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domingo, 29 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22495: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (30): Bacalhau com couves no forno, à moda da minha avó Maria, que era do Minho (Valdemar Queiroz)

Foto: Cortesia da página do Facebook da Academia do Bacalhau de L.I.


1. Já o verão vai a caminho do outono e, depois, do inverno... Aliás, há um aforismo (da metereologia popular) que diz, "Primeiro de Agosto, primeiro de Inverno",,,

Tenho pena de quem não fez praia, por mil e uma razões, se calhar a primeira das quais é a constatação de que o tempo também já não é o que era... Ora o céu está nublado,  ora a nortada corta a respiração, ora o banheiro não mandou ligar o aquecimento central,  ora as marés roubaram a areia à praia, ora a senhora Covid-19 é que passou a ditar a moda...

Confesso que este ano não fiz praia. Já não o fiz, o ano passado. "Fazer praia",  para mim significava, desde há uns anos largos, fazer umas boas caminhadas, ao longo do areal, na maré vazia, de preferência de manhã, em praias com rocha e muito iodo... Por outras palavras, apanhar logo uma bebedeira matinal de azul, sol, sal e iodo...no "meu querido mês de agosto"... Que não o é mais...

Por agora, limito-me a ficar na esplanada,à beira-margem,  a apanhar sol,  a ler ou a escrever , a blogar,  a ver o mundo s passar a passar e, de tempos a tempos, comer um choquinho frito, à hora do pôr do sol. Há prazeres na vida cujas memórias emocionais a gente vai  levar para a outra vida... Se nos deixarem, claro, passá-las, lá na alfândega que há entre a terra e o céu... Duvido, no entanto,  que deixem passar o nosso contrabando...

Para já não sei quando (nem muito menos se...) posso voltar às minhas caminhadas da Praia da Areia Branca até ao Paimogo, passando pelo Vale de Frades e o Caniçal... E  a "cartografar" as rochas, com  a máquina fotográfica em punho ou a tiracolo... Lamentavelmente, já nem fotografia faço... 

Enfim, espero que o meu ortopedista, esse, sim,  faça um milagre lá para outubro ou novembro... É bom, amigos e camaradas,  acreditar em milagres, mesmo quando se  é um homem de pouca fé...

2. Mas já que falamos do verão fugidio e incerto de 2021, do verão do nosso descontentamento, é de perguntar: e as nossas comidinhas, amigos e camaradas ? 

Desde a primavera que não publicamos um poste da série " No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande"... O último foi o nº 29, com data de 22 de abril de 2021 (*).

A "chef" Alice, cá pelos meus lados, no meu "restaurante favorito", continua a fazer coisas boas, e às vezes muito boas: por exemplo, um arrozinho de lingueirão, há dias,  ou um xarém de ameijoas (, que aqui não há conquilhas), prometido para a próxima semana, a par de um espadarte grelhadinho... Coisas que não tenho publicado para que não me acusem de "favorecimento pessoal" e de "concorrência desleal"... E falo dela, da "chef" Alice, porque eu nem para ajudante  sirvo: sei abrir umas ostras, cortar ao meio um lavagante ou preparar uma sapateira... Ah!, sei abrir também latas; de atum, de feijão, de grão de bico...

Mas, como os nossos vossos vagomestres andam pouco criativos ou falhos de iniciativa, vou ter que arrancar com o material que há... E este é do bom, é do nosso Valdemar Queiroz que, pese embora a sua costela minhota, ainda está de longe nos poder e querer  revelar todos os seus secretos dotes culinários...


3. Escreveu o Valdemar Queiroz, em comentário ao poste P22494 (**);


João Crisóstomo, peço desculpa de, num poste atrasado, ter chamado "Encontros do Bacalhau" à ilustre e internacionalmente famosa "Academia do Bacalhau".

Não há dúvida, o bacalhau faz parte do ADN dos portugueses.

Teria sido o meu conterrâneo navegador-armador João Álvares Fagundes (c.1460-1522), a quem se deve o reconhecimento de parte das costas do nordeste americano, quem começou a comercializar o bacalhau que, depois de salgado e seco, servia de alimento nas grandes viagens dos Descobrimentos e nos períodos de abstinência / jejum de comer carne.

Depois, foi o nunca mais parar, confecionado de 1001 maneiras, e que toda a gente gosta.

Nas minhas várias idas aos Países Baixos, à casa do meu filho, habituei os brabantinos da família (Brabante, Província Neerlandesa fronteira com a Bélgica) a comer bacalhau, que eles chamam "kabeljauw" (lê-se: "cabaliau"), na ceia de Natal e agora atiram-se ao bacalhau para assar na brasa de que também gostam.

Só para dar apetite, vai uma receita que a minha avó Maria (***) fazia, às vezes, em dias de fornada de pão:

Ingredientes:

Bacalhau demolhado
Folhas de couve
Linha grossa
Batatas
Cebola
Azeite
Broa de milho

Modo de fazer:

(i) depois do bacalhau demolhado, passar folhas de couve por água fria; 

(ii) descascar e cozer as batatas;

(iii)  a postas de bacalhau são envolvidas na couve e seguradas com linha grossa para ir ao forno;

(iv) enquanto estão no forno, estando as batatas cozidas, cortam-se às rodelas e alouram-se em azeite na sertã;

(v) as postas são retiradas do forno quando as folhas de couve secarem completamente;

(vi) retira-se a linha, colocam-se as postas numa travessa juntamente com as rodelas das batatas fritas;

(vii) e para finalizar põe-se por cima cebola às rodelas finas e rega-se com bastante azeite;

(viii) acompanha-se com broa de milho... e tinto ou branco do melhor!

E depois vai um 'Vai Acima, Vai Abaixo, Vai a Cima e Bota Abaixo', que deste já não há mais.

Valdemar Queiroz

PS - A receita do bacalhau não era propriamente da minha avó Maria, em várias casas também era assim feito em dias de 'cozedura' da broa de milho. A minha mãe, em Lisboa, fazia no forno a gás. No forno a lenha, sobrava calor para as couves com 'cosedura' em volta do bacalhau a assar.

Mas, como andas de braço dado com uma afamada cozinheira de estrelas Michelin, podes chamar, será a 1002, "Bacalhau da Queiroza à moda da Alice".


4. Eu prometi publicar-lhe a receita, em honra dele, que é um homem "sozinho em casa, resistente e resiliente, que brinca com a sua DPOC, quando ela deixa".... E aqui vai, mesmo não tendo nenhuma foto do petisco (, publico a imagem do emblema da Academia do Bacalhau de Long Island, Nova Iorque), nem sabendo como a avó Maria chamava a este prato, lá do seu Minho, região donde se diz que "não há receita má... nem fome boa":

"Bravo, Valdemar, só preciso de arranjar uma foto à maneira, depois publico a receita da avó Maria na nossa série do "Comes & Bebes"... Este saber gastronómico lusófono (mais do que lusitano), que passa de geração em geração, não pode perder-se!... Bolas, e ainda falta tanto tempo para o Natal!... Luis"

PS - Recordo que a avó Maria era de Afife, Viana do Castelo, onde o Valdemar viveu até aos 9 anos. (***)
_____________

Notas do editor:

(*) Últimas sugestões;

22 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22125: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (29): E por favor nem me enganem, são favas suadas, não são ervilhas, muito menos escalfadas... (Luís Graça)

15 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22105: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (28): sável frito com açorda de ovas, à moda da "chef" Alice, inspirando-se na gastronomia de Vila Franca de Xira

10 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22091: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (26): O cardápio secreto do "chef" Tony (Levezinho) - Parte III: cozido à portuguesa, para despedida do inverno; frutos do mar, como saudação à primavera

28 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21954: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (23): O cardápio secreto do "chef" Tony (Levezinho) - Parte II: Canja de garoupa e pimentos estufados em vinho do Porto

11 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21887: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (19): O cardápio secreto do "chef" Tony (Levezinho) - Parte I: ainda não é verão (, mas um dia destes há de ser!), e já me está a apetecer uma saladinha de queixo fresco e uma paelha, com um bom branquinho...

