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sábado, 30 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20398: Álbum fotográfico de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 (Bissau e Fulacunda, 1969/71) - Parte III


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  > Espaldão do obus 10.5 (1)


Guiné > Região de Quínara  > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  > Espaldão do obus 10.5 (2)


Guiné > Região de Quínara  > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  > DO 27: a chegada do correio


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  Eu e o furrel Jacinto


Guiné > Região de Quínara  > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  Criançada


 Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  População local


Guiné > Região de Quínara  > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >   Operação com helicópteros AL III

 

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  Uma passagem por Tite, sede do BCAV 2867 (Tite, 1969/70).


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  Diversão


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  Futebolada


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  O Manuel e o Quibite



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  Mulheres


Fotos (e legendas): © Domingos Robalo  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico (*) de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71; comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda (1969/70); vive em Almada;  tem cerca de 20 referências no nosso blogue.


(...) "Ah…já sabia pelo Jacinto onde era Fulacunda, e quem estava por lá. Os Boininhas [CCAV  2482]. Mas o lugar não era dos mais pacíficos...

Cerca de cinco dias depois, não dois como estava previsto, preparamo-nos para embarcar em três LDM (Lancha de Desembarque Média), 3 obuses 10,5cm, 27 soldados, três cabos, dois furriéis e eu próprio como Comandante de Pelotão. Para além destes militares, íamos acompanhados das mulheres dos soldados e dos respetivos filhos. Cada soldado tinha em média duas ou três mulheres, filhos já não sei.


No dia da partida aportámos a Bolama, onde o pessoal pernoitou o melhor que pôde e eu fui também dormir a uma pensão, cheia de cabo verdianos que não se calaram durante toda a noite. " (...) (**)

A CCAV 2482, "Boinas Negras" era a subunidade que esteva em Fulacunda (entre 30 de junho de 1969 e 14 de dezembro de 1970, regressando nesta data a Bissau).  Foi mobilizada pelo RC 3, pertencia ao BCAV 2867 (Tite,1969/70); partida: 23/2/69; regresso: 23/12/70; antes de Fulacunda, esteve em Tite; comandante: cap cav Henrique de Carvalho Mais.ont




terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19257: Agenda cultural (661): "Voando sobre um ninho de Strelas", livro de memórias de António Martins de Matos, ten gen pilav ref. Sessão de apresentação: 11 de dezembro, 3ª feira, 18 horas, no Hotel Travel Park, na Av. Almirante Reis 64, Lisboa (metro Anjos). Estamos todos convidados.


Guiné > Nova Lamego > 1 de fevereiro de 1974 > O António Martins de Matos, então ten pilav, ao comandos de um Fiat G-91. Era o nº 2, na escala hierárquica da Esquadra  121 (Fiat G-91, T-6 e D0-27, tendo 6 pilotos de Fiat, "Os Tigres" (que voavam também um dos outros aviões), e mais 14 pilotos, milicianos (alferes e furriéis) que voavam indistintamente o T-6 e o DO-27.  Foto reproduzida, a preto a branco, no livro, pág. 245)


Guiné > Bissau > Bissalanca > BA 12 Um grupo de bravos da BA 12, Bissalanca, 1972/74, posando junto de um Fiat G-91, e tendo por trás um "radar-fantasma", que ficou inoperacional por volat de 1970 (foto reproduzida no livro, pág. 184).



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > c. 1972/74 > "Em dia de São Avião": o Nord-Atlas (foto reproduzida, a preto e branco, no livro, pág.  50)


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > c- 1972/74 > O DO-27 que o António Martins de Matos (, nome de guerra, "Batata",)  também pilotou muitas vezes, sobretudo no primeiro ano da comissão. (Foto reproduzida a preto e branco, pág. 107).



Capa do livro, "Voando Sobre um Ninho de Strelas", de António Martins de Matos (Lisboa: BooksFactory, 2018,   375 pp.)


Fotos (e legendas): © António Martins de Matos (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, com data de ontem, do António Martins de Matos, ten gen ref, 73 anos feitos há um mês atrás, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, membro da Tabanca Grande, de longa data, com mais de 80 referências no nosso blogue, em especial na série FAP:

Caros amigos da Tabanca Grande, da Tabanca do Centro e do blogue dos Especialistas da BA 12 (Bissalanca, 1965/74):

A uma semana do lançamento do meu livro, “ Voando sobre um ninho de Strelas”, está na altura de me ajudarem a divulgar o evento.

Mando-vos algumas fotos, a ideia não é utilizarem-nas na totalidade, apenas uma ou outra que acharem por bem publicar a acompanhar a notícia. E até podem ser outras que entendam…

Recordando, o lançamento será na Terça Feira,  11 de Dezembro pelas 18 horas, no Hotel Travel Park, na Av. Almirante Reis 64 (, do lado que sobe para a Praça do Chile; metro Anjos).

Desde já o meu Muito Obrigado  pelo vosso apoio.

Abraços

AMM


Hotel Travel Parque, na Av. Almirante Reis, 64, Lisboa

2. Comentário do editor LG:

Recorde-se que o livro teve a sua sessão de lançamento, no mês passado,  no Estado Maior da Força Aérea (EMFA), em Alfragide, com a presença do Chefe do EMFA, gen Manuel Teixeira Rolo (*), sendo a obra apresentada pelo maj gen Campos Almeida, que foi colega de curso na Academia Militar, do autor (tal como outros colegas ilustres, o Virgílio Varela, do 16 de Março, e o Salgueiro Maia, do 25 de Abril, sem esquecer o 'strelado' Miguel Pessoa, também nosso mui querido grã-tabanqueiro).

Recorde-ser também que foi preocupação imediata do autor fazer um apresentação do livro para  os "amigos e camaradas da Guine" (**)... Confirma-se então que essa sessão vai realizar-se na  data e locais previstos, e que na mesa de honra irão estar presentes além do autor, os representantes dos 3 blogues que se têm dedicado a este tema, a saber:

- Luís Graça, fundador, administrador e editor do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné;

- Joaquim Mexia Alves, régulo da Tabanca do Centro;

- Vitor Barata,  fundador, administrador e editor do blogue Especialistas da Base Aérea 12.

Contamos com a presença de todos/as, em especial, dos ex-camaradas do ex-ten pilav António Martins de Matos (BA 12, Bissalanca, 1972/74), dos três ramos das Forças Armadas. (***). Divulguem pelos contactos. Ontem como hoje, "um por todos, todos por um"...

__________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19197: Agenda cultural (659): O António Martins de Matos ,"Voando Sobre um Ninho de Strelas", sente-se agora totalmente realizado por, depois de ter plantado duas árvores, e dado o seu contributo para fazer dois filhos, acaba de publicar um livro, que é muito da sua história de vida, e em especial como piloto da FAP, mas também um bocado das nossas vidas de ex-combatentes...

(**) Vd. poste de 14 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19193: Agenda cultural (658): sessão de apresentação, ao público, em geral, e aos ex-camaradas do CTIG, em particular, do livro do ten gen ref António Martins de Matos, "Voando sobre um Ninho de Strelas", no dia 11 de dezembro de 2018, terça-feira, às 18h00, no Hotel Travel Park Lisboa, Av. Almirante Reis 64.

(***) Último poste da série > 3 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19255: Agenda cultural (660): Lançamento do livro "O Homem do Cinema", por Lucinda Aranha Antunes; editora Alfarroba, levado a efeito no passado dia 18 de Novembro na FNAC do CC Vasco da Gama, em Lisboa

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19133: FAP (112): Há aviões... e aviões, há o Cessna 152 e o Dornier, DO 27 (E. Esteves de Oliveira)


Foto nº 1 > Cessna 152


Foto nº 2 > Dornier [DO] 27

Fotos (e legendas): © E. Esteves de Oliveira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de E. Esteves de Oliveira, nosso camarada e leitor:

Data: domingo, 9/09/2018 à(s) 21:14

Assunto: HÁ AVIÕES... E AVIÕES

Camarigueiro Luís Graça,

Um alfa-bravo para começar.

Para continuar: nem de propósito, esta tarde estive com os meus netos na BA 1, Granja do Marquês, e, chegado a casa, abri o blog da Tabanca Grande - agradável surpresa! O álbum de fotografias do Virgílio Teixeira: Guiné e aviões, que bela combinação. (*)

Mas o bichinho crítico que vive escondido algures no meu bestunto disparou o alarme na foto nº 8: a avioneta na pista de Nova Lamego não é um Dornier 27, é um Cessna 152.


Foto nº 8 > Nova Lamego, novembro de 1967 > Avioneta civil, dos TAGP, uma Dornier, de 2 passageiros, aterrando em Nova Lamego. (Estas aeronaves faziam voos privados, normalmente para levar ou trazer passageiros, que se deslocam de, ou para, Bissau. A população civil está presente.) (*)

Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

As diferenças são várias, para lá dos fabricantes e modelos: em cima, na foto nº1 , Cessna, e na foto nº 2,  o Dornier.

