Mostrar mensagens com a etiqueta Canjadude. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Canjadude. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22088: Memórias cruzadas da Região Boé: CART 1742: as principais ocorrências em 12 e 13 de janeiro de 1968, entre Canjadude e Cheche: três baixas e um prisioneiro (Jorge Araújo)


Imagem de satélite da região Leste, assinalando-se o itinerário entre Nova Lamego/Ché-Che, percurso de 47.5 km (Google.com,  hoje), ao longo do qual o perigo era uma constante, por efeito da existência de minas a/c e emboscadas, em particular durante a realização de colunas de reabastecimento.




O nosso coeditor Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494
(Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo.


MEMÓRIAS CRUZADAS DA REGIÃO DO BOÉ

A ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CART 1742:

 AS PRINCIPAIS OCORRÊNCIAS EM 12 E 13 DE JANEIRO DE 1968, ENTRE CANJADUDE E CHÉ-CHE

- AS TRÊS BAIXAS E UM PRISIONEIRO DAS NT -

 

1. - INTRODUÇÃO


O presente texto nasce da leitura do P22059 (02Abr2021) e, concomitantemente, do interesse suscitado no seu aprofundamento, em particular os episódios relativos à actividade operacional da CART 1742 (1967-1969), com relevância para as ocorrências registadas na primeira quinzena do mês de Janeiro de 1968, onde perderam a vida, em combate, o Major Luís Vasco da Veiga Ferreira Pedras, da Chefia do Serviço de Material, QG/CTIG, o Fur Mil de Construções e Instalações, Abílio Duarte Jorge, do BENG 447,  e o soldado Saná Quetá, do Pel Mil 161.


Para além desse desiderato é justo deixar expresso os agradecimentos quer ao camarada Virgílio Teixeira, por ter tido a gentileza de partilhar mais algumas memórias da História da sua Unidade: o BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/1969) quer ao camarada Abel Santos, pelas suas (novas) imagens da «Jangada do Ché-Che», «peças» importantes na (para a) reconstrução do «grande puzzle» historiográfico do Blogue, que no dia 23 do corrente comemora o seu 17.º Aniversário.


Voltando à questão de partida, a metodologia que utilizámos na estruturação deste "fragmento" é semelhante às anteriores, tendo procedido à triangulação de conteúdos de várias fontes: oficiais e outras, de ambos os «lados do combate», em especial aqueles que se enquadravam no tema em análise.


2. - CECA - ASPECTOS DA ACTIVIDADE OPERACIONAL > CART 1742


Tendo por base os objectivos indicados na introdução, recorremos à bibliografia Oficial do Estado-Maior do Exército (CECA), «Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África», 6.º Volume, tendo encontrado a seguinte referência:


◙ Zona Leste: «Operação Agora ou Nunca», realizada de 11 a 13 de Janeiro de 1968 (de 5.ª feira a sábado), envolvendo forças da CART 1742 (-), um Gr Comb da CCAÇ 5 e uma Sec/Pel Mil 161, com apoio aéreo, onde executaram no dia 12 [Jan] um patrulhamento de reconhecimento na região de Siai [infografia ao lado]

No decurso da missão, o IN atacou as NT instaladas em Dongol, provocando-lhes oito feridos graves, sete ligeiros e um desaparecido [António de Castro Aguiar; feito prisioneiro]. Na reacção, as NT causaram cinco mortos e muitos feridos em número não estimado. Encontrado um elemento IN ferido que, ao ser intimado a render-se,  abriu fogo e foi, por isso, abatido, apreendendo-se a sua arma, uma "Kalashinkov". (CECA; 6.º Vol., pp 163-164).



2.1 - NARRATIVA DE UM ELEMENTO DA CART 1742

 - O CASO DO "DIÁRIO" DE MÁRIO DOS ANJOS TEIXEIRA ALVES, 1.º CABO CORNETEIRO DA CART 1742 


Para a elaboração deste ponto era importante ter acesso ao histórico das actividades operacionais desenvolvidas pela Unidade em apreço, por considerarmos que a resenha Oficial ficara aquém do que era expectável. 


Da busca realizada, localizamos no P13434 (24Jul2014) uma descrição histórica, designada por «Diário da CART 1742», da autoria de Mário dos Anjos Teixeira Alves, ex-1.º Cabo Corneteiro, enviado ao Blogue, em Julho de 2014, pelo camarada Abel Santos, e que "encaixou" na perfeição.


Assim, sobre as ocorrências em título, citamos o que Mário Alves escreveu:

(…)

Dia 11Jan68 (5.ª feira)


Chegou o nosso capitão [Cap Mil Inf Álvaro Lereno Cohen] a dizer-nos para prepararmos o material, porque iam sair três pelotões às 3h00 da tarde.


Dia 12Jan68 (6.ª feira)


Houve correio para os que estão no destacamento, já os que foram para o mato só o receberão quando chegarem.


Dia 13Jan68(sábado)


Saiu daqui o helicóptero, a avioneta e dois bombardeiros [T6] para irem ter com o nosso pessoal que anda a fazer a operação no Siai.

Às 13 horas chegou o helicóptero com quatro feridos, dois brancos e dois africanos. Diziam que ainda havia mais feridos, por isso, às 14h00 chegou novamente o helicóptero com mais três feridos, e às 16h00 voltou novamente com mais três feridos, estes por uma mina que rebentou na coluna que ia buscar ao Ché-Che o nosso pessoal.

