segunda-feira, 17 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17592: Efemérides (260): O dia em que entrei para a tropa... Foi há 50 anos, em 10/7/1967, na EPC, Santarém (Valdemar Queiroz, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]



Samtarérm > Escola Prática de Cavalaria > Abril 1971. Junto à entrada da EPC,  o Augusto Silva Santos, ladeado pelos camaradas Lúcio e Miguel Ângelo.

Foto (e legenda): © Augusto Silva Santos (2014). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




O DIA EM QUE ENTREI PRÁ TROPA


[, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]



Quem, de nós, não se lembra do dia em que entrou prá tropa?

Eu lembro-me. Faz agora 50 anos.

Foi no dia 10 de Julho de 1967, na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, para o CSM [, Curso de Sargentos Milicanos]. Já tinha 22 anos e, até hoje, não sei a razão por ter sido chamado tão tarde.

Tinha estado, uns dias antes, na Portugália, em Lisboa, a jantar ou, melhor, a comer o bife ‘à Portugália’ com um amigo que ia para Santarém horas depois ou, talvez fosse a um sábado, não me lembro bem. Contou-me que estava na EPC. no Curso de Sargentos Milicianos.
− Eu, também, vou pra lá no dia 10 −  digo-lhe eu. 
− Estás lixado, tens que ser engraxador, polidor de metais e soldadinho de chumbo como o ‘Mouzinho’ e explicou-me o que devia levar e o que lá devia fazer, senão, depois, não ‘vens a fim de semana’, disse ele.

Cheguei a Santarém.  Fui o primeiro a entrar ao Quartel ‘Destacamento’ da EPC., cá em baixo na cidade, na parte da tarde. Levava escovas e latas de graxa prás botas e solarine prós amarelos, na bagagem. 

O Cândido Cunha, que eu não conhecia e que havia de me acompanhar na recruta, na especialidade e até ao fim da tropa, incluindo na mesma CArt. na Guiné [, a CART 2479 / CART 11], também fazia parte deste grupo de recrutas. Fomos encaminhados prós testes psicotécnicos dos dominós e outros pra saberem as nossas capacidades. 

Depois fomos receber o fardamento. Deram-nos o fardamento adequado com a particularidade de nos ser fornecido umas fitas vermelhas/verdes largas e compridas para serem cosidas na boina, assim como um cartão para ser colocado na parte interior/superior da boina para suporte das Espadas de Cavalaria e, também, uns elásticos para segurar/enrolar o final das calças entre as fivelas das botas pra ficarem a ‘golf à Mouzinho’. 

Depois, no final da tarde, já com tudo organizado e equipado viemos prá parada e eis que surge a primeira tropa a sério: 
− Quem dos presentes percebe de laranjas? − foi perguntado. 
− Nós!− , responderam alguns,  e lá foram estes descascar batatas no refeitório pró jantar. 

Espectacular!!!... Até dá gosto ter estado na tropa. Com as botas bem engraxadas e com os ilhós dos atacadores e das duplas fivelas dos plainitos brilhantes/reluzentes como as Espadas da Cavalaria da boina começamos a sair prá cidade e a visitar a família aos fim de semana.

Quem me dera ter agora vinte e dois anos.

Valdemar Queiroz

 ________________

Nota do editor:

Último poste da série > 21 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17498: Efemérides (259): Dia do Combatente Limiano - 6.ª Homenagem do Concelho de Ponte de Lima aos seus 79 Heróis Militares caídos em combate pela Pátria, 27 na I Grande Guerra e 52 durante a Guerra do Ultramar (António Mário Leitão, ex-Fur Mil na Farmácia Militar de Luanda)

Guiné 61/74 - P17591: Notas de leitura (978): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (6) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Julho de 2017:

Queridos amigos;

Estamos agora na Guiné com o regime republicano. O primeiro governador queixou-se que encontrou tudo em estado caótico, é recebido em Bissau com críticas severas à monarquia. Não se deixa enganar, é homem crescido e sabe que está a viver num tempo de vira-casacas. O acontecimento preponderante em que se centra esta recensão pára pelo conjunto de feitos do capitão João Teixeira Pinto, caber-lhe-á um papel determinante na submissão de diferentes etnias revoltosas. 

Abandonando um comedimento que se exige a qualquer inventariador documental, o autor entra na defesa de Teixeira Pinto, usa mesmo exclamativas quando necessário, deixa um discurso ambíguo sobre a deportação de um comprovado biltre, Abdul Indjai, como se a colaboração entre ele e Teixeira Pinto maculasse o herói militar que irá morrer em combate em Moçambique, em plena guerra. E o autor começa igualmente a montar uma tese que jamais fundamentará de que há dois blocos em presença e em permanente tensão: a administração e os comerciantes.

Fica por explicar por que razão se meteu por caminhos tão ínvios. É pena. O levantamento ficará para o estudo, a despeito destas veleidades.

Um abraço do
Mário


A presença portuguesa na Guiné: história política e militar 1878-1926, 

Por Armando Tavares da Silva (6)

Beja Santos

“a Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar 1878-1926”, por Armando Tavares da Silva, Caminhos Romanos, 2016, é um contributo documental inescapável doravante para quem se dedicar à historiografia desta região.

