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quarta-feira, 25 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20774: O que é feito de ti, camarada ? (11): o que é feito dos mais de 1700 camaradas que fizeram o "cruzeiro das suas vidas", no T/T Niassa, com partida em 24/5/1969, incluindo o Jerónimo de Sousa, hoje deputado e secretário-geral do PCP ?



Torres Novas > 25 de maio de 2019 >  Cinquentenário da partida da CART 2520, para o CTIG, em 24/5/1969 > Reconhecemos: (i) o José Nascimento, o primeiro, a contar da esquerda, na 2ª fila (de pé) ; e (ii) na mesma fila, de pé,o terceiro, a contar da esquerda, é o Manuel Viçoso Soares (hoje empresário, no Porto), ex-fur mil armas pesadas: esteve em Monte Real, em maio de 2017, por ocasião do XII Encontro Nacional da Tabanca Grande; na altura em que foi convidado para se  sentar à sombra do nosso poilão...

Foto (e legenda): © José Nascimento (2019). Todos os direitos resevados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



 T/T Niassa > A caminho da Guiné > c. 24-29 de maio de 1969 > Quadros metropolitanos da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), na viagem de Lisboa-Bissau (24 a 29 de Maio de 1969). Da esquerda para a direita: 2º sargento Videira (já falecido) , furriéis milicianos António Branquinho (já falecido), Tony Levezinho, Humberto Reis, Joaquim Fernandes, Luís M. Graça Henriques e Almeida  já falecido). Na mesa de trás, ao fundo, receonhece-se o fur mil enf  João Carreiro Martins.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lourinhã > Zambujeira e Serra do Calvo > 25 de fevereiro de 2018 > "Homenagem da Zambuejira e Serra do Calvo aos seus combantentes"... Monumento inaugurado em 5 de outubro de 2013 (e não em 2015, segundo lapso do nosso colaborador permanente José Martins.). Foi uma patriótica iniciativa do Clube Desportivo, Cultural e Recreativo da Zambujeira de Serra Local.

Desconhece-se o autor do painel de azulejos que representa a partida, no T/T Niassa, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, de um contingente militar que parte para África. Ao canto inferior esquerdo a quadra: "Adeus, terras da Metrópole / Que eu vou pró Ultramar /, Não me chorem, mas alegrem [-me], / Que eu hei-de regressar"... No chão, em calçada portuguesa, lê-se: "Em defesa da Pátria". Abaixo do panel, há um livro metálico com os nomes de todos os nossos camaradas, naturais das duas povoações, que combateram no Ultramar.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Ministério do Exército > Direção de Serviço de Transportes > 19 de maio de 1969 > Ordem de transporte nº 20. Cortesia de Manuel Lema Santos (2007) (*)



1. Mais de 1700 camaradas partiram no T/T Niassa, em 24 de maio de 1969, para o CTIG, incluindo minha CCAÇ 2590 / RI 2 [, mais tarde, CCAÇ 12), entre outras companhias independentes, nove ao todo,  e ainda 2 Pel Mort e 1 Pel Canhão s/r, mais pessoal de saúde e do Depósito Geral de Adidos (DGA)... 

As companhias ditas "independentes" foram:

CART 2520 / GACA 2 [ hoje Escola Prática de Polícia, em Torres Novas]
CART 2521 / GACA 2

CCAV 2525 / RC 7 [Ajuda, Lisboa]

CCAÇ 2527 / BII 18 [Ponta Delgada] [Concentrada no CIM]
CCAÇ 2529 / BII 19 [Funchal, onde embarcou]

CCAÇ 2531 / RI 2 [Abrantes]
CCAÇ 2533 / BC 10 [Chaves]

CCAÇ 2590 / RI 2 [futura CCAÇ 12]
CCAÇ 2591 / RI 16 [Portalegre]  [futura CCAÇ 13]
CCAÇ 2592 / R1 16 [futura CCAÇ 14]

CMP 2537 / RL 2

Outras subunidades:

PEL MORT 2116 / RI 15 [Tomar]
PEL MORT 2117 / BC 10 [Chaves]
PEL CAN S/R 2126 / BC 10

Lembro-me que passámos pelo Funchal, para embarcar mais "carne para canhão": a CCAÇ 2529...

Para a grande maioria de nós, foi "o cruzeiro das nossas vidas"... E, muito possivelmente, o "único"... Íamos todos anónimos, mas com "bilhete de embarque válido", só de ida, que o regresso só seria... quando Deus quisesse, ou na vertical ou na horizontal... 

Entre a gente anónima viajávamos alguns de nós que hoje aqui nos sentamos sob o poilão da Tabanca Grande, aqui discriminados por subunidade:

(i)  CART 2520: o José Nascimento...

(ii) CART  2521: o Constantino Ferreira d'Alva...

(iii) CCAV 2525: não temos nenhum representante...

(iv) CCAÇ 2527:  não temos nenhum representane [embora já tenhamos publicado um poste do Miguel Soares]

(vi) CCAÇ 2529: não temos nenhum representante;

(vii) CCAÇ 2531: não temos nenhum representante;

(viii) CCAÇ 2533: o Luís Nascimento...

(ix) CCAÇ 2590 / CCAÇ 12: o Luís Manuel da Graça Henriques, o Humberto Reis, o António Levezinho, o António Manuel Martins Branquinho (1947-2013),  o António Manuel Carlão (1947-2018), o José Manuel P. Quadrado (1947-2016), o José Marques Alves (1947-2013),  o José Manuel Rosado Piça, o Fernando Sousa,  o António F. Marques, o José F. Almeida, o João Carreiro Martins, o Joaquim Fernandes, o Abel Maria Rodrigues, o Gabriel Gonçalves, o António Mateus,  o José Luís Vieira de Sousa,..., entre outros (estou a citar de cor);

(x) CCAÇ 2591 / CCAÇ 13: o Carlos Fortunato...

(xi) CCAÇ 2592 / CCAÇ 14: o António Bartolomeu. o Eduardo Estrela...

(xii) CMP 2537: não temos nenhum representante,  apesar do convite público ao  ex-sold cond auto Jerónimo de Sousa,   hoje uma cohecida figura pública, secretário-geral do PCP - Partido Comunista Português, e deputado da Nação...

Dos Pel Mort 2116, Pel Mort 2117 e Pel Can S/r 2126... não temos, salvo erro, nenhum representante.

Vamos comemorar os 51  anos do nosso embarque no T/T Niassa... mas com uma terrível pandemia, que ameaça o nosso futuro, a COVID-19. Ocorre-nos perguntar: o  que é feito de vocês, camaradas ? E porque é que não dão sinal de vida ou fazem prova de vida, os que são membros da Tabanca Grande ?

Tirando a malta da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, temos tão poucos representantes do resto da maralha (1700 homens!)  que fez este "cruzeiro" (**).

2. O nosso camarada e amigo Manuel Lema Santos (1º Ten  RN 1965/72, Guiné, NRP Orion, 1966/68) fez-nos aqui uma pormenorizada, deliciosa e preciosa descrição do nosso "cruzeiro" (*)

(...) O T/T Niassa, em Maio de 1969 e conforme reza a Ordem de Transporte nº 20 do ME, transportou a CCAÇ 2590 e também as Unidades indicadas no seguinte quadro, com o itinerário e horários que mais abaixo se discriminam [vd. cópia da ordem de transporte, acima reproduzida]

Tratou- se de uma dupla viagem Lisboa–Bissau–Lisboa–Funchal–Bissau–Lisboa.

