segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18043: Convívios (834): Almoço de Natal e inauguração do Museu da Tabanca dos Melros, dia 9 de Dezembro de 2017, na Quinta dos Choupos


TABANCA DOS MELROS

ALMOÇO DE NATAL  E INAUGURAÇÃO DO SEU MUSEU

DIA 09 DE DEZEMBRO DE 2017

RESTAURANTE CHOUPAL DOS MELROS

QUINTA DOS CHOUPOS 

FÂNZERES - GONDOMAR

O belíssimo Restaurante Choupal dos Melros

No próximo sábado, dia 9 de Dezembro, vai ter lugar o Almoço de Natal da Tabanca dos Melros, assim como a inauguração solene do seu Museu, localizado nesta mesma Quinta dos Melros, também sede desta Tabanca.

O anfitrião, Gil Moutinho, pede aos interessados em participar no Almoço que se inscrevam impreterivelmente até ao dia 7 (quinta-feira) a fim de se poder abastecer dos géneros alimentícios suficientes e adequados.

A inauguração do Museu terá lugar antes do almoço pelo que as pessoas devem comparecer mais cedo do que o habitual, por volta das 12 horas.

Sendo este Almoço de Natal um momento de convívio especial, por que não levar os familiares para este salutar convívio? Cabe toda a gente porque a sala de jantar é grande.

Um recanto do Museu dos Melros quando ainda na fase de instalação
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17995: Convívios (833): novo recorde de presenças na Tabanca da Linha: 73 amigos e camaradas marcaram presença, em 16 do corrente, no "Caravela de Ouro", em Algés - Fotos de Manuel Resende: parte III

Guiné 61/74 - P18042: Notas de leitura (1020): “Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena”, organização de Iva Cabral, Márcia Souto e Filinto Elísio, Editora Rosa de Porcelana, 2016 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Março de 2016:

Queridos amigos,

Trata-se mesmo de um livro inesperado, de uma coletânea de cartas que Amílcar Cabral enviou à colega, namorada e mulher Maria Helena Ataíde Vilhena Rodrigues entre 1946 e 1960.

O aspeto nuclear que detetei nesta epistolografia é a mentalidade e o processo cultural de um jovem educado em Cabo Verde que se insere gradualmente no meio académico, associativo e político. Numa toada crescente iremos ver enfatizadas as questões raciais, a vida colonial, o entusiasmo em poder ser útil aos outros. Leremos vezes em conta exaltação da Humanidade e da africanidade. Mas esse mesmo processo tem um poderosíssimo reverso na medalha, o amor incondicional de Amílcar por Lena, aqui exaustivamente documentado.
É mesmo a outra face do homem que se tornou num dos mais significativo líderes revolucionários africanos.

Um abraço do
Mário


De Amílcar Cabral para Maria Helena: 
Somos dois seres válidos e desejosos de ser úteis

Beja Santos

Vamos falar de um livro inesperado, “Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena”, organização de Iva Cabral, Márcia Souto e Filinto Elísio, Editora Rosa de Porcelana, 2016. Amílcar Cabral chega a Lisboa em 1945, e depois de algumas vicissitudes inscreve-se no Instituto Superior de Agronomia. É aqui que vai conhecer Maria Helena, que será sua mulher, suprema confidente, companheira de ideais. A seleção de cartas (que vão de 1946 a 1960) permitem-nos acompanhar um amor em construção e perceber as frases sublimes que Amílcar escreve a Lena em 30 de Julho de 1960, já está decidida a clandestinidade e ele escreve à mulher para que esta tome decisões práticas, que irá enunciar detalhadamente. Mas o importante é a abertura e o termo da missiva:

  “A minha posição é a tua, a tua posição é a minha (…) só há um caminho, aquele que, decididamente, vamos continuar a percorrer juntos. Além de toda a falta que fazemos um ao outro, enquanto estiveres aí, longe de mim, ser-me-á sempre difícil trabalhar como julgo que posso, ser completamente útil, livre das amarguras da saudade e da intranquilidade”.

Depois do rol de tarefas que cabem a Lena executar antes de partir para Paris, Amílcar despede-se:

“Por hoje, paro aqui. Cheio de saudades mas cheio de esperanças no futuro, na vida vida que vamos construir. E a certeza, a consciência, a alegria de que esta carta é talvez a mais bela carta de amor que já te escrevi”.

O Amílcar Cabral que chega a Lisboa é já medularmente culto, de uma cultura europeia irrepreensível. Sintomático o que escreve em Outubro de 1946, na fase de aproximação, a relação é muitíssimo tenra: “Como tenho por norma teimar na realização dos meus desejos…”. Feita a aproximação, há o envio de poemas, são cartas súplices de quem pede companhia e confessa solidão, agora já se tratam por tu, analisam os seus sentimentos, sempre que Lena se ausenta para o Norte Amílcar fica desasado e confessa que precisa como de oxigénio das suas cartas. Canta a sua felicidade pela revelação amorosa, toda esta correspondência revela uma cabeça bem estruturada, não há uma rasura, um voltar atrás. Ela disserta sobre o racismo, e quando ela lhe confidencia que há pessoas que a interrogam sobre a natureza da relação que estabeleceu com Amílcar ele responde no processo da construção amorosa e na confiança inquebrantável que se estabeleceu entre os dois.

Em termos económicos, Amílcar vive precariamente e nas férias grandes de 1948 vai trabalhar na Caixa de Previdência dos Metalúrgicos, conta o seu ramerrame, manda-lhe sonetos, escreve em Francês, quer insistentemente saber o que ela faz e como está, revela-lhe os seus padrões morais e o porquê da sua fidelidade, porque é que ele não frequenta “tais sítios”:

“E não frequento, não só porque tu não gostas, pois antes disso já não frequentava, mas também porque eu não quero. Há uma razão muito forte: é que tenho em mim alguma coisa que me não pertence, que recebi dos meus antepassados e que tenho que legar aos meus filhos – alguma coisa que não tenho o direito de destruir. Sei que me compreendes”.

Ao longo de Agosto desse ano Amílcar desnuda os seus sentimentos: quer ir viver para África, diz expressamente “tenho de ir para África”, pretende ser útil à humanidade, mas acrescenta: “Mas tu estarás comigo. Eu não vou deixar que tu fiques. Eu farei tudo, tudo para que me acompanhes sempre. Que será vida para mim, sem ti?”. As juras de amor intensificam-se, o par entrou em fusão. Muitas vezes Amílcar escreve-lhe da Leitaria da rua dos Lusíadas, vive num quarto alugado na Calçada da Tapada.

