1. Na poesia portuguesa a figura do pai está muito menos presente do que a figura da mãe...
Talvez por que, durante séculos e séculos, os portugueses cresceram, não sem o pai, mas com o pai bem longe de casa, mais no mar do que na terra, a caminho das Indias e dos Brasis, lavrando o mar, construindo a primeira grande estrada da globalização, unindo os continentes, ligando povos... mas também na guerra, no exílio, na prisão, na emigração...
As nossas mães tiveram que ser mães e pais, tiveram que nos dar o pão, o amor, a educação...para, mais tarde, podermos pegar na trouxa e ir no encalce da figura paterna...nas navegações, na odisseia da pesca do bacalhau, no comércio marítimo, na colonização, na guerra, no exílio, na emigração... Foi um ciclo longo, de séculos, que estará longe de ter terminado com o chamado "fim do Império".
Não foi por acaso que até criámos, aqui, no nosso blogue, uma série que se chama "Meu Pai, meu Velho, meu Camarada"...
Infelizmente, a nossa geração, a que fez a guerra colonial de 1961/75, já não tem os seus pais vivos... Se o fossem, seriam centenários... Mas continuamos a gostar de celebrar o Dia do Pai, todos os anos, em 19 de março... Porque "recordar é preciso", e a saudade, se não é um produto "made in Portugal", é uma palavra única, e é portuguesa... Temos saudades do nosso pai, da nossa mãe, que nos deram o ser... E queremos transmitir essa doce ideia aos nossos filhos e netos...
Recordo-me do poema que escrevi ao meu pai, em 19 de março de 2012, no Dia do Pai, tinha ele 91 anos, e eu tive a terrível premonição de que ele já não chegaria os 92, a completar em 19 de agosto desse ano (*)... De facto, morreria 3 semanas depois, num domingo de Páscoa.
"Chegámos a casa e não parámos de chorar
pela bonita homenagem que fizeste ao teu Pai!
"Pai!, como consegues tocar no coração das pessoas
com as tuas palavras, o verso curto,
"Pai!, como consegues tocar no coração das pessoas
com as tuas palavras, o verso curto,
a palavra certa, o sentimento todo,
certeiro?!
"Pai!, como consegues adivinhar
o que sentimos nós, também,
a sofrer ao longe, mas a pensar
que os outros são fortes,
quando afinal a todos o coração enfraquece.
"Pai!, sentir o teu pai, nosso avô, a partir é triste.
Mas foi ele, o teu pai, nosso avô,
que disse que quem não viveu não pode viver.
"Pai!, e o avô viveu e deu a viver,
e viverá para sempre nas nossas histórias,
aquelas que tu e nós vamos contar
aos nossos filhos, sim,
por que ser avô é uma bênção,
e queremos dar-te essa alegria também.
"Pai!, toca-nos a tua sensibilidade silenciosa,
"Pai!, e o avô viveu e deu a viver,
e viverá para sempre nas nossas histórias,
aquelas que tu e nós vamos contar
aos nossos filhos, sim,
por que ser avô é uma bênção,
e queremos dar-te essa alegria também.
"Pai!, toca-nos a tua sensibilidade silenciosa,
escondida, mas forte,
pela subtileza e bondade.
"Pai!, vamos levar nas nossas vidas
a celebração da vida
através da poesia embrulhada de afetos.
"Com afeto, Joana e João
"Alfragide, 19 de Março de 2012".
2. Um poema ao pai: estou fora de casa, no Norte, ou melhor, estou em casa, no Norte (, estou sempre em casa, no Norte!), mas lembrei-me de partilhar com os nossos leitores, de Norte a Sul, um dos poemas do transmontano Miguel Torga (,da terra da nossa querida Giselda Pessoa, São Martinho de Anta, Sabrosa), de que gosto muito, pela sua genial simplicidade...
pela subtileza e bondade.
"Pai!, vamos levar nas nossas vidas
a celebração da vida
através da poesia embrulhada de afetos.
"Com afeto, Joana e João
"Alfragide, 19 de Março de 2012".
2. Um poema ao pai: estou fora de casa, no Norte, ou melhor, estou em casa, no Norte (, estou sempre em casa, no Norte!), mas lembrei-me de partilhar com os nossos leitores, de Norte a Sul, um dos poemas do transmontano Miguel Torga (,da terra da nossa querida Giselda Pessoa, São Martinho de Anta, Sabrosa), de que gosto muito, pela sua genial simplicidade...
Peçam, amigos e camaradas, aos vossos filhos ou netos, que vos acompanharem no jantar desta noite, para o ler, em voz alta, à mesa, lenta, compassadamente. Saboreiem-no... porque a poesia é também para se comer e beber... E tenham um bom resto de dia do Pai, amigos e camaradas! Bebo um copo à vossa saúde, com votos de longa vida!
Bucólica
Bucólica
por Miguel Torga
A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caiadas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.
Miguel Torga
In: TORGA, M. – Antologia poética. Coimbra, ed. autor, 1981, p. 247.
____________
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 19 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9628: Meu pai, meu velho, meu camarada (25): Bo vida ta na balança... (Luís Graça)
A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caiadas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.
Miguel Torga
In: TORGA, M. – Antologia poética. Coimbra, ed. autor, 1981, p. 247.
____________
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 19 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9628: Meu pai, meu velho, meu camarada (25): Bo vida ta na balança... (Luís Graça)
(**) Último poste da série > 25 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19530: Manuscrito(s) (Luís Graça) (152): Parabéns ao meu mano Tó, o ex-1º cabo magarefe, António Ferreira Carneiro, o "Brasileiro", que, em Tete, Moçambique, no Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664, levou um tiro de Uzi no bucho... Ficou com uma cicatriz tipo 'fecho éclair', de alto a baixo, do peito à barriga, já teve vários AVC, e chega hoje aos 80 anos, rodeado de uma bela família de filhas e netos