Mostrar mensagens com a etiqueta Domingos Robalo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Domingos Robalo. Mostrar todas as mensagens

sábado, 30 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20398: Álbum fotográfico de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 (Bissau e Fulacunda, 1969/71) - Parte III


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  > Espaldão do obus 10.5 (1)


Guiné > Região de Quínara  > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  > Espaldão do obus 10.5 (2)


Guiné > Região de Quínara  > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  > DO 27: a chegada do correio


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  Eu e o furrel Jacinto


Guiné > Região de Quínara  > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  Criançada


 Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  População local


Guiné > Região de Quínara  > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >   Operação com helicópteros AL III

 

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  Uma passagem por Tite, sede do BCAV 2867 (Tite, 1969/70).


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  Diversão


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  Futebolada


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  O Manuel e o Quibite



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > c. 1969/70 > 22º Pel Art e CCAV 2482  >  Mulheres


Fotos (e legendas): © Domingos Robalo  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico (*) de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71; comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda (1969/70); vive em Almada;  tem cerca de 20 referências no nosso blogue.


(...) "Ah…já sabia pelo Jacinto onde era Fulacunda, e quem estava por lá. Os Boininhas [CCAV  2482]. Mas o lugar não era dos mais pacíficos...

Cerca de cinco dias depois, não dois como estava previsto, preparamo-nos para embarcar em três LDM (Lancha de Desembarque Média), 3 obuses 10,5cm, 27 soldados, três cabos, dois furriéis e eu próprio como Comandante de Pelotão. Para além destes militares, íamos acompanhados das mulheres dos soldados e dos respetivos filhos. Cada soldado tinha em média duas ou três mulheres, filhos já não sei.


No dia da partida aportámos a Bolama, onde o pessoal pernoitou o melhor que pôde e eu fui também dormir a uma pensão, cheia de cabo verdianos que não se calaram durante toda a noite. " (...) (**)

A CCAV 2482, "Boinas Negras" era a subunidade que esteva em Fulacunda (entre 30 de junho de 1969 e 14 de dezembro de 1970, regressando nesta data a Bissau).  Foi mobilizada pelo RC 3, pertencia ao BCAV 2867 (Tite,1969/70); partida: 23/2/69; regresso: 23/12/70; antes de Fulacunda, esteve em Tite; comandante: cap cav Henrique de Carvalho Mais.ont




quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20392: Álbum fotográfico de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 (Bissau e Fulacunda, 1969/71) - Parte II


Guiné > Bissau > BAC 1 > 1969 >  O Domingos Robalo junto do obus 14


Guiné > Bissau > BAC 1 > 1969 > O fatídico obus 10.5 de Guileje ["O obús 10,5 cm sem ferrão é o de Guileje, na sequência de uma morteirada a 21/02/1969"]

(...) "A minha mobilização para a Guiné ocorrera para cumprir uma rendição individual de um militar que não teve oportunidade de chegar ao fim. Ia substituir o furriel miliciano Batista [, António da Conceição Dias Baptista, natural de Murtal, São Domingos de Rana, Cascais ], que infelizmente não terminara a sua comissão no tempo normal. No dia 14 de fevereiro de 1969, morre heroicamente ao lado do seu Comandante de pelotão, o alferes Gonçalves [, José Manuel de Araújo Gonçalves, natural de Lisboa], São vítimas de um ataque IN no aquartelamento de Guileje."  (...)

(...) O seu sacrifício resultou de um ato heroico, não por falta de discernimento ou inconsequente, mas, na sequência da intensidade do fogo IN, por terem querido proteger os seus soldados, todos negros e do recrutamento da Província. Ordenou o Alferes que todos se recolhessem no abrigo. O Furriel Batista manteve-se a seu lado respondendo ao fogo IN, como se de um duelo de artilharia se tratasse. Mas a má hora chegou. Uma morteirada cai sobre o ferrão do lado esquerdo do obús 10,5cm e ali morrem os dois. (...)




