sexta-feira, 10 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20839: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (6): Bó Coelha, uma força da natureza, com 100 anos, está a resisitir ao Coronavírus

A centenária Bó Coelha


1. Em mensagem do dia 9 de Abril de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta Boa memória da sua paz, dedicada à senhora sua Mãe, uma centenária que parece ter vencido o terrível Coronavírus.


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ

5 - Com 100 anos está a resistir ao Coronavírus!

Bó Coelha, essa força da natureza.

Faz hoje 62 anos que ficou viúva!

Por ter acusado sintomas de COVID 19, no dia 30 de Março deu entrada no Hospital S. Sebastião de St.ª Maria da Feira, a centenária Emília Delfina da Conceição, também conhecida por Emília Coelha. Foi medicada e fez os testes. No dia seguinte acusou positivo. Ficou no Quarto 540, no 5.º piso.

Reagiu muito bem, normalizou a temperatura, baixou o oxigénio e fez novos testes. O resultado deu Negativo. Hoje, dia 10 de Abril, vai fazer novos testes.

Como seu descendente, sinto uma alegria incontida e um orgulho enorme pela nossa Bó Coelha.

A Emília Coelha, nasceu a 11 de Dezembro de 1919, num pequeno lugar de Fiães, junto à Estrada Real, também conhecida como Via Romana

Filha de José Ribeiro e de Rita de Jesus. Ele, conhecido como Zé Linardo, trabalhava de Serrador e ela de Mulher à Jorna. Deste casamento, nasceram também o Noé (1927) e a Josefina (1933). Ambos já falecidos. Ele fez-se Soldado da GNR e ela de Empregada de Pensão e Mulher-a-dias.

Nasceu um ano depois de ter terminado a I Grande Guerra.

Como criança, sofreu os efeitos dessa guerra, acumulados com a crise política e social reinante até o fim da I República, em 1926.
Os primeiros anos da Coelha coincidem com o pior período da governação republicana. Basta referir que entre 1920 e o golpe de 28 de Maio de 1926, chefiado pelo General Gomes da Costa, passaram 23 Governos!

Com o triunfo dessa Ditadura Militar, abriu-se a formalização da Ditadura Nacional em 1928 e a formalização do Estado Novo em 1933.
Naqueles tempos difíceis, havia fases em que os homens chegavam a trabalhar quase só pela comida e as mulheres esforçavam-se também em serviços, especialmente naqueles para onde arrastavam os filhos/crianças, na esperança de alguma ajuda alimentar.

É neste ambiente de crise nacional, em que os pobres desesperam pela sobrevivência, que a Coelhinha ajuda os pais e os irmãos, sempre na procura de compensar, em serviços, em especial os apoios dos Senhorios de sua mãe, a “Mãe Rita”. Tanto a Rita como os seus irmãos Rafael, Mário, José, Vicente e Arminda, eram pessoas saudáveis e robustas. Saíam ao pai José que era da raça dos “Rusgas”. O “Zé Rusga” foi vítima de um tiro, disparado durante uma discussão, junto à loja da Ti Quitas, entre pretendentes das suas filhas. Viúva, a avó Albina, era acarinhada como “Mãe Bina”. (Aproveitamos para referir que o avô do Zé Linardo chegou aos 105 anos!).

Como adolescente, sentiu as limitações impostas pelo rigor do Estado Novo.
Tal como seus pais, a Emília não teve a possibilidade de frequentar a escola. Todavia, tal como os seus vizinhos, que assim pareciam viver felizes, não perdia as oportunidades festivas ou de lazer. Com toda a naturalidade, a Emília teve os seus namoricos. Apaixonou-se por um jovem Fianense, com quem esperava casar. Com 18 anos engravidou, sem que o namorado assumisse o casamento, tendo, até, fugido para o Brasil, por imposição de seus pais.
Desse amor, nasceu a Deolinda da Conceição (Junho de 1939).

Desgostoso com a situação criada, o Zé Linardo aproveitou a oferta de trabalho na zona transmontana do Barroso, para onde se deslocou, vindo a fixar-se em Boticas.


Com o passar do tempo, a Emília apercebeu-se de que essa sua relação amorosa havia terminado. E foi numa dessas festas tradicionais de carnaval em que o jovem Zé da Bia, ou Zé Pum, fixou a sua atenção naquela rapariga jeitosa, parecida com a Amália Rodrigues, ali mais recatada.

Esse namoro progrediu rapidamente, tendo dado origem a um casamento tão discreto como apressado.
Casaram sem boda, sem pais e sem padrinhos. Valeu-lhes o apoio da família “Avelino Caldeirada” que os orientaram e testemunharam o acto. E foi pelas oito horas da manhã, depois da primeira missa, daquele dia 18 de Julho de 1942, que o acto se consumou na Capela da Sr.ª da Conceição, em Fiães. Era Sábado e dizem que, a seguir, ainda foram trabalhar.
O Zé Linardo veio buscar a família, levando a pequena Deolinda e deixando a Emília e o Zé a viver numa casa dos Pixelos.
Seguiram-se anos de felicidade, daquela felicidade própria dos pobres que iam tendo algo que comer e onde dormir, em tempos de crise agudizada com as restrições impostas por um governo condicionado pelos efeitos da II Grande Guerra Mundial.

Nasceram sete filhos de enfiada e foi por isso que a Emília passou a ser conhecida por Coelha.

Em 1943 nasceu o Zeca e seguiram-se o Benjamim, o Fernando, a Guida, o Daniel, o Mário (que faleceu com 8 meses) e a Fernanda.
Foram anos difíceis, compensados por muito trabalho e alguma sorte na procura do volfrâmio. Foram os melhores.

Naquele mundo de analfabetos, até o pai Zé frequentou a escola nocturna. Porém, concluída a escola de cada um, lá estava o trabalho fabril à espera. Era preciso ajudar a criar o rebanho de irmãos que ia crescendo.

Aos 33 anos de idade o Zé foi acometido de grave doença. Foi-lhe diagnosticado uma cirrose no fígado que o fez sofrer imenso cerca de um ano. Não foi por causa de álcool nem de outro vício. Foi causada pela fome e das privações que sofreu em criança. Foi muito chocante assistir às visitas dos seus amigos, que não se continham com tanto sofrimento. Faleceu a 10 de Abril de 1958.