Ambos são mono-motores de asa alta e ficamos por aí de parecenças. O Cessna 152 tem dois lugares (piloto e passageiro), trem de aterragem triciclo; o Dornier 27, bem maior e robusto, pode transportar seis passageiros (incluindo o piloto) e tem trem de aterragem convencional. (**)

A memória, por vezes, prega-nos partidas, sobretudo com o avançar da idade. A velhice é uma chatice, não a recomendo a ninguém... (***)

E. Esteves de Oliveira

Ex-oficial miliciano de Infantaria, Guiné 1963-65, Angola 1965-66, Moçambique 1966.

P.S. - Os meus textos são redigidos em profundo desacordo e intencional desrespeito pelo Aborto Ortopédico - perdão! - Acordo Ortográfico.

Visitem o meu blog http://asopadospobres.aboutlisboa.com/ s.f.f. É de borla, não tem anúncios nem muitos links, ainda funciona a vapor... 


2. Comentário do editor LG:

Obrigado, caro camarada e leitor Esteves de Oliveira. Vamos corrigir, se o Virgílio oTeixeira concordar, também me parecia que era um Cessna. No meu tempo (1969/71), acho que os TAGP não tinham Dornier, apenas Cessna. A DO 27 era-nos mais familiar,. trazia-nos o correio e víveres, fazia evacuações, além de servir de PCV (Posto de Comando Volante) (o que era "irritante" para os "infantes", quando no mato, em operações...).

Vejo que o camarada Esteves de Oliveira acompanha com maior ou menor regularidade o nosso blogue e já tem feito mais comentários. È uma pena não estar "formalmente" integrado na nossa Tabanca Grande, o mesmo é dizer, poder estar sentado à sombra do nosso mágico e fraterno poilão... Para mais conheceu a Guiné nos anos de chumbo (1963/65), além dos TO de Angola e Moçambique... O convite fica feito: só precisamos das 2 fotos da praxe... Até um dia destes!


3. Resposta do Virgílio Teixeira, com data de... 18 de setembro último (*):

(...) O camarada E.Esteves de Oliveira, disse:

'agradável surpresa! O álbum de fotografias do Virgílio Teixeira: Guiné e aviões, que bela combinação.'
Obrigado, espero que gostem, embora nalgumas eu estou muito ridículo, mas é do clima.

Já percebi que não é uma DO 27, mas sim um Cessna. Se é 152 isso não é da minha lavra.
Viajei pelo menos 4 vezes neste, ou noutro Cessna dos TAGP, como único passageiro.

A última e derradeira, em finais de Fevereiro de 1969, tenho uma história para contar de arrepiar os cabelos - os meus - que vou um dia fazer um Tema, que, não tendo fotos, pode servir mesmo esta deste Cessna, pois era igual. Tenho o Bilhete para Postar, lembrei-me agora. Talvez para Postar no dia em que faz 50 anos, falta pouco.

Resumo: Tinha um novo Comandante de Batalhão, mau, ele assinou a Guia de Marcha para eu ir de férias, comprei o bilhete, o Cessna chega com o piloto civil, eu quando ouvi o ruido do motor, toca a correr para a pista, ele descarrega o correio e outras coisas, talvez tenha deixado algum passageiro, vejo um jipe em grande velocidade na minha direcção, a poeira que ele deixava atrás, e parou junto ao Cessna. O Piloto normalmente não desligava sequer o motor, o comandante, resumindo, não queria que eu fosse, apesar de ter assinado a Guia de Marcha. Os minutos que se passaram são daqueles filmes de suspense, ele quase me agarra para eu não entrar, tenho um pé dentro e outro fora, os minutos parecem uma eternidade, a poeirada das hélices nem deixavam ver, o Piloto dá o último aviso, se não entra vou descolar, dou um salto para dentro do avião e deixo o comandante e outros de boca aberta, chegamos a Bissau. Só quando o avião da TAP estava no ar, tive a certeza que já ninguém me apanhava, até lá, nem vos conto, os dias de pavor, à espera de receber uma ordem para me apresentar novamente em São Domingos, quando eu queria era ir para junto da minha namorada, lá cheguei a Lisboa, na manhã do dia do seu grande Terramoto.
Foi a última e derradeira viagem de SD para Bissau, depois nunca mais lá voltei. Voltarei um dia a estas pequenas aventuras, esta vale muito para mim, e por deixar aquele Lavrador - o Papaias - com um grande melão...

Quanto ao 'Desacordo Ortográfico', estamos quites.

Virgílio Teixeira

... E hoje voltou a confirmar, em email que nos acaba de mandar:

A Foto nº 8 é de um Cessna dos TAGP, bem como a Foto nº 23 e a Foto nº 26 (é duplicada de Foto nº 23). Neste Poste a única avioneta DO27 é a Foto nº 33 com o meu amigo Emanuel Lima Leite.
E está bem, eu andei nestes Cessna 2 a 3 vezes, com bilhete pago. As asas do DO27 são diferentes.
Como não sou especialista, e por cautela, já ressalvei no texto, qualquer erro ou omissão da minha parte.
Não vejo nenhum problema em corrigir, agora vejo melhor.
______________


(***) Último poste da série > 14 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18922: FAP (111): A Força Aérea Portuguesa e os incendios florestais (José Nico, TGen PilAv Ref / Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)

sábado, 15 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17584: (De) Caras (84): Carteiro aéreo... à força!... Um susto para o resto da vida, num DO 27 em Porto Gole (Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav) e Chegar a Bissau e já ter correio (Albano Costa, ex-1.º Cabo Atirador Inf)

1. Mensagem de Ernestino Caniço [ex-alf mil cav , cmdt do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá, Mansoa e Bissau, 1970/71; hoje médico, vive em Abrantes], com data de 13 de Julho de 2017:

Assunto: Aerogramas

Caros amigos:
Votos de ótima saúde.

Sobre o tema aerograma, em inquérito on-line (*) ocorre-me contar um episódio no qual fui interveniente.

Como o Carlos se lembrará, (estivemos ambos em Mansabá), o meu pelotão Daimler estava dividido em dois aquartelamentos, Mansabá e Mansoa.

Após alguns meses (cerca cinco) em Mansabá, fui para Mansoa. Face ao perigo das emboscadas, sempre que possível o correio era transportado por via aérea. Quando estava em Mansoa fui várias vezes a Mansabá aquilatar as ocorrências do Pelotão.
Numa dessas deslocações aproveitei a "boleia" da avioneta DO [27]. Nessa viagem, além do piloto, ia o comandante do batalhão,  Tenente Coronel Chaves de Carvalho, à frente, e, nos bancos laterais ia eu próprio e o Padre Zé Neves (presentemente nas Missões da Consolata em Moçambique)

Passámos por Porto Gole, o DO aproximou-se da pista e eu larguei o saco do correio. Logo se elevou, voando em círculo alargado com o piloto puxando energicamente a alavanca situada ao centro.

Imaginem o pânico que eu senti durante meio (?) minuto em que o DO subia cada vez mais e o capim ficava cada vez mais longe. Lá vai o Caniço pró c…!,   foi o pensamento natural. De imediato pensei: Está aqui o Padre Zé, Deus vai-nos safar!
Mal concluía o pensamento e... logo a alavanca se desencravou!
A interpretação fica ao critério de cada um.

Mais tarde vim a saber pelo piloto, que a avioneta tinha uma tal "démarche" que permitia a sua aterragem sem perigo.
Mas o pânico ficou, e por muitos anos, sendo que alguns resquícios ainda permanecem.

Curioso, hoje tenho um filho que é piloto comandante da TAP.

Um abraço e a continuação de ótima saúde. (**)
Ernestino Caniço

************

2. Mensagem do nosso camarada Albano Costa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74), com data de 13 de Julho de 2017:

Caros editores deste prestigiado meio virtual de comunicação entre ex-combatentes.

Eu escrevi sempre aerogramas, raramente escrevia cartas, mas também escrevi algumas, a minha namorada (hoje minha esposa), escrevia muitas vezes cartas talvez meio por meio.
Recebemos todas as cartas, nenhuma ficou nenhuma pelo caminho. Tínhamos combinado numerar as cartas e aerogramas sempre em numeração crescente algumas cartas, eram mais rápidas do que outras, mas com todos os atrasos lá foram chegando ao seu destino, tanto de cá para lá e vice-verso.

Eu tive conhecimento ainda na Amadora (RI 1), antes de embarcar no Niassa, do SPM da minha companhia e telefonei para a minha namorada a informar a minha direcção enquanto estivesse na Guiné, e para meu espanto quando chegamos a Bissau depois de uma semana de um cruzeiro pelo Atlântico, ainda antes de embarcar foi distribuído o correio ainda a bordo, e já lá tinha a minha primeira carta.

