Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça, com o objetivo de ajudar os antigos combatentes a reconstituir o puzzle da memória da guerra da Guiné (1961/74). Iniciado em 23 Abr 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência desta guerra. Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, e gostamos de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 6 de setembro de 2009
Guiné 63/74 - P4909: Blogoterapia (124): Na Guiné também houve sacanas! (António G. Matos)
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4725: Blogoterapia (120): Como falam as fotografias (António G. Matos)
domingo, 12 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4674: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (16): O alvoroço dos (re)encontros: obrigado, malta da CCAÇ 2790 (António Matos)
Guiné >Bula > CCAÇ 2790 > A equipa de futebol... De pé, do lado direito, de camuflado, o Cap Inf Sucena (ou será o Gertrudes da Silva ?)
Guiné > Região do Cacheu > Rio Mansoa: a jangada que fazia a travessia do rio, em João Landim, carregando o pessoal da CCAÇ 2790. (Teve como unidade mobilizadora o BII 18, partiu para a Guiné em 24/9/1970 e regressou a 30/9/1972. Esteve em Ponta Augusto Barros e em Bula. Comandantes foram dois: Cap Inf José Pedro de Sucena, e Cap Inf Diamantino Gertrudes da Silva.
Fotos: © José Câmara (2009). Direitos reservados
1. Mensagem de António Matos (*), ex-Alf Mil MA da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72:
Caros editores, aqui vai um texto [, para publicação como poste, logo que possível]... Em anexo mando algumas fotos que me foram cedidas pelo José Câmara, lá dos States, que me fizeram muito bem pelas recordações fabulosas que me permitiram (**).
Um abraço
António Matos
2. O mundo é pequeno e o nosso blogue ... é grande (***) > Obrigado, José Câmara!por António Matos
Caramba, como bate o coração !!!!
Caramba, eu que fui um especialista comercial da grande IBM Portugal, [colega do Raul Albino,] vejo-me agora a vibrar a um ritmo cardíaco mais acelerado do que o meu normal pelas maravilhas informáticas postas ao meu dispor !!!!
Caramba, que laços estes que se formaram na guerra e que agora, quase 40 anos depois, me põem de lágrima ao canto do olho, com um entusiasmo danado por alguém ter descoberto uma ligação aos homens que comigo conviveram naqueles 2 anos de inferno mas que a vida os transpôs para terras do tio Sam, para lá do Atlântico, e de quem nunca mais tive a mínima ideia de os voltar a encontrar...
Esta é uma primeira tentativa conseguida (se bem que ainda só em fotografia ) mas talvez o futuro nos venha a possibilitar, ainda, aquele abraço !
Caramba, José Câmara, como te estou agradecido !!!!
Caramba, José Câmara, que fantástico rever o Moniz, o Benevides, o capitão Sucena, o padre Antero, o Rocha, o Ferreira, o furriel Carabina, o furriel Cardoso, o Cordeiro, o Simas, o Aprígio, o capitão Gertrudes da Silva, o Carvalho Araújo em Ponta Delgada, a LDM e tantos outros camaradas que, relembrando-me deles, não recordo os nomes...
Como te posso agradecer, meu caro ?
Não sei por onde começar a desembrulhar o enigma desta parte da minha vida mas sei que não vou largar as pontas agora expostas.
Vou continuar a precisar de ti desse lado do mar para me pores em contacto com essa malta que foram para mim como irmãos, como filhos, como companheiros de luta, como parceiros de momentos de angústia, de medo, de dor, de solidariedade desmedida, enfim.
Melhor do que ninguém saberás dar andamento ao que já deslindaste mas agora põe essa gente a falar comigo , por favor!
Os números de telefone que já me disponibilizaste (José Bairos e José João) não me têm dado qualquer resposta e não sei dar andamento ao assunto.
Conto contigo e com eles!
Faz boas férias e se passares cá pelo Continente, telefona ! Estou no 919777978 !
Um grande abraço do
António Matos
___________
(*) Vd. postes de:
1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3390 Tabanca Grande (95): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula (1970/72)
Vd. também postes de:
7 de Maio de 2009 >Guiné 63/74 - P4296: Espelho meu, diz-me quem sou eu (2): António Matos
26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4582: Os Nossos Camaradas Guineenses (11): Ernesto… procuro saber algo sobre este meu Amigo guineense (António Matos):
(**) José da Câmara, natural das Lajes das Flores, Açores, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73.
Vd. postes de:
15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4350: Tabanca Grande (141): José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73)
25 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4577: O mundo é pequeno e o nosso Blogue... é grande (13): Encontro de dois atabancados em terras da América (José da Câmara)
27 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4424: (Ex)citações (30): O meu pai só aprendeu as letras que o trabalho lhe ensinou (José da Câmara)
Vd. série Memórias e histórias minhas (José da Câmara):
16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4353: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (1): O início do Serviço Militar
27 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4421: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (2): O IAO em Santa Margarida
8 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4480: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (3): Partida para a Guiné
(***) Vd. útimo poste da série>
12 de Julho de 2009 >
Guiné 63/74 - P4673: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (15): Ingoré e Gandembel na feira de Custóias, Matosinhos (José Teixeira)
terça-feira, 7 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4652: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (14): O mundo é do tamanho duma ervilha (António Matos)
Caros editores,
Aqui fica uma contribuição modesta para o blog quando nos preparamos para mais um fim de semana.
Se o agendamento das publicações o permitir, que agradável seria vê-lo publicado gozando do contexto meteorológico estival...
Um abraço,
António Matos
O Mundo do tamanho de uma ervilha
Sexta-feira à tarde...
Lisboa...
Esplanada de A Brasileira....
15 horas....
Sento-me a escassos 4 metros do Pessoa...
O cosmopolistismo lisboeta nesta zona confunde o observador circunstancial sobre as nacionalidades dos passantes nas suas têzes morenas e cabeleiras dum loiro oxigenado deixando a dúvida se se trata duma sueca quem acaba de passar ou simplesmente uma destas moçoilas das bandas da Trafaria habituada à travessia diária do Tejo abordo dum cacilheiro....
Sejam elas (ou eles) de onde forem, o bom do "Camões do séc. XX" não tem descanso perante as poses que lhe são solicitadas para os milhares de fotos de quem passa!
Há os que, de roteiro turístico na mão, percebem estar frente a um vulto superior e há também aqueles que disparam flashes em catadupa perante a curiosa e coloquial postura do homem do chapéu e papillon...
Há coxas nuas e sugestivamente traçadas, num ímpeto de arejo estival às partes pudibúndicas e um zunzum poliglota a dar a entender que o €uro ainda permite a alguns virem lavar a vista arremelgada dum ano inteiro em cima dos livros de contabilidade das suas empresas ou dos écrans dos computadores a vasculharem as redes sociais...