Teve início a 5 de Maio, em Lisboa, e terminou, novamente em Lisboa, a 13 de Junho de 1969.
Capitão de Bandeira: CFR Abel da Costa Campos de Oliveira.

Comandante do Niassa – Cmte Arnaldo Manuel Sanches Soares.

As partidas e chegadas em cada escala fizeram-se de acordo com as seguintes datas e horários:

Lisboa (Cais da Rocha) - partida > 071110Z Mai69
Bissau (Fundeado no Geba) - chegada > 121605Z Mai69
Bissau (Atracado) > 121835Z Mai69
Bissau (Atracado) - partida > 150733Z Mai69
Lisboa (Atracado) – chegada > 210645Z Mai69
Lisboa (Cais da Rocha) – partida > 241105Z Mai69
Funchal (Atracado) – chegada > 252357Z Mai69
Funchal (Atracado) – partida > 260135Z Mai69
Bissau (Fundeado) – chegada > 292250Z Mai69
Bissau (Atracado) – chegada > 300800Z Mai69
Bissau (Fundeado) > 021100Z Jun69
Bissau (Atracado) > 05????? Jun69 (não definido)
Bissau (Atracado) – partida > 070135Z Jun69
Caió (Fundeado) – chegada > 080135Z Jun69
Caió (Fundeado) – partida > 080830Z Jun69
Lisboa (Atracado) – chegada > 131110Z Jun69

Transportou de Lisboa, na totalidade, 52 oficiais, 187 sargentos e 1299 praças,  além de 1727 toneladas de carga, depois de corrigidos alguns desvios de última hora à previsão acima feita (...).

No Funchal embarcou a CCAÇ 2529.

O T/T Niassa Foi escoltado na ida e na volta, entre Bissau e o Farol do Caió, pela LFG Cassiopeia

Foram normalmente distribuídas as ementas das refeições servidas a Oficiais, Sargentos e Praças, sendo que havia alguma diferença nas qualidades das refeições respectivas, correspondentes às classes em que viajaram.

Durante a viagem foram exibidos, nos passatempos habituais, os seguintes filmes:

- Harper, O Detective Privado
- Ninguém Foi Tão Valente
- D. Camilo na Rússia
- Três Vezes Mulher
- A Cidade Submarina
- A Rapariga das Violetas

Foi sorteado um transistor, oferta do MNF [. Movimento Nacional Feminino],  no dia 28 de Maio, à chegada a Bissau.

Foi servido um jantar de despedida oferecido em nome do Comandante do Navio e do Capitão de Bandeira a todas as forças embarcadas, quer na ida quer no regresso, com ementas especiais. (...)

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19839: Convívios (896): Cinquentenário da partida da CART 2520 para o CTIG, em 24 de Maio de 1969... Comemorado em Torres Novas, a 25 do corrente (José Nascimento)


Foto nº 1

Foto nº 1A > Reconheço o José Nascimento, o segundo de pé, a contar da esquerda


Foto nº 1B  > Reconheço, de pé, o primeiro da esquerda, o Manuel Viçoso Soares (hoje empresário, no Porto), ex-fur mil armas pesadas: esteve em Monte Real, em maio de 2017, por ocasião do XII Encontro Nacional da Tabanca Grande; na altura convidei-o para se  sentar à sombra do nosso poilão...


Foto (e legenda): © José Nascimento (2019). Todos os direitos resevados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Xime, 1970, CART 2520: da esquerda para a a diretita,
os furriéis mil Soares e Nascimento
1. Mensagem, com data de ontem,  do nosso camarada e amigo José Nascimento [ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71], membro da nossa Tabanca Grande:


Data: terça, 28/05/2019 à(s) 18:55
Assunto: Cinquentenário da partida da CART 2520 para a Guiné - 24 de Maio de 1969

Amigo Luís Graça:


A CART 2520 comemorou os 50 anos da partida para a Guiné no dia 25 de Maio com concentração junto ao antigo GACA 2, actual Escola Prática de Polícia, e uma visita guiada às antigas instalações, acompanhados por elementos desta força, os quais nos dispensaram toda a sua simpatia e amabilidade.

Seguiu-se depois o repasto e um ameno convívio no Solar da Valada, em Torres Novas.

Segue uma foto do grupo a recordar o acontecimento.
Um abraço
José Nascimento


Ministério do Exército > Direção de Serviço de Transportes > 19 de maio de 1969 > Ordem de transporte nº 20.  Cortesia de Manuel Lema Santos (2007)


2. Comentário do Luís Graça:

Zé, já me esquecia que fomos todos no mesmo T/T Niassa, em 24 de maio de 1969, a tua CART 2520, mobilizada pelo GACA2, a minha CCAÇ 2590 / RI 2 (mais tarde, CCAÇ 12), entre outras companhias independentes,  nove ao todo, além de 2 Pel Mort e 1 Pel Canhão s/r, mais pessoal de saúde e do Depósito Geral de Adidos... Lembro-me que passámos pelo Funchal, para embarcar "carne para canhão"...

Foi "o cruzeiro das nossas vidas"... Íamos todos anónimos, mas com "bilhete de embarque válido", só de ida, que o regresso só seria... quando Deus quisesse, ou na vertical ou na horizontal... Entre a gente anónima viajávamos, tu, eu e todos os demais, incluindo o sold cond auto Jerónimo de Sousa, da Companhia de Polícia Militar, a CMP 2537 / RL2, hoje uma cohecida figura pública, secretário-geral do PCP - Partido Comunista Português, e deputado da Nação...

Já não me lembrava do raio da efeméride: fez 50 anos que embarcámos  para a Guiné, em 24 de maio de 1969... E fez também ontem 50 anos que po quartel de Bambadinca foi atacado em força pelo PAIGC... Quando por lá passámos, em 2 de junho de 1969, a ca,minho do CIM Contuboel, ainda cheirava a pólvora...  Vocês ficaram logo no Xime, creio eu...

____________

Notas do editor:


(*) Último poste da série > 28 de maio de 2019 >  Guiné 61/74 - P19837: Convívios (895): Encontro de Antigos Combatentes em Crestuma, dia 10 de Junho de 2019. Breve apresentação do III Vol. de "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18332: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (31): Abrantes, sede do antigo RI 2 - Regimento de Infantaria 2, mais tarde Escola Prática de Cavalaria (2006) e hoje Regimento de Apoio Militar de Emergência



Abrantes > O antigo RI 2 - Regimento de Infantaria 2 >  Hoje  Regimento de Apoio Militar de Emergência


Abrantes > O antigo RI 2 - Regimento de Infantaria 2 >  Já foi Escola Prática de Cavalaria (2006)

Fotos: © Manuel Traquina (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Abrantes > RI 2 -  Regimento de Infantaria 2 > 1970 > A unidade mobilizadora de muitos batalhões que passaram pelo TO da Guiné como foi o caso  do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)... Durante a guerra do ultramar, o RI2 incorporou, treina e mobilizou um total de 52.000 homens para os diverso Teatros de Operações. Mais concretamente, foi a unidade mobilizadora de  63 batalhões, 30 companhias independentes e 82 pelotões de apoio.