Nunca me apercebi de cartas ou aerogramas violados, para mim sempre chegaram em perfeitas condições, embora muitas vezes com atrasos bastante largos, mas julgo que seria por ter estado numa zona que demorava sempre bastante tempo a lá chegar. Chegávamos a estar sem receber correio entre 15 e 20 dias porque não tínhamos contactos físicos, só por telecomunicações, não era possível fazer colunas regulares e a aviação estava proibida de voar para Guidage.

Albano Costa
__________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de julho de 2017 Guiné 61/74 - P17579: Inquérito 'on line' (124): num total de 64 respostas, metade (50%) considera que o aerograma (ou "aero") "em geral era seguro e rápido"... Imprescindível para o sucesso do SPM foi a colaboração da TAP e da FAP.

(**) Último poste da série > 14 de julho de 2017 Guiné 61/74 - P17583: (De) Caras (89): Gente boa, brava e chã da Tabanca dos Melros em dia de apresentação das "Memórias Boas da Minha Guerra", volume II, do José Ferreira: restaurante "Choupal dos Melros", Fânzeres, Gondomar, 8 de julho de 2017 - Parte I (Fotos e texto: Luís Graça)

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17552: Inquérito 'on line' (118): "Em geral, o aerograma era seguro e rápido"... Prazo de resposta até 5ª feira, dia 13, às 16h59


Guiné > Zona leste > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Pista de Bambadinca > Ao fundo, o muro do cemitério ... Uma DO 27 na pista... Tímhamis uma relação de amor-ódio para com a D=-27, ara uma pequena aeronave, monotor, que adorávamos quando nos trazia de Bissau os frescos e a mala do correio ou, no regresso, nos dava boleia até Bissau, para apanharmos o avião da TAP e ir de férias... Era uma aeronave preciosa nas evacuações (dos nossos feridos ou doentes militares, bem como dos civis)... Era um "pássaro" lindo a voar nos céus da Guiné, quando ainda não havia o Strela... Em contrapartida, tínhamos-lhe, nós, os infantes, um "ódio de morte" (sic) quando se transformava em PCV (ponto de comando volante) e o tenente coronel, comandante do batalhão, ou o segundo comandante, ou o major de operações, ou outro "xico-esperto qualquer" ia ao lado do piloto, a "policiar" a nossa progressão no mato... Quando nos "apanhavam" e ficavam à nossa vertical, era ver os infantes (incluindo os nossos "queridos nharros") a falar, grosso, à moda do Norte, com expressões que eram capazes de fazer corar a Maria Turra..."Cabr..., filhos da p..., vão lá gozar pró c..., daqui a um bocado estamos a embrulhar e a levar nos corn...". Também os nossos comandantes operacionais (capitães QP ou milicianos) não gostavam nada do "abelhudo" do PCV, em operações no mato... Mas, enfim, fica aqui a lembrança mais positiva, a do transporte do correio aéreo, no âmbito do Serviço Postal Militar (SPM), Foto do álbum de Arlindo T. Roda, ex-fur mil da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

I. INQUÉRITO DE OPINIÃO: 

"EM GERAL, O AEROGRAMA ERA SEGURO E RÁPIDO" (*)

[Seguro=em geral não se extraviava, não se perdia, era devolvido em caso de erro no endereço, não era facilmente violável, não havia censura, a pessoa sentia-se à vontade para escrever o que lhe apetecesse ...]

[Rápido = em geral demorava poucos dias a chegar ao destinatário]


Assinalar, diretamente, no canto superior esquerdo do blogue, uma das cinco hipóteses de resposta, de acordo com a perceção e e experiência de cada um, no TO da Guiné, entre 1961 e 1974:

1. Era seguro e rápido
2. Era seguro mas não rápido
3. Era rápido mas não seguro
4. Não era nem seguro nem rápido
5. Não sei / já não me lembro



Prazo de resposta: 5ª feira, 13/7/2017, 16h59


II. Comentário do editor:



Há quem defenda que o SPM foi o melhor serviço que a tropa criou em tempo de guerra. No entanto, nunca foi avaliado pelos "utentes" (os militares, os seus familiares e amigos, etc.). Mais de meio século depois da sua criação (em 1961), ainda vamos a tempo de dar a nossa opinião... Comecemos pelo aerograma, uma "genial" criação do Movimento Nacional Feminino,   isento de franquia postal (porte e sobretaxa aérea), e cujo transporte (entre Lisboa e Bissau, no caso da Guiné) era assegurado, em geral, pela TAP, de borla... (Presumo que a FAP também colaborasse.)


Pergunta-se: será que o aerograma era mesmo "seguro e rápido" ? Alguns de nós (e as nossas namoradas, esposas, amigos, familiares, etc.), achavam o aerograma mais "impessoal", preferiam a carta, devidamente estampilhada,  expedida "por avião" (, de resto, como o aerograma)... Mas como era paga (porte mais sobretaxa aérea), achávamos que tinha tratamento especial, diferente do aerograma... Seria o equivalente hoje ao "correio azul"... 

Além disso, achávamos que a carta era mais "íntima", prestando-se melhor á confidências (políticas, amorosas, filosóficas, etc.), podíamos inclusive enviar no envelope uma fotografia (ou mais folhas de papel de carta), o que era taxativamente proibido no aerograma... 

Mas a maioria de nós, militares, e sobretudo as praças, não se podiam dar ao luxo de pôr no correio (SPM) muitas cartas, por causa da "guita", daí a opção pelo aerograma, de distribuição gratuita pelo Movimento Nacional Feminino e com expedição sem encargos... (Para o ano de 1974, o MNE fez uma encomenda de 32 milhões de aerogramas, nunca pensando que esse ano seria também o o seu último ano de vida.)

Camarada, responde ao nosso inquérito sobre o "SPM do nosso contentamento"... A tua opinião é muito importante (LG).





Foto: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados




Foto: © Alberto Nascimento  (2010). Todos os direitos reservados

Podia-se "escrever nas entrelinhas" dos aerogramas... Temos aqui dois exemplo de utilização do aerograma especial do Natal de 1968, concebido pelo Movimento Nacional Feminino... No primeiro caso, o nosso camarada A Marques Lopes, que era, na altura, alf mil da CCAÇ 3, em Barro, na região do Cacheu, mandou à irmã e ao cunhado um aerograma com o seguinte teor:

"Querida irmã e cunhado, um Natal feliz e que o Ano Novo seja sempre melhor que o anterior. António Manuel"... 

E ao canto superior direito, por cima do presépio, acrescentou: "Uma ginginha!.. Pois dar de beber à dar é o melhor"...

O desenho, do lado esquerdo, foi "vandalizado": (i) há tabancas a arder; e (ii) a criança e o soldado "sangram"... Sobre este aeograma natalício, o A. Marques Lopes, um dos nossos primeiros camaradas a entrar para o nosso blogue,  comentou o seguinte em 2005: "Este é mais outro aerograma que descobri. Mandei-o, pelo Natal, em 1968. O que eu quis transmitir é que eram natais de morte e que o que procurava era esquecer, dando de beber à dor".

No segundo caso, temos a cópia do aerograma original que o nosso camarada Alberto Nascimento, veterano da guerra da Guiné (ex-sold condutor auto, CCAÇ 84, Bambadinca, 1961/63) reutilizou para desejar a todos os membros da Tabanca Grande votos de  "um Natal muito feliz e um bom 2011"...

______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

6 de julho de 2017 >  Guiné 61/74 - P17550: O Serviço Postal Militar (SPM) do nosso contentamento: cartas e aerogramas... (E, a propósito, o que é feito dessas 10 toneladas de correio diário que circulavam nos vários teatros de operações durante a guerra ?)

27 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17518: Antologia (76): "O Correio durante a guerra colonial", por José Aparício (cor inf ref, ex-cmdt da CART 1790, Madina do Boé, 1967/69)... Homenagem ao SPM - Serviço Postal Militar, criado em 1961 e extinto em 1981.

(...) O serviço prestado pelo SPM foi notável. Muito para além dos números impressionantes de milhões de aerogramas, cartas, encomendas, vales do correio e valores declarados, por eles tratados e enviados; durante os anos de guerra a expedição média diária foi de 10 toneladas de correio (!!!) para um total transportado de 21 mil toneladas. É que nunca falhou, mesmo nos locais mais perigosos, difíceis e isolados, e os prazos médios entre a expedição e a recepção eram mínimos. (...) 