A ternura pela mãe Iva, a quem ele trata por mamã, é inexcedível. Julião Soares Sousa foi quem desfez o mito de que a pessoa mais importante na vida do jovem Amílcar fora o pai, Juvenal Cabral. Nesta correspondência, reserva-lhe uma magra referência, aliás para exaltar Iva que vai a casa do ex-marido para o tratar, gesto que sensibiliza Amílcar. Em 1949, no livro de curso, dedicará à mãe o mais terno dos seus poemas:

“P’ra ti, Mãe que me deste / A tua alma viva / E o teu Amor profundo, / Maior que o próprio Mundo! / Aceita este tributo, / Que tudo quando eu for, / Será do teu amor, / -Tua Carne, Mãe, teu fruto! / Sem ti, não sou ninguém. / Sou só – porque és Mãe”.

É um jovem adulto muito informado, é longa a carta em que fala detalhadamente sobre o apartheid sul-africano. Confessa o seu orgulho nos negros que estão a triunfar nos Jogos Olímpicos desse ano em Londres. Gosta de futebol, alinha na equipa de Agronomia, vai ao estádio da Tapadinha, mas o seu clube preferido é o Benfica.


Há alterações profundas na correspondência a partir de 1950, a crítica ideológica é latente, Amílcar interessa-se pela filosofia e discreteia sobre a morte, pondo em paralelo a morte com a luta do amor contra o ódio, fala cada vez mais no progresso, na humanidade, na insensibilidade com os excluídos. Cresce o seu interesse pelos assuntos familiares. Mudou de quarto, vive na Avenida Casal Ribeiro, reparte o alojamento com Marcelino dos Santos. Começa a dactilografar cartas. Os assuntos raciais ganham substância, estuda-os, diz-se seguidor das doutrinas da ONU.

Parte primeiro para a Guiné, vai cheio de projetos, descreve a Granja de Pessubé, de que é diretor. Em 1953, em pleno recenseamento agrícola, à sua responsabilidade, escreve-lhe à peça de Farim, e desabafa: “Céu encoberto, chuva constante, calor, muito calor. Sempre a tua presença, até no gesto do bocado que se leva à boca. Querendo que assistas às minhas conversas, sentindo-te assistir a todos os meus atos”.

E depois Angola, em Catumbela, estamos em 1955, trabalha em Cassequel, suspira de amor, observa a miséria, e diz abertamente: “Miséria contra a qual hei de lutar”. Lê com entusiasmo Jorge Amado, talvez a série de livros “Subterrâneos da liberdade”, cita com abundância esse mundo brasileiro, tem imagens poéticas: “a luz do luar e luz do sol, do luar do amor e da esperança num céu grávido de estrelas, de sol nascendo da terra, das entranhas da terra, do coração dos homens e das mulheres que lutam, do olho simples e interrogativo das crianças desamparadas”.

O lutador pela liberdade está formado, é a fase em que investirá no nacionalismo angolano. Lena é tratada como “minha companheira querida do meu coração”. E assim chegamos à carta de 30 de Abril de 1960, em breve se reunirão em Conacri. Nada mais é incluído nesta correspondência selecionada por Iva Cabral e outros. Anos depois, em Argel, consumar-se-á a rutura.

O que há de fundamental nestas cartas de amor é percebermos como houve um projeto a dois, uma extraordinária mobilização para derrubar preconceitos e assumir riscos. E acompanhar o elevado grau de cultura daquele jovem que vinda dos meus meios liceais cabo-verdianos e amou Lisboa e se transformou na cumplicidade com Lena, a colega que dava pelo nome de Maria Helena Ataíde Vilhena Rodrigues, a destinatária que guardou esta admirável epistolografia.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18032: Notas de leitura (1019): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (11) (Mário Beja Santos)

domingo, 3 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18041: Blogues da nossa blogosfera (82): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (3): "O meu poema azul" e "Preso à cidade"



Do Blogue Jardim das Delícias, do nosso camarada Adão Cruz, médico, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos dois textos e duas imagens da sua autoria.



O MEU POEMA AZUL

ADÃO CRUZ

© Adão Cruz

Não sei fazer uma rosa nem me interessa, não sei descer à cidade cantando nem é grande a pena minha.

Não sei comer do prato dos outros nem quero, não sei parar o fluir dos dias e das noites e nem isso me apoquenta.

Não sei recriar o brilho do poema azul... e isso dá-me vontade de morrer.

Procuro para além das sílabas e dos versos a voz poderosa mais vizinha do silêncio, o meu poema azul… o suspiro de Outono onde a brisa se aninha no breve silêncio do perfume do alecrim, lugar das palavras e dos versos no caminho do teu rosto junto ao rio dos teus olhos onde a vida se faz poema e o mar se deita nos lençóis de luz do fim do dia.

Procuro para lá das sílabas e dos versos encontrar meu barco à entrada do mar, onde repousa teu corpo entre algas e maresia, meu amor perdido num campo de violetas.

O meu poema é tudo isto que me vive que me ilude que me prende ao lugar azul que procuro dia e noite por entre os versos do meu ser.

O poema mais lindo da minha vida ainda não nasceu, não tem asas nem olhos nem sentimento, que o traga um dia o vento se vento houver, que a saudade o encontre onde ele estiver.

Dizem que no cimo dos pinheiros ainda é primavera mas tão alto não chego, mais à mão molho a minha camisa primaveril no regato cristalino que vai correndo por entre os dedos num solo de cores e violino.

Não sei colher uma rosa nem sei descer à cidade cantando, sou apenas aquele que ontem dormia sobre um poema azul e das asas da ilusão se desprendia.

Sou aquele que ontem se despia nos braços do poema que vivia, sou aquele que ontem habitava em silêncio o poema azul que acontecia, sou aquele que ontem sonhou em vão… com o poema azul de mais um dia.

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PRESO À CIDADE

ADÃO CRUZ

© Adão Cruz

Preso à cidade nesta inquietante angústia das sombras ao redor de um tudo-nada que nos prende e constrange, cai dos telhados o pó cinzento de uma neblina estranha que definha as ruas e arrasta as horas na lentidão dos passos.

Lá atrás, uma réstia de luz presa ao vidro de um candeeiro partido sob as janelas podres lembra que se alma houvesse, seria presa fácil de um qualquer rígido corpo enjoado de farsas e falácias amontoadas no lixo ao longo das ruas.