Numa mesa próxima da minha, um azeiteiro disfarçado de jet set coça, displiscentemente, os tomates enquanto o António Vasconcelos, no canto oposto, capta imagens para mais um filme...
Entretanto o meu computador que mantenho aceso e ao qual tinha já plugado na USB a minha net de banda larga através desta maravilha tecnológica chamada PEN, dá um PIUUUU!!
Fui ver...
O Facebook registava a entrada da resposta que aguardava e que, no fundo, justifica este meu post no blog.
O José Saraiva acabava de entrar em contacto comigo e transportava-me para a Guiné.
Foi um ex-combatente no Leste e também foi daqueles para quem o arame farpado não o acoitava...
Falou-me do seu As Lágrimas de Aquiles.
Já me dirigi à livraria do Diário de Notícias no Rossio e deixei a encomenda...
A sinopse entusiasmou-me...
Voltarei ao tema depois da leitura...
Até lá fica a referência e a constatação de que, de facto, o Luis Graça & Amigos é grande e o mundo... é uma ervilha...
António Matos
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4582: Os Nossos Camaradas Guineenses (11): Ernesto… procuro saber algo sobre este meu Amigo guineense (António Matos):
Vd. último poste da série de25 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4577: O mundo é pequeno e o nosso Blogue... é grande (13): Encontro de dois atabancados em terras da América (José da Câmara)
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Guiné 63/74 - P4582: Os Nossos Camaradas Guineenses (11): Ernesto… procuro saber algo sobre este meu Amigo guineense (António Matos)
sábado, 13 de junho de 2009
Guiné 63/74 - P4517: Controvérsias (22): O outro lado da guerra, os desertores (António G. Matos)
A panóplia de reflexões que se consubstanciam em posts, comentários e (in)confidências que temos com o nosso travesseiro, têm, de algum modo, contribuído indelevelmente para uma melhor percepção da guerra que travámos no ultramar e muito especialmente na Guiné.
Temos relembrado ocasiões que nos marcaram o corpo e o espírito e temo-las transposto para os dias de hoje com um restyling desenvolvido em ateliers mentais, nos quais vamos misturando as cores da nossa vida, retocando aqui ou ali uma imagem que se começou a desbotar, mas que insistimos em preservar.
Relembramos camaradas desaparecidos na voragem da luta e debatemo-nos em perceber os deuses que os não protegeram.
Trazemos à memória os inimigos da altura.
Assina-se uma paz e decreta-se uma vivência irmanada.
Posteriormente percebe-se que a vida não se decreta!
Vamo-nos reunindo para expelirmos algumas confissões inconfessáveis enquanto viverem os protagonistas.
Mas temo-nos esquecido de estudar com profundidade e saber sociológico, uma peça importante na compreensão da complexidade da guerra: o porquê, o como, a corda-bamba das suas vidas, os entretantos, as saudades, os medos, a clandestinidade, os outros que fizeram o quotidiano dos desertores.
Não se tirem conclusões precipitadas a esta minha reflexão!
Tenho amigos que foram desertores e eu próprio fui altamente assediado a fazê-lo.
Não vou explanar sobre o meu caso (já o abordei em antigo post) pois interessa-me saber dos que o consumaram e não dos outros.
Considero que, para uma boa compreensão dos contextos social, político, económico, das relações de causalidade da acção aos resultados, e das novas maneiras de ver estas problemáticas, os então desertores poderão contribuir para o enriquecimento cultural deste blog.
Dentro dos voyeurs desta tabanca haverá, com certeza, quem tenha optado por essa via e, aceitando-lhes a liberdade de o terem feito, desafio-os a tornarem claros os conceitos atrás mencionados.
Aguardemos as contribuições.
António Matos
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 12 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4513: Comentários que merecem ser postes (7): Encontros imprevistos... na latrina (António G. Matos)
Vd. último poste da série de 13 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4515: Controvérsias (17): A César o que é de César! (Mário Fitas)
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Guiné 63/74 - P4513: (Ex)citações (30): Encontros imprevistos... na latrina (António G. Matos)
Sempre disse mal da minha vida no que ao ex-ultramar português dizia respeito, muito concretamente à Guiné.
E isto porque desde logo me passaram o atestado de óbito aquando da mobilização (eh pá vais para a Guiné? Tiveste azar!); depois porque passei 2 anos enfiado num sítio onde, nas horas de serviço, estava rodeado de capim, de bolanhas, de mosquitos ou à pancada; fora das horas de serviço ou me metia debaixo dum mosqueteiro a dizimá-los um a um ou lá ia lendo uns livros; finalmente, mas não menos importante, porque até a cidade onde me deslocava por vezes, a coberto de uma consulta externa, não tinha qualquer laivo de interesse capaz de me despreocupar durante as horas que lá passasse.
O tempo era gasto na 5.ª repartição entre dois dedos de conversa pontual ou na apreciação sempre gulosa de verdadeiras misses, fossem pretas, mulatas, cabritas ou brancas!
Eram, de facto, todas dignas de se lhes tirar o chapéu! Porque seria?
Mas voltando à desgraça de ter ido cair à Guiné, lembro-me que, porque estava em África, teria imaginado fortuitos encontros com elefantes, pacaças, serpentes, leões, etc.
Mas qual quê, o pior, o mais sanguinário, o mais ordinário, a mais temível fera que me foi dado encontrar, foi o mosquito!
Perante as confissões de ignorância do Luís e do Miguel, junto a minha, não sem que não refira uma luta que travei com uma cobrita algures quando me encontrava encavalitado no passadiço suspenso a uns 2 metros de altura de uma construção moderníssima no meu destacamento de Augusto Barros e pomposamente chamada de latrina.
Recordo que a posição que se assumia naquela assoalhada permitia uma visão em grande angular do recinto lá em baixo todo ele repleto de flores de cheiro, e outros despojos.
Pois numa dessas ocasiões, e absorto de qualquer pensamento bélico, começo a reparar num movimento lento mas decidido, que restolhava por entre toda aquela javardice. Mantive-me atento do meu ponto de observação e reparei que era uma cobra.
Sentindo-se, talvez, alvo de atenção, parou.
Foi a altura própria para a tentar atingir entre os olhos com um bombardeamento digno desse nome.
Qual avião que se preparasse para lançar umas cargas de Napalm, também aquela desgraçada cobra foi trucidada por um verdadeiro e repugnante bombardeamento de precisão milimétrica.
Nunca mais fui para a latrina sem G3 e até cheguei a pensar em levar uma HK21 e uma fita de munições, mas o tripé não deixava espaço para outras manobras e desisti.
António Matos
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4471: Encerrar um capítulo de não-vida da nossa vida? (António G. Matos)
(**) Vd. poste de 7 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4477: FAP (29): Encontros imprevistos (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)
Vd. último poste da série de 9 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4309: Comentários que merecem ser postes (6): Manuel Moreira Barbosa, um Comando da 38.ª (Magalhães Ribeiro)
sábado, 6 de junho de 2009
Guiné 63/74 - P4471: Encerrar um capítulo de não-vida da nossa vida? (António G. Matos)
Assunto: Dou por mim a pensar...