Guiné > Bissau > BAC 1 > 1969 > A despedida do cap art Moura Soares, hoje cor art ref...  [Da direita para a esquerda, o Domingos Robalo, o cap Moura Soares e... o furriel Osório, da CART 2520]... A malta de 1968/70 encontrou-se pela primeira vez em 1989, segundo o José Diniz  Faro (*). O Domingos Robalo esclarece: "A malta de 68/70, encontrou-se em 1989, pela segunda vez. A alegria foi imensa. O convívio teve lugar em Oeiras, junto às peças da artilharia de costa do Regimento de Artilharia de Costa/Oeiras, tendo como Comandante, na altura, o Coronel de Artilharia Moura Soares. O nosso 1º encontro/convívio tinha sido em Coimbra,  creio que dois anos antes. (1987 ? )".


Guiné > Bissau > BAC 1 > 10 de junho de 1969 > Exercícios (1): " Nas fotos [esta e seguinte] estou eu e o meu amigo e camarada Avelino Glória (Furriel de artilharia). As fotos dizem respeito à exibição da "milicia" que recebia instrução na BAC1, sendo eu um dos instrutores. O local é o campo de futebol de Bissau [, Sarmento Rodrigies,]  e o rapaz é um dos instruendos da milícia (estudantes do liceu de Bissau). A arma é uma Mauser (sem bala). A instrução era dada aos sábados de tarde na BAC1".


Guiné > Bissau > BAC 1 > 10 de junho de 1969 > Exercícios (2)


Fotos (e legenda): © Domingos Robalo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Tabanca da Linha, 2019 > Domingos Robalo.
Foto de Manuel Resende (2019)


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico (**)  de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71; comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda; tem cerca de 20 referências no nosso blogue

 Domingos Robalo [, foto acima]:

(i) tem página no Facebook desde março de 2009 e administra também o grupo Artilharia de Campanha na Guiné-BAC1/-GAC7;

(ii) vive em Almada, está ligado à Universidade Sénior Dom Sancho I, de Almada, onde faz voluntariado, desde julho de 2013, como professor da disciplina de "Cultura e Arte Naval";

(iii) trabalhou na Lisnave; é praticante de golfe;

(iv) e passou a integrar a Tabanca Grande, com o nº 795, desde 21 de setembro último.


2. Comissão de serviço na Guiné:
Domingos Robalo, BI militar, Bissau,
23 de maio de 1969, com a assinatura
do comandante da BAC1,
cap art Moura Soares

Chegou à Bissau em 13 de maio de 1969, em rendição individual. Foi colocado no BAC 1 [, mais /GAC 7], onde durante  cerca de quatro meses participou  nas “escolas de recrutas” que era levada a efeito com soldados do recrutamento da Província.

Em agosto, é nomeado para ser o instrutor na formação de artilharia de obuses 10,5cm e a 14,0cm, a furriéis, sargentos e a oficiais subalternos, oriundos de pelotões de morteiros. 

É colocado em Fulacunda como  comandante do 22º Pel Art-  Embora apenas sendo furriel, foi considerado como tendo o perfil adequado. De resto, havia falta de oficiais subalternos para preencher todos os comandos dos Pelotões de Artilharia  espalhados ou a espalhar pela Província.

Segue de Bissau para Bolama em LDM. O comboio foi atacado à morteirada, foi o seu batismo de fogo.  (***)


(***) Vd. poste de 12 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20232: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte V: Rumo a Fulacunda, com o 22º Pel Art, passando por Bolama, e com batismo de fogo

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20370: Fotos à procura de uma... legenda (121): Camaradas artilheiros, quando media, em comprimento, o conjunto Berliet ou Mercedes ou Matador + reboque + obus 14 ou peça 11,4 ?.. 15 metros!... E quanto pesava ? 15 toneladas!... Façam lá o TPC: 9 bocas de fogo, mais 9 rebocadores, mais 9 Unimogs e Whites, mais 300 homens em armas... mais 500 granadas... Qual o comprimento (e o peso= de uma coluna destas, a progredir numa picada, no mato, de Piche, a caminho da fronteira, "Acção Mabecos", 22-24 de fevereiro do século passado, numa guerra do outro mundo ?!..