Na foto, em primeiro plano, o nosso camarada Otacílio Luz Henriques, a caminho da "peluda"...

Foto: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados.   [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Abrantes > RI 2 -  Regimento de Infantaria 2 > 1969 > Vista aérea.

 Foto: Unidades do Exército Português > Regimento de Infantaria nº 2  (página  de Nuno Chaves, em construção) (com a devida vénia...)


1. Mensagem do nosso camarada Manuel Traquina, deixada ontem na página do Facebok da Tabanca Grande:


Para aqueles que passaram pelo Regimento de Infantaria de Abrantes vão estas fotos.

O RI2, como em tempos o conhecemos, e por onde passaram largos milhares de militares, agora virou RAME - Regimento de Apoio Militar de Emergência. 

Com um número de militares muito reduzido em relação aos tempos de guerra, foi já também Escola Prática de Cavalaria [, em 2006].

2. Comentário do editor LG:

No seu livro, "Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné" [Edições Palha de Abrantes, 2009), o Manuel Traquina tem um pequeno capítulo dedicado ao RI 2. unidade que mobilizou a sua companhia, a CCAÇ 2382...E dai partiram para a Guiné... O Manuel Traquina "jogava em casa", já que era natural do concelho (, Souto, a 20 km da sede)...

Sobre a sua terra diz o seguinte:

"Curioso é que ainda hoje a cidade de Abrantes seja lembrada por muitos que por aqui passaram e, também, por alguns que aqui arranjaram madrinha de guerra, namorada e noiva... casaram e por aqui ficaram" (p. 31).

Meu caro Manuel, a minha companhia, a CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12) foi mobilizada pelo RI 2. Aliás, éramos meia dúzia de gatos pingados (graduados e especialistas, uma meia centena). Formámos companhia, tirámos a Escola Preparatória de Quadros e fizemos a IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional, também "à pedrada", como vocês,  no Campo Militar de Santa Margarida (CMSM), que ficava no concelho vizinho de Constança... A cerimónia de despedida foi junto à capela do CMSM, E dali fomos diretamente, de comboio (, tenho a ideia que de noite, quase como "clandestinos"...) para o Cais da Rocha Conde de Óbidos. Embarcámos no T/T Niassa em 24 de maio de 1969...

Da tua terra, Abrantes, não tenho memórias, desse tempo. Ou varreram-se-me as memórias, de todo.. Posso dizer que passei por Abrantes como cão por vinha vindimada... com os (des)acordes da fanfarra do RI 2 muito ao longe...


3. Recorde-se que o Manuel Traquina (ex-Fur Mil Mec Auto, da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70) vive em Abrantes [, foto atual, acima]. Aliás,  nasceu no Souto, Abrantes, em 1945. 

Frequentou o Curso de Sargento Milicianos (CSM), nas Caldas da Rainha, no 1º trimestre de 1967. Em 30 de Março, dava início à especialidade de Mecânico Auto, na Escola Prática de Serviço e Material (EPSM), em Sacavém. Fez ainda estágio no Centro de Instrução de Condutores Auto nº 3 (CICA3) em Elvas. Em finais de Agosto, é transferido para o Depósito Geral de Material de Guerra (DGMG), em Beirolas. Quinze dias depois, a 13 de setembro, é mobilizado para a Guiné. A 19 de fevereiro de 1968, apresenta-se no RI 2, em Abrantes, a fim de integrar a CCAÇ 2382. Passados dois meses e meio, a 1 de Maio de 1968, parte no Niassa, com destino a Bissau, aonde desembarca a 6.

Na Guiné, passou pelos seguintes aquartelamentos: Brá, Bula, Aldeia Formosa e Bula. Regressa a Portugal em Abril de 1970, no mesmo T/T Niassa.

Depois da ‘peluda’, trabalhou em Angola, no Serviço de Emprego. Regressa Portugal, em 1975, na sequência do processo de descolonização. Em Abrantes, foi técnico de emprego, do Centro de Emprego local. Está actualmente aposentado do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFO). Tem página no Facebook > Manuel Batista Traquina.

Publicou "Os Tempo de Guerra, De Abrantes à Guiné”,  Edição Palha de Abrantes, 2009. E, mais recentemente,. em 2017, na Chiado Editora, "Angola que eu conheci: de Abrantes a Luanda"

(*) Último poste da série > 27 de abril de 2017 > Guiné 63/74 - P17290: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (30): Tavira, CISMI, onde há 48 anos frequentei o 1.º Ciclo do Curso de Sargentos Milicianos (António Tavares)

Vd. também 28 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12649: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (14): As localidades por onde passei, sofri e amei - Conclusão (Veríssimo Ferreira)

(...) Até que um dia me transmitem:
- Vais para Abrantes.

Bati o pé e disse:
- Não vou... Não vou... Não vou... 

E fui.

Em Abrantes, estava mais perto de casa [, Ponte de Sor], o que me agradou.

Lá se foi passando o tempo e coube-me ajudar o Oficial instrutor, ensinando novos militares. Por que alguns de nós, os recentes cabo-milicianos, estávamos já a ser mobilizados, fui-me preparando. Contudo, tal mobilização só veio a acontecer, quando já houvera prestado 20 meses de tropa.

Entretanto em Abril de 1965 e "por equivalência a seis meses consecutivos em Unidade Operacional, condição a que satisfaz para promoção ao posto imediato (sic)" , fui promovido a Senhor Furriel-Miliciano. Estava então em Tomar a preparar outros jovens, que afinal acabaram por ser os que fazendo parte da Companhia de Caçadores 1422, embarcaram comigo para a Guiné, em 18 de Agosto. (...)

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16279: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXXIII - Memórias do Victor Manuel Pereira Borges, 1º cabo, cantineiro e apontador do morteiro 81




In Histórias da CCAÇ 2533. Edição de Joaquim Lessa, tipografia Lessa, Maia, s/d, pp. 106.





1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas,  com fotografias). (*)

Trata-se de uma brochura, com cerca de 6 dezenas de curtas histórias, de uma a duas páginas, e profusamente ilustrada (cerca de meia centena de fotos). Chegou às mãos dos nossos editores, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel, para consulta.

Temos a devida autorização do editor e autores para dar a  conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as peripécias por que passou o pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).

O primeirop poste desta série é de 16/4/2014. As primeras 25 páginas são do comandante da companhia, o cap inf Sidónio Ribeiro da Silva, hoje cor ref. Tanto esta companhia como a minha CCAÇ 2590  (mais tarde CCAÇ 12) viajaram, juntas no mesmo T/T, o Niassa, em 24 de maio de 1969, e regressaram juntas, a 17 de março de 1971, no T/T Uíge!... Temos, pois, aí uma fantástica coincidência!..

Hoje reproduz-se o texto da autoria do ex-1ºcabo ap mort Victor Manuel Pereira Borges, cantineiro e apontador do morteiro 81 (pp. 103-106). Julgamos que as fotos também sejam dele. Recorde-se que a CCAÇ 2533 teve 3 baixas mortais, uma delas a do alf mil António da Fonseca Ambrósio, morto em combate, no corredor de Lamel, em 21/12/1970, e que é aqui evocado no texto a seguir.

sábado, 23 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14651: Manuscrito(s) (Luís Graça) (57): Quando o Niassa apitou três vezes... Foi há 46 anos, a 24/5/1969, ias tu a caminho de Bissau, com mais 1734 camaradas, incluindo o soldado condutor auto da PM Jerónimo de Sousa...


