quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22775: O meu sapatinho de Natal (2): E eu ainda não era eu: conto de José Teixeira



Lourinhã > Praia da Areia Branca > 6 de junho de 2019 > A duna em flor...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Belíssimo conto que o Zé Teixeira mandou ao nosso editor LG e à Alice, no passado dia 12 de novembro, "neste tempo de festa da vossa Clarinha" (que fez dois anos, celebrados no Funchal)... Resposta do LG:

"Belíssimo conto, Zé, o que mandaste, a mim e à Alice, no passado dia 12 de novembro, 'neste tempo de festa da vossa Clarinha' (que fez dois anos, celebrados no Funchal)...

Embora não fosse essa a tua intenção como autor, o editor LG fez questão de o partilhar com os amigos e camaradas da Guiné, na certeza de que o vão ler e apreciar. Obrigado, Zé, em meu nome e da Alice, avós da Clarinha. E quando ela for maiorzinha, prometo lê-lo, em voz alta. Ficará a saber então que tem mais um "tio-avô" com grande sensibilidade humana e não menor talento, capaz de escrever um conto como este, tão cheio de ternura e tão "natalício". Um balaio cheio das melhores coisas da vida e do mundo, para ti, esposa, filhos e netos, coisas que não têm peso nem medida: saúde, paz, amor, esperança...Um abraço fraterno, Luís".


 
Conto: E eu ainda não era eu…


por José Teixeira

[ex-1.º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá Empada , 1968/70; fundador e um dos régulos da Tabanca de Matosinhos; "senador" da Tabanca Grande, tem mais de 360 referências no nosso blogue]

 

Fui gerada antes de existir, em sonhos de amor, espelhados num berço de oiro fino, talhado a quente pelos meus pais, em noites de luar.

Caminhavam pela praia de Matosinhos fora, em passada suave, para não assustarem a leve brisa outonal que esvoaçava pelo ar e lhes roçava a face com carinho, alimentando o doce sonho que emergia dentro dos seus corações, vigiados por milhares de gaivotas em descanso, mais a norte, junto ao belo edifício do Terminal de Passageiros, enquanto outras esvoaçavam sobre as suas cabeças numa deleitável dança, animada por melodiosos cantos de acasalamento.

De mãos unidas pelos dedos firmemente entrelaçados, deixavam-se embalar pela música das ondas, que ajoelhavam a seus pés cobrindo-os de beijos, e sem querer lhes perturbavam a linha de pensamento que os unia, ao mesmo tempo que deixavam as doces gargalhadas de prazer e felicidade ecoar no espaço sideral que os envolvia.

Milhões de lâmpadas celestes projetavam tímidos raios de luz, deambulando pelo cosmos às escondidas da lua em fase de quarto crescente, até se cruzarem com aqueles olhos que irradiavam centelhas de felicidade. Retiravam-se, então, intimidados com o brilho que saltava alegremente daqueles olhares, como os raios do néon do mais belo reclame sobre o dom da vida.

Sonhavam o meu futuro num livro aberto cujas páginas estavam virgens. Imaginavam-me sentada na areia a escrevê-lo com tinta indelével da água azul do mar que lhe beijava os pés. E eu ainda não era eu. Eu era apenas o sonho que comandava as suas vidas. Era a estrela que brilhava no horizonte sem idade, caminhando ao encontro da luz da humanidade, trazendo na bagagem mil coisas belas. As mais belas que o mundo pode ter, para os encantar.

Por vezes, surgiam pequenas nuvens que escondiam o luar e as estrelas lá no alto dos céus e eu, que ainda não era eu, ficava triste. Tão triste como eles. Fantasmas cavalgando incertezas. Sombras agoireiras sobre o meu futuro, logo dissipadas pela esperança do amor que os unia e pela fé que transforma montanhas.

De repente, num estremecimento, que eles recordam a cada momento, deram corda à paixão que os unia, recolheram-se nas rochas plantadas na praia e eu nasci do mais belo ato de amor que o Planeta Terra conheceu. Cheguei transportada aos ombros, pelos ventos da ternura que os unia. Ousei bater, de mansinho, à porta da vida, e entrei sem pedir licença, na certeza de que seria bem-vinda e escondi-me silenciosamente no ventre de minha mãe. Estavam entrelaçados numa conversa animada e não deram pela minha chegada. Os gestos de carinho e afeto, que partilhavam entre si foram para mim o feliz prenúncio de que era ansiosamente desejada e senti-me uma felizarda por ter uns pais que se amavam tão profundamente.

E continuavam a sonhar. Acalentavam o sonho da minha vinda e eu estava no meio deles. Ainda pensei em transmitir-lhes um sinal. Talvez um pequeno enjoo à minha querida hospedeira, mas decidi acompanhá-los no sonho. Que sublime sonho!

Um belo dia, a minha mãe, notando a falta dos sinais da sua feminilidade, deduziu que eu tinha ousado aflorar dentro de si e guardou em silencioso anseio um sinal mais concludente da minha presença.

Durou pouco tempo o seu silêncio. A sua expectante alegria foi tão intensa que meu pai deduziu que algo de bom estava para acontecer. Também ele sonhava poder acolher-me nos seus braços, sem saber que eu já estava bem escondidinha no coração de minha mãe. Um terno e profundo abraço, que só os verdadeiros amantes sabem dar e saborear, foi a forma que a minha mãe encontrou para lhe transmitir a sua ansiedade. Senti-os a correr à procura de uma médica amiga, a Suzana, que confirmou a minha chegada.

Só sei que meu pai ficou tão “tonto” com a notícia que escreveu um lindo poema, que guardo como o primeiro e o mais belo presente que recebi, e o dedicou à minha mãe.



Estrela que brilhas no horizonte sem idade,
Ousaste bater à porta da vida,
De mansinho,
E entrar suavemente,
Caminhando ao encontro da luz da humanidade.

Trazes na bagagem mil coisas belas
As mais belas que o cosmos tem
Para nos encantar.
Serás sol ao amanhecer,
Lua cheia ao anoitecer.

Vem, meu bem,
Nosso caminho alumiar
Com o teu sorriso de bonança.
Flor em botão,
Rosa ou cravo, não importa,
Tu nasceste antes de ti
Em sonhos de amor,
Espelhados em berço de oiro,
Carregado de esperança.

Tu recebeste o sopro da vida
Em ninho de amor-perfeito.
Tu projetas amor em teu redor
O amor que nasceu contigo.
Tu levas amor a quem te ama,
Tu enriqueces de amor quem te protege,
Tu acolhes o amor puro
Do amor que te gerou,
Porque tu és amor,
Tu és o amor da nossa vida.



E assim se iniciou a minha aventura neste mundo. Convidaram os meus avós para virem, no domingo seguinte, almoçar cá a casa. Nesse dia, foram à florista comprar as mais belas flores e coloriram as janelas, mesas e prateleiras da casa. Puseram sobre a mais rica toalha de mesa o faustoso serviço de jantar, oferecido como prenda de casamento pelos meus tios Zeca e Linda. A minha mãe aprimorou um cabritinho assado no forno para dar um prazer ao meu avô, enquanto o meu pai, que não é adepto de doçuras, preparava uma salada de fruta com todos os ingredientes, para a sobremesa.

Era meio-dia quando os convidados, que até parece terem combinado a hora de chegada, o que não creio ser verdade, apareceram, felizes e contentes por poderem partilhar em comum um dia de convívio com os seus filhos. Creio que a minha avó Sofia já suspeitava, e tanto assim que trazia um belo ramo de rosas brancas para oferecer à filha querida.

Quando os meus pais lhes abriram a porta da rua, os acolheram de sorriso aberto e eles descobriram a pulcritude que transpirava no interior da casa, foi-lhes fácil deduzir que havia felizes novidades para contar. Não foram precisas palavras para anunciar que eu tinha chegado.

Uniram-se, os seis, comigo no meio, num abraço do tamanho do universo para festejar a minha vinda a este mundo. A felicidade que transbordou dos seus corações encheu o meu ego. Ah! Como eu gostava de ter perninhas, por mais frágeis que fossem, para poder expressar em pulinhos de alegria a felicidade que se apossou de mim, ao sentir-me assim bem-vinda! Mas eu era apenas um pequenino botão!