Com 6 filhos em casa, tendo o mais velho acabado de fazer 15 anos, a Emília viu-se ainda mais desesperada com o corte do abono de família.

Seguiram-se anos terríveis para a sustentação da família. O Zeca completara os 15 anos, o Benjamim 13 e os outros 4 eram crianças. Perdido o abono família, a Emília quase não dorme. Ela trabalha intensamente e inventa serviços que a possam ajudar. Além da fábrica do papel e das rendas de bilros, ela aproveita a prestação de serviços na funerária, na jorna e na apanha da lenha. Também vendia fruta, ovos e regueifa.

Nesta fase dolorosa, a Emília mantém a sua fé religiosa inabalável. Ela acredita que Deus nunca a abandonou. Foram anos de muita adoração. Devotada a N.ª Sr.ª de Fátima, passa a fazer-lhe promessas, para que os filhos se salvem da Guerra do Ultramar.

Regressaram sãos e salvos após a espinhosa missão patriótica. Foram para a guerra 3 filhos e 4 genros! Merecia bem uma condecoração:

- o Benjamim esteve em Angola
- o Zeca na Guiné,
- o Arnaldo, marido da Linda, na Guiné
- o Fernando da Nanda, Guiné
- o Armindo, marido da Margarida, na Guiné
- o Daniel em Angola
- o Fonseca, marido da Fernanda, em Angola

Os filhos

Os filhos foram casando, os netos foram aparecendo e a Bó Coelha recuperou a alegria de viver.

Os netos

Os bisnetos

Sempre ligada à Igreja, comungava das actividades religiosas, solidárias e recreativas. São muito lembradas as excursões que organizou, especialmente a partir da sua impossibilidade do cumprimento das promessas de “ir a Fátima a pé”.


Essas excursões eram muito populares e serviam de pretexto para bons passeios e para grandes convívios.

Teve alguns problemas de saúde, mas todos venceu com muita fé e gratidão religiosa.

Os filhos nunca se esqueceram dela, mas seguiram seus caminhos e criaram os seus descendentes. E quando tudo parecia agradavelmente harmonioso, a Coelha sentia-se cada vez mais só. Nem com a companhia de amigas a dormirem lá em casa se sentia bem. Também não se sentia à vontade na casa das filhas, que tanto a acarinhavam.

Começou a manifestar o desejo de ir para Cucujães, para o Lar Santa Teresinha nas Missões da Boa Nova, para onde muito corria levando coisas que angariava. Falava dos padres de lá e de outras pessoas, com muita amizade e admiração.

O Lar Santa Teresinha

Então, decidimos ir lá pedir a sua admissão no Lar. Não levou muitos dias a sua aceitação, com carinho e muita atenção.

O carinho no Lar

Já são sete anos de vivência no Lar. A Coelha confessa que está a passar os melhores tempos da sua vida. Cansada, mas feliz e sempre activa. Ainda recentemente, cantava e dançava. Como no casamento da Liana e Miguel, em que me obrigou a dançar com ela. E logo eu… que nunca aprendi tal coisa.

Ultimamente mexe-se menos


No dia 11 de Dezembro de 2019, festejámos o seu Centenário.

Foi um dia inesquecível! O Lar organizou uma linda festa que ficará na memória de todos seus descendentes.
A família, sempre dispersa, apareceu em cheio. E era uma quarta-feira. Foi feriado para todos. O amigo Emídio Sousa, Presidente da Câmara, também lá esteve.


Até dois grupos de ex-Combatentes vieram à festa: “O Conjunto Musical dos Periquitos da Tabanca de Matosinhos” e “O Bando do Café Progresso”.


A festa começou com uma missa na capela do refeitório, celebrada pelos padres ligados àquela grande obra social. Foi um óptimo ambiente, onde reinou a alegria, boas e lindas palavras e muito orgulho.
A Coelha sentia-se no Céu.
Abaixo transcrevo as palavras que lhe dediquei num breve discurso:

...Mãe, mais que guerreira, és uma vencedora!
Subiste ao mais alto da montanha da vida
Arrumaste as pedras do seu caminho
E plantaste nele as mais lindas flores!
Olha aqui os teus descendentes
São sangue do teu sangue
São todos coelhinhos!
Eles vêm mostrando a tua raça

No desporto, chegaram ao topo da Europa e ao topo do Mundo!
Herdaram a tua resistência impar!
Na escola chegaram a Professores, Doutores e Engenheiros.
Herdaram a tua sabedoria!
Na vida social, têm merecido o apreço da sociedade.
Herdaram a tua humilde simpatia!
Na vida familiar, têm sido bons pais e bons filhos.
Herdaram o teu exemplo!
Todos orgulhosos por descenderem de uma pessoa especial.

Uma mulher de excepção.
A nossa “Bó Coelha”!
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20831: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (5): Op. Sarrabulho (com o covidis por perto) - II Parte

Guiné 61/74 - P20838: Esboços para um romance - I (Mário Beja Santos): Peço a Deus que tu regresses são e salvo (2)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Fevereiro de 2020:

Queridos amigos,
Trata-se de uma revisitação, no meu livro A Viagem do Tangomau, editado pelo Círculo de Leitores em 2012, falo da minha experiência na terra da bagacina, a terrível experiência de ter sido gerente de messe e a indignar desde o primeiro dia os senhores oficiais dando-lhes a comida mais barata, andava por ali o espetro de um anterior gerente de messe que pagava às prestações centenas de contos de prejuízo, felizmente que o Comandante do Batalhão, ele próprio amesendado com a família, me pôs rapidamente na rua.
Tive, nessas recordações do livro, circunstância para falar da descoberta da cidade e de quase toda a ilha, das amizades firmadas, sobretudo com o José Medeiros Ferreira, o casal que me recebeu e onde passava os fins de semana, a fabulosa festa de Natal, expediente encontrado para receber carinhosamente os instruendos marienses, as condições atmosféricas não tinham permitido que fossem passar o Natal à sua ilha, fez-se festa da rija nos Arrifes, com consoada organizada por muitas boas vontades.
O que aqui se conta tem laivos de revisitação, obedece a dois propósitos, homenagear uma amiga recentemente falecida, Cremilde Tapia e saborear uma porção de fotografias recentemente descobertas. Foram tempos que ficaram gravados no meu coração, guardo-lhes devoção e saudade.