A noite caiu de forma estranha sobre a cidade sem corpo, definhada de luz e consciência, deixando atrás de si os últimos passos de uma existência presa a todas as obscurantistas ordens estabelecidas.

Até o vento se foi, para não arrastar a neblina estranha e para não incomodar o pesado silêncio que se prende ao corpo e às paredes, como mortalha do tempo e pegajoso crude que desfaz essa réstia de luz, presa ao vidro de um qualquer candeeiro partido.

Ainda ontem era dia, nos braços repartidos do trabalho e nas carnes que não conheciam o exílio, recusando morrer fora dos sonhos e da vida no meio da tempestade, e o vento varria o silêncio para libertar o corpo e a mente da neblina estranha das noites pegajosas.

Havia certezas por entre os tremores da indecisão, havia sorrisos, verdades e ilusões, e havia brisas sonâmbulas calando os medos, e no fundo do silêncio corriam rios arrastando as paredes negras e todas as sombras dos candeeiros partidos.

Preso à cidade, na tristeza que nos envolve e nos liberta por momentos o pensamento, cai dos telhados a poeira do tempo que cala as ruas e prende as horas na lentidão dos passos, e abre no chão quadriculado um espelho negro com um menino tocando o céu azul, rodeado de pássaros e flores e rios cristalinos, e nos estende a mão num gesto de paz que nos acalma e nos perdoa, e carinhosamente e sigilosamente nos devolve ao nada por um caminho celular, oculto, irrepetível.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18016: Blogues da nossa blogosfera (81): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547

Guiné 61/74 - P18040: Blogpoesia (541): "Timidez da neve", "Voo alado..." e "Feira das ideias...", poemas de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Timidez da neve

Tímida. Provocadora.
A neve espreita e tarda a entrar em cena.
Tudo a postos.
Há silêncio na sala.
Mesmo cheia.
Estão sedentos.
Querem vê-la. Há um ano a esperam.
Os “putos” querem brincá-la.
Fazer bonecos. Bolas de arremesso.
A infância é curta.
As árvores perderam as folhas.
Em sofrimento. Clamam beleza.
Os corvos estão fartos do chão com folhas.
Os pés estão sujos.
Suas asas negras ficam brilhantes, cruzando os ares.
As telhas, de toucado branco,
Mas só do gelo. Querem um manto que lhes escorra ao chão.
Os carros da Câmara desesperam de espera.
Estão fartos de tanta volta seca.
A cidade grita. Já está sem calma…

Berlim, 3 de Dezembro de 2017
8h31m
Jlmg

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Voo alado…

O pensamento, cansado, planou no tempo,
Do passado ao presente.
Viagem bem longa. Nem sempre ridente.
Paragens de sonho. Outras de lama.
Bosques frondosos. Vales profundos.
Planuras tão verdes, cravejadas de cores.
Aldeias acesas. Encostas das serras.
Rebanhos felizes, em banquetes constantes.
Rios ferozes, correndo p´ró mar.
Praias desertas, banhadas por ondas.
Ilhas perdidas, sem ninguém a viver.
Gentes diversas, vestidas diferentes.
Cabeleiras compridas, rostos às cores.
Formigando no mundo, parecendo colmeias.
Sonantes falares. Diversos olhares.
Ora sorrindo, ora chorando.
Bem quentes as lágrimas.
Crianças brincando. Os mesmos recreios e gritos estridentes.
A vida, uma fada, nascendo, jorrando viçosa e alegre.
Vestida de negro, a morte, uma bruxa, varrendo, contente…

Berlim, 30 de Novembro de 2017
Manhã de chuva fria
Jlmg

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Feira das ideias…

Fui à feira das ideias. Ouvi dizer. Havia muitas, perdidas.
Seu destino marcado era o lixo.
No meio dum vale batido de sol,
Elas brilhavam ao vento, sedentas.
Bailavam no ar clamando um dono
Que as quisesse levar.
Fiz um braçado viçoso.
Enchi uma saca das mais preciosas.
Eram jóias de sábios, poetas, pintores.
Até de pastores.
Morreram. Ninguém lhes ligou.
Chegado a casa, enchi as paredes.
Quadros e frases, de assombro.
Verdades singelas.
Enchi meus baús.
Chaves de enigmas, segredos,
Selados a ouro.
Recorro a elas, quando a bruma me encerra, toldando o céu.
São meu baluarte.
Bandeiras que agito.
Fermento de pão.
Alimento da alma e do corpo…

Berlim, 28 de Novembro de 2017,
7h46m
Amanheceu com chuva
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18019: Blogpoesia (540): Tempos duros em que as saudades apertavam (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto do BCAÇ 3872)

Guiné 61/74 - P18039: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 11 e 12: os primeiro dois mortos do batalhão, por acidente com dilagrama


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > "Este aerograma foi enviado de Fulacunda, na Guiné, em 1973, para a minha namorada. Em 2017 reenvio-o para todos os ex-combatentes. Bom Natal"... [Fonte: página do Facebook do autor]

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Foto de ontem (à esquerda) e   de hoje (à direita, em baixo):  o José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74.

Nascido em Penafiel, em 1950, criado pela avó materna, reside hoje em Amarante. Está reformado como bate-chapas. Tem o 12º ano de escolaridade. Foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor, com dois livros publicados (um de poesia e outro de ficção).  Tem página no Facebook. É membro nº 756 da nossa Tabanca Grande .


1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva:

Sinopse (*):

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da Via Norte à Rua Escura.

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;

(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau,

(vi) fica mais uns tempos em Bissau para um tirar um curso de especialista em Berliet.


2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 11 e 12: os primeiros dois mortos do batalhão

[O autor faz questão de não corrigir as transcrições das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, que o criou. ]


11º Capítulo > ALBANO MENDES DE SOUSA CASTRO E O POLÍCIA DESCONHECIDO.

O mundo é mesmo pequeno. Sempre vivi por acaso, na maioria das vezes,  sem um plano pré-concebido; sobrevivi sempre. Quando nada o fazia crer e mesmo sem saber como, tenho a impressão de que tudo quanto me diz respeito, por muito mau que seja, de repente acontece algo para me livrar de apuros.

Passaram-se 15 dias, saí do Cumeré. Fui para Bissau tirar um curso de especialista em Berliet. Fui parar ao quartel-general.

Foi a Cesaltina Carneiro, de Figueiró (Santa Cristina), Amarante, que me disse ter o namorado na Guiné. Eu nem devia ter conhecido a Cesaltina, foi uma casualidade enorme, tampouco saber do seu namorado de quem nem me interessava, absolutamente nada. Mesmo assim insistiu em dar-me o endereço dele, quando soube que eu ia para a Guiné. Pura e simplesmente não quis.

