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sábado, 9 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24634: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXIV: O jogo do rato e do gato; da Caboiana a Madina do Boé, abril de 1972


Guiné > s/l > s/d > Tenente 'comando' graduado Abdulai Queta Jamanca. Cortesia do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné (Reproduzido no livro, pág. 229)



Capa do livro do Amadu Bailo Djaló,
"Guineense, Comando, Português: I Volume:
Comandos Africanos, 1964 - 1974",
Lisboa, Associação de Comandos,
2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.



O autor, em Bafatá, sua terra natal,
por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)


Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné Conacri, começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii) depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido, por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757;

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló (Cacine, Catió, 1929 - Tite, 1971)

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de um velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,

(xiii) é entretanto transferido para a 2ª CCmds Africanos, agora em formação; 1ª fase de instrução, em Fá Mandinga , sector L1, de 24 de abril a fins de julho de 1971.

(xiv) o final da instrução realizou.se no subsector do Xitole, regulado do Corunal, cim uma incursão ao mítico Galo Corubal.

(xv) com a 2ª CCmds, comandada por Zacarias Saiegh, participa, em outubro e novembro de 1971, participa em duas acções, uma na zona de Bissum Naga e outra na área de Farim;

(xvi) em novembro de 1971, participa na ocupação da península de Gampará (Op  Satélite Dourado, de 11 a 15, e Pérola Amarela, de 24 a 28);

(xvii) 21-24 dezembro de 1971: Op Safira Solitária: "ronco" e "desastre" no coração do Morés, com as 1ª e 2ª CCmds Africanos  (8 morts e 15 feridos graves);

(xviii) Morés, sempre o Morés... 7 de fevereiro de 1972, Op Juventude III;

(xvx) O jogo do rato e do gato: de Cobiana a Madina do Boé, por volta de abril de 1972.


1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digitalizado, do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O nosso  camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra,  facultou-nos uma cópia digital. O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.



 Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXIV:

 O jogo do rato e do gato: da Caboiana a Madina do Boé 
abril de 1972 (pp. 228-232)


Saímos de Bissau em viaturas até ao Bachile, onde estava uma força à nossa espera, uma companhia de europeus[1], milícias e pessoal de artilharia. Era aí a porta de entrada para a mata da Cobiana. Ficámos no Bachile, até à noite chegar. Depois, iniciámos a caminhada.

O responsável pela operação[2] era o tenente Jamanca, que era o comandante da 1ª Companhia de Comandos Africanos, com o indicativo “Jacaré”, e contávamos ter no ar o coronel pára Rafael Durão, o comandante do CAOP1.

Andámos a noite toda, até que de madrugada achámos um caminho, cheio de pegadas. Emboscámo-nos e mantivemo-nos quietos até por volta das 13h00, quando fomos sobrevoados por uma avioneta.

Como de costume, quando entraram em contacto, pediram a nossa localização. Depois de verem a tela que tínhamos estendido, o coronel Durão disse-nos para seguirmos a trajectória da avioneta, para os lados de um local onde estavam referenciadas várias barracas. Fomos nessa direcção e, quando chegámos ao local, encontrámos muitas barracas, com o chão coberto de folhas secas, sinal de que tinha sido abandonada, talvez há duas ou três semanas.

Em contacto rádio, o Jamanca transmitiu que estávamos lá dentro e o coronel deu-nos a indicação para as queimarmos. Chegámos-lhe fogo, estava o coronel a dizer que via muito fumo e começámos a ouvir rebentamentos, uns atrás dos outros, vindos das barracas a arder. Eram detonações de balas e de granadas. Nunca viemos a saber se eram munições esquecidas ou guardadas. Era quase como se estivéssemos a ser atacados e afastámo-nos bem das barracas. 

Entretanto, o coronel Durão deu novas instruções, para seguirmos a trajectória da avioneta, em direcção a oeste, até junto ao rio, onde dizia que via movimento junto a uma das margens.

Era uma missão ingrata, tínhamos que voltar a passar pelas barracas a arder. A nossa posição estava denunciada e as probabilidades de cairmos numa emboscada eram grandes. O nosso coronel contactou o Jamanca, voltando a perguntar onde estávamos. A avioneta não saía da zona, deu uma volta bem larga e voltou a aparecer em cima da nossa posição.

Nós, de facto, não estávamos a caminhar na direcção que ele nos ordenara. Achávamos uma ideia um pouco suicida.

A pergunta era sempre a mesma, onde estão, do lado esquerdo ou do lado direito da asa da avioneta. E o tenente respondia, se estávamos à direita ou à esquerda.

O coronel desconfiou que o Jamanca não estava a dar as respostas certas e disse para não sairmos daquele local porque ia mandar vir caças para bombardear uma zona onde estava a ver muito pessoal fardado. E disse que nos ia mostrar o local exacto onde estava a ver o tal pessoal, para nós não sairmos dali, onde dizíamos que estávamos.

A avioneta deu uma grande volta e, de repente, mergulhou mesmo por cima do local onde estávamos. Logo a seguir comunicou ao Jamanca que era nesse local que os aviões, que vinham da base de Bissau, iam largara as bombas.

Muito rápido, o tenente disse:

– Não! Não! Não! Somos nós que estamos aqui!

–  Então, “Jacaré”, disse há pouco que a avioneta tinha passado por cima de vocês, bem longe daí! Como é que chegaram a esse local tão depressa?

O Jamanca não sabia o que responder, disse só que não lhe parecera conveniente voltar para trás e explicou os motivos. Nesse momento ainda se ouviam explosões de granadas e tiros e pelo ruído, algumas eram potentes, pareciam de morteiro e bazuca. O coronel Durão mandou-nos voltar ao local onde estivemos emboscados.

Depois, o alferes Tomás Camará, no local onde ficámos, disse qualquer coisa em voz alta. Um grupo do PAIGC, que estava a passar num carreiro um pouco longe na direcção da fumarada, deve ter ouvido a voz do Tomás, aproximou-se e detrás de um baga-baga dispararam contra nós alguns RPG. Mas o Tomás viu-os primeiro e gritou:

– Para o chão, já!

Quase meia dúzia de granadas de roquete bateram nas palmeiras, um pouco acima de nós. Durante alguns minutos ninguém levantou a cabeça. Todos os nossos oficiais foram atingidos. 

Pedido apoio aéreo, chegou um helicanhão a acompanhar os helis para as evacuações. A companhia ficou sem oficiais e eu, como sargento mais antigo, fiquei a comandá-la. A minha primeira medida foi mandar o pessoal preparar-se para sair dali.