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > "Porto fluvial", no Rio Fulacunda > Montagem de segurança > Um obus 14, rebocado por uma Berliet. Para o que desse e viesse... Mas eram mais de 15 toneladas de aço em movimento... Um conjunto com 15 metros de comprimento...


Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Infografia da emboscada de 22/2/1971, no decurso da Acção Mabecos, que envolveu forças do BCAV 2922, numa operação de escolta e segurança a forças de artilharia no trajecto Amedalai - Sagoiá - Rio Sagoiá - Rio Cimangru [... e não Camongrou] - Piche 4E545 - Rio Nhamprubana. As baixas das NT  (3 mortos, vários feridos graves e ligeiros, 1 desaparecido...) foram todas da CART 3332 que ia na altura na cabeça da coluna.

Mortos nesse dia: 1º cabo at art Justino de Sousa Costa; sold at art Simplício Borges da Mota. sold at art João Peixoto de Araújo. Feridos graves: alf mil at art Art. José Agusto F.F.Rodrigues e sold at art Art. José Augusto S. Faria, mais 3 feridos ligeiros,  todos do 3º Gr Comb da CART 3332. O 1º cabo at art  Duarte Dias Fortunato, capturado pelo IN, foi  liberto depois do 25 de Abril.

Por acidente com uma bazuca, quando se preparavam para participar na Acção Mabecos,  morrerarm também nesse dia, na caserna da CCAV 2749, três militares:  sold at cav Leonel Pinto,  sold at cav Mário da Costa Morgado, e 1º cabo at cav Joaquim António Carregueira Correia (este a caminho do HM 241, em Bissau). Houve vários feridos.

Foto (e legenda): © Domingos Robalo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Gabu > Piche > Acção Mabecos > Rio Campa > 22 de fevereiro de 1971 > "10 segundos antes da emboscada. O 4º pelotão da CART 3332 abrigou -se na mata à direita onde estava postado,"


Guiné > Região de Gabu > Piche > Acção Mabecos > 23 de fevereiro de 1971 > Entre nevoeiro, pó e fumo: bombardeamento matinal, após uma noite dramática, à posição Foulamory (Guiné Conacri)



Guiné > Guiné > Região de Gabu > Piche > Acção Mabecos > 23 de fevereiro de 1971 > Os obuses, no regresso. O cenário é o da emboscada no dia anterior. [As viaturas com as bocas de fogo parecem vir coladas umas às outras no regresso...como se os condutores temessem uma segunda emboscada...Ninguém queria ficar para trás...]



Guiné > Região de Gabu > Piche > Acção Mabecos > 24 de fevereiro de 1971 > "Regresso dos guerreiros a casa (Piche). Empoeirados e tristes e com sede de vingança. A missão 'soube' a derrota"


Notáveis fotos do ex-alferes at art Jorge Carneiro Pinto, CART 3332 (1970/72). Legendas: Eduardo Teixeira Lopes, ex-1º cabo trms, CART 3332 ( Bolama, Piche, Nhacra, Dugal,Fatim, Chgué, 1970/72) Reproduzida. aqui. com a devida vénia- Fonte: "A guerra nunca acaba para quem se bateu em combate": terça-feira, 22 de fevereiro de 2011 > Guiné : Operação Mabecos, 22 de fevereiro de 1971


1. A Berliet Tramagal GBC 8KT CLD tinha as seguintes dimensões : comprimento máximo: 7.28 m - Largura: 2.4 m- Altura: 2.7 m... O peso era uma brutalidade:  8 toneladas (sem carga). A peça rebocada devia ter outro tanto de comprimento... 