Pois bem, sentado junto à porta de armas do quartel-general em Bissau, um camarada senta-se a meu lado e pergunta-me se eu não era o cabo que tinha andado aos papéis no Pilão dias antes. Claro que disse que sim! Palavra puxa palavra, descubro o Albano Mendes de Sousa Castro, natural de Telões, Amarante, namorado da Cesaltina Carneiro, com quem haveria de casar. Era 1º cabo cozinheiro na messe de oficiais.

Este pequeno capítulo é a minha modesta homenagem a um homem que conheci em circunstâncias dramáticas, que me deu algumas vezes de comer comida de oficiais superiores, mesmo correndo riscos, por retirar comida da messe, às escondidas. Manteve-se meu amigo enquanto viveu. Não foi longa a sua vida mas foi uma vida cheia de dignidade. Obrigado, Albano, estejas onde estiveres.

Quero aproveitar este capítulo para agradecer a um soldado das forças policiais, do qual não sei o nome, por me ter socorrido quando desfaleci numa rua de Bissau, por desidratação.

Levou-me para a esquadra, deu-me de beber e, após ter recuperado, levou-me de carro ao quartel. Os meus sinceros agradecimentos ao polícia desconhecido.


12º Capítulo > O PRIMEIRO HERÓI

Qualquer um dos ex-camaradas de guerra terá uma história igual, ou muito parecida com a minha, para contar. Antes ainda de sermos colocados nas zonas de guerra, quase todos passávamos pelo mesmo. Os que me estão a ler regressaram e tendo a guerra terminado, há 43 anos, cada vez somos menos para a lembrar.

Quero que saibam que somente agora tive coragem de reler o que escrevi. Não sei se conseguirei levar o meu intento até ao fim. Tentarei dar o meu contributo para as gerações futuras entenderem. Visto por um insignificante soldado sem nome, modesto elemento da “Ala dos Namorados”, o que é a guerra. Ou antes, a guerra vista por aqueles que não deixam o nome na história. Os soldados. Pois, são apenas um número.

Olhando o mundo e as estúpidas guerras, que entretanto se foram travando, não creio que este testemunho modifique alguma coisa. A humanidade foi, é e será,  dominada pela cobiça sem escrúpulos, dos gulosos insatisfeitos que pululam a terra. O dinheiro nunca será o suficiente pois cada um quer, e vai querer sempre, muito mais do que o necessário. É uma miserável consequência de sermos uma espécie desprezível.

No dia 15 de Julho de 1972 fui nadar e comer ostras para Quinhamel. À noite escrevi:

“No meu Batalhão e pertencentes à Companhia C.C.S. quando procediam ao lançamento de um Dilagrama (Dispositivo de lançar granadas de mão com a G 3) a mesma rebentou e morreram um Alferes e um Soldado. Disseram-me que o Alferes quando viu a granada se atirou para cima dela se não teriam morrido muitos mais. Lamento muito dar-te notícias destas”.

Nem há um mês estava em solo guineense. Começavam as tragédias com o meu batalhão.
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Guiné 61/74 - P18038: Agenda cultural (614): Lisboa, dia 12, 3ª feira, 18h00, Instituto de Defesa Nacional: sessão de lançamento do livro "...Da descoloniização: do protonacionalismo ao pós-colonialismo", do maj gen Pedro Pezarat Correia. Apresentação a cargo dos prof dout Luís Moita e Carlos Lopes


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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de novembro de 2017 > ósGuiné 61/74 - P18025: Agenda cultural (613): Amanhã, 30, pelas 18h30, na famosa Livraria Filigranes, em Bruxelas, apresentação da obra "Aristides de Sousa Mendes: memórias de um neto". Convite da Embaixada Portuguesa em Bruxelas e do Camões, I.P.

sábado, 2 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18037: Dossiê LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste: um documento para a história, um livro do nosso camarada da diáspora, João Crisóstomo (Nova Iorque)... Parte II: Como tudo começou com o autor, com António Rodrigues, com Anne Treserer e outros ativistas luso-ammericanos, em 1996


Da esquerda para a direita: o professor Berbedo de Magalhães, da Universidade do Porto, João Crisóstomo e Xanana Gusmão, num encontro em Lisboa [em 22 de dezembro de 2001] ( p.22)


Da esquerda para a direita: António Rodrigues, congressista Patrick  Kennedy, de RI [, Rhode Island,]  e João Crisóstomo, no Sport Clube Português de Newark.  O congressista mostrou senore muita abertuira aos propósotos da LAMETA. ( p.25)

Fotos e texto: © João Crisóstomo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. Blogue Luís Graça / Camaradas da Guiné]


Extratos do livro de João Crisóstomo - LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste, edição de autor, Nova Iorque, 2017, 162 pp. (*)

Hoje vamos reproduzir, com a devida autorização do autor,  grande parte do capítulo 1 [Como tudo começou: criação da LAMETA e primeiros passos. pp. 17-29].

Um documento para a história, ou pelo menos, para "memória futura", este livro do nosso camarada da diáspora, João Crisóstomo (Nova Iorque), ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67).

Netsa parte II, vamos saber como tudo começou com o autor, com António Rodrigues, com  Anne Treserer e outros ativistas luso-americanos, em 1996.

Embora em atividade desde o início de 1996, a oficialização da LAMETA demorou o seu tempo e só foi registada junto do Internal Revenue Service (IRS) em 23 de setembro de 1997. Para além de uma ofensiva nos meios de comunicação social, ainda em 1996 a LAMETA manteve contactos pró-Timor com o gabinete do congressista Patrick Kennedy, de Rhode Island, com o presidente Biil Clinton, a quem enviou petições com centenas de assinaturas em 6 e 22 de junho de 1996 e em 10 de junho de 1997.

A anscente LAMETA chamou igualmente a atenção do National Geographic Magazine para um mapa que publicara com Timor-Leste integrado na Indonésia (p. 23). Em 2 de março de 1996 foi dirigida uma carta ao presidente Suharto, da Indonésia, ainda com o cabeçalho do "Save the Coa Site Movement" (p.23). Os documentos das pp. 23 e 24 não são aqui reproduzidos para não sobrecarregar o poste (e o blogue).










