quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15146: Os nossos seres, saberes e lazeres (116): Un viaggio nel sud Italia (7): Em terra de S. Francisco, Assis é inexcedível

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
Assis ultrapassou todas as minhas expetativas. A cidade histórica posiciona-se inclinada para a Basílica do Santo, nesse longo e precioso declive há monumentos, museus e atrações que completam o sentido da peregrinação. Tudo ali converge, no entanto, para a santidade ímpar desse Francisco que em plena Idade Média fez da paz, da assistência e da solicitude o centro da sua vida e o seu legado espiritual. Correndo o risco de falta de pudor e de olhar vesgo para o que há de melhor na arte religiosa, penso que a basílica franciscana é o lugar de oração e de contemplação do divino mais espantoso da cristandade.
Aqui passei dois dias inesquecíveis e não hesito em dizer que estes lugares são inultrapassáveis.

Um abraço do
Mário


Un viaggio nel sud Italia (7)

Beja Santos

Em terra de S. Francisco, Assis é inexcedível




Era um encontro há muito aprazado, sem conexão direta com a eleição, em Março de 2013, do papa Francisco. Sempre ouvi dizer que Assis tem uma atmosfera muito especial, que tudo o que ali se respira é paz e amenidade e depois há Cimabue e Giotto, que nos fazem comover até às lágrimas. Cheguei a Assis mais como peregrino de que como turista, mas enfrentei os dois estatutos. Coisa rara, consegui dormitório frente à Basílica Papal de S. Francisco, abri as portadas, apanhei toda a limpidez do ar e o acolhimento da singela fachada medieval. Empolgado, percorri a Basílica horas a fio, as duas basílicas, a superior e inferior, a terceira imagem a esta se reporta. Francisco foi canonizado em 16 de Julho de 1228, as basílicas foram edificadas entre 1230 e 1239. Cerca de 1330 ficaram completamente decoradas por frescos dos pintores mais importantes do seu tempo, Cimabue e Giotto. Correndo o risco de parecer pesporrente, prefiro a basílica superior à Capela Sistina, esta religiosidade de Assis é-me mais tangível. Alguém lhe chamou “a mais bela casa de oração do mundo”, perfilam-se na nave histórias da vida do santo além de temas bíblicos da criação do mundo, Adão e Eva, factos evangélicos da infância e da vida pública de Cristo, é uma ternura irreprimível, as abóbadas azuladas agigantando as dimensões da igreja, tudo exalta Francisco o homem da paz, o companheiro dos pobres, o amigo da natureza, o irmão universal. E enquanto por ali se deambula é-se levado a pensar que o mundo medieval de Francisco muito pouco tinha a ver com as cruzadas, as guerras feudais, a intolerância religiosa. Estes grandes pintores cativam-nos com o Francisco que dialoga com Deus, com os homens, e que procurou viver em harmonia com todas as criaturas, até se é levado a pensar que esta era a visão querida por Deus na Criação.




Assim foi esta a primeira visita aos domínios que a cristandade reservou para glorificar a vida e obra de Francisco de Assis. Não há termo de comparação para a força que se levanta neste tempo com duas basílicas e a cripta onde estão os seus restos mortais. Não sei mesmo se está aqui o melhor de Cimabue e de Giotto, mas estes frescos têm um vigor intemporal, espelham o sentimento da paz perene. E agora vamos conhecer Assis fora da basílica.




Passeei-me pela Catedral de S. Rufino, um belíssimo espécime do românico da Úmbria, subo e desço ruas íngremes da Assis antiga, recheada de atrações, museus e exposições, detenho-me face ao edifício camarário, com o normal aproveitamento de um templo romano ali ao lado e não resisto a entrar numa farmácia dos velhos tempos, muito bem preservada, a menina prontamente consentiu que captasse esta imagem. Tem sido longa a viagem desde que sai de Tivoli, agora vou estirar os pés, ler um livro num café com esplanada, ouvir vozes, as badaladas que se evolam das torres sineiras. E encontrar um jantar condizente, apetece-me risoto, uma sopa minestra, talvez um esparguete com tomate. E dormir bem, para enfrentar um novo dia de peregrinação.



Fatal como o destino, dirijo-me à Basílica, revejo a parte inferior e subo para uma zona de claustro onde está o museu opulento e as lojas de vendas. Não perdi o museu nem a mostra fotográfica que se espalha pelos corredores dedicada aos arménios e à Arménia, bem gostaria de lá ir, procura nestas imagens entender a piedade cristã deste povo que vive numa área do tamanho do Piamonte, por ali passa o corredor caucasiano da Ásia Central onde se têm confrontado grandes impérios: Hititas e Babilónios, Gregos e Persas, Romanos e Cartagineses, Bizantinos e Seljúcidas, Russos e Otomanos, estão aqui imagens de monumentos únicos na Europa, uma mescla da arte romana, persa, grega e árabe, de arquitetura gótica singular, restos de mosteiros, paisagens, rostos da gente. Um povo que preservou miraculosamente a sua identidade.