Recorde-se que a peça 11.4 é mais comprida do que o obus 14... A viatura devia rebocar outro tanto peso: já não me lembro quanto pesavam aqueles mastodontes... E ainda faltam as granadas: 380, cada um com de 45 quilos mais ou menos (as de obus Agora ponham nove viaturas destas (Berliets ou equivalentes)  a rebocar 9 bocas de fogo, com uma segurança mínima de 30 /40  metros entre cada uma, dava mais de meio de quilómetro (equivalente ao comprimento de 5 campos de futebol)... 

Agora ponham mais 9 Unimogs e Whites - de acordo com o croqui acima reproduzido - além de 4 grupos de combate da CART 2332, 2 Gr Comb da CCAV 2749, 3 secções de milícia (=1 Gr Comb), mais 1 secção de morteiro 81, 3 Pel Art (Sare Bacar, Piche, Canquelifá)...o que dá 10 pelotões x 30 homens = 300 homens em armas...

Não se sabemos se a coluna ia toda motorizada ou  se havia combatentes apeados... Temos no mínimo mais meio quilómetro... Numa picada no mato, com todos os obstáculos que surgem (árvores, curvas, buracos... mesmo sabendo que estamos na época seca), as forças envolvidas na Acção Mabecos quando se deslocavam para o objetivo e foram emboscadas, deviam parecer um cobra gigante  com mais de um quilómetro da cabeça à cauda...300 homens, 9 bocas de fogo (não contundir om os  morteiros 60 e 81...), mais de 400 granadas, cerca de 20 viaturas...

De qualquer modo era uma massa impressionante de homens e aço em movimento, dando até uma falsa sensação de segurança a quem ia, a 3 metros do solo, empoleirado...Mas, ao mesmo tempo, cada homem sente que pode ser um alvo a abater... Eu fiz escolta e segurança a várias colunas logísticas, com dezenas de viaturas, também passei por essa estranha sensação...

2. Recorde-se o que já aqui escrevemos  sobre o Obus 14 cm:

 (...), de origem inglesa, foi recebido em Portugal, em 1943, para equipar as Unidades de Artilharia pesada, substituindo os Obuses 15 cm T.R. m/918 e 15 cm / 30 m/41. O Obus foi concebido para tracção auto exercida pelo camião tractor de 8 ton A.E.C. (Matador) 4x4 MA/46 e pelo camião tractor de 8 ton Magirus – Deutz 4x4 MA78. Serviu operacionalmente nos teatros de guerra da Guiné, Angola e Moçambique, entre 1961 e 1974, tendo sido substituído, em 1987, pelo Obus M114 155mm/23"... O obus 14 pesava mais de 6 toneladas... Cada granada pesava c. 45 kg... Tinha um alcance de c. 15 km... e uma cadência de tiro de 2 granadas por minuto... Tinha uma guarnição de 10 militares... (Fonte: Exército Português).

3. Em bicha de pirilau, ainda era pior: 250 homens (8 grupo de combate  + carregadores e guias), separados de cinco em cinco metros, a progredir no mato, de madrugada, na antiga picada Xime-Ponta do Inglês, toda já coberta de mato, o comprimento da coluna era de cerca de 1300 metros, quando a cabeça caiu numa emboscada em L e a secção da frente foi toda massacrada à "roquetada"...

 A cauda levou com armas pesadas, morteiro 81 e canhão s/ r... O IN teve tempo de sacar as G3 dos mortos e deixou-nos apenas os cadáveres  o que restou deles: tripas, pernas, braços, trocnos, cabeças: 6 mortos, 9 feridos graves... enquanto a "cobra" se recompunha do tremendo fogachal que apanhámos à frente, a meio e atrás... 

Foi a 26 de novembro de 1970, no subsetor do Xime, 4 dias depois da Op Mar Verde.  O senhor major de operações tinha dado um estranho nome, esotérico, ao raio da operação que era para fazer manga de ronco nas hostes inimigas, enquanto o PAIGC lambia as feridas em Conacri: Operação Abencerragem Candente!... 