Caros editores,
Reflexões a que me dediquei numa altura em que outras reflexões de índole nacional nos poderão preocupar...
Um abraço,
António Matos
Dou por mim a pensar...
Dou por mim a pensar...
O que terá levado toda esta geração de ex-combatentes da guerra do ultramar a, passados 35 anos, envolver-se numa narrativa que sempre repudiou e guardou só para si?
Dou por mim a pensar...
Que valores intrínsecos despertaram que os pusesse a contar estórias de solidão, estórias de amarguras, de desgostos, de dores físicas e morais, de sentido de defesa da integridade, de solidariedade, de compaixão, de falsos patriotismos como se de uma auto-comiseração se tratasse?
Dou por mim a pensar...
Será a catarse um processo sem fim?
A libertação dos nossos medos, dos nossos demónios, dos nossos fantasmas transformar-se-à numa mera acção de vaidade a que a prosa dá vida?
Dou por mim a pensar...
Quantos falsos sentimentos, quantas deturpações da realidade (o que é a realidade?), quantas subtilezas podem ser equacionadas quando nos confrontamos com a epidemia editorial em que se transformou um país labrego por excelência?
Já foi referido nesta colectânea "Luís Graça & Camaradas da Guiné" a necessidade inexorável de cada um vir, a seu tempo, a encerrar o capítulo Guiné como se de uma verdadeira missão de vida se tivesse tratado.
Concordo em absoluto embora o momento certo tenha que ser aferido individualmente.
Dou por mim a pensar quão intrigante é a mente humana que consegue voltar de costas ex-camaradas pela simples razão da sua realidade ser diferente da realidade do outro.
Dou por mim a pensar até que ponto a grandeza em se respeitar um antigo inimigo não se transforma em bacôca pelintrice quando o elevamos a níveis mais altos do que aquele que os nossos parâmetros éticos permitem.
Dou por mim a pensar porque propagandeamos as qualidades guerreiras dum antigo combatente só porque um dia morre e esquecemos todo o rio de sangue que derramou em prol da usura dum despotismo primitivo.
Dou por mim a pensar que tanta lucidez pode ser prenúncio que expurguei a minha vida não-vida entre 1969 e 1972.
Neste capítulo estou de bem comigo.
António Matos
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 28 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4431: Blogoterapia (104): Não façamos deste Blogue um muro de lamentações (António G. Matos)
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Guiné 63/74 - P4427: "Restolhada", uma Operação da CCAÇ 2790 no Choquemone (António G. Matos)
Há nomes que, só de se ouvirem pronunciar, causam náuseas e mal estar.
Exemplos são, Hitler, Alzheimer, Parkinson, e, mais recentemente um tal de AB que no entanto não tem a categoria dos anteriores que o catapulte para a notoriedade.
Ficará rasteiro, ao nível do chão em terra batida, emporcalhado com um mergulho que o obrigaram a dar na caca que ele próprio largou, mal cheiroso e envergonhado com uns óculos de marca cujas lentes teriam já caído.
Perdeu completamente o estatuto de tio AB e deixou-nos o terreno livre para falarmos dos outros.
Desses, Hitler personifica o Mal;
Alzheimer e Parkinson ligam-se à medicina e às doenças do foro neurológico como sabemos.
Não me sinto minimamente habilitado a dissertar sobre tais figuras, mas são conhecidas as maleitas das doenças que são catalogadas pelos seus nomes; esquecimento, falta de controlo de movimentos, apatia crescente, tudo em crescente e, finalmente a morte.
Ora, enquanto somos poupados a tal diagnóstico, vamos brincando com uma ou outra dificuldade que se nos vai deparando, tentando com isso justificar a falta de ideias para escrever mais posts para o blog.
Seviu toda esta divagação para dizer que tenho apreciado a memória que muitos dos camaradas demonstram ter ao referirem nomes de operações, datas, pormenores, etc., quando comigo não se passa isso.
É claro que recordo as cenas de pancadria, fogachada, acidentes, mas os nomes e as datas, vai lá vai, até a barraca abana !!!...
Por outro lado sempre achei muita piada aos nomes com que se baptizavam as ditas operações e a mim calharam-me algumas cuja designação não associo ao objectivo.
Uma delas foi a "Restolhada" que teve variadíssimas sub-empreitadas uma das quais ao Choquemone.
Se não foi, não vem daí mal ao mundo, mas vamos admitir que foi, ok?
Essa operação tinha como objectivo travar-nos de razões com os lindinhos (agora parece mal dizer nharro, turra, ou escarumba, mas na altura era assim mesmo que eram conhecidos os nossos irmãos e, por outro lado, não parecem nada mal os nomes com que eles nos mimavam, claro, mas isso agora não interessa nada) e depois de os desalojar da toca, apareceriam as tropas especiais (?!) para os apanhar à mão. Manga de ronco!
Mas a estória pretende relatar a aproximação final ao objectivo e tentar dar uma ideia, pálida que seja, às pessoas que não tendo passado por experiência semelhante, tenham a curiosidade de entender o contexto.
Depois de várias horas de progressão durante a noite, fez-se a pausa final, não tanto para descansar, mas para tornar o dispositivo controlável e eficaz.
Uma das artes da guerra era baralhar o inimigo e surpreendê-lo na sua própria casa.
Os nossos handicaps para além de não conhecermos o terreno era a circunstância de não abandonarmos os feridos nem os mortos no local da contenda enquanto essa era a metodologia deles.
Havia, pois, que usar da astúcia considerada mais adequada às circunstâncias e nesse dia (ou melhor, nessa noite), nos momentos anteriores ao assalto final, foi pedido o apoio dos obuses de Bula numa táctica parecida com os miúdos da aldeia que mijam para as tocas dos grilos para eles saírem, sabem?
O problema foi localizar o objectivo do tiro.
Às perguntas do artilheiro de Bula, demos-lhe o que entendemos ser a melhor mira possível mas, pelo sim pelo não, pedimos alguma folga não fosse a canhoada caír-nos na cabeça!
A coisa foi arriscada!
A primeira fogachada caíu entre nós e os lindinhos!
Porra que isto está muito perto!
Eh pá, alarga o tiro senão ninguém chega hoje ao quartel!
De alarga-o-tiro-encolhe-o-tiro, conseguimos desalojá-los e pô-los em debandada.
Não nos coube a missão de correr atrás deles e considerámos isso a cereja no topo do bolo que oferecemos aos especiais.
Havia agora que sair dali antes que o prego torcesse o bico.
Chegados a Bula, houve abraços e uma sensação extremamente agradável de estarmos vivos!
O dia já ia alto e havia que recuperar forças pois a restolhada ia prolongar-se ...