Entretanto o coronel mandou-nos procurar um local perto de uma clareira, para no dia seguinte, sermos evacuados. Caminhámos das 18h00 até quase às 21, arranjámos um local que me pareceu bom, para passar a noite. No dia seguinte, fomos recuperados, sem qualquer dificuldade.

***

Tinha acabado de chegar uma informação de que o Amílcar Cabral, acompanhado de jornalistas, estava a visitar a zona do Boé, que o PAIGC reclamava área libertada.

E, rapidamente, encarregaram-nos de irmos até à zona de Madina do Boé[3], com o objectivo de perturbar ou impedir a tal visita.

De Bissau até Nova Lamego fomos de Nord-Atlas, depois em viaturas para Canjadude e daqui aqui até à zona de Madina do Boé fomos de helis, onde nos largaram em várias áreas. 

O meu grupo, juntamente com outros, foi largado em Dongol Nhamalé, onde permanecemos três dias, sem nada termos visto. Depois chegou outra informação a dizer que afinal Amílcar se tinha dirigido para sul.

Antes do meio-dia surgiram os Alouettes para nos levarem de volta a Canjadude. Estávamos com muita sede. Durante o dia a água fervia nos cantis, não a conseguíamos beber. Da avioneta disseram-nos que nos preparássemos para uma retirada rápida.

Quando os helis chegaram acompanhados por um helicanhão,  já estávamos prontos a embarcar e, em minutos, estávamos no ar a caminho de Canjadude. Por rádio deram-nos a informação para passarmos para as viaturas estacionadas na pista. A água era uma miragem, estávamos mortos de sede e alguns disseram que agora só íamos ter água no Gabu.

Chegados ao Gabu, entrámos directamente nos aviões que estavam na pista, à nossa espera. E agora, para onde vamos?

Levantámos voo e, pouco depois, vimos Bafatá, lá em baixo. Bafatá ficava a cerca de cinquenta quilómetros do Gabu. A sede incomodava-nos muito, para já não falar da fome que sentíamos. Vi a ponte do Saltinho, lá em baixo e depois começaram a baixar e aterrámos em Misside Quebo[4]. De cada um dos aviões saíram duas macas com soldados. Tinham desmaiado com a sede, agravada pelo calor dos aviões.
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Notas do autor ou do editor literário (VB):

[1] Nota do editor: CCaç 16.

[2] Nota do editor: entre 28 Abril e 1Maio 1972.

[3] Nota do editor: 28 Março/08 Abril 1972.

[4] Aldeia Formosa, Misside Quebo em Fula.

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
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domingo, 27 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P23038: Efemérides (363): Há meio século, nestes dias 26 e 27 de Fevereiro, sábado e domingo, foi levada a cabo a Operação Juventude V na zona Caboiana/Churo (Ramiro Jesus, ex-Fur Mil Cmd, 35.ª CComandos, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)

© Infografia da Carta de S. Domingos, 1:50.000 - Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Mensagem do nosso camarada Ramiro Jesus (ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73), com data de 8 de Fevereiro de 2022:

Boa tarde, camaradas d'armas

Nestes dias, em que quase só se escreve e só se ouve falar de guerra, vinha também recordar o dia mais trágico e doloroso da minha comissão na Guiné.

Pois é, foi em 26 e 27 de Fevereiro de 1972 que o meu grupo e outro, da nossa 35.ª CC, fomos incumbidos de levar a cabo a operação "Juventude V", na região da "famosa" Caboiana / Churo.

Saímos já noite dentro, entrámos de madrugada, por uma zona de bolanhas, onde não "lembrava ao diabo" passar - para surpreender - e desde a manhã de 27 que estivemos constantemente em escaramuças e a destruir equipamentos e moranças, depois de termos capturado sete elementos.
Até que, pela hora de almoço/início da tarde, desembocámos numa lavra enorme e, portanto, uma zona quase desmatada, onde nos esperava um enorme "contingente", que se tinha reunido naquele ponto estratégico e que nos deu tanto trabalho que quase esgotámos todos os tipos de munições, para as várias armas que utilizávamos.

Alertado o Comando do nosso CAOP1 - que estava no ar, no DO - fomos reabastecidos e aconselhados a seguir determinado rumo, para sair daquele inferno, já que tinham verificado que estávamos perante um grupo enorme de combatentes, mas o nosso capitão, mais uma vez, desobedeceu, respondeu ao coronel Durão que «cá em baixo mando eu» e pôs-nos em perseguição do IN, talvez na esperança de que, também eles, estivessem com escassez de material.
Só que, passadas poucas centenas de metros, uma rajada e um disparo de RPG7 e... tinham morto o nosso 1º Cabo João Carlos Conceição Ferreira e quase decepado o braço esquerdo do Capitão Ribeiro da Fonseca, o (por muitos conhecido, em Mafra) bala real.

Então, com duas macas improvisadas (com o morto e o ferido grave), lá fomos encaminhados para uma zona de evacuação de dificílimo acesso (para sairmos da lavra, dos trilhos de acesso e despistar o IN) e lá conseguimos sair sem mais problemas, embora exaustos.

Quando, com a minha equipa, entrámos no helicóptero, o piloto, com a melhor das intenções, disse - animem porque o Benfica está a ganhar ao Belenenses - ao que respondi, talvez demasiado bruscamente: vá à fava, pois nós estamos a perder. É que, curiosamente, também há cinquenta anos estes dias (26 e 27) eram sábado e domingo.

E ia despedir-me por agora, mas atendendo ao momento e às (más) recordações, gostava de deixar um apelo aos dirigentes do mundo para se perguntarem, cada um deles a si mesmo, se gostariam de estar a viver, com suas famílias, o que se passa hoje na Ucrânia.

Um Abraço
Ramiro Jesus

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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE FEVEREIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22963: Efemérides (362): Faz hoje 49 anos que a CCAÇ 12 e a CART 3494 sofreram uma emboscada em Ponta Varela, Xime, sofrendo um ferido ligeiro e o IN 2 mortos e 1 ferido... E para mim foi o batismo de fogo (António Duarte)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22985: Fichas de unidades (24): 26ª CCmds (Bula, Teixeira Pinto e Bissau, 1970/71)


Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > 35ª CCmds (1971/73) > O fur mil cmd Ramiro Jesus com um "djubi",  o "Caboiana", cuja mãe morreu, vítima de uma emboscada das NT, e que, tendo ficado órfão,  foi resgatado pelos militares da 26ª CCmds (Teixeira Pinto e Bula, 1970/71). Acabou por ser criado no quartel e tornar-se a mascote da companhia... No fim da comissão, a 26ª CCmds entregou o miúdo aos cuidado dos periquitos, a 35ª CCmds. (*)

Foto (e legenda): © Ramiro Jesus (2022).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Ficha de unidade: 26ª Companhia de Comandos (**)

Identificação: 26ª CCmds

Unidade Mob: CIOE - Lamego

Cmdt: Cap Inf Cmd Alberto Freire de Matos

Partida: Embarque em 25Mar70; desembarque em 31Mar70 | Regresso: Embarque em 27Dez71

Síntese da Actividade Operacional


Após o desembarque, deslocou-se em 06Abr70 para Bula, onde iniciou o treino operacional com a 16." CCmds, de 07 a 29Abr70, deslocando-se seguidamente para Teixeira Pinto, a fim de realizar operações nas regiões de Peconha, Catum e Belenguerez, ficando depois atribuída ao CAOP (depois CAOP 1), como força de intervenção e reserva daquele agrupamento.