Um abraço do
Mário


Peço a Deus que tu regresses são e salvo (2)

Mário Beja Santos

Adaptei-me facilmente à cidade de Ponta Delgada, uma escala perfeitamente humana, ganhei apreço ao basalto e às tonalidades cinza, como se fosse o espetro da lava, as belíssimas calçadas, empedrados perfeitos, passeios muitas vezes estreitos, mas na época o trânsito era reduzido. Regressávamos da instrução, e depois da higiene doméstica, cada um partia para o seu destino, só os continentais é que tinham que tratar de si, os oficiais micaelenses tinham as suas casas. Aluguei quarto na Rua de Lisboa, n.º 31, e era comensal junto do município, um café com porta giratória Arte Deco, o Nacional. Comensal significava que tinha direito a sopa, um prato de peixe ou carne, uma peça de fruta da região (eu pelava-me pelo ananás), havia por vezes uma entrada de queijo fresco com pimenta da terra. As contas bem controladas, um aspirante auferia cerca de 1100 escudos, havia que pagar o quarto, com tratamento de roupas, e as despesas de comensal. Não dava para uma vida estouvada. O Teatro Micaelense oferecia regularmente cinema e concertos com um ou dois solistas, regra-geral artistas em fase de arranque oriundos dos EUA e Canadá. Com bom tempo, ia para o Largo de São Francisco e lia até à hora de jantar. Com mau tempo, ia para o Café Gil onde à noite aparecia o José Medeiros Ferreira, tínhamos estado juntos na recruta e especialidade em Mafra, partiremos de Ponta Delgada para a Amadora, foi nos Açores que firmámos uma gratíssima amizade.

Largo do Município com a estátua de São Miguel Arcanjo, Ponta Delgada

Portas da cidade, Ponta Delgada

Esquina do Largo 2 de Março com vista do Palácio da Conceição, Ponta Delgada

José Medeiros Ferreira

A Avenida Marginal era muitíssimo mais reduzida do que é hoje, agora está totalmente rasgada pela nascente. Os primeiros passeios eram de pura exploração, contemplar a Matriz, manuelina de branca, barroca de negridão basáltica. Barroco é o que não falta em Ponta Delgada. Os antigos conventos do Campo de S. Francisco, o edifício do Museu Carlos Machado (antigo Convento de Santo André), a fachada jesuíta da Igreja do Colégio, ao tempo indisponível ao público, mas só a fachada dava para se ficar um bom tempo a saborear aquela composição paradoxalmente austera e voluptuosa. O século XIX deixou marcas indeléveis na arquitetura, basta pensar no Palácio de Santana.

Teatro Micaelense, Ponta Delgada

Largo de São Francisco, Ponta Delgada

O capelão dos Arrifes era o Padre Couto Tavares, que vivia no seminário. Intrigou-se por eu não ter ali nem família nem amigos, fez questão de me apresentar a um casal que habitava numa moradia na Rua Segunda de Santa Clara, n.º 2, ele, de nome Marino Teves Lemos, ela, Maria, a quem passarei a chamar a “mãe do oceano”. Impuseram que eu ali me fosse amesendar aos sábados e domingos, acedi inicialmente, até porque o Marino se ocupava de uma correspondência colossal com uma obra qualquer relacionada com cursos de cristandade, pôs-me o gira-discos à disposição, um cadeirão confortável, lia e ouvia música. É num desses sábados ou domingos que irrompe pela sala um vozeirão, uma mulher alta com um fato roxo, ia conhecer Maria Cremilde Morgado Tapia, será a madrinha da minha filha Glória, em sua casa, na Rua da Alegria 6A, bem perto da casa de Maria e Marino, elas passarão as férias de Verão, inesquecíveis.

Em casa de Maria e Marino Teves Lemos, na companhia da Maria Cremilde Tapia e José Braga Chaves

Dei duas recrutas no BII N.º18, a primeira com mancebos fundamentalmente de Santa Maria (mas havia gente da Graciosa e do Faial, pasme-se), começou em outubro e findou em cima do Natal, um dos mais belos natais da minha vida, voltarei a esse evento; a segunda, era exclusivamente composta por micaelenses. Ora um dos meus instruendos de Santa Maria, José Braga Chaves, de Vila do Porto, chamou-me rapidamente a atenção porque tinha o indicador da mão direita imobilizado, ou quase, fazia movimentos muito lentos, ele referiu-me ter tido um acidente em pequeno, ficara assim. Não me conformei. Pedi uma entrevista a uma das sumidades da terra, o Dr. Furtado Lima, se o podia operar, era inconcebível um homem ir para a guerra com tal limitação. Propôs-se fazer operação, coisa de somenos importância, havia que lancetar e corrigir, talvez um nervo ou um tendão, para o caso pouco importa, pediu-me uma importância, respondi-lhe que lhe pagaria todos os meses em prestações, aceitou. O Zé fez a convalescença em casa da Maria e do Marino, nessa altura também ali se aboletava uma professora do Liceu Antero de Quental, Isabel Bracourt.

Imagine-se a comoção que senti quando dei por este pequeno conjunto de fotografias dos três e os dois em casa dos nossos generosos anfitriões. O Zé foi para Moçambique, trocámos correspondência. Veio e ficou a viver em São Miguel, trabalhando na meteorologia do aeroporto, casou com a Fátima, já falecida. A vida separou-nos temporariamente, a ternura é intemporal. Perdi o rasto à Isabel Bracourt. A Maria e o Marino já partiram deste mundo, não me ocorre nenhum adjetivo satisfatório que expresse a minha gratidão pelo bem que me (e nos) fizeram. Quando regressava a Ponta Delgada ia visitar a neta, então a trabalhar na biblioteca da universidade. Um dos filhos do casal, Álvaro Teves Lemos, estava na Guiné na altura em que eu dava ali recrutas. Não descansámos enquanto não chegámos à fala, aqueles pais, o Álvaro compreendeu imediatamente, tinham tido um papel tão construtivo naqueles meses micaelenses que era impossível que ele não quisesse saber as histórias de todos aqueles tempos. Cremilde Tapia fazia questão de me ir mostrando os belos rincões da ilha. O primeiro passeio teve como itinerário S. Roque, a Praia do Pópulo, a Lagoa, a Serra da Água de Pau, e chegados aos Remédios fui confrontado com um testemunho único da natureza, a Lagoa do Fogo e depois o Pico da Barrosa, daqui tem-se uma vista simultânea das costas Norte e Sul, avista-se até à Ribeira Grande. Foi um passeio de estalo. A sedução pela ilha assentara raízes.