Ainda hoje há muita restolhada por aí .....
António Matos
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4407: Meu pai, meu velho, meu camarada (4): Não é um elogio fúnebre que te quero dedicar... (António G. Matos)
quinta-feira, 7 de maio de 2009
Guiné 63/74 - P4296: Espelho meu, diz-me quem sou eu (2): António Matos
O nosso camarada Matos, na Guiné, era um homem que brincava com o fogo, um sapador, o tal das minas e armadilhas ( o terror de qualquer infante, de um lado e do outro), o tal que montava, desmontava, cavilhava, descavilhava... Felizmente regressou inteiro... Mas deixou lá dois anos de vida (só ?). Ei-lo aqui ao espelho, fazendo a sua autoscopia... Mais um texto de antologia do nosso blogue (entre centenas que temos publicado)... Obrigatório ler para quem quiser conhecer, do lado de cá do monitor, a angústia do sapador em acção... Um abraço para o António Matos e outro para o Luís Faria, que felizmente regressaram para contar aos filhos e aos netos essa estranha história de gente que aos 20 anos andava em cima do fio da navalha (quer eu dizer, da faca de mato)... (LG)
1. Mensagem do António Matos:
Meus caros editores,
Após o desafio do Luís Graça, aqui está uma pequena contribuição minha para o tema (**).
Anexo 4 fotos:
(i) Uma de quando cheguei à Guiné;
(ii) outra a meio da comissão, no campo de minas;
(iii) uma outra da mina descrita no texto;
(iv) e finalmente outra da actualidade.
Façam como entenderem melhor no seu aproveitamento.
Embora ande por aí um texto meu por publicar, gostava de pedir que este fosse mais rápido por uma questão de actualidade com o pedido do Luis.
Se puder, óptimo !
Se tiver que ultrapassar outros textos, .... óptimo !
Se não puder ... Stº António !
Um abraço,
António
2. Espelho meu, diz-me quem sou eu (2) > António Matos
Um dia, vejo-me de faca de mato em riste, camuflado desbotado de tanta lavagem ter suportado, olhando para o céu como que a implorar capacidade de compreensão da situação do momento, rodeado de alguns camaradas mais absortos uns do que outros, numa missão cujas consequências não nos era dado reflectir ainda que as alterações comportamentais pessoais viessem a ser extremamente condicionantes do que seria de supor se se observassem, exaustivamente que fosse, as apetências que o nosso ADN deixaria antever.
Em menino também fui dos que brinquei ao Zorro e ao Tonto (eu era o Zorro !), ao David Crocket, ao chefe da Brigada Montada, ao Major Alvega e neles via os heróis, os justiceiros, os aventureiros que queria imitar...
Eram saudáveis as lutas que travava de espada (de madeira e numa imitação de O Pirata Vermelho protagonizado pelo Burt Lancaster ) ou aos cowboys onde o cavalo mais não era do que o som imitativo dum galope (às vezes umas relinchadelas ) e a postura se assemelhava ao do equídeo a correr numa cadência de trote...
De quando em vez o nosso quintal que dava vida aos desfiladeiros do Grand Cannyon, transformava-se em palco de tiroteio de TÁTÁRÁTÁTÁ TRRRRRÁÁÁÁÁÁ e discutíamos acerrimamente que “tu já morreste !”, “eu acertei-te !”, “tens que morrer !”
Depois começava a escurecer e regressávamos a casa para jantar e fazer uma sabatina com o pai sobre tabuada ou os rios de Portugal...
Um dia, a faca do mato de lâmina afiada, emparelhando com objectos detonantes que não se destinavam às lutas do faz-de-conta, transportava-me para uma realidade abjecta e da qual eu participava activamente, calculando, milimetricamente, a colocação mais adequada do engenho para potenciar a sua eficácia destruidora ….
E ali estava eu, confrontado com o mata-ou-safa-te, não discernindo capazmente entre o Bem e o Mal, o Dever e o não-Dever, entre o conceito de Humanidade e o de não-Humanidade que uma guerra gera ….
E eis-me estupidamente no meio dum mato, a colocar minas estrategicamente pensadas, de acordo com sofisticadas tácticas de destruição, separadas a distância rigorosa umas das outras, numa densidade de penetração no terreno tal que não permitia a veleidade de alguém atravessar aquela zona sem accionar, pelo menos, uma delas...
E eis-me a esboçar um sorriso cada vez que concluía a montagem de mais uma, num claro sinal dos efeitos da guerra na integridade intelectual e psicológica dum menino de 22 anos obrigado a ser homem rapidamente, custasse o que custasse !
- PUM !
- Ah foda-se ! O que foi isto ?
O coração saía pela boca tal a pulsação perante o inesperado rebentamento.
- O que foi, porra ?
Desta vez o caso não foi grave. Tinha sido um macaco que acionara a mina e ficou espalmado no terreno.
Porém, a extrapolação do espectáculo para um cenário cujos protagonistas fossemos nós, criou reacções de grande constrangimento e os efeitos psicológicos não tardaram a aparecer.
O homem é um animal de hábitos e cai frequentemente no erro das rotinas.
Havia que lutar contra esse inimigo o que não era fácil pois a minha situação (como a de todos os outros, diga-se) ao estar envolvido com as “mãos na massa”, não me permitia controlar o pelotão que, entretanto, fazia a segurança.
Essa tarefa era passada para os outros graduados do grupo mas ficava-nos sempre o aperto no peito ao imaginar que as tais regras básicas de segurança pudessem ser alijeiradas .
O dia acabava para aquela equipa passadas que estivessem cerca de 3 ou 4 horas ou se, por outro lado, houvesse um acidente.
Nessa altura seríamos imediatamente recolhidos para tentarmos lavar as más imagens.
É, pois, fácil de imaginar a alteração do estado de estabilidade emocional de cada um. A cada passo, e para não baixarmos a guarda, dava-se mais um acidente e mais um e mais outro...
Tenho para mim que foi a prova mais difícil em toda a minha vida onde tive que dinamizar um grupo de pessoas na concentração num objectivo (regresso à Metrópole ) e, simultaneamente, tê-las despertas para um perigo eminente mas que podia ser avaliado e minorado.
Nessa grande aventura tive sempre a companhia do nosso camarada Luís Faria e com ele protagonizámos uma cena que tem tanto de dramático e aterrador como de patético.
A situação passa-se aquando da desmontagem desse famigerado campo de minas.
Fácil será de compreender que havia factores que tornavam a operação responsável por elevadíssimos níveis de stress e entre eles estava o fim da comissão à vista e o facto de as minas não estarem todas nos sítios onde tinham sido colocadas (chuvadas e animais ocasionaram a deslocação de muitos dos engenhos) e, finalmente, uma catadupa de acidentes que aconteceram nessa altura.
É nesse ambiente que eu e o Luís Faria nos propusemos neutralizar uma determinada mina. Fruto do tempo passado desde a sua instalação até esse dia, a vegetação cresceu à sua volta bem assim como um bagabaga.
