domingo, 9 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21241: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (18): Laurindo Arriaga, o retornado (Parte II)

As Quedas do Duque de Bragança são quedas de água situadas na província de Malange. Estão localizadas no rio Lucala, o mais importante afluente do Rio Kuanza. Fica a 80 km da cidade de Malanje, capital da província e a 420 km de Luanda, a capital do país. Com uma extensão de 410 metros e uma altura de 105, são as segundas maiores de África.[1][2] 
Desde 1975 tomaram o nome de Quedas de Calandula


1. Em mensagem do dia 4 de Agostoo de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta Boa memória da sua paz, desta vez dedicada ao "retornado" Laurindo Arriaga.


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ - 16

LAURINDO ARRIAGA, O RETORNADO

PARTE II

O Manel, o filho mais velho, estava para Luanda, a estudar mecânica e os outros dois frequentavam a escola de Malange. E lá continuaram no Liceu Nacional Adriano Moreira. Estavam hospedados na casa da D. Palmira, cujo marido era o Pinto taxista. Como ele se meteu no negócio dos diamantes e enriqueceu rapidamente, despachou-os para casa da cunhada D. Rosa.


O Tio Quim ambientava-se facilmente com o pessoal indígena. Depois de uma relação ligeira com uma rapariga, abdicou dela em favor do irmão Tono, que era mais introvertido. Juntou-se então com a Mariquinha, com a qual tiveram um Quinzinho. O “Quissuto” não era branco nem negro, mas o pai gabava-se da sua semelhança, através do abonado pirilau.

O Tio Tono, que veio a casar por procuração com a Isaura, assumiu a paternidade de uma lindíssima miúda, a Madalena, que foi muito acarinhada. Em tons de brincadeira íntima (ou copito a mais), o Tio Quim confessava que não se sabia bem qual deles era o verdadeiro pai.
Foram tempos de grande progresso na fazenda que muito rentabilizava pela sua excelente produção. Vivia-se bem. Faziam-se bons piqueniques e grandes patuscadas. O Laurindo já mandara fazer o projecto para uma boa casa lá no cimo do monte.

Angola desenvolvia-se excepcionalmente, independentemente de se saber que existiam os chamados movimentos de libertação.
Naquela zona, apesar de se falar na força dos diamantes, não se sabia da dimensão política que ali se vivia. E na fazenda S. José ninguém se manifestava.

Quando surgiu a revolta do 25 de Abril, o Arriaga era mais conhecido pelo “Kambuta do Pungo Andongo”.
Aquele elo que o prendia ao nome do grande democrata português, quase há meio século, já não tinha o mesmo significado. Já se havia adaptado às circunstâncias e já não via necessidade de alterações no poder e na ordem pública. Julgava como crença generalizada, que Angola estava pacificada e no bom caminho e que, mesmo que se desligasse da administração portuguesa, continuaria no seu rumo de sucesso.
No entanto, sentiu alguma satisfação pelo acontecimento e pela esperança de melhoria dos portugueses.

Porém, na minha modesta opinião, as coisas afastaram-se muito das previsões. Os interesses internacionais sobrepuseram-se facilmente e o novo poder de Lisboa limitou-se a seguir pressões/orientações ideológicas, negociadas ao mais alto nível. Em pouco tempo, a revolta pelos interesses reivindicados pela classe dos capitães do quadro, que passou a ser a luta pelos ideais de Abril, foi habilmente instrumentalizada pela experiência e militância dos ex-perseguidos políticos.
A apologia aos regimes comunistas/socialistas propalada pelos detentores da revolução, levou-nos candidamente para uma orgulhosa alienação esquerdista. Assim, assistimos pacificamente à entrega das províncias ultramarinas aos movimentos de libertação ligados ao poder soviético, com o apoio incondicional das nossas forças armadas. E para que os portugueses (brancos) não pudessem contrariar ou reivindicar qualquer estatuto/direito, foi-lhes retirado o apoio devido, forçando-os a uma ponte aérea para Lisboa. 

Independentemente da sua possível justificação, interpretação ou desmentido, ficam-nos três testemunhos para perdurarem dessa fase terrível da nossa democracia:
1 – Os portugueses não brancos e não comunistas; “…ex-militares guineenses que permaneceram na Guiné-Bissau após a saída das tropas portuguesas e que acabaram massacrados pelas autoridades daquele Estado. Desta maneira, embora não se possa afirmar que Portugal se tenha furtado às suas responsabilidades para com aqueles militares portugueses (e que haviam sido assumidas no Acordo de Argel), a verdade é que não curou de acautelar os seus interesses e, no limite, a sua própria sobrevivência.” 
Fonte: OS MILITARES PORTUGUESES NA GUINÉBISSAU: Da Contestação à Descolonização

2 – Os detentores do poder político forçaram uma solução antidemocrática, sem nunca terem estado/convivido no terreno;

Publicação de “A Rua” em 2 de Junho de 1977, baseando-se num artigo de “O Estado de S. Paulo”, de 15 de Maio, que se referia a afirmações de Mário Soares, proferidas no Brasil em 1973. Acrescente-se que o Der Spielgel, de 19 de Agosto de 1974 publicou afirmações similares, obtidas ao mesmo Mário Soares, já como MNE.

Nota da Avaliação do Polígrafo em programa da SIC: Em suma, é muito difícil afirmar de forma concludente que Mário Soares efetuou esta afirmação - mas dizer o contrário também seria um exercício especulativo.

3º - A cobardia de um poder militar submisso, cruel e antipatriótico.


Referido por: António Barreto -13.04.08, artigo com o título “Angola é nossa!”, jornal Público
Documento pouco credível por ser desnecessário, para caracterizar a acção antipatriota do “Almirante Vermelho”.

Pouco a pouco foi-se notando alguma preocupação quanto ao futuro de Malange. A partir de Março de 1975, quando se desentenderam, os movimentos de libertação passaram a lutar entre si pela sua afirmação. Apareceram então elementos ligados a movimentos de libertação que, mesmo sem experiência se exibiam a manejar armas modernas.
As fazendas grandes tinham algum armamento antiquado, ligado à OPVDCA. No caso da Fazenda S. José só havia duas armas de caça. Chegaram a ter duas armas e algumas granadas, mas enterram tudo isso, quando entregaram as caçadeiras. O Laurindo, por precaução, colocou em Malange, na casa da D. Rosa, a Barbara com o Zezito e a cunhada Isaura com a pequena Madalena e o bebé Joãozinho, nascido recentemente na sua deslocação à Metrópole para o parto.