 Nesta situação tomou parte em diversas operações realizadas nas regiões de Churo-Caboiana, Bachile, Burné, Churobrique e Belenguerez, entre outras, com destaque para a operação "Relâmpago Gigante".

De 06 a 10Dez70, foi deslocada para Bula, a fim de reforçar o BCaç 2928, com vista à realização de operações na região de Ponate, após o que regressou a Teixeira Pinto, a fim de colaborar na segurança afastada dos trabalhos da estrada Teixeira Pinto-Cacheu e na realização de várias operações naquela área.

Em 27Jun71, recolheu, transitoriamente, a Bissau para um período de descanso, após o que voltou para Teixeira Pinto, de novo atribuída ao CAOP 1, com vista à realização de operações nas regiões de Ponta Costa, Belenguerez e Burné e ainda na colaboração na segurança e protecção aos trabalhos da estrada Teixeira Pinto-Cacheu.

Em 14Dez71, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.


Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 91 - 2ª Div/4ª  Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág.533. (Com a devida vénia...).


2. Operação Relâmpago Gigante - 16 e 170ut1970

Um golpe de mão/emboscada foi realizado na região de Tecanhe - Barme - Balem, CAOP 1, por dois Gr Comb das 26ª CCmds, 27ª CCmds e DFE 3.

Detectada uma arrecadação na região de S. Domingos, sendo recolhido o seguinte material:

1 espingarda "Mauser"
1 pistola metralhadora "PPSH"
1 cano de espingarda "Mosin-Nagant"
1 aparelho de pontaria de canhão s/r "B-10"
1 aparelho de pontaria de mort 8,2 cm
2 canos metralhadora pesada
8 carregadores para metr "PPSH"
2 carregadores metralhadora ligeira  "Degtyarev"
3 carregadores metralhadora ligeira "M-52"
9 minas A/P
2 granadas de canhão  s/r  7,5 cm
1 granada de canhão s/r  B-10, 
8 granadas de morteiro 60 mm
1 granada de LGFog 8,9 cm
3 granadas de LGFog  "RPG-2"
31 espoletas diversas
6 cargas suplementares para mort 82 mm
6 cargas propulsoras LGFog"RPG-2"
100 disparadores diversos
126 cartuchos propulsores para mort 82 mm
95 detonadores
auscultador
1 chave Morse
3 baterias para rádio
diverso material rádio e sanitário e documentos vários.

No segundo dia foram abatidos 2 elementos lN e apreendida 1 espingarda "Mauser". Destruídas várias casas junto dum campo cultivado.

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II: Guiné: Livro 2. 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2015, pág. 503. (Com a devida vénia...).


3. Não temos qualquer representante da 26ª CCmds na nossa Tabanca Grande. Há apenas 5 descritores.  
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  9 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22980: Blogoterapia (301): Que será feito do "Caboiana", o menino órfão que deixámos em Teixeira Pinto? (Ramiro Jesus, Fur Mil Cmd, 35ª CCmds, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)

(**) Último poste da série > 5 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22879: Fichas de unidades (23): BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73), CCAÇ 3398 (Buba), CCAÇ 3399 (Aldeia Formosa), CCAÇ 3400 (Nhala)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22980: Blogoterapia (301): Que será feito do "Caboiana", o menino órfão que deixámos em Teixeira Pinto? (Ramiro Jesus, Fur Mil Cmd, 35ª CCmds, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)

Teixeira Pinto - O Fur Mil CMD Ramiro Jesus com o "Caboiana" ao colo

 
Foto (e legenda): © Ramiro Jesus (2022).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso camarada Ramiro Jesus (ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73), com data de 8 de Fevereiro de 2022:

Boa-tarde, camaradas.

Por estes dias, ao ler o Cherno Baldé, avivou-se-me a memória, tantas vezes repetida nas últimas cinco décadas, acerca de uma criatura especial, das muitas de que me tenho lembrado, depois da minha passagem e regresso da Guiné.

Pois é, como todos que por ali passámos, e apesar das condições em que o fizemos - que não eram propriamente de confraternização com os seus naturais - houve sempre alguém daquela população civil ou outros militares e para-militares com os quais cada um de nós foi convivendo e que, em cada caso, ao deixá-los, foi criada em cada um de nós (julgo eu) uma certa carga nostálgica, agravada pelos desenvolvimentos posteriores à passagem de soberania. 

No meu caso, recordo muitos dos que pertenceram às três Companhias de Comandos Africanos, tantos deles cujos nomes fui encontrando nos jornais, que foram relatando o fim trágico a que foram sujeitos logo depois da independência e outros que, tendo escapado aos fuzilamentos, às vezes ainda aparecem em algumas reportagens.

Mas há um caso muito especial, como disse inicialmente, que me veio à memória com mais vigor: é o Caboiana, que me acompanha na pobrezinha foto que anexo.

Pois é, este menino, de que ninguém sabia o nome e nem ele (por ser bebé), era um "prisioneiro" de guerra, que nos foi entrgue pela Companhia - a 26.ª CC - que rendemos em Teixeira Pinto, e que o tinha trazido de uma operação na Caboiana (uma daquelas zonas que o PAIGC chamava libertadas), em que a pobre mãe, com ele, tinha caído numa emboscada em que perdeu a vida. 

Quando, em Fevereiro de 1973, deixámos aquela terra, deixámo-lo também a ele. Pergunto-me então:

Quem o terá criado?
Que nome lhe terão dado?
Como terá sido a sua vida?
Onde estará agora?
E... sei lá mais o quê?!

Nada sei. E sinto uma espécie de angústia.