(continua)
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Nota do editor

Primeiro poste de 3 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20806: Esboços para um romance - I (Mário Beja Santos): Peço a Deus que tu regresses são e salvo (1)

Guiné 61/74 - P20837: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (7): a navegar agora no perigoso Mar Arábico, já no Golfo de Aden, com o Corno de África lá ao fundo à esquerda e o fantasma dos piratas da Somália a acrescentar às preocupações dos passageiros e tripulantes...


MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo >  Em navegação, oceano Índico > 10 de abril de 2020 ,sexta feira santa para os cristãos > Um rota perigosa...

Cortesia da página do faceboook de Constantino Ferreira. Foto reeditada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


Oeiras >Algés > Restaurante Caravela de Ouro > Tabanca da Linha > 42º Convívio > 21 de março de 2019 > À mesa, o Constantino Ferreira d'Alva e o António Graça de Abreu.

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Constantino Ferreira d'Alva, ex-fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala e Mampatá, 1969/71), membro da nossa Tabanca Grande desde 16 de fevereiro de 2016. Vai a bordo do MSC -Magnífica, que teve de apressar o seu regresso ao ponto de partida, devido à pandemia de COVID-19. Está a escrever o seu diário de bordo,  desde 23 de janeiro de 2020, disponível na sua página do Facebook. A ele junta-se o António Graça de Abreu, que também, está a escrever o seu diário de bordo...


Excertos do diário de bordo de Constantino Ferreira 

Sexta-feira, 10 de abril de 2020, 5h39


Estou a pensar, que a vida continua. Hoje, é Sexta-feira Santa e, vivemos a angústia do presente, pensando no passado.

Esse passado longínquo, que marcou estes últimos 2.020 anos. Um Homem-Bom, foi morto cruelmente em Jerusalém, por equívoco do povo e desleixo do “poder”!

Hoje, recordamos esse “equívoco”, com o pensamento contido na revolta. Mas, esse exemplo de compaixão e perdão, fica para sempre no pensamento da Humanidade.

Certamente que houve outro exemplos no Mundo, devemos olhar todos esses exemplos, com fé, nesta nossa Humanidade que hoje luta contra “esta” calamidade !

Hoje, a navegar aqui no Mar Arábico, já no Golfo de Aden, com o Corno de África lá ao fundo á esquerda, penso no futuro da Humanidade, na pessoa do meu neto Francisco, que nasceu ontem em Lisboa.

Um grande abraço, do tamanho do Mundo.


Quinta-feira, 9 de abril de 2020, 7h17

Alô!

Aqui Mar Arábico. Vamos praí a meio!

Mas, já vamos em alerta total contra os piratas da Somália, que com as suas boas lanchas rápidas, podem querer um bom resgate, destes 2.800 navegantes!

Mas também vamos a navegar uma rota sob vigilância das forças de Marinha Internacionais e, vigilância via Satélite!

Os desgraçados dos piratas, têm que ser muito “corajosos” ou muito parvos para nos atacarem !

Bom, o que eu estou em alerta é para assistir á entrada no Mar Vermelho e ver as duas margens !

Mas não vou deixar de olhar o Corno de África! Depois conto como foi !


Excertos do diário de bordo do  António Graça de Abreu 

[ ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), membro sénior da Tabanca Grande, com 250 referências no nosso blogue; temos recebido as suas mensagens por correio eletrónico]

Oceano Índico, Golfo de Aden, 10 de Abril de 2020

Desde ontem e por mais dois dias, esquecemos o coronavírus, o problema serão os piratas. Estamos a navegar perto da ilha de Socotora, no Golfo de Aden, à entrada do Mar Vermelho. De um lado temos o Yemen, sempre em guerra, do outro a Somália, o corno de Africa, terras pobres habitadas por algumas gentes que utilizam todos os meios possiveis e quase mpossíveis para sobreviver. Um deles e o ataque a navios, pirataria pura e dura, com assaltos sobretudo a cargueiros, com a tomada de reféns e do próprio barco, e a exigência de avultados resgates.

Recebemos ontem um comunicado no camarote avisando-nos das medidas que o navio está a tomar para escapar aos piratas: luzes meio apagadas durante a noite, janelas dos camarotes com cortinados corridos, todo o conves do 7º andar que rodeia o Magnifica, e é excelente para caminhadas e passeios a pé,  estará fechado, com seguranças em lugares estratégicos, com binóculos perscrutando o mar que se mantem deslumbrantemente azul e prata, sereno e calmo. 

Talvez estas medidas sejam um exagero. Creio que nenhum navio foi atacado, nos últimos tempos. As grandes potências prepararam as respostas a estes actos de pirataria, franceses, norte-americaos, até chineses estão estacionados no Djibuti onde controlam, via satélite, o movimento das grandes e pequenas embarcacões que cruzam estas vastas regiões. 

Dizem-me que os norte-americanos tem drones militares que se deslocam a grande velocidade, carregados de potentes explosivos que podem, com toda a facilidade rebentar com os frágeis barcos utilizados pela pirataria. 

A vida tambem não está fácil para os piratas da Somalia e do mar Vermelho.

Colombo, Sri Lanka, 6 de Abril de 2020

Chegamos frente a Colombo, o navio parou, os arranha-ceus recentes, construidos com capitais chineses, alinhavam-se nsa tira do horizonte. Nós permanecemos no Magnifica, claro, de onde não saimos quase há um mes.

