sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21690: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (32): A funda que arremessa para o fundo da memória

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2020:

Queridos amigos,
Annette aproveitou a estadia em Liège para organizar mais apontamentos, são papéis que vêm pelo correio, alguns deles não passam de garatujas, fotografias a preto e branco ou de um verde descolorido, estamos em maio de 1969, Missirá renasce, entrou-se na época das chuvas mas ainda não foge, há muita gente doente, é a malária e a canseira, e é nesse contexto que vai acontecer aquilo que Paulo Guilherme envia com o título "a emboscada da minha vida". Sempre ouvi dizer que não se devem fazer emboscadas à noite, e muito menos em território inimigo. Era bem provável que os guerrilheiros em Madina e Belel pensassem que ele ficara bem intimidado vendo uma boa parte de Missirá em cinzas. Tanto que não aconteceu que houve esta emboscada, desta vez foi Madina e Belel que receberam a mensagem. Acontece que daqui até novembro se andará num carrossel de peripécias, de um modo geral bem dolorosas, um furriel aparecerá semi-enlouquecido, flagelações em cadeia, o ritmo das idas a Mato de Cão não abranda, só em novembro, altura em que o porto do Xime estará operacional. Haverá entretanto uma mina anticarro e numa manhã, quando Paulo Guilherme sair do seu abrigo será formada toda a sua tropa, vêm informar o nosso alfero que iniciaram a vida militar em 1966, andaram sempre nesta canseira, querem repouso. Pura ilusão, mal sabem o que lhes espera na chamada intervenção a zona de Bambadinca.
Mas isso é história para contar com mais vagar, não nos precipitemos.

Um abraço do
Mário


Esboços para um romance – II (Mário Beja Santos):
Rua do Eclipse (32): A funda que arremessa para o fundo da memória

Mário Beja Santos

Mon adoré Paulo, que bom, dentro de três dias aqui estarás na minha companhia, a encher a minha vida, a tonificar-lhe o sentido de que eu já desistira de procurar. Imagina, e isso tem interesse para ti, a Comissão Europeia encomendou-nos um trabalho, viemos três dias a Liège para uma conferência promovida pela Confederação Europeia de Sindicatos, o tema que está a ser abordado tem a ver com os desafios para o mundo trabalho pelo impacto da computorização, já decorreram dois dias de trabalho, amanhã é o último. É bem curioso, penso que em 1986 esta mesma confederação promoveu uma conferência, creio que de um só dia, sobre a cibernética, o que ela iria trazer de novo para a tecnologia, e nessa altura, tirando os oradores, os representantes dos trabalhadores que nela participaram mostraram-se profundamente céticos, não haveria grandes alterações, sobreviriam os escritórios, os balcões dos bancos, as agências de viagens. Como se iludiram! Tenho aproveitado estas noites frias de janeiro para ordenar a documentação mais recente que me enviaste, voltei a ler os papéis anteriores e garanto-te que me tocou muito aquela inquirição do coronel que te visitou em Missirá por tu teres reclamado da punição de dois dias de prisão simples.

Impressiona-me nos documentos que me mandaste agora aquela emboscada junto de um local, espero estar a dizer bem, de nome Sinchã Corubal, não muito longe de uma base da guerrilha chamada Madina. Tinhas anteriormente verificado haver trilhos que passavam perto de Chicri e de Mato de Cão, decidiste fazer um patrulhamento tendo aproveitado a vigilância em Mato de Cão. Registaste nos teus papéis a data de 27 de maio de 1969. Tu e os teus homens fizeram uns bons quilómetros dentro da mata densa, sempre flanqueando o trilho descoberto e posicionaram-se do lado de cá da bolanha de Sinchã Corubal, depois de teres conversado com toda a gente quanto à eventualidade de aparecer um grupo do lado de lá ou do lado de cá, como se processaria a retirada, quem desencadearia o fogo e outros pormenores. Interessou-me muito o que tu escreveste sobre a descrição da noite, o murmurar das águas, o ouvires os pequenos ruídos de quem mordiscava e levava o cantil à boca, as luzes ao longe da povoação do Xime, a passagem de animais, os estalos da matéria viva no arvoredo, o pesado silêncio da noite, quase um convite para passar pelo sono e delegar a vigilância noutro. E tu dizes nos teus papéis que sentes ainda o ciciar ao ouvido de um teu bazuqueiro, de nome Mamadu Djau que te pôs pressão no ombro e te alertou que estava a ver avançar do outro lado uma coluna na vossa direção.

Passou-se a palavra para todo o grupo, tu deitaste-te no meio da picada, ladeado por dois bazuqueiros, atrás, protegidos por morros de bagabaga, os apontadores de dilagrama, quando tu disparasses começaria a fuzilaria. Tu descreves o clima de tensão, o ver aqueles vultos a avançar num passo cadenciado, sabe-se lá se a olhar para todos os lados, tu sentias-te como se estivesses numa porta da floresta, com aquele espaço imenso pela frente de capim, ouvindo as passadas cada vez mais próximas, um restolhar que a natureza obrigava, talvez aqueles corpos sentissem a aspereza do capim molhado. Tu falas numa zona de morte, quem avança em tua direção está a escassas dezenas de metros, continuam a ser vultos, não sabes quantos, e na mansuetude da mata dás o sinal da guerra aberta, desfechas uma rajada em direção àquele grupo, estrondeiam as armas, ouvem-se gritos do lado de cá e do lado de lá, tu não sabes se a coluna recua ou se toda aquela gente se atira ao solo, certamente que por ali ciranda o terror, tal o impacto da surpresa, o mais certo é que a coluna esteja em fuga. É um fogo impressionante, o que tu escreveste, sabes hoje que foram minutos que demoraram horas, quem vinha naquela coluna não teve capacidade de resposta e tu lanças um grito para o ar a anunciar a retirada, desta feita dentro do próprio trilho usado pela gente que habita em Madina e Belel.