Um abraço
Ramiro Jesus
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22939: Blogoterapia (300): O tempo passa, mas as suas marcas ficam (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR da CART 3493)

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19025: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLIV: Bajudas de São Domingos, 1968: felupes, balantas, manjacas, caboianas, papéis,


Foto nº 1 > Felupe


Foto nº 7 > Felupe


Foto nº 8 > Felupe


Foto nº 6 > Papel



Foto nº 3 > Manjaca



Fotp nº 2 > Balanta


Foto nº 4 > Manjaca



Foto nº 5 > Caboiana


Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > 1968 >   Bajudas de São Domingos, "chão felupe"

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]  



1. Mensagem do Virgílio Teixeira, com data de 17 do corrente:



Caro amigo e camarada Luís Graça,

Estas fotos já foram enviadas em Janeiro deste ano, juntamente com aquelas outras das Felupes da Ilha Maldita. Mas muitas outras, das quais retirei agora estas 8 fotos, nunca foram editadas. Vai agora este pequeno lote, mas tenho para mais 2 ou 3 lotes delas.

Estas fotos foram captadas por mim, com autorização delas [, as bajudas,], depois ofereci uma cópia a cada uma, quando vieram reveladas. Era assim que eu mantinha um bom relacionamento com estas jovens, e com quem convivia no dia a dia.

Com estas apenas pretendo mostrar os vários tipo  de mulher guineense, sem qualquer outro propósito.

Obrigado pela compreensão, e ficam à espera de haver lugar na fila das edições.

Um abraço

Em, 19-02-2018, Virgilio

Revisto hoje, dia 17 de Setembro de 2018


2. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, set 1967/ ago 69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 90 referências no nosso blogue.

Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T300 – Postais de Nus Etnográficos: Mulheres e Etnias na Guiné – Bajudas de São Domingos

I - Anotações e Introdução ao tema:

Estas fotos foram captadas exclusivamente para mostrar a grande variedade de modelos e formas dos rostos e troncos nus das Bajudas, as raparigas, solteiras, das diferentes etnias que eu conheci na Guiné, entre 1967 e 1969. São também uma homenagem à beleza da mulher africana.

Este tema já foi parcialmente publicado noutras datas anteriores, ficaram outras fotos, por esquecimento. O texto que vou inserir nesta fase e em outras fases é o mesmo, adaptando-se a cada tipo de fotografias e mulheres.

A primeira parte da minha colecção de fotos, aqui representadas, refere-se a mulheres bajudas de diferentes etnias, habitantes no chão de São Domingos, do Norte da Guiné.

Capturadas predominantemente em São Domingos, Susana e Varela, na zona Norte, redgião do Cacheu, onde passei a maior parte do meu tempo – 18 meses, e na zona Leste, em Nova Lamego, nos primeiros 5 meses da comissão.

Em São Domingos existiam vários tipos de etnias: felupes, fulas, balantas, caboianas, manjacos, banhuns, mancanhas, cassangas, mandingas, e outras.

Em Nova Lamego predominavam de longe os fulas, seguidos, em menor núnero, dos mandingas e pajadincas, E entre os fulas havia castas, tais como futa fulas, futa fula preto, fula forro, fula preto.

As felupes já andavam avançadas 50 anos em relação ao Ocidente, pois usavam apenas tanga e fio dental, como se pode ver. Já utilizavam muitas pulseiras e colares por todo o corpo, era ume espécie de selecção entre elas.

As fotografias a preto e branco foram capturadas entre setembro 67 e fevereiro de 68 em Nova Lamego e depois desta data algumas em Bissau em Março 68, finalmente em São Domingos a partir de abril de 68.

As fotografias – slides – a cores só começam em finais do 1º semestre de 68, embora também tenha a preto e branco depois dessa data, pois que, ora fazia fotos a preto e branco, ora a cores, conforme a câamara e os rolos que havia disponíveis.

Era mais fácil tirar fotos às bajudas, aparigas solteiras e ainda muito jovens. As mulheres grandes só deixavam tirar fotos se o régulo ou o marido autorizassem, e depois dava-lhes uma foto para elas, em troca do favor.

Não afirmo que todas as raças estejam certas, era o que escrevia nas fotos, mas a maioria só escrevia passado algum tempo, e depois nos slides não dava para escrever, é apenas por intuição e lembrança das mesmas.

As felupes são fáceis de identificar, pela sua nudez, tanga e fio dental, pelos roncos usados como pulseiras nos braços, no tronco, colares ao pescoço, cabelos trabalhados e por tudo aquilo que desse mais nas vistas aos rapazes guineenses, era isso a que normalmente se dizia de ‘fazer ronco’.

Espero que quem as visualizar, goste, é esse o meu propósito, sem qualquer interesse que não seja mostrar as gerações vindouras, como era a diversidade cultural no continente africano e em particular no nosso território da Guiné, na época em que lá fiz a minha comissão de serviço militar.


II – As Legendas das fotos:


F01 – Bajuda Felupe, São Domingos, 1968.

F02 – Bajuda Balanta, São Domingos, 1968.

F03 – Bajuda Manjaca, São Domingos, 1968.

F04 – Bajuda Manjaca, São Domingos, 1968.

F05 – Bajuda Caboiana, São Domingos, 1968.

F06 – Bajuda Papel, São Domingos, 1968.

F07 – Bajuda Felupe, São Domingos, 1968.

F08 – Bajuda Felupe, São Domingos, 1968.


«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».

Virgílio Teixeira

Em 17-09-2018

 NOTA FINAL DO AUTOR:

As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. 

Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. 

Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘juízos de valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir. 

Em, 2018-09-17

Virgílio Teixeira

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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19017: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLIII: O alf mil capelão Carlos Augusto Leal Moita

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14871: Memória dos lugares (306): Sobre a tabanca de Caboiana, e sobre o chefe de posto de Cacheu, que era caboverdiano, o nosso camarada António Medina (,ex-fur mil CART 527, 1963/65, a viver nos EUA,) pode dar esclarecimentos adicionais (António Bastos, ex-1º cabo, Pel Caç Ind 953, 1964/66)


Guiné > Região do Cacheu > Cacheu > Outubro de 1964 > Tabanca de Caboiana [vd.carta de Teixeira Pinto e Pelundo] > > O chefe de posto do Cacheu, que era caboverdiano e amigo do António Medina, mais duas senhoras: (i) a esposa do chefe de posto; e (ii) a esposa do tenente, comandante do Pel Caç Ind 953, Nuno Maria Nest Arnaut Pombeiro (já falecido) (A sra. Dona Maria Luísa de Menezes Mendonça Frazão permaneceu sete meses em Cacheu e depois foi com o marido para Angola; hoje mora em Lisboa e é filha do ja falecido general Américo Mendonça Frazão).

Foto (e legenda): © António Bastos (2015). Todos os direitios reservados [Edição: LG]



1. Mensagem de António Paulo Bastos (ex-1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66):

Data: 8 de julho de 2015 às 16:26
Assunto: Memória dos lugares.

Meus amigos e companheiros da Tabanca Grande, boa tarde.