Ali mesmo andei de colo em colo. Fui elevada aos píncaros do céu pela minha mãe. Senti os abraços repartidos, os sorrisos espelhados da alegria que os animava. Os mil conselhos que as queridas avozinhas teimavam em dar à minha mãe foram guardados em livro de oiro. Todos eram precisos. Bem! Todos não. Alguns, já tinham barbas brancas como as do avô Tomás, outros, eram tão lógicos e de senso comum, que minha mãe apenas dava um sorriso de aceitação e os enviava para a pasta do esquecimento que acauteladamente trazia consigo desde o momento em que sentira minha chegada.

O meu avô paterno ficou tão comovido que pegou na mão da minha mãe, encostou-a ao coração e deixou cair uma lágrima de felicidade pela minha chegada, mas a minha avó, logo recolheu a lágrima num lenço de papel cor-de-rosa e pediu para chamarem o INEM. Foi tamanha a confusão que até eu fiquei assustada. Minha avó só gritava: "Chamem o INEM! Chamem o INEM!"

O meu avô, com a sua voz grossa, disse: "Qual INEM qual carapuça! Então não posso deitar uma lagrimazita de comoção que já estou doente?! Não te preocupes mulher, que o meu coração está forte e sobretudo feliz por saber que vou ser avô. Descansem e desfrutem este momento, tanto quanto eu!"

Fiquei então a saber que o meu avô sofria do coração, mas afinal estava apenas comovido e logo passou o susto, para eles e para mim, que ainda não estava preparada para estas coisas.

Estranhamente, os meus pais ainda não me tinham dado um nome. Fora tão curto o tempo, desde o momento em que me geraram, que nem se tinham lembrado de um nome para mim. Talvez se tivessem lembrado: creio que minha mãe tinha pensado em Constança e o meu pai sempre gostou do nome Gabriel; mas para quê pensar num nome para mim se nem sequer sabiam se eu era rapaz ou rapariga?! Nem eu sabia!

O mais importante para eles, segundo deduzi das suas palavras e pensamentos, era criarem as condições ideais para eu ser bem recebida. Meus avôs é que não descansaram e logo se puseram numa disputa acesa, perante o gáudio dos meus pais, pelo interesse demonstrado em me batizarem. No prolongado almoço que se seguiu, em que eu fui o centro das atenções, ouvi chamarem-me Miguelito, Dani, Tecas, sei lá! Tantos nomes me deram que já me esqueci, mas nada ficou decidido.

Talvez Constança! …Talvez Gabriel ou Rafael…talvez Tomás em honra do meu avô paterno… defendiam os meus pais, com afinco.

E assim passámos um belo dia!

A meio da tarde, bem comidos e bem bebidos, fizerem um tchim! tchim! à minha saúde e à minha mãe, como portadora do tesouro mais querido da vida deles, e eu senti-me um pequeno príncipe no reino que eles estavam a construir, de sonho e de esperança.

Agora já sei que era uma princesa e me vou chamar Constança.

Despediram-se com abraços e beijos e muitos desejos de felicidades para a minha mãe e para mim. O meu pai até se deixou envolver por algum ciúme que logo desapareceu na ternura de um beijo que minha mãe lhe deu.

Meus pais, mal fecharam a porta da rua, entrelaçaram-se um no outro e deram-me muitos beijinhos. Estavam tão felizes e eu sentia-me tão bem no meio deles! Viver deve ser uma coisa fantástica!

Depois, muita coisa boa me aconteceu...

A minha mãe trata-me com mil cuidados. Até já aprendi com ela a gostar de música! Sempre que está em casa a descansar, porque eu estou a crescer e devo pesar muito na sua barriguinha, ela deita-se a ouvir música e eu deleito-me com ela. Ficamos as duas muito quietinhas em silêncio. Bem, eu porto-me mal, porque já tenho o prazer de brincar e de lhe fazer cócegas. Aproveito os momentos em que ela está deitada, para brincar com os pés, mas ela parece gostar e vai logo pôr a mãozinha dela por cima. Até chama o meu pai para ele sentir o meu pé a fazer-lhe cócegas. E riem-se muito!... É tanta a sua alegria que até eu rio de prazer.

Sei que já tenho um bercinho junto do leito onde meus pais descansam, para quando eu sair da barriga da minha mãe, dormir aconchegada ao lado deles. Passam a noite abraçados um no outro. O meu pai ressona um pouco, mas não me incomoda. A minha mãe é que por vezes acorda e ficamos as duas sonhar o meu futuro. 

Vou ter muitas bonecas e outros brinquedos. Depois vou para a escolinha brincar com outros meninos e meninas e vou ter uma bicicleta oferecida pelo meu tio Zeca. Eu vou ser uma mulher alta como a minha mãe e tão bonita como ela. Não! Acho que minha mãe será sempre mais bonita que eu. Mas serei uma boa estudante e vou aprender a tocar piano como ela. Parece que o meu pai gostava que eu aprendesse a nadar. Ele ainda não mo disse, porque quem fala comigo é a minha mãe. Ela fala-me muito do meu pai e do amor que os une. O amor deve ser uma coisa muito boa, porque foi no amor que eles me geraram e, segundo ela diz, eu vim alimentar esse amor. Como eu me sinto feliz e orgulhosa!

Agora que sinto a quentura do tempo de verão a enlaçar-me e a convidar-me a ir ao encontro do mundo que me espera de braços abertos, com sorrisos acolhedores e corações cantando de júbilo, é tempo de aceitar o desafio para sair do cantinho acolhedor que minha mãe construiu dentro do seu coração e partir para a vida, levando comigo uma vontade tremenda de construir um mundo novo, de mão dada com todas as pessoas de boa vontade.

José Teixeira
____________

Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22774: O meu sapatinho de Natal (1): Outono, uma refexão de Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 e CART 2732


1. Em mensagem do dia 1 de Dezembro de 2021, do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 / BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviou-nos um texto a que deu o título:

OUTONO

As notas da música caem compassadas com suavidade, sobre o meu cérebro, o meu coração já morreu por desgaste e mau uso. Música pura, sem palavras, que ameniza as adversidades e estimula a imaginação.
A estética, comum a todas as artes, cria pontes de comunicação entre elas, quando escrevo procuro muitas vezes a ajuda da música, essa arte tão universal, e tão ancestral como a linguagem. Os povos primitivos actuais e os que desapareceram dizimados pelos colonizadores fazem ou faziam sons com ritmo e harmonia, com conchas, paus, pedras, canas, outros utensílios simples e com as cordas vocais naturalmente.

O meu neto mais novo, agora com dois anos, desde muito cedo começou a tamborilar em todos os objectos disponíveis e adaptáveis que encontrava para esse efeito e a dançar ao ritmo dos sons que produzia.
Já o meu neto mais velho, quando tinha um ano, a avó deu-lhe um bombo que comprou nas festas da Senhora da Agonia, que teve que se tirar do seu alcance, porque ele não parava de batucar. Quando tinha três ou quatro anos ficava enlevado quando ouvia música clássica.

Nos meus tempos de garoto não havia rádio em minha casa, em toda a aldeia haveria rádios somente em duas casas. Alguns homens e rapazes tocavam gaitas de beiços a que chamavam realejos. Havia outros músicos, só já conheci alguns dado que a maioria era do tempo dos meus avós ou mais velhos. Tocavam guitarra, viola, violão, violinos e por vezes juntavam-se à noite a fazer "rondas" com música e cantigas, pelas ruas da aldeia.
Estive dois anos completos na Guiné, durante a vida militar, e nunca tive a sorte de assistir a um batuque africano, mais autênticos e genuínos embora menos elaborados do que os brasileiros. Buba, onde passei mais tempo, tinha uma população reduzida, vinte ou trinta milícias fulas, (tropas auxiliares), e as respectivas mulheres, nunca ouvi falar lá de qualquer cerimônia tradicional, com música e bailado.