Estamos agora em 1910, Carlos Pereira é o primeiro governador do regime republicano. Por razões de ofício, o novo governador expede ofício confidencial ao ministro, dando conta do que encontrou, fala de um estado caótico, de ilegalidades e de abusos. Encontrou alguns indivíduos republicanos, o que descobriu mais foram indivíduos escorraçados, e uma evidente atmosfera de intrigas. Visita Bissau e recebe queixumes do tipo “a inglória monarquia nunca soube aproveitar-se dos valores dos submissos filhos da colónia, alguns de reconhecidíssimas aptidões”. Há um processo contra o antigo governador Oliveira Muzanty, mais uma vez se fala num nome bastante controverso, Graça Falcão. As hostilidades não se compadeceram de um novo regime político, mas não haverá operações militares. O governador quer ver resolvido um sério problema da administração colonial que era a necessidade de encontrar mão-de-obra para S. Tomé, mas o descontentamento era muito e as deserções constantes e numerosas.

O ano de 1911 vê nascer a Liga Guineense, uma associação escolar e instrutiva, um pouco moldada na lógica do centros escolares republicanos adaptada a realidade colonial. No ano seguinte haverá desacatos na circunscrição de Cacheu e um feito que colocou Carlos Pereira na história da colónia: a demolição da muralha de Bissau.

Acontecimento que se revelará marcante é a chegada de um novo Chefe de Estado-Maior, o Capitão João Teixeira Pinto, traz currículo em África, depois de estudar o que podia ser a ocupação e pacificação da província, cedo descobre que a região do Oio é dos pontos fulcrais da insubmissão, é por aí que ele pretende começar. Embrenha-se no mato disfarçado, regressa doente a Bolama, lança a seguir uma operação sem poder socorrer-se dos Grumetes, mas aproveita-se dos irregulares de Abdul Indjai e de uma coluna tendo à frente o administrador de Geba, Calvet de Magalhães. Atacam o Oio, encontra-se séria oposição inicialmente, depois é bem-sucedido na companhia de Abdul Indjai e dos cerca de 400 dos seus irregulares mais um punhado de militares. Assim se chegou à submissão dos Balantas do Oio ao Norte de Bissorã.

O autor está na posse de toda a documentação necessária para nos contar com detalhe esta primeira investida de Teixeira Pinto e os capítulos subsequentes em que há acusações a Abdul Indjai, a tomada de posse do Governador Andrade Sequeira, o massacre do Pelotão de Polícia Rural do Alferes Pedro, as novas operações de Teixeira Pinto na região e Cacheu, a chegada do novo governador, Oliveira Duque, a coluna contra os Balantas, que contou com o apoio indispensável da Armada, bem como Abdul Indjai. Teixeira Pinto manter-se-á na Guiné até Outubro de 1914, regressa a Lisboa, mas é prontamente reenviado para a Guiné. A terceira e decisiva campanha é a de Bissau, Papéis e Grumetes estão de novo revoltados e contam com importantes apoios exteriores. Sem escusar a brutalidade e o castigo mais exemplar, os revoltosos não têm outra solução que a de submeter-se. A Liga Guineense, em conflito frontal com a política de Teixeira Pinto, é dissolvida.

Se até aqui o levantamento documental goza de um discurso neutral, há algo que vai mudar na narrativa, sente-se que Armando Tavares da Silva precisa de chamar a si a defesa do bom nome de Teixeira Pinto, recorrendo mesmo ao espólio documental dos seus herdeiros. O que vai levantar uma questão de princípio, que passa pela extensão dada à defesa do militar perante o acervo de acusações e um certo branqueamento do papel sinistro de Abdul Indjai, isto quando são elevadas as provas do exercício despótico que este antigo djila senegalês praticou em todos os locais por onde combateu, em desmandos, sequestros, prepotências que foram mais tarde o timbre da sua atuação seja no Cuor seja fundamentalmente no Oio.

É também neste contexto que o autor, sem dados factuais irrefutáveis, vai começando a montar a teoria da existência de dois campos opostos e em permanente conflito na Guiné, entre a administração e os mercadores/comerciantes. Exerceria já no dito conflito um papel maquiavélico o Secretário-Geral Sebastião José Barbosa.

Estamos já em 1916, Andrade Sequeira abandona a Guiné, a cobrança do imposto de palhota levanta muitos problemas, o autor estende-se novamente na defesa de Teixeira Pinto, não esconde o afã de deixar impoluto o nome deste herói de ocupação, Andrade Sequeira já partiu, é governador interino Manuel Maria Coelho, este envolver-se-á numa teia de acusações a uma coluna de polícia à ilha de Canhabaque, temos depois Carlos Ivo de Sá Ferreira governador, a partir de Junho de 1917. Dentro daquilo que é paz instável mesmo depois das operações de Teixeira Pinto, haverá novas operações e os Bijagós mantêm-se insubmissos.

Mas Portugal está em guerra, mobilizam-se tropas para a batalha na Flandres, para Angola e Moçambique, no fim do ano será assassinado Sidónio Pais, haverá novo governo e novo presidente da República, o Almirante Canto e Castro. As convulsões irão continuar, como é sabido. Voltando à Guiné, em Outubro de 1918 realizar-se-á uma operação contra os Felupes de Varela. Oliveira Duque ainda volta à Guiné, mas por muito pouco tempo, suceder-lhe-á Sousa Guerra.

Chegamos a outra questão emotiva que é a campanha contra Abdul Indjai e a sua deportação, novamente o autor dá espaço inusitado, até fica no ar uma réstia de possibilidade de que este chefe de guerra não se comportou como um desordeiro e um biltre, quando, afinal de contas, e o próprio autor o desvela, várias figuras que granjearam créditos militares caíram fragorosamente do auto do pódio, nada aponta para qualquer espírito de magnanimidade do aventureiro senegalês. E não há mal nenhum, naquilo que se chama a verdade dos factos, ver ligado o nome Teixeira Pinto ao de Abdul Indjai, o militar português, dentro dos parâmetros mentais da época, agiu em conformidade recrutando um senhor da guerra e já num contexto que será depois aprofundado a partir de Vellez Caroço entre as etnias amigas, as problemáticas, as manifestamente hostis. O dividir para reinar, que presidiu a esta fase da política colonial.