(**) Vd. poste de 28 de agosto de  2021 > Guiné 61/74 - P22494: Tabanca da Diáspora Lusófona (17): A(s) nossa(s) Academia(s) do Bacalhau: Long Island, Nova Iorque: "Gavião do penacho, de bico p'ra cima, de bico p'ra baixo, vai acima, vai abaixo"... (João Crisóstomo)

(***)  Vd. postes de;


27 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21203: Efemérides (331): Os 100 anos de Amália, "o povo que lavas no rio" e Afife (onde vivi até aos 9 anos) (Valdemar Queiroz)

domingo, 22 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22476: Manuscrito(s) (Luís Graça) (204): Caminhando contigo pela picada da vida...





1. A Alice Carneiro, minha panheira de uma vida e mãe dos nossos filhos, agradece todos as mensagens de parabéns que lhe dirigiram no seu dia de aniversário, 18 de agosto de 2021 (*)...

E,depois,  autoriza-me que partilhe no blogue o texto (poético) que eu lhe li, em voz alta, na Tabanca do Atira-te ao Mar, num almoço que reuniu alguns amigos e que teve, como  cereja no bolo, a visita, de surpresa, da sua/nossa netinha, Clara Klut da Graça, que está com 21 meses.


Caminhando contigo 
pela picada da vida



1. Ao fim de um ano e meio de pandemia, estamos vivos.
Tu e eu, e os que nos são queridos, amigos e familiares.
Pelo menos, estamos vivos.
E foi a pandemia das nossas vidas.
Há três pandemias em cada século,
Mas uma com mais morbimortalidade do que as outras duas.
Não creio que voltemos a apanhar uma pandemia, como esta,
No tempo que nos resta para viver.

2. Estamos vivos, mas mais velhos, claro.
E sobretudo com mais mazelas.
Eu, pelo menos com mais mazelas, e já não são poucas.
Ao “annus horribilis” de 2020
Sucedeu o “annus horribilis” de 2021.
De resto, já tivemos muitos,
Nos vinte e tal primeiros anos das nossas vidas.
Para mim, a guerra, por exemplo.

3. Mas, hoje, no dia dos teus anos,
Não quero recordar o passado,
Nem sequer o nosso passado vivido em comum.
Feitas as contas lá vão 46 anos, desde 1975.
Estamos quase a celebrar as “bodas de ouro”…
Não quero muito menos fazer o balanço desse tempo,
Porque, se calhar, sobre a garrafa da vida e dos sonhos, para mim “meia cheia”,
Tu virias dizer que está… “meia vazia”.

4. Quero viver o futuro,
Ou imaginar um futuro em que continuemos a caber os dois,
Com todos aqueles que amamos,
Os nossos filhos, a Clarinha, a Catarina,
E todo o resto da nossa família da Lourinhã e de Candoz,
Mais os nossos queridos amigos do peito de todo o lado,
Alguns dos quais estão aqui à nossa mesa.
Quero ainda pensar que há lugar para nós os dois,
No comboio do futuro.
A isso se chama esperança.
Que não pode ser uma ilha só para nós,
Mas um arquipélago,
Tão grande como o mundo,
Abarcando oceanos e continentes.


5. As palavras, ao fim desta pandemia e destes anos todos, já estão muito gastas.
Há uma fadiga, não apenas pandémica, mas também existencial.
Às vezes dizes: “Estou cansada… Estou cansada de muito dar e pouco receber”…
Felicidade, por exemplo…. O que quer dizer “ser feliz” ?
Não sei o que é ser feliz, em abstracto,
Se calhar não é preciso muito para se ser feliz, hoje e aqui,
Por uma tarde,
Por um fim de tarde.
Não digo já um dia, um ano, uma vida.
Nem ninguém poderá ser feliz uma vida toda.
Nem os deuses, os santos ou os heróis.

6. A felicidade é onde a gente a põe,

E a gente deve pô-la onde está,
O que nunca ou raramente acontece.
A felicidade está apenas nos pequenos detalhes,
Uma frase batida, que gostávamos de repetir, lembras-te ?!,
Quando, em Espanha, gostávamos de ir para os hotéis NH.
Uma treta, são todos iguais, os hotéis,  em toda a parte,
Desde que tenham uma boa cama e lençóis limpos.
Aqui e hoje, a felicidade pode ser apenas
Uma esplanada em cima do mar.
Uma mesa, umas cadeiras,
Para mim, para ti, e para aqueles que amamos.
Um prato de choco frito ou de sardinhas,
Um copo de cerveja Bohemia, ou simples copo de vinho,
Um céu azul,
O sol a uma hora antes de se pôr,
Uma temperatura amena, uma brisa suave,
No nosso querido mês de agosto,
No dia dos teus anos,
Com o Mar do Cerro em frente,
Os surfistas espreguiçando-se,
As traineiras das sardinhas a 300 metros da praia,
Restos de caravelas e naus de outrora,
Dos nossos avoengos que tinham uma terra estreita,
Apertada como uma camisa curta,
E um mar sem fim à sua frente.

7. A felicidade não existe, minha querida Chita,
Ou então é apenas a nossa capacidade de sonhar
E de concretizar pequenas coisas, pequenos projectos.
E é isso que eu quero para ti e para mim,
Já não quero nem posso dar a volta ao mundo em 100 dias,
Só quero ter um planeta mais maneirinho e habitável
Para os nossos filhos e netos.

8. Vamos viver o resto dos nossos dias
Com a pressão do legado ambiental e societal que vamos deixar aos nossos vindouros.
Sou moderadamente otimista em relação à nossa capacidade coletiva:
Quem sabe equacionar um problema também é capaz de o resolver.
Mas temos que começar por nós.
Como eu te escrevi há 3 anos, em 8 de março de 2019,
Sinto que nos temos de proteger mais, um ao outro,
Quando chegarmos, dentro em breve, ao círculo polar ártico da vida.
Temos que nos proteger também do egoísmo geriátrico,
Temos que nos acarinhar mais
E receber mais carinho dos nossos filhos e amigos.
Receber e dar carinho, é um dos pressupostos do programa para se ser feliz,
Estou plenamente de acordo contigo.

9. E hoje continuo a dizer-te,
No dia em que fazes 76 anos:
Não temos outro jeito de estarmos juntos,
Ao caminhar pela picada da vida,
Uma imagem que me vem do tempo de guerra,
E que, tal como nesse tempo, está cheia de minas e armadilhas.
E o amor é essa capacidade de sermos as duas metades da vida fundidas,
Separadas e cada uma para seu lado,
Morreriam na floresta da solidão,
No deserto do sofrimento,
No vazio da noite sem madrugada.