Aquela mina estava complicada mas por razões que agora não recordo, não optámos pelo rebentamento puro e simples.
Com a coragem que os 20 anos fazem confundir com irresponsabilidade, começámos a tornear o terreno circundante com o auxílio das facas de mato.
Pé-ante-pé, ou melhor, mão-ante-mão, estávamos a conseguir o objectivo definido –levantá-la com a prévia neutralização.
A cena não foi cronometrada mas hoje arrisco que podem muito bem ter sido uns 20 minutos de tensão ao máximo e com os nervos à beira dum colapso.
Nisto, entrámos numa dimensão etérea... O suor escorria pela cara como se uma torneira se tivesse aberto...
A noção que tenho foi de que entabulámos uma conversa de mortos onde nos questionávamos o que tinha corrido mal para termos morrido...
A escassos dois palmos das nossas caras, nós accionámos a puta da mina !
Reconheço a incapacidade de traduzir por palavras as emoções, os desesperos, as aflições por que passámos naquele momento enquanto não nos apercebemos que aquela mina, AQUELA E NÃO OUTRA ! tinha apodrecido e, embora accionada, não rebentou !
A ter acontecido, e tratando-se da mina que se tratava, julgo que seria difícil a um qualquer instituto de medicina legal recompor o puzzle e dizer quem era quem.
Julgo que esta cena não foi do conhecimento geral e, após fumarmos meia dúzia de cigarros seguidos, respirámos fundo e continuámos, alarvemente, a levantar minas...
António
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3390 Tabanca Grande (95): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula (1970/72)
(**) Vd. poste de 6 de Maio de 2009 >Guiné 63/74 - P4288: Espelho meu, diz-me quem sou eu (1): Joaquim Mexia Alves
domingo, 5 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4141: Os Bu...rakos em que vivemos (2): Bula, CCCAÇ 2790 (António Matos)
Bula > Mercado Foto: © Luís Faria (2009). Direitos reservados De 1970 a 1972 foi uma zona de grande actividade guerrilheira com passagens constantes de Este para Oeste e vice-versa a desencadear constante perseguição da nossa parte e originando-nos diversas baixas. Na tentativa de minorar essa movimentação do IN, foi montado o maior campo de minas de todo o ultramar (cerca de 16.000 minas) em cuja equipa de técnicos me encontrava na qualidade de alferes atirador e minas e armadilhas. A montagem demorou bastante tempo e o desgaste físico e psicológico a que fomos submetidos leva-me a confrontar essa realidade com qualquer outra na Guiné. Lá, vi caírem vários camaradas de pernas decepadas; Lá, vivi momentos de inolvidável apreensão ao temer flagelações sem hipótese de grandes defesas, pois não estávamos armados uma vez que se tornava incompatível o transporte da G3 com aquela actividade; Lá, vi indígenas igualmente vítimas daqueles engenhos; Lá, voei com o sopro da deflagração duma mina que tinha sido accionada por outro camarada; De lá, falei com o meu Deus a implorar protecção; Do meio de todo aquele inferno lembrava os pais, irmãos, namorada... Naquele campo de ferros e trotil alienei parte da minha capacidade de ser inteligente para sobreviver e poder, um dia, vir a um blog contar como foi... Os dias começavam bem cedo para que o calor não perturbasse tanto os movimentos cirúrgicos que as nossas mãos executavam... Quantas vezes, mal chegados à arena, regressávamos de imediato fruto de acidente com um camarada... No dia seguinte, qual trapezista que cai do seu equilíbrio e se estatela no chão, voltávamos, maquinalmente, estranhamente calmos, sem reinvindicar nada, até que (quantas vezes, meu Deus!) o PUM se ouvisse e os gritos nos dilacerassem as entranhas... E os dias sucediam-se... E os acidentes também... E os erros que se cometiam aquando de deslocações pelo campo a fim de permitir operações que nos eram atribuídas... E com que trágicos resultados... E quantas vezes, depois de regressar ao quartel após esse part-time eu tomava o comando do meu Pelotão para o acompanhar em operações de maior melindre... Mas nem só de minas era constituído o nosso dia-a-dia! No nosso buraco cabíam outras realidades... O nosso camarada António Matos manuseando uma mina portuguesa. Foto: © António Matos (2009). Direitos reservados Estive destacado em Augusto Barros cuja população, hostil por excelência, era verruminosa. Às nossas ofertas de arroz e mão de obra para a construção de tabancas, agradeciam com flagelações. A essas, respondíamos com galhardia e de todas saímos vencedores e impusemos a autoridade. As picadas de acesso a Bula cedo se tornaram suportáveis pela adopção de critérios psicologicamente traumatizantes: as viaturas da frente eram cheias com as mulheres e crianças que necessitavam de se deslocar aproveitando as disponibilidades militares. Porém, a hipótese de contacto era sempre admitida e o ambiente tornava-se fechado, de dentes cerrados, olhos prescutando o inimigo e o mergulho para o chão estava à distância de um clique. Quando os mísseis assobiaram por cima das nossas cabeças, a dimensão da guerra tomou outra envergadura. Quando as Panhards demoravam mais um bocado e a luta tomava foros de coisa de homem-a-homem, a nossa meninice perdia mais uns pontos e os homens iam-se formando com a bitola das leis da selva. E quantas vezes era solicitado o heli-canhão que, ao aparecer, permitia que muitos soldados chorassem de alívio e Lhe agradecessem a benesse de continuarem vivos... E para culminar a configuração do buraco, chegados ao quartel, quantas vezes encarávamos uma hierarquia militarmente incompetente, balofa, désputa e estúpida! Esta hierarquia que perguntava pelos estragos materiais e esquecia os mortos e os feridos! Isto não são figuras de retórica, sr. Almeida Bruno! Se do alto do seu pedantismo tiver dúvidas (não as devia ter, falando como fala!) recordo-lhe o 19 de Janeiro de 1971 na estrada Bula-S.Vicente. Documente-se e limpe-se a esse guardanapo, meu caro senhor! Nem só de Guileje viveu a guerra da Guiné! E heróis, houve-os nas mais insignificantes situações! Nos mais miseráveis e recônditos buracos desabrocham estórias dum dramatismo incomensurável que a morte, só por si, deveria fazer erguer monumentos individualizados a cada uma das vítimas! (in http://sekanevasse.blog.com/). Camarada Luís Graça, por aqui me fico na identificação do meu buraco na expectativa de que esta prosa, pouco cuidada, possa ser motivadora de outras fotografias que envergonhem os homens do ar condicionado, calcanhares em cima da mesa, arrotando estrondosa e etilicamente nas reuniões da socialite! Um grande abraço, António __________ Notas de CV: (*) Vd. último poste de António Matos de 4 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4139: Comentários que merecem ser Postes (1) As vacinas da tropa ou as doses cavalares (António Matos) Vd. Primeiro poste da série de 31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4115: Os Bu... rakos em que vivemos (1): Banjara, CART 1690 (Parte I) (António Moreira/Alfredo Reis/A. Marques Lopes)
sábado, 4 de abril de 2009
Guiné 63/74 - P4139: (Ex)citações (20): As vacinas da tropa ou as doses cavalares (António Matos)
Caro Mexia Alves,
Depois de vir à janela da Tabanca ver como iam as modas, deparei com este teu texto sobre o dia de ida às sortes e deu-me ganas de escrever.