Entramos agora no último período do levantamento documental, está-se em 1920, é publicada uma nova carta orgânica da Guiné, faz-se a redução para metade do número de vogais não funcionários do Conselho de Governo e comete-se exclusivamente ao governador a organização do Conselho de Governo, corpo de consulta representativo da população. Choveram críticas, encontrou-se substância para sempre que necessário, em defesa de certos interesses, vir dizer que o governador é um prepotente…

Em Lisboa, num cenário de crescentes dificuldades de todo o género, procura-se uma nova panaceia para fazer sair Portugal do pelotão dos países europeus mais atrasados, muitos defenderam o desenvolvimento colonial. Já passara o tempo em que se propunha a solução da Guiné ser transformada numa companhia majestática ou algo aparentado. Agora o modelo passava pela criação de colónias agrícolas. Haverá experiências e enormes expetativas, umas no Rio Grande, pensava-se em concessões gratuitas a colonos europeus e cabo-verdianos, demarcando reservas territoriais para os indígenas, outras com culturas altamente desenvolvimentistas, foi assim que se lançou um empreendimento que trouxe à Guiné Armando Zuzarte Cortesão, a Sociedade Agrícola do Gambiel, com sede em Bafatá.

(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 14 de Julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17582: Notas de leitura (977): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17590: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (6): Págs. 52 a 60 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)


1. Continuação da publicação do livro "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é hoje", da autoria do 2.º Sargento António dos Anjos, 1937, Tipografia Académica, Bragança, enviado ao Blogue pelo nosso camarada Alberto Nascimento (ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63).


(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17576: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (5): Págs. 43 a 51 (Alberto Nascimento, ex-Sold. Cond. Auto da CCAÇ 84, 1961/63)

Guiné 61/74 - P17589: Parabéns a você (1288): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 3492 (Guiné, 1971/74) e José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19 (Guiné, 1971/73)


____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17575: Parabéns a você (1287): António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72) e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2658 (Guiné, 1970/71)

domingo, 16 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17588: Agenda cultural (574): "Recordações da Pesca do Bacalhau" (5 volumes), do comandante Valdemar Aveiro: apresentação da coleção, 5ª feira, dia 20, às 18h00, a bordo do navio "Gil Eanes", Doca Comercial, Viana do Castelo. Apresentação do eng. Senos da Fonseca.




______________

Nota do editor:

Último poste da série >  13 de julho de  2017 >  Guiné 61/74 - P17580: Agenda cultural (573): O II volume de "Memórias Boas da Minha Guerra", da autoria de José Ferreira, foi apresentado no passado dia 8 de Julho de 2017, na Quinta dos Choupos, em Fânzeres, Gondomar

Guiné 61/74 - P17587: Blogpoesia (519): "A gaivota sozinha..."; "No bar do Reichelt..." e "Adoração ao sol...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Gaivota sozinha. © Carlos Vinhal


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


A gaivota sozinha...

Uma gaivota sozinha passou ao meu pé,
pisando a areia,
à borda do mar.

Me olhou de soslaio,
parecia dizer:
- bom dia, amigo.
sabe bem passear,
ver o sol a nascer.
Desejei-lhe um bom dia
e ela desatou a voar
como só ela o sabe fazer.

Harmonia no céu,
serenidade no mar.
Um dia de praia
começava a nascer.

Foi belo o encontro
com a gaivota sozinha
que passeava a pé...

Roses, 16 de Julho de 2017
7h46m
Jlmg

************

No bar do Reichelt...

Do canto do bar,
durante a manhã,
vejo quem entra e quem sai,
carregado de compras
do supermercado.

Rostos serenos,
nada expansivos,
enchem os carros
com tudo o que há,
sem olhar para o lado.

Cabelos grisalhos,
são reformados
os maiores clientes,
durante a semana.

Papelinho na mão,
do bom e melhor,
levam de tudo,
conforme precisam.

Independência total,
sem pobres nem ricos,
é tudo igual...

Bar do Reichelt, 12 de Julho de 2017
8h44m
Jlmg


************

Adoração ao sol...

Mal acordei,
vi o sorriso do sol,
no casario ao longe
do outro lado do mar
e desatei a sorrir.

Ali, à frente, do outro lado da rua,
e duma restinga de praia,
as gaivotas em linha,
debicam as ondas que chegam
e se espraiam cansadas.

O mesmo tractor de há um ano,
não pára.
Filtra e alisa as areias,
dos restos que ontem
os banhistas deixaram
na volúpia do dia.

Aos poucos, a praia vai animando.
Repetem-se os gestos.
Escolhe-se os poisos,
o mais perto das ondas.
Abrem-se cadeiras,
se estendem toalhas,
cada corpo a sua.

A custo se espetam os guarda-sóis
que o vento destrona num ápice.

Tiram-se as vestes ao corpo.
O recato se enterra
e o que se guardava à chave,
expõe-se sem custos
aos olhos de todos.

Tantas mazelas ocultas
se abrem ao sol.

Afinal, a diferença que parecia reinar,
por debaixo das vestes,
se reduz a nada,
porque, no fundo,
somos todos iguais...

Roses, 15 de Julho de 2017
14h15m
Jlmg
____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17561: Blogpoesia (518): "Terra queimada..."; "Milhões de folhas" e "No meu paquete...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17586 Tabanca Grande (441): António Abrantes: foi cadete em Mafra, em julho de 1961, com o Manuel Alegre, Arnaldo de Matos e outros, sendo o Ramalho Eanes tenente; foi alferes mil, CCAÇ 423 (São João e Tite, 1963/65); senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 748.