(**) Último poste da série > 31 de maio de 2017 Guiné 61/74 - P17418: Inquérito 'on line' (117): Imagens com história: a minha ida a Fátima (4/4/1965) e a minha chegada ao Cais da Rocha Conde de Óbidos (4/4/1974) (Jorge Araújo)

segunda-feira, 27 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17183: FAP (100): Um DO no charco do Como, história inserta no livro "Nos, Enfermeiras Paraquedistas" (Miguel Pessoa / Giselda Pessoa)



1. Mensagem do nosso camarada Miguel Pessoa, Cor PilAv Ref (ex-Ten PilAv, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 14 de Setembro de 2016:

No Poste 17160 do blogue o nosso camarada Alberto Branquinho "refila" com o facto de as dicas que lhe enviei remeterem para um texto "menor" da história da queda do DO-27 junto à ilha de Como.

Na verdade ele tem razão pois, quando da preparação do livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", que reunia textos de todas as enfermeiras paraquedistas que nele quisessem colaborar, acabou por ser incluído um texto revisto deste episódio, passado para a primeira pessoa e reforçado com mais alguns pormenores extra.

Embora correndo o risco de ser repetitivo, e dado que o livro em questão já foi publicado há uns tempos, não vejo inconveniente na sua publicação no blogue, assim o entendam os editores.
Incluo algumas fotos alusivas, das quais poderão incluir algumas para "abonecar" a apresentação.

Ao vosso critério.
Abraço.
Miguel Pessoa

************

UM DO-27 NO CHARCO DO COMO[1]

Na manhã do dia 17 de Novembro de 1973 o Centro de Operações do GO1201, na BA12, recebe um pedido de evacuação, vindo de Catió, tendo de imediato destacado um avião DO-27 para efectuar essa missão. A equipa de alerta era constituída pelo Fur. Ivo Mota, da Esq. 121, e por mim, Enfª Paraquedista Giselda Antunes, juntando-se a nós a Enfermeira Paraquedista Natália Santos, acabada de chegar à Guiné e que, por ser "pira", acompanhava as "veteranas" nas evacuações, para "ganhar calo".

Estava-se já na época pós-Strela, que tinha trazido diversas restrições à navegação aérea. Entre a opção de subir para 10.000', descendo depois à vertical do destino, o piloto optou pela outra opção possível, que era a de efectuar todo o voo a baixa altitude (50' a 100' sobre o terreno - o correspondente a 15 a 35 metros), o que implica um risco acrescido no caso de uma falha no motor.

Para evitar zonas mais perigosas o piloto decidiu então seguir ao longo da linha de costa, sobre a água, contornar a ilha de Como (refúgio do PAIGC), subir o rio Cumbijã e, atingido Cufar, dirigir-se em linha recta para Catió.

O voo decorria normalmente a baixa altitude; à passagem por Bolama tivemos a oportunidade de ver o navio que fazia o transporte de víveres e material, que se dirigia para sul. O DO-27 não parecia ressentir-se de qualquer problema resultante do incidente da véspera. O avião sofrera um choque com um pássaro que lhe tinha acertado no hélice, mas a inspecção feita ao avião no intervalo dos dois voos não tinha detectado qualquer anomalia.

Quando sobrevoávamos os tarrafos ao lado da ilha de Como, o avião resolveu "apagar-se" - o motor parou repentinamente, obrigando o piloto a uma reacção rápida para preparar uma aterragem de emergência. Dada a baixa altitude a que seguiam, a única solução era "poisar o estojo" na direcção em que seguiam, em pleno tarrafo, o que o piloto fez - diga-se - com bastante êxito, pois o avião ficou atolado no lodo, mais ou menos direito, tendo os ocupantes saído ilesos desta aterragem (ou mais propriamente "alodagem").

Quem esteve na Guiné sabe bem as diferenças no contorno das margens (no mar ou nos rios) entre a maré cheia e a maré vazia. Neste caso era hora da maré baixa e a água, tendo descido, deixara o tarrafo coberto de uma espessa camada de lodo.
Rapidamente abandonámos o avião procurando, atascados no lodo, alcançar uma zona de águas mais profundas, onde pudéssemos, mergulhados, ficar menos expostos a olhares da margem e ser eventualmente "pescados" pelo navio que pouco antes tinham visto a navegar naquela direcção.

Na realidade era grande a nossa preocupação com a nossa segurança pois a zona em que tínhamos caído era completamente dominada pelos guerrilheiros do PAIGC e a população existente totalmente controlada por aqueles.


Sequência de fotos da recuperação da avioneta DO-27, acidentada na Ilha do Como, em 17 de Novembro de 1973... Caídos em território inimigo, o Fur Mil Pilav Ivo Mota, e as enfermeiras pára-quedistas Giselda Antunes e Natália Santos, tiveram a sorte de serem socorridos, com rapidez, por uma unidade da Marinha que passava ali perto, a LDG 102..

Para além da eternidade que demora a passar o tempo naquelas condições, não dá a esta distância para especificar o que senti. Claro que a aproximação do navio por que tínhamos passado e o facto de sabermos que a Base detectaria a nossa ausência nos transmitia algum optimismo. Nem por isso deixava eu de empurrar a “pira” Natália para dentro de água quando ela, ainda inexperiente e não se apercebendo da gravidade da situação, se tentava levantar para ver melhor à volta... Tentávamos mesmo não lhe dar a entender o perigo que corríamos, pois não ganhávamos nada em pô-la ainda mais nervosa.

E ainda me ressoava na cabeça a reacção do Ivo Mota quando nos afastávamos do avião, depois da queda, que me dizia com uma franqueza ingénua: - “Ó Giselda, ainda bem que foi contigo!”. Claro que respinguei com ele embora tivesse compreendido o alcance das suas palavras – já tínhamos um ano de convívio na Guiné e tínhamos confiança um no outro. Por isso ele sentia-se mais à vontade comigo ali.

O piloto tinha decidido entretanto regressar ao avião para recolher a arma que o DO-27 transportava dentro de uma caixa que servia de banco ao pessoal que era transportado na parte de trás. Dada a dificuldade de progressão, tive que o acompanhar para o ajudar, pois já evidenciava algumas dificuldades em regressar ao local em que tínhamos deixado a Natália.

Ter-se-iam passado duas horas desde a aterragem forçada no local quando começámos a ouvir o barulho de um motor. Detectámos então uma embarcação do tipo Zebro que se aproximava do local, atraída pela silhueta do DO-27 atolado. Desconfiados, continuámos metidos na água pois a distância não permitia uma identificação eficaz do pessoal que se aproximava. Sofremos uma grande desilusão quando vimos o zebro afastar-se da margem.

Passados uns largos minutos ouvimos novamente o barulho do motor. Com o regresso do zebro, chegando agora a uma distância mais curta, pudemos verificar que os tripulantes eram brancos, o que nos levou a chamar a sua atenção. Rapidamente fomos recolhidos e levados para o navio de guerra a que o zebro pertencia e que se aproximara entretanto do local.

Na BA12, entretanto, alertados pela falta de reportes do DO-27, tinham mandado descolar um Fiat G-91 que, seguindo o percurso mais provável voado pelo DO veio rapidamente a localizá-lo no tarrafo.
Imediatamente a Força Aérea pediu a colaboração da Armada, que deslocou uma segunda embarcação para o local.
Terá então havido aqui alguma falta de comunicação pois o segundo navio atarefava-se na busca do piloto no local quando este já se encontrava no primeiro navio. Mas mais vale a mais do que a menos...

O facto é que, depois de recuperada pela Armada, mesmo sem dispor de material (perdido no acidente) ainda fui fazer a evacuação a Catió, num outro avião entretanto disponibilizado, que "serviço é serviço"... Não tendo comido nada durante todo o dia, fui salva por umas castanhas que transportava no meu camuflado e que tinham resistido ao banho…

Podemos imaginar que o fim feliz deste acontecimento se deveu a um conjunto de factores favoráveis que podiam muito bem não ter acontecido:
- O facto de o avião voar bastante baixo, não sendo observável das tabancas existentes;
- A aproximação final do avião ao ponto de queda com o motor parado, não tendo, pelo seu silêncio, alertado ninguém próximo (detectou-se depois uma tabanca com população presumivelmente hostil a cerca de 700 metros);
- A existência de um navio da Armada, em missão de vigilância próximo do local, o que permitiu a rápida recuperação dos ocupantes do DO-27.




Fotos da recuperação do DO 27


Regresso do DO-27, n.º 3458, à Base - Bissalanca, BA12

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Nota do editor

[1] - Esta história pode ser lida na página 295 do livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", Coordenação de Rosa Serra e Prefácio de Adriano Moreira.
Também no nosso Blogue a história foi já publicada em 14 de Fevereiro de 2009 - Ver Poste 3892.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17036: FAP (99): Alerta aos FIATs (António Martins de Matos, Ten Gen Pilav)

terça-feira, 14 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17138: Boatos e mentiras que correm o risco de entrar para a história (1): De 1 a 10 - Parte I: 1. O território guineense do tamanho do Alentejo; 2. O Strela, a arma que revolucionou a guerra; 3. A FAP perdeu a supremacia aérea (António Matins de Matos, ten gen pilav ref)


Guiné > Mapa da província  1961 > Escala 1/ 500 mil >  A distância entre a BA 12 (Bissalanca) e a fronteira, em Buruntuma, no nordeste, podia ser medida pelos pilotos da FAP nestes termos: 90 minutos  para a avioneta DO-27; 25 minutos para o Fiat G-91...