T/T Niassa > 24 de maio de 1969 > Uma imagem repetida até à exaustão ao longo da guerra colonial; o transporte de tropas era feito em cargueiros, mistos, adaptados... As condições a bordo eram inumanas ... Neste caso foram transportadas 13 companhias independentes. num total de 1735 homens. As praças eram acomodadas em beliche, nos porões, como animais. Com capacidade para 3 centenas de passageiros, além de cerca de 130 tripulantes, o T/T Niassa. a caminho do TO da Guiné aumentava a "carga humana" cinco ou seis vezes mais...

Foto do livro "Histórias da CCAÇ 2533" [Edição e legendagem: LG]



N/M Niassa > Ficha técnica:

(i) navio misto (carga e passageiros), de 1 hélice; (ii) construído em 1955, na Bélgica; (iii) registado no porto de Lisboa (e abatido em 1979); (iv) com mais de 151 metros de comprimento; (v) arqueação bruta de c. 10.700 toneladas; (vi) uma potência de 6800 cavalos e uma velocidade normal de 16,2 nós; (vii) alojamentos: 22 em primeira classe, e 300 em classe turística, num total de 322 passageiros; (viii) número de tripulantes; 132; (ix) armador: Companhia Nacional de Navegação, Lisboa.

Foi neste navio, adaptado a transporte de tropas (T/T), que viajaram (!), de Lisboa para Bissau, diversas companhias independentes, com partida a 24 de maio de 1969, incluindo a CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), a CCAÇ 2591 (futura CCAÇ 13), a CCAÇ 2592 (futura CCAÇ 14), bem como a CCAÇ 2533 (dos nossos camaradas Luís Nascimento e Joaquim Lessa) ou ainda a CPM 2537 (a que pertenceu o atual secretário geral do PCP - Partido Comunista Português, Jerónimo de Sousa). Um "fait divers" para a história...

Crédito fotográfico: Navios Mercantes Portugueses (2004) (Foto aqui reproduzida com a devida vénia...)


apitou três vezes


por Luís Graça (**)



Uma estranha maneira de dizer adeus,
um estranho povo este
que vem ajoelhar-se,
no cais de partida,
não em oração para aplacar a ira dos deuses,
mas vergado,
vergado à toda poderosa razão de Estado.

A tentacular força centrífuga
que, de há séculos,
te leva os filhos teus, para fora,
paridos e expulsos do ventre da mátria,
para longe, bem para longe,
muito para lá do mar.

Uma despedida breve,
com lágrimas salgadas no rosto
e lenços brancos em fundo preto.
Todas as despedidas são breves e tristes:
o momento em que o Niassa apita três vezes
e levanta a âncora,
nunca se poderia eternizar,
diz o capitão de terra, ar, mar e guerra,
lencinho ao pescoço,
cheirando a Vat(e) 69, ontogenético, fotogénico,
cinéfilo, garboso, charmoso, glamoroso
pronto para a ação
... na mesa do king, do bridge ou da lerpa.

Passado o Bugio,
deixado para trás o velho do Restelo,
desvanecido o azul da serra de Sintra,
há um briefing às cinco da tarde,
já em velocidade de cruzeiro,
no mar alto que outrora foi português,
anuncia o capitão,
muito pouco ou nada miliciano,
que serve de mordomo, pequeno e burguês.
Vai na segunda comissão, o oficial provinciano,
que nunca ouviu falar da batalha de Dien Bien Phu
nem sabe onde fica a ilha do Como.

E o filme da noite é  uma comédia, 
do cinema mudo,
acrescenta o nosso primeiro,
que no T/T Niassa faz de porteiro
ao bar Meu Amor, Guiné.
Um gajo bacano, num país de bacanos,
fulanos e sicranos,
de soldados rasos, primeiros cabos, furriéis forcados
e segundos sargentos, mangas de alpaca.


Uma tragicomédia, escreverás tu no teu diário
a que mais tarde chamarás Diário de um Tuga.
Cadé os oficiais ?
Cadé a elite da nação ?
Onde estão os filhos-família,
a ínclita geração, 
os primeiros, a fina flor, os morgados,
os cavaleiros andantes, os primogénitos, os palmeirins,
os fidalgos, a casta, a raça apurada,
o sangue azul, pedigreeos Gamas e os Camões,
os melhores de todos nós ?
... Morreram todos
em Alcácer Quibir.

Lisboa revista,  revisitada,  revistada,
em filme de oito milímetros,
a preto e branco ou a preto e negro,
dizes tu, corrosivo,
uma só nação,
valente mas ferida mortalmente,
ironiza alguém.
O Niassa colonial
na azáfama do seu vai-e-vem
antes de ir parar à sucata,
inglória a sucata da história que tu perdeste
aos dezoitos anos,
quando deste o teu nome para as sortes.
Estranha palavra essa, das sortes, 
que rima com desnortes
e com mortes e com fortes, 
que dos fracos não reza a história.

despedida breve e triste do Niassa,
o teu primeiro e único cruzeiro da vida,
e ainda mais triste é o filme, sem som,
sem palavras desnecessárias, a preto e branco
que alguém terá feito
no cais das sete partidas,
talvez a noiva que ia vestida de branco
com xaile preto, a louca,
por cima dos ombros.

A ponte, ainda reluzente,
de Salazar, o velho,
o velho abutre que alisa as suas penas,
dirás tu, Sophia,  pitonisa de Delphos,
quase morto mas não enterrado.
Os últimos golfinhos do Tejo,
a última fragata de vela erguida,
a última caravela,
a última nau do cais da Ribeira,
o último império que ficou por haver,
o último marinheiro em terra,
sinal de tempestade,
o último uísque marado 
que ficou por beber de um trago
no Cais do Sodré, amargo,
o mudo do Cristo Rei em terra 
que outrora foi de infiéis,
o Terreiro que continua do Paço,  não do povo…
Lisboa e o seu casario, branco, sujo,
o filme a preto e branco, riscado,
um gato preto à janela,
sinal de mau agoiro.

Lisboa...  e lá longe a Guiné,
Lisboa, enfim,  com as suas ruínas,
pré-pombalinas,
o poço dos mouros, o poço dos negros,
o lundum, a umbigada
a procissão da Nossa Senhora da Saúde,
mais a Santa Inquisição,
zelando pela pureza da raça e do sangue,
zurzindo corpos e almas,
o Cemitério dos Prazeres ao alto,
com os seus altos ciprestes negros,
os mastros dos navios da carreira colonial,
o império por um fio, dental,
a vida, ainda curta, que se recapitula,
de fio a pavio,
no último comboio da noite
que veio do campo militar
de Santa Margarida.

Ah!, e os jacarandás  que, em maio, já choram,
de lágrimas lilases,
e as santas das nossas mães que ficaram em casa,
a acender a vela à santa das santas,
a tecer o lenço de enxugar lágrimas,
um fado que tu ouviste numa tasca do Bairro Alto
e que já não era batido nem dançado nem cantado,
um fado apenas gemido, sussurrado.