Um dia em que o Laurindo havia saído, para os lados do Cacuso, houve escaramuças entre MPLA e UNITA e quando regressava, foi interceptado e impedido de prosseguir. Mudou de percurso outras vezes, e voltou a acontecer o mesmo. Em Malange, os familiares refugiaram-se no quartel militar. E quando o Laurindo lá chegou, eles já tinham seguido em coluna militar, para Nova Lisboa.
O Tio Quim e o Tio Tono ficaram na Fazenda sem saber o que fazer. Os empregados já não trabalhavam e alguns fugiram. O Laurindo conseguiu contactar com a Fazenda Cahombo e pediu-lhes que, de avião, recuperassem os seus cunhados e o filho Toninho, que lá continuavam isolados.
Em Luanda, o filho Manuel, que havia casado com a angolana Ana Maria acabava de ser pai do Zézinho, o primeiro neto do Laurindo. A criança ficou com a mãe e eles arrancaram de carro para Nova Lisboa.

Logo que se descobriram em Nova Lisboa, meteram-se a caminho de regresso, em coluna de carros em fuga, com destino a Luanda. Já lá estava o Tio Tono, mas choroso porque o pequeno avião não pudera trazer o Tio Quim e o Toninho. Viviam-se os momentos mais dramáticos daquela crise. O Laurindo teve muitas dificuldades em conseguir que os fossem buscar. Meteu-se na sede do antigo patrão Manuel Vinhas até convencer que um amigo piloto lhe resgatasse o filho e o cunhado Quim.
Este ficou bastante abalado porque lá deixara o Quissuto e sua mãe Mariquinha, sem saber o que fazer.

O Zézito, então com 13 anos, que sempre acompanhara a mãe Barbara, viveu momentos marcantes, que ainda hoje tem dificuldade em recordar.
Ele viu coisas horríveis. Ele recorda os mortos abandonados na via pública, os militares da Unita a divertirem-se disparando de cima do terraço para as ruas, sem oposição e as corridas que fazia no turbilhão de gente desesperada, atrás das viaturas dos militares, de onde atiravam pequenas embalagens de bolachas, batatas fritas, chocolates e outros alimentos apanhados em lojas e mercados.
Lembra ainda a última refeição preparada pela mãe Barbara. Lá em Malange, na casa da D. Rosa, ela havia feito um arroz malandrinho de lulas. Fez comida a mais para a poder oferecer a mais alguém. Só que a D. Rosa, que já tinha vários familiares e amigos ali refugiados, fê-los invadir a cozinha e pôs-se a matar a fome a todos eles, sem que a bondosa mãe Barbara reclamasse. E lembra o olhar da mãe como se lhe estivesse a pedir desculpa e a pedir sua compreensão.

Também viveu muito preocupado com a exposição do pai, que não parava, nem descansava, na procura de assegurar o salvamento dos seus. Por vezes, não se sabia dele, se comia e se dormia.
Em Luanda, despidos de tudo que possuíram, despidos do orgulho que os alimentava e despidos dos sonhos que os guiavam, apenas queriam sobreviver.


Vieram em 27 de Setembro de 1975, no auge da Ponte Aérea. Exactamente no dia em que o Zezito “festejava” o seu 14.º aniversário!
Pouco trouxeram além da roupa vestida. Os casados seguiram para junto das famílias das mulheres. Porém, o cunhado Neca, que veio mais cedo, limitou ainda mais o espaço na casa da Mãe Linda. O Laurindo, a Barbara, os três filhos, a nora e o primeiro neto já lá não cabiam. Mesmo assim, chegaram a dormir 17 pessoas naquela casa.


A boa fama de gente humilde e trabalhadora contribuiu para que, em poucos dias, muito se tenha resolvido. Como a casa do vizinho Sância era grande, foi-lhes facultado o abrigo durante alguns anos. A proprietária Dona Generosa justificava o nome, com a generosidade que demonstrava.

Todavia, ela soube bem aproveitar as aptidões dos Arriaga, dando-lhes trabalho nos seus terrenos.
No entanto, o Laurindo queria mais. Arranjou um pequeno tractor e nunca mais parou. Toda a gente admirava a vitalidade do Senhor Laurindo. Ele fazia de tudo com aquele tractor.

Dos terrenos ocupados (estaleiro dos camiões, caterpillars e campos de lavoura), ele quis destacar uma parte para fazer casa. Foi fácil o entendimento e a respectiva compra ao “Sôraugusto”, filho da Dona Generosa.
Em poucos anos, vimos aquele homem reconstruir exemplarmente uma grande família.


Foram anos de muito trabalho, mas também, de grande sucesso. Com alguma animosidade dos políticos de esquerda, os retornados também enfrentaram muito os invejosos. Possivelmente o maior invejoso de Crestuma, teve o azar de se meter com o Arriaga, junto à tasca do Arouca. Ainda hoje se ouve, lá no tasco: - "o baixote Arriaga, já com mais de 70 anos e uns 20 acima do invejoso, arreou-lhe duas lambadas no focinho que o pôs a gaguejar como um anjinho”


Como meus bons vizinhos, como admirador do seu grande trabalho e como solidário com o heróico esforço dos retornados, eu teria que ter uma boa relação com a família Arriaga. Ainda hoje, subo a escada, entro na porta, sem chave, na enorme sala, sento-me junto a uma grande mesa, onde raramente está vazia. É este tipo de abertura e de franca amizade que muito caracteriza quem viveu em Angola, independentemente da situação de maior ou menor poder material ou social de cada um.

Quando a “Sôrabarbara” caiu de cama, acentuaram-se as nossas visitas. O “Sôlaurindo” estava sempre por perto. Dessas carinhosas visitas temos muito gratas recordações. Ali, a pretexto de se ver os jogos do Porto juntos, vinham outros amigos que nos proporcionavam bons serões de convívio. Eram todos portistas, mas havia sempre discussões acesas, visto uns simpatizarem mais que outros nas decisões do treinador ou na “azelhice” de alguns jogadores. Porém, todos unidos no slogan “contra tudo e contra todos”. Até a “Sôrabarbara” murmurava baixinho: - O vermelho é cor do diabo.

O “Sôlaurindo” esforçava-se sempre por ter companhia. A sobrinha Emília – “Milita” (filha do tio Neca) que casara com o primo Zezito, também gostava de nos ver por lá e logo colocava na mesa excelentes petiscos caseiros. É uma joia de pessoa. Tem um coração de oiro. Está sempre a cuidar dos outros. Ela largou o emprego para se dedicar inteiramente ao cuidado dos tios (também sogros).
O Laurindo sentava-se sempre no mesmo canto, perto da lenha, para abastecer o fogão de sala. Estava sempre de ferro na mão, feito engenheiro de fogueiras, atento ao controlo das achas que iam ardendo. E eu, sempre friorento, colocava-me frente a ele. Gostava dele, porque o admirava muito. E gostava também quando ele contava coisas extraordinárias da sua vida. E sobre Angola, lamentava muito a sua difícil evolução. Dizia-me às vezes:
- Ó “Sôjosé”, aquilo nunca mais se endireita. Mandaram de lá para fora pr’aí um milhão de pessoas que lhes fazem muita falta. Meu Deus, ele há tanto que fazer naquela terra tão rica! Saíram de lá os que mais gostavam de trabalhar. E agora, o que vemos? Os amigos que lá voltaram, não aguentaram tanta corrupção e tanta miséria. Dizem que já ninguém respeita ninguém. É só vigários, pessoas sem escrúpulos e oportunistas. O dinheiro do petróleo, mesmo que fosse distribuído, não chega para alimentar tanta gente. Mas primeiro estão os políticos e os militares. Os que foram agora para lá roubar são acarinhados pelo governo como cooperantes e os que lá trabalharam honestamente, como verdadeiros angolanos, são apelidados de colonialistas. Coitados dos amigos quimbundos, tenho tanta pena deles!