Estamos ancorados no mar, a uns quinze quilómetros da capital do Sri Lanka. Fui lá acima, ao 14. andar, tirar umas fotografias. Um rebocador aproximava-se. Calculei que trazia o piloto local. Não era verdade. Sete ou oito tripulantes do barco de apoio cingales vinham cobertos de largos fatos brancos, mascaras de plastico, luvas e botas estanques. Na plataforma lancada a estibordo pelo Magnifica, três ou quatro tripulantes do nosso navio vestiam tambem roupa de assustar, fatos completos em tons de azul, cobrindo totalmente o corpo, sobressaindo as máscaras e as luvas. Uma maca com uma senhora idosa deitada, ligada a uma botija de oxigénio entre as suas pernas, em cima do cobertor, era transportada com todo o cuidado desde o Magnifica para o rebocador. 

Um tripulante do nosso navio passou também para o barco cingalês e foi imediatamente desinfectado com um spray. Eles trouxeram uma equipe de televisão com um camaraman, todo equipado e artilhado como os restantes tripulantes, que filmou cuidadosamente o processo de evacuação. O rebocador acabou por acelerar os motores, deu meia volta e rumou em direcção ao porto de Colombo. 

Tera a velha senhora, nossa companheira de viagem, contraído coronavirus? Como vai ser tratada, o que lhe acontecera sozinha num hospital de Colombo?

Há pouco, já noite e com o navio a navegar para norte, o capitão Roberto Leotta informou, pela instalação sonora, que se procedera ao reabastecimento de gasóleo, que seguimos para o canal do Suez e que foi preciso evacuar uma passageira, a "necessitar de cuidados médicos urgentes." 

Não creio que a senhora tivesse coronavírus porque, se tal acontecesse teriamos o navio infectado, o que seria uma catástrofe para todos nós, mas o aparato da sua saída para um hospital na capital do Sri Lanka, foi um sufoco, um enorme susto.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20836: (De)Caras (151): O soldado José Vieira Lauro, que se rendeu ao IN, em 10/10/1965, em Gamol, Fulacunda, mostrou que afinal havia uma saída, menos gloriosa, era verdade, mas mais esperançosa; de resto, não há guerra que não tenha um fim... (Cherno Baldé, Bissau)

1. Comentário de Cherno Baldé,ao poste P20814 (*):

Esta triste acontecimento, do meu ponto de vista, mostra o efeito forte e que pode ser nefasto, do doutrinamento ideológico ou psicológico nos conflitos.

Muitos não concordarão, mas acho que o último soldado [, José Vieira Lauro], em desespero de causa e sem ter a coragem suicida dos colegas, mostrou que, afinal, havia uma saída, menos gloriosa é verdade, mas que permitia continuar a ter esperança, pois, como se costuma dizer, não há conflito/guerra que não termine em paz, assim como não há escravidão que não termine em liberdade.

Mas, isto sou eu a pensar e no ano não menos funesto de 2020.

Com um abraço amigo.
Cherno Baldé

2. Comentário do editor LG:
Capa da 2ª edição (2003),
"Rumo a Fulacunda"


Tinha lançado um desafio aos nossos leitores (*):

"Se fosse eu que estivesse no lugar do alf mil Vasco Cardoso, o militar mais graduado, o que é que eu faria ?"...

Recorde-se que, neste episódio (excerto do lirvo "Rumo a Fulacnda"), o seu autor, o nosso camarada Rui A. Ferreira reconstitui, com maestria e grande tensão narrativa, as trágicas circunstâncias em que o Alf Mil Vasco Cardoso, à frente de um pequeno grupo de homens, perseguidos durante três dias por um numeroso grupo IN, morreu, depois de ver morrer mais quatro homens ... O sexto elemento, o soldado José Vieira Lauro, rendeu-se e foi feito prisioneiro, levado para Conacri e mais tarde, já em 1968, libertado, sendo entregue à Cruz Vermelha do Senegal. Foi o único do grupo que restou, para nos contar esta, que é uma das mais trágicas histórias da guerra da Guiné.

Porventura sinal dos tempos que estamos a viver, cada um de nós confinado na sua "toca", ninguém dos nossos leitores ousou pôr-se na pele do alf mil Vasco Cardoso, que foi o último a morrer, em 10/10/1965, em Gamol, Fulacunda.

Comentário o Cherno, nosso amigo  e irmãozinho, que não foi combatente, mas conviveu, como "djubi" em Fajonquito com as NT... Respondi-lhe nestes termos (*)

(...) "Não posso estar mais de acordo contigo...Mas eu não queria antecipar-me a outros comentários, sobretudo daqueles que foram combatentes, como eu... Percebo o seu "pudor", e até mesmo o seu receio de "dar a cara", meio século depois, o seu receio de serem "julgados" pelos seus pares...

Que Deus, Alá e os bons irãs nos protejam nestes tempos difíceis para todos nós, portugueses, guineenses e restante humanidade." (...)


Antes tinha avançado com o seguinte comentário (*)

(...) "É claramente uma daquelas situações-limite, de vida ou de morte, em que o ser humano é obrigado a fazer escolhas radicais: resistir, lutar, matar, morrer... ou render-se. Mas só em abstracto, podemos, 52 anos depois, pormo-nos na pele de um camarada que sabia que ia morrer...

Este trágico episódio dava um extraordinário "thriller" de ação, se houvesse um realizador de cinema português que tivesse "unhas" para agarrar esta e outras memórias da guerra colonial...

É pena que não haja... Lidamos mal com a memória: só agora, 100 anos depois, se começa a fazer alguma, tímida, investigação historiográfica sobre a "pneumónica" que em 1918/19 terá morto 2% da população portuguesa (que era de 6 milhões)" (...)