Reservei a tarde para percorrer outros lugares que têm a ver com a vida de Francisco e da Ordem dos Franciscanos. Fui primeiro à Igreja de Santa Clara, depois ao estábulo onde nasceu Francisco, ao ermitério onde ele viveu e por fim a um lugar de extrema veneração, a Porziuncola, sob a qual se construiu uma basílica barroca, de gosto muito discutível, Santa Maria dos Anjos. Para termo de viagem, e antes de apanhar o autocarro que me trouxe a Assis, a Porziuncola, onde viveu Francisco quase até morrer, é um espaço de grande beleza e ternura, aqui apetece ficar em meditação horas a fio. E regresso a Assis, ao fim do dia viajo para Roma, amanhã será a despedida deste passeio que me deu tantas alegrias.

(Continua)

Texto e fotos: © Mário Beja Santos
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Nota do editor

Poste anterior da série de 16 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15117: Os nossos seres, saberes e lazeres (115): Un viaggio nel sud Italia (6): Em Tivoli, Villa Adriana e Villa Gregoriana (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15145: Memória dos lugares (320): Academia Militar, Palácio da Bemposta, Lisboa, visita no âmbito do Festival Todos 2015 (Parte I)













Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  > Festival Todos , 7ª  edição, 2015 > 12 de setembro de 2015 >  Visita guiada, pelo cor art Vitor Lourenço, professor da Academia Militar >

Painéis de azulejos, no "hall" de entrada do palácio, representando as várias armas (c. 1918). Autoria do  pintor português Jorge Colaço (Tânger, 1868 — Caxias, 1942), mais conhecido por ser autor  dos azulejos da estação de São Bento no Porto (1903), entre muitos outros paineis de azulejos espalhados por diversos edifícios e lugares, em Portugal e lá fora. (*)



Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  > Fachado do palácio.


Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  > Busto, no exterior, a Catarina de Bragança (1638-1705), rainha consorte de Inglaterra (1662-1685), pelo seu casamento Carlos II, da casa dos Stuart. Foi ela que mandou constrfuir o palácio da Bemposta.


Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  > Espaço interior



Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  >  Palestra do cor art ref Vítor Lourenço sobre o palácio, a sua fundadora e os azulejos de Jorge Colaço.




Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  > Festival Todos , 7ª  edição, 2015 > 12 de setembro de 2015 >  Visita guiada, pelo cor art ref Vitor Marçal Lourenço, professor da Academia Militar.

É aqui a sede da Academia Militar (,  antiga Escola do Exército,  fundada en 1837), que  tem como patrono o general Bernardo de Sá Nogueira, Marquês de Sá da Bandeira. Há também  um polo na Amadora.

O seu lema é: "Dulce et decorum est pro Patria mori"  (É doce e honroso morrer pela Pátria). Na escadaria de acesso ao piso superior (biblioteca. museu, galeria de comandantes...) estão inscritos os nomes dos antigos alunos mortos durante a guerra colonial (1961/74), nos vários teatros de operações. Publica-se abaixo a lista dos "filhos da Escola do Exército e da Academia Militar", falecidos na "campanha do ultramar, 1961-74)(**)

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de setembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15132: Memória dos lugares (319): Cais do Xime no tempo da CART 2520 (José Nascimento, ex-Fur Mil)


(**) Mortos na Campanha do Ultramar . 1961 - 1974 (alguns dos quais no TO da Guiné, e com "marcador" próprio no nosso blogue):