Correm afogueados, de vez em quando mandas fazer alto, queres saber se estão todos, o que é confirmado. Enquanto anoto que organizo os teus apontamentos não deixo de me impressionar com a familiaridade com que tu tratas os lugares, é impossível que não tenhas posto os pés em todos aqueles sítios, vocês vão a correr de Saliquinhé para Gambana, à direita podiam ir até Finete, mas não, sobem pela velha estrada que pode ir até Missirá ou até mesmo ao Gambiel, infletem na curva de Canturé, fazem uma pausa, há por ali laranjais e passados uns minutos uma nova correria até à outra curva de Canturé, daqui seguem a Gã Gémeos, passam pela ponte de Sansão, já perto de Missirá avisam-se os sentinelas de que vamos entrar e tu escreves que foi impressionante a receção, militares e população aguardam-vos na porta de armas, todos sorriem, é fácil perceber que toda aquela tempestade de fogo vos correu de feição, regressam sem feridos nem mortos. Escreverás ainda que esta emboscada noturna teve o condão de acirrar os ânimos, o inimigo não abrandará as hostilidades, haverá uma chusma de pequenas flagelações, depois de uma muito grande que custou vidas às gentes de Madina e Belel.

Nos últimos papéis que mandas, as surpresas não acabaram naquela emboscada noturna, pude constatar. Estamos a 28 de maio, quem voltou a patrulhar Mato de Cão nesse dia foi o furriel Casanova, dormiste umas horas, entregaste-te a afazeres domésticos. Não te sai da cabeça qual será o tipo de reação das forças do PAIGC. Não paraste um instante naquele dia, acompanhaste as aulas, vistoriaste as munições e o depósito de víveres, e durante a tarde andaste com militares e população civil a fazer uma capinação na região de Sansão. Anoiteceu, fizeste o expediente corrente com o furriel Pires, prolonga-se a época das chuvas, há uma nova vaga de doentes de malária, apareceu um soldado milícia com sinais de elefantíase, fizeram-se abates à carga de cantis extraviados. Veio o cozinheiro Umaru Baldé anunciar o jantar, pediste mais cinco minutos para ir tomar um duche. E o que se segue é o mais movimentado instantâneo da guerra que vem nos teus papéis. Vens embrulhado numa toalha e estacas, ouvem-se os sons cavos de um bombardeamento não muito longe, os disparos eliminam a noite, é um estranho fogo, parece mesmo pirotecnia de fim de ano, tiros atirados para o ar enquanto ribombam morteiradas em cadeia, a sinfonia de metralhadoras, é uma flagelação impressionante e tu pensas que te estão a destruir Finete, aquela flagelação é demolidora. Usumane Baldé, a quem tu chamas o teu soldado prussiano ouve as tuas imprecações e responde: “- Ah, nosso alfero, eles vão partir Finete todinha!”. Tu gritas e pedes voluntários, não vais deixar Finete ficar destruída, o motorista Setúbal já faz rodar um Unimog 404 na parada, sobem para a caixa vinte voluntários e vai começar uma corrida desenfreada para ir ajudar Finete. Fico-me por aqui porque o registo que tu deixas é enorme, jamais te passou pela cabeça o estarrecedor do episódio seguinte.

Meu adorado Paulo é nesse ponto que ficam organizados os apontamentos desde agosto de 1968 até estes dias de maio de 1969. Foi o papel que tu me reservaste e que alterou as nossas vidas. Impossível, sim, impossível, abandonar esta tarefa, sabendo que ela foi a alavanca da iluminação que trouxeste para os meus dias e para as minhas noites. Obrigado por tudo, meu homem de Lisboa. Amanhã ao fim do trabalho, regresso à Rua do Eclipse, em menos de duas horas estou em Bruxelas. Vou brunir a nossa casa. Espero-te à porta de Zaventem, já sei a hora da tua chegada. Despeço-me com a boa notícia de que já reservei a nossa estadia em Lier, iremos passear pela Campina, alugamos facilmente as bicicletas e podemos percorrer aqueles canais maravilhosos, iremos a Antuérpia, tenho todo o gosto em voltar ao Museu de Rubens, e tenho a maior satisfação em irmos, como tu sugeres, a Groningen, que também aprecio muito. Vem depressa, tens muito amor à tua espera. Bien à toi, Annette.

(continua)

Duas imagens de Liège
Lier, Bélgica
O Grande Hotel nos tempos áureos
O Grande Hotel reduzido a uma ruína
Edifício do Centro de Estudos da Guiné Portuguesa na década de 1960
O rio Geba, deslumbrante a qualquer hora do dia
Os rios dão tudo, transportam-nos longe, é só preciso um tronco escavado
A natureza é sempre empolgante, pronta a surpreender-nos
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21657: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (31): A funda que arremessa para o fundo da memória

Guiné 61/74 - P21689: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (29): O Natal agridoce de 2020... (E um "In Memoriam" à Isabel Levezinho que acaba de deixar a "Terra da Alegria") (Luís Graça)






Tabanca de Candoz, 19 de dezembro de 2020 > O solstício do inverno faz parte do ciclo da vida. (O inverno, no hemisfério norte, começa a 21 de dezembro.) 

Foto (e legenda): ©  Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O Natal agridoce de 2020

por Luís Graça



Nos nossos lares, este ano, o Natal

Vai ter quase tudo o que manda a tradição,

Mas vai, de certo, faltar o essencial:

Não o bom bacalhau, mas o... chicoração!


Vai ser agridoce o Natal da pandemia,

Sem a presença da família alargada:

Pode a mesa ser farta, mas estará vazia,

Em faltando a alegria da criançada.