Também me repetia orgulhoso a história de uma empresa de alfaias agrícolas que confiou nele, sem qualquer garantia. Creio que era de um Sr. Herculano, ali dos lados de Aveiro. Foi lá comprar umas aivecas para o ajudar a lavrar e veio de lá com um atrelado novo e cheio. Foi marcante e decisivo esse apoio inicial, que ele tanto agradecia.

Vivia orgulhoso pelo que fizera, mas mais orgulhoso pela família que o rodeava. Mesmo depois da crise da imobiliária, mantinham a boa ambiência. Dos três filhos e sete netos, destaco o filho Zezito que, com a Milita e os dois filhos: o Hugo (Conde das Cavadas) e a “Princesa” Bárbara (Babita) sempre viveram junto do exemplar Casal Arriaga, a quem dedicaram um carinho inexcedível e um amor enorme.

Lembro que o neto Zezinho, filho do Manuel e Ana Maria, nascido naquele Setembro negro de 1975, foi o primeiro a ser pai. Vive perto dos pais, desde que se instalaram lá para o Fundão.

Era uma alegria imensa vê-los todos juntos em dias especiais: aniversários, casamentos e baptizados. Também era agradável vê-los a visitar a Mãe Bárbara que acamara durante vários anos. Todos eles, pessoas de bem que muito honram a família Arriaga.

O filho Zézito sempre viveu com a mãe Bárbara e sempre lhe deu um carinho excepcional.

José Ferreira
(Silva da Cart 1689)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21236: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (17): Laurindo Arriaga, o retornado (Parte I)

Guiné 61/74 - P21240: Blogpoesia (690): "Sinceridade", "Espaços vazios" e "A mãe consciência", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Sinceridade

Sinceridade é uma veste que deve vestir toda a gente.
Põe a nu a verdade do que realmente se é.
Quem não a usa quer esconder o que não é.
Se o mundo a deita fora, a mentira cresce, cresce.
Tapa tudo e nada é o que parece.
Não ter em quem acreditar leva à solidão e ao isolamento. Autodefesa.
Ninguém arrisca a ser enganado.

Para que serviria viver sem ter em quem confiar?
Mais valeria ser vegetal.
Uma planta é sempre igual. Da raiz até à coroa…

Berlim, 8 de Agosto de 2020
21h23m
Jlmg

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Espaços vazios

Não se dá importância aos espaços vazios.
E é por eles que tudo decorre.
O que seria do rio sem o espaço adiante?
Formaria uma barragem tão grande, levava tudo à frente.
Onde cavaríamos os caboucos para mais uma casa?
Por mais larga que seja a estrada, entope de carros, sem espaço à frente.
Para que serve a pena com o tinteiro vazio?
Quão penoso é o mês se o salário não chega.
A falta de alguém que de repente partiu e não volta a aparecer…

Berlim, 8 de Agosto de 2020
13h43m
Jlmg

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A mãe consciência

Sempre perto e ao nosso lado, como uma mãe para seu filho, pequeno ou adulto,
Pelos tempos fora.
Algo vai em nós, num local escondido que nem nós o vemos.
Sempre atento a cada passo da caminhada que escolhemos ou nos calhou.
Nos segreda conselhos sobre o que nos é bom ou mau.
Nos aplaude e nos censura, com verdade e prontidão, acerca do que fazemos.
Como lâmpada acesa que alumia nosso caminho, evitando precipícios.
Nos orienta nas encruzilhadas.
Que seria da nossa vida se não tivéssemos esta companhia?
Com certeza. Teríamos baqueado inexoravelmente. Nossa vida seria uma linha imensa tecida de derrotas e de sofrimento.
Bendita companheira que, gratuitamente, nos foi dada por Alguém.
Só quer o nosso bem.
Como uma mãe…

Ouvindo Schubert
Berlim, 4 de Agosto de 2020
17h27m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21223: Blogpoesia (689): Boas férias, cá dentro. Volto em Setembro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845)

Guiné 61/74 - P21239: (Ex)citações (366): Álcool e canábis na guerra colonial: o conteúdo e o "timing" do artigo da jornalista do "Público" não são "inocentes" quando desde o início do ano se fala do "estatuto do (antigo) combatente" (José Martins)


Mensagem do José Martins, nosso colaborador permanente, ex.fur mil trms, CCAÇ 5, Gatos Pretos (Canjadude, 1968/70), ex-técnico oficial de contas, reformado, residente em Odivelas, com mais de 410 referências no nosso blogue [, foto acima]:

Data - 08/08/2020, 23:50
Assunto - Artigo do Público sobe álcool e drogas na guerra colonial (*)



Boa noite.

Segue abaixo o texto do meu comentário que, por duas vezes tentei colocar no post, que entretanto foram retirados.

Abração, Zé Martins


O comentário que ia tecer, não era para este post. Era para o que foi substituído por este. Este está mais elaborado, e coloca a questão de outra forma. O anterior estava simples, directo e objectivo.

Porém, o que pretendia/pretendo dizer é que não deve ter sido por acaso que, Patrícia Carvalho, jornalista do Público, apresente uma entrevista sobre Cannabis  e Álcool (*), que foi tema de tese de doutoramento e publicada em livro em Junho do corrente ano, quando desde o inicio do ano parlamentar, se tem falado “vigorosamente” o Estatuto do (Antigo) Combatente". Coloquei propositadamente “antigo” entre aspas, porque não concordo com essa palavra no título do estatuto.

De tempos a tempos, vem “à baila” a questão dos militares que estiveram envolvidos na Guerra do Ultramar  – Guerra Colomial  – Guerra de Libertação, pois assim dá para todos os “gostos”.

Os militares que estiveram na guerra, não estiveram lá por gosto. Foram para lá porque, a constituição que vigorava no país assim o determinava. 

Não foram só os nascidos a partir de 1940, cujo número de matrícula militar correspondia ao sufixo “61” que foram para África.

Pode-se observar que, na longa lista dos “Tombados em Campanha”, muitos dos número terminam em 60, 59 ou mesmo de antes. Isto quer dizer que o contingente que era normal incorporar por 18 meses, era pequeno para a necessidade do contingente a mobilizar e enviar para África. O exército teve de ir buscar “a casa” os militares que já tinham passado à disponibilidade.

Foram os “militares colonialistas” que deram tempo ao governo de então, para encontrar uma solução política e, como tal não aconteceu, foram os militares que avançaram com o 25 de Abril, sob o comando e orientação de capitães e outras patentes, com três ou mais comissões cumpridas.