10. Neste dia, tão especial para ti, e para mim,
Só posso exprimir a minha alegria e gratidão por existires
E teres, mal ou bem (,mas acho que mais bem do que mal),
Decidido fazer junto comigo essa caminhada pela picada da vida.
Vou-te pagando com alguns pobres versos, e textos poéticos, como estes,
Mas acumulando dívidas para contigo
Que ainda espero poder pagar em vida.
Não quero levar dívidas para o inferno
E, muito menos, que escrevas no meu epitáfio: “Caloteiro”.

Teu Nhicas, que não tem outro jeito de te dizer que te ama. (**)
Lourinhã, 18 de agosto de 2021

________

Notas  do editor:

(*) Vd. poste de 18 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22464: Parabéns a você (1984): Maria Alice Carneiro, Amiga Grã-Tabanqueira, esposa do nosso Editor Luís Graça

sábado, 10 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22357: (In)citações (189): Palavras que ficaram por ser ditas no convívio da Quinta da Senhora da Graça, de 30/5/2021... Os amigos não morrem (Margarida Peixoto)

1. Mensagem da nossa amiga, membro da Tabanca Grande, Margarida Peixoto, companheira do nosso saudoso Joaquim Peixoto (1949-2018), enviada no dia em que ele faria 72 se fosse vivo:

Foto à esquerda: Joaquim e Margarida (Monte Real, 2010).
Foto de Manuel Carmelita / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
 
Date: sexta, 9/07/2021 à(s) 21:21
Subject: Convívio Quinta Senhora da Graça. 

Olá Luís.

Conforme o combinado, aqui envio as palavras que tinha escrito para ler, no dia do encontro em Maio na Quinta Senhora da Graça.


Hoje o dia está carregado de emoções!

Todos acabamos por crescer e perder aquela sagaz visão do Mundo.

Vamos perdendo o brilho do olhar e os dias vão correndo nublados, uns iguais aos outros.

Mas estamos aqui, na Quinta senhora da Graça, rodeados de Amigos...e isso desanuvia o dia, dá brilho ao olhar, torna o momento especial e dá esperança.

A  convite da Alice, uma amiga do coração, reuniram- se alguns casais amigos, nesta acolhedora Quinta, para mimar, acarinhar e festejar o Luís Graça.

Foi um gesto de amor e carinho que a Alice encontrou para acariciar e demonstrar o seu amor ao companheiro , da caminhada da vida e reforçar o forte desejo de o ver totalmente recuperado.
A testemunhar esse lindo episódio, estiveram os referidos casais, para em uníssono formularem os mesmos votos.

Alice e Luís Graça, continuem a lutar de mãos dadas, para que possam receber os presentes da Vida!

A vossa grande amiga está aqui sem a presença física do marido, mas com o propósito de desejar tudo de bom ao casal Graça e num gesto de carinho dar- vos um abraço... pelos dois (casal Peixoto)!

Margarida Peixoto

Obrigada por fazer parte dos vossos amigos. (**)
Margarida

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22239: Tabancas da Tabanca Grande (5): Convívio de 4 tabancas (Sra da Graça, Matosinhos, Candoz e Atira-te ao Mar) na terra das 3 pontes, Peso da Régua

 (**) Último poste da série >7 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22348: (In)citações (188): Lembrando a nossa CCAÇ 1439 (João Crisóstomo, ex-Alf Mil Inf, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67)

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22125: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (29): E por favor nem me enganem, são favas suadas, não são ervilhas, muito menos escalfadas... (Luís Graça)




Alfragide > 21 de abril de 2021 > "São favas suadas, senhor, não são ervilhas"... Segundo uma receita antiga da minha mãezinha, adoptada e apurada pela "chef" Alice..

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Ontem, confesso que pequei. Comi ao almoço um prato de favas suadas, um dos pratos do meu "top ten" gastronómico.  (Bem, senhora doutora dr, Ana Pimental, não foi bem um prato, foi um pratinho, juro pela minha rica saúde, de resto aí está a foto para o comprovar; mas sei que me vai puxar as orelhas na 3ª feira). Claro que, a seguir, "paguei as favas": não há crime sem castigo... Mas,  se não houvesse pecado na terra, a vida seria uma sensaboria (*)... 

O doente, submetido a radioterapia externa sobre a próstata, sabe que tem dois meses de amargura enquanto lá andar: tem que chegar ao IPO de manhã, "com o reto limpo e cheia a bexiga"... e deixar trabalhar a "radioterapia amiga" (**)... 

Além de beber muita "a(u)guinha da torneira", tem de "evitar" uma porrada de alimentos, nomeadamente os que provoquem obstipação e gases... A lista de proibições mata, logo à nascença, qualquer pobre candidato a pecador: pão branco (que, felizmente,  não gasto), cereais, amêndoas e nozes (de que sou fã), vegetais (ervilhas, feijões, couves, espargos, cebolas, alhos, e logo por azar favas, de que um perdido: como-as, só na época, mas uma meia dúzia de vezes); gorduras, fritos e  refogados: picantes, piripiri, pimentas de todas as cores (que também não gasto, as pimentas); mariscos (que adoro); fruta (laranja, limão, quivi, ananás, banana, morango, cereja, etc., etc.) (comia 4 peças de manhã, ao pequeno almoço, com iogurte natural, há 2 meses atrás); saladas (com tomate e azeitonas), e por aí fora...

Pior ainda: só "a(u)guinha", nada de bebidas alcoólicas,  muito menos cerveja e vinho branco (que é muito diurético)... E café, camarada, só três no máximo por dia (o que é um castigo para quem bebia seis).

Mas chega de desgraças: as favinhas suadas estavam - como eu hei de dizer ? - "queirosianas"... Mas a receita que o Jacinto, de "A Cidade e as Serras", provou e aprovou (, o "arrroz de favas", que fica  para a eternidade associado à Quinta de Tormes),  não tem nada a ver com as "favas suadas" da minha mãezinha, Maria da Graça, que era da Estremadura, e mais exatamente da Lourinhã....  A "chef" Alice, que é vizinha do Jacinto, adotou a receita e apurou-a. No Douro, não se faziam favas suadas no seu tempo de menina e moça, tal como não se comia lavagante ou arraia seca... e a sardinha era para três!).

Não sei se estas favas suadas são as melhores do mundo: de resto, meio mundo detesta favas... mas já pus no meu "testamento vital" uma das minhas últimas vontades (, não podem ser muitas, que não há tempo depois para cumpri-las todas): na véspera de eu morrer (, e oxálá seja num dia primaveril como o de ontem!), que me deem um prato de favas suadas!... 

E, por favor, não me enganem: são favas, e suadas, não são ervilhas, muito menos escalfadas. E têm que ser frescas, e descascadas uma hora antes... E se eu ainda puder ajudar (, o que deverá ser altamente improvável), sou eu que faço questão de descascar as favas... como sempre o fiz, com competência e paciência!... (Há quem goste de comer favas, mas não de as descascar.)

A cozinheira, essa, só pode ser a "chef" Alice, a quem também já pedi para, depois,  me mandar enterrar numa anta do meu país megalítico (***)... 