Companheiros, que raio de tempo é este!,

Estamos vivos, é certo, mas ameaçados,

P’la Covid, o nome moderno da Peste.



Feitos para, na terra, viver e amar,

Há nove meses confinados e mascarados,

Também desta haveremos de... nos safar!
 

Tabanca da Madalena, Vila Nova de Gaia, 

24 de dezembro de 2020, 8h00


PS - Na véspera de Natal, depois de ultimar este soneto, tive a amarga e  tristíssima  notícia da morte (se bem que "anunciada") da nossa querida Isabel Levezinho, vítima de doença prolongada. Era esposa do meu "mano" Tony Levezinho, mãe da Rita e do Nuno, avó do Diogo. 

Tinha ainda celebrado neste ano da desgraça de 2020 as suas bodas de ouro de casada. Lembro-me de ter ela casado, ainda muito novinha, aos 17 ou 18, com o Tony quando ele veio de férias à "metrópole", em meados de 1970. Era então uma jovem (e promissora) ginasta do Académico da Amadora. Soube, só há pouco tempo (quando a fomos visitar, já doente, na casa no Tagus Park, em Oeiras, em 28 de setembro passado), que ela queria ir para a Guiné com o amor da sua vida. Felizmente que não chegou a poder concretizar essa generosa (mas romântica e não aconselhável)  intenção: a segunda metade do ano de 1970 foi também muito dura para os homens da CCAÇ 12. 

Somos, de longa data, eu,  a Alice, a Joana e o João, amigos da família e durante anos vizinhos da Amadora. O Tony e a Isabel deram-nos o prazer da sua companhia e a prova da sua amziade em vários momentos das nossas vidas. A notícia deixa-nos devastados. O nosso pensamento está com ela e com os nossos amigos neste Natal que mais do que "agridoce", é amargo. 

A Isabel era uma pessoa discreta, serena, doce e afável cujo sorriso, bondade e amizade vamos guardar, nas nossas memórias,  para o resto das nossas vidas. Mas agora é preciso reconfortar (e ser solidário na dor com) os vivos. Tony, Rita, Nuno, Diogo...mesmo à distância, estamos aí convosco no pior Natal das vossas vidas!

Citando um dos meus poetas preferidos, Ruy Belo, que ainda teve tempo e lucidez para se despedir da "terra da alegria",  "é triste ir pela vida como quem / regressa e entrar humildemente por engano / pela morte dentro".

[O Tony tem página no Facebook e mais de 6 dezenas de referências no nosso blogue.]

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Guiné 61/74 - P21688: Parabéns a você (1914): Ismael Augusto, ex-Alf Mil Manut do BCAÇ 2852 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21683: Parabéns a você (1913): Fernando Jesus Sousa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/71)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21687: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (28): Manuel Resende (régulo da Tabanca da Linha) / António Manuel Salvador (Holanda) / António Ramalho (V. F. Xira)

1. Mensagem de camarada Manuel Resende (ex-alf mil da CCaç 2585/BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71), régulo da Magnífica Tabanca da Linha:


Data - terça, 22/12, 23:15 
Assunto - Boas festas



Aos amigos de coração Luis Graça e Alice Carneiro,  desejo um feliz Natal e um novo ano isento de virus. Esta coisa está a dar cabo dos nossos grupos. É que sem convivência vamo-nos esquecendo, e cada vez o Condor... aperta mais. 

Pergunto eu, será que ainda vamos ter convívios? Vamos todos de bengala... 

Grande abraço extensivo a toda a família e aos todos os membros da Tabanca Grande
Manuel Resende




(ex-1.º Cabo Enfermeiro, CCAÇ 4740
Os Leões de Cufar, Cufar , 1972/74):

Data - segunda, 21/12, 12:51
Assunto - Luís, com um forte abraço aqui da Holanda

Luis, descobri esta foto de 1971, tirada em Elvas no terceiro turno do mesmo ano, esperando que alguém se reconheça na mesma. Só desejo que estejam todos vivos, gozando de uma boa saude. Para todos aqueles desejo um Santo Natal e um risonho 2021 . 


3. Mensagem de António R
amalho [natural da Vila de Fernando, Elvas, a viver em Vila Franca de Xira, foi fur mil at da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), membro da Tabanca Grande, com o nº 757: tem mais de duas dezenas de referências no nosso blogue]


Um Santo e Feliz Natal e um 2021 com muita Paz e saúde para todos vós, familiares e amigos, são os nossos votos.

António Ramalho e família

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Nota do editor:

ÚLtimo poste da série > 24 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21686: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (27): Rui Chamusco, cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste

Guiné 61/74 - P21686: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (27): Rui Chamusco, cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste





1. Mensagem de nosso amigo Rui Chamusco, membro da Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã, professor reformado, natural de Malcata / Sabugal, a viver na Lourinhã, cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste.

 
Date: segunda, 21/12/2020 à(s) 16:26
Subject: Notícias de Timor Leste
 


ASTIL - Projeto de Solidariedade em Timor Leste

 


Estimados Amigos, Sócios, Padrinhos e Madrinhas

 

Nesta época natalícia, e apesar de todos os condicionamentos, não podia deixar de enviar-vos esta mensagem que, à semelhança de anos anteriores, vos quer desejar Boas Festas de Natal e de Ano Novo, assim como dar-vos algumas notícias referentes ao nosso Projeto de Solidariedade em Timor Leste.

 

Embora fisicamente ausentes deste país do sol nascente (lorosae), as notícias que constantemente nos chegam, graças aos novos meios de comunicação (whatsApp, facebook, instagram, telemóvel...) têm-nos mantido a par das atividades que lá se vêm desenvolvendo, das quais pretendo destacar:

 

(i) O final do ano escolar na Escola São Francisco de Assis "Paz e Bem", em Boebau / Manati. 