Um dos feridos foi o major do Serviço de Material [Luís Vasco da Veiga Ferreira Pedras] que foi levado directamente para Bissau, e os outros foram de avioneta.

Também ficou lá um furriel morto [Abílio Soares Jorge] e um soldado [Saná Quetá] todos da mesma companhia e ainda alguns feridos menos graves, que por ser já de noite não puderam ir busca-los.


Dia 14Jan68 (domingo) – às 7h00


Já o helicóptero tinha chegado com mais feridos, e às 8h00 chegou ainda com os restantes. Após o almoço chegou um carro da administração com um elemento IN morto, que apanharam em Piche, e a população fez um festival, quanto mais não fosse, para agradar às tropas.

Às 17h00 chegou a companhia e disseram que, quem tinha sido ferido foi o Aníbal enfermeiro e o Martins das transmissões, que foram para Bissau [HM 241], e talvez tenham que ir para a metrópole.

Houve mais oito feridos com menor gravidade, um era o alferes Magalhães e o furriel Amaro, sendo os restantes cabos e soldados, um deles era o Damásio Fonseca.

Também chegou a má notícia que o major faleceu ao chegar a Bissau, o furriel que morreu era da engenharia e o soldado era africano [Saná Quetá, do Pel Mil 161; natural de Ganguiró, Nova Lamego].


Dia 15Jan68 (2.ª feira) – às 7h00


De manhã estivemos a conferir o material que tinha chegado na noite anterior, e também pensávamos no soldado que estava em Bissau ferido, mas afinal estava desaparecido, foi o [António de Castro] Aguiar de "Arrifana".

(…)

3. - O QUE FOI ESCRITO A PROPÓSITO DAS OCORRÊNCIAS ACIMA, POR PARTE DO PAIGC  


Os casos relativos às ocorrências acima, que incluem os episódios de "combate" e o elemento "aprisionado" pertencente à CART 1742, foram analisados pelos responsáveis do PAIGC e publicitados no jornal «Libertação», edição n.º 87, de Fevereiro de 1968, cujo conteúdo se reproduz abaixo:



 


Para além do conteúdo acima, consta na capa desta edição do «Libertação» uma foto com quatro militares das NT feitos prisioneiros, desconhecendo-se os seus nomes. 
Dos quatro, quem será o António de Castro Aguiar, o "Arrifana"? Responda quem souber.

 



Fonte: Citação:
(1968), "Libertação", n.º 87, Ano 1968, Fevereiro de 1968, Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral - Vasco Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44344, com a devida vénia.

 

3.1 - O INTERROGATÓRIO FEITO AO ANTÓNIO DE CASTRO AGUIAR


Na sequência de ter sido aprisionado na região de Siai, pelas forças do PAIGC, por se encontrar ferido, o camarada António de Castro Aguiar foi levado (presume-se!) para o hospital de Boké, onde lhe prestaram, certamente, cuidados de enfermagem, seguindo depois para a prisão de Conacri, passando a ser considerado como "prisioneiro de guerra".


Na condição de "prisioneiro", António de Castro Aguiar é interrogado pelos responsáveis do PAIGC, passando o resultado desse inquérito a fazer parte de uma coletânea, com outros depoimentos sobre o mesmo contexto, designada por «Falam os portugueses prisioneiros de guerra», Caderno n.º 2, cuja capa se reproduz abaixo, bem como as dez questões formuladas e as respectivas respostas dadas pelo camarada "Arrifana". 

 

 


Trata-se de um ublicação da FPLN - FrentePatriótica de Libertação Nacional, sediedade em Argel, reproduzindo declarações de militares portugueses feitos prisioneiros pelo PAIGC. A FPNL operava também a Rádi0 Voz da Liberdade.



Fonte: Citação:
(s.d.), "Guiné. Falam os portugueses prisioneiros de guerra", Fundação Mário Soares / DCN - Documentos Vítor Cabrita Neto, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_152453, com a devida vénia.

 

■ Depois de mais de trinta e quatro meses de cativeiro (correspondente a mais de um milhar de dias), António Aguiar - o "Arrifana" (nome da sua terra natal) - e mais vinte e três outros camaradas seus, conseguem finalmente recuperar a liberdade na sequência da «Operação Mar Verde», levada a cabo em 22 de Novembro de 1970, domingo.


■ Decorridos quarenta e quatro anos após a libertação da prisão do PAIGC, em Conacri, conhecida por "Montanha", eis António de Castro Aguiar (foto 1), ladeado por Abel Santos, à sua direita, e pelo ex-Alf Mil Magalhães, à sua esquerda, durante o Convívio da CART 1742, de 2014, organizado em Leça da Palmeira – P20201 (03Out2019).

 


Foto 1 - António Castro Aguiar, ao centro, durante o Convívio da CART 1742, de 2014, realizado em Leça da Palmeira. Foto do álbum de Abel Santos, com a devida vénia.

 


Foto 2 > CART 1742 > A secção do Abel Santos: Da esquerda para a direita: em cima: Furriel Pontes, já falecido; 1ºs Cabos, Loura e Costa; Soldados Cruz e Abel; Em baixo: Soldados Ferreira; Silva; Miranda; Aguiar ("Arrifana") e Soares, já falecido. (Cortesia de Abel Santos, Poste P20201)



► Fontes consultadas:

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro II; 1.ª edição, Lisboa (2015).


 

Ø  (1) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 07177.087. Título: Libertação. Número 87. Ano: 1968. Data: Fevereiro de 1968. Directores: Amílcar Cabral, Luís Cabral, Vasco Cabral e Dulce Almada. Observações: Órgão do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral - Vasco Cabral. Tipo Documental: IMPRENSA.