Foto nº 1 



Foto nº 2 


Foto nº 3 


Foto nº 4


1. Mensagens, de 8 do corrente,  do novo grã-tabanqueiro, António Abrantes, que se vai sentar à sombra do nosso poilão, nº lugar nº 748. Foi alf mil inf, CCAÇ 423 (São João e Tite, 1963/65) (*)

Camaradas:

Só agora reparei que não enviei certos dados necessários:

(i) Fui Alferes Miliciano de Infantaria, especialidade de Armas Pesadas e,  como era dos que tinham melhor classificação e dada a especialidade,  não seria mobilizado.

(ii) Estava a dar instrução de Morteiros, em Viseu, quando a mês e meio de acabar o tempo normal fui mobilizado e para uma Companhia de Cacadores !

(iii) A minha Compannhia, a CCac 423, foi a ultima a ir por terra para o Sul da Guiné ,saindo de Bissau, Nhacra, Mansoa, Mansaba, Bafatá, Xitole, Aldeia Formosa, Buba, onde pernoitamos, Fulacunda, Brandão, Nova Sintra e, dada impossibilidade de chegarmos a S João, desvio para Tite para ao outro dia irmos até ao Enxudé (Porto de Tite ) onde embarcamos numa draga (a Geba) para,  numa viagem atribuladam  passarmos ao lado de Bissau e já no canal de Bolama nos aproximarmos do Continente, e com água pela cinta desembarcamos em S João . 

(iv) Como o IN não contavam  aqui não houve tirosM esses, os tiros começaram com uma emboscada no célebre "cruzamento de Buba" e acompanharam - nos várias vezes até Nova Sintra;

(v) De São João  vim evacuado para o HMP em Lisboa , tendo regressado a Guiné e ficado, como era o alferes com mais antiguidade, coocado na 4ª  Rep  do QG como Adjunto do Chefe de Transportes.

(vi) como curiosidade a minha medalha das campanhas da Guiné (felizmente sem ser herói) é a única que tem na legenda "Guiné 63-64-65-66-67". 

Um Grande Abraço a todos os Camaradas.


2. Nova mensagem do nosso novo membro da Tabanca Grande:

Pedias-me alguns dados meus: 

(i) estou reformado,  dada a provecta idade;

(ii) fui apanhado na Universidade e enfiado em Mafra, na EPI, em 31 de Julho de 1961;

(iii) no curso de oficiais milicianos (COM),  éramos, como eu costumo dizer (na paródia), "eu, o Manuel Alegre, o Arnaldo Matos (MRPP) e mais 493":

(iv) o general Eanes era lá tenente;

(v) depois de passar à disponibilidade,  arranjei emprego ligado a produtos farmacêuticos e acabei a licenciatura como estudante- trabalhador...

Um grande abraço a todos os camaradas, coma esperança de também poder ficar a sombra do poilão da Tabanca Grande.

Nota: Tenho poucas fotografias mas a seu tempo mandarei mais algumas (se me for permitido) bem como algumas "estórias" passadas na Guiné.

Aqui vão as legendas:

Foto do  aspiarnte a oficial miliciano .Antonio Manuel de N. R. Abrantes , pouco antes de embarcar [Foto nº 2]

Foto tirada em Tomar, vê-se parte do meu pelotão, com o malogrado Furriel Hércules Arcádio de Sousa Lobo, da 3ª secção (ainda cabo miliciano) [Foro nº 2] 

Foto tirada em Bissau, a única que possuo com qualidade razoável [Foto nº 3]

Toto  mais recente [Foto nº 4]

3. Comentário do nosso editor LG ao poste P17552 (**):

Caro camarada António:

É uma honra ter, no blogue da Tabanca Grande, um representante dos bravos da CCAÇ 423. Até agora, não havia ninguém que representasse condignamente esta subunidade.

Não leves a mal que a gente se trate por tu, à boa maneira romana: afinal fomos e continuamos a ser camaradas de armas, no sentido forte do termo.

Fica desde já, o convite para te sentares à sombra do nosso poilão. Temos um lugar livre, o nº 748... Só precisamos, de acordo com os nossos regulamentos, de duas fotos tuas, uma dos heróicos tempos de Quínara e outra atual... E dois parágrafos de apresentação: já sabemos quem foste, pode-nos dizer quem és hoje, onde vives, o que fazes... Estás, por certo, reformado mas não "arrumado": precisamos de ti para cobrir esse ano de 1963, e os seguintes... Há falta de documentação fotográfica, de testemunhas, de histórias, etc.

Posso continuar a contar contigo ?

O precioso "comentário" que me mandaste sobre a maldita mina ou fornilho do dia 3/7/1963 (há 54 anos!) foi transformada em poste, como podes ver aqui.