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)

1. Mensagem do António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 3 do corrente

Assunto - Historiadores precisam-se|

Caros amigos:

Devagar, devagarinho, estamos a perder o fulgor de outros tempos.

Nada mais sobre a Guiné para relembrar ou discutir? Ficámos cansados? A partir de agora só almoçaradas e correlativos? Só conversas sobre Futebol? O Trump e o Brexit? O Marcelo, o Costa e o Centeno?

O Spínola, Nino, Amílcar, Bettencourt, Sekou Touré, Costa Gomes, tudo gente fina, já passaram à história?

E nós, os da ralé, do chão e do ar, que andámos a suar por aquelas terrinhas, já esgotámos o saco?

Acho que sim…

A verdade é que já falámos de tudo ou quase tudo, ainda que, por vezes, de coração na boca e palavreado arrebatado, o que deu um péssimo material para os vindouros, os que vão ter de acabar por escrever a “estória”.

Acho que precisamos de algo novo.

O Público começou a publicar às quartas-feiras,  e durante 14 semanas,  os 42 episódios da série do Joaquim Furtado, "A Guerra", cada DVD com 3 episódios, acompanhados de um texto do Aniceto Simões e Matos Gomes e prefaciados por diversos historiadores.

Pela minha parte os postes,  aqui no blogue,  de inquéritos, da 1.ª Guerra, comemorações de aniversários, efemérides e correlativos…, não me interessam.

Relembrando o que nos uniu, talvez pudéssemos passar a uma nova fase, organizar umas “mesas redondas”, “quadradas”, “tertúlias” ou algo parecido, com algum pessoal a participar, moderador, um secretário e um “historiador de serviço”, discussão construtiva sobre um determinado tema, com conclusões fundamentadas e aceites pela maioria. Depois era só enviar o papel a quem de direito.

Há um grande número de assuntos com interesse a que correspondem um número infindável de postes e que poderiam dar lugar a um texto devidamente “certificado”…

Que acham?

Entretanto e para (re)animar a malta juntei alguns assuntos que já foram discutidos e discutidos mas que nunca obtiveram um consenso alargado.

Deixo-vos com 10 temas, ideias que tenho defendido e que, se o entenderem, poderemos abordar durante o nosso almoço anual, talvez ao lanche [, dia 29 de abril de 2017, em Monte Real], entre um croquete e uma imperial.

Abraços
AMM

2. Comentário dos editores:

António:

Razão tinha/tem o "marafado" do António Aleixo:

P'ra a mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem de trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.


A tua reflexão merece um debate profundo... E estamos-te gratos por vires tentar agitar as águas paradas da lagoa da Tabanca Grande... Os "blogueiros" andam meio anestesiados, adormecidos, desmemoriados... Será a síndrome do Alzheimer coletivo ou geracional?... Outros há que são agora mais "facebook...eiros"... Se calhar, a culpa também é nossa, mas nestas coisas,,, "o povo é quem mais orden(h)a"!... Mas, temos de reconhecer, 13 anos a blogar é "manga de tempo", é o tempo que durou a guerra da Guiné, a contar de 1961 a 1974...

Mas, para já, vamos publicar o teu texto em dois ou três  postes, numa nova série que tu vais abrir, e que tem algo de provocatório, no sentido etimológico do termo (provocatório, provocante, de
provocar: do latim provoco, -are, chamar para fora, mandar sair, mandar vir, estimular, exortar, desafiar, apelar, incitar):

Eis o título da série, que tu vais inaugurar:

Boatos e mentiras que correm o risco de entrar para a história (1): De 1 a 10 - Parte I: 1. O território guineense do tamanho do Alentejo; 2.  O Strela, a arma que revolucionou a guerra: 3. A FAP perdeu a supremacia aérea (António Martins de Matos, ten gen pilav ref)

Cada poste pode ser precedido pela genial quadra do António Aleixo... Já aqui "desmontámos" alguns mitos: por exemplo, o local da proclamação da independência da Guiné-Bissau, que nunca foi em MADINA DO BOÉ, contrariamente à propaganda do PAIGC!... E corrigimos erros toponímicos da nossa historiografia militar (v.g., Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, que puseram o I congresso do PAIGC, em  Cassamá, em 1964, a realizar-se em plena ilha do Como e em plena Op Tridente!)...


por António Martins de Matos



sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Guiné 61/74 - P16793: Inquérito 'on line' (92): A "batota no mato": Nunca aprovei e não pratiquei a técnica do campismo"... (António J. Pereira da Costa, cor art ref)



Guiné > Zona leste > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Pista de Bambadinca... Ao fundo, o muro do cemitério ... Uma DO 27 na pista... Era uma aeronave que  adorávamos  quando nos trazia de Bissau os frescos e a mala do correio ou, no regresso,  nos dava boleia até Bissau, para apanharmos o avião da TAP e ir de férias... Era uma aeronave preciosa nas evacuações (dos nossos feridos ou doentes militares, bem como dos civis)... Era um "pássaro" lindo a voar nos céus da Guiné, quando ainda não havia o Strela...

Em contrapartida, tínhamos-lhe, nós, os infantes, um "ódio de morte" (sic)  quando se transformava em PCV (ponto de comando volante) e o tenente coronel, comandante do batalhão, ou o segundo comandante,  ou o major de operações,  ia ao lado do piloto, a "policiar" a nossa progressão no mato...  Quando nos "apanhavam" e ficavam à nossa vertical, era ver os infantes (incluindo os nossos "queridos nharros") a falar, grosso, à moda do Norte, com expressões que eram capazes de fazer corar a Maria Turra..."Cabr..., filhos da p..., vão lá gozar pró c..., daqui a um bocado estamos a embrulhar e a levar nos corn...".

Também os nossos comandantes operacionais (capitães QP ou milicianos) não gostavam nada do "abelhudo" do PCV, em operações no mato...

Foto do álbum de Arlindo T. Roda, ex-fur mil da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
.
1. Comentário, ao poste P16762 (*), assinado pelo nosso grã-tabanqueiro António J. Pereira da Costa:

[Foto à esquerda: António José Pereira da Costa, cor art ref (ex-alf art , CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art e cmdt , CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74; tem mais de 110 referências no nosso blogue]


Nunca aprovei e não pratiquei a técnica do campismo.

Era arriscada para ambos lados. Por um lado informávamos falsamente o comando, dizendo que fazíamos uma guerra que não fazíamos; por outro deixávamos de criar no inimigo o respeito em que tinha da nos ter para não vir à porta-de-armas perguntar: "corpo di bó?

Quando fui colocado no Xime, em 22 de junho de 1972 [, na CART 3494,] informei lealmente o comando de que se me mandasse a qualquer lado e eu aceitasse a missão,  escusava de ir verificar porque era verdade. Porém, se eu dissesse que não ia,  era escusado empurrar. 

Dei-me bem com o sistema, embora sentisse que da parte do comando houvesse sempre essa dúvida. Numa das tais operações com PCV [, posto de comando volante, em geral em DO 27,]  cheguei a ser mal guiado e isso custou um embrulhanço sem consequências, mas sem vantagens.

De outra vez fui sobrevoado por um DO-27 mas não fui visto embora fosse a atravessar (mal) uma superfície lateritizada (ferruginosa e sem mato). Ou íamos bem camuflados ou o observador era coxo dos olhos. Inclino-me para a segunda hipótese, dado o sucedido na operação com PCV.

No caso da operação à Ponta do Inglês,  diria que não vejo a vantagem, a menos que houvesse elementos de informação importantes a explorar... Nunca lá fui, mas sei que se tratou de um destacamento ao nível grupo que se tornou insustentável, o que já diz qualquer coisa.

No fundo poderemos concluir que a lealdade e a inteligência deveriam andar juntas naquela "Guerra a Petróleo". Tapar o sol com a peneira dá mau resultado. (**)

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Notas do editor:

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16494: FAP (97): Pedaços das nossas vidas (1): "Marte, saia a Força Aérea, o Pirata ejectou-se em Gandembel", por TGeneral PilAv José Nico - I Parte (José Nico / Miguel Pessoa)

1. Mensagem do nosso camarada Miguel Pessoa, Cor PilAv Ref (ex-Ten PilAv, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 14 de Setembro de 2016, contendo um trabalho intitulado "Marte, saia a Força Aérea, o Pirata ejectou-se em Gandembel!", da autoria do TGeneral PilAv José Nico, relatando o abate, em 28 de Julho de 1968, do avião pilotado pelo então TCor PilAv Costa Gomes, Comandante do Grupo Operacional 1201, que vamos publicar em duas partes.