Cap. Inf. Abílio Eurico Castelo da Silva

Ten. Inf. Jofre Ferreira dos Prazeres

Alf. Pqd. Manuel Jorge Mota da Costa

Ten. Cav. Jorge Manuel Cabeleira Filipe

Ten. Pil. Av. António Seabra Dias

Ten. Inf. Casimiro Augusto Teixeira

Ten. Pil. Av. Carlos António Alves

Ten Pqd. Luís Ramos Labescat da Silva

Alf. Inf. Helder Luciano de Jesus Roldão

Cap. Inf. Óscar Fernando Monteiro Lopes

Cap. Cav. António Lopo Machado do Carmo

Cap. Inf. Isidoro de Azevedo Gomes Coelho

Cap. Inf. António Afonso da Silva Vigário

Cap. Inf. Cirilo de Bismarck Freitas Soares

Cap.Inf. Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meireles

Ten. Inf. Manuel Bernardino da Silva Carvalho Araújo

Cap. Pqd. Luís António Sampaio Tinoco de Faria

Alf. Inf. José Manuel Ribeiro Baptista

Cap. Inf. José Jerónimo da Silva Cravidão

Ten. Pil. Av. Manuel Malaquias de Oliveira

Alf. Inf. Augusto Manuel Casimiro Gamboa

Alf. Cav. Estevão Ferreira de Carvalho

Cap. Inf. Artur Manuel Carneiro Geraldes Nunes

Alf. Art. Henrique Ferreira de Almeida

Cap. Inf. Adelino Oliveira Nunes Duarte

Cap. Cav. Luís Filipe Rei Vilar

Maj. C.E.M. Raúl Ernesto Mesquita da Costa Passos Ramos

Maj. Inf. Alberto Fernando de Magalhães Sousa Osório

Maj. Art. Joaquim Pereira da Silva

Cap. Cav. Jaime Anselmo Alvim Faria Afonso

Cap. Inf. Fernando Assunção Silva

Cap. Art. Pedro Rodrigo Branco de Morais Santos

Ten. pil. Av. Cláudio Santos Pereira Ascenção

Ten. Pil. Av. Rui Fernando Movilla de Matos André

Ten. Cor. Pil. Av. José Fernando de Almeida Brito

Maj. Pil. Av. Fernando José dos Santos Castelo

Maj. Pqd. Manuel António Casmarrinho Lopes Morais

Cap. Pil. Av. António Caetano Abrantes

Cap. Pil. Av. Custódio Janeiro Santana

Cap. Pil.Av. António Figueiredo Rodrigues

Cap. inf. António Alberto Rita Bexiga

Cap. Pil. Av. Herminio da Silva Baptista

Maj. Inf. Jaime Frederico Mariz Alves Martins

Cap. Pil. Av. Hugo de Assunção Ventura

Ten. Cor. Art. Nuno Álvares Pereira

Ten. Pil. Av. Emilio José Alves Lourenço

Cap. Pqd. João Manuel da Costa Cordeiro

Cap. Pil. Av. Fernando Fernandes

Alf. Cav. Luís António Andrade Âmbar

Guiné 63/74 - P15144: Parabéns a você (965): Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripto do CMD AGR 16 (Guiné, 1964/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 21 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15134: Parabéns a você (964): Coutinho e Lima, Coronel Art Reformado (Guiné, 1963/65; 1968/70 e 1972/73); Maria Teresa Almeida, Amiga Grã-Tabanqueira (Liga dos Combatentes) e Raul Albino, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15143: O nosso querido mês de férias (2): os testemunhos de Henrique Cerqueira ("Em Bissau, dormia com o bilhete dentro da fronha do travesseiro"), José Carlos Gabriel ("A minha filha, de 5 meses, teve um choque muito grande ao ver-me no aeroporto, de bigode") e João Silva ("Foi ótimo vir no inverno, a saudade era do frio")

1. Henrique Cerqueira  [, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, e CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74; vive no Porto]:


Eu vim de férias na Metrópole uma só vez (*). Esperei um longo ano para o fazer e de tal modo que coincidisse com o meu aniversário, pois que o meu embarque para a Guiné tinha sido precisamente no dia dos meus anos. Assim , foi uma vingançazinha pelo "castigo"inicial.

Mas o meu comentário vai mais no sentido de contar como vivi os dias antes de embarcar de férias no avião da TAP rumo às almejadas férias na Metrópole.

Como todos calculam, vir do mato para Bissau uns dias antes da partida trouxe-me algumas alegrias e grande preocupação. É que havia o apelo a passar esses dias numas boas petiscadas e passeatas por Bissau, pois que era a primeira vês que estava em Bissau em descontracção total e com algum tempo. Mas havia um "tesouro" alojado no meu bolso que eu tinha um medo terrível de perder, que era o famoso bilhete de avião que me iria permitir ter o meu mês de férias junto da família,  em especial meu filho, minha mulher e meus pais. 

A minha preocupação era tão grande que dormia com o bilhete dentro da fronha do travesseiro e passava a noite a acordar porque tinha medo de estragar o bilhete com o suor. 

Este comentário poderá nada valer mas considero uma situação típica daquilo que nós passamos em termos afectivos provocada pela separação.

Já agora,  as segundas férias passei parte delas em Bissau com a minha mulher e filho, pois que nessa altura já os tinha junto de mim.

Um abraço, Henrique Cerqueira.


2. José Carlos Gabriel [ex-1.º Cabo Cripto, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Nhala, 1973/74]


Fui dos que vieram á metrópole por 3 vezes (*). E se a memória me não falha já contei neste Blogue o quanto me custou vir a primeira vez. 