Depois dos últimos militares terem deixado África, faz quase 50 anos, outros já regressaram há 50 anos e, os que foram primeiro, há quase 60 anos, é que vêm, mais uma vez levantar questões que nunca foram assinaladas porque, mesmo que as houvesse, eram irrelevantes. 

Por outro lado, entre os militares há Espírito de Corpo. Mesmo que não fossem versados na matéria, haveria sinais que não passariam despercebidos aos seus camaradas que, por uma questão de princípio, se não soubessem resolver essa questão, a colocariam a quem os pudesse orientar.

Concluindo:

A senhora jornalista escolheu muito mal o tema, mesmo que no mês de lançamento do livro que o autor. O jornal também lançou a “produto” na primeira página do jornal e no cabeçalho;

Do novo Doutor,  para se entender tudo, basta ler o início:

«Nunca tive qualquer fascínio por guerras, lutas ou soldados. Nem mesmo na infância, quando via outras crianças brincarem aos exércitos e às batalhas, com armas imaginárias ou de plástico. Eu não. Mais tarde, na adolescência, passei por uma fase ferozmente antimilitarista.» 

E por aqui me fico.

Sempre estive, e estarei, de CONSCIÊNCIA TRANQUILA. (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de agosto de 2020 > Guiné 51/74 - P21222: Recortes de imprensa (112): entrevista ao antropólogo Vasco Gil Calado sobre droga e álcool na guerra colonial, "Público", 2 de agosto de 2020 (Carlos Pinheiro)

Guiné 61/74 - P21238: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (73): Canábis - Parte I: Modo de usar




 .

1. Já tanto aquu falámos, nos últimos dias, da "cannabis" , e afinal de contas parece que vamos morrer virgens sem ter consumido a "dita cuja" (nem hoje nem ontem, no TO da Guiné), que é bom saber algo mais sobre esta "substância psicoativa"... 

A Guiné era uma terra atrasada onde chegavam tarde, e a más horas,  as "novidades" da civilização... Em Angola e Moçambique, ou pelo menos em Luanda e Lourenço Marques, parece que alguma rapaziada nossa (?)  terá tido contacto com a liamba ou a maconha (em Angola) ou a soruma (Moçambique)... Na Guiné mascava-se cola, mas a coisa mão pegou...entre o "Zé Tuga".

Não se vá dar o caso de alguém, inadvertidamente,   a querer experimentar,  para "não morrer estúpido", deixamos aqui uma informação sobre a canábis, considerada a mais popular de todas as "drogas ilegais": sim, porque há muitas drogas legais: álcool, tabaco, xantias (cacau, café, chá), psicofármacos... 

É importante saber que, para além da infração à lei (e eu conheço gente que está atrás das grades por cultivar no quintal e consumir canábis....), a "sustância" tem efeitos "psicoativos", a curto, médio e longo prazo.  Dizer que a "liamba" é(era) inofensiva pode ser perigoso, para quem nos lê,,, E o nosso blogue tem um forte sentido de responsabilidade social.

Lí há dias nos jornais, e é importante partilhar esta imformação com os nossos leitores: 

"Cannabis provocou mais de 3200 internamentos hospitalares em 16 anos... Os números de internamentos por episódios psicóticos associados ao abuso ou dependência de cannabis aumentam a cada ano, num período em que a toxicidade da substância quintuplicou. Se uso recreativo da cannabis for aprovado, alerta investigador, há que activar os mecanismos de detecção precoce dos problemas."  (Pùblico, 1 de julho de 2020).

Hoje fala-se muito dos "benefícios" desta planta, Cannabis Sativa,  para a saúde, e inclusive há um crescente interesse médico, farmacológico, social  e, seguramente,  económico por esta  "droga" (, de resto, todos os medicamentos são "drogas". com benefícios e malefícios para a saúde humana). A sua cultura, para efeitos medicinais, já foi inclusive autorizada no nosso país...

Os "cotas" e "virgens", como nós, ex-combatentes da Guiné, desconhecem em geral as formas do consumo (ou administração) da canábis. Basicamentem, há duas  formas de consumo: "erva" (flor e folha) e "haxixe" (resina e óleo). Coisa que, eu, confesso, desconhecia: para mim, era só "erva"...

È bom saber isto, e mais alguma coisa sobre esta "substância", bem como os seus efeitos, até para podermos saber  falar com os nossos netos,  e ajudá-los a evitar que, por ignorância, se deixem facilmente "enrolar" na escola, no círculo de amigos, no Erasmus...Mas há outras "merdas", aparentemente inocentes, que os nossos miúdos, fora de casa, em grupo, querem experimentar, como os "cogumelos mágicos": ora, há dezenas deles, com   efeitos alucinogénios ou psicadélicos.. E infelizmente há quem apanhe um surto psicótico e vá parar dois meses ao hospital psiquiátrico, no melhor dos cenários... Porque há também suicídos e tentativas de suicídio...

2. Ainda anteontem estive com um ex-camarada da FAP, o T..., hoje com 67 anos, que foi 1º cabo especialista mecânico em Angola, chegou lá em março de 1974 e voltou a casa na véspera da independência, em novembro de 1975

E já agora: esteve com o Savimbi, duas ou três vezes, em deslocações pelo território, fazia parte de um protocolo das NT o "transporte aéreo" dos líderes dos três movimentos nacionalistas, MPLA, UNITA e FNLA...Ainda chegou a ter um convite para lá ficar na Força Aérea angolana, mas apercebeu-se, felizmente a tempo,  da incerteza gerada pelo espetro da guerra civil...

E, a propósito do tema da liamba ou maconha, que eu introduzi, à mesa onde estávamos, eu, ele e mais outro camarada da Guiné, disse-me que participara, certo dia, numa sessão de chá de maconha no aeródromo de Santa Eulália... Foi convidado para beber, ao fim da tarde, um chazinho, com bolachas, com outros camaradas da FAP... Tudo na boa, não desgostou do efeito da susbtância mas percebeu que não devia repetir, com as resonsabilidades que tinha... Aos 20 anos, está-se aberto a "experiências novas", nomeadamente em contexto grupal e de guerra.

Neste caso não era "charro", mas "chá", com base nas folhas da canábis (em Angola, liamba ou maconha). Estamos a falar já depois do 25 de Abril. Era então já um certo "hábito social", mas ele não pôde garantir que o "chá de maconha" estivesse generalizado entre os militares da FAP (e muito menos do exército e da marinha, com quem pouco ou nada convivia).

3. Este folheto, acima reprozido,  é já antigo, foi elaborado pelo IDT - Instituto da Droga e da Toxicodependência, que mais tarde (em 2012) deu origem ao SICAD - Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependência

Mas o SICAD tem, na sua págian oficial, mais  informação, actializada e bastante didática, sobre as substâncias psicoativas (leia-se: "drogas), de que reproduzimos, com a devida vénia, e algums adaptações livres, os seguintes excertos

SICAD > Cidadão > Substâncias psicoativas > Derivados da Cannabis:

A história das drogas é a nossa história, enquanto seres humanos, do nascer ao morrer... Os especialistas tendem a classificá-las da seguinte maneira: (i) estimulantes; (ii) perturbadoras; e (ii) sedativas. Os derivados da canábis são sobretudo estimulantes. São o grupo de substâncias de maior popularidade e que têm suscitado maior debate social, havendo crescente pressão para a sua "legalização".