Não me irei debruçar sobre idêntica ocasião pois o meu caso foi vulgar de Lineu.
Entrei por um lado, saí pelo outro, e atribuíram-me a placa APROVADO, bem à semelhança das inspecções dos automóveis com mais de 4 anos.
Sorte a deles pois não era côxo ou cego o que provocaria um grande barrete uma vez que, julgo, nem para mim olharam.
Não sendo, portanto, motivo de história, falarei do dia da vacinação conhecida como de dose de cavalo pois dava para tudo e mais um prego.
Foi uma cerimónia com pompa e circunstância uma vez que mobilizou, não um Pelotão ou uma Companhia, mas sim um Regimento!
Estava em Mafra e o frio invernal (Outubro) provocava um bater de dentes parecido com um sapateado flamengo...
Íamo-nos aproximando da enfermaria em grupos de pelotão e uma vez lá, sentávamo-nos num banco corrido em grupos de 15.
De tronco nu, e de olhos esbugalhados com os exemplos das anteriores vítimas, preparámo-nos para a carnificina.
O cortejo abria com um enfermeiro transportando debaixo do braço e demasiado perto do sovaco, uma terrina cheia de agulhas.
Essa terrina servia, à hora das refeições, para transportar a sopa para as mesas.
Atrás vinha um 2.º enfermeiro que, com um maço de algodão a imitar uma esfregona, besuntava as omoplatas com tintura de iodo.
Depois aparecia a figura sinistra do espetador de agulhas!
À medida que se aproximava, iam-se esclarecendo as dúvidas de alguns sons que entretanto se ouviam.
Antes de enfiar o ferro, dava um chapadão nas costas do paciente e não raras eram as vezes em que o desgraçado voava literalmente estatelando-se no chão!
Aquilo eram verdadeiras bandarilhas e as semelhanças com uma tourada só não eram completas porque aquela malta não tinha idade para ser boi, além de que faltavam os olés!
Finalmente, eis que aparece um 4.º enfermeiro com a seringa!
Esta mais parecia uma para enseminar vacas e a distribuição das doses pareceu-me feita a olho o que provocava que o último do banco não levava a dose completa.
Retiradas as farpas, seguiu-se um fim de semana horroroso de dores e febres de 40's que nos prostou na cama com dispensa de qualquer actividade.
Nesse fim de semana houve um problema qualquer num quartel que pôs a malta de prevenção e lamentei a sorte deste país cuja segurança nos foi pedida !!!!
Hoje posso dizer que a dose era mesmo cavalar pois fiz todo o período militar sem constipações, enxaquecas, paludismos ou afim.
Um abraço
António Matos
2. Comentário de CV:
"Comentários que merecem ser Postes" vai ser uma série destinada aos comentários mais extensos e que contenham uma história interessante. O critério será o seguido com o exemplo de hoje. Nunca ninguém tinha aflorado este momento marcante da nossa vida de militares.
Lembro que qualquer tertuliano que queira publicar um comentário mais extenso, poderá enviá-lo directamente para nós que o publicaremos como poste autónomo.
__________
Nota de CV
(*) Vd. poste de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4091: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (3): Fui desrespeitado de maneira ignóbil (António Matos)
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Guiné 63/74 - P3761: Efemérides (14): 19 de Janeiro de 1971, estrada Bula-S. Vicente...(António Matos)
Mensagem de António Matos, de 19 de Janeiro de 2009
Eram jovens meninos, "teenagers" numa grande maioria, com sonhos de quem tem uma vida pela frente de projectos concebidos a solo ou a dois ou a muitos...
Fazem hoje 38 anos que os nossos camaradas José Maria Cabral Tavares (furriel), Diniz Pimentel Carvalho e César Vieira Andrade (soldados) viram as suas vidas ceifadas numa brutal emboscada na estrada Bula – S. Vicente.
Eu era o alferes daquele pelotão e quis o destino que nesse dia estivesse hospitalizado em Bissau por via duma duodenite que ameaçava degenerar em úlcera e passei incólume àquele tiroteio.
Já o mencionei neste blogue e volto a fazê-lo ser minha convicção que tal acidente teve a dimensão que teve porque, desgraçadamente, eu não estava presente.
Sinto que as mais elementares regras de segurança que eram apanágio daquele grupo de combate não foram seguidas por vicissitudes várias, o que deu de mão beijada aos emboscados as condições ideais de flagelarem e massacrarem aqueles homens.
Não me sinto possuído pelo síndroma pós-traumático da guerra mas convivo mal com o acaso daquele dia.
Passa hoje mais um aniversário de saudade daqueles que partilharam connosco uma agradável companhia desde os Açores até à Guiné e que tiveram na CCaç 2790 a sua casa, o seu ombro amigo, o conforto ou a advertência que o dia-a-dia ditava.
Estejam onde estiverem, estejam bem! Sereis sempre uma referência e uma bandeira que não nos deixará esquecer aqueles tempos!
Nem só de Guileje viveu a guerra da Guiné! E heróis houve-os nas mais insignificantes situações!
Nos mais miseráveis e recônditos buracos desabrocham estórias dum dramatismo incomensurável que a morte, só por si, deveria fazer erguer monumentos individualizados a cada uma das vítimas! Mesmo que nesses sítios não tivessem emergido escritores que transpusessem para livro tais epopeias!
Camaradas ex combatentes da Guiné,
Camaradas da CCaç. 2790,
Um grande abraço e votos de bom 2009 a todos!
António Matos
Notas de vb:
1. António Matos, ex-Alf Mil da CCaç 2790/BCaç 2928
2. Último artigo da série em
10 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3432: Efemérides (13): A Ordem Militar da Torre e Espada faz 200 anos (José Martins)
domingo, 28 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3673: Ano Novo, altura para recordar vidas passadas, guerras, Amigos desaparecidos...(António Matos)
Mensagem do António Matos
Solidarizando-me à vaga dos votos expressos de Natal e Ano Novo, aqui deixo a minha contribuição para o blogue
Um abraço
António Matos
Em determinadas alturas das nossas vidas, por via de um qualquer acontecimento, situação ou imponderável, somos levados a revisitar as nossas memórias, limpando-lhes o pó acumulado ao longo dos anos e refrescando as imagens que, entretanto, começam a fluir.