As despedidas foram sempre muito difíceis mas a primeira chegada (passados pouco mais de 6 meses de ter embarcado) foi na verdade a mais marcante.  Quando embarquei para a Guiné tinha a minha filha 5 meses e claro pouco ou mesmo nada se lembraria de mim. Embora lhe fossem mostrando as fotos que ia enviando,  o choque ao me ver no aeroporto da Lisboa fui muito grande. Já perto de fazer um ano chorava ao colo da mãe agarrada ao seu pescoço e sempre que lhe viravam a cara para mim era uma gritaria infernal. Só no carro a caminho de casa é que se calou um pouco mais mas demorou umas boas horas a interagir comigo. Pensamos sempre que seria por eu vir bastante queimado e trazer bigode (o qual só deixei crescer na Guiné e nunca mais o cortei na sua totalidade até hoje). 

Vim sempre pela TAP e juntava o máximo possível para pagar as viagens. 

A segunda viagem nada teve de especial mas a terceira foi aquela que já não teve retorno. Fui informado por um camarada de que o nosso BCAC 4513 entretanto tinha chegado à Metrópole. Já não regressei e fui fazer o espólio ao Campo Grande,  conforme sua indicação. Oficialmente nunca fui informado do regresso do batalhão mas o mesmo se passou com outros camaradas que na altura também se encontravam de férias por cá.

José Carlos Gabriel


3. João Silva [ex- fur mil at inf, CCAV 3404, Cabuca, e CCaç 12, Bambadinca e Xime, 1971/73) (e de quem não continuamos a não ter nenhuma foto; apesar do convite, não integra a nossa Tabanca Grande)]


Vim uma vez em Novembro de 1972 e ao fim de cerca de 9 meses de permanência na província (*). Vim pela TAP, não havia alternativa civil.  

O bilhete, pelo que recordo, era bastante em conta tendo em consideração o ordenado de furriel mil e o facto de no mato - Cabuca - não ter onde gastar o patacão. Se adicionar a poupança forçada que tive que fazer, pois só passados 4 meses de estar na província recebi o primeiro pré,  ainda se tornou mais fácil pagar. Isto aconteceu,talvez, por ter ido em RI [, rendição individual]. 

Foi ótimo vir no inverno,  a saudade era do frio. O chato foi embarcar perto do natal e passagem de ano, pelo que acabei por os passar em Bissau e a aguardar ligação aérea ao Gabu. 

Tanto na ida como no regresso fizemos escala no Sal. No regresso fui em primeira classe porque um camarada e amigo namorava na época uma hospedeira da TAP que nos proporcionou aos dois essa fineza. Embarcamos pela cauda do avião. Acabei por em 73 não vir por opção própria. 

Uma curiosidade, a bordo e na viagem para Lisboa vendiam coca-cola e tabaco estrangeiro, o que comprei. Na ida não era permitido a coca-cola e o tabaco já não recordo.

João Silva, nesta altura na CCav 3404 em Cabuca e a caminho da  CCaç 12 onde cheguei nos primeiros dias de janeiro de 1973.

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Nota do editor:

(*) Vd. poste anterior da série > 22 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15138: O nosso querido mês de férias (1): Maio de 1969: nessa altura o bilhete de ida e volta, na TAP, custava 4 mil escudos (Paulo Raposo, ex-alf mil Inf, MA, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, Galomaro e Dulombi, 1968/70)

Guiné 63/74 - P15142: Convívios (710): XVII Encontro do pessoal da CCAÇ 4544, levado a efeito no passado dia 13 de Setembro de 2015, em Alcobaça (António Agreira)



1. Mensagem do nosso camarada António Agreira (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 4544/73, Cafal, 1973/74), com data de 18 de Setembro de 2015:

Caros Camaradas
Mais uma vez os ex-combatentes da CCaç 4544 se reuniram em convívio. Desta vez o repasto foi na Quinta das Carrascas, restaurante Zé da Génia em Alcobaça.
Graças ao trabalho de alguns camaradas conseguimos reunir este ano dez camaradas que se juntaram a nós pela primeira vez. Esperamos que no próximo ano o número de participantes volte a aumentar.

Com os meus cumprimentos fica a informação.
Em anexo a foto do grupo dos ex-combatentes presentes.

Forte Abraço
António Agreira
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15130: Convívios (709): XX Encontro de ex-Combatentes na Guiné, da Vila de Guifões, dia 11 de Outubro de 2015, em Baião (Albano Costa)

Guiné 63/74 - P15141: Ao fim de 40 anos foi-me imposta a Medalha Comemorativa das Campanhas, dia 17 de Setembro de 2015, no Regimento de Transportes (António Branco)

 
 1. Mensagem do nosso camarada António Branco (ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74), com data de 18 de Setembro de 2015:

Após quarenta anos do regresso da comissão cumprida na Guiné, na CCAÇ 16, foi-me atribuída a Medalha Comemorativa das Campanhas, numa breve mas simbólica cerimónia realizada ontem no Regimento de Transportes.