Ordeiros os soldados
como os cordeiros da matança da Páscoa.
anhos, dizem no norte, alinhados
no Cais da Rocha Conde de Óbidos,
como os elétricos amarelos
que vão para a Cruz Quebrada,
empilhados, aboletados, requisitados
às mães para servir a Pátria,
o pai-patrão que lhes cobra o dízimo
em sangue, suor e lágrimas.

Mudos, agrilhoados, os básicos,
uns refratários, outros desertores,
cozinheiros, magarefes, corneteiros,
apontadores de dilagrama,
municiadores de metralhadora,
desenfiados, traidores, atiradores,
sacristães, sapadores, pulhas,
coveiros, escriturários,  bazuqueiros,
safados, bufarinheiros, cavaleiros,
trolhas, cavadores de enxada,
infantes, artilheiros, maqueiros,
herois de torre e espada…

Coitadas das mães que tais filhos pariram,
diz a letra do ceguinho.
subindo o portaló, o cadafalso,
com um nó na garganta mal disfarçado,
os lenços brancos como em Fátima no 13 de maio.
Algumas bandeiras verdes-rubras,
poucas e loucas,
que os tempos não são
de exaltação patriótica.
O hino canta-se em voz de cana rachada,
em disco riscado
por senhoras, poucas e roucas,
do Movimento Nacional Feminino.

A mesma atitude, admirável,
de patética resignação
perante o arbítrio dos deuses
que tudo pedem e podem.
diz o capelão,
cheio de unto e de virtude,
que este é um povo religioso
porque tem o sentido do pathos,
leia-se: da tragédia inelutável,
acrescenta o bispo de Merda…suma.

Senhora Nossa, rogai por nós, pecadores,
protege-nos, das minas e armadilhas,
dos fornilhos e das bailarinas,
das canhoadas e roquetadas,
das morteiradas, dos estilhaços
e dos tiros de costureirinha,
protege-nos do IN, leia-se inimigo,
dos esquentamentos e das sezões,
dos ataques de abelhas e das formigas carnívoras.
mas também do cone de fogo
das nossas bazucas  e canhões sem recuo.
das piçadas  e dos louvores dos nossos comandantes.
e sobretudo de nós mesmos,
soldados malgré noussoldado à força,
arrebanhados,  arregimentados, requisitados, 
condenados, ameaçados,  camuflados. 
acondicionados como bestas
que vão para o matadouro.
Livra-nos, Senhora Nossa,
da fome, da peste e da guerra,
e do marechal da nossa terra
que nos manda para tão longe.

Lisboa e as suas sete colinas
perdem-se na linha de água.
Puseste o combate do possível
na tua agenda de expedicionário da Guiné.
Puseste o fio com a medalha de ouro
ao peito, que te deu a tua namorada, coitada.
Não, não usas a cruz, o crucifixo,
não vais para a guerra santa,
não, senhor capelão,
alguém há de rezar por ti, camarada,
para que  voltes são e salvo.
Do regulamento é apenas
a chapa de zinco
com o número mecanográfico 13151468
e o picotado ao meio.
para mais facilmente ser cortada
em duas partes
que seguirão caminhos distintos,
tudo isto face ao risco, bem real e concreto,
de tu morreres longe, bem longe
da tua casa, da tua pátria,
para lá do mar,
em terra que nunca te viu nascer.

Descansa, camarada,
alguém fará o teu espólio,
cerrará os teus dentes,
fechará os teus olhos,
engraxará as tuas botas.
e porá um moeda na boca
para pagares a viagem ao barqueiro de Caronte,
no caso de morreres pela Pátria,
ainda jovem e imberbe,
nas bolanhas, rias ou matos da Guiné

Levarás contigo a pedra-chave
que te liga ao além,
uma chapa de zinco, picotada ao meio,
que outrora era de xisto ou de grés,
entre o teu antepassado
calcolítico, castrejo, romanizado.


Respeitaremos a tua última vontade,
lavrada no cimento fresco do teu abrigo:
Camaradas
(que colegas é só nas putas!):
se eu aqui morrer, 
que me enterrem,
 
numa anta do meu país megalítico!


A bordo do T/T Niassa, 
a caminho da Guiné,
24-29 de maio de 1969. 
Visto e revisto.
v10 22mai2015

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14639: Memória dos lugares (292): Reordenamento e destacamento de Nhabijões (António Mateus, Guifões, Matosinhos; ex-1º cabo at inf, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Junto a um abrigo em Bambadinca: o  António Mateus (1º  cabo at inf), ao centro; à direita o 1º cabo cripto, Gabriel Gonçalves...

São dois membros da nossa Tabanca Grande e partiram para a Guiné no mesmo dia que eu, no mesmo transporte de tropas, o Niassa, em 24 de maio de 1969... Vai fazer este ano 46 anos... Pertencíamos todos a uma estranha companhia que só levava meia centenas de graduados e especialistas, a CCAÇ 2590, mais tarde CCAÇ 12, formada por praças (uma centena) do recrutamento local...

À esquerda, parece-em ser um 1º cabo condutor auto, de quem me lembro perfeitamente, mas não sei o nome... Recentemente perdi o contacto (telefónico) do Mateus, estou á espera de o recuperar  para pora poder esclarecer este e outros pontos... O emdereço de email do Mateus é do genro, Emanuel...




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento de Nhabijões  (?) > O 1º  cabo António Mateus, no  espaldão da bazuca 8.9. (Houve diversos acidentes mortais com esta arma, totalmente desadequada para a luta antiguerrilha; para defesa de umn destacamento ou tabanca não era má, operada a partir de uma vala ou espaldão, e à falta de artilharia, sempre podia causar alguns estragos aos assaltantes; pelo menos, fazia barulho...).


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento de Nhabijões  (?) > O 1º Cabo António Mateus, com um instrumento tradicional balanta, de cordas... O camarada à sua esquerda deveria pertencer à CCS do batalhão que estava em Bambadinca (possivelmente BART 2917, 1970/72).



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento de Missirá ou Nhabijões (?) > O 1º Cabo António Mateus, à esquerda, com um camarada que não consigo identificar (possivelmente operador de transmissões ou condutor)....



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento de Missirá ou Nhabijões (?)  > Vendo meljhor a base do monumento, esta foto deve ter sido tirada já no final da comissão do António Matues (1º trimestre de 1971), em Nhabijões... 

Inicialmente pus  a hipótese de ter sido numa altura em que o 3º Gr Comb da CCAÇ 12, (comandando pelo alf mil at inf Abel Rodrigues)  esteve em reforço do Pel Caç Nat 52, em Missirá (, quando este era comandado pel alf mil Beja Santos), mas isso só poderia ter sido  antes do Mateus ter sido ferido, portanto, antes de 7 de setembro de 1969.... 

Na base do monumento, constam os aquartelamentos por onde andou o Pel Caç Nat 52, "Os Gaviões" (cuja divisa era "Matar ou Morrer"): por ordem cronológica, Porto Gole, Enxalé, Missirá, Bambadinca e Nhabijões... Deve ter sido depois do fim da comissão do Beja Santos, no 1º trimestre de 1970, e portanto já em Nhabijões... O Pel Caç Nat 52 esteve em Bambadinca, tendo o Pel Caç Nat 63, do Jorge Cabral, ido guarnecer Missirá.  