Tens o meu email ou do Carlos Vinhal, para nos contactar, de futuro.
______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 30 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17527: Tabanca Grande (440): Alfredo Roque Gameiro Martins Barata (1938-2017), ex-alf mil médico, CCAÇ 675 (Binta e Guidaje, 1964/66), nosso grã-tabanqueiro nº 747... Mais um camarada que não queremos que fique na vala comum do esquecimento

(**) Vd. poste d e29 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17522: (De) Caras (88): O fur mil inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, natural da ilha do Sal, Cabo Verde, foi gravemente ferido pelo primeiro fornilho acionado no CTIG, às 9h00 do dia 3 de julho de 1963, na estrada São João-Fulacunda, vindo a morrer no HMP, em Lisboa, no dia 16, devido às graves queimaduras. Eu era o comandante da coluna (António Manuel de Nazareth Rodrigues Abrantes, ex-alf mi inf, CCAÇ 423, São João e Tite, 1963/65)

sábado, 15 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17585: Historiografia da presença portuguesa em África (80): Uma peça de ourivesaria a exaltar o paternalismo colonialista (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Julho de 2017:

Uma peça de ourivesaria a exaltar o paternalismo colonialista

Beja Santos

A remexer num caixote de velharias numa loja de antiguidades, livros de bibliófilos, de estampas e mesmo de objetos bizarros, encontrei um documento intitulado “Algumas peças executadas por Leitão & Irmão, Antigos Joalheiros da Coroa”, o proprietário deixou nome na primeira página: Conde de Castro e Solla, lá dentro de verificará que o conde acompanhou o General Sá Carneiro a Berlim para entregar uma espada de honra oferecida pelo rei D. Luís ao Imperador Guilherme, no seu nonagésimo aniversário. O catálogo tem as armas do conde e diz que o valor em 1935 do documento era de 50 escudos. O que aqui se encontra são magníficos trabalhos de ourivesaria, encomendas da Casa Real, sobretudo, mas também encomendas como aquela em que mais demoradamente me detenho: a placa de prata oferecida ao Príncipe D. Luís Filipe pela Companhia do Caminho-de-Ferro do Lobito. Vejamos a descrição:
“Esta placa é uma obra de arte, executada nas oficinas dos joalheiros da coroa. Mede 42x33 centímetros, sendo de forma elegante, e representando uma paisagem africana, nas margens do Catumbela, vendo-se ao fundo a ponte de D. Luís Filipe onde uma locomotiva vai prestes a passá-la. No primeiro plano um engenheiro, sentado numa pedra, desdobra sobre um joelho um mapa de África e nele indica o lugar onde passa a ponte, a um africano que está a seus pés. Decoração de palmeiras contornam os lados da placa e o escudo de armas reais, de ouro, remata a parte superior”.

A ponte foi inaugurada em 21 de Março de 1905, a lembrança foi oferecida ao Príncipe Real em Agosto de 1907. Quem executou o trabalho foi um artista de nomeada, João da Silva.

O que impressiona neste trabalho de ourivesaria é a patente ideologia do colonizador mostrar a civilização ao africano em estado selvagem, como se dissesse: vê o progresso que trouxemos a estas selvas, este caminho-de-ferro vai espalhar riquezas, criando outras. Olha bem o mapa e vê como se atravessa o rio sem precisão das canoas. Esta ideologia, vale a pena enfatizar, era extremamente comum no tempo, era uma das pedras angulares da chamada missão civilizadora, revelar os benefícios da ocupação do território retirando o africano à vida selvagem.

E medite-se no contraste entre esta peça de arte e as exposições coloniais em que se traziam, africanos mostrando-os tal qual eles viviam, será assim no Porto, em 1934, onde preponderam os guineenses, na Exposição do Parque Eduardo VII, em 1937, e na Exposição do Mundo Português, em 1940, aí o significado das exibições introduzia elementos novos: vê com os teus olhos, ó branco, o que há no fundo das Áfricas, ufana-te com os rincões do teu império, Portugal não é um país pequeno (Henrique Galvão o disse, em 1934), tornou-se mensagem chave quando a guerra de África ganhou dimensão irreversível, vê lá se tens orgulho em seres muito maior do que muitos pensam.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 14 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17468: Historiografia da presença portuguesa em África (79): Carta da Guiné com o itinerário da viagem do subsecretário de Estado das Colónias em fevereiro de 1947 e obras do V Centenário

Guiné 61/74 - P17584: (De) Caras (84): Carteiro aéreo... à força!... Um susto para o resto da vida, num DO 27 em Porto Gole (Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav) e Chegar a Bissau e já ter correio (Albano Costa, ex-1.º Cabo Atirador Inf)

1. Mensagem de Ernestino Caniço [ex-alf mil cav , cmdt do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá, Mansoa e Bissau, 1970/71; hoje médico, vive em Abrantes], com data de 13 de Julho de 2017:

Assunto: Aerogramas

Caros amigos:
Votos de ótima saúde.

Sobre o tema aerograma, em inquérito on-line (*) ocorre-me contar um episódio no qual fui interveniente.

Como o Carlos se lembrará, (estivemos ambos em Mansabá), o meu pelotão Daimler estava dividido em dois aquartelamentos, Mansabá e Mansoa.

Após alguns meses (cerca cinco) em Mansabá, fui para Mansoa. Face ao perigo das emboscadas, sempre que possível o correio era transportado por via aérea. Quando estava em Mansoa fui várias vezes a Mansabá aquilatar as ocorrências do Pelotão.
Numa dessas deslocações aproveitei a "boleia" da avioneta DO [27]. Nessa viagem, além do piloto, ia o comandante do batalhão,  Tenente Coronel Chaves de Carvalho, à frente, e, nos bancos laterais ia eu próprio e o Padre Zé Neves (presentemente nas Missões da Consolata em Moçambique)

Passámos por Porto Gole, o DO aproximou-se da pista e eu larguei o saco do correio. Logo se elevou, voando em círculo alargado com o piloto puxando energicamente a alavanca situada ao centro.

Imaginem o pânico que eu senti durante meio (?) minuto em que o DO subia cada vez mais e o capim ficava cada vez mais longe. Lá vai o Caniço pró c…!,   foi o pensamento natural. De imediato pensei: Está aqui o Padre Zé, Deus vai-nos safar!
Mal concluía o pensamento e... logo a alavanca se desencravou!
A interpretação fica ao critério de cada um.