(pp. 23/24: cópias de documentos, que não reproduzimos aqui)

25





Em 12 de março de 1966 foi endereçada uma carta, manuscrita, da LAMETA ao presidente dos EUA, Bil Clinton.  Ainda leva o cabeçalho do "Save the Coa Site Movement" (p.26. do documento aqui não reproduzido). A resposta da Casa Branca veio em 21 de janeiro de 1997 (p. 27).




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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17340: Dossiê LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste: um documento para a história, um livro do nosso camarada da diáspora, João Crisóstomo (Nova Iorque)... Parte I: a documenrtação original vai ser entregue dentro de dias em Dili... Uma cópia é entregue hoje, pessoalmente, ao Presidente da República Portuguesa

Vd. também  poste de 15 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17246: (De)Caras (71): João Crisóstomo acaba de publicar, em Nova Iorque, o livro "LAMETA: o desconhecido contributo das comunidades luso-americanas para a independência de Timor-Leste"...Vem a Portugal, para umas férias, no próximo dia 20, 5ª feira.

Guiné 61/74 - P18036: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (29): “Amor à Pátria”

Ponte Edgar Cardoso


1. O nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), em mensagem do dia 22 de Novembro de 2017 enviou-nos mais uma memória bem recente para integrar as suas outras memórias da guerra.


Outras memórias da minha guerra

28 - “Amor à Pátria”

Após meses e meses de assédio telefónico para assinar novo contrato por parte de certa empresa de telecomunicações, não resisti às constantes e boas promessas, bem como à obrigação da mudança.
Porém, nova pressão me veio incomodar. Agora, também através de e-mails: “Senhor Fulano, envie-nos os documentos de novo e com nova assinatura, uma vez que a que recebemos, não coincide com a do seu BI“.
Ainda me justifiquei com a penúltima trombose que me alterara a sensibilidade em alguns dedos da mão direita e, por via disso, se nota agora alguma diferença na minha escrita. Todavia, a compreensão desejada não encontrou eco em tanta exigência.
- Vê se resolves isso, porque vamos ficar encravados. – gritava a minha mulher, já farta de ver esquivar-me a este assunto.
- Nem é tarde, nem é cedo, vou agora mesmo.
- Isso, vai e vê se arranjas mais convívios de ex-combatentes, porque parece que é a única coisa que te interessa… e te faz bem.
Saí porta fora, aproveitando o momento e a reclamação sobre o almoço atrasado.

Passar defronte a Crestuma, torna-se obrigatório afrouxar para admirar a sua beleza

Este mês de Novembro já vai a mais de meio e o calor não nos larga. Nunca se viu tal. Até parece coisa do diabo e dos lóbis dos incêndios. Ora eu, o friorento crónico, até ando muito melhor.
Aproveito tudo para me deleitar com o sol e com a paisagem e, num repente, eis-me a deslizar suavemente pela margem direita do Douro, em direcção ao Porto. E, embora a quantidade de curvas na estrada prejudique bastante a atenção à magnífica paisagem que nos envolve, é notório o relaxe que me provoca.

Arnelas é outra lindíssima povoação ribeirinha de V. N. de Gaia

Estes bons momentos, enriquecidos por boa música, apanhada nos intervalos da sintonia radiofónica, foram interrompidos por um telefonema do Joaquim Coelho, o Presidente do MAC – Movimento dos Antigos Combatentes:
- Como vai isso das tuas mazelas? Ainda tens aquele reforço vitamínico que te dei? A segunda trombose está a passar?
Dou-lhe respostas positivas e ele insiste:
- Tem cuidado, não te envolvas demasiado, porque és um afectado com o stresse daquela maldita guerra. Sabes bem o que se passa com a chamada “peste grisalha” e o que nos espera. Estamos a morrer todos os dias.
De seguida, entusiasmado, aproveita para informar:
- Olha que aquele nosso projecto, de apoio aos ex-combatentes mais necessitados, está a andar. Tem havido reuniões e já entregámos novo projecto.
- Ok, Comandante, sabes bem que vos apoio, apesar de já não fazer parte dos Corpos Gerentes. Também sabes que não tenho a tua paciência para aturar essa cambada que nos tem governado. Estamos condenados por esta geração de políticos “democratas”, apátridas e cobardolas, mais especializados na mentira e na corrupção.

Casa do Gramido

Desta vez, a intenção era chegar à Maia e falar com o representante da tal empresa de telecomunicações, mas queria almoçar junto do Rio e, desta forma, aproveitar para prolongar e melhorar uns bons momentos de prazer. Para quem conhece aquela zona próxima da Casa Branca do Gramido, de belos passadiços e bons restaurantes, sente-se tentado a estacionar por aí. Mas, como ia sozinho, optei por procurar mais próximo do Porto um restaurante de aspecto mais modesto e de rápido atendimento.

Eram cerca de 14:00 horas. Já havia várias mesas vazias e desarrumadas, com sinais evidentes de terem sido usadas recentemente. Sentado junto do balcão, espreitava o esplendor do Douro pelos espelhos das prateleiras das garrafas.
- Na horinha, temos frango assado e carne à jardineira – disse o empregado.
Já eu pedira a maçã assada, quando noto a presença de três idosos, de aspecto humilde, junto do balcão. O mais alto (magricela) solicitou meio frango e três pães. O médio não parava de olhar fixamente para o arroz de cabidela disponível sobre a mesa mais próxima. O mais baixo, com os olhos apontados para a cozinha, esticava-se para ser notado:
- Dona Guidinha, não esqueça uns ossinhos para os nossos cãezinhos.
O primeiro saco foi entregue, ao mesmo tempo que se ouvia:
- São 3,90€.
O segundo saco ia ser entregue ao baixinho. Este agarrou bem o boné alusivo à campanha eleitoral do partido do governo, enterrou-o bem na cabeça, esticou-se para receber o “saquinho dos ossos” e esboçou um rasgado “muito obrigado”, ao mesmo tempo que exibia um sorriso com o único dente visível, o que lhe restava. Ao esticar o braço, deixou ver uma tatuagem que dizia: “Amor à Pátria”. Estava gravada sobre o Escudo Nacional e, por baixo estava gravado: “Guiné 1967-69”.

Nota:
Isto aconteceu na semana passada. Qualquer semelhança com a irrealidade é pura ficção.

Silva da Cart 1689
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17263: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (28): Gostaria de lhe chamar pai, autoriza?