Teve dedo de cubanos, tal como a emboscada sofrida, 3 meses depois, em Piche, na região do Gabu...Afinal, os nossos "crâneos" não aprendiam nada com os desaires dos vizinhos... Mas quem é que planeia uma operação destas,  a nível de batalhão, num raio de uma guerra como aquela do toque e foge ?!.. .E com os olhos e os ouvidos da população do Xime que tinha "parentes no mato", tal como os de Nhabijões, ali ao lado ? 250  homens dão muito nas vistas...E para mais entrando e saíndo duas vezes no Xime...A segunda saída, por razões de segunda, devia pura e simplesmente ter sido anulada... Mas, não, a obsessão de "fazer ronco", a todo o custo, por parte do comando do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) deu em tragédia...

As grandes vítimas foram os "periquitos" da CART 2715, comandados por um jovem, mas bravo, capitão de artilharia Vitor Manuel Amaro dos Santos, para quem a guerra acabou nesse dia... 

Sei do que falo porque, partindo do meio da coluna, fui dos primeiros camaradas da CCAÇ 12 (que atrás da CART 2715) a chegar à cabeça da coluna, para socorrer os feridos e resgatar os mortos... Ainda hoje tenho pesadelos quando me lembro do raio deste dia 26/11/1970... 

4. Desafio aos leitores: qual o comprimento, de facto, da coluna que progredia de Piche para o Rio Campa, na fronteira, com 9 bocas de fogo e cerca de 400 granadas de artilharia para flagelar Foulamory,   ali em frente ? E quantas toneladas de ferro, aço e carne humana deslocava a coluna ? Quem foi o génio militar que planeou uma operação destas ? (*)


Pelas minhas contas por alto, temos... x quilómetros,  x toneladas... Façam  alguma coisa, façam lá o TPC, camaradas....

PS - Não confundir esta Acção Mabecos com a Op Mabecos Bravios, dois anos antes (retirada de Madina do Boé, que culminou no desastre no Rio Corubal, em Cheche, na manhã de 6 de fevereiro de 1969: 47 mortos, afogados). Há uma diferença entre Acção e Operação... Não sei se existia, na altura, no território da ex-Guiné Portuguesa, o Mabeco (Lycaon pictus, "lobo pintado"), o cão selvagem africano... "A espécie já foi comum em toda a África subsaariana (exceto em áreas de floresta tropical ou densa e zonas desérticas). A sua distribuição geográfica actual limita-se ao sul da África especialmente em Namíbia, Zimbábue, Zâmbia, Botswana e sul da África Oriental na Tanzânia e norte de Moçambique. É uma espécie ameaçada de extinção", diz a Wikipédia...

______________

Nota do editor:

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20368: Blogues da nossa blogosfera (115): "A guerra nunca acaba para quem se bateu em combate": o dramático relato da Acção Mabecos, Piche, 22, 23 e 24 de fevereiro de 1971 (texto de Eduardo Lopes; fotos de Jorge Carneiro Pinto, CART 3332, 1970/72)



Guiné > Região de Gabu > Piche > Acção Mabecos >  Rio Campa > 22 de fevereiro de 1971 > "10 segundos antes da emboscada. O 4º pelotão da CART 3332 abrigou -se na mata à direita onde estava postado,


 Guiné > Região de Gabu > Piche > Acção Mabecos > 23 de fevereiro de 1971 > Bombardeamento matinal, após uma noite dramática, entre nevoeiro, pó e fumo, à posição Foulamory (Guiné Conacri)



Guiné > Guiné > Região de Gabu > Piche > Acção Mabecos > 23 de fevereiro de 1971 > Os obuses,   no regresso. O cenário é o  da emboscada no dia anterior


Guiné > Região de Gabu > Piche > Acção Mabecos > 24 de fevereiro de 1971 > "Regresso dos guerreiros a casa (Piche). Empoeirados e tristes e com sede de vingança. A missão 'soube' a derrota"

Fotos do alferes at art Jorge Carneiro PInto, CART  3332  (1970/72). Legendas: Eduardo Lopes. Reproduzidas aqui com a devida vénia....


