padeira, viandeira, mãe coragem, altiva,
Que nem sempre o que parece é,
A vitória ou a derrota,
Medindo forças no tribunal da história.

13. 
Águas paradas do Rio Alcabrichel,
Tingidas de verdete e de sangue,
No fim de tarde de todas as batalhas.
“Pour Monsieur Junot,
C’était encore trop tôt!”.
Saqueada a  cidade,
Enchem-se as tulhas e as talhas,
Ainda a guerra é uma criança.

14. 
O último terno de cornetins
Da fanfarra do exército dizimado
Toca a silêncio,
Enquanto me despeço
Na parada, em ruínas, do quartel.

15. 
Em boa verdade, o silêncio
É a única linguagem universal
Que eu conheço
Na Torre de Babel.



Périplo pelas terras da Lourinhã, em 15 passos, entre a Praia de Paimogo e a Praia de Porto Novo, fim de verão, 2014. Aqui desembarcaram tropas luso-inglesas que derrotaram Junot na batalha do Vimeiro. Há 206 anos. 
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 30 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13547: Manuscrito(s) (Luís Graça (41): Roleta russa

Guiné 63/74 - P13585: Notas de leitura (630): “Estudos sobre Literaturas das Nações Africanas de Língua Portuguesa”, por Alfredo Margarido (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Fevereiro de 2014:

Queridos amigos,
Há que dizer logo à partida que estes dois poemas pouco ultrapassam a mera curiosidade, um é francamente chocho, porém o outro, Rosa, tem vibração, há para ali sopro anímico, manifestamente um poeta que deixou de ter tempo para poetar. Mas há também uma outra leitura, o Cabral europeu, que acompanhou a atmosfera daquele tempo do pós-guerra, em que o neorrealismo parecia a panaceia para revelar o artista social, engajado com as dores do mundo. E dá para entender como a formação de Cabral se manifestou por toda a sua vida, ele era medularmente europeu, a África veio depois, por vontade revolucionária.
São essas duas pessoas numa que dão o peso da grandeza de espírito e dos chocantes paradoxos da obra.

Um abraço do
Mário


Dois poemas neorrealistas de Amílcar Cabral

Beja Santos

Pintor, poeta, romancista, ensaísta, tradutor, historiador, jornalista, antropólogo, politólogo, sociólogo, professor universitário, Alfredo Margarido (1928-2010) foi, segundo alguns estudiosos, uma verdadeira figura do Renascimento. Esteve em África, em S. Tomé e Príncipe e Angola, ficou-lhe o bichinho pelas literaturas destas e de outras regiões africanas. Entre a sua vastíssima bibliografia constam “Estudos sobre Literaturas das Nações Africanas de Língua Portuguesa”, editados por A Regra do Jogo, em 1980. O livro alberga ensaios, artigos e comentários consagrados à coisa literária africana. É a folhear a obra que encontro na secção de Cabo Verde dois poemas de Amílcar Cabral, texto que Margarido publicou no Diário Popular de 10 de agosto de 1978. Vale a pena reproduzi-lo no essencial. Tinha aparecido no número um da revista Vozes, de janeiro-fevereiro de 1976 a republicação de um pequeno trabalho de Amílcar Cabral sobre “A Poesia de Cabo Verde”. É de todos sabido que Cabral estudou até ao fim do liceu em Cabo Verde e publicou ficção. Mas a sua criação poética também foi acolhida em Lisboa. Margarido encontrou um poema na revista Mensagem, órgão da Casa dos Estudantes do Império, o segundo foi copiado pelo ensaísta Carlos Ervedosa para uma antologia da poesia de Cabo Verde que Margarido se propusera a organizar para a Casa dos Estudantes do Império. E Margarido deixou a sua observação no artigo de jornal: “É possível que haja outros poemas perdidos em pequenas publicações académicas ou ilhoas, mas não deve haver já muitos. Espera-se que os leitores atentos ou os arquivistas implacáveis sejam capazes de nos dar a ler o que ainda desconhecemos”. E explica mais adiante: “Os dois poemas que republico são de 1946 e 1949, e ambos estão marcados pela inquietação do inventário social e do protesto. Em ambos se sente a lição da poesia neorrealista portuguesa da época”. E fundamenta a sua observação: “Repare-se no poema intitulado Rosa Negra onde a palavra negra desloca o nome popular para um espaço novo, onde o inventário desta Rosa começa por reter os elementos físicos. A parte primeira do poema, os primeiros dez versos, é constituída por esse inventário. A adversativa ‘mas’ introduz um juízo do poeta, que, ‘teme’ a sorte desta Rosa na vida que esta vive, pois, após o momento efémero da beleza, virão as varizes e as dores do corpo. O elemento contraditório é introduzido nos últimos cinco versos, em que os pontos de suspensão desempenham um papel essencial”. O que o estudioso quer dizer é que no código neorrealista fica a promessa de futuro.

No outro poema há um grito revolta, não foge aos estereótipos da poesia da época, está dentro da corrente da filantropia revolucionária.


Vamos então aos poemas:

Rosa.
Chamam-te Rosa, minha preta formosa,
e na tua negrura
teus dentes se mostram sorrindo.
Teu corpo baloiça, caminhas dançando,
minha preta formosa, lasciva, e ridente
vais cheia de vida, vais cheia de esperança
em teu corpo correndo a seiva da vida
tuas carnes gritando
e teus lábios sorrindo…
Mas temo a tua sorte na vida que vives,
na vida que temos…
amanhã terás filhos, minha preta formosa
e varizes nas pernas e dores no corpo;
minha preta formosa já não serás Rosa,
serás uma negra sem vida e sofrente,
serás uma negras
e eu temo a sua sorte.
Minha preta formosa não temo a tua sorte,
que a vida que vives não tarda a findar…
minha preta formosa, amanhã terás filhos
mas também amanhã…
…amanhã terás vida!

(1949)


E o outro poema:

Quem é que não se lembra
Daquele gesto que parecia trovão
— É que ontem
Soltei meu grito de revolta.

Meu grito de revolta ecoou pelos vales mais longínquos da Terra,
Atravessou os mares e os oceanos,
Transpôs os Himalaias de todo o Mundo,
não respeitou fronteiras
e fez vibrar meu peito…

Meu grito de revolta fez vibrar os peitos de todos os Homens,
Confraternizou todos os Homens
e transformou a Vida…

…Ah! o meu grito que percorreu o Mundo,
que não transpôs o Mundo
o Mundo que sou eu.
Ah! o meu grito de revolta que gemeu lá longe,
muito longe,
na minha garganta.

Na garganta-mundo de todos os Homens.

(1946)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13574: Notas de leitura (629): "Quebo, Nos confins da Guiné", por Rui Alexandrino Ferreira (Mário Beja Santos)