 

(2) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 02970.001.015. Título: Guiné. Falam os portugueses prisioneiros de guerra. Assunto: Caderno n.º 2, publicação da FPLN, em Argel, reproduzindo declarações de militares portugueses feitos prisioneiros pelo PAIGC – José Neto Vaz, José Manuel Moreira Duarte, José da Silva Morais, António Ângelo Duarte, David Gouveia Pedras, Luís Salvador, Antunes Almeida Vieira, Luís dos Santos Marques, Augusto Dias, Manuel Ferreira, António de Castro Aguiar, José Manuel Alves Vieira, Víctor Manuel Jesus Capítulo -, emitidas pela Rádio Libertação do PAIGC e pela Voz da Liberdade. - Contém ainda lista de prisioneiros do Caderno n.º 1, composta por Rui Rafael Correia, José Maria de M. Medeiros, Manuel da Silva, Agostinho da Silva Duarte, Manuel Augusto Leite da Silva, António Júlio Rosa, Manuel Marques de Oliveira, Geraldino Marques Coutinho. Data: s.d. Fundo: DCN - Documentos Vítor Cabrita Neto. Tipo Documental: Documentos.


 

Ø  Outras: as referidas em cada caso.

 

Termino agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

04ABR2021

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - 21724: Op Mabecos Bravios: a participação da CCAÇ 2403, na retirada de Madina do Boé, em 6 de fevereiro de 1969 (Hilário Peixeiro, cor inf ref)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Op Mabecos Bravios > 2  fevereiro de 1969 >  Canjadude foi o local onde as NT se reuniram para o início, propriamente dito, da Operação. À esquerda os pilotos da FAP Cap Pilav José Nico (filmando) [, hoje ten gen pilav ref] [1] e o Sarg mil  Honório [2] e o Cmdt da Operação,  Cor Inf Hélio Felgas [, Cmd Agrup 2957, Bafatá, 1968/70][3].



Foto nº 2 Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Op Mabecos Bravios > 2 de fevereiro de 1969 >  Concentração das NT em Canjadude, quartel guarnecido pela CCAÇ 5.



Fotos (e legendas): © Hilário Peixeiro (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Há dias falou-se aqui do cor inf ref Hilário Peixeiro, que foi capitão no CTIG, cmdt da CCAÇ 2403 / BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá MandingaOlossato e Mansabá, 1968/70, mas de quem não temos notícias há já uns anos largos (*). 

Num poste já antigo, de 16/5/2011, há documentação interessante (texto e fotos) sobre a participação da CCAÇ 2403 / BCAÇ 2851 na operação de retirada de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios) (**). Reeditamos agora esse materal, valorizando em especial a documentação fotográfica. (***) 

Recorde-se que o desastre do Cheche, em 6 de fevereiro de 1969, fez 47 vítimas mortais. Foi há 52 anos. É uma efeméride difícil de esquecer por todos nós.


 Op Mabecos Bravios: a participação da CCAÇ 2403

por Hilário Peixeiro (**)


Durante o mês de Janeiro [de 1969] tiveram lugar os preparativos e reconhecimentos na zona do Boé, com vista à Operação de evacuação de Madina do Boé, denominada “Mabecos Bravios”.

Para além da CCaç 1790, local, comandada pelo Cap inf Aparício,  participaram na operação outras 6 Companhias [, incluindo da CCaç 2405, Destacamento F].

A 2 de Fevereiro [de 1969] a CCaç 2403, com 3 G Comb  (...)  [Destacamento ], deslocou-se para Canjadude e depois para o Cheche onde chegou já no final do dia, transportada nas viaturas destinadas ao transporte, no regresso, dos materiais da CCaç 1790 e da população de Madina. Desta vez todos os Gr Comb eram comandados pelos respectivos Alferes.

Juntamente com a CCaç 2405, do Cap Jerónimo [Destacamento F], atravessou o Corubal numa das jangadas, recém-construídas para o efeito, indo cada uma ocupar as colinas que flanqueavam a estrada para Madina, á esquerda e á direita. 

Quando as Companhias se separaram, já noite fechada, o IN lançou 2 granadas de morteiro sobre a estrada, sem consequências o que, 15/20 minutos antes, poderia ter tido resultados bem diferentes. 

Na manhã seguinte [, 3 de fevereiro], as Companhias seguiram, apeadas, rumo a Madina, sempre sobrevoadas por 1 T6 ou 1 DO até ao final do dia.

 
Foto nº 3 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > 3 de fevereiro de 1969 > Progressão da coluna em direção a Madina do Boé, sob a proteção da DO 27 do srgt pil Honório



Foto nº 4 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > 3 de fevereiro de 1969 > Progressão da coluna em direção a Madina do Boé, sob a proteção da DO 27 do srgt pil Honório


A meio da manhã [do dia 3 de fevereiro] houve um reabastecimento de água, planeado e, mais à frente, não planeado, um fortíssimo ataque de abelhas à CCaç 2405  {Destacamento F] que deu origem à evacuação de alguns homens no heli do Comandante da Operação, Cor Felgas, que aterrara entretanto.

Este contratempo provocou grande atraso na coluna e a certa altura o efeito do calor e das abelhas fez-se sentir mais acentuadamente sobre a CCaç 2405, tendo a CCaç 2403 [, Destacamento D] que ia na retaguarda, passado para a frente com o intuito de pedir a Madina reabastecimento de água para o pessoal mais atrasado que estivesse em dificuldades. 