Este ano frequentaram a escola três grupos: Grupo A e grupo B do pré escolar; grupo C 1ºano do ensino primário. Como todos sabem, as dificuldades têm sido enormes, devido à falta de professores credenciados. Graças ao esforço extraordinário de algumas pessoas, das quais o João Moniz (Eustáquio) se evidencia, o trabalho da nossa escola tem sido reconhecido pela Direção Escolar de Liquiçá.


Da nossa parte, em Portugal, tudo temos feito para que se resolva quanto antes este problema da colocação de professores. Umas vezes esperançados, outras vezes enganados, mas não desistimos de bater a todas as portas. Pode ser que alguma se abra, até porque é Natal...

 

(ii) Uma notícia que muito nos agrada: este ano haverá (creio que pela primeira vez na história) Missa da Meia Noite de Natal na Escola São Francisco de Assis. E também haverá no dia de Natal. 


As crianças e adultos já vibram com o acontecimento, e preparam com entusiasmo estas celebrações. Quanto eu não daria para lá estar também...


A casa residência dos professores vai ser a hospedaria do amo (padre) que irá presidir a estas celebrações.

 

(iii) Com o final do ano escolar em Timor Leste, é a altura certa dos padrinhos e madrinhas serem informados do aproveitamento escolar dos seus afilhados, Por isso lhes peço que exijam o envio dos resultados que estão registados na caderneta escolar do aluno. Hoje em dia quase todos têm família ou amigos com telemóvel que podem fazer esse envio.

 

Sei que estes tempos são difíceis para todos, mas o espírito natalício que felizmente nos invade vai ajudar-nos com certeza a ultrapassar estas provações. Melhores dias virão...

 

Pedindo as benção do Deus Menino para todos vós e as vossas famílias, e sempre ao vosso dispor

 

rui chamusco


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Nota do editor:


Último poste da série > 24 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21685: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (26): O Natal, a família e os amigos (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)

Guiné 61/74 - P21685: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (26): O Natal, a família e os amigos (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)


1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), autor do livro "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia", com data de 23 de Dezembro de 2020:

Neste tempo de pandemia, com todo o rol de desgraças que têm ocorrido, vamos vivendo acabrunhados com as limitações que as autoridades nos impõem para controlar o vírus importuno e maldito.
Mas chegou o Natal, que segundo os eruditos substituiu há quase dois milénios as Saturnálias, festas dos Romanos a outro Deus e as famílias, os vizinhos e povos inteiros, alegram-se e vivem uma grande festa a um Deus novo, esquecendo um pouco os dias tristes que são o quotidiano de quase todos.

As nossas almas expandem-se em festa e há um sentir colectivo contagiante que a todos nos aproxima. Ficamos mais irmãos e mais comunicativos.

Eu confesso que comecei a sentir mais essa comunhão com todos, esse espírito de festa, a partir do dia, há talvez dez dias, em que recebi pelo correio um postal de Boas Festas remetido pela minha afilhada e sobrinha, lindo e delicado. Na sua feitura e nas palavras que recordavam outros Natais vividos na nossa família alargada.
A Inês, assim se chama ela, é uma jovem linda e original, com trinta e dois anos, quem a conhece não me pode desmentir.

Recebi também, perto dessa data, um postal do meu amigo que tem 82 anos e alguns problemas de saúde, infelizmente. A originalidade do postal dele é que colou numa das páginas, pequenas flores silvestres que apanhou no seu quintal. O Sr. Alberto Neves, assim se chama, foi desportista, foi industrial, amigo de muitos, amigo da borga, que tem um percurso de vida respeitável que lhe dá uma grande estatura social e moral. Sem mais adjetivos, qualifico-o como um HOMEM BOM, dos melhores que tenho conhecido.

Agradeço de todo o coração à minha família pelo gesto da minha afilhada, que no tempo das telecomunicações, por voz e por vídeo, me enviou uma mensagem por postal, à maneira antiga.
Agradeço igualmente ao meu amigo que embora podendo usar o telemóvel, quis surpreender-me com um postal à moda de tempos passados.

Fiquei feliz, tenho uma boa família e tenho bons amigos.

BOM NATAL PARA TODOS!

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21684: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (25): cenas da vida de um vagomestre [João G. Bonifácio, ex-fur mil SAM, CCAÇ 2402 (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70), hoje a viver em Toronto, Canadá]

Guiné 61/74 - P21684: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (25): cenas da vida de um vagomestre [João G. Bonifácio, ex-fur mil SAM, CCAÇ 2402 (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70), hoje a viver em Toronto, Canadá]


Protecção a coluna de reabastecimemtos a Olossato


Receção de frescos e correio via TAGP


 


Receção de abastecimentos


A caminho de Mansabá


Excertos da brochura "Memórias da CCAÇ 2402 (Guiné 1968/1970), Volume II", mimeog", 2008, páginas inumeradas, il. (Coordenação: Raul  Albino).


Fotos (e legendas): © João Bonifácio (2008).  Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de João G. Bonifácio, ex-fur mil SAM,  CCAÇ 2402 (Mansabá e Olossato, 1968/70), a viver em Toronto,  Canadá. 


Data - quarta, 23/12/2020 à(s) 16:47
Assunto - : Boas Festas e Ano Novo próspero
 

Ao Luís e a todos quantos se dedicam a manter esta tabanca, as suas famílias e de um modo geral a todos os ex-combatentes que por aqui ainda vão passando, vão os meus votos de um Bom Natal e que o 2021 nos traga mais saúde e muita alegria.

São 11.36 da manhã onde vivo perto de Toronto, com céu encoberto e sem neve no solo. Neste momento desejo agradecer a todos por mostrarem algumas das minhas fotos em Có e Olossato.