Guiné 61/74 - P18035: Historiografia da presença portuguesa em África (104): Diogo Macedo e a arte africana (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,
Para entender a importância do testemunho do escultor Diogo Macedo, figura marcante do primeiro modernismo português, é bom contextualizar que neste ano de 1942 os apelos raciais voavam muito alto, havia mesmo revistas pró-alemãs e estava vulgarizado o preconceito de que a arte africana era um primitivismo de bárbaros.
Diogo Macedo sabia perfeitamente que esta arte africana entusiasmara os cubistas e génios da escultura como Alexander Archipenko ou da pintura como Amedeo Modigliani.

Um abraço do
Mário


Diogo Macedo e a arte africana

Beja Santos

A revista Panorama, intitulada Revista Portuguesa de Arte e Turismo, editada a partir de 1941 pelo Secretariado de Propaganda Nacional, concebida por António Ferro e animada por um escol de artistas como Bernardo Marques, Paulo Ferreira, Ofélia Marques, com o concurso de grandes fotógrafos como Domingues Alvão ou Mário Novais, incluía em todos os números colaborações de reputados investigadores e intelectuais. Neste número 9, de 1942, com belíssima capa com um desenho de Bernardo Marques, colaboram personalidades como Gustavo de Matos Sequeira, Vitorino Nemésio ou Diogo Macedo. Este último era um dos mais conceituados escultores do primeiro modernismo, e veio a exercer as funções de Diretor do Museu Nacional da Arte Contemporânea, período em que obteve grandes consensos das diferentes escolas e movimentos, ao contrário do seu sucessor, Eduardo Malta, altamente contestado, tendo o regime até proibido um livro sobre a coleção do museu escrito pela mulher.

Diogo Macedo introduz uma singularidade na revista, traz um artigo intitulado “A arte dos negros de Portugal”, vem tomar partido pelo génio da arte africana, é frontal e nada lamechas na categorização destes trabalhos, começando logo por dizer que “As próprias missões religiosas têm tido a grandeza de coração, o respeito pelos dotes plásticos dos negros, de não se imiscuírem nas conceções elementares e particularíssimas da sua arte, do seu gosto, da sua interpretação caricatural ou realista, ou mesmo de fantasiosos simbolismos terroríficos ou benéficos dos elementos dos espíritos”.

E expressa um ponto de vista multicultural, bem raro nestes tempos assolados por fanatismos rácicos, que afetavam tendencialmente intelectuais da direita radical portuguesa:
“É necessário amar a arte, a imaginação pela imaginação, a originalidade pela originalidade, e da beleza plástica ter uma larga, anticonvencional e humana recetibilidade, para poder compreender e admirar essas artes exóticas de artistas incultos, instintivas, mas excessivamente expressivas, fantasistas e decorativas. Quem da arte tiver apenas a observação dos dogmas, dos vícios, das rotinas e da vulgaridade maior ou menor, de génio ou de repetição por sistema de princípios, não poderá olhar uma escultura africana sem sorrir com inferioridade, sem se quedar insensível aos misteriosos segredos dessa espontânea criação. E cairá no ridículo estado de mumificação assustadora e incapaz, que nem aqueles povos negros teriam, pois que perante qualquer objeto de beleza, seja ela de que terra for, vibram e são capazes de o adorar, como nós outros, segundo disse o Padre António Vieira”.

E procede a uma exaltação sobre os valores artísticos das colónias portuguesas, enaltece as máscaras, lembra a influência portuguesa na arte do Benim, a começar pelos marfins escultóricos. E justifica a exultação a que procede neste texto:
“Nesta revista de propaganda nacional, de turismo e de revelação aos portugueses das obras de gosto, naturais ou de mãos portuguesas, creio ficar bem esta exaltação pela arte nas nossas colónias em África, porque na realidade a obra daqueles negros, que são portugueses, também pode ser considerada portuguesa, embora a pretensão infeliz de certos colonizadores e certos artistas de mesquinha compreensão da arte humana, a tome por produto inferior em relação à arte sublime de outros povos. Arte africana, arte asiática, ate europeia, são artes irmãmente, mais ricas ou mais pobres, mais vivas ou mais cansadas, que por todos devem ser defendidas, compreendidas e amadas. A dos negros – juro – tem ainda virtudes virgens, que as outras irremediavelmente lastimam ter perdido. Admiremo-las, pois”.

E Diogo Macedo termina com a seguinte pergunta: “Quando se organizará em Portugal o primeiro museu de arte das nossas colónias?”. O escultor escolheu imagens de Angola e da Guiné, como se mostra.



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Nota do editor

Último poste da série de 23 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18007: Historiografia da presença portuguesa em África (103): António Estácio: O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense - V (e última) Parte: (viI) conclusão, agradeciemntos, bibliografia e fiotos

Guiné 61/74 - P18034: Parabéns a você (1349): Herlander Simões, ex-Fur Mil Art da CART 2771 e CCAÇ 3477 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18031: Parabéns a você (1348): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18033: Manuscrito(s) (Luís Graça) (131): o 1º de dezembro no teu tempo de menino e moço


Foto e texto: © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [. Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O 1º de dezembro
no teu tempo de menino e moço


por Luís Graça (*)



E no 1º de dezembro, 
a banda da tua terra a tocar
o 'Ó ti Zé da Pera Branca',
que era o hino da Restauração (**), 
e que um punhado de patriotas, monárquicos e republicanos, 
fazia seu, na tua aldeia,
quiçá para acicatar o Franco de Espanha 
e o Salazar de Portugal, 
e todos os traidores da pátria, 
os lacaios que tinham servido os Filipes! 

(Sabias lá tu quem era o Franco, 
o Salazar e os demais grandes deste mundo!)

Fazia frio, de tremer o queixo, 
nas efemérides do 1º de dezembro de 1640, 
e ias agarrado ao capote do teu pai, 
com outros meninos e outros pais, 
atrás da banda,
Rua Grande acima,
a gritar morte ao traidor Miguel de Vasconcelos (***):
- Vais Com Cuspo e Selo, Vasconcelos, 
Vais
Morte a Castela e aos seus serviçais!

(Sabias lá tu, meu menino, quem era a pátria, 
e o pai e a mãe da pátria?! 
E os seus heróis, os seus filhos, 
mais do que homens, menos do que deuses, 
sabias lá tu quem era eles, os heróis,
e os traidores, 
e os progenitores da pátria, 
os pais-fundadores!)