Enfim, espero (, mas, se calhar, é pedir demais à vida!),  poder ainda dizer, mesmo que seja baixinho, com a voz a sumir-se, antes de bater a bota: "Chita, as tuas favinhas souberam-me pela vida, como se dizia em Candoz... Ámen".

PS - A expressão "saber pela vida" , muito usada pelas gentes do Norte, e nomeadamente pelas mulheres, é deliciosa, e não se aplica só aos "comes & bebes"... Só encontro um equivalente na expressão do crioulo da Guiné, "manga di sabi".

____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 15 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22105: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (28): sável frito com açorda de ovas, à moda da "chef" Alice, inspirando-se na gastronomia de Vila Franca de Xira

(**) Vd. poste de 19 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22115: Manuscrito(s)(Luís Graça) (200): Soneto do paciente do IPO - Lisboa, dedicado à equipa da unidade 3 do serviço de radioterapia que cuida de ti com gentileza, humanidade e competência

(***) Vd. poste de 5 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10332: Blogpoesia (198): Uma estranha maneira de dizer adeus (Luís Graça)

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22105: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (28): sável frito com açorda de ovas, à moda da "chef" Alice, inspirando-se na gastronomia de Vila Franca de Xira

Foto nº 1 > Sável frito, crocante...


Foto nº 2 >  A açorda de ovas (de sável)...


Foto nº 3 > Lourinhã, Praia do Porto das Barcas... Ao fundo, a Praia do Porto Dinheiro...


Lourinhã > Porto das Barcas > Tabanca do Atira-te ao Mar > 11 de abril de 2021 > Fechou a época do sável...Este (Foto nº 1)  ainda foi pescado em março... Mas só agora comido... A receita foi à moda da"chef" Alice Carneiro, inspirando-se na cozinha  de Vila Franca de Xira, onde o sável vai à mesa do rei... Já os "colonialistas" dos romanos gostavam do sável lusitano...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Não vou discutir se o melhor sável é o do rio Minho, ou do rio Douro ou do rio Mondego ou do Rio Tejo...Estupidamente as barragens mataram o sável do Douro... Tal como a lampreia e outras espécies. Mas isso é outra história. Triste. As barragens, a poluição, a sobrepesca... A verdade é que a população de savel (nome científico, Alosa alosa) está a diminuir drasticamente em Portugal.

Também não vou discutir onde se come o melhor sável do mundo e qual a melhor receita... Este ano tive o privilégio de comer sável por três vezes, e sempre na melhor companhia de alguns amigos e camaradas, e salvaguardando sempre as regras de saúde e segurança em vigor na pandemia de Covid-19.

Com 2 kg de sável, fêmea, que custaram cerca de 15 euros, a"chef" Alice deu de comer a cinco tabanqueiros da Tabanca do Atira-te ao Mar... Num sítio paradisíaco, secreto, longe das vistas dos mirones (e onde a ASAE não mete o bedelho...).

Desta vez a "chef" Alice não o fez à moda duriense, o sável frito com arroz, mas sim o sável frito com açorda de ovas... Porque o peixe que arranjou era fêmea e tinha ovas. (Fazer com ovas de pescada é batota.). E fez *a moda das gentes ribeirinhas do Tejo, dos vilafranquenses. 
Há aqui um vídeo da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, com a receita do "chef" José Maria Lino. 

Os convivas adoraram, as postas fininhas do sável estavam bem fritas e crocantes. E a açorda, se lhe chorar por mais!... 

Para o ano haverá mais, se o sável vier desovar aos nossos rios...Espantoso, é um peixe que pode viver 8 anos, atingindo a maturidade sexual aos 4/6 anos...É nesta altura que inicia a migração para o rio onde nasceu!... E para morrer, em geral, após a desova. Há espécies altruistas...

Sabe-se que os "colonialistas" dos romanos adoravam o "sável" lusitano... E se calhar foram eles que nos passaram o gosto... Se sim, o "colonialismo" não tem  só coisas más... Mas a palavra "sável" não parece vir do latim. Se calhar até é bom que seja de etimologia duvidosa. (**)
____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 10 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22091: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (26): O cardápio secreto do "chef" Tony (Levezinho) - Parte III: cozido à portuguesa, para despedida do inverno; frutos do mar, como saudação à primavera

(**) Vd. poste de 5 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14434: Manuscrito(s) (Luís Graça) (52): A sagração da primavera, em louvor do sável

A sagração da primavera

por Luís Graça

Come-se o sável da tradição
que transborda as margens dos rios da nossa memória,
na semana santa em que o pecado era a carne
ou a tentação da carne ou a falta dela.

Frita-se o sável no azeite dos pobres,
supremo luxo, na sexta feira santa
em que Cristo morreu por todos nós,
os inocentes, os pecadores
e todos os que nunca tomam partido
entre a veemência do mal e a urgência do bem.
E quem não tem sável, come savelha,
que de sáveis por São Marcos enchiam-se os barcos.

Vem o sável apanhado nas redes
das pesqueiras do Douro quando o sável e a lampreia
chegavam a Porto Antigo e daqui à tua aldeia,
e os barcos rabelos eram endiabrados brinquedos
que caíam no buraco negro dos cachões,
carregados do vinho fino
que não matava a fome á pobreza.

Boa era a truta, bom o salmão,
e melhor o sável quando sazão,
diziam o fidalgo e o abade
que eram mais carneiros do que peixeiros.
E quem tem bula, que coma carne.

Comia-se o sável um vez por ano,
na cozinha gourmet dos camponeses
de entre Douro e Minho.
Aleluia, aleluia, Cristo ressuscitou!,
traz a boa nova o compasso
que bate a todas as portas dos cristãos.

E estalam foguetes no ar,
e rebentam em flor as cerejeiras
(aqui chamam-se cerdeiras),
e as videiras dão gamões,
e o verde é mais verde
sob o azul do céu das serras
que estrangulam os vales e os lameiros
e o rio Douro quando era selvagem e livre.

É a primavera que chega,
e há de ser o solstício do verão,
regulando a vida circadiana dos adoradores do sol
e dos comedores de sável.

É vida que triunfa sobre a morte.
é a Páscoa aqui no Norte,
é a festa da brava gente
que sempre teve engenho e arte,
quer na paz quer na guerra.

Pois que seja boa e santa e feliz a Páscoa,
para todos,
em toda a terra,
por toda a parte.

Tabanca de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses,
4 de abril de 2015
v2

quarta-feira, 3 de março de 2021

Guiné 61/74 - P21966: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (24): arroz de lampreia à moda do Minho... e da "chef" Alice


Foto nº 1 > O arroz de lampreia à moda do Minho


Foto nº 2 > A malga de vinho tinto verde que acompanha a lampreia


Foto nº 3 > A lampreia, pronta a servir


Foto nº 1 > A lampreia, pronto a cozinhar, em vinho tinto verde e alhos

S/l (para não violar a lei do confinamento...) > 19 e 20 de fevereiro de 2021 > A lampreia, comida em terra de mouros, à moda do Minho, cozinhada pela "Chef" Alice...


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Cá está um prato da nossa gastronomia portuguesa que não é consensual...É como os "túbaros com ovos mexidos"... Ou a "moreira frita"... Ou a "batatada de peixe seco"... O "o pito da Maria em arroz de cabidela"... Ou  o "butelo com casulas",,, O "ensopado de enguas"... Ou as "tripas à moda do Porto"... Uns adoram, outros vomitam, mesmo sem nunca ter provado.