Foi com muita emoção que descobri que esta tabanca e seus dirigentes são sensíveis a pequenas coisas da vida. Obrigado, amigos, mesmo do coração, pois esta partilha demonstra bem claro que tudo vale a pena quando a alma não é pequena (FP).

Obrigado, Amigos,  e ate uma próxima oportunidade.

João G. Bonifácio

Guiné 61/74 - P21683: Parabéns a você (1913): Fernando Jesus Sousa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 23 de Dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21678: Parabéns a você (1912): Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74); Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Guiné, 1968/70); Felismina Costa, Amiga Grã-Tabanqueira e José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2679 (Guiné, 1970/71)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21682: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (24): A Tabanca de Faro deseja a todos os Camaradas das Tabancas espalhadas pelo País um Feliz Natal e Próspero Ano Novo (José António Viegas)


Faro > Tabanca de Faro > 2º Encontro anual > 20 de maio de 2017 > Foto parcial do grupo de participantes cujo total era da ordem dos 75.

Foto: © José António Viegas  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José António Viegas, um dos régulos da Tabana de Faro / Algarve
 
Data: quarta, 23/12/2020 à(s) 17:15
Assunto: Boas Festas 

A Tabanca de Faro deseja a todos os Camaradas das Tabancas espalhadas  pelo País um Feliz Natal e Próspero Ano Novo e que o bicho fuja para longe.

Um Abraço

Zé Viegas
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21680: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (23): Os meus/nossos três Natais no CTIG (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp/ranger, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74)

Guiné 61/74 - P21681: Historiografia da presença portuguesa em África (244): "Fernão Gomes e o monopólio do resgate da Guiné", no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa de Maio e Junho de 1938 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Fevereiro de 2020:

Queridos amigos,
No tempo em que se iniciou a presença portuguesa na costa ocidental africana, ganhou acuidade a consolidação de redes comerciais. Aquilo que se chama Senegâmbia, teve uma presença sui generis, os lançados ou tangomaus, os entrepostos onde os mercadores, nomeadamente da ilha de Santiago, tinham um papel determinante. O contrato de arrendamento que D. Afonso V estabeleceu com Fernão Gomes trouxe benefícios recíprocos, avançou-se muito a partir da Serra Leoa, Fernão Gomes enriqueceu e reverteu muitos milhares de reais nos cofres do rei, bem como deu bastante dinheiro ao Príncipe D. João, que tinha a feitoria de Arguim.
A literatura de viagens exprime claramente a natureza do comércio que se fazia com os diferentes reinos desta costa africana, basta ler Cadamosto, Lemos Coelho, André Donelha, entre outros. Estes reinos africanos tinham uma prática multisecular de vender escravos e por isso vamos encontrando nestes relatos a descrição do valor de um cavalo por um número de escravos (podia ir de 7 a 14).
As explorações de Fernão Gomes foram utilíssimas nos planos de D. João II, avançava-se paulatinamente pela costa de África, está em marcha o plano e chegar às Índias.

Um abraço do
Mário


Fernão Gomes e o monopólio do resgate da Guiné

Mário Beja Santos

No Boletim da Sociedade de Geografia de maio e junho de 1938, o insigne historiador comandante A. Fontoura da Costa publicou um curioso artigo sobre Fernão Gomes e o papel que desempenhou nas viagens pela costa africana. A Guiné, ou rios da Guiné de Cabo Verde, ou Senegâmbia, entrou em meados do século XV numa teia de rotas comerciais que obedeciam, no caso português, a uma política comercial de monopólio régio. A política afonsina, com expedições a Marrocos e guerras com Castela, vai exaurindo os cofres públicos, daí ter-se adotado contratos de exploração da costa africana, foi o que aconteceu com o contrato celebrado com Fernão Gomes. Enquanto a colonização, sempre ténue e muitas vezes fora da alçada da Coroa, fica entregue aos lançados, a ilha de Santiago passa a ter um papel preponderante já que os seus navios e mercadorias navegam desde o Cabo Verde até à Serra Leoa. Estes comerciantes tinham poderes limitados: apenas lhes era permitido movimentar os produtos do arquipélago, algodão e cavalos. Os moradores da Ilha do Fogo ocupavam-se quase exclusivamente da produção de algodão e na tecelagem de roupas, produtos transportados para a Ilha de Santiago e daí à costa da Guiné, eram utilizados para o resgate de escravos.

Observe-se que os lançados também se ocupavam do comércio de troca entre mercadorias europeias e produtos africanos. Nessas trocas, os europeus compravam couros, marfim, cera, goma, âmbar, anil, ébano, escravos e algum ouro. Está documentada a presença destes lançados, inclusive fora do território da atual Guiné-Bissau, estavam presentes nas regiões do Senegal e do rio Gâmbia.