Descrição:
Anverso: emblema nacional rodeado de um listel circular com a legenda «CAMPANHAS E COMISSÕES ESPECIAIS DAS FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS», em letras de tipo elzevir, maiúsculas, a legenda cercada de duas vergônteas de louro, frutadas e atadas nos topos proximais com um laço largo; encimando este conjunto, uma coroa mural de cinco torres.
Reverso: disco tendo, na parte superior, uma Bandeira Nacional; sobrepostas a ela, e medindo quase todo o diâmetro, as figuras de um soldado do Exército, à dextra, um soldado da Força Aérea, ao centro, e um marinheiro da Armada, à sinistra, de pé e firmados num pedestal; o disco rodeado da legenda «ESTE REINO É OBRA DE SOLDADOS», em letras de tipo elzevir, maiúsculas, num listel circular, rematado inferiormente por um laço largo; encimando este conjunto, uma coroa mural idêntica à do anverso.

António Branco
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Guiné 63/74 - P15140: O nosso livro de visitas (185): O nosso leitor Lourenço Silveira Moreno Lemos Gomes sobrevoou Moçambique para honrar a memória de seu tio, Piloto-Aviador de Alloette 3, abatido em 24 de Setembro de 1972 perto de Mueda

1. Mensagem do nosso leitor Lourenço Silveira Moreno Lemos Gomes, com data de 10 de Setembro de 2015:

Caro Luís Graça
Tenho por vezes feito algumas buscas na internete sobre o meu falecido Tio. Era alferes piloto de Aloutte 3 em Mueda, tendo sido alvejado o seu aparelho e posteriormente despenhado já próximo do Aeródromo de Manobra 51 no dia 24 de Setembro de 1972.

Sendo eu também aviador, em 2007 aluguei um avião Cessna 172 em J'burg e pilotei por todo Moçambique até Mueda.
Durante essa viagem fui deixando crescer o bigode em memória do meu Tio (alcunha bigode de milho) acabando por cortar o mesmo já em Mueda (usando a água da chuva que pairava sob o capot do meu avião ) simbolizando o seu desaparecimento.

Junto algumas fotos do P1 1971 e dos seus colegas de armas.

Cumprimentos e parabéns pelo seu blog e esforço.
Lourenço Silveira Moreno Lemos Gomes








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 Nota do editor

Último poste da série de 26 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15042: O nosso livro de visitas (184): António Mário Leitão, natural de Ponte de Lima, ex-fur mil, Farmácia Militar de Luanda, delegação nº 11 do LMPQF - Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos, Angola, 1971/73

Guiné 63/74 - P15139: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (21): De 2 a 25 de Setembro de 1973

1. Em mensagem do dia 19 de Setembro de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 21.ª página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74

21 - De 02-09 a 25-09-1973

Das minhas memórias:

2 de Setembro de 1973 – (domingo) – Notas de Nhala; Nova incursão ao Unal; Estou “apanhado”

“Ontem à noite, desde as 22h30 e até hoje às 7 da manhã, ouviram-se ao longe rebentamentos poderosos de que não conseguimos saber a origem”.

Pelo leio agora na História da Unidade do BCAÇ 4513, calculo que esses rebentamentos fossem provenientes dos nossos obuses a partir de Buba ou Cumbijã ou de ambos, a bater a zona da nova operação para o Unal. A História da Unidade não refere batimentos de zona, mas refere o movimento de tropas para Buba no dia 1, à semelhança dos preparativos da operação falhada “Ousadia Satânica”. Esta chamar-se-ia “Lance Pertinente” e tinha o mesmo objectivo: chegar ao Unal, (e dar treino operacional às tropas do BCAÇ 4516). Tal como a operação anterior, envolveu grande número de tropas, quer do BCAÇ 4516, 4513, CART 6250, CCAV 8351, enfim, tal como a anterior fracassou pelos mesmos motivos: tudo inundado, rios intransponíveis, chuvas constantes e intensas, falta de trilhos e de guias, fora a grande distância a percorrer, como refere a H. da U.

Desta vez não fui chamado a participar e, ainda que fosse, certamente não estaria em condições. A verdade é que o aconchego do “lar” só por si não resolve tudo e, ainda não refeito de toda a actividade anterior ao regresso a Nhala, e eis que nos defrontámos com patrulhamentos, contra penetrações, protecção a uma infinidade de colunas auto – com as cansativas picagens – e, ainda, desfalcados de um grupo de combate da nossa Companhia envolvido na referida operação.