Em Mansabá, para onde fui acabar a comissão, havia uma tabanca grande, de mandingas oingas, mas nada recordo das suas festas ou cerimônias.

Considero os povos africanos, apesar da sua pobreza, os mais felizes da Terra, porque dentro deles parece viver a melodia e o ritmo do Universo. Reparem no brilho do olhar e no gingar dos corpos das mulheres africanas, sendo mulheres mais sintonizadas com a criação e com o movimento e com o som, que o acompanha, dos astros.

Dia de outono, frio, com chuva, triste que se derrama, com neblina próxima, quase sem se mostrar. Tempo sem flores, com folhas multicolores que cobrem as árvores caducas e se vão desprendendo para atapetar o solo, ao ritmo da passagem dos dias da estação.
O tempo mudou ainda ontem era um dia de sol claro e eu sentado na esplanada deserta do Parque da Cidade, a admirar a natureza que me envolvia, que ao despedir-se do Verão, mostrava uma imagem decadente e bela.

Sempre gostei de esplanadas desertas ou não, para companhia uma bebida com espírito e a vista duma paisagem natural, com árvores, com campos, com floresta, com rio, mar por onde a vista se alonga e todo o nosso ser entra em comunhão com todos esses elementos essenciais e primordiais.
Dias curtos e claros de Outono, em que os raios solares mais oblíquos e menos fortes dão uma luminosidade mais calma e repousante a esta quadra, que em Novembro nos avivam as saudades dos nossos mortos, das festas com eles, com os magustos, em tempo frio, a descascar e comer os bilhós quentes (castanhas descascadas) à volta da lareira, nos mata-porcos com a companhia e o calor de toda a família alargada, avós, tios e primos.

Na continuação da quadra, com o frio seco do planalto, a ser combatido pelos toros da lareira, em Dezembro, entre verdades, milagres e mitos, a religião católica trazia-nos o renascimento da vida com o Natal que festejávamos como uma verdade sagrada.

Em Janeiro, a vida continuava com o mesmo ritmo, os mesmos trabalhos, com os mesmos deuses, santos e santas dos céus que nos protegiam de todos os males e que sem festejos nos davam entrada no Novo Ano, como se entrássemos na Eternidade que nos era prometida.

Bom Natal e Bom Ano Novo, a todos os camaradas e amigos!

____________

Nota do editor

Esta é a primeira colaboração, que se espera de muitas, deste Natal de 2021.
O mote está lançado, venham mais reflexões e histórias relacionadas com os nossos natais, seja os passados na Guiné ou os vividos em família.

Guiné 61/74 - P22773: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (92): O nosso camarada Serra Vaz quer fazer um estudo de toda a simbologia das Unidades Militares mobilizadas para as Campanhas de África (Mário Beja Santos / Serra Vaz)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Dezembro de 2021:

Caríssimo, bons dias
O Serra Vaz telefonou-me, explicou-me o que anda a fazer na heráldica militar, é matéria de que estou completamente afastado, mas acho que o blog pode contribuir.
Pensei no Coronel Pereira da Costa e no Zé Martins, seguramente que há outros camaradas que se interessem pelo estudo.
Vê se é possível fazer um apelo geral. Pedi ao camarada Serra Vaz que contactasse o Arquivo Histórico-Militar, não vejo outra instituição, talvez a Associação Portuguesa de Heráldica, mas tenho para mim que eles se dedicam mais à Heráldica da Nobreza.
Vê como podemos ajudar.

Um abraço do
Mário


********************

2. Mensagem do nosso camarada Serra Vaz, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 2335 (Madureira, Nambuangongo, Zala, Malange, 1968/70) enviada ao Mário Beja Santos:

Amigo e antigo camarada D´Armas Dr. Beja Santos

Os meus cumprimentos.
Na sequência do nosso telefonema, tal como lhe disse, sou também um antigo militar (Fur. miliciano) e actualmente na situação de reforma, dedico-me ao estudo de diversas matérias sobre a Guerra do Ultramar, sendo UMA das principais:

HERÁLDICA MILITAR. O estudo de toda a simbologia de TODAS as Unidades militares mobilizadas para os três teatros de operações das Campanhas de Africa 1961/74.

São milhares de Guiões; flâmulas; bandeiras; emblemas; crachás e também incluo o estudo das Divisas e nomes de guerra porque as duas coisas são indissociáveis: a imagem gráfica procura visualizar o sentido expresso pela Divisa, bem como, muitas vezes é esta que reforça a imagem.

Mas toda essa colorida panóplia decorativa que nós, os antigos combatentes (que nada sabíamos de heráldica) produzimos, deve ser analisada em termos de design gráfico e não como heráldica porque o não é.

Contudo ela está lá; está presente na muita influência e inspiração nas simbologias dos respectivos Regimentos mobilizadores.

Eu entendo que a investigação e o estudo destas matérias é também uma maneira de fazer Historia. É um “nicho” da história; é uma “pequena história“ ou uma “história menor", ou lá o que lhe queiram chamar, mas é HISTORIA.

Grato pela atenção dispensada, me subscrevo
Serra Vaz
E-mail:serlipe14@gmail.com
____________

Nota do editor

Último poste da série de 6 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22603: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (91): Agradecimento da investigadora Sílvia Espírito-Santo pela colaboração dos nossos camaradas em projecto sobre o Movimeno Nacional Feminino

Guiné 61/74 - P22772: A nossa guerra em números (9): dizia-se que a velha GMC, do tempo da guerra da Coreia, gastava no CTIG "cem aos cem"... E as nossas aeronaves, o AL III, o DO-27, o C-47, o T-6 e o Fiat G-91, quanto é que "mamavam" por hora ?...


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > O célebre e velhinho caça-bombardeiro T6 G, tanbém conhecido por "ronco", na pista de aviação de Bafatá, Em primeiro plano, o fur mil at nf da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) Arlindo T.Roda (, o grande fotógrafo da CCAÇ 12, juntamente com o Humberto Reis).   Os T 6G vão desempemhar um importante papel no final da guerra.... Mas eram "poupadinhos" em combustível (menos de 200 litros por hora em média), quando comparados com os "glutões" dos Fiat G-91 (c. 1800 litros em média, por hora).

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Foi,  ao ler o livro, hoje de consulta obrigatória para os estudiosos da história, economia, demografia e socioantropologia da guerra colonial (1961/74), "Os números da Guerra de África", de Pedro Marquês de Sousa (Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, 379 pp.), que eu me apercebi melhor da  altamente complexa  e dispendiosa logística, mantida em África ao longo de mais de década e meia, pelas nossas Forças Armadas (Exército, Marinha e Força Aérea) (*)...

Nenhum de nós, que esteve no TO da Guiné, alguma vez procurou saber, por exemplo, quanto custava:

(i)  uma viagem de DO-27, que nos vinha trazer o correio, de Bissau aos quartéis do mato e, às vezes, transporatndo  à boleia algum de nós, no regresso da licença para gozo de férias, e levando no regresso uma mulher em hora de parto ou a precisar de urgentes cuidados hospitalares;

(ii) a proteção do helicanhão (o "lobo mau"), no regresso de uma operação com contacto com o IN, e com mortos e/ou feridos das NT;

(iii) uma helievacução, com a enfermeira paraquedista a bordo (a Arminda, a Rosa Serra, a Giselda..:);

(iii) um bombardeamento a uma base do PAIGC, pelo Fiat G-91, no interior do território ou nas regiões fronteiriças (que era o limite da sua autonomia: ia a Buruntuma mas não podia parar para "partir mantenhas" com o pessoal");

(iv) a escolta do T-6 que, por vezes, acompanhava, a "ronvar",  a viagem de uma LGD carregada de "periguitos", pelo rio Geba acima (Bissau-Xime);

(v) a descolagem e a aterragem de um avião de transporte como o Dakota, C-47...

Não,  a malta não sabia, pelo menos a rapaziada que não foi à Guiné só para "ver navios"... Também havia, no céu, aeronaves de vários tipos e feitios... E que nos davam muita confiança... quando, cá em baixo, nos começava a dar a "caguça", nomeadamente o T-6, o helicanhão e o Fiat G-91 R-4... (Já do DO-27 não gostávamos tanto, sobretudo quando se "armava em PCV")...