Nota de vb: Último artigo do António Matos em
23 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3664: O meu Pelotão (António Matos)
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3664: O meu Pelotão (António Matos)
África tem em Portugal o seu interlocutor privilegiado. Eu testemunho-o!
Um dia, na tranquilidade de um fim de tarde de canícula africana, estirado numa chaise longue que ameaçava desintegrar-se devido à sua artesanal concepção, à conversa com meia dúzia dos meus soldados, recordávamos, à laia de flashback, o que já tínhamos passado de mau e de menos bom naquela guerra, sem sentimentos patrióticos mas com um querer imenso de sobrevivência, contando os dias que faltavam riscando num calendário feito de propósito, numa cartolina preta escrita a marcador branco, entretendo-nos a entregar a roupa às bajudas lavadeiras na convicção absoluta de que mais tarde, à noite, seríamos, uma vez mais, perturbados na paz que tanto desejávamos por um inimigo inculto, ainda que aguerrido, e impossibilitado de compeender a ineficiência daquele conflito, prendando-nos com algumas rajadas de metralhadora.<
O sentimento com que o soldado português era automática e imediatamente tocado à chegada à Guiné era de uma afabilidade incomensurável, sem ideias bélicas pré-concebidas, sem azedumes de qualquer espécie, sem qualquer nesga de racismo, e a demonstrá-lo aí estavam as relações travadas desde logo com as populações no que às actividades normais do dia-a-dia diziam respeito.
No dia da chegada a Bula logo se deram a amizades que durariam aqueles dois anos e algumas delas, provavelmente, enraizaram-se com o nascimento de alguma criança não programada ...
Nem os combates nem a imponderabilidade da vida lhes afectava aquela intimidade espontânea ...
Hoje percebe-se porque é tão fácil o relacionamento de África com Portugal ...
Mas, voltando àquele dia, arrisquei a pergunta ao Moniz se já tinha esquecido um grande acidente que o nosso grupo tivera e no qual faleceram 3 camaradas. O Moniz tinha nas mãos um pássaro muito bonito, colorido, onde o azul sobressaía.
O seu semblante modificou-se profundamente e respondeu-me com muita serenidade:
- Meu alferes, se eu apanhasse um daqueles turras, fazia-lhe isto! - Acto contínuo, com os dedos indicador e polegar, puxou a cabeça do bicho tendo-o decapitado! Pura e simplesmente!
Ficámos por ali, sem recriminações, mas ainda hoje recordo com bastante assiduidade esta cena tão selvática quanto compreensível.
Como açoreano, acredito que o Moniz tenha emigrado e nunca mais ouvi falar dele.
Encetei há uns tempos a procura dos meus soldados que ainda se encontrem entre nós. Já "descobri" 4 deles!
Proponho-me reuni-los todos de uma só vez tendo a noção da homérica acção que isso será uma vez que, na sua maioria, são açoreanos.
Fica prometida a "fotografia de família" se a tanto conseguir chegar!
António Matos
BCaç 2928/CCaç 2790
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Nota de vb: Último artigo do António Matos em
14 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3621: Em busca de... (57): Ex-combatentes do BCaç 2928 (Bula...1970/72) (António Matos)
domingo, 14 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3621: Em busca de... (57): Ex-combatentes do BCaç 2928 (Bula...1970/72) (António Matos)
À procura de Camaradas
Mensagem do António Matos, com data de 14 de Dezembro de 2008
Gostaria imenso de usufruir do sistema de procura de camaradas a quem perdi o rasto desde 1972 !!!
Como se faz isto ?
Os dados são:
Batalhão de Caçadores 2928
Companhia 2790
Capitão Sucena
Pelotão do alferes Matos e dos furrieis Tavares e Guedes Vaz
Ida para a Guiné em 1970
Regresso em 1972
Soldados açoreanos provavelmente imigrados no Canadá ou, eventualmente, já regressados a S.Miguel.
António Matos
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Nota de vb:
Último poste da série de 13 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3617: Em busca de... (55): Ex-combatentes da CCAÇ 594 (Guiné, 1963/65) (Júlio Pinto/Artur da Costa Rodrigues)
sábado, 13 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3616: Convívios (91): Encontro da CCaç 2790 em 20 de Dezembro. (António Matos)
Melancólica recordação
Isto porque, embora em território em guerra declarada, havia destas incongruências traduzidas na proibição de se andar armado.
Ora, para se chegar a Bissau desarmado, seria necessário deixar a "amante" no quartel ou seja, a uns 30 kms de distância!
A viagem começava em Bula e quando a "boleia" era num Unimog 404 a coisa era agradável pois eram umas máquinas espectaculares a andar.
Quando era nos 411, meu Deus, aquilo dava pelos peitos a um macho! O incómodo e a falta de segurança perante qualquer solavanco eram terríveis. Hoje fazem-me lembrar aquelas bóias compridas ( lagartas ) que vemos nas praias, rebocadas por uma lancha e que levam 1/2 dúzia de "artistas" que vão sendo lançados borda-fora à medida que as pequenas ondas aparecem ...
Enquanto vinha e não vinha a lancha, por ali nos ficávamos, de farda nº 2, bota engraxada mas já cheia de terra, e com a ansiedade natural de chegar à cidade. Mesmo que fosse ao hospital!
A entrada no hospital, se bem que reflectisse um ambiente próprio de guerra com helicópteros a pousar e a levantar, com enfermarias cheias de amputados, e de corredores a feder a desespero, proporcionava ao operacional uma sensação de estar fora do conflito e olhar para aqueles "inquilinos" como os azarados que não conseguiram passar incólumes à desgraça.
Acabada a consulta, havia tempo para uma saltada à cidade, à "5ª repartição" para se tomar uma verdadeira coca-cola e uma sande.
Ainda dava para lançar um olhar lânguido a um ou outro par de coxas roliças e respectivas bundas que por ali passassem...
O ambiente citadino do diz-que-disse, do boato, do stress de quem só sentia a guerra através dos rebentamentos lá ao loooonggeeeee mas que era a sua guerra e não se fazia rogado na reinvindicação do estatuto de combatente, era incómodo.
No regresso à base ( Bula ) ficava sempre mais tranquilo ao juntar-me ao meu grupo de combate.
Presunção ? Falsa modéstia ? Estupidez natural ?
Chame-se-lhe o que se quiser na certeza porém, que é a mais pura das verdades.
Gratificante, ainda que contribuísse para o aumento da carga emocional, era a notória satisfação que se estampava nas caras dos soldados como se com a nossa presença lhes déssemos um incremento de confiança.
Não me é fácil fazer elogios em causa própria mas reconheço que investi inquestionavelmente nesse pormenor (confiança) mesmo que por vezes fosse necessário fazer das tripas coração!
Por aí passou, recorrentemente, a minha formação moral, intelectual e humana.
Já em posts anteriores referi que perdi alguns homens em combate.