Mais tarde vim a saber pelo piloto, que a avioneta tinha uma tal "démarche" que permitia a sua aterragem sem perigo.
Mas o pânico ficou, e por muitos anos, sendo que alguns resquícios ainda permanecem.

Curioso, hoje tenho um filho que é piloto comandante da TAP.

Um abraço e a continuação de ótima saúde. (**)
Ernestino Caniço

************

2. Mensagem do nosso camarada Albano Costa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74), com data de 13 de Julho de 2017:

Caros editores deste prestigiado meio virtual de comunicação entre ex-combatentes.

Eu escrevi sempre aerogramas, raramente escrevia cartas, mas também escrevi algumas, a minha namorada (hoje minha esposa), escrevia muitas vezes cartas talvez meio por meio.
Recebemos todas as cartas, nenhuma ficou nenhuma pelo caminho. Tínhamos combinado numerar as cartas e aerogramas sempre em numeração crescente algumas cartas, eram mais rápidas do que outras, mas com todos os atrasos lá foram chegando ao seu destino, tanto de cá para lá e vice-verso.

Eu tive conhecimento ainda na Amadora (RI 1), antes de embarcar no Niassa, do SPM da minha companhia e telefonei para a minha namorada a informar a minha direcção enquanto estivesse na Guiné, e para meu espanto quando chegamos a Bissau depois de uma semana de um cruzeiro pelo Atlântico, ainda antes de embarcar foi distribuído o correio ainda a bordo, e já lá tinha a minha primeira carta.

Nunca me apercebi de cartas ou aerogramas violados, para mim sempre chegaram em perfeitas condições, embora muitas vezes com atrasos bastante largos, mas julgo que seria por ter estado numa zona que demorava sempre bastante tempo a lá chegar. Chegávamos a estar sem receber correio entre 15 e 20 dias porque não tínhamos contactos físicos, só por telecomunicações, não era possível fazer colunas regulares e a aviação estava proibida de voar para Guidage.

Albano Costa
__________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de julho de 2017 Guiné 61/74 - P17579: Inquérito 'on line' (124): num total de 64 respostas, metade (50%) considera que o aerograma (ou "aero") "em geral era seguro e rápido"... Imprescindível para o sucesso do SPM foi a colaboração da TAP e da FAP.

(**) Último poste da série > 14 de julho de 2017 Guiné 61/74 - P17583: (De) Caras (89): Gente boa, brava e chã da Tabanca dos Melros em dia de apresentação das "Memórias Boas da Minha Guerra", volume II, do José Ferreira: restaurante "Choupal dos Melros", Fânzeres, Gondomar, 8 de julho de 2017 - Parte I (Fotos e texto: Luís Graça)

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17583: (De) Caras (83): Gente boa, brava e chã da Tabanca dos Melros em dia de apresentação das "Memórias Boas da Minha Guerra", volume II, do José Ferreira: restaurante "Choupal dos Melros", Fânzeres, Gondomar, 8 de julho de 2017 - Parte I (Fotos e texto: Luís Graça)


Foto nº 1 > Gondomar > Fânzeres > Quinta dos Choupos > Restaurante Choupal dos Melros > Tabanca dos Melros > A bandeira da Tabanca dos Melros e o seu régulo Carlos Silva. Esta tabanca alberga os ex-combatentes naturais do concelho de Gondomar, como é o caso do Carlos Silva, embora viva em Massamá, concelho de Sintra; acolhe naturalmente todos os demais combantentes da região, de todo Norte, e de todo o Portugal d'aquém e d'além mar; reune-se todos os segundos sábados de cada mês.


Foto nº 2 > A Tabanca dos Melros está sediada na Quinta dos Choupos, restaurante Choupal dos Melros.  É um belíssimo complexo, inserido numa quinta que há foi em tempos uma das maiores e melhores casas agrícolas da região. Por herança, está na posse do nosso grã-tabanqueiro Gil Moutinho, ex-fur nul piloto aviador  BA12, Bissalanca, 1972/73, anfitrião e outro dos  régulos da Tabanca dos Melros. O Gil mantém a parte agrícola e faz a gestão do restaurante, especializado em eventos (casamentos, batizados, festas...). Abre, ao público, aos domingos.



Foto nº 3 > Há já um pequeno nucleo museológico sobre a guerra colonial, constituído por objetos (fardas, guiões, crachás, bandeiras, mapas, medalhas, fotografias, e até armas) doados por antigos combatentes. Um dos mais entusiásticos e generosos doadores tem sido o Rui Vieira Coelho, ex-alf mil médico que esteve integrado nos BCAÇ 3872 e  BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74).



Foto nº 4 > Mais uma peça de museu: o saco de viagem da TAP oferecido aos militares que vinham de licença de férias à metrópole. Oferta do Carlos Silva.


Foto nº 5 > Outra peça de museu, a farda (amarela) do nosso grã-tabanqueiro, Santos Oliveira



Foto nº 6 > A placa de homenagem do Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2017), o "bandalho-mor" do Bando do Café Progresso, que prematura nos deixou. Era um dos mais entusiásticos frequentadores da Tabanca dos Melros, seu cofundador e editor do respetivo blogue, juntamente com o Carlos Silva e o Carlos Vinhal.


Foto nº 7 > Um dos muitos sítios aprazíveis da quinta: uma latada de "americano"...




Foto nº 8 > O antigo "quinteiro" da Quinta dos Choupos, onde estão alojados vários serviços de apoio ao restaurante Choupal dos Melros.


Foto nº 9 > A moderna cozinha do restaurante, com fogão... a lenha!... Tudo o que saí daqui é tem o sabor tradicional da nossa melhor cozinha regional portuguesa....