Do lado esquerdo estão os nomes dos camaradas do Pel Caç Nat 52 mortos em combate: (i)  1º cabo Pires, soldados  (ii) Abdulai Camará, (iii)  Sadjo Baldé e (iv) Uam Sambú (, morreu na missão do sono, em Bambadincazinho, em 1/1/1970, em resultado de acidente com arma de fogo).

Talvez o Beja Santos e o Jorge Cabral possam dar mais pormenores sobre esta foto.



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento de Nhabijões  (?)  > O António Mateus o primeiro da direita... Ao centro,  um condutor auto,lembro-me perfietamnete da sua cara bem como do camarada a seu lado...

O reordenamento de Nhabijões (com cerca de 3 centenas de moranças) era o maior ou um dos maiores então em construção no CTIG... Foi um perfeito disparate, um sorvedouro de dinheiro, um elefante branco!... Está por fazer o balanço, no nosso blogue, das experiências de reordenamentos no CTIG.


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento de Nhabijões (?) > O António Mateus, ao centro, com a G3 às costas, junto a um curso de água... (Seria o Rio Undunduma ?).

Fotos: © António Mateus (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]



1. Mais fotos do álbum do meu camarada da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1969/71), António Mateus, de seu nome completo António Braga Rodrigues Mateus. As fotos vieram  sem legenda. 


Nasceu em 18 de novembro de 1947. É casado com a Laura, tem uma filha. E fez-nos chegar, através do email do seu genro, Emanuel Azevedo (mais conhecido por Tito), as fotos da praxe, bem como mais aklgumas que já publicamos

O António Mateus foi gravemente ferido na Op Pato Rufia, em 7 de setembro de 1969, e evacuado para o HM 241. No meu caso, foi o meu batismo de fogo... . Eu estava a escassos metros dele. 

Depois de ter estado emigrado em França. fixou-se em Guifões, Matosinhos onde é vizinho do Albano Costa, e tem hoje o seu negócio próprio

Depois de regressar do hospital, em data que já não posso precisar (talvez finais de 1969, princípios de 1970), o António Mateus foi integrado na força que defendia o destacamento do reordenamento de Nhabijões, composto por militares (em geral, com algum "handicap" físico, resultante de ferimentos em combate ou acidente) da CCAÇ 12, da CCS do BCAÇ 2852 (e depois do BART 2917) e outros (como o Pel Caç Nat 52). Creio que ficou lá o resto da comissão. Também eu passei por lá, pro Nhabijões... (LG)

PS - O pessoal de Bambadinca deste tempo (1968/71) vai reunir-se, em mais um convívio anual, na Trofa, no dia 30 de maio de 2015.

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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14613: Memória dos lugares (291): Bissau, Bambadinca e Farim, em 2011 (José Maria Sousa Ferreira, ex-viola solo do conjunto musical "Os Bambas d'Incas", Bambadinca, 1968/70)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12734: O Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - Contrastes do mesmo cenário [parte III] (Jorge Araújo)

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), com data de 9 de Fevereiro de 2014:

Caríssimos Camaradas Editores:
Luís Graça, Carlos Vinhal e Eduardo Magalhães. 
Os meus melhores cumprimentos.
O presente texto, ainda que continue a ter por panorâmica histórica o cenário do Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, e o modus vivendi de quem por lá passou [1973], a sua introdução foge um pouco do que tem sido meu hábito em situações anteriores.
Este desvio, enquanto espaço de liberdade, foi influenciado por algumas reflexões surgidas recentemente neste espaço plural de partilha e, daí, deu este resultado.

Obrigado pela vossa compreensão!
Um abraço.
Jorge Araújo.
09Fev2014


O DESTACAMENTO DA PONTE DO RIO UDUNDUMA 
(XIME-BAMBADINCA)

- Contrastes do mesmo cenário [parte III] -

1. Introdução

De acordo com a intensão expressa nos textos anteriores [P12565 e P12586], volto hoje à vossa presença com o mesmo propósito de sempre: o de relatar, na primeira pessoa, os factos mais relevantes que marcaram a vida de um miliciano na sua passagem pelo CTIGuiné.

Assim, continuaremos a aprofundar o tema relacionado com o Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, onde estivemos o segundo semestre do ano de 1973 [já fez quarenta anos!], decisão confortada com as palavras solidárias do camarada António Rosinha ao defender que “cada um deve ter a coragem de dizer aquilo que na realidade presenciou e aprendeu”.

Mas, antes do mais, é justo endereçar aos camaradas, grã-tabanqueiros desta Tabanca que não pára de crescer, os meus sinceros agradecimentos pelos diferentes contributos/comentários produzidos neste âmbito, adicionando-lhe mais valor reflexivo e histórico, por efeito de aí terem passado uma parcela do seu precioso tempo, ainda que em momentos diferentes, em obediência à missão militar que lhes foi confiada/imposta.

Estão nesse caso os camaradas: Carlos Marques Santos [CArt 2339], Luís Graça, António (Tony) Levezinho e Humberto Reis [CCaç 2590/CCaç 12], Jorge Cabral [PCN 63], Paulo Santiago [PCN 53], Beja Santos [PCN 52] e Joaquim Mexia Alves [CArt 3492 e PCN 52], com especial deferência para o Carlos Marques Santos, por ter sido o primeiro a assentar arraial naquele espaço, no longínquo dia 29Mai1969, com tendas de três panos da 2.ª Guerra Mundial, e daí considerar-se, simbólica e carinhosamente, como o DINOSSAURO… da Ponte.
Estou de acordo!

No alinhamento deste texto, entendi incluir e apreciar a pertinência da reflexão do nosso amigo e camarada Pereira da Costa [que foi, durante cinco meses, CMDT da CART 3494, tempo suficiente para ter estado envolvido, entre outros, no episódio estúpido do Rio Geba] ao colocar a problemática do conflito militar a partir de duas perguntas filosóficas; porquê e para quê?

Com efeito, estas são, pela intemporalidade da sua pertinência, duas das principais questões em que nos deveríamos deter ao longo das diferentes fases da nossa vida [unindo o presente ao passado e aprendendo com ele, encontrando novos rumos para a dignificação do Homem], sendo o como e o quando, outras tantas a considerar de igual modo, pois sabemos que tudo é efémero neste nosso cosmos: tem princípio, meio e fim.

Mas, de facto, não tenho uma resposta assertiva e convincente, por ausência de dados, quiçá mais importantes do que aqueles que possuo, na medida em que a nossa ignorância se evidencia e cresce com o saber, em resultado do número de questões ser sempre superior ao das respostas, e daí não haver explicações definitivas.

Retenho-me, por ora, num simples mas importante detalhe que influenciou o nosso comportamento naquele contexto. Quando, dando cumprimento ao programa de treino multidisciplinar de preparação para a guerra, me diziam: “Ranger-Araújo: tu-vais-ser-chefe!” [futuro], omitiam em que condições e com que recursos materiais e humanos tal ia acontecer, para logo a seguir afirmarem: “tu-és-carne-para-canhão!”, expressão [massificada] que viria a ser repetida manga de vezes ao longo da comissão, em particular quando o psicológico dava sinais de algum desânimo, deixando, assim, ao livre arbítrio a construção/reconstrução de um conceito ideológico temperado pela prática concreta do dia-a-dia.