Os comerciantes estavam proibidos de ir à feitoria de Arguim. Em 12 de junho de 1466, D. Afonso V concedera aos moradores de Santiago o privilégio de comerciarem em toda a costa da Guiné, com exceção de Arguim. As mercadorias que trouxessem, após o pagamento dos impostos régios, poderiam ser vendidas a quem os comerciantes entendessem. Esta carta de privilégio visava, em grande medida, incrementar a colonização do arquipélago. No entanto, embora o povoamento de Santiago fosse de reconhecida necessidade, a exploração da costa, para além dos limites até então atingidos, não era menos. Em 1469, D. Afonso V arrendou a Fernão Gomes, por 200 mil reais por ano, os tratos e resgates da Guiné, com a condição de que em cada um destes cinco anos fosse obrigado a descobrir cem léguas para Sul, mas “com limitação que não resgatasse em a terra firme defronte das ilhas de Cabo Verde por ficar para os moradores delas” (João de Barros, Ásia, 1, parte II, capítulo II). Será um contrato que irá provocar atritos mas que trará resultados práticos na exploração da costa africana. É neste contexto que se deve ler o artigo de Fontoura da Costa:
“Fernão Gomes, poderoso negociante de Lisboa, foi um dos maiores aventureiros quatrocentistas, desses que sempre aparecem quando estão vazios os cofres de Estado – então confundidos com os do rei. O arrendamento a Fernão Gomes constituiu um dos mais lucrativos monopólios que a nossa História regista.
1 – O comércio da Guiné: consistia ele principalmente em ouro, marfim, escravos, gatos de algália (almíscar), malagueta e quaisquer especiarias;
2 – Contrato de 1469: não foi ainda encontrada a carta régia do contrato com Fernão Gomes, cujas principais cláusulas são citadas por alguns cronistas, entre os quais João de Barros. O clausulado preceituava a dita rende de 200 mil reais, em cada um dos cinco anos de vigência do contrato, ficava excluído o comércio na costa da Guiné, fronteira às ilhas de Cabo Verde e no Castelo de Arguim, o comércio de marfim ficava reservado para o rei e havia a obrigação do arrendatário em mandar descobrir anualmente cem léguas de costa, desde a Serra Leoa”
.

Examinando o contrato, Fontoura da Costa observa que os economistas divergem muito quanto à equivalência do real afonsino (1469) em moeda atual, não é possível encontrar correspondência em escudos. O comércio no castelo de Arguim pertencia ao príncipe D. João, o qual depois o cedeu a Fernão Lopes por cem mil reais anuais. A fortaleza de Arguim, na ilha do mesmo nome, começada a edificar por D. Henrique, só foi concluída depois da morte do infante. Quanto ao descobrimento anual de cem léguas da costa desde a Serra Leoa, o historiador recorda que os Descobrimentos, com D. Henrique, haviam terminado na Serra Leoa em viagem de Pêro de Sintra. Mas este navegador, já com D. Afonso V, ainda chegara até pouco além do Cabo Mesurado, a cerca de 44 léguas da Serra Leoa. Marcando esta cláusula o início dos novos descobrimentos na Serra Leoa, parece querer indicar que ainda era pouco conhecida a costa que Pêro de Sintra descobrira. E escreve:
“Fernão Gomes escolheu os melhores mareantes de então para o cumprimento desta importante e perigosa cláusula, a qual permitiria estender o conhecimento de toda a costa até ao Cabo de Catarina, indo até às ilhas do Golfo de Biafra. Foi Soeiro da Costa o primeiro navegador que logo em 1470, por mandado de Fernão Gomes, encetou os novos descobrimentos; foi ele até ao Cabo das Três Pontas, descobrindo portanto toda a Costa da Malagueta, que vai desde o Cabo Mesurado até ao Cabo das Palmas. O seu nome ficou ligado ao rio do Soeiro, a cuja barra os ingleses ainda chamam Soeiro bar. Soeiro da Costa deve ter regressado ao reino ainda em 1470, trazendo no seu navio grande porção de malagueta”.

Temos depois o aditamento ao contrato de 1469, por ele ficou também Fernão Gomes com o monopólio do resgate da malagueta, pagando mais cem mil reais anuais de renda. E operaram-se novos descobrimentos, até 1473. João de Santarém e Pêro Escobar, com os pilotos Martins Esteves e o afamado Álvaro Esteves, de 1471 a 1472, vão até ao Cabo Formoso, descobrindo também as ilhas de São Tomé, de Santo Antão (depois Príncipe) e do Ano Bom. A seguir, em 1472-1473, Fernando Pó começou os descobrimentos para além do Cabo Formoso.

O artigo de Fontoura da Costa publica a carta de prorrogação do contrato com Fernão Gomes do arrendamento do resgate da Guiné, refere ainda a continuação dos Descobrimentos até à descoberta do rio do Gabão, 1473-1474.

Este comércio da Guiné era extremamente próspero, o que levou D. Afonso V a conceder a Fernão Gomes honras de nobreza de novas armas. O fim dos Descobrimentos à responsabilidade de Fernão Gomes datam de 1475, chegara-se a mais de 600 léguas da Serra Leoa. E diz Fontoura da Costa que estando hoje esquecido o nome de Fernão Gomes, os descobridores ao seu serviço têm os seus nomes bem lembrados:
Soeiro da Costa, Fernando Pó, Loupo Gonçalves, João de Santarém, Escobar. Fernão Gomes era riquíssimo, nobre, considerado com respeito pela sociedade lisboeta, conselheiro régio nomeado em 1478. E termina o autor dizendo que “foi ele um dos raros a quem honras com proveito não fazem mal ao peito”
Carta da Ilha de Santiago, da autoria de Joannes van Keulen, datada de 1635
“A Mina", detalhe de mapa do século XVI
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21651: Historiografia da presença portuguesa em África (243): Revista Estudos Ultramarinos, 1959 - n.º 2 - Como se escrevia sobre a luta de libertação em pleno Estado Novo (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21680: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (23): Os meus/nossos três Natais no CTIG (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp/ranger, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74)


Foto 1 > Ponta Coli (1972) > situada na estrada Xime-Bambadinca > local de muitas memórias do colectivo da CART 3494, tais como: (i) Local do "baptismo de fogo" dos elementos do 4.º Gr Comb, em 22 de Abril de 1972, em acção dirigida pelo Cmdt Mário Mendes (1943-1972); (ii) local da primeira baixa (a única em combate), em 22 de Abril de 1972, a do fur mil art Manuel da Rocha Bento (1950-1972): (iii) Local da segunda emboscada sofrida por elementos do 4.º Gr Comb, em 01 de Dezembro de 1972, devido a acção dirigida pelos Cmdts Mamadu Turé e Pana Djata. (iv) Local da recolha de cadáveres de dois guerrilheiros participantes na emboscada acima, incluídos no grupo de assaltantes (ou de assalto), e das suas respectiva armas: uma Kalashnikov (AK47) e um RPG. Os seus corpos foram inumados no cemitério de Bambadinca.