Quando, cerca de 10 minutos depois, um Gr Comb se preparava para sair do quartel, chegou a outra Companhia [, CCAÇ 2405].

Enquanto o pessoal foi instalado,  os Capitães receberam do Comandante a missão para o dia seguinte  [4 de fevereiro] que consistia na ocupação dos morros que se estendiam a sul de Madina entre esta e a República da Guiné.



Foto nº 5 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > 3 de fevereiro de 1969  > Evacuação de vítimas de ataques de abelhas e insolação,  com o helicanhão a sobrevoar a zona.

 

Foto nº 6 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > A caminho de Madina do Boé > 3 de fevereiro de 1969 > Viaturas das NT abandonadas (Mercedes)



Foto nº 7  > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > A caminho de Madina do Boé  > 3 de fevereiro de 1969 > Viatura das NT abandonada (Berliet)



Foto nº 8  > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > A caminho de Madina do Boé > 4/5 de fevereiro de 1969 > Viatura das NT abandonada (Berliet)



Foto nº 9 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios >  Madina do Boé > 5 de fevereiro de 1969 > Reparação
 de GMC (rebocada) e sem paragem da coluna, de regresso a Cheche,


Quando se fez dia  [em 5 de fevereiro de 1969] o pessoal ficou surpreendido com o cabeço a que Madina estava encostada e os que a rodeavam. Eram autênticas “montanhas” na Guiné, onde tudo era plano. 

As Companhias ocuparam as elevações que lhes foram indicadas e aí permaneceram nesse dia enquanto as viaturas chegaram e no dia seguinte enquanto se procedeu ao seu carregamento com os materiais da guarnição e da população civil que ia ser deslocada para Nova Lamego. 

No dia 6 [de fevereiro], logo que se fez dia, deslocaram-se para a coluna que já se encontrava em movimento a caminho do Cheche, assumindo a segurança dos flancos e retaguarda. 

Antes de atingir o rio Corubal,  a coluna ainda foi alvo de mais um feroz ataque de abelhas que só provocou, como vítimas, a morte de dois cães da população.



Foto nº 10 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 >  I
magem das jangadas com a CCaç 2403 a embarcar para a última travessia antes da tragédia



Foto nº 11 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 >  I
magem das jangadas com a CCaç 2403 a embarcar para a última travessia antes da tragédia



Foto nº 12 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 >  I
magem das jangadas com a CCaç 2403 a embarcar para a última travessia antes da tragédia



As viaturas e pessoal foram atravessando o rio até só restarem as 2 Companhias e parte da CCaç 1790 de Madina. Comandava a Operação de carregamento da jangada o Cap Aparício [, da CCAÇ 1790]. 

Na penúltima travessia foram transportadas a CCaç 2403 e parte da CCaç 2405, tendo a primeira recebido imediatamente ordem do Cor Felgas para montar a segurança do flanco esquerdo da coluna que partiria, logo que pronta, rumo a Canjadude.

Para a última travessia, seria embarcado o pessoal que restava das CCaç 2405 e CCaç 1790, muito menos de 100 homens. 

Enquanto se aguardava a chegada do pessoal que faltava para a coluna se pôr em marcha foram disparadas 1 ou 2 granadas das armas pesadas do Destacamento do Cheche. 

Pouco depois surgiu um soldado a correr em direcção ao rio, a chorar, dizendo que a jangada se havia virado e que muita gente tinha caído à água no meio do rio. 

Através do rádio do Capitão,  foi ouvido o Cor Felgas em comunicação com o General Spínola, que não esteve no local, dizendo que havia muitos homens desaparecidos no rio. 

Com grande atraso em relação à hora prevista, a coluna iniciou o deslocamento para Canjadude onde pernoitou.

No dia seguinte [, 7 de fevereiro] chegou a Nova Lamego, onde o Comandante-Chefe falou às tropas participantes na Operação.

Com a chegada da CCaç 1790 a Nova Lamego,  a CCaç 2403 recebeu ordem de marcha para o Olossato com passagem por Fá Mandinga (...) e aí ficou mais de 1 mês, em missão de intervenção do Comando de Agrupamento de Bafatá. (...)

[Revisão / fixação de texto: LG]

_____________

Notas do edidtor:


(*) Vd. poste de 31 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21715: Em busca de... (310): Hilário Peixeiro, capitão que conheci no Forte da Graça, em Elvas, em 1973/75 (João Rico, ex-fur enfermeiro)

Vd. poste de 13 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11837: Op Mabecos Bravios (1-8 de fevereiro de 1969): a retirada de Madina do Boé, com o trágico desastre no Cheche, na travessia do Rio Corubal, foi há 44 anos (1): Relato do cmdt da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Galomaro e Dulombi, 1968/70)


(...) 2. Extractos de: Guiné 68-70. Bambadinca: Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. 30 de Abril de 1970. c. 200 pp. Classificação: Reservado. Cap. II. 36-38..

(...) Iniciada a Op Mabecos Bravios, em 1 [de Fevereiro de 1969], com a duração de 8 dias, para retirar as nossas tropas de Madina do Boé. 

Entre vários destacamentos, tomou parte no Destacamento F a CCAÇ 2405 [ .Comandante: Cap. Mil. José Miguel Novais Jerónimo; 1º Gr Comb – Alf Mil Jorge Lopes Maia Rijo; 3º Gr Comb  – Alf Mil Rui Manuel da Silva Felício; 4º Gr Comb  – Alf Mil Paulo Enes Lage Raposo]. (...)