Caros editores
O General Nico (da Força Aérea) disponibilizou este texto para publicação no blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné", socorrendo-se da minha pessoa para vos fazer chegar o artigo.
Dada a sua extensão não sei se será possível a sua publicação num único poste. Tenho sempre receio da sua divisão em partes, por poder eventualmente desinteressar o leitor. Mas a equipa editorial irá certamente ponderar as duas hipóteses... e decidir-se pela melhor opção.

Um abraço.
Miguel Pessoa


PEDAÇOS DAS NOSSAS VIDAS[1]

Cumpri muitas missões durante a minha carreira na Força Aérea Portuguesa. A comissão na Guiné, porém, sobrepôs-se a todas as outras e marcou-me indelevelmente para o resto da vida. A mim e certamente a todos os que, de algum modo, partilharam a mesma experiência. É dela ou de acontecimentos com ela relacionados, que vos irei dando conta… 


VII – “Marte[2], saia a Força Aérea, o Pirata[3] ejectou-se em Gandembel!”

Por TGeneral José Nico

I Parte

A frase em título reproduz uma angustiante emissão rádio efectuada na frequência 49,0 MHz FM, ao fim da manhã do dia 28 de Julho de 1968. Nesse preciso momento encontrava-me a efectuar o “sector”[4] de Nova Lamego, com um DO-27, e confesso que fiquei gelado. O Comandante do Grupo Operacional 1201 (GO 1201), na altura o combatente mais graduado da Força Aérea na Guiné, tinha sido forçado a abandonar o avião por razões que não foram explicadas no momento, numa área que todos sabíamos infestada de guerrilheiros. Por esse motivo assumi instintivamente a sobrevivência, em consequência da ejecção, como um risco menor naquela situação. Foi a possibilidade do Tenente-Coronel Costa Gomes ser capturado pelo inimigo que mais me assustou. Respondi imediatamente ao Tubarão[5] informando-o que o Sampunhe na Mouco[6] ia interromper a missão e rumar a Gandembel para ajudar a tentar localizar o piloto no solo. Todos os aviões em voo mantinham escuta permanente em 49,0 MHz, que era o canal para apoio aéreo às forças de superfície, e foram vários os pilotos que também alteraram a missão para se dirigirem a Gandembel. Soube-se depois que o G-91 5411, pilotado pelo Comandante do GO 1201, tinha sido atingido por fogo antiaéreo e incendiara-se. O número dois da formação, alarmado com o enorme rastro de fogo deixado pelo avião, incitara o chefe a ejectar-se imediatamente o que ele fez alguns segundos depois. Logo a seguir, enquanto observava o pára-quedas a descer para a mata, o Capitão Vasquez comunicou a situação ao Centro Conjunto de Apoio Aéreo (CCAA) e com essa transmissão rádio alertou o dispositivo aéreo para aquela emergência. As palavras que então proferiu ainda hoje ressoam na memória de todos os que as ouviram naquele já longínquo dia e são elas que dão o título a mais este “PEDAÇOS DAS NOSSAS VIDAS”. 


Limitações organizacionais da Força Aérea na Guiné 

A minha vida mudou radicalmente quando, no dia 28 de Setembro de 1967, a porta do HC-54 Skymaster 7504, que me transportou até Bissau, se abriu e uma baforada de ar quente e húmido invadiu a cabine dos passageiros. Tinha feito a viagem desde Lisboa com o meu camarada de curso, o Tenente Balacó Moreira, e foi aquela bofetada de calor húmido com odor a ferrugem que nos anunciou o peculiar ambiente em que íamos viver e combater a partir daquele dia. 

Tínhamos completado o treino operacional em F-86F, na Esquadra 51 de Monte Real mas, para a guerra que se desenrolava na Guiné, não houve qualquer preparação específica. Era um nível de formação que ultrapassava as capacidades de uma pequena unidade de voo como era a Esquadra 51. Penso mesmo que nunca foram inseridos, no treino que se seguia ao curso de pilotagem de aviões de caça (em T-33), os ensinamentos resultantes da recolha de informações e da análise do que se estava a passar em África, nem a disseminação de eventuais lições aprendidas, nem sequer das práticas da cooperação aeroterrestre. A Força Aérea, com a expansão forçada pela defesa dos territórios ultramarinos, ficou de tal modo estirada que estas questões que exigiam um estado - maior central, com capacidade para estudar o nível operacional da guerra, nunca foram convenientemente resolvidas. 

Desembarquei assim em Bissau necessitando de tempo e experiência para perceber o que faziam os que já lá estavam e o porquê de como o faziam. Como a actividade era intensa as oportunidades para concretizar a necessária qualificação para operar no teatro de operações da Guiné surgiram em catadupa, umas atrás das outras. Apenas me foi explicada uma prioridade: como o DO-27 era pau para toda a obra quase todos os pilotos, independentemente do tipo de aeronave a que se destinavam, que no meu caso era o G-91, tinham que ser também qualificados naquela aeronave. E foi assim que, logo no dia seguinte à chegada, comecei a receber instrução no DO-27 e passados três dias fui considerado apto para operações. Só depois disso, no dia 3 de Outubro de 1967, efectuei então o primeiro voo em G-91 e poucos dias depois estreei-me contra o dispositivo antiaéreo do PAIGC no Quitafine[7].

Outra questão muito importante, que na altura me passou despercebida, foi que o nível operacional da guerra pura e simplesmente não existia na Força Aérea ou, para ser mais preciso, existia apenas uma pessoa que tinha estatuto para analisar o que se passava, pensar o que se poderia fazer com os recursos disponíveis e planear: o Tenente-Coronel Costa Gomes, Comandante do GO 1201 que nessa função era apoiado pelo Comandante da Esq 121, o Capitão Vasquez. Todos os outros elementos, na grande maioria jovens tenentes do quadro permanente e alferes e furriéis milicianos, eram executantes puros que dominavam apenas o nível táctico. Não havia um estado-maior operacional e isso influenciou sempre, sem que nos apercebêssemos, a qualidade da nossa operação mau grado o voluntarismo e agressividade dos pilotos, como se perceberá do episódio que me proponho relatar. 

De facto, agora à distância de 50 anos, analisando a nossa organização e a forma de emprego do poder aéreo naquele tempo, é óbvio que as responsabilidades de nível operacional residiam na pessoa do Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné[8] (COMZAVERDEGUINÉ). Numa condição de guerra é, na actualidade, indiscutível que deviam ter sido responsabilidades apoiadas por um estado-maior o que nunca aconteceu. Poder-se-ia agora argumentar que dada a pequena dimensão da componente aérea as responsabilidades de nível operacional caberiam nas competências do Comando-Chefe e, de facto, isso podia ter sido feito não fosse o facto do QG conjunto ser um comando essencialmente terrestre. Da Força Aérea apenas contava com um oficial de ligação com o posto de capitão. Mas mais ainda, nos casos em que o comandante da zona aérea não tivera experiência anterior nas unidades de caça, essas responsabilidades eram informalmente assumidas pelo comandante do grupo operacional como se fosse uma coisa natural. Mas tal como o comandante da zona também o comandante do grupo operacional não dispunha de um estado-maior de combate. Em termos práticos foram responsabilidades de cariz vincadamente unipessoal e, por isso, foram deficientemente exercidas mas nunca ninguém se apercebeu desta lacuna porque não fazia parte da nossa cultura. 


Antecedentes do abate do Pirata[9]

No dia 26 de Julho de 1968 uma parelha de G-91, em patrulhamento na fronteira Sul, foi alvejada por fogo antiaéreo, na vizinhança do corredor do Guilege. O relatório do chefe da formação referia que foram detectadas três armas no ponto GUILEGE 8 H 1 5/9, próximo da antiga tabanca de Sare Morso[10]. Porque situações desta natureza tinham sido comuns nos últimos meses de 1967 até Março de 1968 tudo sugere que não foi atribuído nenhum carácter de urgência ou excepcionalidade à informação. No entanto, havendo diariamente um briefing dado pelos oficiais de informações do CCAA às 17h00, sobre a actividade efectuada em cada dia, é muito provável que o facto tenha sido divulgado nessa altura. Pessoalmente não tenho memória disso e tenho a certeza de que se tivesse dado conta dessa ocorrência teria ficado focado nela. Mas mais ainda, se o assunto não foi referido no briefing ao fim do dia deveria ter sido no briefing da manhã, no dia seguinte, às 08h00, onde era exposta a actividade prevista para esse dia. Também, provavelmente pensando que a posterior análise do relatório seria suficiente para desencadear as acções mais adequadas, os pilotos envolvidos não comunicaram o facto de viva voz, nem ao Comandante da Esquadra 121, nem ao Comandante do Grupo Operacional. O certo é que nenhum deles tomou conhecimento da existência daquela AAA[11] e isso influenciou negativamente as decisões posteriores.