Companheiro Luís não quero ser muito aborrecido mas tenho que rectificar uma gralha , no poste P14843, onde eu digo, algumas vezes, que  íamos de Pecixe e outras de Sintex da Engenharia, devo acrescentar que  também íamos de viaturas, a estrada era a de Cacheu - Teixeira Pinto, e ao chegar ao Churro é que apanhava a picada que ia para Caboiana ou Coboiana, e não a estrada de S. Domingos -Sedengal essa já fica do outro lado do Rio Cacheu.

Localizar a Tabanca de Caboiana na carta de S. Domingos Cacheu,  não consigo, sei que o percurso que fazíamos era Churro, íamos  passar a umas ruínas de tabanca já a muito abandonadas devia de ser Bamal (?), passavamos ao lado de uma bolanha e outra tabanca aonde que chegamos a ir lá muitas vezes,  Catão, e depois Catel  e então lá se chegava a Caboiana.

[Nota de LG: António, vê as. cartas de Cachungo / Teixeira Pinto  e Pelundo; pela tua descrição do percuirso, Churro - Bamal - Catão - Catel - Caboiana, esta última tabaca só podia ficar a  norte do Pelundo, na carta de Pelundo e nunca na carta de Cacaheu / São Domingos]

Eu no meu diário não tenho o caminho especificado, aqui estou de memória mas penso que não estou a errar.

Temos um colega que era furriel na Companhia Artilharia  527 e também da nossa tabanca, António Medina,talvez ele consiga esclarecer melhor.

[, foto à esquerda, o camarada Antonio C. Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau, de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA]


Sobre o Chefe de Posto...

Também não sei muito, sei que era de Cabo Verde e muito amigo do Medina, era homem que devia de andar nos quarentas e tais anos bem puxados,  na altura a esposa uma senhora que,  segundo diziam (as más línguas) tinha vintes e táis muito perto dos trintas, e era da Amadora, aí também o António Medina pode responder pois estava sempre lá em casa deles nos petiscos e nos copos.

Sobre a senhora de calças pretas...  É a esposa do nosso querido e saudoso comandante Nuno Pombeiro, (já jalecido),  D. Maria Luisa,  permaneceu sete meses em Cacheu e depois foi com o tenente para Angola, hoje mora em Lisboa e é filha do ja falecido general Américo Mendonça Frazão.

Companheiro Luís,  se tiveres dúvidas em alguma coisa é só dizeres, se eu souber estou desponivel, Sabes alguma coisa do nosso companheiro Medina ? Ainda falei ao telefone com ele algumas vezes,  sei que esta na América e que esteve doente mas já há muito que não diz nada.

Mão me alongo mais, um abraço para toda a tabanca, António Bastos.
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Nota do editor

(*) Vd. postes de 


(...) Comentário de L.G.;

António, como se chamava o chefe de posto do Cacheu ? E a esposa ? Eram donde ? Tens notícias deles ?

É uma pena que estes homens e mulheres não apareçam por aqui!... Este blogue também é deles / delas...

Podes dizer-lhes que não fazemos qualquer discriminação entre militares e civis, funcionários públicos e comerciantes, homens ou mulheres, sejam oriundos do continente sejam de Cabo Verde...

Há uma território (e uma população) que todos amaram, à sua maneira. E do qual têm recordações, fotografias, histórias...

Um dia destes, quando a nossa voz se calar para sempre (e já falta tão pouco!), ninguém mais vai falar destes tempos e destes lugares...

António, temos que fazer um esforço de memória para legendar melhor estas fotos!... Estas duas mulheres, com os típicos óculos de lentes fumadas que se usavam na época, merecem a nossa homenagem... O Cacheu, mesmo em 1964, não devia ser o paraíso na terra!... Havia já a guerra, havia as doenças tropicais, havia falta dos "confortos da civilização", a começar pela luz elétrica...

Estas mulheres merecem a nossa atenção, o nosso apreço!... Não estou a ser sentimental, melodramático, politicamente (in)correcto, muito simplesmente estou a constatar que havia mulheres, jovens, continentais ou caboverdianos, que iam para a Guiné, umas tinham profissões (professoras, enfermeiras paraquedistas, empregadas dos correios...), outras muito simplesmente acompanhavam os maridos, civis ou militares...

Precisamos de conhecer estas portuguesas! (...)

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Nota do editor

Último poste da série de 12 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14869: Memória dos lugares (303): A vida também corre como um rio (Juvenal Amado)

terça-feira, 7 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14843: Memória dos lugares (303): Regulado, rio e tabanca de Caboiana (ou Coboiana ?) no Cacheu, em outubro de 1964 ( António Bastos, ex-1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Cacheu, Farim, Canjambari, Jumbembem, 1964/66)





Guiné > Região do Cacheu >  Outubro de 1964 > Tabanca de Coboiana [ou Caboiana ?] > O chefe de posto do Cacheu, mais duas senhoras: (i) a esposa do chefe de posto; e (ii) a esposa do tenente [que o autor não diz quem é; seria o comandante do Pel Caç Ind 953 ?]

Foto (e legenda): © António Bastos (2015). Todos os direitios reservados [Edição: LG]



1. Mensagem, de 2 do corrente, do António Paulo Bastos (ex-1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66):

Companheiro Luís,  boa tarde.

O nome do rio é mesmo o de Coboiana, aliás na carta de S.Domingos-Cacheu está lá.

Eu fazia esse rio muitas vezes sempre em Psico, a foto que aqui esta é mesmo na tabanca de Coboiana e o régulo da altura era o João.

Nós,   ao sairmos de Cacheu,  o primeiro  rio era o Coboy que ficava mesmo em frente ao Rio Pequeno de S. Domingos, depois tinha um rio pequeno, e era logo a seguir o rio Coboiana.

A foto que está aqui foi tirada em Outubro de 1964.  Nesse dia foi o enfermeiro para dar os comprimidos LM [, Laboratório Militar,] e comprarmos galinhas e um porco para o rancho. O  chefe de posto foi comprar uma vaca para o mercado.

Nóa algumas vezes íamos no Pecixe e outras vezes íamos no sintex da Engenharia. Também íamos de viaturas [estarada São Domingos - Sedengal] com paragem no Churro,  aí havia uma picada que dava para Catão,  Catel,   Caguepe e ia até Coboiana onde aproveitava-se e traziamos lenha.

Um abraço

António Paulo Bastos

2. Comentário de L.G.:

António, tens razão o rio existe mesmo, é preciso ver o mapa com lupa... Permite-me, no entanto,  insistir na grafia correta (de acordo com o que vem no mapa de São Domingos): a região (ou regulado) é Caboiana (e não Coboiana), os rios que assinalas são Caboi (e não Coboy) e Caboiana (e não Coboiana). A tabanca de Caboiana é que não consegui identificar... nem chegar lá... a penantes, seguindo as tuas instruções (seguir a picada do Churro; em Catel perdi-me...)...