Pelo exposto, e como ficou demonstrado ao longo do tempo, nunca me conseguiram explicar o porquê e para quê, uma vez que a explicação pressupõe antes uma compreensão, que é um processo incompleto e equivocado, e daí haver um deficit dessa compreensão em cadeia. Ou seja, primeiro será necessário compreender para, depois, tentar explicar, pelo que este é um processo que ainda não se encontra encerrado.

Num cosmos onde tudo muda: as pessoas, a sociedade e o mundo, e em que só a mudança é imutável; depois duma ordem, vem a desordem para dar lugar a uma nova ordem [sociologia da ordem e do progresso], por influência da tríade [tróica] TER-PODER-SABER – eis, então, a fórmula que nos comandou… e continua…!

Ainda assim avanço com um elemento mais desta fenomenologia, para prosseguir a reflexão.

Pode ler-se na brochura editada sobre a História do BART 3873 [de autor(es) desconhecido(s)] que “A sede do BArt 3873, decorridos já 5 meses, não teve qualquer ataque ou flagelação o que se percebe pelo cordão protector que a rodeia a dificultar, ou a impedir mesmo, a retirada da força atacante” [p.70].

Da interpretação deste parágrafo nasceu em nós uma outra dúvida: será que o efectivo reduzido a doze unidades, existente no Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, no âmbito da missão de fazer segurança a duas Pontes, era também parte desse cordão?

Do ponto de vista do significado/significante, o conceito “Segurança” significa acto ou efeito de segurar; afastamento de todo o perigo; condição do que está seguro; garantia; confiança; tranquilidade de espírito por não haver perigo [Dicionário da Língua Portuguesa. Lisboa: Texto Editora. Abril/2004; p.1339].

Será que esta era a questão principal da nossa missão?

Importa salientar, todavia, que nenhum fenómeno sociocultural, no qual se inclui o socio-militar, é neutral, na justa medida em que não há nenhum sistema totalmente fechado em si, nem é plenamente autónomo. Isto significa que qualquer que seja o seu objecto [de estudo] este emerge de um processo construído pela filosofia da época, a partir do funcionamento sistémico entre todos os elementos que o constituem, como foi referido anteriormente.

Daí julgar que se devem aceitar estas pequenas histórias, com a sua independência e cronologia específica, mais que não seja para se identificarem os contrastes ocorridos nos mesmos cenários [diferenças/semelhanças], e ainda como legado particular de um tempo de vida, que foi o meu, em que, felizmente, saí vitorioso em todos os “contextos”, o mesmo não acontecendo com outros meus semelhantes que não tiveram, lamentavelmente, direito a “bilhete de volta” [expressão do camarada Tony Levezinho], aos quais presto, neste espaço, uma sentida homenagem.

Deste modo, o porquê e o para quê continuará a fazer todo o sentido se antes das decisões a tomar, eles contribuírem para esclarecer as consequências de cada uma delas, numa dupla dimensão: qualitativa e quantitativa. Como teriam feito todo o sentido se tivessem sido colocadas a Winston Churchill (1874-1965), enquanto primeiro-ministro britânico, após o discurso proferido no âmbito de uma Moção de Confiança ao seu governo, em 13Mai1940, a propósito da sua visão futurista no conflito militar emergente da 2.ª Guerra Mundial, quando afirmou: “não dou pré, nem quartéis, nem provisões. Dou fama, sede, marchas forçadas, batalhas e morte”, plagiando a ideia expressa anteriormente pelo general italiano Giuseppe Garibaldi (1807-1882).

Curiosamente, estávamos, então, na época da adolescência dos nossos pais e/ou nos primeiros anos de vida daqueles que foram os pioneiros da Guerra Ultramarina. Eis como os factos históricos continuam a ser cruéis para a humanidade.

Daquela expressão brutal, nasceu uma outra mais reduzida: “Sangue, suor e lágrimas”, e que, entre tantas apropriações, deu nome ao poema “Fado Sangue, suor e lágrimas” [P9122] do camarada Manuel V. Moreira, da CArt 1746, nosso antepassado nas lides da Ponta do Inglês e do Xime - 1967/69, e escrito, segundo creio, em 20Dez1968, no Xime.

Em suma, com o decorrer dos anos, o Poder [pois é ele que decide sobre estas e outras matérias] continua a ser cego, surdo [ou faz de conta!]… e é teimoso, até que o “cordão”… se parte e se desfaz.

Dito isto, avancemos para o ponto seguinte, apresentando mais algumas imagens referentes ao enquadramento geográfico onde nasceu o “Destacamento da Ponte…” e o modo de vida de um tempo organizado em interface com outros tempos, onde a natureza de cada tempo influenciava o outro que vinha a seguir.


2. O Contexto do Destacamento da Ponte do Rio Udunduma

Foto 27 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte do Rio Udunduma] – imagem aérea dos espaços circunvolventes às duas Pontes: a velha danificada em 28/29Mai1969, a cima, e a nova construída pela empresa TECNIL e inaugurada no início do ano de 1972, paralela, a baixo.

O rectângulo a vermelho corresponde à área onde foram construídas as primeiras instalações de apoio aos sucessivos contingentes militares para ali enviados, vulgo abrigos, concebidos a partir de buracos abertos no chão e alinhados entre si, virados para a mata/o mato.

É de referir, em nome da verdade, que o camarada Carlos Marques Santos e o efectivo do seu Gr Comb (o 3.º), da CArt 2339, sediada em Mansambo, e que liderou, foram os primeiros habitantes daquele território.

A imagem de fundo é de Humberto Reis [P12647], com a devida vénia.

Foto 28 – Estrada Xime-Bambadinca [Pontes do Rio Udunduma - 1973] – As duas pontes vistas de frente e o Rio Udunduma. Bambadinca fica para a esquerda e o Xime para a direita.

Foto 29 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - 1973] – Imagem longitudinal da estrada nova, à esquerda, e a velha, à direita. Ao fundo fica Bambadinca, a quatro quilómetros, e à esquerda a estrada termina no Cais do Xime, localizado a sete quilómetros, em cujo Aquartelamento, à data, esta instalada a CCAÇ 12.

Foto 30 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - 1973] – Imagem da estrutura da nova ponte.

Imagens [postal] dos contrastes no roteiro triangular: Bambadinca – Xime – Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, entre 1972/1973. 

Bambadinca, sede de Batalhão, era o local identificado do “ar condicionado”, onde tudo estava muito limpinho e arranjadinho… O Xime foi o destino inicial da CART 3494, onde permanecemos treze meses: de finais de Janeiro/1972 a início de Março/1973 e onde vivemos muitas emoções… O Destacamento da Ponte foi um tempo e um espaço, e um modo de vida… pouco/nada digno, mas que acabou por ser superado com alguma criatividade.

Foto 31 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - 1973] – Imagem de um plano de água do Rio Udunduma, procurando-se identificar potenciais locais de “armadilhas” e outros de risco efectivo…

Foto 32 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - 1973] – População do Aldeamento A/D de Amedalai que ali se deslocava diariamente para lavar roupa e fazer a sua higiene pessoal. Ficava a 1 km [+/-], na direcção do Xime. Estávamos, com efeito, na Estação das Chuvas… o caudal do rio era, naturalmente, maior.