Não lhes referenciei os nomes por respeito aos familiares que possam ler estas linhas e não o farei por convicção.
Deixo a todos uma recordação de momentos anteriores àquele período tenebroso das nossas vidas, ainda nos Açores, com os ainda aspirantes a alferes e os cabos milicianos que completavam os quadros da CCaç 2790 (à excepção do grupo de combate comandado pelo futuro furriel Cardoso coadjuvado pelo também futuro furriel Barros Leite).
Passadas que estão estas dezenas de anos de permeio, os poucos elementos continentais que constituíam aquela companhia vão reencontrar-se no próximo dia 20 deste mês para um dos habituais jantares de confraternização e terei o cuidado de registar em foto essa "concentração" para aqui vos vir prendar com os aspectos destes jovens.
Até lá.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3600: A propósito do referendo Amigos/Inimigos. António Matos, Bula, ex-Alf Mil da CCaç 2790, Augusto Barros, Bula.
António Matos
Gostava de me reportar à sondagem que está a decorrer sobre a possibilidade da existência ou não de amigos dos dois lados da barricada.
É curiosa a questão, e dá que pensar.
Desde logo a dificuldade em se entender o verdadeiro sentido da pergunta.
1ª Hipótese – é ou não possível termos um amigo que por qualquer razão se passou para o outro lado?
Claro que é! A sua passagem para outro ideal poderá nada ter a ver connosco! Tem a ver com o sistema!
Conclusão: serão amigos em campos diferentes
Neste blog há vários relatos de confrontos que o não foram, aquando do encontro fortuito entre 2 combatentes amigos (mas separados pelo ideário).
2ª Hipótese – equacionar o problema na dualidade de “amigos/inimigos” parece-me um contra-senso.
Inimigo é, por definição, um não-amigo, logo não existem “amigos-inimigos”.
Ou são amigos (e caímos na conclusão da 1ª hipótese) ou são inimigos (que, em guerra, se matarão por verem no outro a razão da sua beligerância).
Em tese, preferiria intitular a questão em amigos e adversários ou então, pura e simplesmente, estamos a falar em inimigos.
Parece-me, contudo, uma discussão demasiado filosófica e os resultados que a sondagem apresenta não se me afiguram claros.
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Notas de vb:
1. Referência aos artigos em30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3544: O segredo de... (2): Santos Oliveira: Encontros imediatos de III grau com o IN
30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3543: O segredo de ... (1): Mário Dias: Xitole, 1965, o encontro de dois amigos inimigos que não constou do relatório de operações
2. Do Autor em
10 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3596: O famoso desenrascanço...(António Matos)
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3596: O famoso desenrascanço...(António Matos)
Isto sem desprimor para o reverso da medalha, isto é, para os valentes e valorosos profissionais que tivessem passado pela Academia Militar ainda que, lá na Amadora, por muitos e bons livros que tivessem lido, não apurassem o olfacto ao cheiro a carne humana assada, nem o ouvido ao grito lancinante de quem levava um tiro ou pedia ajuda ao sentir as forças esvaírem-se no clamor do combate.
Claro que nestas situações, e atendendo a que naquela altura (há quase 40 anos!!) a tecnologia bélica ainda não era tão apurada como nos dias de hoje, consegue-se entender alguma necessidade de criatividade, serôdia, é certo, na resolução de problemas do dia-a-dia, mas sem a qual o equilíbrio entre os contendores se desiquilibraria definitivamente para um dos lados.
Alferes António Matos aos comandos de um "blindado" da CCaç 2790.
Um certo amadorismo próprio de quem resolvia a guerra dando ordens em cima duma carta militar, distribuindo soldados como peças de xadrez e espantando-se quando o IN conseguia "furar" aquelas barreiras tão bem desenhadas nas salas das operações não percebendo que na realidade o território era "ligeiramente" superior ao desenho no tabuleiro, esse amadorismo, dizia, justifica verdadeiras catástrofes vividas bem assim como cenas trágico-cómicas que no fundo completam um verdadeiro cenário de guerra.
Que as coisas acontecessem, tudo bem, ninguém nasce ensinado e portanto vigora a máxima de que à primeira todos caem ...
Que dessa má experiência não se tirassem as ilações adequadas para obviar futuras situações semelhantes, já era comprometedor!
Certo dia, estava eu sediado no destacamento de Augusto Barros, comandei a deslocação a Bula, em coluna motorizada, a bordo duma tão fabulosa quanto velha GMC que, julgo, gastava aí uns 100 litros aos 10 kms !
Conduzia-a um possante soldado (reconhecia-lhe a cara no meio duma multidão mas esqueço-lhe o nome) quando nos preparávamos para o regresso.
As últimas 2 horas tinham sido passadas à volta da equipa de mecânicos "comandada" pelo furriel Perdigão afim de se arranjarem os arames mais convenientes que suportassem a resolução dum problema técnico até ao dia seguinte.
Posta a trabalhar à semelhança dum verdadeiro fórmula 1, fomos de roda batida para a nossa "casinha".
Os primeiros 4 ou 5 quilómetros eram em estrada alcatroada e só depois, na Placa, se infletia à esquerda para a picada.
Era noite.
Atraz da GMC vinha um Unimog 411 onde se abrigava o capitão.
Eu mantinha-me empoleirado na frente da coluna.
Faltava vencer a última subida na estrada quando, repentinamente, se ouve um grande estrondo seguido dum enorme solavanco e a chamada de atenção do condutor que não conseguia travar aquela massa metálica ...
Ao nível do melhor desenho animado, a viatura foi perdendo velocidade até que parou, começando de imediato a andar às arrecuas por força da ausência dos travões.
Ora agora descia em marcha à ré, ora subia ao pr'a frente até que, finalmente, establilizou.
O que teria acontecido ?
Demos, entretanto, pela falta do unimog e o breu da noite não esclarecia o mistério...
Oh capitão ! capitão ! oh capitão, onde está ?
Nada ...
Deve ter sido uma mina ! Cuidado, coloquem um dispositivo de segurança ! Atenção àquele amontoado de arbustos que os turras podem lá estar emboscados !
Levou algum tempo a serenar os ânimos até que o discernimento apareceu.
Tão simplesmente, o motor da GMC, caiu, e o unimog "atrolelou-o" despistando-se, obviamente!
O Perdigão foi chamado com a sua equipa e não sei o que fizeram mas o certo é que, A BORDO DA MESMA GMC, chegámos a Augusto Barros 2 horas depois!
Aqui fica a minha homenagem aos mecânicos milicianos que aguentaram aquele conflito durante tantos anos nas condições logísticas mais desprezíveis mas que permitiam aos operacionais o apoio mínimo à sua função.
António Matos
ex-Alf Mil da CCaç 2790
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Notas de vb:
Último artigo do António Matos em
5 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3569: Ao chegar à Guiné ainda pensei em safaris, leões, elefantes...(António Matos)