Mas o ten cor Pedro Marquês de Sousa, doutorado em história militar, verdadeiro "rato de biblioteca", descobriu para nós, no Arquivo Histórico da Força Aérea, dados preciosos sobre o consumo de combustível de várias aeronavas da BA 12, Bissalanca, Guiné... 

2. A partir do consumo em litros, no mês de dezembro de 1968, e do nº de horas de voo, calculámos, por nossa conta e risco, o consumo médio por hora para cada tipo de aeronave... E os resultados são surpreendentes para um leigo, como nós:

a) o helicóptero Alouette III (ou Al III) gastava menos de l litro por minuto: grosso modo, 50 litros por hora, em média;

b) o DO-27 já gastava um pouco mais: 55 litros em média, por hora;

c) o velho  Dakota, C-47, triplicava o consumo: mais de 150 litros em média, por hora;

d) a velha máquina de guerra,  o T-6,  chegava quase aos 200 litros;

e) e o "Gina", o Fiat G-91 R-4,  batia o recorde, chegava quase aos 1800 litros.

Procurei confirmar, junto dos nossos camaradas Miguel Pessoa e António Martins de Matos, antigos pilotos de Fiat G-91 R-4 (B 12, Bissalanca, 1972/74), essa informação sobre o consumo de combustível do nosso "Gina"...

E na 1ª edição do livro do António Martins de Matos (hoje ten gen PilaAv ref), "Voando sobre um ninho de ' strelas' " (Lsboa, BooksFactory, 2018), pág. 67), lá vai a especificação técnica que eu procurava:

"O avião  era abastecido com 3.600 libras (1.800 litros) de combustível. Como regra geral os pilotos contabilizavam à volta de 1.000 libras para o pôr em marcha, rolar, descolar e subir, 600 libras até ao local, outras 1.000 libras para o regresso, o que sobrava era o tempo (combustível) que se podia utilizar na zona de operação" (pág. 67). 

E acrescenta: 

"No ponto mais afastado da Base (região de Buruntuma) e sem depósitos exteriores, o tempo que se podia estar sobre o objetivo era...zero".

O peso vazio do "Gina" era de 2 mil kg e o máximo à descolagam eram 4,7 mil kg (pág. 59). As missões  desta aeronave eram "quase sempre missões de combate": preparadas (ATIP), em reconhecimento (ATIR) ou em alerta (ATAP). A autonomia variava emtre os 55 minutos (sem "droptanks", os tanques exteriores de combustível) e a hora e meia (com "droptanks"). (pág. 65).

Podemos ainda concluir que, com 31 areonaves no ar, a BA 12, Bissalanca, gastou, em dezembro de 1968, cerca de 344 mil litros de combustível (Vd. quadro acima).

À face destes números, quem diria que o AL III era "uma arma cara" ("15 contos por hora") ?... A frase consta do relatório do comandante da Op Lança Afiada (,Sector L1, Bambadinca, março de 1969), o então cor inf Hélio Felgas (**).

Infelizmente, não temos dados globais sobre o consumo de combustível pela FAP nos três teatros de operações. Mas temos para Angola, por exemplo: diz o Pedro Marquês de Sousa, que "para as operações aéreas em Angola, a Força Aérea gastava todos os meses quase 1 milhão  e 200 litros de combustível"... 

Por outro lado,  e devido ao seu uso frequente, em Angola, o  helicóptero tinha um custo de 12 contos por hora, de acordo com dados do planeamento da Força Aérea (pág.313). 

Aqui a FAP gastava, em média, 7 mil contos só com combustível, no início da década de 1970 (, 2 milhões de euros a preços de hoje)... Sem contar com o custo das munições (balas, foguetes, bombas) que, "no caso das missões de ataque ao solo", representavam "70% a 80%  do custo total da operação" (pág. 313).

Como seria de esperar, o consumo de combustível para as aeronaves da FAP (e dos TAM)  foi aumentando com o decurso da guerra, com os inerentes custos... E com a crise petrolífera de 1973 devem-se ter agravado, nomeadamente os custos...
______________

Notas do editor:

(**) Vd. poste de 3 de dezembro de  2008 > Guiné 63/74 - P3557: Controvérsias (16): Eu, Jorge Félix, ex-Pilav de helis, a Op Lança Afiada e a honra da nossa Força Aérea

Guiné 61/74 - P22771: Parabéns a você (2010): Herlânder Simões, ex-Fur Mil Art da CART 2771 e CCAÇ 3477 (Nova Sintra, Guileje e Nhacra, 1970/72)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 1 de Dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22767: Parabéns a você (2009): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Mansoa e Mansabá) e Rep ACAP (Bissau) (1970/71)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22770: Efemérides (359): o 1º de Dezembro, as bandas filarmónicas e o patriotismo de ontem e de hoje...



Lisboa > Av da Liberdade > 1 de dezembro de 2017 >   6.º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas > Uma representação da banda da AMAL - Associação Musical e Artística Lourinhanense, cuja origem remonta a 1878: da esquerda para a direita, Pedro Margarido, presidente da União das Freguesias da Lourinhã e Atalaia; Paulo José de Sousa Torres,  diretor da AMAL (e meu primo em 3.º grau)  e a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro... O puto é o "porta-estandarte" da AMAL que tem uma escola de música e um grupo de teatro...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Brasão da SEA - Sociedade Euterpe Alhandrense, Alhandra. Diversas bandas filarmónicas por esse país fora foram criadas no 1º de dezembro (ou em homenagem ao 1º de dezembro): por exemplo,  Alhandra, Alpiarça, Atouguia da Baleia (Peniche), Azinhaga do Ribatejo (Golegã), Cuba, Encarnação (Mafra), Moncarapacho (Olhão), Montijo, Nossa Sra. das Misericórdias (Ourém), Pragança (Cadaval) ...  As bandas filarmónicas foram (e ainda são) "sociedades de recreio" mas também escolas de educação musical, artística e cívica... Em 2013 existiam 720 bandas filarmónicas, muitas delas centenárias.

1. Este ano, e devido ao agravamento da situação sanitária provocada pela 5ª vaga da pandemia de COVID-19, não haverá o já tradicional "Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas 1º de Dezembro", integrado nas comemorações do Dia da Independência, e que estava previsto para Lisboa.  Já o ano passado não se realizara, pelos mesmos motivos.

Estava previsto realizar-se hoje o 9.º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas, mesmo com um número  reduzido de bandas participantes (19, por comparação com as 37 que atuaram em 2019, espectáulo que teve transmissão direta pela RTP), e juntando músicos de várias gerações e dos mais diversos pontos do país. A saúde pública falou mais alto.

É uma evento organizada pelo Movimento 1º de Dezembro, Câmara Municipal de Lisboa e EGEAC, em parceria com a RTP. O 1º Desfile foi em 2012. Recorde-se que nessa altura  houve diversas reações da sociedade civil  em resposta à eliminação do feriado civil do dia 1 de Dezembro, determinada pela Lei nº 23/2012, de 25 de Junho de 2012.Dessas reações nasceu, por exemplo,  o Movimento 1º de Dezembro.

O desfile, entre a Avenida da Liberdade e a Praça dos Restauradores, juntando sempre para cima de 1500 músicos e mais de 3 dezenas de bandas, acaba com a interpretação final e conjunta, na Praça dos Restauradores, dos 3 hinos patrióticos, o Hino da Restauração, o Hino da Maria da Fonte e o Hino Nacional.

2. O nosso editor LG tem acarinhado, no nosso blogue, esta iniciativa (e outras mais antigas), sobretudo pelas suas recordações desta efeméride, que remontam à sua infância. Mesmo sem música, podemos recordar aqui alguns comentários que foram sendo deixados nos diversos postes (*):

(i) Tabanca Grande Luís Graça (Poste P18033)

Era uma festa, o 1º de dezembro, na minha vila da Lourinhã . Primeiro, porque era feriado, não se ia à escola, e segundo, porque a filarmónica local  (, fndadada em 2 de janeiro de 1878) percorria as ruas principais, com o povo e os putos atrás... Era um tradição que já vinha da Monarquia Constitucional, da República e que se manteve no tempo do Estado Novo... Como não sabíamos a letra do hino da restauração, cantarolávamos: "Ó Tí Zé da pêra branca"...