*** 

Estava a ficar “apanhado”. Numa nota de 05-09-73, dou conta de situações anormais no meu comportamento, fruto de grande abatimento e tensão nervosa que, parece, não afectava só a mim: deu-me para matar macacos-cães. A primeira vez, no regresso apeado de um patrulhamento na picada de Mampatá-Nhala imitei os macacos, chamando um grande grupo que se ouvia à distância, até os ter na mira. Depois matei um casal de adultos. Como se não bastasse, serviram para, como se fossem vivos, fazer de manequins com armas, rádios, etc., para depois fotografar. Todos acharam muita graça e participaram. De outra vez, em andamento e de pé no Unimog da frente como era meu hábito, disparei uma rajada para uma família inteira que apareceu ao longe numa recta. Felizmente não matei nenhum. Só mais tarde me dei conta da estupidez e, hoje, à luz da razão e da cultura que tanto prezo de preservação das espécies e da natureza em geral, acho quase inacreditável que tenha sido eu a fazer aquilo. Eu, que até sou contra as touradas...

Contudo, acho que o fazia para descarregar tensões que, no limite, podiam propiciar consequências piores. Foi por isso também que, por duas vezes pelo menos, pedi autorização ao Comandante de Companhia para rebentar uns petardos de trotil, de maneira a aliviar essa tensão. Habituado que estava a rebentamentos, desde o curso de minas e armadilhas, passando pelo aperfeiçoamento em Bolama (onde abundava o material que nos faltou no curso em Tancos e em que, no final, tivemos de rebentar grande quantidade de material sobrante), e passando pelos episódios dos últimos meses nas regiões de Cumbijã e Nhacobá, sempre que faltavam rebentamentos começava a acumular tensão, como os drogados privados de droga: ninguém me aturava. Então, autorizado, ia ao paiol e colhia a dose conforme o estado de ansiedade. Ia à tardinha para o lado da fonte de Nhala, já deserta, e colocava um petardo de trotil atrás de uma grande árvore. Lançava fogo ao rastilho do detonador, passava para o outro lado da árvore e, de frente para ela e de costas para o aquartelamento, começava a recuar enquanto aguardava a explosão. Uma vez a pancada de ar no peito foi tão violenta que recuei, talvez três metros, sem pôr os pés no chão. Depois regressava como se não fosse nada. Era de malucos..., mas também já ninguém ligava. O que podia significar estarem tão malucos como eu.

Tenho a noção do ridículo e acho que não devia contar isto. Mas passou-se assim e, se não contasse, pareceriam sempre exageradas as alusões aos estados de espírito depressivos, de ansiedade e tensão.

Seguem-se duas fotografias comigo e com os meus camaradas de Nhala.

Foto 1: Nhala, fins de 1973 ou 74 - Alferes Tibério Barros (com a minha bengala); Alferes Carlos Lopes; Capitão Braga da Cruz e eu. 

Foto 2: Nhala, 23 de Abril de 1974, dia da visita do General Bettencourt Rodrigues a Nhala. Eu com a minha bengala; Capitão Braga da Cruz e Alferes Campos Pereira. (Atente-se na data).


Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

(...)

SET73/07 – Forças da 2.ª CCAÇ/4513 durante a acção “OGIVAL” entraram em contacto com um GR IN ESTM em 20/50 elementos. O IN reagiu com RPG e armas automáticas retirando-se de seguida. No reconhecimento efectuado capturou-se uma granada de RPG-2 e verificou-se a existência de extensas manchas de sangue. As NT sofreram um ferido ligeiro. Forças da 3.ª CCAÇ/4513 e CCAÇ 18 patrulharam a região do R. BALANA.

SET73/08 – Forças da 1.ª CCAÇ/4513 detectaram em região XITOLE 2 F 0-30 passagem de um GR IN estimado em 40/50 elementos no sentido N/S na madrugada deste dia.

(...)

SET73/11 – Morreu em BISSAU o CHERNO RACHID, homem de uma influência enorme sobre todo o povo FULA. Religioso e poeta gozando de enorme prestígio, mesmo para além fronteiras. (dos Factos e Feitos do BCAÇ 4513). [Sublinhado meu a negrito]

[CHERNO RACHID: Fez há dias 42 anos que morreu essa figura eminente do Povo Fula. HOMEM GRANDE entre os maiores, era uma sumidade e uma autoridade em várias áreas do conhecimento e da sensibilidade humana. Tudo acolhido na sua grande humildade. Não preciso de mais laudatórios porque, com mais conhecimento de causa, o fizeram já aqui no nosso Blogue, camaradas como o Vasco da Gama, Arménio Estorninho, Luís Graça, o saudoso Pepito e o Beja Santos, entre outros por certo. São quase uma dezena de “postes”. Mas não quis deixar passar em claro esta data, talvez pela mágoa de nunca ter tido oportunidade de o conhecer pessoalmente. Ao menos, mesmo sem ser crente, direi hoje: Alláhu Akbar - 18 de Setembro de 2015].