Guiné 61/74 - P20835: Tabanca da Diáspora Lusófona (9): Um duplamente sentido abraço de Páscoa, em plena pandemia de COVID-19, mas já a pensar no nosso próximo encontro em outubro, em Ribamar, Lourinhã, e no Convento do Varatojo, Torres Vedras (João Crisóstomo, Nova Iorque, Queens)


Torres Vedras > Mosteiro de Santo António do Varatojo > Claustro > "O Mosteiro de Santo António do Varatojo foi fundado por D. Afonso V em 1470, como cumprimento de uma promessa que o monarca havia feito a Santo António, pedindo auxílio para as campanhas do Norte de África. O rei compraria a quinta que posteriormente constituiu a cerca do mosteiro, oferecendo-a à comunidade de franciscano deslocados do Convento de São Francisco de Alenquer para habitarem o novo cenóbio. Em 1474 as obras estavam quase terminadas, pelo que em Outubro desse ano os frades inauguraram o espaço. (...). Classificiado como MN. Monumento Nacional em 1910" (Fonte: Património Cultural ! DGPC)

Foto: Cortesia da RHLT - Rota Histórica das Linhas de Torres



1. Mensagem do nosso camarada e amigo João Crisóstom [, luso-americano, natural de Torres Vedras, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses (Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes); Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona; ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67); vive desde 1975 em Nova Iorque, em Queens; é casado, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun, foto ao lado]

Date: quarta, 8/04/2020 à(s) 20:56

Subject: Um duplamente sentido abraço de Páscoa

Caro Luís Graça, e (se tal possível,) saudosos amigos e camaradas da Guiné, da Tabanca Grande e demais Tabancas:

Sentado no sofá em frente à TV, amargurado , direi mesmo furioso pelo desenrolar das notícias que saem do ecrã, tristes na maioria, seguem-se umas às outras, cada qual delas a mais horripilante: o número de mortes nas últimas 24 horas; as cenas nos hospitais mostrando os corredores apinhados, médicos, enfermeiros/as que fazendo das tripas coração, com uma coragem e heroísmo e dedicação sem limites além de anjos de salvação , são ou representam também os entes queridos cuja presença é tão necessária em momentos assim mas que aí não podem estar; ambulâncias desenfreadas, hospitais "ad hoc" por todos os cantos...

Vejo o apresentador do programa na TV que tenta animar , encorajar e motivar os espectadores, e fá-lo com mais autoridade do que ninguém: de rosto emagrecido e de olhos cavernosos já,— ontem, para melhor explicar e fazer compreender aos espectadores o que é esta doença, não duvidou sequer em mostrar no seu programa os raios X dos seus próprios pulmões, mostrando os resultados e sinais da luta que ele mesmo desde há quase duas semanas vem travando com o coronavírus.

O seu rosto, como o seu nome, é bem conhecido: chama-se Chris Cuomo, irmão do actual governador do estado de Nova Iorque; enquanto o seu irmão Andrew Cuomo , seguindo o exemplo do pai Mario Cuomo, antigo governador, escolheu a política, Chris escolheu e segue o jornalismo como profissão.

Neste momento, de sua casa, agora completamente isolado, continua o programa de notícias e comentários que sigo há anos já. E, se já antes tinha boa impressão dele e de seu irmão, agora não tenho palavras para os descrever: especialmente porque cada um no seu campo com a sua coragem, honestidade e idoneidade contrastam e fazem realçar a veleidade, direi mesmo a malvadez de muitos, especialmente daqueles que nestes momentos difíceis não só não fazem o que deles se deve esperar, como pelo menos aparentemente, se aproveitam desta situação para proveito pessoal.

Não te vou descrever o que vai por aqui, pois sei que todos estão mais ou menos informados da situação. Apenas direi que no que me diz respeito, quer eu queira ou não, por mais "valente" que eu queira ser não posso negar a apreensão e medo que me invade noite e dia: por mim, por minha esposa, pelos meus filhos e netos, os meus filhos trabalhando em casa, os meus netos estudando em casa, cada um e todos apoiando-nos uns aos outros, mas todos também sempre apreensivos, que todos os cuidados nunca são demasiados.

Além da TV, alguns jornais e o nosso blogue ajudam-me a passar o tempo. Eu subscrevo o "Expresso" e, pelo menos "por alto", por ele sigo as coisas em Portugal. E digo "por alto" pois eles enviam amiúde , via E mail" o "Expresso Curto" :um resumo das notícias do dia. É um bom serviço e permite a quem quiser mais detalhes acesso aos artigos completos no momento. E digo no momento pois se não fôr na altura, e quisermos acesso noutra altura, a coisa já é mais complicada. Ao contrário do New York Times e outros jornais "on line" que assino e cujo acesso é muito fácil, o acesso ao Expresso tem que se lhe diga…não sei porquê, mas por vezes mesmo com muita vontade e paciência "não dá" para entrar. Pelo menos é o que sucede comigo.

Hoje dois assuntos me tocaram de maneira especial: primeiro a mensagem do nosso camarada Patrício Ribeiro: "viagem a Mansoa e Bafafá" , com várias fotos de estradas, agora pavimentadas, bolanhas e outros coisas que me fizeram suspirar… Quando tal sucede, logo me vem a ideia de que um dia talvez ainda lá dê um salto para "matar saudades" … Quem me dera poder ir até Missirá comer uma "galinha à cafreal", passar por Mato Cão e Enxalé, dar um salto a Porto Gole, ver de novo o Geba, apanhar e mandar assar uns peixes do rio que, fazendo de variação ao sempre presente feijão frade ou grão de bico com bacalhau seco, tão bem nos sabiam…

O outro foi um artigo no "Badaladas" , sobre Varatojo e a versão invulgar de "isolamento" dos frades franciscanos aí residentes. Fiquei tão entusiasmado que peguei no telefone e liguei para o Frei António Castro, autor do artigo. Ficou surpreso e contente por eu já ter lido o jornal a que eles só vão ter acesso amanhã…

Foi ocasião para uma troca de impressões e um abraço de Paz e Bem, que enviei também ao Padre Vítor Melícias e aos outros meus irmãos ( que eu também passei por lá!) que constam na foto que acompanha o artigo. E aproveitei para "alinhavar" uma ideia: caso em Outubro as coisas (viagens, etc) já estejam normais , eu vou aproveitar a ida a Portugal à "nossa" festa programada para 12 de Outubro, para juntar outra vez os Crisóstomos e Crispins no Convento de Varatojo... para uma missa de sufrágio e saudade, seguida de um caldo de galinha ( e mais alguma coisa com certeza) no claustro do Convento….

Logo a seguir liguei para o Director do "Badaladas", (onde saiu o artigo), que também ficou surpreso com uma chamada da Nova Iorque, e ainda por cima de Queens… Logo lhe dei recado/notícia deste encontro no Varatojo e disse-lhe que apontasse o dia na agenda… espero-o ver lá, da mesma maneira que te espero a ti, à Alice e a quem mais dos nossos amigos comuns e camaradas da Guiné, me quiserem dar esse prazer.