Sabias lá tu quem era 
o senhor, professor, doutor, Salazar,
que nos tinha salvo da guerra,
só conhecias o rapa-tudo, a espátula 
que a tua mãe usava na cozinha quando fazia bolos!
Não sabias, pois claro, 

nem nunca tinhas saído da tua terra,
mas tinhas-lhe medo, ao cara de pau, 
de nariz aquilino, 
especado na parede da tua escola do Conde de Ferreira,
olhando-te de soslaio,
vigiando-te e punindo-te, 
que os símbolos do poder eram
como o código de barras da zebra:
ou memorizas ou morres, logo à primeira,
mal nasças, ó zebrinha!

De um lado, o Craveiro Lopes, 
que irá a marechal de opereta, 
e do outro o Salazar,
ou era ainda o Óscar Carmona,
esse sim, o marechal de bigodes farfalhudos ?!

Não te esqueças dos nomes dos altos magistrados da Nação 
que te pode perguntar, 
lá em Lisboa, no exame da admissão,
algum senhor professor de óculos de aros
de casca de tartaruga,
e de nariz aquilino!

(Madruga, meu rapaz, madruga, 
para um dia chegares a ser homem!)

Não te perguntaram por eles, 
pelos altos magistrados da Nação,
lá no liceu Dom João de Castro,
mas pelos reis de Portugal:
nomes, cognomes... e moradas!


Excerto:

In: Luís Graça - Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde, 2005, c. 50 pp. (inédito)

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Notas do editor:



(**)  Letra do Hino da Restauração:

Portugueses, celebremos
O dia da Redenção,
Em que valentes guerreiros
Nos deram livre a Nação.

A Fé dos Campos de Ourique
Coragem deu e valor
Aos famosos de Quarenta
Que lutaram com ardor.

P'rá frente! P'rá frente!
Repetir saberemos
As proezas portuguesas.

Avante! Avante!
É voz que soará triunfal
Vá avante, mocidade de Portugal!
Vá avante, mocidade de Portugal!


[Diz o blogue Avenida da Liberdade:  "A autoria do hino, com data de 1861, é de Eugénio Ricardo Monteiro de Almeida (música) e de Francisco Duarte de Almeida Araújo e Francisco Joaquim da Costa Braga (poema original). Monteiro de Almeida era um compositor e professor do Conservatório Nacional (1826 - 1898). Almeida Araújo e Costa Braga eram os autores da peça de teatro musical em que o hino se incluía."...

A letra inicial, que fazia parte da peça "1640 ou a Restauração de Portugal”, estreada e publicada em 1861, já não é a mesma, sofreu alterações, no tempo da República, para se tornar "politicamente correta"... O hino (patriótico) tornou-se "viral", como díríamos hoje, e sobreviveu até agora, a 4 regimes...


(***) "Miguel de Vasconcelos (1590-1640):

Miguel de Vasconcelos foi nomeado escrivão da Fazenda do Reino em 1634 pelo Conde-Duque de Olivares. Um ano depois, a vice-rainha Margarida de Saboia (Duquesa de Mântua) nomeia-o Secretário de Estado [, equivalente a 1º ministro]. 

A deficitária economia do país e o constante favorecimento de Castela em detrimento dos interesses portugueses, fizeram eclodir em várias localidades do país revoltas e motins populares. O desprestígio das ações de Miguel de Vasconcelos neste contexto levou ao levantamento das massas em Évora e no Algarve em 1637, com ecos noutras zonas do país.

O culminar desses distúrbios deu-se a 1 de dezembro de 1640 (Restauração da Independência), quando um grupo de fidalgos invade o palácio real de Lisboa e mata a tiro o Secretário de Estado, lançando em seguida o seu corpo pela janela, para junto da multidão que se aglomerava no Paço da Ribeira."

Guiné 61/74 - P18032: Notas de leitura (1019): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (11) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Setembro de 2017:

Queridos amigos,

Acabou a I República, entrou-se na Ditadura Nacional. Na Guiné, vão operar-se mudanças e o BNU em Bolama está atento. O seu gerente aproveita o relatório anual para dar um panorama das potencialidades económicas o que urge desenvolver. É um período de escassez, como se verá no ofício aflitivo que o encarregado de Governo envia par o banco em Bolama. Continuam os sonhos das empresas agrícolas, umas já soçobraram, outras dão sinais de resistência e até de revigoramento como a Sociedade Agrícola do Gambiel. Mas é o ano em que a Associação Comercial de Guiné e a comissão urbana da cidade de Bolama abrem contencioso quanto às pretensões de Bissau vir a ser a capital da colónia.

É um extenso documento enviado ao ministro das colónias em 15 de Agosto de 1927. Vamos dedicar o próximo documento a tão importante exposição, carregada de elementos históricos.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (11)

Beja Santos

O relatório de exercício de 1926 da filial de Bolama do BNU tem uma singularidade digna de registo, detalha com inusitado desenvolvimento o quadro económico da colónia. Destas memórias enviadas para Lisboa fica-nos por vezes a dúvida se em Bolama se tomava a parte pelo todo, isto é se os dados apresentados correspondiam efetivamente a um conhecimento de toda a colónia, se incorporavam informações da agência de Bissau sobre outras paragens a que chegavam negócios, empresas, mercadorias.

É manifesto que neste período, e com o desencravamento produzido pelas estradas de terra batida, se avançou para pontos até agora entregues à exclusiva economia de subsistência, onde era mínima ou inexistente a interferência colonial. Mas são os documentos que temos, é sobre eles que importa refletir. Vejamos então o quadro económico apresentado à luz de 1926:

“Agricultura – o indígena da Guiné cultiva quase exclusivamente milho, arroz e mancarra. Entre estes géneros só exporta a mancarra, em quantidades razoáveis. O arroz também figura na exportação: tem-se exportado excecionalmente para Cabo Verde.

Arroz e milho – estes cereais são a base da alimentação dos indígenas; além destes cereais outros há que se dá perfeitamente no solo ubérrimo desta província.

Mancarra – a mancarra tem de ser orientada na sua cultura pois acabando-se com os processos rotineiros com ela é cultivada e fazendo-se rigorosa seleção da sua semente a sua produção aumenta sucessivamente.

Cana-sacarina – dá-se maravilhosamente. Mas, apesar disso, só a Sociedade Agrícola do Gambiel, em Bafatá, e alguns cabo-verdianos em Farim se dedicam à sua cultura mas em pequena escala e unicamente para a destilação da aguardente. A sua cultura, bem orientada, daria perfeitamente para se fabricar açúcar em quantidade apreciável.