Nesse mesmo dia 26 de Julho, ao fim da tarde, na reunião diária no Comando-Chefe[12], foram referidas pelos oficiais de informações notícias dando conta da existência ou construção de um túnel na zona fronteiriça, que passaria debaixo do corredor[13] que, vindo de Kandiafara, penetrava no território nacional. Como nessa altura o alvejamento dos G-91, ocorrido durante a manhã, ainda permanecia no âmbito da Força Aérea, os oficiais de informações do Comando-Chefe não estabeleceram qualquer ligação entre aquelas notícias e a AAA que já fora detectada. 

No dia seguinte, 27 de Julho, uma segunda parelha de G-91 voltou a ser alvejada pelas mesmas armas[14] mas, novamente, nem o Comandante da Esquadra 121, nem o Comandante do GO 1201 tomaram conhecimento do facto. O relatório deve ter tido o tratamento de rotina a nível do CCAA mas não influenciou imediatamente o nível de decisão do grupo operacional, o que se pode explicar por motivos de natureza circunstancial. Provavelmente, absorvidos por outras solicitações, nem o Comandante do GO 1201, nem o Comandante da Esquadra 121 assistiram aos briefings de informações das 17h00 do dia anterior nem ao das 08h00 desse dia e também nenhum dos pilotos envolvidos achou necessário comunicar-lhes o facto directamente. 

Sensivelmente na mesma altura em que os guerrilheiros, certamente apoiados pelos barbudos do Fidel[15] como era a prática corrente, faziam tiro ao alvo à parelha de G-91 que acabo de referir, o Tenente-Coronel Costa Gomes chamou o Capitão Vasquez que conhecia bem o trilho do corredor do Guilege e informou-o sobre as notícias que ouvira no dia anterior referindo o aumento da actividade do PAIGC e a história da construção de um túnel. Deu-lhe então instruções para efectuar um reconhecimento visual em DO-27, para confirmar ou desmentir essas notícias, e recomendou-lhe que levasse com ele um piloto de helicópteros para o caso de vir a ser necessário lançar uma operação helitransportada. 

Friso novamente que, até ao momento, apesar das indicações já existentes, tanto o comandante do grupo como o Capitão Vasquez continuavam a ignorar a existência de armas AA[16] activas junto ao corredor do Guilege. Começou assim a desenhar-se uma armadilha que iria ter consequências desastrosas. 


O RVIS[17] ao corredor do Guilege na tarde do dia 27 de Julho de 1968

É com as palavras que se seguem que o então Capitão Vasquez relata o que aconteceu durante o RVIS: 

“Planeei a missão com o Tenente Ruano e descolámos com destino ao corredor do Guilege. 

Iniciámos o reconhecimento a partir de Porto Balana voando a cerca de 300 pés sobre o terreno e mantendo o trilho à nossa direita. Fomos observando ou "lendo" o trilho, à procura de indícios que configurassem ou não a suspeita levantada na reunião no Comando-Chefe. 

Pouco depois de atravessar a picada Gadamael Porto - Gandembel, seguindo o corredor em direcção à “cambança” para Kandiafara e com o trilho entre 200 a 300 metros à direita, fomos subitamente surpreendidos por um intenso tiroteio antiaéreo, vindo da esquerda da nossa rota de voo. As armas que disparavam seriam duas ou mais, dado o intenso matraquear ouvido dentro do avião e a quantidade de trajectórias tracejantes avistadas, próprias de armas de calibre não inferior a 12,7 mm. (Ver a rota de voo, no croquis da carta de 1/50.000). Reagi voltando imediatamente pela direita para me afastar das armas e por sorte entrei imediatamente num aguaceiro que caía naquele momento sobre o trilho o que terá facilitado o escape. Não sentimos nenhum estrondo, nem surgiram sinais de mau funcionamento o que deu logo a sensação de que não tínhamos sido atingidos. 

Regressámos imediatamente a Bissau com uma aterragem intermédia em Buba para inspeccionar o avião o que permitiu confirmar que não tinha sido danificado.” 

A rota do RVIS desenhada numa carta 1:50.000 pelo ex-Capitão Vasquez 

À chegada à BA12, Bissalanca, o Capitão Vasquez e o Tenente Ruano foram imediatamente relatar ao Tenente-Coronel Costa Gomes o que se tinha passado. O comandante do grupo mostrou-se surpreendido e questionou a credibilidade da presença das armas AA naquela zona. Na sua ideia, a anterior tentativa do PAIGC declarar o Quitafine uma zona libertada[18], com recurso à instalação de numerosas armas AA, tinha acabado por ser derrotada em Março de 1968 e não faria agora sentido insistirem naquela táctica porque a Força Aérea acabaria por destruir-lhes o arsenal. Além disso, tinha sido o Tenente-Coronel Costa Gomes que liderara essa campanha e penso que lhe custou admitir que, pelo menos aparentemente, estava tudo a voltar à estaca zero. Chegou mesmo a chamar a atenção do Capitão Vasquez para a responsabilidade do que estava a relatar mas a segurança das afirmações dos dois pilotos acabou por convencê-lo. 

É certo que o PAIGC tinha continuado a instalar AAAA ao longo da fronteira mas apenas em território da Guiné-Conacri. Procuravam atingir os aviões a operar nas proximidades e raramente foram detectadas. Lembro-me de uma vez em que voava sobre a fronteira Sul com o Tenente Firmino das Neves ter avistado por entre a folhagem o característico relampejar de uma AA que não nos atingiu. Outro caso de que tenho conhecimento, esse na mesma altura em que ocorreu o episódio objecto do presente relato, deu-se com uma parelha com o Capitão Vasquez e o Tenente Balacó Moreira. Voavam também sobre a fronteira e começaram a ver uma série de flocos que se formavam mais acima da altitude de voo. Eram claramente rebentamentos de granadas de canhões AA 37mm que deviam estar programadas para os 8000´. Não foi possível detectar as armas e o chefe da formação deu ordem para descer imediatamente para anular o campo de visão dos atiradores não tendo havido consequências. 

Ao fim da tarde, na reunião no Comando-Chefe, o Tenente-Coronel Costa Gomes comunicou então o que se tinha passado durante o RVIS no corredor do Guilege. A reacção do Brigadeiro Spínola, no seu estilo peculiar, foi muito directa e até um pouco desabrida: 
- Isso é um problema para a Força Aérea resolver! – disse ele rodando a cara de modo a fixar o Comandante do Grupo Operacional. 

O ex-Tenente-Coronel Costa Gomes diz que até lhe pareceu que o monóculo do Comandante-Chefe faiscou quando deu aquela ordem. Talvez tenha sido o reflexo momentâneo de alguma luz mas o que mais o marcou foi a percepção de que naquele caso a Força Aérea era ele, Costa Gomes, e só ele. Sentiu por isso que o Comandante-Chefe lhe estava a dar uma ordem de missão personalizada e que ele, naturalmente, teria de cumprir. 


Um reconhecimento fotográfico que correu mal 

No dia seguinte o Comandante do GO 1201 deu ordem para que fosse preparada uma parelha de G-91 para se efectuar um reconhecimento fotográfico. Nessa manhã eu estava incumbido de executar um TGER[19] em DO-27 em apoio do batalhão de Nova Lamego. Por mero acaso, antes de partir, assisti a uma conversa entre o comandante do grupo e o Capitão Vasquez em que os dois combinavam um reconhecimento fotográfico a baixa altitude para localizar e identificar umas AA junto ao corredor do Guilege. Foi a primeira vez que ouvi falar dessas armas e, não sei porquê, fiquei com a sensação que aquilo podia correr mal. 

Conta o ex-Capitão Vasquez que planeou a missão sozinho e que, numa carta 1:50.000, traçou uma rota em que o ponto inicial para a aproximação ao alvo era o aquartelamento do Guilege. Daí para a frente era só manter rumo e velocidade e o alvo devia ser avistado, se tudo corresse bem, um minuto e dezasseis segundos depois. A baixa altitude não havia referências, só se via o campo verde de um ondulado uniforme formado pelas copas das árvores. A navegação tinha que ser por isso muito estável e ao fim do tempo era necessário subir ligeiramente para tentar detectar visualmente onde estavam as AA, manobrar para corrigir a posição relativa, colocar o retículo da camara mais adequada no alvo e accionar o sistema fotográfico. 

A seguir deviam descer imediatamente e afastarem-se flectindo para a esquerda para evitar entrar na Republica da Guiné-Conacri. 