Foto 33 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - 1973] – O mesmo da legenda anterior, reforçada com a presença do camarada Joaquim Cerqueira, para compor o enquadramento.

O Cerqueira, como era conhecido, foi o militar da CArt 3494 que nas saídas para o mato, no Xime, era quase sempre o último a transpor o arame farpado e, naturalmente, o último a chegar ao Aquartelamento. Por isso, vastas foram as vezes que lhe dissemos para ter cuidado, pois um dia poderia ser apanhado à mão. Felizmente que não lhe aconteceu nada. Um abraço para ele.


3. O Tempo de novas Emoções versus Tensões

O dia 13 de Setembro de 1973, 5.ª feira, estava a ser semelhante à grande maioria dos já contabilizados, até então, no Destacamento da Ponte. Porém, deixou de o ser quando no exterior dos buracos, aos quais se chamavam “abrigos”, o pessoal se organizava para superar mais uma noite, depois de ter ingerido a terceira refeição da jornada: o jantar.

O sol já se tinha escondido no horizonte e a claridade do dia diminuía a cada minuto. O equipamento que nos auxiliava na visão de proximidade [petromax] estava a ser preparado. E eis senão quando a nossa atenção mudou de sentido por efeito de mais um “festival pirotécnico”, pleno de luz e som, que se apresentava à nossa frente. Rebentamentos e rajadas de kalashnikov, também conhecidas por “costureirinhas”, entravam pelos nossos ouvidos, provocando um natural aumento do ritmo cardíaco. Não vinham na nossa direcção [por enquanto!], mas não estavam muito longe. Quem estaria, naquele momento, a “embrulhar”? Era a pergunta mais banal naqueles momentos dramáticos.

Como o som dos rebentamentos tinham níveis diferentes, muito provavelmente estaríamos perante vários ataques em simultâneo na direcção do Xime. E nós…? O que fazer naquelas circunstâncias…? Iríamos, também, ser contemplados com uma visita relâmpago…? Estas e outras interrogações nos surgiram no pensamento… E agora o que devo fazer… na qualidade de líder [chefe] do Grupo… com apenas doze elementos.

Lidar com ele, entre emoções e tensões, aliás como acontece com todos os Humanos que estão em situações complexas, como foi o nosso caso no CTIG… e como serão certamente em todas as guerras, independentemente dos lugares.

Sei/sabemos hoje, no quadro teórico das neurociências, por exemplo, que o conceito emoção traz à mente uma taxonomia de seis emoções ditas primárias ou universais; alegria, tristeza, medo, cólera, surpresa ou aversão. O rótulo emoção também tem sido aplicado por impulsos e motivações e a estados de dor e prazer.

Como já tinha estado em situações francamente mais difíceis, como já dei conta nas narrativas sobre as duas emboscadas na “Ponta Coli” [P9698; P9802 e P12232] e a do “Naufrágio no Rio Geba”, em 10Ago1972 [P10246], ou ainda nas várias flagelações sofridas pelo colectivo da CART 3494, no Aquartelamento do Xime, durante os treze meses que aí permanecemos, procurei/procurámos, em função do quadro que estávamos a observar, manter o melhor autocontrolo possível.

Para saber algo mais concreto, recorremos ao único instrumento de comunicação aí existente – um rádio emissor/receptor AVP1 – mas sem sucesso. Ruídos e interferências… e mais ruídos… e mais interferências… até que desistimos. E os rebentamentos continuavam ali tão perto ajudando a iluminar a noite… que já o era.

Largos minutos depois surgiram, ao longe, as primeiras viaturas militares vindas do lado de Bambadinca, o que nos permitiu entender o contexto com mais tranquilidade. Mas, como elas não pararam na Ponte… que “cena” estaria a acontecer, na medida em que a duração do[s] ataque[s] levava já um tempo francamente excessivo em relação a situações anteriores?

Por exclusão de partes, chegámos a conclusão de que o ataque mais próximo de nós seria no Aldeamento em Auto-Defesa [A/D] de Amedalai, situado a escassos mil metros [+/-]. O outro, muito provavelmente, seria no Aquartelamento do Xime, onde estava agora a CCAÇ 12. E bateu certo!

Essa noite foi, como seria de esperar, passada ao relento e mais uma em “branco” num cenário de Lua Nova; escura como breu. Porque não abandonámos o nosso contexto, os relatos acima correspondem, tão só e apenas, ao que sentimos e vivemos naquela noite. Porém, para completar esta ocorrência histórica, recorremos ao que se encontra expresso na publicação sobre a História do BART 3873. Eis a sua transcrição na íntegra:

“Em 131835SET73 [a hora não corresponde aos meus registos; seria mais tarde!], o Xime e Amedalai são flagelados simultaneamente durante 15 e 45 minutos respectivamente, por numeroso grupo IN. Sobre o 1.º, o inimigo utilizou R.P.G, Morteiro 82 e Canhão s/Recuo. Sobre o 2.º, R.P.G. e armas automáticas. 1 GrComb da CCS/BART 3873 e 2 viaturas do Pel. Rec. Daimler 8681, acorreram em socorro da A/D de Amedalai, sofrendo uma emboscada na Estrada Xime/Bambadinca. NT e Pel Mil. 241 (Amedalai) sem consequências, bem como os civis. Houve apenas a registar o incêndio de 2 moranças daquela A/D.

O inimigo deu mostras de maior agressividade nas referidas flagelações, ao prolongar a sua acção contra a A/D por três quartos de hora, sabendo que o acesso das NT a Amedalai seria facilitado pela estrada asfaltada e proximidade de Bambadinca e Destacamento da Ponte do Rio Udunduma. As forças IN, provenientes do Poindon/Ponta do Inglês, vinham reforçadas pelo grupo de Artilharia do Quinara” [pp 119/120].

Termino esta terceira narrativa sobre o “Destacamento da Ponte…” dando conta de um facto omisso na História da Unidade relacionado com a imagem abaixo.

Foto 34 – Estrada Xime-Bambadinca [Aldeamento A/D de Amedalai a 1 km do Destacamento da Ponte do Rio Udunduma] – Estado em que ficou uma Daimler na sequência do ataque.

Porque pertenço à última geração de ex-combatentes que viveu, conviveu e sobreviveu no contexto do Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, tenciono voltar a este tema, numa próxima oportunidade, dando continuidade ao seu aprofundamento histórico, divulgando outras peripécias enquadradas por novas imagens.

Estes meus relatos históricos poderão ser, de facto, os últimos, na medida em que, se a memória não me atraiçoa, o contingente da CART 3494 ali destacado, foi substituído, em Fevereiro/74, por um PCN, como, aliás, acontecera em situações anteriores.

Não é crível, por isso, saber-se o que, entretanto, aí aconteceu até ao 25 de Abril.

Obrigado pela atenção!
Um forte abraço para todos.
Jorge Araújo.
09.Fev/2014.
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Nota do editor

Vd. Postes anteriores da série de:

10 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12565: O Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - As acções especiais durante o segundo semestre de 1973 (parte I) (Jorge Araújo)
e
15 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12586: O Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - As acções especiais durante o segundo semestre de 1973 (parte II) (Jorge Araújo)