Refiro-me à lampreia... Estamos na época dela!  (E. já agora, do sável, que é outra delícia!),  Na nossa Tabanca Grande não vale a perder o latim, que os nossos camaradas do Norte são doidos por lampreia... E outros, os do Centro e do Sul, também não lhes ficam atrás. Já fui em tempos também a Belver comê-la...(**)

A pesca da lampreia vai de jneiro a meados de abril. A partir daí, a lampreia (que não é propriamente um peixe, é um "vertebrado aquático ciclóstomo, de forma cilíndrica e alongada, com sete orifícios branquiais", havendo espécies marítimas e fluviais, segundo o Dicionário Priberam), entra na fase da desova e perda toda a graça do ponto de vista gastronómico... Enfim, lá cumpre a sua função, que é dar vida à vida  (se não cair nas redes dos pescadores) e morre,

Antigamente as populações ribeirinhas dos nossos rios (Minho, Douro, Mondego, Tejo, etc.)  sabiam-na pescar e cozinhar... E ainda hoje, não se perdeu o hábito, embora parte dela já seja  importada da França e do Canadá... Mas,  dizem, que não há  lampreia como a do rio Minho  nem  "arroz de lampreia" como "à moda do Minho"...

Bairrismos à parte, há quem faça (fazia...) excursões para comer uma boa lampreia no Alto Minho. Agora com o confinamento, estamos tramados, os apreciadores deste pitéu (que também não há no restaurante do São Pedro)... 

Mas, felizmente, que há "take away"... É só ir  à Net, e encomendar uma lampreia de quilo e tal (para quatro pessoas)... Levam-na a casa, limpinha, arranjadinha, pronta a cozinhar, já devidamente preparada, em vinto tinto verde (!), alhos, etc. Anda por 30/35 euros o quilo... 

Convenhamos: é um produto "gourmet"... Mas nos restaurantes, paga-se (pagava-se, o ano passado), a 30/40 euros por cabeça,  isso só por um prato de arroz com três bocados de lampreia...

Sem entrar em mais detalhes, aqui está um arrozinho de lampreia para quatro (, um lampreia de 1,7 kg., do rio Mimho) feita pela "chef" Alice, que é uma rapariga de Entre Douro e Minho. Que gosta muito de lampreia e ainda mais de sável, do tempo em que não havia barragens hidroelétricas e os "bichinhos" chegavam, nas calmas, a Porto Antigo, ali ao pe´da Tabanca de Candoz... E ricos e pobres podiam comer sável e lampreia à fartazana... Para a Alice são sabores da infância... Para mim, só me chegaram ao palato quando comecei a descobrir o Norte, há 40 e tal anos,,,

Bom apetite, camaradas e amigos! 

PS - Em boa verdade, gosto de tudo, ou quase tudo... Detesto "sushi" e "peixe da bolanha" (, cá está, acho que na Guiné nunca cheguei a provar)... Quanto ao "sushi", dei-me mal com a "primeira vez"... Tenho que tentar uma segunda vez...

12 de abril de  2011 > Guiné 63/74 - P8090: Convívios (309): Lampreiada, visita ao aproveitamento hidroeléctrico de Crestuma-Lever e não só, 30 de Abril (António Carvalho)

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21922: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (20): O pão nosso de cada diz nos dai hoje, diz a "chef" Alice... E se for de farinha de trigo de Barbela, do Moinho de Avis (Cadaval, Montejunto,1810), ainda melhor!

Foto nº 1


 Foto nº 2


 Foto nº 3


Foto nº 4




Foto nº 5

Cadaval > Vilar > Vila Nova > Serra de Montejunto > 20 de agosto de 2015 > O nosso camarada e amigo Joaquim Pinto Carvalho levou-me, a mim, à Alice e mais uns amigos do Norte (o Gusto, a Nita e a Laura) até ao moínho do Miguel Nobre, no alto da serra... 

É conhecido como o moinho de Avis, tem mais de dois séculos de existência,,, Daqui vê-se, do lado do poente,  o oceano Atlântico, e do lado nascente, o rio Tejo e o estuário e, a sul, as serras da Arrábida e de Sintra, a norte as serras de Aire e Candeeiros... Dizem que é o mais alto da península ibérica, dos moinhos ainda a funcionar. O Miguel Nobre também é engenheiro de moinhos, uma arte e um ofício em risco de extinção, tal como a arte e o ofício de moleiro...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Foi com a farinha de trigo de Barbela, obtida neste moinho, que a "chef"Alice cozeu os absolutamente deliciosos pãezinhos que vemos nas fotos acima: uns com chouriço de porco preto e fatias de "bacon" (foto nº 1) e outros sem qualquer recheio... 

Tudo simples, cozido no forno a gás... Segredos ? Saber amassar um quilo e pouco de farinha (que tem um pequena percentagem de centeio), e usar o fermento q.b, deixar a levedar e...pôr ao forno (, que nem sequer é a lenha, como na Tabanca de Candoz).

Obrigado ao Miguel Duarte e aos "duques do Cadaval", régulos da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã), pela gentil oferta de um saco de cinco quilos de farinha (Fotos nºs 3 e 4).

O Moinho de Avis tem página no Facebook. E já teve direito a dois postes no nosso blogue, na época pré-covid, no já longínquo ano de 2015 (*).

Com a pandemia de Covid-19 a fazer um ano no próximo mês de março (!),  e com dois duros confinamentos gerais, continuamos aqui a  deixar algumas sugestões gastronómicas, nacionais e internacionais, apropriadas  às circunstâncias... Esperemos que elas contribuam também para o revigoramento  da nossa saúde física e mental...

Sabemos, de experiência própria, com 3 anos de tropa e de guerra, ao serviço da Pàtria, da Mátria e da Fátria, que não há um "bom moral na tropa" sem um bom rancho... E no rancho o pãozinho nosso de cada dia, esse,  não podia faltar... 

O famoso "casqueiro!... Faziam-se perigosas colunas para se ir buscar às sedes de batalhão os sacos de farinha que faltavam nas padarias improvisadas  dos nossos destacamentos e aquartelamentos no mato... Quantas belas (e algumas trágicas) histórias ainda haverá por escrever e publicar, aqui, no nosso blogue, sobre o Pão Nosso de Cada Dia Nos Dai Hoje!...

Como já temos dito, esperemos que os tempos que correm, com longos períodos trancados em casa, e muitas incertezas para o futuro, continuem  a ser  propícios à descoberta de talentos culinários dos camaradas e amigos da Guiné...

Vejam, caros/as leitores/as,  esta série como uma forma, bem humorada também, de diversificar a experiência de leitura do blogue e sobretudo nos ajudar  a combater a tão falada "fadiga pandémica"...  