 

O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo; tem cerca de 270 referências no nosso blogue.

BOAS FESTAS

em tempo de pandemia "COVID-19"

RECORDAR É… TORNAR PRESENTE!

OS TRÊS NATAIS DA MISSÃO ULTRAMARINA NO CTIG


Mobilizada pelo Regimento de Artilharia Pesada [RAP 2], da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, a Companhia de Artilharia 3494 [CART 3494], a terceira Unidade de Quadrícula do Batalhão de Artilharia 3878 [BART 3873], do TCor António Tiago Martins [1919-1992], embarcou em Lisboa, no Cais da Rocha, a 22 de Dezembro de 1971, 4.ª feira, a bordo do N/M «NIASSA», rumo ao TO do Comando Territorial Independente da Guiné [CTIG], numa altura em que o conflito armado contabilizava nove anos.

A sua chegada ao Cais do Pidjiguiti, em Bissau, ocorreu a 29 de Dezembro, 4.ª feira.


 

Foto 2 > Cais da Rocha > Lisboa > 22 de Dezembro de 1971 > N/M «NIASSA». Mais um contingente de cerca de mil e quinhentos jovens milicianos rumo ao TO do CTIG. [foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494], com a devida vénia.


1.º NATAL (1971) a BORDO DO «NIASSA»

Ao terceiro dia de uma viagem de seis, mas que era só de ida pois o regresso não tinha data marcada, teve lugar a consoada de 1971, realizada em pleno Alto Mar, talvez na linha imaginária de Santa Cruz de Tenerife, no Oceano Atlântico Norte.

 



Foto 3 > Cais do Pidjiguiti > Bissau > 29 de Dezembro de 1971 > N/M «NIASSA». Desembarque do contingente metropolitano da foto 2. [foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494], com a devida vénia.

2.º NATAL (1972) NO XIME

Decorrido um ano da sua missão ultramarina no CTIG que, pode aceitar-se, coincidiu com a comemoração da primeira festa natalícia fora do contexto familiar do colectivo da CART 3494, esta a bordo do «Niassa», este voltou a sentir o ambiente simbólico dessa secular celebração religiosa anual, nomeadamente os membros da família cristã.


Esta segunda reunião natalícia, que por tradição cultural sempre foi considerada de relevante significado espiritual, incluindo o meio militar, foi organizada no Aquartelamento do Xime, espaço físico onde ficou instalada durante catorze meses a partir do qual operacionalizava as diversas acções diárias que lhe haviam sido confiadas.


Esta cerimónia, ainda que não tenha sido possível reunir todo o contingente da Unidade, pois 2.º Gr Comb estava destacado no Enxalé, sempre ajudou a elevar um pouco mais o ânimo individual, reforçando a solidariedade e o companheirismo entre os seus pares, valores importantes num contexto geográfico considerado de excepcional importância estratégia para a mobilidade da logística militar, e de civis, entre Bissau e a restante Região Leste, o primeiro por via marítima (rio Geba) e depois por meio rodoviário (e vice-versa) e, por isso mesmo, de grande exigência e rigor, logo de elevada inquietação e labor nos múltiplos desempenhos.

 


Foto 4 > Xime > Natal/1972. Alguns dos militares participantes no almoço/convívio, distribuídos por mesas colocadas na Messe de Oficiais.

 


Foto 5 > Xime > Natal/1972. Em primeiro plano; de pé, António Costa [1.º C]; José Pacheco [20.º Pel Art]; Jorge Araújo e Mário Neves [Furriéis].

 


Foto 6 > Xime > Natal/1972. Da esquerda para a direita: 1.º Sarg Orlando Bagorro [, morreu em 2018]; 1.º Sarg Carlos Simões; Alferes Manuel Gomes [morreu em 2014; metade do rosto]; Alferes José Araújo [-2012]; Alferes Maurício Viegas [20.º Pel Art]; D. Idalina Carvalho Pereira Jorge Martins; esposa do Cmdt BART [1923-2011]; TCor António Tiago Martins [1919-1992; Cmdt BART 3873]; Cap Mil Luciano Costa [3.º Cmdt da CART 3494] e Alferes Serradas Pereira [de costas].


3.º NATAL (1973) EM MANSAMBO


Já com vinte e quatro meses de comissão, mas agora em Mansambo, para onde seguimos em Março do mesmo ano, por troca com a CART 3493, realizou-se a 3.ª reunião natalícia, num tempo que ainda não era possível prever ou "adivinhar" o regresso ao Continente (à Metrópole), o qual só se veio a concretizar nos primeiros dias do mês de Abril de 1974, ou seja, a três semanas do «25 de Abril».

 


Foto 7 > Mansambo > Ceia de Natal/1973. Da esqª para a dtª: Serradas Pereira [Alferes]; António Costa, de pé [1.º C]; Luciano Costa [Cap Mil, 3.º Cmdt da 3494]; Lobo da Costa [Alferes]; João Manuel Sousa Teles [Major; 2.º Cmdt do BART 3873]; Carvalhido da Ponte [Furriel] e Cláudio Ferreira, de costas [Furriel].

 


Foto 8 > Mansambo > Ceia de Natal/1973. Da esqª para a dtª: Carola Figueira [1950-2017; Furriel]; António Costa, de pé [1.º C]; Orlando Bagorro [-2018; 1.º Sarg]; Serradas Pereira [Alferes]; Luciano Costa [Cap Mil 3.º Cmdt da 3494]; Jorge Araújo, de pé [Furriel]; Lobo da Costa [Alferes] e João Manuel Sousa Teles [Major; 2.º Cmdt do BART 3873].