1 de dezembro de 2017 às 11:24

Vou ter o prazer de ver a banda da minha infãncia, a AMAL Associação Musical e Artística Lourinhanense, participar hoje. na Av da Liberdade, em Lisboa, na 6ª Desfile Nacional de Bandas Filarmónica...

É um banda centenária, fundada em 1878... Creio que é a 1ª vez que vemn a este desfile...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2017/11/guine-6174-p18029-agenda-cultural-614.html

1 de dezembro de 2017 às 12:04

(ii) Mário Vitorino Gaspar (Poste P18033)

O 1.º de Dezembro na vila de Alhandra é celebrado desde as 6/7 horas. A Banda Filarmónica da SEA (, Sociedade Euterpe Alhandrense, fundada em 1/12/1861) percorre toda a vila e presta Homenagens a todas as colectividades da terra. Curiosamente,  quase todas foram fundadas a 1 de Dezembro. Em cada sede tocam e sobem os músicos para beberem um copo. 

Todo o trabalhador acorda, tenha estado ou não de serviço durante a noite.  E os putos acompanhavam a Banda. Para a criançada da minha época a letra era: - "Tu não queres é trabalhar... Tum, tum, tum...". Gostaria de ter sido acordado em Gadamael com esta letra...

1 de dezembro de 2017 às 18:22 

(iii) César Dias  (Poste P18033)

Tinha 12/13 anos, no dia 1º de dezembro lá estavam as escolas da Grande Lisboa, representadas nos Restauradores, devidamente perfiladas com os uniformes da Mocidade Portuguesa, cantando o hino da Restauração.

Eram 4 horas difíceis para a rapaziada que nem podia arredar pé para as necessidades, daí os charcos q
ue se viam na Praça depois do toque de destroçar. Outros tempos.

(iv) Luís Graça (Poste  P18047)

Estive, como é habitual, nos Restauradores no desfile nacional de bandas filarmónicas, no 1º de dezembro, gosto que me vem da infância, quando seguia, atrás da banda local, agarrado ao capote do meu pai, pelas ruas da então vilória da Lourinhã, parodiando a letra do hino da 

Restauração: "Ó ti Zé da Pera Branca..., pum, pum, pum..."

Ao meu lado estava um casal de turistas, dinamarqueses, com ar de reformados, pessoas viajadas, instalados num hotel da Av da Liberdade... Metemo-nos à conversa, em inglês... Eles estavam encantados com toda esta movimentação de bandas filarmónicas e sobretudo com as crianças, os putos, muito compenetrados do seu papel, que compunham muitas das bandas... Foi um festival de alegria, juventude e saudável patriotismo... Os dinamarqueses, que adoram Portugal mais do que Espanha, diziam-me que no seu país (que eu, de resto, admiro) não havia nada disto...

(v) Luís Graça (excerto do poste P18047)

(...) Afinal, o que é ser hoje português? E o patriotismo, ainda existe e faz sentido? Pode ser uma reflexão (idiota) de um homem que um dia vestiu a farda do exército português para ir "defender a Pátria" a milhares de quilómetros de casa... Na Guiné, em 1969/71...

Qual a diferença e semelhança entre mim e os meus antepassados que lutaram na "guerra da restauração" (1640-1668), na sequência da rutura com a "monarquia dual" sob a qual Portugal viveu (entre 1580 e 1640), o mesmo é dizer sob o domínio do ramo espanhol da casa de Habsburgo.

Se a geração que fez a guerra colonial (1961/74) tivesse nascido por volta de 1620, teria lutado contra a Espanha dos Filipes em inúmeras batalhas por ex., Cerco de São Filipe (1641-1642); Montijo (1644); Arronches (1653); Linhas de Elvas (1659); Ameixial (1663); Castelo Rodrigo (1664); Montes Claros (1665); Berlengas (1666)... Mas também contra os holandeses no Brasil, em Angola, em São Tomé e Príncipe].

Que custo tem a independência de um país? O que é hoje ser independente? O que ganharam os aliados que nos apoiaram, e nomeadamente os ingleses? Sabemos que os ingleses ganharam um império e a autoestrada da globalização que lhes permitiu ser o 1.º país industrial do mundo... E os holandeses ocuparam boa parte das posições portuguesas na Ásia...

Não há alianças grátis...nem inimigos de borla... E nesse tempo, os portugueses tiveram mais sorte do que os catalães, debaixo da pata dos Filipes, como nós... Sorte?... Foi apenas a sorte 
das armas? (...) (**)

___________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


1 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16784: Agenda cultural (525): comemoração do 1º de dezembro: 5º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas: Lisboa, av da Liberdade, hoje , a partir das 15h: 1600 músicos, 35 bandas e agrupamentos de todo o país... Desfile culmina com a interpretação conjunta de 3 hinos patrióticos, Maria da Fonte, Restauração e Nacional

1 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12374: Agenda cultural (297): Comemorações do 1º de Dezembro, em Lisboa, na Av Liberdade, 14h30: 18 bandas filarmónicas e mais de mil músicos em desfile, culminando na interpretação conjunta de 3 hinos patrióticos, Maria da Fonte, Restauração e Nacional

Guiné 61/74 - P22769: Historiografia da presença portuguesa em África (292): "Atlântico, a viagem dos escravos", texto de Miguel Real, ilustrações de Adriana Molder, fotografia de Noé Sendas; Círculo de Leitores, 2005 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Fevereiro de 2021:

Queridos amigos,
O Centro Nacional de Cultura organizou em 2004 uma digressão pela Rota dos Escravos, tudo se iniciou em São Tomé e trepou até Santiago. Faz-se uma incursão pela História e de um modo geral o escritor Miguel Real, encarregado do relato da viagem, incumbiu-se bem, leu, documentou-se e dá o seu testemunho e agenda. Adriana Molder publicou ilustrações e Noé Sendas fotografou (infelizmente em tamanho reduzido). Sente-se que as roças estão gradualmente a ser recuperadas, aquele paraíso vegetal mantém o seu fascínio e estamos neste momento no forte recuperado pela Gulbenkian em 1990 de S. João Baptista de Ajudá, uma das placas giratórias do mercado de escravos do Golfo da Guiné. Já se falou de João Oliveira, grande contratador de escravos para o Brasil, teremos a seguir outra figura que entrou na lenda, Francisco Félix de Sousa, que tinha o título de "Chachá", terá sido o último grande negreiro português.

Um abraço do
Mário



A rota dos escravos, da Senegâmbia ao Golfo da Guiné (1)

Mário Beja Santos

Em setembro de 2004, no âmbito de um ciclo organizado pelo Centro Nacional de Cultura, um grupo partiu para o Atlântico e Costa de África em busca de vestígios da presença portuguesa, o tal ciclo denomina-se “Os Portugueses ao Encontro da Sua História”. Visitaram São Tomé, seguiu-se o Gabão, São João Baptista de Ajudá, o Senegal e depois Cabo Verde. Não se dá explicação por não ter feito parte desta rota a fortaleza de Cacheu, teve um papel primordial na transferência de escravos sobretudo para a ilha de Santiago, de onde depois partiam para vários pontos do continente americano e até Portugal. Pode-se especular não ter havido condições, a Guiné-Bissau vivia um período de turbulência, recorde-se o golpe de Estado que apeou Kumba Ialá, seguiu-se uma Junta Militar. O resultado dessa viagem é o livro "Atlântico, a viagem dos escravos", texto de Miguel Real, ilustrações de Adriana Molder, fotografia de Noé Sendas, Círculo de Leitores, 2005.