Mandem-nos  fotos (com legenda...) das vossas habilidades como "chefs", para publicação nesta série, "No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande"...  É preciso voltar a indicar o email, que consta na coluna do lado esquerdo  ? Então aqui fica, mais uma vez, os endereços dos nossos editores: 




joalvesaraujo@gmail.com

luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

2. Na página do Facebook de Adolfo Henriques pode ler-se o seguinte artigo sobre o trigo Barbela... que  reproduzimos na íntegra, com a devida vénia (e os nossos parabéns ao autor por manter viva a tradição da cultura do trigo Barbela):

Trigo Barbela, um trigo escravo

Variedade de trigo mole cultivada desde tempos imemoriais em todo o Portugal, a sua cultura só tem perdurado, essencialmente, no distrito de Bragança e, a partir de agora, na Maçussa [, concelho de Azambuja]. Vamos proceder ao seu cultivo e aqui acompanharemos todas as fases, desde o semear até á prova do pão. Será moído da maneira tradicional, bafejado pelos ventos que sopram na Serra de Montejunto, no moínho de Aviz, obra do amigo Miguel Nobre que domina a difícil arte de usar o vento com maestria. 

Com este trigo se faz o delicioso Cusco de Trás-os Montes, em tempos usado como substítuto do arroz ou da batata por exemplo, ou ainda os célebres doces do mesmo nome. Com efeito, a variedade tradicional Barbela reúne um conjunto de características que lhe proporcionam grande rusticidade e capacidade de adaptação a difíceis condições climáticas. 

A sua capacidade de produzir palha em quantidade e qualidade também contribuiu para a preferência dos produtores da região pelo Barbela, apesar das entidades responsáveis pela cerealicultura nacional não lhe terem reconhecido ainda o devido valor agronómico e comercial. 

Para além disso tem um teor muito baixo de glúten. A conservação da variedade tradicional Barbela pressupõe a preservação de um conjunto de conhecimentos e práticas agrícolas transmitidas ao longo de gerações de agricultores. 

Obrigado ao meu amigo João Vieira pelas sementes e a Ana Maria Pinto Carvalho e Associação Tarabelo, de Vinhais,  pelas informações que disponibilizam na internet sobre o Barbela. Mais notícias em breve !

__________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 11 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21887: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (19): O cardápio secreto do "chef" Tony (Levezinho) - Parte I: ainda não é verão (, mas um dia destes há de ser!), e já me está a apetecer uma saladinha de queixo fresco e uma paelha, com um bom branquinho...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21918: Manuscrito(s) (Luís Graça) (199): Elegia para Isabel Mateus (Soure, 1950 - Lourinhã, 2021)


Isabel Mateus (Soure, 1950 - Lourinhã, 2021). Cortesia de Octávo Mateus (2021). Foto tirada no Museu da Lourinhã, em 2014.


1. Permitam-me, caros/as leitores/as, que evoque aqui a figura de Isabel Mateus (Soure, 1950 - Lourinhã, 2021), na qualidade de minha vizinha, lourinhanse de adoção, e minha amiga, "geálica", que foi cofundadora, em 1981, do GEAL- Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã, de que eu sou sócio e a cujos corpos sociais já pertenci. Três anos depois, em 1984, ela Isabel e o marido, já falecido, Horácio Mateus (1950-2013), com outros "geálicos", criaram o Museu da Lourinhã.

A minha terra, Lourinhã (mas também Portugal,  a ciência e a cultura)  deve-lhe muito. Tomo a liberdade de citar aqui um excerto do elogio fúnebre que o seu filho Octávio Mateus, hoje paleontólogo de renome internacional e professor da FCT / Universidade NOVA de Lisboa, escreveu sobre a sua mãe, na sua página Lusodinos - Dinossauros de Portugal, no passado dia 16, terça-feira:

(..." Em 3 de Abril de 1993, descobriu o ninho e embriões de dinossauros carnívoros Lourinhanosaurus em Paimogo, um dos maiores e mais importantes, à data. É autora de três artigos científicos como primeira autora, entre os quais é publicado o ninho de ovos e embriões de dinossauro que tinha descoberto (1997). Este achado foi marcante na história do Museu da Lourinhã, levando o nome da paleontologia da região a patamares internacionais, motivando a Revista Expresso a eleger o casal Isabel e Horácio Mateus como Figuras Nacionais do ano de 1997. Dois anos depois, realizou no Museu de História Natural de Paris formação superior intensiva em palinologia fóssil, área da botânica que estuda pólen e esporos. Mais recentemente, foi autora do livro Podomorfos do Casal da Misericórdia (ed. Museu da Lourinhã, 2020).

"Em 1997, escreveu a proposta do “Parque do Saber e do Lazer”, que foi o documento precursor de vinte anos de esforços para a construção de um novo parque ou museu, desejos que culminaram em 2018 na abertura do DinoParque Lourinhã."  (**)

Outro dos seus filhos, o mais velho, Simão Mateus, director científico  do DinoParque Lourinhã, escreveu na sua página pessoal do Facebook:
 
(...) A minha mãe tinha um coração enorme, e isto não é uma figura de estilo. Está documentado em radiografias e ecografias. Tinha-o porque uma condição cardíaca assim o moldou. Ela própria o afirmava e por isso dizia que cabiam nele todos os filhos... e eram muitos. Biológicos nós os três, o Simão, o Octávio e a mais pequena, a Marta, mas os adoptivos eram dezenas. (...) 

(...) E acima de tudo, o meu pai que sempre foi a paixão da sua vida. Assim como o seu jardim e as suas inúmeras flores eram a sua grande paixão. 
(...) A outra paixão foi o Museu da Lourinhã e, intimamente ligado, a história da Lourinhã. (...)

(...) Hoje o coração tornou-se maior que o mundo, e decidiu abraçar-nos com o amor que só uma mãe sabe da".

A Câmara Municipal da Lourinhã reconheceu o seu importante contributo "para a projeção e afirmação da Lourinhã como a Capital dos Dinossauros" e para a valorização do "património paleontológico do concelho, transportando o nome da Lourinhã para os panoramas nacional e internacional", tendo sido atribuída, ainda em vida, em 2018, a Medalha Municipal de Honra, Classe de Ouro. O Município decretou um dia de luto, ontem, pelo falecimento da Isabel Mateus. Entreaht, e, 15 de novembro, de 2019 fora inaugurado o novo laboratório de conservação e restauro do Museu da Lourinhã, que passou a chamar-se“Laboratório Isabel Mateus”.

2. Éramos amigos de longa data, dela e do marido, Horácio Mateus (1950-2013). Somos amigos dos filhos, e sócios do GEAL. E quisemos, eu e a Alice, prestarmos-lhe, aqui,  uma singela homenagem, em forma de soneto. Até sempre, querida Isabel!


Elegia para a Isabel Mateus (1950-2021)

Que dizer, face à notícia da tua morte,
Tu que foste do GEAL a “alma mater”,
Mulher de grande coração, nobre carácter ?
Foi bom conhecer-te, tivemos essa sorte.

Partes ao encontro daquele que amaste,
Um lindo amor, único, trágico, profundo,
Mas a tua vida acrescentou mundo ao mundo,
E não esqueceremos as causas que abraçaste.

Da outra margem do rio que nos separa,
Ver-te-emos a cultivar as tuas flores,
Num jardim secreto, em tardes de luz clara.

E essa visão de paz que é agora tristeza,
Para os teus filhos e amigos, teus amores,
Também lhes traz algum consolo e beleza.