Foto nº 10 >  Gondomar > Fânzeres >Tabanca dos Melros > 8 de julho de 2017 > Sessão de apresentação do II Volume do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira (Lisboa, Chiado Editora, 2017) > Aspeto da decoração da sala (um telheiro) onde foi apresentado o livro: um manequim, com a farda nº 2, e as divisas de furriel, e uma pistola metralhadora Uzi (réplica)... A decoração esteve a cargo do nosso grã-tabanqueiro Ricardo Figueiredo, que tem um sonho: construir uma réplica de um aquartelamento de uma subunidade de quadrícula (companhia), típico do TO da Guiné, no âmbito do seu ambicioso projeto Museu Vivo da Guerra Colonial.



Foto nº 11>  Gondomar > Fânzeres >Tabanca dos Melros > 8 de julho de 2017 > Sessão de apresentação do II Volume do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira (Lisboa, Chiado Editora, 2017) > Aspeto geral da assistência



Foto nº 12 >  Gondomar > Fânzeres >Tabanca dos Melros > 8 de julho de 2017 > Sessão de apresentação do II Volume do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira (Lisboa, Chiado Editora, 2017) > O anfitrião, Gil Mourinho, tendo ao lado as esposas dos nossos camaradas Carlos Vinhal e Carlos Silva.


Foto nº 13>  Gondomar > Fânzeres >Tabanca dos Melros > 8 de julho de 2017 > Sessão de apresentação do II Volume do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira (Lisboa, Chiado Editora, 2017) > Um dos oradores, o Jorge Teixeira, chefe do Bando do Café Progresso, fazendo o elogio do autor (o Zé Ferreira, em segundo plano) e da obra. É um camarada de fino trato e humor à moda do Porto. tal como de resto o outro Jorge Teixeira, de alcunha, Portojo (1945-2017).

(Continua)

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 29 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17522: (De) Caras (88): O fur mil inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, natural da ilha do Sal, Cabo Verde, foi gravemente ferido pelo primeiro fornilho acionado no CTIG, às 9h00 do dia 3 de julho de 1963, na estrada São João-Fulacunda, vindo a morrer no HMP, em Lisboa, no dia 16, devido às graves queimaduras. Eu era o comandante da coluna (António Manuel de Nazareth Rodrigues Abrantes, ex-alf mi inf, CCAÇ 423, São João e Tite, 1963/65)

Guiné 61/74 - P17582: Notas de leitura (977): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (5) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Julho de 2017:

Queridos amigos,
No seu impressionante levantamento documental, o autor permite-nos o acesso a relatórios enviados aos respetivos ministros pelos governadores: diz-se a verdade para pedir mais efetivos, mais armamentos, mais dinheiro e até mais atenção às permanentes dificuldades em que vive a província.
O período em análise, 1903-1910, dá conta de insubmissões, operações bem e mal sucedidas, aqui e acolá cria-se um posto militar, mas não se ilude o que se passa um pouco por toda a parte, a operação no Cuor era vital para manter a navegação e comércio do Geba, não é possível ter bom comércio com tantos ataques a barcos, territórios fechados aos brancos, guerras étnicas dissuasoras da livre circulação. É um problema constante, um nó górdio que só será cortado com as campanhas do capitão João Teixeira Pinto.

Um abraço do
Mário


A presença portuguesa na Guiné: história política e militar 1878-1926, 
Por Armando Tavares da Silva (5)

Beja Santos

O impressionante levantamento documental plasmado na obra “a Presença Portuguesa na Guiné, Histórica Política e Militar, 1878-1926”, por Armando Tavares da Silva, Caminhos Romanos, 2016, não pode deixar indiferente quem quer que seja que se dedique ou pretenda saber mais sobre a história da Guiné Portuguesa, uma colónia que teve uma génese nebulosa em meados do século XV, numa região também de caráter híbrido, a Grande Senegâmbia, que viveu séculos como entreposto de escravos, um lugar de praças e presídios. A Conferência de Berlim, a Convenção Luso-Francesa de 1886, e previamente a desafetação da Guiné de Cabo Verde, obrigaram o governo de Lisboa a tomar medidas relacionadas com uma gradual ocupação efetiva, a submissão dos diferentes régulos à soberania portuguesa, à organização da administração, a planos de desenvolvimento.

De tudo o que o autor nos refere deste impressionante levantamento entre 1878 e até ao princípio do século é de que a presença portuguesa procura afirmar-se, mas sempre precariamente, os efetivos são mínimos, os tratados de paz rasgados a qualquer momento por quem os assina, à volta de Bissau, no Sul, no Forreá, em Farim. Há salteadores ou homens de guerra que vêm do que é hoje o Senegal ou a Guiné Conacri, geram tumultos, sequestram, incendeiam povoações, roubam. Nem sempre a administração tem possibilidades de dar luta, muito menos de pôr cobro. Surgem figuras no governo com têmpera, caso de Pedro Ignacio de Gouveia, há militares valorosos que depois darão um piparote nos atos de bravura cometidos. Enfim, uma história permanentemente acidentada.