O escritor tece considerações sobre o fenómeno da escravatura, descreve o seu histórico e como todo este fenómeno entrou na nossa civilização e na nossa cultura. Os portugueses, como outros povos europeus, investiram a fundo na industrialização e internacionalização deste tráfico que era permutado com mercadorias europeias e brasileiras (têxteis, álcool, armas de fogo, cavalos, pólvora, aguardente, tabaco da Baía de terceira qualidade, entre outras). Os escravos africanos destinavam-se a mão de obra nas plantações de algodão, açúcar e café na América. “Ao longo de cerca de 400 anos, entre a segunda metade do século XV e a primeira metade do século XIX, teriam sido comprados em África entre 10 a 15 milhões de escravos, a maioria destinada ao continente americano, do Brasil e Perú até aos atuais Estados Unidos da América”. Está comprovada a presença de escravos africanos em Portugal já em meados do século XVI, exerciam trabalhos servis como o das calhandreiras (recolha matinal dos dejetos da noite em calhandras de barro malcozido). Miguel Real tece a seguinte consideração: “A cultura portuguesa não é uma cultura escravocrata, a civilização e o tempo histórico europeu em que nos integrámos, sim: a passagem em tempo longo da ruralidade medieval para o mercantilismo mundial forçou os europeus a procurarem mão-de-obra intensiva para a produção, vendo no negro a tábua de salvação económica”.

A viagem começa no Museu Nacional de São Tomé e Príncipe, instalado no antigo forte português de São Sebastião. Os visitantes são confrontados com as estátuas de Pêro Escovar, João de Santarém e António da Nóvoa e o escudo de Portugal derribado e quebrado em três partes. Visitaram numa das salas principais as barbaridades do massacre de Batapá, em 1953, cometidas contra a população negra revoltada pelos abusos do poder colonial português. “A ferida civilizacional abriu-se e cada um de nós, percorrendo o museu, sentiu-se confrontado com os atuais fantasmas malignos da História de Portugal – a escravatura, a exploração económica, o esmagamento da cultura negra. Pena foi que quando a Europa se pacificou e descolonizou, não a tivéssemos acompanhado, assumindo a nossa condição de verdadeiros colonialistas logo a seguir à II Guerra Mundial”. E tece considerações mais alongadas sobre a Rota dos Escravos e a respetiva economia, enfatiza a importância do açúcar para a transferência compulsiva de milhões de africanos transferidos para o continente americano, mas não esquece que tudo começou na Madeira (onde não houve escravos na plantação) e depois São Tomé, mais tarde as plantações brasileiras. Estimam-se em cerca de 13 milhões os africanos da sua terra natal e forçados a colonizar a América ao longo de cerca de 400 anos. A compra de escravos tornou-se um investimento vultuoso. No final dos tempos de escravatura, o tráfico negreiro transportava sobretudo crianças e adolescentes, tentando prolongar-lhes a vida ao máximo e reproduzindo-os em uniões forçadas (os criatórios). “Com a plantação do açúcar no Brasil e nas colónias espanholas da América Central, nasce uma nova economia de âmbito internacional, preparando a futura globalização do mundo: mão-de-obra africana, vastas terras americanas e organização e capitais europeus. Nesta fase, Madeira, Cabo Verde e São Tomé tinham abandonado a sua antiga importância colonial, as duas últimas limitavam-se a ser entrepostos de escravos”.

E o grupo prossegue viagem, visitará roças, algumas delas em completa ruína. O autor vai fazendo citações sobre a importância das carreiras de escravos, como São Tomé, São Jorge da Mina, as feitorias da Guiné e adianta uma referência: “Colónia açucareira e plataforma giratória da frota negreira, São Tomé reexporta para a América Portuguesa indivíduos mais resistentes às doenças europeias ou oriundas do litoral africano, falando a ‘língua de São Tomé’. Para o colonato são-tomense, traficar negros torna-se mais interessante do que plantar cana. No início do século XVI a ilha contava com 2 mil escravos fixos e de 5 a 6 mil itinerantes à espera de embarque para outros mercados. Nos anos seguintes, os são-tomenses passam a fazer o trato entre Benim e a Mina ao mesmo tempo que puxam os mercados do Congo para o sistema atlântico”. São elementos retirados de um historiador brasileiro, Luís Felipe de Alencastro.

E o autor volta a fazer uma citação, desta vez retira-a do livro A Manilha e o Limbambo, A África e a escravidão de 1500 a 1700, do embaixador Alberto da Costa e Silva, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2002: “São Tomé mostrou um rápido progresso. Era todo um êxito como centro experimental do que viria a ser a colonização e a exploração europeia nos trópicos húmidos. Ali faziam-se ensaios com gente, plantas, animais, formas de trabalho e fontes de lucros. Ali testavam-se novas maneiras de tratar a terra, de adaptar os vegetais importados, de organizar a mão-de-obra servil e dela retirar o maior proveito possível, de unir numa só classe proprietários da terra e comerciantes, de fazer dos mestiços intermediários entre senhores e escravos”. Visitam as roças, ficam assombrados com o folclore, e era inevitável assistir à peça Tchiloli representada pelo grupo de teatro Formiguinhas da Boa Morte, o grupo representou o seu espetáculo maior, a Tragédia do Imperador de Mântua e do Imperador Carlos Magno, inspirado no auto do século XVI do dramaturgo cego madeirense Baltasar Dias, da Escola Vicentina. Para além desta tragédia do Marquês de Mântua, o grupo tem em cartaz a Tragédia do Capitão Congo e o Auto da Floripes, peças provindas dos séculos XVI e XVII. A descrição das roças é de grande beleza.

E partem para o Museu das Artes e Tradições do Gabão, Miguel Real aproveita para comentar a similitude de instrumentos musicais africanos e brasileiros, a miscigenação do animismo africano com a doutrina cristã e lança-se depois numa narrativa sobre a chamada Passagem do Meio (travessia do Atlântico), o escravo depois de capturado era acartado num batel para o navio veleiro e daqui transportado para a América. Chegado a uma outra realidade, o escravo conhecia os rudimentos da religião cristã, aprendia uma nova língua, era enquadrado numa atividade laboral intensa, adaptava-se a um novo regime alimentar. De novo o autor destaca a mortalidade no decurso destas viagens, a seleção feita nas feitorias por mestres negreiros, embarcado cada um para o seu lugar de trabalho, o pai podia ir para o Recife, a mãe para Hispaniola, o filho para a Jamaica e a filha para a Virgínia, nunca mais saberiam uns dos outros. Visitam Cotonou, uma das mais importantes cidades do Benim, embrenham-se nos cheiros africanos, na cor dos mercados, dá-se uma pitada de História. “Diferentemente de S. Tomé, o Benim possuía já uma História milenar antes dos portugueses aportarem ao Golfo da Guiné na segunda metade do século XV. Presume-se ter sido João de Santarém e Pêro Escobar que, ao serviço do mercador Fernão Gomes, teriam pela primeira vez navegado pelo litoral do atual Benim, embora Rui de Pina afirme ter sido João Afonso de Aveiro, em 1484. As primeiras amostras de malagueta africana terão vindo do Benim para Lisboa, que as reenviaria para a feitoria da Flandres, iniciando assim um comércio intenso que conduzirá à designação inicial da Costa do Benim como Costa da Malagueta, posteriormente substituída por Costa dos Escravos”.

E fala-se do vodu, admite-se que mais de metade da população dos países do Golfo da Guiné e quase 80% das comunidades rurais da região o praticam, independentemente das regiões monoteístas que aqui se implantaram, a população continua a adorar os seus deuses primitivos. A palavra vodu significa potência invisível ou em português espírito. Os vodus são os espíritos que tomam conta das forças naturais. Retomando a história, Portugal foi dos poucos países europeus com fortes contactos com o reino do Daomé, hoje incluído no Benim. Desde o século XV, traficando malagueta, marfim, algum escasso ouro, depois escravos, em troca de ferro, tabaco de baixa qualidade, vidro, sedas e cetins, armas, pólvora e muita quinquilharia. “Até ao século XVII, a forte procura dos escravos situa-se na zona Norte do Golfo da Guiné, entre os atuais Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau e Guiné Conacri, e na vasta região entre o Congo e Angola com o transporte dos escravos feito por S. Tomé e Cabo Verde. É a partir de inícios do século XVIII que a Costa da Malagueta é amplamente buscada por europeus, pela compra e venda de escravos, instalando-se então no litoral do Daomé feitorias (sem a imponência do Forte de São Jorge da Mina) por Portugueses, Franceses, Ingleses e Dinamarqueses que passaram a abastecer de negros os mercados de escravos de toda a América".