Falemos então dos "derivados da Cannbis", ou seja , a tal planta denominada Cannabis Sativa, que praticamente pode ser ser cultivada em quase todo o mundo, tanto em climas quentes como temperadas, e até secos, desde que haja um bocado bom de água.

A Europa, e em particular a Espanha, foram grandes produtoras na primeira metade do passado século. Hoje, os principais produtores mundiais são os Estados Unidos. Pela ação do homem, espalhou-se por todo o planeta mas sempre dentro de um determinado contexto cultural. Por exemplo, em África, espalhou.se ao longo de todo o séc. XIX, e e em especial , na época do colonialismo, em função da aceitação ou rejeição por parte dos diferentes povos ou grupos etnicos. Por exemplo, tem mais aceitção em Angola ("liamba", maconha"), do que na Guiné (onde não se cultivava no nosso tempo).

Ao que se sabe, foram as campanhas napoelónicas no Egito, nos finais do séc. XVIII,  que reintroduziram a canábis nos círculos intelectuais da Europa.

Passando por cima da Geografia e da História, diremos que há três formas de consumo da Cannabis Sativa:

(i) "Marijuana" ou "Erva” (preparada a partir das folhas secas, flores e pequenos troncos da planta);

(ii) "Haxixe"  (repara-se prensando a resina da planta fêmea e se transforma numa barra de cor castanha, com o nome coloquial de "Chamom". O seu conteúdo em THC (a  susbtância psicoativa) (até 20%) é superior ao da Marijuana (de 5% a 10%), pelo que a sua toxicidade é potencialmente maior.

(iii) "Óleo de Cannabis" ou "Óleo de Haxixe" (líquido concentrado que se obtém misturando a resina com um dissolvente, como a acetona, o álcool ou a gasolina; este evapora-se em grande medida e dá lugar a uma mistura viscosa, cujas quantidades em THC são muito elevadas, podendo ir até aos 85%).

O THC (Delta 9 tetrahidrocannabinol, o  alcaloide responsável por quase todos os efeitos característicos desta substância) não se dissolve na água, pelo que as únicas formas de consumo para os seres humanos são a ingestão e a inalação. Normalmente fuma-se misturada com tabaco em forma de cigarros feitos à mão. O fumo da Cannabis alcança altas temperaturas, pelo que os seus utilizadores colocam no cigarro grandes filtros. 

Outra forma de fumar a canábis é em cachimbos feitos especialmente para esse fim. Todavia, em certas culturas de África ou do Caribe, persiste a velha prática de beber tisanas feitas com esta planta e água. Embora de sabor amargo, é utilizada como ingrediente em doçaria e rebuçados.

(Continua)
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P21237: Parabéns a você (1846): Anselmo Reis Garvoa, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 2315 (Guiné, 1968)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21232: Parabéns a você (1845): Henrique Martins de Castro, ex-Soldado CAR da CART 3521 (Guiné, 1971/74) e José Santos, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 3326 (Guiné, 1971/73)

sábado, 8 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21236: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (17): Laurindo Arriaga, o retornado (Parte I)

As Quedas do Duque de Bragança são quedas de água situadas na província de Malange. Estão localizadas no rio Lucala, o mais importante afluente do Rio Kuanza. Fica a 80 km da cidade de Malanje, capital da província e a 420 km de Luanda, a capital do país. Com uma extensão de 410 metros e uma altura de 105, são as segundas maiores de África.[1][2] 
Desde 1975 tomaram o nome de Quedas de Calandula


1. Em mensagem do dia 4 de Agostoo de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta Boa memória da sua paz, desta vez dedicada ao "retornado" Laurindo Arriaga.


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ - 16

LAURINDO ARRIAGA, O RETORNADO

PARTE I

Nasceu em 1927, junto à povoação ribeirinha de Arnelas, com o nome de Laurindo Ferreira Pedrosa, mas logo ficou conhecido coma alcunha de Arriaga, herdada do pai, Manuel Ferreira Carvalho. O Manel Arriaga era casado com a Maria de Oliveira, ambos agricultores na Quinta do Casalinho. Mudaram-se para a Quinta de Rio do Lobo, onde permaneceram.
O pai Manel apanhou a alcunha de Arriaga ainda era adolescente. Entusiasmado com a efervescente e anormal movimentação política de então, chamava a atenção a sua forte simpatia pelo primeiro Presidente da República Portuguesa, Dr. Manuel de Arriaga, que tanto admirava.

Esse Grande Presidente, nascido no Faial, manifestou-se na oratória, nas letras e na política, mas afirmou-se pelo seu comportamento humano e como republicano e democrata. Filho de gente rica, fidalga, burguesa e monárquica, teve de trabalhar para continuar a estudar em Coimbra, quando lhe foi retirado o apoio por se manifestar activamente na luta política a favor da república e da democracia.

“Manuel José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongue (Horta, Matriz, 8 de julho de 1840 — Lisboa, 5 de março de 1917) foi um advogado, professor, escritor e político de origem açoriana. Grande orador e membro destacado da geração doutrinária do republicanismo português, foi dirigente e um dos principais ideólogos do Partido Republicano Português. A 24 de agosto de 1911 tornou-se no primeiro presidente eleito da República Portuguesa, sucedendo na chefia do Estado ao Governo Provisório presidido por Teófilo Braga. Exerceu aquelas funções até 29 de maio de 1915 e é recordado em centenas de nomes de ruas e praças.” (Fonte: Wikipédia)

Manuel Carvalho e Maria Oliveira ”faziam” as terras da Quinta do Rio de Lobo, em Olival. Naqueles tempos era muito difícil sobreviver à luta pelo sustento familiar e, ao mesmo tempo, pagar as rendas ao senhorio. Por mais que se esforçassem, a Quinta não produzia rendimento para tanto encargo.
O Laurindo não queria aceitar tanto esforço familiar, não compensado. Gostaria de ir para a escola primária, mas a ajuda do seu trabalho na lavoura tornara-se imprescindível.

Por volta dos anos 40, ali perto de Olival, fervilhava de crescimento industrial a pequena freguesia de Crestuma, muito favorecida pelo Rio Douro como importante via fluvial e pelo aproveitamento da energia hidráulica produzida pelas quedas do Rio Uíma, ali perto da sua foz no Douro. Nessa altura, destacavam-se as indústrias têxtil, metalúrgica e do papel.