Lourinhã, 17 de fevereiro de 2021
Os amigos “geálicos” Luís Graça e Alice Carneiro
________

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21692: In Memoriam (378): Isabel Levezinho (Lisboa, 1952 - Oeiras, 2020), esposa do Tony Levezinho (ex-fur mil at inf, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)... A sua memória fica inscrita, a título póstumo, no lugar nº 824, sob o fraterno e simbólico poilão da Tabanca Grande (Luís Graça)



Vila do Bispo > Sagres > Martinhal > 25 de abril de 2020 > O Tony e a Isabel Levezinho comemorando uma data que lhes era muito querida, na companhia do neto Diogo, filho da Rita (, por ser menor, não o incluimos na fotografia).


Foto: © Tony Levezinho  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 



1. Na véspera de Natal, às 14h25, liguei para o meu amigo e camarada Tony Levezinho, com um estranho pressentimento... Queria tanto desejar que ele e a sua querida Isabel pudessem ainda passar juntos o mais que provável último Natal das suas vidas em comum, numa história de amor de mais de meio século... 

Do outro lado da linha, ele respondeu-me com a voz calma e amável que sempre que lhe conheci: "Estava justamente a escrever-te para vos comunicar que nossa querida Isabel deixou de sofrer, acaba de fechar os olhos esta manhã"..

A nossa primeira reação, humaníssima, é uma mistura de sentimentos contraditórios, que vai da incredubilidade à raiva face ao triunfo da morte...Ficamos sem jeito, do outro lado da "linha", face à amarga e tristíssima notícia da morte (mesmo que "anunciada") de alguém do nosso círcuço de amizades... 

Mas a verdade, brutal,  é que a nossa querida Isabel Levezinho sucumbia, ao fim de uns meses, no combate desigual contra a doença que a atingira...  Debalde foram mobilizados todos recursos de que o nosso sistema de saúde possui. Face ao inevitável, a Isabel, num gesto enorme de dignidade e lucidez, optou por recusar a medicina paliativa e morrer em casa, ao lado do seu companheiro de uma vida. Não lhe faltaram, nestas últimas semanos, cuidados domiciliários, médicos e de enfermagem que ajudaram a humanizar os últimos monentos da sua vida. Morreu em casa ao lado daqueles que ela amava rpofundamente.

A Isabel era esposa do meu "mano" Tony Levezinho, mãe da Rita e do Nuno, avó do Diogo. 

Tinha ainda há poucos meses,  neste ano da desgraça de 2020, acabado de celebrar  as suas bodas de ouro de casada. Contou-nos, a mim e à Alice, (quando a fomos visitar, já doente, na casa no Tagus Park, em Oeiras, em 28 de setembro passado) que se tinha sentido tão feliz pela "escapadinha" que a levara, a ela e ao marido,  a Viseu, à magnífica Pousada de Viseu, uma prendinha dos seus filhos Rita e Nuno.

Lembro-me de ela ter casado, ainda muito novinha, aos 18 anos (feitos em 30/7/1970),  com o Tony quando ele veio de férias à "metrópole", no verão de 1970. Era então uma jovem (e promissora) ginasta do Académico da Amadora. 

Soube, e isso recordá-lo ainda há pouco tempo, que ela queria ir para a Guiné com o amor da sua vida. Felizmente que não chegou a poder concretizar essa generosa (mas romântica e nada aconselhável) intenção: a segunda metade do ano de 1970 foi também muito dura para os homens da CCAÇ 12. 

Somos, de longa data, eu, a Alice, a Joana e o João, amigos da família e durante anos vizinhos da Amadora. O Tony e a Isabel deram-nos o prazer da sua companhia e a prova da sua amizade em vários momentos das nossas vidas, Tenho pena de não ter aqui, à mão, nenhuma foto da sua participação na festa dos meus 70 anos, em 2017, organizada, de surpresa, pela Alice, no Hotel do Vimeiro, em 2017.  Foi o único casal, dos meus camaradas da Guiné, que a Alice convidou, por sua iniciativa própria. Também não tenho nenhuma da sua participação num ou noutro dos convívios da malta de Bambadinca (1968/71).

2. A notícia da sua morte deixa-nos devastados. Escrevi ao Tony, há poucas horas, o seguinte: 

"Tony, meu mano. O luto é um processo duro e difícil que todos temos de fazer quando perdemos alguém que nos é muito querido. Acabar de perder a tua companheira de uma vida, mãe dos teus filhos Rita e Nuno, avó do teu neto Diogo.

"Nestas ocasiões, tudo o que os amigos pode,m dizer e fazer é pouco para preencher o vazio que estás a sentir. Mas vais superar esta perda como superaste outras na vida. És um homem forte e racional. Como teu amogo do peito, e amigo da família, gostaria de poder estar aí contigo, eu e a Alice,  neste momento fifícil por que estás a passar. Tens o nosso 'ombro amigo'. Sei que já estavas, com tempo, a preprar-te para o pior. Infelizmente não poderei estar aí contigo este fim de semana  a derradeira homenagem à nossa querida e doce Isabel. Falei com o Humberto e sei que a cremação é no próximo domingo. Como já sabes, aqui no Norte, a barra também está pesada e estamos a dar o apoio possível a um familiar que também está doente (...).

"Sei que a Isabel era uma mulher discreta e avessas às luzes da ribalta, mas o mínimo que eu lhe posso fazer, como teu camarada, amigo e mano, é editar-lhe este poste de homenagem póstuma e propor a sua entrada na nossa Tabanca Grande, ficando a sua memória inscrita no lugar nº 834, à sombra do nosso poilão (*)... Já estão lá, há tempos, outras companheiras de camaradas nossos como a Teresa Reis (1947-2011). do Humberto Reis, de resto outra boa amiga da Isabel.

"A Isabel era uma pessoa discreta, serena, doce e afável cujo sorriso, bondade e amizade vamos guardar, nas nossas memórias, para o resto das nossas vidas. Mas agora é preciso reconfortar (e ser solidário na dor com) os vivos. Tony, Rita, Nuno, Diogo...mesmo à distância, estamos aí convosco no pior Natal das vossas vidas!".. Vê se descansas um pouco, Tony. Um chicoração fraterno, meu, da Alice, da Joana e do João,  para ti, a Rita, o Nuno e o Diogo."

PS1 - Citando um dos meus poetas preferidos, Ruy Belo, que ainda teve tempo e lucidez para se despedir da "terra da alegria", "é triste ir pela vida como quem / regressa e entrar humildemente por engano / pela morte dentro".

PS2 - O Tony tem página no Facebook e mais de 6 dezenas de referências no nosso blogue. Foi fur mil at inf, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Ele e a Isabel estavam reformados da Petrogal. E possuíam, em Vila do Bispo, Sagres, Martinhal, uma casa adorável onde recebiam os amigos, sempre de coração aberto.




Vila do Bispo > Sagres > Martinhal > Julho de 2014 > Da esquerda para a direita, o Humberto Reis, o José Manuel Rosado Piça, a Isabel Leveziuho, a Leonor, a esposa do Piça, e a Joana, na altura companheira do Humberto.  (**)

Foto: © Tony Levezinho (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 


________________

Notas do editor:


sábado, 12 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21636: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (16): Repetindo o prato típico da terra fria transmontana, o "Butelo com casulas...anti-Covid-19", à moda da "Chef" Alice




Tabanca da Lourinhã > 23 de novembro de 2020 >  Um prato típico da "terra fria transmontana", o Butelo com casulas, aqui confeccionado  à moda da "Chef" Alice... Receita para quatro à mesa (2 famílias), com a devida distância de 2 metros... Nada de "tudo à molhada e fé em Deus, como na ceia do Natal"...