E o autor, em 9 de setembro de 2004, por aquelas terras de Benim, passa à reflexão:
“Aqueles de entre nós que conhecem o Brasil sabem que a terra que hoje pisam constitui o berço cultural e social de mais de metade do povo brasileiro e que os veios nervosos de grande parte da atual cultura brasileira radicam-se nos costumes religiosos, gastronómicos e antropológicos desta vasta região, da Nigéria ao Togo e à Senegâmbia, tendo como centro ativo os diversos cais de embarque da costa do Benim, mormente de Ajudá, Onim e Porto Novo. Da religião das etnias do Benim nasceu o vodu jamaicano, antilhano e haitiano, e o candomblé brasileiro, da sua alimentação nasceu a moqueca e o acarajé brasileiros, das festas religiosas e dos instrumentos musicais de iniciação vodúnica das etnias fon e ioruba nasceram o agôgô, os atabaques, o berimbau, e do panteão dos seus deuses nasceu o panteão dos orixás”.

O passo seguinte é a visita a S. João Baptista de Ajudá, que foi recuperado pela Fundação Calouste Gulbenkian na década de 1990. Com o país independente, em 1960 dirigiu-se ao regime de Salazar o abandono do forte, o ditador mandou incendiá-lo. E vem a descrição: “O forte, de um quilómetro quadrado de área, construção de 1721, foi transformado em museu histórico de Ajudá em 1967. Dependente do governador de São Tomé e Príncipe, depois integrado no vice-reinado do Brasil e, ainda, durante o tempo do consulado do Marquês de Pombal dependente da Companhia Geral de Cabo Verde e Rios de Cacheu, o forte atravessou um conjunto de vicissitudes, ao longo dos séculos XVIII e XIX, que espelham bem a política colonial portuguesa para África, apenas interessada, até ao Ultimatum inglês de 1890 na exploração das riquezas costeiras, sobretudo escravos, ao mais baixo custo possível, totalmente divorciada de uma política de povoamento (…) O forte, ainda que formalmente português, viveu sempre em profunda dependência dos caprichos dos reis do Daomé, tendo sido inúmeras vezes assaltado e os seus diretores presos e expulsos de Ajudá consoante os interesses dos régulos e a quantidade de prendas que os portugueses lhes ofereciam em armas de fogo e pólvora, rolos de panos de seda e cetim e barricas de aguardente”.

Importa dizer que o grande tráfico de escravos sob a bandeira portuguesa iniciou-se ainda na primeira metade do século XVIII e centrou-se nos embarcadouros de Ajudá, de Porto Novo, Jaquim e Onim, todos perto do primeiro. É altura de falar de um escravocrata lendário, Francisco Félix de Sousa, que fora antecedido pelo negro João de Oliveira como atravessador de escravos entre África e o Brasil, este João Oliveira notabilizou-se como exportador para Pernambuco, Baía e Rio de Janeiro, é do seu tempo a introdução do negócio das folhas de tabaco como material de permuta por escravos. Falemos então de Francisco Félix de Sousa.

(continua)


São Tomé e Príncipe, estátua dos descobridores
Fortaleza de S. João Baptista de Ajudá, Benim
Entrada da Casa dos Escravos, Ilha da Goreia, Senegal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22746: Historiografia da presença portuguesa em África (291): O estudo "Gonçalo de Gamboa de Aiala, Capitão-mor de Cacheu, e o Comércio Negreiro Espanhol, 1640-1650", por Maria Luísa Esteves; Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, 1988 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22768: Efemérides (358): Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes, Lisboa, 19 de outubro de 2021 (João Crisóstomo, Nova Iorque)


Foto nº 1 > Lisboa > Panteão Nacional > 19 de outubro de 2021 > Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes > No final da cerimónia tive ocasião de me associar e dar os meus parabéns à família (descendentes) de Aristides de Sousa Mendes, na pessoa dum dos seus netos, Silvério de Sousa Mendes que aqui liderou a representação da família.



Foto nº 2 > Lisboa > Panteão Nacional > 19 de outubro de 2021 > Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes > A arquitecta Luisa Pacheco Marques tem sido uma das pessoas que muito tem trabalhado para a reabilitação da memóia de Aristides de Sousa Mendes. Entre os seus trabalhos contam-se as grandes exibições "Portugal, last hope” em Nova Iorque; no Luxemburgo: "Portugal, país de esperança em tempos difíceis"; o Museu Virtual Aristides de Sousa Mendes e o Museu em Vilar Formoso, um trabalho conjunto com a jornalista Margarida Ramalho, maioritariamente sobre Aristides e refugiados salvos por ele.

No meu lado direito está Leah Sills, cuja família foi salva por Sousa Mendes e esteve aí representando a “Sousa Mendes US Foundation”.


Foto nº 3 > Lisboa > Panteão Nacional > 19 de outubro de 2021 > Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes > Um grupo de "participantes/activistas” presentes na cerimónia. No meio do grupo pode-se facilmente reconhecer Gerald Mendes, neto do nosso humanista, presente frequentemente, senão mesmo em quase todos as cerimónias em honra de seu avô. Já no ano 2001 eu tive oportunidade de realçar o seu muito interesse em trabalhar pelo reconhecimento de seu avô, dando-lhe, em nome da International Raoul Wallenberg Foundation, a medalha “Aristides de Sousa Mendes” que esta na altura mandou cunhar para o efeito
.


Foto nº 4 > Lisboa > Panteão Nacional > 19 de outubro de 2021 > Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes > A placa alusiva a Aristides de Sousa Mendes, honrando a sua presença no Panteão.


Foto nº 5 > Carregal do Sal > Cabanas de Viriato > Cemitério local > c. setembrro de  2021 > Ainda recentemente tinha visitado o jazigo da família de Aristides de Sousa Mendes em Cabanas de Viriato onde, por decisão da família, os restos mortais de Aristides de Sousa Mendes continuam, não obstante a  Concessão de Honras de Panteão Nacional  que foi dada pelo Parlamento Português a este nosso herói. No cimo do jazigo pode-se ver o brasão de Aristide de Sousa Mendes. 

Fotos (e legendas) : © João Crisóstomo  (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de João Crisóstomo, um dos activistas que, desde 1996, mais contribuiu em todo o mundo para a reabilitação da memória de Aristides de Sousa Mendes (*). A residir em Nova Iorque desde 1975, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67). É membro da nossa Tabanca Grande.

Data - segunda, 15/11/2021, 14:16


Assunto - 
Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes



Caro Luís Graça,

Fiquei de te enviar umas fotos que tirei no Panteão em Lisboa em 19 de Outubro, no dia em que o nosso grande humanista Aristides de Sousa Mendes recebeu finalmente o reconhecimento e tributo que desde sempre lhe devemos: um lugar entre alguns dos verdadeiramente grandes na nossa história que no Panteão Nacional assim são reconhecidos. A um mês do evento saiu mais um artigo numa grande revista, neste mês de Novembro, que não posso deixar de mencionar.

Devo confessar que para mim este foi para mim, e verifiquei com muita satisfação para alguns outros presentes que comigo têm trabalhado nesta causa e aí se encontravam, um momento emocionante.

Em 1996 uma pessoa amiga, Anne Treseder, uma advogada americana amiga de Portugal e dos portugueses que vivia na Califórnia e que quando tentava aprender português tinha sabido da vida de Aristides por um dos seus netos, Carlos de Sousa Mendes, falou-me de Aristides de Sousa Mendes. E constatei na altura que, como eu até aquele momento, ninguém em Nova Iorque conhecia este homem e o que ele tinha feito em 1940. 

Ao contactar pessoas em Portugal para mais informações verifiquei surpreendido que também aqui poucos o conheciam. Isto levou-me a querer conhecer mais. Contactei então alguns dos seus familiares, em Portugal e nos Estados Unidos, especialmente John Paul Abranches, o seu filho mais novo que residia então na Califórnia. E quando me apercebi da sua grandeza e da grande injustiça de que havia sido vítima, não pude ficar parado e comecei imediatamente a trabalhar para que este nosso grande humanista deixasse de ser um ilustre desconhecido dentro e fora de Portugal.