A carta de São Domingos é de 1953, pode ter havido, com o início da guerra, deslocações de população: entre os rios Caboi e Caboiana, na orla da bolanha, identifico várias pequenas tabancas: Chamei (?), Peche, Balimbem (?), Benjá, e mais duas ou três, dificilmente legíveis... Pode ser que tenham sido reagrupadas, e tenha nascido a tal tabanca de Caboiana cujo régulo era o tal João de que falas... E se  era régulo era régulo do regulado de Caboiana... Ou não ?

Alguns dirão de que estamos para aqui a discutir o sexo dos anjos, bizantinices... Quem andou e conheceu a região, é que deve botar faladura... Eu limito-me a respeitar,  até prova em contrário, o trabalho meticuloso dos nossos competentes e valentes cartógrafos... Acho que temos essa obrigação. e não só para com eles (ou à sua memória), mas também para com todos os nossos leitores... É um questão de rigor. De resto, no noosso blogue o descritor é Caboiana e não Coboiana.

Um abraço e obrigado pelo teu pronto esclarecimento. LG



Guiné > Região de Cacheu > Carta de Cacheu / São Domingos (1953) > Escala 1/50 mil > Pormenor dos rios Cacheu e seus afluentes: Pequeno de São Domingos (margem norte); Caboi, Caboiana  e Churro (margem sul), a montante da vila de Cacheu.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015).


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(**) Último poste da série Z 3 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14831: Memória dos lugares (300): os meus dois rios, o Cagopère (Cachil, no sul) e o Geba (Bafatá, no leste) (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14825: Memória dos lugares (300): Rio Cacheu, o meu rio...Ia-me engolindo, em 1964, mas continuei sempre a gostar dele. (António Bastos, 1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Cacheu, Farim, Canjambari, Jumbembem, 1964/66)


Foto nº 1

Guiné > Região do Cacheu > Rio Caboiana > 1964 > "Um afluente do Cacheu,  Coboiana, onde íamos lá muitas vezes fazer em psico... O "Pecixe" fazia o transporte de civis do Cacheu para S. Domingos... 

[Ou não será antes o Rio Grande de São Domingos, afluente do Rio Cacheu, margem direita ? A região ou regulado chama(va)-se Caboiana, e não Coboi...ana; na margem esquerda há outro rio, o Churro, e também o Rio Lenhe e outros mais pequenos... vd. aqui carta de São Domingos [Cacheu];  no nosso blogue há vários postes em que aparece o topónimo Coboiana, Coboiana-Churro, mas temos que corrigir... Não consigo localizar nenhum Rio Caboiana, muito menos Coboiana... Por mor da verdade e do rigor, temos que esclarecer e corrigir este lapso... Os nossos cartógrafos não brincavam em serviço, e é bom que se diga que prestaram um alto serviço científico e cultural ao povo da Guiné-Bissau, cartografando ao milímetro todas aquelas terras, do Cacheu ao Cacine... Ainda hoje estas cartas são altamente cobiçadas por muita boa gente!... Para nós, amigos e camaradas da Guiné,  são um extraordinário auxiliar de memória... Já há muito que nos teríamos perdido nos labirintos de memória sem estas preciosas cartas... Vd. também cartas de Pelundo e Sedengal]





Foto nº 2

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > 1965 > Em Farim, num zebro...


Foto nº 3

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > 1964 > "Um mergulho no Cacheu", diz a legenda nas costas da foto...



Foto nº 4

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > 1964 > Um banho à "leão"...




Foto nº 5

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > 1966 > No "barco turra", de regresso a Bissau, em fim de comissão...


Fotos (e legendas): © António Bastos (2015). Todos os direitios reservados [Edição: LG]


1. Mensagem, de 30 de junho último, enviada pelo António Paulo Bastos (ex-1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66):


Boa tarde, companheiro Luís.

Respondendo à nossa sondagem desta semana... O meu rio na Guiné é o Cacheu.

Em 1964, ele ia me engolindo mas continuei sempre a gostar dele.

A 1ª foto é de um afluente do Cacheu é o Rio de Coboiana, onde íamos lá muitas vezes em psico.

As outras estão identificadas.

Um abraço. 

António Paulo Bastos

Pel Caç 953 (1964/66)
Cacheu, Farim, Canjambari, Jumbembem
_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 1 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14823: Memória dos lugares (297): O Rio Geba e o "barco turra", a caminho de Bissau, no dia em que o homem chegou à lua (20 de julho de 1969) (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6740: Em busca de... (138): Augusto Martins, de alcunha o Caboiana, o menino que teria 3 ou 4 anos em 1972, e que ajudámos a criar, em Bachile, na CCAÇ 16, a companhia manjaca (Bernardino Parreira / António Branco)

1. Comentário, com data de 14 do corrente,  de Bernardino Parreira ao Poste P6726 (*)

Caro amigo Branco:

Venho felicitar-te pelo teu post sobre o Bachile. Passei agora por aqui e vi as tuas primeiras memórias. Gostei do que li, e acho que tens boa memória e talento para a escrita. Concordo com tudo o que escreveste. O convívio entre todos os militares desta Companhia era excelente. Ainda hoje sinto saudades dos amigos manjacos que lá deixei, militares e civis.

Foi com grande emoção e saudade que vi as fotografias do nosso amiguinho Augusto Caboiana. Podemos dizer que aquele menino era tratado como um filho, por todos nós, embora uns tivessem mais disponibilidade do que outros. Mas, daquilo que conheço, tu foste, sem dúvida, aquele que lhe dedicou mais tempo, dadas as funções que desempenhavas. Julgo que as primeiras letras lhe foram ensinadas por ti, e posso garantir que fazias um excelente papel de pai, de amigo e de educador.

Ainda gostava de ver o Augusto, ou de saber notícias suas. Aquele menino que, segundo ouvíamos dizer, tinha sido "apanhado na mata da Caboiana", em circunstâncias que desconheço, foi sempre muito bem tratado, e era uma criança muito feliz. O Augusto corria alegremente atrás de nós, quando estávamos no Quartel , e conhecia a quase todos pelo nome, era muito extrovertido e brincalhão.

Amigo Branco, fico a aguardar mais memórias tuas. Eu cá vou desafiando as minhas lembranças. Um abraço para todos os camaradas e amigos.