 


Foto 9 > Mansambo > Natal/1973. Mesa 1 [esq.]: Abílio Oliveira; mesa central [esq/dtª]: João Godinho; Mendes Pinto; Sousa Pinto [1950-2012] e Benjamim Dias; mesa 3 [dtª]: Carvalhido da Ponte e Jorge Araújo – todos furriéis.

Termino esta pequena resenha histórica natalícia enviando a todos os camaradas tertulianos da nossa TABANCA GRANDE, e aos leitores assíduos do nosso blogue, os meus votos de BOAS FESTAS, ainda que o cenário de pandemia provocada pelo «coronavírus» nos imponha algumas restrições. Nós, os ex-combatentes, sabemos bem, por experiência própria, o que significa o conceito de "confinamento".

BOM NATAL E UM MELHOR 2021

Muitas Felicidades.

 

Com um forte abraço de amizade, e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

20DEZ2020.

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21677: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (22): Natal Santo que a todos nos abraça... (João Afonso Bento Soares, maj gen ref)

Guiné 61/74 - P21679: (In)citações (174): Apesar de agnóstico, ainda conservo, na cabeceira, um crucifico-talismã que alguém deixou na tabanca onde eu pernoitava: Ká pudi larga mezinho qui pudi salvar kurpu (Luís Mourato Oliveira, o último comandante do Pel Caç Nat 52, Mato Cão e Missirá, 1973/74)



Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca > Missirá > Pel Caç Nat 52 > 1974 > O crucifixo, em bronze (ou liga de bronze), dos anos 60/70, que trouxe, do destacamentp, depois da sua entrega ao PAIGC em agosto de 1974... Alguém, um graduado, deixou-o na tabanca onde eu pernoitava.

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (202'). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Comentário do Luís Mourato Oliveira, o último comandante do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74), e que vive presentemente na Lourinhã (*)

Obrigado, Zé Viegas,  por partilhares estas memórias. 

O Pelotão Caçadores Nativos 52 foi desmobilizado em Missirá. Vivemos o 25 de Abril de 1974 neste destacamento e a esperança num regresso rápido a Portugal nasceu nesta tabanca.

As imagens que tenho não são muito diferentes das agora publicadas embora a destruição que apresentam as várias edificações tenham sido reparadas. O depósito de géneros que também era depósito de material de guerra também ficou "destelhado" no período da permanência do Pel Caç Nat 52, não devido a uma flagelação porque nada sofremos aqui, mas nas chuvas, um tornado descontente com a arquitetura do edifício levantou o chapeado de zinco por inteiro e depositou-o com o estrondo de uma queda de 10 metros no meio do que seria a parada.

Com a guerra a arrefecer depois do 25 de Abril, o nosso quotidiano não era exigente e as tarefas militares limitavam-se à segurança do destacamento que o Pelotão partilhava com o grupo de milícias local e todas as acções no exterior foram suspensas.

Foi em Missirá que me foi pedida autorização para elementos do PAIGC visitarem a tabanca para o que dei de imediatamente o meu acordo. (**)

A guerra estava terminada e tinha a grande preocupação do que seria o futuro dos meus camaradas soldados portugueses (infelizmente esquecidos) do recrutamento local e procurei assim que se adaptassem a uma nova realidade para a qual não estavam preparados.

Com a minha juventude e capacidade de sonhar também espectava que o conhecimento pessoal com os antigos inimigos amenizasse o que seria o relacionamento futuro com a nova ordem social.

Recebemos então uma delegação do PAIGC, partilhámos bebidas e trocámos de armamento para as fotografias que imortalizam o momento. Posteriormente combinámos um jogo de futebol com o ex-inimigo, agora adversário no jogo da bola e como o resultado não estava a nosso favor e não admitia perder muito menos naquelas circunstâncias fui para a baliza e invertemos e resultado embora tenha ficado com algumas mazelas.

Também fomos convidados a assistir a um grande comício do PAIGC e estivemos presentes. Recordo com mágoa as lágrimas do Jalique Baldé, guia extraordinário que nos livrou de cair numa emboscada a 24 de Dezembro de 1973 em Mato de Cão. Detetou o IN no trilho pelo qual nos deslocávamos e que vinha na nossa direcção. Caíram eles na emboscada imediata que montámos.

De Missirá mantenho ainda, apesar de agnóstico, um cruxifixo que alguém deixou na tabanca onde pernoitava, que trouxe para Portugal e que mantenho na cabeceira. 

Desconheço a razão porque o faço e considero ser pouco racional este hábito e até pensei levá-lo na minha missão de voluntariado em 2018,mas como a ideia era deixá-lo em Missirá onde aliás não cheguei a ir, procurei deixá-lo em Portugal.

Ká pudi larga mezinho qui pudi salvar kurpu.(***)
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(**) Vd. postes de;

9 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18504: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (27): Visita de uma delegação do PAIGC a Missirá, em julho de 1974, no âmbito dos acordos de cessar-fogo - Parte I

12 de abril de  2018 > Guiné 61/74 - P18517: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (27): Visita de uma delegação do PAIGC a Missirá, em julho de 1974, no âmbito dos acordos de cessar-fogo - Parte II: Dando uma oportunidade à paz, depois de oito anos de guerra: os últimos dias dos bravos do pelotão

(***) 1 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21598: (In)citações (173): Padre José Marques Henriques, com 44 anos de vida sacerdotal na Guiné-Bissau, sobretudo como missionário mas também como capelão militar (menos de 6 meses, a seguir ao 25 de Abril): convite para integrar a Tabanca Grande (João Crisóstomo, Nova Iorque)