A Companhia de Fiação de Crestuma continuava a sua expansão e já muito longe das suas origens (1754). Tornara-se num pequeno império. Dava trabalho a largas centenas de pessoas ligadas e aí se especializavam e faziam carreira na indústria têxtil. Na sua origem dedicara-se ao fabrico de arcos de ferro para os pipos e, noutra fase, funcionou como fundição.
Também dava ocupação a lavradores, no aproveitamento dos vastos terrenos aráveis, adjacentes. Outra actividade permanente que ocupava muita gente era a do alargamento de instalações fabris (e sociais) e na construção de muros de suporte das terras e na vedação de quase toda a Quinta.

O Laurindo convenceu o pai que poderia auxiliar mais a família indo para lá como ajudante dos pedreiros do Silva de Lever. E ficou lá alguns anos. Tal como o pai, foi muito gozado devido ao uso do apelido Arriaga. Se, por um lado, sentia algum orgulho por ser portador do apelido tão honroso, por outro, lado notava o ridículo a que era exposto, dado o extremo contraste com a ilustre personalidade.
De vez em quando lá ouvia ele:
- Ó Arriaga, vê se vais a Lisboa prender os teus amigos, aqueles filhos da puta que nos governam.

Ele era muito interessado em tudo que o rodeava. Falava pouco, mas teimava nas suas opiniões. Por ser analfabeto, perdia quase toda a credibilidade, até que um dia, num contacto mais alargado com um senhor que andava a apontar a obra e a colher as horas de trabalho, falaram na possibilidade de ele o ensinar a ler e a escrever minimamente.
E foi através de galos, galinhas, ovos e coelhos, que ia subtraindo lá em casa, que iniciou a sua aprendizagem escolar. Ávido de conhecimento, logo que juntou as letras, devorava tudo que pudesse ler. Então, nem parecia o mesmo. Até de poesia falava.

Quando regressava a Olival, tinha que passar por Fioso, no alto de Crestuma. Ali, no lugar dos Aidos havia uma família numerosa, conhecida por Os do Estrada. O Serrador Jaquim do Estrada era casado com a Deolinda, a “Mãe Linda”.Também eram conhecidos pela sua boa disposição e pelo gosto de cantar.
Por vezes, nesses regressos do trabalho pelo Regato de Soutelo e Vale da Cana, coincidia serem feitos ao mesmo tempo que uma das filhas do Joaquim do Estrada, que vinha da fábrica do papel do Tavares da Fontinha. Era a jovem Barbara Francisca Gonçalves (1925) que, apesar de introvertida, evidenciava muita beleza e simpatia.

E um dia, quando ela cantarolava, em jeito de marcha, “Ó Crestuma tecedeira”, o Laurindo acrescentou, na sua voz grossa: “Das fitas que nos enlaçam”. Olharam-se e continuaram em coro: “Dos apitos a vibrar dos operários que passam…” Era uma marcha musical muito em voga naquela fase das consoadas, em favor da construção da igreja nova de Crestuma. A letra era do famoso poeta local Eugénio Paiva Freixo (1919) e a música do compositor António Ferreira Alves (1915).

Casaram pouco tempo depois. Ficaram a viver lá na casa dos do Estrada. Amavam-se intensamente e tiveram logo o filho Manel. Poucos anos depois, nasceu o Toninho.
A vida estava difícil e o Laurindo queria melhor e o seu tempo parecia que lhe estava a fugir. Ouvia falar muito das boas oportunidades em Angola e viu esse escape como a melhor solução para o salto que ansiava para a sua vida.
Foi pedir uma declaração profissional ao Delegado do Sindicato, mas, com grande surpresa, este não o atendeu. O nome Arriaga não o abonava junto dos lacaios do Estado Novo.

Chegado a Luanda, sem habilitação profissional, conseguiu trabalhar de ajudante de motorista. Já com alguma prática, conseguiu tirar a carta de pesado profissional. E foi trabalhar como motorista, para as estradas do Huíla.

Curvas da Serra da Leba 

Como não era essa a vida que desejava viver com a família por perto, aproveitou uma proposta para trabalhar numa fazenda agrícola, a Fazenda Dona Amélia, junto ao Pungo Andongo, perto de Cacuso.


Em pouco tempo, o Laurindo mostrou gratas qualidades e foi nomeado encarregado nessa Fazenda. Com a vida estabilizada, veio a Crestuma buscar a mulher e os dois filhos.


Viveu, então, alguns anos felizes. E foi ali que lhe nasceu o filho mais novo (27.09.1961). A cerca de 80 Km de Malange, onde a Bárbara esperava vir a ter a assistência médica desejável no parto, teve que se limitar à ajuda momentânea e inesperada da Mãe Nêga, uma velhinha muito experimentada na matéria. Mas a Bárbara, sempre serena, confiante e resistente, mostrou bem o calibre da sua raça.

Gratos às forças divinas, festejaram o baptismo do Zézito, precisamente no cume mais sagrado das Pedras Negras do Pungo Andondo, junto à Fonte dos Passarinhos, depois da cerimónia religiosa na capelinha.


Entretanto, convidaram o Laurindo para a grande Fazenda Cahombo, do grande empresário Manuel Vinhas, o dono da cerveja Cuca.

O Laurindo como anfitrião de um grupo de Furriéis que vieram ali caçar. 

Estava no melhor das suas capacidades e gozando a estabilidade que sempre ansiou. Mandou “chamar” os cunhados Manuel, Joaquim e António (Neca, Quim e Tono).
O Neca, que era fundidor, ficou em Luanda e o Tono (carpinteiro) e o Quim (enfardador) foram se juntar ao Laurindo.



Faltava-lhe ainda concretizar um sonho: criar uma fazenda. E como conhecia bem a zona, chamou para sócios os dois cunhados, que ali viveram nessa fazenda. Deu-lhe o nome de Fazenda S. José, em homenagem ao filho mais novo, o 100% angolano. Tinha a água do Rio Céu e espaço arável mais que suficiente para o cultivo de girassol e de algodão. Caça também não faltava.
No seu início, o Laurindo construiu a casa com adobes de barro negro, feitos pelas suas próprias mãos e cobriu o telhado com chapas de zinco. Ainda sem casa, a família cozinhava à sombra de uma enorme figueira brava e dormia na carrinha Austin.

Esta carrinha viria a ser apelidada de “Carrelha dos Mausmosteiros”, em homenagem aos carros de bois que circulavam na rua da “Mãe Linda”, a matriarca da família dos “Do Estrada”. Já fora das picadas, a carrinha funcionou muito bem como galinheiro. 