B. Parreira

2. Comentário de L.G.:

Antes de mais, queria aqui reforçar o pedido do António Branco, no poste P6726, no sentido de se apurar o paradeiro (**)  do Augusto, o menino do Bachile, ao tempo da CCAÇ 12 (1972/74):

"O Augusto Martins Caboiana, um menino que todos ajudámos a criar, e do qual gostava de saber o seu paradeiro, foi estou em crer um ponto marcante para todos que passaram pelo Bachile. Em anexo,  algumas fotos do Augusto que camaradas de outras companhias, enfermeiras pára-quedistas e camaradas da Força Aérea concerteza recordarão".

A seguir quero saudar o nosso camarada Bernardino Parreira, ex-Fur Mil da CCAÇ 16, e convidá-lo a continuar a partilhar connosco as suas memórias da Guiné, em geral, e do chão manjaco, em particular. E a melhor forma de o fazer é juntar-se a esta já vasta comunidade virtual, que se reune todos os dias debaixo do poilão da Tabanca Grande. O ingresso não pode ser mais barato: duas fotos + 1 história, e já está!

Aproveito a manifestação do desejo dos nossos dois camaradas da CCAÇ 16, o Branco e o Parreira, para daqui lançar um apelo no sentido de se localizar o Augusto Martins, de alcunha o Caboiana, por ter sido apanhado pelas NT justamente na região de Caboiana [ vd. carta de S. Domingos].]. (***)

A estar vivo, e nós esperamos bem que sim, é homem para ter hoje um pouco mais de 40 anos... Será que ainda vive no chão manjaco (Canchungo / Teixeira Pinto) ? Será que vive em Bissau ? Será que vive na diáspora guineense, quem sabe, até em Portugal ?

Quem tiver alguma pista, que nos contacte, através dos nosso endereço de correio electrónico: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com ou  do mail do António Branco: asdbranco@gmail.com _________________

Notas de L.G.:

(*) 13 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6726: Memórias do Bachile, chão manjaco (1): O que será feito do menino Augusto Martins Caboiana ? (António Branco, ex-1º Cabo Reab Mat, CCAÇ 16, 1972/74)

Vd. também o blogue do António Branco > Conversas ao caso

(**) Último poste desta série > 30 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6664: Em busca de... (137): Procuro informações sobre Fernando Labaredas Torrão, Alf Mil da CCAÇ 461

(***) Referências no nosso blogue a Caboiana (ou Caboiana-Churo), que pertencia,  no tempo da CCAÇ 16, à zona de acção do CAOP1 (onde esteve colocado, como alferes, o nosso camarada, amigo e escritor António Graça de Abreu):

15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1280: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (7): Um tiro de misericórdia em Caboiana

terça-feira, 13 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6726: Memórias do Bachile, chão manjaco (1): O que será feito do menino Augusto Martins Caboiana ? (António Branco, ex-1º Cabo Reab Mat, CCAÇ 16, 1972/74)



Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > O António Branco, junto ao obus 10,5 com  a mascote da companhia, um menino do mato, Augusto Martins Caboiana, que todos os camaradas da CCAÇ 16 adoptaram e ajudaram a crescer...



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > O António Branco  e o João Pereira no espaldão do Mort 81.




Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > O António Branco, na "tradicional foto na árvore de grande porte" [, poilão].





Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > Natal de 1973 > O Augusto, feliz e sorridente, foi o motivo principal  do cartão de boas festas do Natal de 1973.





Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > Natal de 1972 > Cartão de boas festas





Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > 22 de Julho de 1973 > Um convite criado pela "comissão de festas"...

Fotos: ©António Branco (2010). Direitos reservados

1. Mensagem do António Branco, um dos membros mais recentes da nossa Tabanca Grande (*)


Data: 11 de Julho de 2010 22:19

Assunto: Memórias do Bachile


Camaradas

Hoje resolvi partilhar um pouco,  ainda que de forma superficial, a minha experiência vivida durante cerca de dois anos no Chão Manjaco, Bachile e CCAÇ 16.

Não pretendo evidenciar os momentos mais belicistas desta minha experiência, porque isso deixo para os mais entendidos na matéria, quero sim antes de mais realçar quanto para mim foi gratificante experienciar os contactos sociais mais diferenciados.

Na totalidade na companhia éramos apenas,  se a memória não me falha, cerca de trinta metropolitanos das mais diversas origens, das mais variadas classes sociais e com níveis de cultura diferentes.

Mas estas diferenças não eram minimamente visíveis no dia-a-dia, porque entre todos sempre existiu uma enorme cumplicidade tal como se de uma família se tratasse.

O facto de a maioria dos camaradas terem ido para o Bachile em rendição individual, a meu ver proporcionou uma maior e mais forte aproximação, camaradagem e solidariedade entre todos.

Recordo com muita frequência que um problema,  de qualquer um de nós, era um problema de todos e só descansávamos quando se possível o problema conseguia ser sanado.

Quando havia motivos para festejar, festejávamos todos, reforçando assim esse espírito familiar que se vivia.

Todos os dias e nas mais diversas situações, aprendíamos algo uns com os outros, todos os dias se cimentava a cumplicidade de um grupo de homens que,  apesar da sua juventude, tinham bem presentes valores cada vez mais difíceis de encontrar.

Com os militares africanos sempre tive um extraordinário relacionamento, encontrei muito boa gente e compreendi muitas vezes as suas frustrações.

O Augusto Martins Caboiana, um menino que todos ajudámos a cria, e do qual gostava de saber o seu paradeiro,  foi estou em crer um ponto marcante para todos que passaram pelo Bachile.

Em anexo algumas fotos do Augusto que camaradas de outras companhias, enfermeiras pára-quedistas e camaradas da Força Aérea concerteza recordarão.

Não refiro outros nomes para não ferir susceptibilidades, pois a memória e o tempo decorrido já não permite que os recorde a todos, até porque enquanto desempenhei funções no bar de sargentos foram muitos os camaradas de outras companhias com quem convivi quando da sua passagem pelo Bachile com destino a operações na zona da Caboiana.

Falta-me referir o privilégio que foi contactar com muita da população civil que nas mais diversas situações foi sempre de uma extrema cordialidade, humildade e sem dúvida merecedora de uma vida melhor.

Aprecio imenso todas as iniciativas de origem particular de apoio à população da Guiné e estou sempre muito atento a tudo o que com esta terra se relacione.

Tenho esperança de vir ainda a encontrar mais camaradas que estiveram no Bachile para que com a experiência de cada um contar a história daquele que foi um simples bocado de terra rodeado de mato por todo o lado e que hoje pouco ou nada sabemos como é.

Voltarei à tabanca com mais relatos de experiências guardadas na memória e com mais fotos que espero ajudem a reencontrar outros camaradas.