Fotos (e legenda): © Luís Graça (2020) . Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. No dia 23 de março de 2020, há 9 meses atrás, eu escrevia aqui (*):

(...) O que é que vamos comer hoje ?...

Obrigados a ficar em casa, com os restaurantes todos fechados, por todo o lado, devido à pandemia  da COVID-19, esta deve ser uma pergunta que muitos dos nossos leitores começam a fazer, compulsiva e repetidamente...

E os bens essenciais, nomeadamente o pão, os iorgurtes, as frutas,os legumes, o peixe, a carne...começam a escassear no frigorífico e na despensa...Nem todos tiveram tempo (nem dinheiro...) para encher as "arcas frigoríficas", preparando-se para o "estado de emergência", que nos foi imposto, ironicamente, no "Dia do Pai", 19 de março...

É uma pergunta complicada (e que vai começar a ser mais angustiante, nos próximos tempos...) para os pais, que têm ainda filhos menores em casa, para os casais idosos (que não podem nem devem sair de casa, nem sequer para fazer compras...), para quem vive sozinho, mas também para os heróis dos dias de hoje que cuidam de nós e nos protegem (a começar pelos profissionais do SNS, proteção civil, forças de segurança, etc.)... 

 Enfim, uma pergunta complicada para a generalidade dos portugueses e das portuguesas em "tempo de guerra"...

Haveremos de "sair desta"... Mas até lá, é tempo de começar a puxar pela imaginação e "fazer das tripas coração"... Muitos de nós nascemos na "época da fome"... Refiro-me aos nossos pais (nascidos por volta dos anos 20 do séc. XX) mas também à nossa geração, a nós, ex-combatentes da guerra colonial (nascidos nos anos 40). 

Quem de nós, crianças, bebia leite de vaca, pasteurizado ? E quem comia queijo ? E os iorgutes ? E os ovos ? E o pão de trigo ? E o peixe fresco, tirando a "sardinha para três" e o "bacalhau a pataco" ?... Par não falar das "guloseimas"...

 (...) E nós próprios, na Guiné, durante a nossa "comissão de serviço militar"... A pergunta "o que é que vai ser hoje o tacho?", era recorrente, depois de uma noite emboscados, ou de sentinela, ou no regresso de um patrulhamento ofensivo, ou no decurso de uma operação no mato, de dois ou até três dias, a "rapar fome e sede"...

Sonhávamos, acordados, com água, com comida...E no quartel, vingávamo-nos com os petiscos... Quem tinha messe, como os oficiais e sargentos, sempre comia um pouco melhor do que a generalidade das praças... A verdade é que se gastava uma boa parte da energia a resolver o angustiante problema da "bianda": onde comprar (ou "roubar"...) um leitão, um cabrito, uma galinha, uma vaca ?!... Um ou outro caçava ou arranjava caça: lebres, galinhas do mato, gazelas... Que o peixe da bolanha, esse, era intragável...

Estas lembranças vêm.nos à baila, agora que a nossa dieta alimentar é condicionada pela falta de recursos, como os "frescos"...tal como na Guiné há 50 anos atrás.

Talvez por isso não seja má ideia de passarmos a comer também "com os olhos" (...)

  
2. Ao  longo destes 9 meses temos aqui deixado algumas  sugestões gastronómicas, nacionais e internacionais (**), apropriado para combater o "corno...vírus", e sobretudo para que os nossos "vagomestres" e os/as nossos/s cozinheiros/as não deem em doidos/as... (E nós com eles: não há um "bom moral na tropa" sem um bom rancho.)

Uma das sugestões que já aqui apresentámos foi justamente o "Butelo com casulas", um típico prato do nordeste transmontano que eu desconhecia por completo até há uns anos, e de que hoje sou feito fã.... A "chef" Alice trouxe, adotou  e adaptou a receita, há uns anos...Mais difícil é arranjar os ingredientes, o butelo, as casulas...

"Comida dos pobres", em Trás-os-Montes, tal como as "sopas dos ganhões" no Baixo Alentejo,  são hoje "comida gourmet", redescoberta e reiventada pelos "chefs"...

E, em Bragança já há a "Confraria do Butelo e da Casula", com página no Facebook, embora sem dar notícias desde o carnaval de 2019...
 
Recorde-se o que é:

(i) o butelo: enchido grosso, feito com carne e ossos partidos do espinhaço e das costelas do porco, envoltos na bexiga ou no bucho do animal.

(ii) as casulas: v
agens seca do feijão, colhidas ainda verdes e cortadas em pequenos pedaços que secam ao sol e que, depois de demolhados, são cozidos e usados na alimentação, e nomeadamente no célebre "butelo com casulas" (Vd. fotos acima).

É um prato típico para partilhar com os amigos, sobretudo nesta altura do ano... Por causa da pandemia. precisamos de uma mesa grande, para quatro...

Foi o que fizemos há dias, repetindo a dose de há 9 meses atrás, tendo como convidados  os "Duques do Cadaval", régulos da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) que visitamos também com alguma regularidade...

Desta vez eles vieram à  casa dos "viscondes da Lourinhã"... E a propósito,  hoje é dia de dar os parabéns à Maria do Céu Pinteus, a "duquesa"; já lhe mandei, pelo correio, o soneto que ela merece, por mais um  aninho de vida;  ela e ele, o Joaquim Pinto de Carvalho, os "duques do Cadaval", têm sido, de resto, uns magníficos companheiros de viagem nesta "travessia do deserto da pandemia"; eles e outra gente da "nobreza local", como, por exemplo,  o Jaime Bonifácio Marques da Silva, "marquês do Seixal".
 
Cansados da "guerra" (a pandemia já vai em 9 meses, e está para durar...), nem por isso  podemos "baixar a guarda"... E, a propósito, já encontrei por estas bandas, mais dois "refuguiados de guerra", o José Ramos e o Luis Mourato Oliveira, ex-combatentes na Guiné e membros da Tabanca Grande... Têm cá casa, tal como os "Duques do Cadaval"... Por enquanto a Lourinhã ainda não está na "lista...vermelha".  

E, ainda a propósito, andamos para combinar, com o Luís Mourato Oliveira (que nos arranjou umas batatas "raiz de cana", uma raridade...), uma "batatada de peixe seco"... Temos tudo (, o peixe e as batatas), só falta a data e o local mais convenientes... 

O Luís andou em tempos, com uns amigos da Marteleira, entusiasmado com a ideia, tal como eu, de se criar uma "confraria do peixe seco e da batata raiz de cana", no concelho da Lourinhã... Até já fizeram estatutos!...  A pandemia não tem ajudado a avançar o projecto...
 
 Temos que continuar a alimentarmo-nos bem (,adaptando a "dieta mediterrânica" às circunstâncias), e a fazer algum tipo de exercício (físico e mental), sem nunca descurar as regras de proteção sanitária, enquanto aguardamos a "milagrosa" imunização, a vacina, contra o Sars-CoV2.

E já que chegámos até aqui, camaradas e amigos, não vamos morrer na praia!... Festas, quentes e boas, mas com cautela...! LG

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