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21115: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (16): A DGS boa ou má e outras siglas, ou Lembrando a resistência dos meus conterrâneos

Guiné 61/74 - P21235: Os nossos seres, saberes e lazeres (405): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Março de 2020:

Queridos amigos,
Com exceção do período das férias, todas as semanas durante os últimos catorze anos acompanhei um querido amigo nonagenário que perdera a visão, mas recrudescera em curiosidade pelos livros e pelas Artes Plásticas. Correspondi sempre aos livros que queria ler, fundamentalmente tudo aquilo que aparecia no mercado e que lhe merecia o entusiasmo imediato: os trabalhos sobre as direitas portuguesas, o surrealismo literário e plástico português, as polémicas sobre o Cristóvão Colombo português, os novos estudos sobre Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco, e muitíssimo mais. Mas Ponte de Lima e também Viana do Castelo, onde estudou, lhe suscitava imensa curiosidade. Daí a correnteza de jornais que lhe lia todas as semanas, com destaque para A Aurora do Lima e Cardeal Saraiva, mas não faltavam as publicações periódicas limianas.
Isto para significar que fui a Ponte de Lima todas as semanas sem nunca lhe ter posto os olhos em cima. Este meu querido amigo partiu, para meu profundíssimo desgosto, e fui-lhe dar esta satisfação, mais não lhe posso fazer como forma de agradecimento do muito que lhe fico a dever.

Um abraço do
Mário


No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (1)

Mário Beja Santos

Durante cerca de catorze anos, uma, duas ou até três vezes por semana, fiz leituras a um grande amigo que tinha perdido a visão, o limiano Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo, morreu nonagenário em janeiro de 2020. Lia-lhe o que ele me pedia, logo dois jornais, o Aurora do Lima e o Cardeal Saraiva, mantinha-se permanentemente informado sobre o que se passava na terra-berço, e logo que se noticiava uma publicação havia que a encomendar. Chegavam revistas como a Limiana e o Anunciador das Feiras Novas, eram outros meios de convívio em que eu me via envolvido. Mal surgia um título sobre o poeta António Feijó, por exemplo, era indispensável adquiri-lo depressa e lê-lo quase de um só fôlego. Isto para dizer que Ponte de Lima, a mais antiga vila de Portugal, tem andado comigo sem eu nunca, até agora, lá ter posto os pés. E jurei a mim próprio, quando o meu querido amigo partiu para as estrelinhas, que iria até este Alto Minho que conheço aos farrapos, iria lembrá-lo em sede própria, era este o último penhor de amizade que queria cumprir. E em 6 de março parti, era algo como uma romagem de saudade, de confirmação, de paraninfo. E um deslumbramento aconteceu nesse universo que incidentalmente conheci na juventude através de um grande poeta que se estudava em literatura portuguesa, no então sexto ano do liceu, Diogo Bernardes, nascido talvez na Ponte da Barca ou em Ponte de Lima, mas que cantou essas terras vicejantes, verdejantes. Aqui estou num alojamento local, sito na Rua do Souto, impossível não captar esta rua algo medieval, na continuidade, tudo aqui aparenta respeito pelo património. Desço e vou até à igreja primaz, tem a escultura do Cardeal Saraiva (que foi cardeal patriarca) ali ao pé. Ao fundo, avisto o Lima, esse formidável Lima, que li ao meu querido amigo cego, milhentas vezes.


O portal, belíssimo, é tardo-gótico, com grande equilíbrio e sobriedade, o templo foi alvo de imensas alterações, a rosácea que se sobrepõe é relativamente recente, mas de modo algum desfeia a singeleza da fachada, pelo contrário.


Entra-se no templo e uma litografia logo prende a atenção, faz parte de um tempo em que eu já vivi, com anjos da guarda a proteger criancinhas, havia imagens da Imaculada Conceição e muito mais. Empolga-me a fé dos homens, a sua capacidade de moldar graças às Artes Plásticas figuras que nos possam fazer entender um quadro de mentalidade e de valores, este São José parece tirado da imagem de um cavalheiro do princípio do século XX, não interessa esta conjetura, é a imagem cativante que fica, pronta para a exultação da Sagrada Família.


Sei que aqui voltarei outras vezes, o que importa é que avanço pela nave central até à cabeça do templo e não resisto a fixar o contraste das luzes entre as paredes laterais e o abobadado, é tudo lavra severas só quebrada pelas riquezas do altar.


Logo à saída do templo, temos a atração pela esplendorosa esplanada que vai beijar o rio Lima, é inevitável olhar à direita para o seu ex-líbris, uma ponte medieval que entronca numa ponte romana, do lado de Arcozelo. Mas fica-se especado a ver os restos dos panos de muralha que se adossam a edifícios, não é chocante. A imagem permite ver ao fundo do lado esquerdo a Igreja da Misericórdia, uma congregação que tem grande peso na vila mais antiga de Portugal.


Ouve-se ao fundo um rumor de música, tipicamente minhota, não há que enganar, e o grupo avança, é dia fasto para apresentar a concertina, as violas e o reco-reco, os sons troam no casco histórico de Ponte de Lima, e que beleza.


A vila está em animação, já se fala do Covid-19, mas o estado de despreocupação sobrepõe-se. Verifico que são escassos os panos de muralha que restam, estão bem cuidados, bem embebidos pelos edifícios e dá gosto entrar no casco histórico por esta porta medieval.


Quantas vezes vi e li esta Avenida dos Plátanos ligada às feiras e mercados que aqui se realizam. É frondosa, apetece nela caminhar, fazer paragens para contemplar o Lima e a sua corrente vagarosa, a outra margem, de Arcozelo até ao infinito, e os montes ao longe, é ali que se abre caminho que leva à majestosa Serra d’Arga. Para ganhar os benefícios de todo este efeito cénico, caminho para lá e depois regressarei também contemplando o casario, os jardins, a beleza da fachada do Museu dos Terceiros.



Este o Lima que tanto cativa poetas, esta a nova ponte que alterou a política urbanística e garantiu a preservação da ponte romana e medieval que vemos ao fundo, o açude dá-lhe imensa beleza.


Vou parando aqui e acolá, o Lima, ao longo de tempos imemoriais encheu-se de veios de água, ilhotas de tufo, formas de uma flora aquática, multiplicação de verdes, sobreposições de arvoredo, constatarei depois, em certas horas do dia, a atração romântica que sugere, quando surgir aquela neblina que marca uma identidade da região. Por hoje chega. Vou documentar-me sobre a rota das camélias em Ponte de Lima, os monumentos de visita indispensável, dar umas passadas pelo chamado Caminho Português de Santiago em Ponte de Lima e preparar passeios a Ponte da Barca, Arcos de Valdevez e Viana do Castelo, veio comigo a obra Alto Minho, de Carlos Ferreira de Almeida, Editorial Presença, 1987, é o meu guia de viagem, tenho seis dias por minha conta, quero fruí-los por inteiro, tudo em memória desse querido amigo Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo.




(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21215: Os nossos seres, saberes e lazeres (404): Alfredo Keil, um bom pretexto para ver a pré-primavera no agreste Cabril (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21234: (Ex)citações (365): álcool & droga na guerra colonial: oportunismos mediáticos... agendados ou não (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)



1. Mensagem de José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia: 

Date: sexta, 7/08/2020 à(s) 00:04
Subject: Oportunismos mediáticos... agendados ou não. 

Com as malas feitas [para os States], aqui envio um curto "protagonismo" numa análise de um assunto cáustico (e sério ) de que não deveria ser descurado  por todos os que serviram na Guiné.