Um abraço para todos

António Branco

Exz-1º Cabo Reabastecimento Material
CCAÇ 16  -Bachile  (1972/74)


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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6709: Tabanca Grande (228): António Branco, ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74


(...) Sou natural de Lisboa onde nasci em 24-06-1950 e onde ainda resido. Estou presentemente reformado após ter passado por um período de três anos desempregado e sem poder exercer a minha actividade na área do sector automóvel que iniciei com quatorze anos.


Na sequência da situação de desempregado, ocupei o tempo disponível melhorando o meu nível de escolaridade completando o ensino secundário e consequentemente entrei no mundo das novas tecnologias.


Foi assim que acedi ao blogue que faz já parte dos meus favoritos e que visito diariamente pois sou fã incondicional de tudo o que diz respeito à Guiné e muito particularmente ao Bachile e à CCAÇ 16.


E foi através desta enorme família residente na tabanca que decorridos 38 anos consegui encontrar lá longe na China o ex-Capitão José Martins, o ex-1.º Cabo Operador Cripto Miranda, o ex-Furriel Bernardino Parreira, o ex-Furriel José Romão e mais recentemente o ex-1.º Cabo Mecânico Auto João Pereira. (...).

Vd. também poste de 6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6680: O Nosso Livro de Visitas (92): A. Branco, CCAÇ 16, Bachile, chão manjaco, 1971

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1280: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (7): Um tiro de misericórdia em Caboiana

Guiné > Região do Cacheu > Caboiana > 38ª CCmds > Acção Jovenca > 31 de Dezembro de 1972 > A espingrada semiautomática russa Simonov, capturada ao guerrilheiro abatido.


Guiné > Região do Cacheu > Caboiana > 38ª CCmds > Acção Jovenca > 31 de Dezembro de 1972 > Em primeiro plano, o comando Mendes, com o seu RPG2.


Guiné > Região do Cacheu > Caboiana > 38ª CCmds > Acção Jovenca > 31 de Dezembro de 1972 > A penosa recuperação no tarrafo do Rio Caboiana.


Guiné > Região do Cacheu > Caboiana > 38ª CCmds > Acção Jovenca > 31 de Dezembro de 1972 > Já a caminho da LDM que há-de levar os 2 Gr Comb até ao Cacheu.


Texto e foto: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados.

Memórias de uma passagem de ano e Natal (com prenda ?)

por A. Mendes

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Texto enviado em 4 de Outubro de 2006, por A. Mendes, ex-1º Cabo Cmd da 38ª CCmds (Os Leopardos) (Guiné, Brá, 1972/74). Continuação da série A Vida de um Comando (1).

31 de Dezembro de 1972 - Acção Jovenca

-Missão: Aniquilar, capturar e desarticular as organisações IN na região da Caboiana;
-Força executante: 2 Gr Comba da 38ª CCmds;
-Planos elaborados para a acção: Saída de Teixeira Pinto em coluna auto até ao Cacheu;
-Deslocamento de LDM até a região de S. Domingos até a altura da recuperação em LDM;
-Apoio aéreo: COMdcon(DO27 armada) em alerta, no solo de Teixeira Pinto;
-Duração: 24 horas;
-Resultados obtidos: Pelo IN, 1 morto(confirmado);
-Feita a captura do seguinte material: 1 Esp Aut Simonov.

Desenrolar da acção:

31 de Dezembro de 1972

O meu grupo (2º) e o 4º vamos para a Caboiana-Churo. Vamos de LDM até ao Rio Caboiana, e aí chegados passamos para os botes dos Fuzas Africanos que nos vão levar até ao tarrafo onde iremos desembarcar.

O desembarque e a passagem do tarrafo são feitos à força de braços e com muito custo mas lá chegamos ao trilho e pelas 10h00 lá vamos a caminhar.

Sigo em 5º lugar logo atrás do Cmdt da Companhia. A minha arma era um RPG2. O trilho por onde seguimos revela vestígios de ser usado com regularidade.

O 1º homem da frente segue com cautela observando cada vestígio para não sermos apanhados em falta, pois segundo o nosso credo ... em combate a morte sanciona cada falta!

Já seguíamos há horas no trilho quando ouvimos, no silêncio, barulho de alguém a assobiar uma melodia qualquer. Nem tivemos tempo de parar quando nos apareceu pela frente um guerrilheiro, armado e só. Ainda tentou disparar mas o nosso primeiro homem disparou uma rajada à queima- roupa, atingindo-o. O homem ainda deu uns passos em frente vindo a cair à minha frente.

Reparei que, embora o sangue saísse em golfadas pela boca, ainda estava vivo. Em agonia. Para bem dele e para lhe acabar o sofrimento foi aí que lidei mais de perto com a morte. Para alguns isso será assassínio, para mim foi misericórdia. Um tiro de misericórdia.

Apesar do tempo que já levo de combate, ainda não aperendi na tratar a morte por tu. Ainda tenho algumas reticências em tirar o último sopro a alguém.

Nós, os que passámos pelos palcos de Guerra e que fomos a mão executora em muitas operações, apenas demos seguimento ao que era superiormente planeado.

Fui voluntário para os Comandos, sabia o que me aguardava, sabia que a palavra MORTE iria entrar na minha vida até ser banal pronunciá-la. Que fique claro que até hoje nunca me arrependi de nada do que fiz enquanto militar. Sempre respeitei os mais fracos e os indefesos, nunca pratiquei actos gratuitos só para acrescentar mais uma marca na coronha da minha arma. Fui misericordioso tanto como o IN o era. Para se obter resultados era preciso matar para não ser morto e nisso tornei-me mestre, mas sempre olhei nos olhos aqueles que, como meus inimigos, exalavam o último sopro.

Prosseguindo no meu diário: Com a morte do guerrilheiro IN capturámos uma arma russa, uma Simonov, novinha. Seguimos pelo trilho e, com a nossa aproximação a um aldeamento, ouviram-se uma série de rajadas. O elemento surpresa fora quebrado e prosseguir era puro suícidio. Tínhamos de certeza emboscada montada algures no caminho. O capitão decidiu sair do trilho e entrámos a corta mato. O objectivo da missão estava perdido quando se quebrou o elemento surpresa e por isso foi decidido terminar e rumar ao local de recuperação.

A morte do elemento IN teve uma virtude, o de me fazer ir passar a passagem do ano no quartel de Teixeira Pinto.

No local de recuperação tivemos de atravessar um tarrafo, aí com 50 m de comprimento, feito a força de braços pois o terreno era pântano e cheguei a estar atascado até a cintura agarrado a raízes.

Lá chegamos aos botes dos Fuzas Africanos que nos levaram até ao Cacheu , daí seguimos em coluna auto até Teixeira Pinto onde nos aguardava a entrada do ano de 73.

A. Mendes
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Nota de L. G.:

(1) 24 de Outubro de 006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...