Quando os dois pilotos chegaram à linha da frente levantou-se a questão de quem seria o número um da formação. Pessoalmente penso que isso seria indiferente visto que naquele tipo de aproximação baixa apenas contava o rigor da navegação. O Capitão Vasquez embora já tivesse sido alvejado por aquelas AA não sabia com precisão onde elas estavam e, portanto, tinha tantas probabilidades de acertar como o comandante do grupo. Estava é mais rotinado no voo baixo o que poderia facilitar a detecção de qualquer pormenor que lhe permitisse corrigir a navegação e, por último, estava mais habituado a utilizar o equipamento de reconhecimento fotográfico. No entanto, apesar de contestada pelo capitão, a decisão do comandante do grupo foi peremptória: seria ele a liderar a missão. Nos últimos anos ouvi várias vezes o ex-Tenente-Coronel Costa Gomes explicar o que o levou àquela opção. Evoca normalmente dois motivos. Diz ele que, naquela altura, imaginava ter sido directamente responsabilizado pelo Comandante-Chefe. Sentia que o Brigadeiro Spínola estava à espera que fosse ele a resolver o problema daquelas AA e, além disso, como se tratava de uma missão com algum risco e sendo o mais antigo não podia deixar de ser ele a ir à frente. Era inadmissível proceder de outra forma. O que se passou a seguir foi mais ou menos o seguinte: 

A parelha descolou seguindo os procedimentos de rotina e voaram a uma altitude confortável até terem o Guilege à vista. O Tenente-Coronel Costa Gomes pilotava o G-91 5411 e o Capitão Vasquez seguia-o cerca de 300 metros atrás no G-91 5416. Depois desceram e passaram o Guilege já a voar muito baixo. O número dois deixou-se então atrasar para criar maior espaçamento entre os aviões e facilitar a manobra individual. Ao fim do tempo previsto o número um iniciou uma subida suave para tentar localizar as armas. Viu-as imediatamente à sua direita, numa zona desmatada, com um ligeiro declive, mas estava praticamente em cima delas sem condições para fotografar. Aparentemente surpreendidos os atiradores das AA não abriram fogo imediatamente, possivelmente porque estavam à espera de alvos na direcção de Gandembel que era para onde estava virada a encosta onde estavam instalados. 

Reflectindo agora sobre os detalhes deste momento penso que o facto de não terem disparado logo terá funcionado no imediato como uma espécie de tranquilizante para o Tenente-Coronel Costa Gomes. Só assim se justifica que numa situação tão vulnerável não tenha iniciado imediatamente uma manobra de evasão. Ainda estava a avaliar o que poderia fazer para se colocar em posição para fotografar quando, por volta dos 800’ e com cerca de 250 KIAS, viu as armas começarem a disparar todas ao mesmo tempo e sentiu o que lhe pareceu serem umas pancadas na fuselagem. Imediatamente acenderam-se as luzes de aviso de fogo o que o levou, instintivamente, a aumentar ainda mais o angulo de subida. Pelo retrovisor viu que tinha fogo na cauda e então comunicou[20] ao número dois o que sucedera e pediu-lhe para verificar o estado do avião. 

O Capitão Vasquez concentrado na sua própria navegação não tinha dado por nada. Estava a procurar localizar as AA, que não chegou a ver, quando ouviu a comunicação do chefe da parelha. Olhou imediatamente para a frente e viu o outro avião numa atitude pronunciada de subida com a cauda envolta em chamas que se prolongavam num longo rastro. 

Há quase cinquenta anos que o ouço repetir o que sentiu naquele momento. Diz ele que a situação lhe pareceu tão severa que não hesitou em dar-lhe indicação para se ejectar imediatamente, apesar dos gravíssimos perigos que o esperavam no solo: 
- "Pirata, tem fogo, ejecte-se já, Pirata, ejecte-se já"!!!! 
- “Vou aguentar mais um bocado” – respondeu o Pirata que, apesar do fogo, estava bem consciente dos riscos da proximidade aos guerrilheiros do PAIGC. 

A seguir, o número dois observou o avião do chefe a meter a asa esquerda em baixo e rodar para esse lado, a muito baixa velocidade, como se fosse fazer um “renversement”. Não chegou a rodar 180º mas terá completado entre 110º e 120º de rotação nessa manobra saindo mais ou menos apontado ao sol e ao único aquartelamento do Exército naquela zona: Gandembel. 

O Tenente-Coronel Costa Gomes conhecia bem a área, tinha estado poucos dias antes no aquartelamento com o Brigadeiro Spínola e por isso estava orientado e foi sem dificuldade que, apesar da aflição, localizou imediatamente o aquartelamento. Manteve a direcção do voo até ter Gandembel mesmo à sua direita e então ejectou-se. Pelos meus cálculos terão decorrido cerca de 30 segundos desde que foi atingido até esse momento. 

O número dois, que entretanto tinha “cortado a volta” para se aproximar, ficou a ver o pára-quedas descendo sobre a mata, bastante próximo do aquartelamento. Foi então que mudou para a frequência de apoio aéreo e emitiu o alarme que compõe o título deste relato. 

O TCor Costa Gomes com o Comandante-Chefe em Gandembel poucos dias antes de ser abatido 

A rota desde o Guilege até ao alvo e depois à ejecção.

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Notas:

[1] - Série de artigos inicialmente projectada para ser publicada na revista Mais Alto da Força Aérea.
[2] - Indicativo táctico do Centro Conjunto de Apoio Aéreo na Base Aérea 12 (CCAA). Anos mais tarde passou a ser designado Centro de Operações Aero-Tácticas (COAT)
[3] - Indicativo táctico do TCor Francisco Dias da Costa Gomes, na altura Comandante do Grupo Operacional 1201
[4] - Missão de ligação e apoio logístico em proveito de um batalhão do Exército.
[5] - Indicativo táctico do Cap Fernando de Jesus Vasquez, Comandante da Esquadra 121 que emitiu o alerta e que, na circunstância, era o asa do Comandante do Grupo.
[6] - Indicativo táctico do autor do presente artigo.
[7] - Na altura, a única directiva superior para a Força Aérea era uma nota da Secretaria Geral da Defesa Nacional (na Cova da Moura, em Lisboa), com umas poucas linhas de texto dando conta do emprego de armas antiaéreas pelo PAIGC, no Sul da Guiné, e que terminava com as seguintes palavras “…pelo que deve a Força Aérea proceder à sua neutralização.”
[8] - O mais elevado nível de Comando da Força Aérea no Teatro de Operações da Guiné.
[9] - Pressupostos baseados na rotina diária das operações.
[10] - ZASITREP 209/68 26JULHO
[11] - Anti-Aircraft Artillery
[12] - QG do Comandante em Chefe
[13] - Corredor do Guilege
[14] - ZASITREP 210/68 27JULHO
[15] - O enquadramento das operações antiaéreas pelos cubanos já está suficientemente recortado para se assumir que também participaram nesta acção. Por essa altura os apoiantes cubanos eram quase todos pretos para não se distinguirem facilmente no meio da guerrilha.
[16] - Antiaérea(s)
[17] - Sigla que designava uma acção de reconhecimento visual
[18] - Estratégia desenhada pelo Comité de Descolonização da ONU, também conhecido como Comité dos 24. Como a estratégia não vingou o Comité dos 24 acabou por decidir enviar, em 1972, três embaixadores que efectuaram uma passeata furtiva no Sul da Guiné e declararam depois ter estado em “zonas libertadas”. Foi com base nesse testemunho, claramente fabricado, que Portugal foi considerado ocupante ilegal do território o que criou as condições políticas para que, a seguir, em 24 de Setembro de 1973, o PAIGC declarasse unilateralmente a independência. Na prática, a declaração unilateral da independência não foi uma iniciativa do PAIGC mas sim um plano concebido e orquestrado pelo Comité dos 24.
[19] - TGER: sigla para transporte geral que neste caso incluía tudo o que um batalhão normalmente necessitava distribuir pelas companhias. Normalmente era transportado pessoal, correio, víveres, munições, etc..
[20] - As comunicações tácticas entre os G-91 eram efectuadas em UHF, gama de frequências que não estava disponível nos outros tipos de aeronaves do GO1201.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16296: FAP (96); Algumas correções, para a história: (i) Morais da Silva comandava a Esquadra121, também dos Fiat G-91 e nunca voou helicópteros; (ii) quem veio substituir o cap pilav Cubas em 1970 foi o cap pilav Zúquete da Fonseca, o meu primeiro comandante de Esquadra; (iii) não foi a Esquadrilha mas a Esquadra de voo 122, que sempre se designou por Canibais; (iv ) quando lá cheguei, em 8/12/1970, ainda conheci a "velhice", o Jorge Félix, o Solano de Almeida, o Heleno e o Falé... (Lino Reis, ex-alf mil pil, BA 12, Bissalanca, 1970/72)