SET73/13 – Forças da 2.ª CCAÇ/4513 executam patrulhamento conjugado com C/PEN (contra penetração) na região de PONTE R. CORUBAL sem contacto.

- Forças da 3.ª CCAÇ/4513 executam patrulhamento conjugado com C/PEN na região do R. BALANA sem contacto.

- Forças da CART 6250 executam C/PEN na região de MISSIRÁ sem contacto.

(...)

SET73/22 – O Comandante do Batalhão acompanhou uma patrulha à região de CHICAMBILO. - Forças da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 durante a acção “ORTIGA” excutam patrulhamento conjugado com C/PEN na região da confluências do R. CORUBAL-R. UUGUIUOL sem contacto.

 - Forças da CART 6250 durante a acção “OÁSIS” executam patrulhamento conjugado com C/PEN na região de BOLOLA sem contacto.

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SET73/25 – Forças da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 durante a acção “OUSADIA” executam patrulhamento e C/PEN no R. UUGUIUOL sem contacto.

 - Forças da CART 6250 durante a acção “ORIENTE” executam patrulhamento e C/PEN em MISSIRÃ sem contacto.

(...)

Das minhas memórias: 

25 de Setembro de 1973 – (terça-feira) 

Histórias marginais (2) – A acústica da mata. 

A acústica da mata, e não os sons da floresta que nos encantavam mas faziam estremecer e ficar de alerta quando, subitamente, se suspendiam.

Por diversas vezes fiquei surpreendido e confuso, quando no interior da mata ouvi tiros ou outros sons não naturais, que eu sabia – ou vinha a saber -, haviam sido produzidos exactamente na direcção oposta. Mas havia outros, para os quais não encontrava explicação. Se o fenómeno não fosse testemunhado por todos os que me acompanhavam, caso andasse sozinho à caça, por exemplo, ficaria com dúvidas sobre a minha sanidade mental. Ou se não teria problemas de orientação e percepção. Acontece que, os dois casos mais flagrantes e problemáticos, ocorreram quando saímos para o mato em bigrupo, portanto, com cerca de quarenta homens a reconhecer o mesmo fenómeno.

Nesta data, num patrulhamento conjunto do meu grupo com o 1.º GComb do Alf. Campos Pereira para a região do Rio Uuguiuol, fomos surpreendidos por uma situação insólita: em plena mata começámos a ouvir bater chapa. Sons muito fortes e nítidos, que nos indicavam um sítio a não mais de cem metros à nossa frente. A primeira reacção foi mandar parar todo o pessoal e depois dialogarmos, eu e o outro alferes, tentando encontrar uma explicação lógica para a origem dos sons, face à nossa posição no terreno. Mas não encontrámos explicação nenhuma: estávamos de frente para o Rio Corubal mas a muitos, muitos quilómetros dele e tínhamos caminhado, de certo modo, paralelamente ao Rio Uuguiuol, mas também muito afastados. À nossa frente não havia nada a não ser mata. Então, admitimos que ao fundo da rampa que a mata ali fazia, coisa rara na região, estivessem elementos da guerrilha a montar - ou desmontar -, qualquer coisa em chapa. Decidimos fazer uma batida.

Rapidamente dispusemos os dois grupos, que até ali tinham caminhado em fila indiana, numa frente linear com mais de quarenta homens. Ocupámos os nossos lugares nos grupos e avançámos como para um golpe de mão, com as cautelas que a situação impunha. A mata era propícia, quase limpa como num eucaliptal, e as árvores intervaladas mas com bom porte para nos proteger. Como disse, o terreno tinha uma inclinação acentuada e a visibilidade era para vinte ou trinta metros.

Quando julgámos ter já ultrapassado em muito a distância que apontávamos como o local dos batimentos, parámos para avaliar a situação. É que, à medida que avançávamos, parecia sempre que era já ali adiante, sempre mais adiante. Por vezes cessavam os sons, mas logo recomeçavam com uma nitidez incrível. Vozes não se ouviam, mas jurávamos que estava ali gente. Como não havia sequer uma aragem, excluímos a hipótese de sons trazidos de longe, algures. Mas se fossem, de onde poderia ser? Resolvemos flectir para um dos lados a descida da mata e continuámos, sempre em linha, por mais umas centenas de metros. Parámos de novo e mandámos uma mensagem para Nhala para que chamassem o capitão ao rádio. Expusemos a situação e demos as coordenadas da nossa localização aproximada. Queríamos indicações do que estava à nossa frente, já que a carta que levávamos era curta. “Pelas vossas indicações, podem ser os sons da oficina auto do Xitole”, “Qual Xitole?! O Xitole é quase do outro lado do Mundo!”, “Não há mais nada na vossa frente”. Ponto final.