Estamos em 1903, o Governador Soveral Martins sucedeu a Júdice Biker. Parece polarizado pela chamada questão indígena: o Oio parece um verdadeiro estado livre, por ali não pode passar um comerciante europeu, considera que a ocupação do Oio é o maior passo para o domínio efetivo da província; informa o ministro de que a situação é verdadeiramente precária: os vários reinos de Bissau não pagam imposto e é vulgar haver assaltos a embarcações; não se pode sair da apertada cintura de muralhas da praça de Bissau; os Balantas viviam em perfeito estado selvagem, enumera outros povos como os Beafadas, os Fulas e os Grumetes, e adianta o seguinte juízo:  
“Sei muitíssimo bem que o país reage contra o estado de guerra quase permanente que tem há anos mantido nas colónias; sei que os recursos não abundam e que é um patriótico dever evitar tudo quanto possa perturbar a difícil marcha dos nossos negócios; também sei que a fadiga produzida pelas guerras africanas faz sempre, embora injustamente, prever pruridos de glória adquirida em façanhas que, quando não fundamentadas, são uma mentira ao país e portanto uma torpeza”.
É um impressionante documento como registo daquela Guiné do princípio do século. O governador faz propostas, o ministro não responde. Teremos uma nova operação contra o gentio do Churo, descrita minuciosamente. Soveral Martins será exonerado em Outubro de 1904, altura em que retomam os trabalhos de delimitação da fronteira Norte pela missão conjunta Luso-Francesa. Oliveira Muzanty estará presente.

No final do ano é nomeado novo governador, o capitão Carlos d’Almeida Pessanha. Tem logo que se pronunciar sobre o regime de concessões de terrenos no Ultramar, um pedido fora apresentado pela Companhia Francesa da África Ocidental. O imposto de palhota torna-se uma prática corrente, parece que se restabeleceu o comércio no Oio, há desacatos na Costa de Baixo, região Manjaca. Pela primeira vez, no trabalho de Armando Tavares da Silva, vem referência a Abdul Indjai, que se fizera notório pelos seus excessos na região do Oio, nas suas operações roubava e matava os indígenas, é deportado para S. Tomé. Quando o Príncipe Real D. Luiz Filipe visitar S. Tomé, Abdul Indjai regressará à Guiné em finais de 1907, será auxiliar de Oliveira Muzanty nas campanhas de Badora e Cuor, será régulo do Cuor onde se notabilizará por extorsões e crimes de vária ordem. O 1.º Tenente da Armada Oliveira Muzanty sucederá Almeida Pessanha, em 1906. Vem preocupado com a reorganização militar e administrativa. Continuam os incidentes com Graça Falcão, acabará por ser expulso. Devido a um incidente praticado por Infali Soncó, régulo do Cuor, e as ameaças que pendem sobre a navegação do Geba, prepara-se na resposta. Envia um relatório ao ministro onde lhe dá conta de que é necessário fazer para uma soberania efetiva, pede centenas de praças europeias, meios navais, mostra-se profundamente crítico das práticas dos comerciantes, di-lo sem tibiezas: “Convém a todos […] o manterem as suas relações com os indígenas e conservá-los o mais possível afastados das autoridades para os explorarem à vontade"; e o seu relatório adianta as operações militares que pretende fazer. É um período em que o governador pede com firmeza a Lisboa que deixem de enviar mais vadios, era situação insustentável. Ocorre uma revolta em Badora, o régulo Boncó aliara-se ao régulo do Cuor para invadir o Xime, invasão que não será bem-sucedida. O dado militar mais saliente da governação Muzanty serão as operações em Geba, nunca se vira tanto branco, nunca se investira tanto para bater Infali Soncó, a operação está altamente documentada e até se possui um álbum fotográfico com muitíssimo interesse, para marcar efetiva presença decide-se criar no Cuor o posto de Caranquecunda, ficam ali inicialmente os macuas de Moçambique. Mas há novas operações em Varela, em Quínara, em Bissau. O caso Graça Falcão continua a dar que falar.

Oliveira Muzanty segue para Lisboa, fica encarregado do governo o Secretário-Geral Duarte Guimarães. Dá conta ao ministro da situação: Quínara ocupada por Beafadas, estava insubmissa; considera Abdul Indjai um mau elemento, comandante de bandidos; no Xime estava o famigerado Abdulai; o Oio não pagava imposto; a região dos Balantas também não pagava imposto, na circunscrição de Cacheu a insubmissão era quase completa. Prosseguem operações em terras dos Balantas, na região de Porto Gole. Os comerciantes estrangeiros não andam nada felizes com os assaltos, as operações, as retaliações, pedem indemnizações. No final de 1908 Muzanty regressa à Guiné, é presença de pouca dura. Começa a vincar-se na administração a fórmula colonial de dividir para reinar, ganham clareza as alianças com etnias islamizadas que estão prontas a enfrentar os animistas. Abdul Indjai não esconde a sua arrogância, mas contam com ele para garantir a presença no posto militar de Porto Gole. O autor descreve as causas da revolta na região Balanta do rio Geba.

Em meados de 1909 temos novo governador, Francelino Pimentel. Recebe uma missão do Oio, vinham pedir a paz, reaparece Infali Soncó, também quer perdão. Houve incidente fronteiriço na circunscrição de Cacine, cria-se um posto militar em Bissorã. Começa o recrutamento de indígenas. Cai a monarquia e a 6 de Outubro de 1910 Francelino Pimentel pede a sua exoneração não se esquecendo de dizer que “como português desejo o bem da minha pátria que sempre hei de servir”.

Chega o primeiro governador republicano, Carlos Pereira. Ficará conhecido por ter mandado derrubar as muralhas que cercavam Bissau, dava-se assim sinal que acabara o medo de ataques das etnias circundantes.

(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17563: Notas de leitura (976): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17581: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (5): Págs. 33 a 40

Capa da brochura "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra"

Gabriel Moura


1. Continuação da publicação do trabalho em PDF do nosso camarada Gabriel Moura, "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", enviado ao Blogue por Francisco Gamelas (ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto, 1971/73).



(Continua)
____________

Nota do editor

Poste anterior da série de 11 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17566: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (4): Págs. 25 a 32