E "isto de falar" é como as cerejas… tencionava falar de outras coisas, bem diferentes, mas para não te chatear demais vou deixar para mais logo ou para outra altura…

E se de alguma maneira contactares com os nossos amigos comuns, relacionados ou não com a Guiné: mesmo nestes momentos difíceis que estamos a passar, não esqueço que estamos na Semana Santa: junto-me a todos os que nesta altura com razões agora duplamente sentidas se unem numa prece ardente ao Senhor de sufrágio, especialmente pelas recentes vítimas desta epidemia; e de súplica para dias melhores não só para para todos nós, como para todos os que mundo fora neste momento tanto necessitam da Sua benção de Pai misericordioso.

O braço da Vilma, mesmo sem fisioterapia vai muito bem e até parece estar quase sarado!

Grande abraço,

João e Vilma
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20783: Tabanca da Diáspora Lusófona (8): Em quarentena em Nova Iorque, combatendo o coronavirus com "Coronita" mexicana e sardinhas de Peniche... enquanto a Vilma tomou a decisão (corajosa) de aprender português e eu a missão (heroica) de aprender esloveno... (João Crisóstomo)

Guiné 61/74 - P20834: Parabéns a você (1784): Jorge Canhão, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74); Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659 (Guiné, 1967/68) e Cor PilAv Ref Miguel Pessoa, ex-Tenente PilAv da BA 12 (Guiné, 1972/74)



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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20828: Parabéns a você (1783): José Augusto Miranda Ribeiro, ex-Fur Mil Art da CART 566 (Guiné, 1963/65)

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20833: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (6): Da Tabanca da Lapónia com amor (e humor): (i) bolo de papel higiénico: (ii) sopa de grão; e (iii) poncha aquecida... Só faltam as... "côbinhas" quentes lá das nossas berças! (José Belo)


Sopa de grão com "poncha" sueca aquecida... antiviral


O popular ponche sueco, "Carlshamns Flaggpunsch"... antiviral. Parece que agora, desde 2019, é produzida na... Finlândia!


O humor sueco traduzido em pastelaria... 


Bolo de papel higiénico... Uma das contribuições (originais...) da Suécia para a luta contra...a COVID-19

Cortesia de Joseph Belo (2020)... Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

1. Duas mensagens recentes. 28 de março e de 3 de abril, do José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia, enviando-nos coisinhas suecas para aquecer  o estômago em tempo de solidão e, se calhar,  de fomeca, para alguns;

[José Belo ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, e manteve-se no ativo, no exército português, durante uma década; está reformado como capitão inf do exército português: jurista, vive entre Estocolmo, Suécia, na região de Abisco, Kiruna, Lapónia, no círculo polar ártico, e Key-West, Florida, EU; em boa verdade, as renas nunca sabem, ao certo, onde está o régulo da Tabanca da Lapónia]


1. Não sei se por aí terá sido assim, mas na Escandinávia as populações,  preocupadas com o vírus e possíveis faltas de géneros de primeira necessidade, procuraram comprar dezenas de rolos de papel higiénico por pessoa.

Foram alguns dias estranhos em que nada faltava nos supermercados exceptuando o... papel higiénico.

Passados curtos dias tudo voltou à normalidade.

Este curioso pânico foi aproveitado pelos pasteleiros suecos da cidade de Eskilstuna para criarem um bolo apropriadamente em forma de rolo de papel higiénico.

Além do oportunismo da ideia,  o bolo é bom no seu recheio de chocolate e natas e.....tem-se vendido (como o papel higiénico) até se esgotar diariamente.

PS - Junto também duas fotos de uma "suôpa de grão" com punch aquecido... só faltam as nossas..."côbinhas" quentes!


2. Por aqui o vírus está concentrado nas cidades, mas também existe um pouco por toda a parte.

No início de março, há por aqui uma semana de férias escolares para permitir às famílias se deslocarem para as montanhas para praticar esqui. Estes deslocamentos familiares acabaram por espalhar ainda mais o vírus.

Mas na Lapónia apesar de ainda nevar bastante e as temperaturas continuarem nos negativos, o vírus também existe nas cidades costeiras do Báltico e no centro turístico de Abisko.

Felizmente que a minha casa está do outro lado do imenso lago que vai desde Kíruna até à Noruega.
Estou mais perto de Karesuando do que Abisko.

Um abraço.
J. Belo

Guiné 61/74 - P20832: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (5): Um "bacalhau à Brás", de sete estrelas, na Tabanca dos Emiratos... com o régulo, Jorge Araújo, e a sua "bajuda"





Emiratos Árabes Unidos > Abu Dhabi > Abril  de 2020 > O Jorge Araújo e a sua "bajuda", no seu condomínio de luxo...

Fotos (e legenda): © Jorge Araújo (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974), régulo da Tabanca dos Emiratos e nosso coeditor:

Caro Luís,

Bom dia, e obrigado pelas tuas notícias. (...)

Por cá, a vida continua, agora condicionada pela problemática da pandemia da COVID-19, que nos impõe regras ajustadas, para as quais não há contraditório, se quisemos prolongar por mais uns aninhos esta nossa passagem terrena. Daí que, sem stress, eu e a minha Maria, temos gerido bem as nossas actividades. Ela na vida académica, desempenhada a partir de casa (a Universidade foi/está encerrada, bem como todas as outras), via Net.

Se este método foi a solução encontrada para controlar e impedir o contágio do "corona", em substituição do que até então era considerado "normal" ou "normativo", por outro lado, ele é mais exigente, na medida em que "nas aulas à distância", respeitando o mesmo horário escolar, a interacção é menor, sendo necessário reorganizar todos os recursos pedagógicos, adaptando-os a esta nova realidade, bem diferente num processo de ensino/aprendizagem presencial.

Eu, por outro lado, assumi o controlo do território da "casa das máquinas" (fogão, frigorífico, louça, torradeira, micro-ondas, etc). Fazendo apelo à minha motricidade fina e usando também alguma criatividade, lá vou transformando os alimentos em algo agradável à vista e que satisfaça o estômago, e que nos dê alento para prosseguir neste tempo de muitos impedimentos e outras tantas dificuldades.