Ainda meio incrédulos, desistimos da batida e encetámos o regresso a Nhala. Mas com a certeza de estarmos muito longe do Corubal. Não havia o risco de cairmos ao rio inadvertidamente. E os sons ficaram lá.

*** 

Um outro caso, mais sério, e que podia ter acabado em tragédia

Destacados ainda em Cumbijã, saímos um dia com o grupo do Alf. Campos Pereira - por mero acaso outra vez com ele -, para os lados de Lenguel (ou Sabasó?). Fizemos um longo patrulhamento para a região que nos fora indicada, sem nenhuma anormalidade. Isto teria ocorrido antes de se iniciarem as chuvas, já que, no regresso e muito exaustos, resolvemos descansar ao longo do leito de um rio seco, por onde esticámos os dois grupos. A tarde já caminhava para o fim e preparávamo-nos para abandonar o local, de regresso a Cumbijã quando, inesperadamente, se deu um potente rebentamento numa das extremidades do longo cordão de homens. Surgiram dois ou três a correr em pânico, sem arma nem equipamentos, direitos a mim e ao outro alferes e, quase sem fala, apontavam para lá tentando explicar que fora quase em cima deles. Tudo se passou num ápice: como nos tinha parecido o rebentamento de uma granada de obus 14, mesmo se, a escassos quilómetros de Cumbijã não tivéssemos ouvido a “saída”, logo contactámos via rádio o Comando, não fosse a próxima cair em cima de nós. Se ainda fôssemos a tempo. Dissemos para suspenderem imediatamente os tiros de obus para a zona e demos a nossa posição. Para nossa estupefacção disseram-nos que se estavam a defender de um ataque turra com canhão S/R que, estava precisamente nas nossas costas...

Virámo-nos para trás, ainda no leito do rio e, sem querer acreditar, percebemos que eles estavam mesmo ali a disparar o canhão a não mais de duzentos ou trezentos metros, numa zona mais aberta e com uma estreita faixa de mata a separar-nos. Há quanto tempo estariam ali sem que nos ouvíssemos mutuamente? Como foi possível não ouvir os disparos do canhão mesmo ali? Parece inverosímil mas foi assim. Felizmente que éramos muitos a testemunhar, caso contrário pensaríamos que estávamos malucos. Felizmente também o obus 14 parou para evitar uma tragédia. Por pouquíssimo tempo, diga-se, pois assim que lhes demos a posição correcta do canhão S/R, com uns poucos disparos calaram-no definitivamente, enquanto nós, em passo de corrida, já fazíamos o caminho para o Cumbijã.

Penso agora, e todos podem pensar: então, estando ali, não aproveitaram para atacar o grupo dos guerrilheiros? Não. Decerto porque ignorávamos quantos eram, que armas tinham para além do canhão e também porque começava a fazer-se noite e ainda tínhamos muito para andar e, se até ali tínhamos passado despercebidos, não era a melhor altura para nos denunciarmos.

*** 

Seguem-se duas fotografias com as minhas queridas lavadeiras.

Foto 3: Nhala, 1973 – Rosa, a minha primeira lavadeira. Gostava dela porque era uma mulher serena e simpática. Excepto a lavar roupa: despedi-a com justa causa quando percebi que quase já não tinha botões na roupa.

Foto 4: Nhala, 1973 – Fátima com a sua bajudinha. Foi a lavadeira seguinte e até ao fim da minha comissão. Era uma doçura de mulher, sempre com um sorriso, afável e delicada. O seu marido era o meu guia preferido nas saídas mais complicadas: soldado milícia, guia competente, homem de muito aprumo e poucas falas, talvez porque não falasse quase nada de português. Na foto, sentado no chão, está o Brás, soldado do meu pelotão.

(continua)

Texto, fotos e legendas: © António Murta
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Nota do editor

Últimos dez postes da série de:

14 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14877: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (11): 23 e 24 de Maio de 1973

21 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14910: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (12): 26 de Maio a 8 de Junho de 1973

28 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14940: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (13): 9 a 14 de Junho de 1973, com baptismo de fogo a 13

4 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14971: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (14): 15 a 18 de Junho de 1973

11 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14993: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (15): 19 a 22 de Junho de 1973

18 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15016: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (16): De 23 de Junho a 6 de Julho de 1973

28 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15050: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (17): De 8 a 21 de Julho de 1973

1 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15062: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (18): De 8 a 21 de Julho de 1973

8 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15087: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (19): De 26 de Julho a 4 de Agosto de 1973
e
15 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15116: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (20): De 5 a 21 de Agosto de 1973