Algodoeiro – outra cultura naturalmente indicada para esta província, constitui nas colónias, e especialmente nas inglesas, uma das fontes principais da sua riqueza. Nesta província, porém, só o encontramos por entre as florestas, e do seu produto ninguém mais se aproveita se não o indígena para o fabrico de panos para seu uso, os quais tinge com tinta extraída do anil que cultiva em volta das suas cubatas.

Borracha e coconote – as árvores-da-borracha e a palmeira nascem espontaneamente, como o algodoeiro. Ninguém as cultiva. Encontram-se por toda a parte entre as matas.

Depois da mancarra, é o coconote que se exporta mais e, em alguns anos, tem-se exportado em maior quantidade do que a própria mancarra.

A cultura da palmeira deve merecer a melhor das atenções, pois os seus frutos, bem aproveitados, podem vir a ser, se não o principal, pelo menos uma das mais importantes fontes da riqueza desta província.

O coconote exportado resulta quase exclusivamente do aproveitamento do caroço que cai das palmeiras; não se aproveita a parte interior dos frutos, de que se podia extrair, em grande quantidade, o azeite de palma, se cuidassem das palmeiras devidamente.

As palmeiras, que se encontram disseminadas nesta província sem os carinhos e cuidados que elas encontram em muita parte do vasto continente africano, vão-se definhando aos poucos, fazendo antever a sua completa ruína.

Não é preciso ser-se agrónomo para se saber que as causas do seu definhamento residem essencialmente na falta da limpeza no palmeiral e na palmeira e, também, no abuso da extração do vinho de palma. De facto, as árvores, sejam de que natureza forem, estando aglomeradas num dado terreno, não podem tirar do solo em quantidades precisas as matérias nutritivas e, assim, torna-se-lhes impossível fazer com a atmosfera as trocas suficientes de gases vitais.

Da mesma forma, a extração do vinho de palma rouba à palmeira a seiva que naturalmente se destina à nutrição das flores e dos frutos, dando em resultado a produção enfezada e raquítica destes. A extração desse vinho, além de ser prejudicial às palmeiras, torna-se um perigo para os indígenas que com o abuso desta bebida se vão envenenando. Com o fim de evitar que o indígena continue a fazer um consumo exagerado do vinho de palma, e como proteção às palmeiras, foi publicada legislação atinente, elevando para vinte escudos a taxa da respetiva licença.

Este diploma foi revogado por outro em 1925, que extinguiu o referido imposto “como início e preparação de uma medida radical para a proibição da extração do chamado vinho de palma.
A borracha tem nesta província longo campo para a sua cultura intensiva e extensiva. Só é necessário incentivo para o seu fomento. A exportação da borracha atingiu no último ano 234 toneladas. Apesar disto, não se exporta tudo o que a natureza dá destes produtos porque o indígena só os colhe à medida das suas necessidades inadiáveis.

Cola – a cola que se importa em grandes quantidades da Serra Leoa podia ser aqui produzida abundantemente; Geba, Farim e Cacine já produzem, mas em quantidades insuficientes.
O Tenente Alberto Soares, proprietário da Ilha das Cobras, tem já ali uma boa plantação de árvores de cola e noutros pontos da província muitas se estão plantando.

O indígena da Guiné, sobretudo os Fulas e os Mandingas, têm na cola um dos seus principais alimentos; fomentar portanto a plantação desta árvore é fomentar a riqueza da província.

A árvore da cola começa em regra a produzir dos cinco para os seis anos, computando-se-lhe o seu rendimento, aos dez anos, em mil escudos.

Madeiras – tem esta província florestas onde se encontra o mogno, o ébano e muitas outras madeiras que, convenientemente estudadas e classificadas, podem constituir uma riqueza que não ficará muito aquém de tantas outras que a província possui sob o ponto de vista agrícola, não devendo contudo iludir ninguém a riqueza florestal desta província, pois uma grande parte destas florestas é constituída por pequenos arbustos e árvores de pouco valor.

Pecuária – se da flora económica passarmos à fauna, encontramos também um grande manancial e riquezas ainda por explorar, muito especialmente no que respeita aos gados. A população pecuária da Guiné é muito grande e maior seria se as epizootias não dizimassem anualmente centenas de cabeças. Atualmente há já na Guiné um médico veterinário.

Indústria – a par da sua riqueza em flora e fauna, esta província é talvez a única que, das nossas colónias africanas, apresenta tribos com certas engenhosidades não muito vulgares nos pretos. Dado o atraso de civilização em que se encontram, são de apreciar as obras que eles produzem, e com as quais mostram que são dotados de certas aptidões suscetíveis de aperfeiçoamento. Os Mandingas e os Fulas executam várias obras de ourivesaria como argolas e vários enfeites. Bordam também panos; fabricam vários instrumentos para a lavoura e mobiliário muito parecido com a mobília de verga; trabalham em couro com bastante perfeição, fabricam sandálias, bainhas para espadas e punhais e arreios de formato árabe. Os Balantas fabricam os instrumentos da sua lavoura e mais utensílios de ferro. Os Beafadas fabricam tecidos de algodão, servindo-se de teares muito primitivos.
Quanto à indústria temos a elétrica com uma geradora, a indústria destilatória e a nossa Fábrica de Cerâmica em Bandim".



Estas duas imagens foram extraídas da Panorama, revista portuguesa de arte e turismo, edição do Secretariado da Propaganda Nacional, Junho de 1944, reproduz uma escultura da arte Bijagó e uma Futa Fula Boé com penteado de gala

Estamos já no período da Ditadura Nacional. Agravam-se as condições de vida na Guiné. O encarregado de governo, António Saldanha, dirige-se em 4 de Janeiro ao gerente do BNU em Bolama nos seguintes termos:

“Encontrando-se atualmente esta província numa situação deveras angustiosa, proveniente da falta de numerário em cofre; e desejando satisfazer o pagamento de rações a presos, doentes, soldados e assalariados, e bem assim os vencimentos aos funcionários de categoria inferior a 1.º Oficial; rogo a V. Exa. se digno autorizar um adiantamento de 300 mil escudos, reembolsável com as primeiras receitas a entrarem, possivelmente, no corrente mês a fim de debelar a situação aflitiva em que se encontram os pequenos servidores do Estado entre os quais já lavra a fome. Saúde e fraternidade”.



(Continua)
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Nota do editor:

Vd. poste anterior de 24 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18009: Notas de leitura (1017): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (10) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 27 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18018: Notas de leitura (1018): "40 anos de impunidade na Guiné-Bissau", relatório da responsabilidade da Liga Guineense dos Direitos Humanos, publicado em 2013 (2) (Mário Beja Santos)