Este reconhecimento agora vinha ao encontro e era resultado dos muitos esforços de muitos indivíduos e de longos anos também. Alguns deles, como Jaques Riviere em França e Anne Treseder nos Estados Unidos até já não se encontram entre nós; e outros, estando longe, como Manuel Dias em França, não puderam estar presentes. Mas para os presentes este não podia deixar de ser um momento muito especial. Mesmo que, como muito apropriadamente me fez notar um dos presentes, a maioria dos que por muitos anos tinham trabalhado a sério para a reabilitação deste nosso herói, se encontrassem naquele momento em "lugares discretos" no meio da audiência "fora das luzes”, enquanto indivíduos que, em comparação pouco tinham feito, se encontravam agora na frente nas "filas importantes”… Como sucede sempre em casos assim.

Mas isso não interessava no momento. O importante era que Aristides de Sousa Mendes estava finalmente entre alguns dos muitos que contribuiram para o melhor da história de Portugal.

E digo “alguns" porque nem todos os grandes e insignes da nossa história constam aí. Encontram-se aí sepultados (ou transladados) os restos mortais de alguns (não de todos os que deviam, mas compreende-se a dificuldade!) dos nossos grandes como Almeida Garret (1799- 1854) o primeiro por ordem cronológica, Aquilino Ribeiro, Guerra Junqueiro, Humberto Delgado, e outros de lembrança relativamente recente. Aristides de Sousa Mendes, cujos restos mortais continuam no jazigo da família em Cabanas de Viriato fica aqui homenageado com uma placa. Mas está bem acompanhado, como se pode ver por outros também representados aqui em semelhantes circunstancias: D. Nuno Álvares Pereira, Luís de Camões, Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque, Infante D. Henrique, Pedro Álvares Cabral.

A modo de reflexão se me permites: Este momento em que Aristides de Sousa Mendes entrou no nosso Panteão Nacional foi, de alguma maneira também um momento de alívio. Ainda recentemente vimos a sua memória lembrada e reconhecida no Vaticano quando o Papa Francisco a 17 de Junho de 2020 mencionando nesta data Aristides de Sousa Mendes e o seu agir em 1940 consagrou este dia como o “Dia da Consciência” (**). 

 E por toda a parte, mundo fora, o seu nome deixou de ser desconhecido, como atestam os muitos trabalhos e reportagens mediáticas a seu respeito. Entre os que merecem destaque permito-me salientar um grande e bem escrito artigo na conceituada revista “Smithsonian” que neste mês de Novembro: a revista dedica catorze páginas ao nosso grande humanista. A partir deste momento o invocá-lo agora não é mais uma necessidade para desfazer uma injustiça, antes uma maneira de, em momentos difíceis, dele recebermos inspiração e motivação. O meu “envolvimento" será pois muito diferente depois deste acontecimento. (***)

É neste contexto que espero a sua memória venha a ser invocada e objecto de foco e ênfase a partir de agora: que o seu exemplo em seguir a sua consciência em momentos e situações de difícil escolha seja agora inspiração para todos. Situações e casos não faltam na situação de perigo e ansiedade em que o nosso planeta, devido à nossa irresponsabilidade em todos os campos e sentidos se encontra já neste momento. 

 Agora que estamos todos já a experimentar e a sofrer os efeitos das "mudanças de clima”, vamos focar os nossos esforços neste sentido: que a nossa consciência nos leve a envolvermo-nos todos para salvarmos o nosso planeta, enquanto ainda há tempo e possibilidade de o fazer. Na ocasião da COP 26 em Glasgow, o Cardeal Pietro Parolin fazendo-se eco do Papa Francisco, dizia: “estamos a presenciar a mudança duma época e um desafio à nossa sobrevivência como civilização”;... “não podemos deixar um deserto aos nossos filhos".

António Guterres foi igualmente bem claro na sua mensagem: ”O nosso planeta frágil está por um fio. Ainda estamos a bater à porta da catástrofe climática. É tempo de entrarmos em modo de emergência…”

Para ti e Alice (e a Vilma associa-se mim neste) um grande abraço, extensivo a todos os meus caros "camaradas da Guiné". 

João Crisóstomo, Nova Iorque
_____________

Notas do editor:

(*) Vd poste de 13 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22623: Convite (18): O nosso camarada João Crisóstomo vai estar presente na Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes, no próximo dia 19 de Outubro pelas 11 horas

Guiné 61/74 - P22767: Parabéns a você (2009): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Mansoa e Mansabá) e Rep ACAP (Bissau) (1970/71)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 de Novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22752: Parabéns a você (2008): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art da CART 2412 (Bigene, Guidage e Barro, 1968/70) e Manuel Lima Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3476 (Guileje, Nhacra e Bissau, 1971/73)

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22766: Fichas de unidades (22): CCAÇ 4541/72 (Caboxanque, Jemberém, Cadique, Cufar e Safim, 1972/74)



Guião da CCAÇ 4541/72 (Caboxanque, Jemberém, Cadique, Cufar e Safim, 1972/74).
Coleção: Carlos Coutinho (com a devida vénia...)




Guiné > Região de Tombali > Caboxanque > CCAÇ 4541/72 (Caboxanque, Jemberém, Cadique, Cufar e Sanfim,  1972/74) >  c. março de 1974 > Caboxanque > "Monumento em memória dos combatentes da CCaç 4541, "Os Impossiveis".  A companhia regressou a  Bissau em março de 1974.

Foto (e legenda) : © José Guerreiro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Fichas de Unidades > Companhia de Caçadores nº 4541/72 (*)

Identificação: CCaç 4541/72

Unidade Mob: RI 15 - Tomar

Cmdt: Cap Mil Inf António Pais Dias da Silva | Cap Cav Fernando Emanuel de Carvalho Bicho
| Cap Mil Inf António Pais Dias da Silva

Divisa: "Os Impossíveis"

Partida: Embarque em 21Set72; desembarque em 21 Set72 | Regresso: Embarque em 25Ag074

Síntese da Actividade Operacional

Após a realização da IAO, de 29Set72, no CIM, em Bolama, seguiu em 290ut72 para Bula, a fim de efectuar o treino operacional com a 1* Comp/ BCav 8320/72 e, a partir de 12Nov72, assumir as funções de subunidade de intervenção e reserva do sector do BCav 8320/72, em substituição da 3.ª Comp/ BCav 8320/72, já anteriormente transferida para outro sector, tendo efectuado várias acções ofensivas nas regiões de Choquemone e Ponta Matar, entre outras.

Em 01Dez72, substituída por dois pelotões da 2ª Comp/BCav 8320/72, recolheu, transitoriamente, a Bissau.

Em 12Dez72, a subunidade deslocou-se para a zona Sul, sendo colocada em Caboxanque, onde assumiu a responsabilidade do respectivo subsector, então criado, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 4 e depois do BCaç 4514/72. Por períodos variáveis, destacou, temporariamente, pelotões para reforço da guarnição de Cadique.

Em 12Fev74, apó a chegada da CCav 8355/73 para treino operacional e a sua rendição no subsector de Caboxanque pela CCav 8352/72, ali colocada do antecedente em reforço da guarnição, seguiu para Safim, a fim de substituir a CArt 3521.

Em 06Mar74, assumiu a responsabilidade do subsector de Safim, com destacamento em João Landim e Capunga, ficando integrada no dispositivo e manobra do COMBIS.

Em 15Ag074, foi rendida no subsector de Safim pela CCav 8355/73 e seguiu para Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso. (**)

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 114 - 2.ª  Div/4.ª Sec, do AHM).

Fonte : Adapt de CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág. 417
____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 26 de outubro de  2021 > Guiné 61/74 - P22662: Fichas de unidades (21): CCAÇ 2592 / CCAÇ 14 (Bolama, Contuboel, Cuntima, Farim, Binta, Jumbembem, Canjambari, Saliquinhedim / K3, 1969/71)