1 de fevereiro de 1969

(...) O Dest F com o efectivo de 112 homens (4 oficiais, 10 sargentos e 98 praças - estão incluídos 1 secção de sapadores e 8 condutores auto), saiu de Galomaro em 1 de Fevereiro de 1969, pelas 9.30h, e chegou a Nova Lamego por volta das 13.00h do mesmo dia, sem qualquer novidade.

Aqui fizeram-se os preparativos finais da organização da coluna que partiu às 5.30h do dia 2 [D]. (...)

2 de fevereiro de 1969

(...) A coluna saiu de Nova Lamego para Canjadude com o pessoal totalmente embarcado e atingiu-se esta povoação por volta das 9.00h sem qualquer problema. A partir de Canjadude a coluna progrediu com guardas de flancos,  tendo o Dest F colaborado na guarda da rectaguarda da coluna fazendo uma progressão apeada que não estava prevista.

Atingiu-se o Cheche [entre Canjadude e Madina do Boé] por volta das 17.00h (sempre com uma cobertura aérea excelente).

3 de fevereiro de 1969

(...) O IN não voltou a manifestar-se mas obrigou-nos a uma vigilância nocturna permanente e a uma mudança de posição por volta das 23.00h.  (...)

Pelas 5.30h [do dia 3, D + 1] mandou-se um Pelotão a Cheche buscar um Pelotão do Dest E que fazia guarda imediata às viaturas e que eu [, cmdt da CCAÇ 2405,] devia levar até Madina.

Cerca [ das 10.00h ] o Dest F sofreu um violento ataque de abelhas e teve que recuar cerca de um quilómetro para se reorganizar de novo. Um soldado, em consequência, ficou imediatamente fora de acção. Foi pedida a respectiva evacuação bem como a de outro soldado que apresentava sintomas de insolação.

As evacuações fizeram-se para Nova Lamego  (...)

O héli desceu mais tarde para reabastecer o pessoal de água.

O Dest D [CCaç 2403[ passou para a frente e reinicou-se a marcha, sempre fora da estrada até à recta que leva a Madina. Nada mais se passou além do sofrimento intenso das tropas por via do calor. O Det D foi reabastecido de água. 

Atingimos Madina [do Boé] por volta das 19.00h [do dia 3 de fevereiro ] desligados do Dest D que prosseguiu a sua marcha quando F teve que parar para reajustar o dispositivo e tratar os mais debilitados (4 praças e 1 furriel).

Houve descanso em Madina e tomou-se uma refeição quente (...)

4 de fevereiro de 1969

(...) No dia 4 (D + 2)  o Dest F dirigiu-se para [ Felo Quemberá, ilegível] ocupando a posição 3 que se atingiu sem dificuldade por volta das 11.00h. Alternadamente ocupou-se as posições 3 e 4 de acordo com o plano.(...)

5 de fevereiro de 1969

(...) Em D + 3 [5 de Fevereiro de 1969] por volta das 7.30h,  recebemos ordens do PCV [Posto de Comando Volante] para a abandonar a nossa posição e seguir ao encontro da coluna. 

Uma hora depois atingimos o campo de aviação de Madina onde fomos reabastecidos de água e r/c [rações de combate]. 

Pelas 9.00h a coluna pôs-se em movimento e meia hora depois 4 carros da rectaguarda tiveram um acidente. Não obstante, a coluna prosseguiu e o pessoal do Dest F mais os mecânicos resolveram a dificuldade.

6 de fevereiro de 1969

(...) Próximo de Cheche recebi ordens para ocupar a posição que ocupara que tivera em D / D+1 porque o Exmo. Comandante da Operação [, cor inf Hélio Felgas,] entendeu dever poupar alguns quilómetros ao Dest F e D, bastante atingidos pela dureza dos respectivos percursos. Essa foi a razão porque não transpus o [Rio] Corubal em D + 3 [ 5 de Fevereiro] só o vindo a fazer em D + 4 [6 de Fevereiro] por volta das 9.00h.(...)

(...) Durante a transposição do Corubal a jangada em que seguiam 4 Gr Comb [da CCAÇ 2405 e da CCAÇ 1790], respectivos comandos e tripulação afundou-se espectacularmente acerca de um terço da largura do rio, provocando o desaparecimento de 17 militares do Dest F e grandes quantidades de material perdido. (...)

(...) Por voltas das 10.00h de D+ 4 [6 de Fevereiro] saímos de Cheche para Canjadude que atingimos por volta das 16.30h com o pessoal deste Dest embarcado. (...)

7 de fevereiro de 1969

(...) Descansou-se e em D + 5 [7 de Fevereiro] às primeiras horas a coluna pôs-se em movimento para Nova Lamego que foi atingida por volta das 11.00h. 

Às 12.00h as tropas ouviram uma mensagem do Exmo. Comandante-Chefe [, brig António Spínola,] que se deslocou propositadamente para a fazer.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20547: In Memoriam (362): Padre Libório Jacinto Cunha Tavares (1933-2020), ex-Capelão do BCAÇ 2835 (Nova Lamego, 1968/69)

IN MEMORIAM



PADRE LIBÓRIO JACINTO CUNHA TAVARES (1933-2020)


1. Mensagem de Catarina Tavares, sobrinha-neta do Padre Libório Tavares, com data de 9 de Janeiro de 2020:

Boa tarde,

Há algum tempo fiquei de lhe enviar uma fotografia do meu saudoso tio padre, como carinhosamente o chamamos eu e a minha irmã desde sempre. Para lhe dizer a verdade fui-me esquecendo, pois pensei que tinha tempo... é com grande tristeza que o informo que o meu tio padre faleceu terça-feira, 7 de janeiro após o seu estado de saúde se deteriorar nos seus últimos dias de vida.