A "coisa" está a correr bem... e os elogios estão em crescendo... A unidade entre teoria/prática nunca foi tão importante e necessária como agora.

Quando podemos, quer seja no intervalo das aulas ou no final do dia, descemos até à rua para descontrair e apanhar algum ar "quente", pois as temperaturas diárias ultrapassam, agora, os 30.º.

Estas temperaturas, e o clima, fazem-me recordar as que vivi/vivemos na Guiné. Por isso a adaptação tem sido mais fácil, ainda que a idade não seja a mesma. Quando se torna necessário repor o "stock" dos bens de consumo, vamos ao supermercado existente no espaço do condomínio. 

Fiquem bem. Continua a tua "ginástica" diária, pois só te faz bem. E aproveita esta oportunidade, pois os "Jogos Olímpicos" foram adiados para 2021.

Até breve.

Um abração, com distanciamento superior ao recomendado (8.000 kms).
Jorge Araújo.

2. Mensagem de hoje, às 11h51, também do Jorge Araújo

Bom dia (aqui já é boa tarde).

Quando no preparávamos para almoçar, lembrei-me do meu texto de ontem...

Aproveitei... e tirei uma foto, que anexo. Não preparei a mesa para ficar tudo direitinho na foto... Fui tudo espontâneo... ao natural.

Fiz um "bacalhau à Brás", que estava sete estrelas (5+2), Bom almoço para ti... está quase na tua hora!

Um abraço. Jorge Araújo.
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Nota do editor: 

Guiné 61/74 - P20831: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (5): Op. Sarrabulho (com o covidis por perto) - II Parte

1. Em mensagem do dia 1 de Abril de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos mais uma Boa memória da sua paz, desta feita a Op. Sarrabulho. 
Esta a segunda parte.


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ

4 - Op. Sarrabulho (com o covidis por perto) - II Parte







Passámos pelo largo Camões, subimos à Capela de N.ª S.ª das Misericórdias das Pereiras, vimos a Igreja Matriz e parámos junto da Câmara Municipal. Dali, olhámos o Instituto do Vinho e o Centro de Interpretação Militar.
Entretanto, alguns Bandalhos ficaram para trás, entretidos, na Tasca das Fodinhas, a escolher o prato mais adequado ao seu gosto ou às suas “capacidades”.


Ainda fomos às traseiras da torre prisão, onde vimos a Maria da Fonte substituir, no pelourinho, o cruzeiro destinado a amarrar os condenados.

E foi ali que nos despedimos do Dr. Nuno Abreu que não nos pôde acompanhar no almoço. Manifestamos-lhe o nosso agradecimento pessoal e à autarquia Limiana.

Não houve tempo nem oportunidade para visitar o Clube Náutico de Ponte de Lima. Actualmente é o melhor clube nacional de Canoagem.
Hoje é muito acarinhado pela Câmara Municipal de quem tem recebido apoios exemplares. Está instalado na margem direita do Rio Lima, em óptimas instalações, construidas exclusivamente para este clube.
No meu tempo de Presidente da Federação de Canoagem, dediquei uma atenção especial à criação deste clube. Recordo o esforço e dedicação de um jovem ainda menor, Hélio Lucas, que assumiu toda a responsabilidade.

O Clube Náutico de Ponte de Lima foi fundado no dia 21 de Agosto de 1991, tendo por base a extinta secção de canoagem da Escola Desportiva Limiana, a primeira entidade a promover a canoagem no concelho de Ponte de Lima nas suas precárias instalações situadas na antiga Escola Preparatória.

Ao longo dos seus vinte e nove anos de história, o Náutico formou campeões que elevaram o nome do Portugal aos quatro cantos do mundo, com a conquista de títulos mundiais, europeus e medalhas olímpicas.


O atleta Fernando Pimenta é, de longe, o melhor canoísta português e um dos melhores do Mundo.

Seguimos, então, para o Restaurante “O Sonho do Capitão”.


Após saborosas entradas, deliciamo-nos com o famoso Sarrabulho com Rojões à Moda do Minho.







Tudo correu bem; bom ambiente, boa comida e boa pinga. Tudo do melhor e tudo à vontade do freguês.
Por acaso, julgo que ainda poderia ter corrido melhor. A alegria não era tão exuberante como nos convívios anteriores. De vez em quando tocava um telelé. Ninguém dizia nada, talvez para não ensombrar o ambiente. No entanto, a avaliar pelos contactos que também recebi, estavam todos os nossos familiares carinhosamente apreensivos com a nossa “ousadia”.

Já vínhamos na A3 e recebemos a mensagem do Isolino, querendo levar-nos para S. Tomé. Um tanto no escuro, anuímos ao convite e seguimos as suas picadas. E, quando julgávamos estar perdidos no mato, fomos forçados a parar. E aí, dentro de um campo arável, havia vários carros. Estacionei entre um tractor e um Tesla moderno e o Isolino “encaixou” ao lado de um Maserati.

Como só via a Capela do S. Tomé, pensei que deveria haver algum evento religioso, aonde iríamos encostados ao Sr. Eng.º Gomes, o “Rei do Granito”.
Entrámos por uma porta larga que, de repente, nos mostrou que ali a religião era outra. Era uma senhora tasca em ambiente rural. Efectivamente, verificámos que as mesas e bancos de madeira estavam dispersos, com os seus clientes a devorar os mais variados petiscos. Olhando ao que havíamos comido e bebido no prolongado almoço, limitámo-nos a provar um Espadal especial, religiosamente acompanhado de algumas iguarias, de onde destacamos a qualidade do presunto. Tudo estava bom e funcionou como mais um pretexto para prolongar a nossa habitual camaradagem.
Saí dali feliz por termos conseguido mais um dia de excepção. Todavia, à medida que me aproximava de casa, sentia um peso crescente, que se havia de prolongar por mais 14 dias.




Nota final:
Esta reportagem só se realizou após último telefonema do José António Sousa que, para me descansar, me ia informando diariamente do seu estado de saúde. E quando foi ultrapassado o 14.º dia da sua ida aos fados, fiquei tão contente que lhe prometi um almoço económico, numa tasca a designar.

José Ferreira (Silva da Cart 1689)
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20826: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (4): Op. Sarrabulho (com o covidis por perto) - I Parte