Este blogue tem sabido, balancear, navegar, abranger, as opiniões  dos seus leitores e participantes.  Felizmente.

Na sua história de já muitos anos surgem por vezes assuntos que, pela sua seriedade e importância acabam por unir mesmo alguns dos mais "desunidos".

As menos verdadeiras generalizações quanto ao uso de drogas por parte de militares aquando da guerra na Guiné são um bom exemplo de que, quando "toca a reunir", os antigos combatentes ainda sabem formar quadrado.

Tudo o resto fica esquecido quando os Camaradas da Guiné se unem em defesa da honra, dignidade e respeito, pelo esforço e sacrifício oferecido com a honestidade da nossa juventude.

As fileiras dos jovens portugueses que serviram em África, na sua quantidade numérica, na sua inclusão geográfica e social, e num espaço de tempo de 13 anos, acabaram por criar uma verdadeira "rotatividade geracional" que veio a afetar a sociedade portuguesa na sua generalidade.

As boas e más experiências de todos estes milhares de jovens vieram a refletir-se, tanto nos seus familiares próximos  como nos outros grupos etários que não participavam diretamente na guerra.
Uma vivência quase (!) generalizada hoje difícil de ser compreendida por gerações nascidas e educadas fora dos parâmetros incrivelmente limitativos da conjuntura político-social da época.

As novas gerações com um conhecimento das guerras através de filmes mais ou menos fantasiosos feitos em Hollywood, em que soldados e drogas é imagem comum, podem ser facilmente levadas a associar a guerra de África e o soldado português com estas "realidades ". Identificações geracionais.

Estudiosos sérios deveriam ter consciência de que "flashes" jornalísticos, sejam eles apressados ou agendados, poderão dar-lhes alguns momentos de ribalta mediática, acabando no entanto por criar... apreciações menos verdadeiras e conclusões erradas!

Como quase sempre, são as leituras demasiado apressadas por parte do "grande público" que acabam por criar as verdades do momento.
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P21233: (Ex)citações (364): canábis e álcool na guerra colonial (António Ramalho)

Mensagem de António Ramalho  [, natural da Vila de Fernando, Elvas, a viver em Vila Franca de Xira, foi fur mil at da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), membro da Tabanca Grande, com o nº 757: tem mais de duas dezenas de referências no nosso blogue]

 Date: quarta, 5/08/2020 à(s) 18:25 

 Subject: Cannabis e o álcool na guerra colonial 

 Caro Luís Graça, boa tarde. 

Depois de ler o excerto que publicaste e os comentários sobre o tema (*), acho duma ligeireza a tese de doutoramento, com o devido respeito, resultante de uma entrevista a 200 ex-combatentes, que além do mais com a agravante do distinto doutor declarar nunca ter ido à tropa!

Como foi possível apresentar e defender uma tese com um número tão restrito de entrevistados num universo por onde tantos de nós andámos, aos milhares e, que segundo referes só estão mencionados Angola e Moçambique, a Guiné foi excluída!

Entendo a reacção do nosso camarada Carlos Pinheiro pelo inexpressivo número de testemunhos além do conceito filosófico em que assenta, mas neste Mundo já nada me admira!

Dissertar sobre temas tão sensíveis onde o saber e o conhecimento escasseiam e a ignorância prevalece além de especulativo, é um atrevimento à luz daquilo que nós sabemos pela nossa experiência, porque estivemos lá, não ouvimos histórias!

Ao longo dos tempos tenho lido e ouvido os comentários mais desapropriados, desproporcionados e distantes da realidade sobre a guerra colonial, muitos de Mensagem de ex-fur mil at caves por gente que também lá esteve, outros de familiares e pessoas próximas que de barco só viajaram até Cacilhas! 

Não li o artigo, desconheço o carácter científico do mesmo mas daquilo que me lembro de ter contribuído para o nosso bem-estar momentâneo era o efeito da Coca-Cola e da Chandy, fabricadas e importadas da África do Sul que nos davam alento e energia para tudo e mais alguma coisa!

É verdade que tínhamos toda a liberdade para beber toda a variedade e qualidade de bebidas, independentemente do local, situação ou posto. Infelizmente essa liberdade originou alguns momentos de descontração que terminaram em tragédias.

Convivi com um cabo enfermeiro de outra Companhia, competentíssimo, que na vida civil era ajudante de anatomopatologista, que só conseguia ir para o mato com um grãozinho na asa, contingências da vida!

Não tenho meios nem provas para contrariar o ilustre doutor, muito menos conhecimentos científicos onde assenta a sua tese, também não ponho de parte que tenha havido algum contributo ilícito do género, pelos poderes instituídos da altura, nalguns pressupostos onde assenta a tese.

Daquilo que me lembro e que julgo ter resultado positivamente foram os tratamentos profiláticos e preventivos para melhorar a salubridade das águas, para o paludismo além de outros para determinados descuidos em momentos de euforia!...

Também me lembro da má qualidade do vinho tinto que segundo julgo saber era "baptizado" logo à saída de Lisboa com a bênção do Cristo Rei, que nós substituímos com as bazucas da Sagres, Vat 69, Dimple e similares que tinham muito mais qualidade!

Será difícil contar a história da guerra colonial só numa direcção, houve acontecimentos tão díspares, para o bem e para o mal, desde as más condições das estradas, falta de pontes, de transporte, de alojamento, de segurança, da qualidade e quantidade do armamento disponível, por planeamentos (obtusos) elaborados no QG ou na Amura e outros, que cada um de nós teve que interpretar e suportar cumprindo tendo sempre no horizonte a segurança de todos os envolvidos nas acções.

Termino lembrando que a nossa missão em África, hoje ex-combatentes, não foi devidamente reconhecida, começando pela classe política que por desconhecimento, incompetência e falta de respeito, com total e especial relevância para os que lá ficaram e para todos aqueles que regressaram com enormes sequelas físicas e mentais para o resto das suas vidas, esses nunca farão parte da história muito menos de teses de doutoramento.

Tenho uma resposta: estes nossos eleitos nunca foram à tropa, muito menos estiveram na guerra!

Um forte abraço

António Ramalho (membro da Tabanca Grande, nº 757)
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Notas do editor:

 (*) Vd. poste de 4 de agosto de 2020 > Guiné 51/74 - P21222: Recortes de imprensa (112): entrevista ao antropólogo Vasco Gil Calado sobre droga e álcool na guerra colonial, "Público", 2 de agosto de 2020 (Carlos Pinheiro)

(**) Último poste da série > 29 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21206: (Ex)citações (363): Colonialismo e pós-colonialismo: as três cidades da África Ocidental: Bissau, Conacri e Dacar (António Rosinha / Cherno Baldé)

Guiné 61/74 - P21232: Parabéns a você (1845): Henrique Martins de Castro, ex-Soldado CAR da CART 3521 (Guiné, 1971/74) e José Santos, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 3326 (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21228: Parabéns a você (1844): Coronel Inf Ref Fernando José Estrela Soares, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 2445 (Guiné, 1968/70)