Envio-lhe em anexo algumas fotografias dele, como me tinha pedido.

Obrigada por ter partilhado histórias tão dele!

Com os melhores cumprimentos,
Catarina Tavares

************

2. Libório Jacinto Cunha Tavares:

(i) Açoriano, nascido em 1933, na ilha de São Miguel, em Rabo de Peixe;

(ii) Frequentou o seminário diocesano da Terceira;

(iii) Foi ordenado padre em 1958; esteve em várias paróquias da sua ilha natal, incluindo Rabo de Peixe;

(iv) Com 35/36 anos, foi capelão no CTIG, de 17/1/1968 a 10/12/1969, em Nova Lamego, no leste da Guiné [, como tudo indica, no BCAÇ 2835: mobilizado pelo RI 15, esta unidade partiu para a Guiné em 17/1/1968 e regressou a 4/12/1969; esteve em Bissau e Nova Lamego; comandantes: Ten-Cor Inf Esteves Correia, Maj Inf Cristiano Henrique da Silveira e Lorena, e Ten-Cor Inf Manuel Maria Pimentel Bastos; foi rendido pelo BCAÇ 2893 (1969/71)] (*);

(v) Emigrou para o Canadá, foi pároco da igreja católica de Santa Maria, em Brampton, durante 26 anos, lugar que é hoje ocupado pelo seu sobrinho e afilhado, o padre Libório Amaral, nascido em 1963;

(vi) Em 2016, reformado, viveu em Brampton, cidade suburbana da área metropolitana de Toronto, província de Ontario, Canadá:

(vii) Muito conhecido de (e estimado por)  a comunidade portuguesa e açoriana de Toronto, é foi considerado um dos principais animadores da tradição da multissecular festa do Senhor Santo Cristo

Guiné > Região de Gabu > Sector de Nova Lamego) > Canjadude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos" > 1969 > O Alf Mil Capelão Libório Tavares, dizendo missa, num altar improvisado. Ajudante, o José Martins, Fur Mil TRMS, CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70).



Fotos mais recentes do Padre Libório Tavares, enviadas pela sua sobrinha-neta

************

3. A tertúlia e os editores deste Blogue, enviam as mais sentidas condolências à família do senhor Padre Libório Tavares pela perda deste seu ente querido.(**)

Em jeito de homenagem póstuma, à sua pessoa, aos nossos capelães, a todos os nossos camaradas açorianos, e aos demais camaradas da diáspora lusitana,  o seu nome passará a figurar entre os nossos tertulianos já falecidos. 
____________

Notas do editor:

(*)  Vd. poste de 25 de outubro de  2016 > Guiné 63/74 - P16638: Os nossos capelães (6): Libório [Jacinto Cunha] Tavares, o meu Capelini, capelão dos "Gatos Negros", açoriano de São Miguel, vive hoje, reformado, em Brampton, AM Toronto, província de Ontario, Canadá (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70)
(**) Último poste da série de 6 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20532: In Memoriam (361): Fernando Alberto Silva Franco (1951-2020), ex-1.º Cabo Caixeiro do PINT 9288 (Guiné, 1973/74)

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20522: O nosso livro de visitas (204): António Borges, cor inf ref, ex-cap inf, cmdt da CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1970, ao tempo do José Corceiro e do José Martins



Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970

(...) O capitão Borges com a esposa numa coluna para Nova Lamego. Sentados atrás vão os guarda-costas (elementos dos Comandos, Dragões). Houve autorização superior para o jipe poder integrar a coluna.

É uma atitude arrojada que revela coragem, determinação e cumplicidade no casal, dando provas de coesão, sem se pouparem a sacrifício para consolidar a união dos cônjuges. É evidente que o amor é mais importante que a morte... mas o capitão Borges, com esta sua ousadia, deu provas de combate, segurança e confiança, no porvir.

A senhora do capitão Borges tem que ser uma mulher de alma magnânima e imperturbável, para se arriscar a viver nestas condições, a milhas da civilização e neste isolamento, não deve ser fácil, mas é revelador de acto de afoiteza e amor para com o marido, ao querer trilhar alguns dos perigos e dificuldades inerentes ao teatro de guerra que todos aqui vivemos, só que nós militares, por imposição e obrigação, enquanto a senhora do capitão é de livre vontade, abnegando a possibilidade de bem-estar, provavelmente podendo viver na Metrópole. (...) (*)

[Foto à direita]

Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970 > Entre o Cheche e o Bormuleo, na margem direita do Rio Corubal, a posar para a foto o capitão Borges, o capitão Costeira e o ahferes Varela (hoje advogado em Almada). É visível a margem oposta do rio Corubal.

[Foto à esquerda]

Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970 >  Instalados junto àmargem do rio Corubal, ao fim do dia, a comer a ração de combate. 

Na foto, o capitão Borges e mais pessoal da operação; o Silva de Transmissões está de pé; alguns carregadores civis são visíveis assim como os garrafões que transportavam com água. Passámos aqui a noite, onde as formigas nos atacaram.



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  14 de março de 1970 >  Recepção do povo de Nova Lamego ao Ministro do Ultramar, Silva Cunha.


Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970 > O Ramos a cortar o cabelo ao Corceiro em Canjadude. Era normal entre as 10 e as 15h00, intervalo de descanso, andarmos assim vestidos, quando não era pior.

Fotos (e legendas): © José Corceiro  (2010) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Troca de mensagens entre o cor inf ref António José G. G. Borges, ex-cap, cmdt da CCAÇ 5, Canjadude, 1970, hoje cor inf ref (**):

(i) António Borges, quarta, 18/12/2019, 12h45

Com os meus afectuosos cumprimentos muito gostaria que me fosse indicado o endereço actual do vosso "tertuliano" José Corceiro que foi Cabo radiotelegrafista da CCaç 5,  de Canjadude (Guiné), Companhia que comandei em 1970.

Antecipadamente agradecido desejo a todos Festas Felizes.
Cor António José G. G. Borges,
ex Capitão Borges / CÇaç 5


(ii) Luís Graça, 18/12(2019, 13h15

Zé Corceiro: Já há tempos que não contactamos... Tens aqui um pedido do ex-cmdt da CCAÇ 5, em 1970, hoje cor ref António Borges. Responde-lhe, com conhecimento a mim, se não te importares... Aproveitas para fazer a "prova de vida"...

Um abraço natalício. Luís Graça


(iii) José Martins, 18/12/2019.18h45:

Boa noite, meu Comandante e Amigo António Borgs:

Espero que se encontre bem, assim como toda a família. Pediram-me para responder a este mail, o que faço com muito gosto.

Já não tenho contacto com o Corceiro há algum tempo mas, os contactos de que disponho são:
e-mail (...)

telemóvel (...)

Telefone fixo (...) 

Aproveito para enviar votos de Boas Festas e um óptimo 2020.

José Martins

 (iv)  António Borges, 2/1/2020 11h15: 

Caros amigos:

A resposta ao meu pedido sagrou-se 100% exitosa tendo "capturado" o Corceiro que era o objectivo principal da operação, mas também o Martins, e estabelecido contacto com o Luís Graça a quem felicito pelo excelente trabalho do "blogue" que vem patrocinando, executando um trabalho que seria legítimo exigir fosse feito pelas instâncias oficiais próprias.

A todos os meus votos de um 2020 pleno de êxitos pessoais.

Um forte abraço do "capitão",

Borges

2. Comentário do editor Luís Graça:

Meu caro coronel António Borges: fico honrado com as suas palavras acerca do nosso blogue, e grato pelos seus votos de bom ano de 2020, que retribuo,. Ao mesmo tempo, fico feliz por termos conseguido "levar a carta a Garcia"... Mas precisamos da presença de mais um "Gato Preto" na nossa Tabanca Grande. Depois desta agradável visita, o seu lugar é aqui ao pé de nós. E começa bem o ano de 2020 se aceitar o nosso convite, sentando-se à sombra do nosso mágico, protetor e fraterno poilão, no lugar nº 802.

 Mande-nos uma pequena nota curricular e as duas fotos da praxe: uma mais recente e outra mais antiga, do tempo do CTIG. Com certeza que terá memórias que possa e queira partilhar connosco. Será muito bem vindo.

PS - Além do José Martins e do José Corceiro, temos ainda o João Carvalho (, "um dos últimos soldados do império"), como dignos representantes da CCAÇ 5. Espero que não me tenha escapado mais nenhum nome. Cito de cor.
______________


(...) Durante a minha permanência na Guiné, de entre os quatro Comandantes de Companhia da CCAÇ 5, que eu conheci em Canjadude, por razões de estilos diversos, cada Comandante deixou cinzelado, na minha memória, recordações e sentimentos distintos uns dos outros. (...)

(...) Estamos integrados numa companhia independente de africanos, cujo quartel tem abrigos enterrados no chão, onde dormimos, os que conseguem, em condições desumanas. O acampamento confina com uma tbanca, onde coexistem civis e militares nativos com as suas famílias, habitando em “morançinhas” familiares tradicionais, cobertas de capim (colmo). (...)


(...) Dia 20 de março, 1970o comandante da CCAÇ 5 é o capitão Manuel de Oliveira (falecido em 31/03/2007,  com a patente de coronel tirocinado na reserva) e é voz corrente que nos vai deixar por ter sido promovido a major e foi destacado para Bissau, para exercer funções relacionadas com actividades no Ministério da Educação. A família do capitão vive em Bissau, cujo agregado familiar é composto por duas filhas e a esposa (Bióloga), que lecciona Ciências no Liceu Honório Barreto. (...)

(...) Dia 21 de março, logo cedo, antes das h00, saiu uma coluna de reabastecimento para Nova Lamego. Eu estou de serviço no posto de rádio, das 4h00 às 8h00 e das 12h00 às 16h00. O José Carlos Freitas saiu hoje na coluna e vai para a Metrópole em gozo de férias.

A coluna regressou cedo do Gabu, por volta do meio-dia. Recebi muita correspondência. Veio para substituir o capitão Oliveira o capitão Borges (hoje coronel na reserva) que era o comandante da CCS do Batalhão de Nova Lamego. (...)

(...) Dia 26, não sei se terá algum fundamento ou se será boato de caserna, mas comenta-se a notícia com honras de veracidade. Fala-se à boca cheia que o capitão Borges vai trazer a esposa, que vive em Nova Lamego, aqui para o destacamento de Canjadude.

Dia 28, houve coluna a Nova Lamego e o capitão Oliveira deixou hoje a CCAÇ 5, foi para Bissau. (...)

(..:) Desde que o Ministro do Ultramar esteve em Nova Lamego, o dia 14 deste mês [de março de 1970], todos os dias têm havido saídas de pelotões para o mato e, tem sido uma constante o movimento de envio e recepção de mensagens, no posto de rádio.

Dia 31, o capitão Borges mandou reunir os militares da Formação e esteve a definir algumas normas de conduta, que quer que sejam cumpridas por todos, principalmente na apresentação do vestuário e comportamentos. (...)

(...) Dia 7 de abril, logo manhãzinha, ao romper da aurora, saiu uma coluna para Nova Lamego. A coluna regressou a Canjadude bem cedinho, tendo recolhido no trajecto o pelotão que estava emboscado.

Ao chegar a coluna ao aquartelamento, ficou tudo surpreendido e de boca aberta… ah! ah!, embora não fosse surpresa para ninguém, pois já todos sabiam, o capitão Borges veio acompanhado da sua esposa que, segundo consta,  vai ficar a viver em Canjadude. (...) [Vd. foto acima, com a respetiva legenda] (...)


(...) Não nos podemos esquecer que estamos no mato e, a partir de agora, da parte de nós, militares, impõe-se nova conduta, mais moderação no verbalismo utilizado na oralidade, mais decoro na postura de apresentação, mormente no vestuário usado, pois tem que haver pundonor e uma determinada probidade no porte, não nos podendo dar à veleidade do desalinho que é ir dos abrigos para os balneários, só de toalha às costas (às vezes suportada por cabide fantasiado) e sabonete na mão. É toda uma atitude comportamental na disciplina, a que temos que nos ajustar. (...)

(...) A esposa do capitão Borges, com todo o respeito, é uma senhora muito simpática e bem-disposta, tem uma auréola de energia positiva. Sempre que passa por algum de nós, indiscriminadamente, não faz distinção, tem a amabilidade de nos dirigir um cumprimento de saudação, sempre com ar de pessoa feliz e sorridente. Só uma senhora que aparenta esta tranquilidade interior e serena generosidade, se sujeitaria a viver neste meio tão hostil e carenciado, onde abundam todo o tipo de privações. (...)

(...) Dia 29 [de março de 1970], por sugestão da esposa do capitão Borges, ao serão reunimo-nos todos os militares no refeitório das praças, para confraternizarmos um pouco e jogar ao loto, presidido pelo comandante da Companhia (desde que eu estou em Canjadude nunca houve uma união e envolvimento de aproximação semelhante a este acto, as águas têm sido muito separadas). Eu logo na primeira jogada fiz Bingo, ganhei 154 pesos, voltei a fazer Bingo na terceira jogada, ganhando 86 pesos, pelo que levou alguém a gracejar que eu já tinha ganho dinheiro, suficiente, para pagar uma rodada de cervejas para todos. (...)

(...) Dia 6, de maio, chegou a Canjadude o capitão Arnaldo Costeira (creio que na época era o capitão com menos idade do QP, se a memória não me falha, ouvi-lhe dizer que comandou, interinamente, uma companhia em Angola tinha ele 20 anos de idade, na altura como alferes e que tinha sido há quatro anos atrás; hoje é coronel na reserva), para substituir o Capitão Borges. (...)

(...) Dia 13, em Canjadude, foi accionado o alarme de perigo, dirigiu-se apressadamente todo o pessoal para os seus postos de defesa, mas afinal era tão só uma demonstração, para testar a eficácia da actuação do pessoal e, para o capitão Borges dar umas explicações da orgânica dos procedimentos a cumprir, em caso de ataque IN, ao capitão Costeira. (...)

(...) Dia 23, realizou-se uma operação, para os lados do Cheche, Corubal, Bormuleo, a nível de Companhia, foram o capitão Borges e o capitão Costeira nesta operação. As viaturas foram-nos levar na direcção do Cheche e apeamos muito próximo das viaturas que estavam abandonadas na picada, por terem sido acidentadas com minas. Após termos desmontado das viaturas, caminhamos bastante tempo, até nos instalarmos para comer a ração de combate. Na parte da tarde começamos a caminhar rumo ao Corubal e no percurso encontrámos um destacamento IN, já abandonado, restando vestígios da actividade humana. Destruímo-lo todo, após o que continuámos a progredir até à margem do Corubal, onde passámos a noite. Instalámo-nos junto de rochas, num lugar paradisíaco, mas para esquecer, pois durante a noite, quase todos nós fomos hostilizados por formigas, que nos queriam papar, as quais tiveram o condão de nos agitar e perturbar a nossa tranquilidade, quando precisávamos de descansar. (...)
(...) Dia 24 de maio  de 1970, veio o furriel de transmissões, Alberto José dos Santos Antunes, substituir o furriel de transmissões, José Martins.

Dia 26 de Maio, de 1970, houve coluna a Nova Lamego. O furriel José da Silva Marcelino Martins (José Martins nosso tertuliano) despediu-se de Canjadude, e da CCAÇ. 5, rumou destino à Metrópole, por ter terminado a sua comissão de serviço na Guerra do Ultramar. Desejo-lhe boa viagem, muita saúde e êxito no percurso que vai iniciar. Que a vida lhe sorria e boa sorte. (...)


(**) Último poste da série >  19 de setembro de 2019 >  Guiné 61/74 - P20156: O nosso livro de visitas (203): O jovem guineense Erickson Té agradece o trabalho que o nosso blogue tem feito pela sua terra e pede autorização para usar algumas das nossas histórias bonitas em página do Instagram