1. Eduardo Lopes ou Eduardo Teixeira Lopes, ex-1º cabo trms, CART 3332 ( Bolama, Piche, Nhacra, Dugal,Fatim, Chgué, 1970/72)  tem um notável blogue, "A guerra nunca acaba para quem se bateu em combate". Publicaram-se mais de meia centena de postes desde março de 2010 até abril de 2015. Um deles é respeitante à Acção Mabecos, de 22/2/1971. 

Vamos reproduzir, em parte, com a devida vénia e as necessárias adaptações, o seu dramático e emocionante relato desta operação, que decorreu no subsetor de Piche, junto à fronteira, de 22 a 24 de fevereiro de 1971.

 Fica também aqui, além do nosso agradecimento, o  convite para o Eduardo Lopes (bem como o Jorge Carneiro Pinto autor das preciosas fotos acima editadas e reproduzidas) integrar a nossa Tabanca Grande, onde tenos camaradas de todos os períodos da guerra (, de 1961 a 1974), dos três ramos das Forças Armadas e que passaram por todas as regiões e setores do TO da Guiné.



"A guerra nunca acaba para quem se bateu em combate": terça-feira, 22 de fevereiro de 2011 > Guiné : Operação Mabecos, 22 de fevereiro de 1971

Operação Mabecos, segunda feira, 22 de fevereiro de 1971

Ordem de operações nº 1, de 21 de fevereiro de 1971;

Composição das forças: 

(i) 1º,  2º,  3º  e  4º P el / CART 3332.

(ii)  3º e 4º Pel / /CCAV 2749 / BCAV 2922). 

(iii) Duas secções de milícias da CM 249;

(iv) Uma secção de milícias da CM 246, com Morteiro 60, e 30 granadas;

(v) Uma secção Morteiro 81, 30 granadas;

(vi) Artilharia Pesada: 4 peças 11,4 com 160 Granadas, 2 Obus 14, com 100, 3 Obus 14 com 120 ;

(vii)  duas WHITE PEL/REC 2. 

Objectivo: 

Posicionar - se próximo da fronteira, Rio Campa, Junto ao Corubal, e bombardear posições IN na região de Foulamory (Guiné Conacri).

Desenrolar da operação: 

(...) Mas ia ser um dia muito negro e amargo, para estes bravos guerreiros. Nesse dia, depois de ir para o mato, incorporado no 1º Gr Comb / CART 3332 numa manobra de despiste, integrada nos planos da operação Mabecos, regressei e almocei. Já na caserna pequena, (CSS da CART 3332 ) junto à piscina, ouvi rebentamentos dentro do aquartelamento. Com outros camaradas, saltei para a vala e, só depois deste impulso e ouvindo gritos e pessoas a correr, é que admiti que era de facto um acidente. 

Aproximei - me da caserna onde já estavam vários camaradas a prestar socorro e, por entre fumo, gritos e destruição, reparei à entrada, no chão... uma bota com um pé calçado com parte da perna, Um camarada ensanguentado e esbaforido, sai para o exterior sem uma perna. No interior, havia gritos de dor e vultos tombados. 

Enfermeiros e outros que ali se encontravam pediram me para retirar, e assim fiz. Saí dali consternado com o cenário, e como se deve imaginar completamente destroçado com a "derrota" e, sofrimento daquelas vitimas, do 4º  Pelotão da Companhia de Cavalaria 2749 (BCAV 2922). Este, estava nesse dia, destacado para participar na Operação Mabecos. . O seu comandante, alferes at  acv . Luís Alberto Andrade, estava impossibilitado de chefiar, em virtude de uma lesão num joelho, substitui-oo o furriel at cav Carlos Alberto Carvalho, que havia saído da caserna segundos antes, após distribuir rações de combate e saber da operacionalidade da força...Sorte?!. As "sortes" e o azar estavam lançados.

 (...) A Operação Mabecos que tinha começado de manhã às 6:00. Ia ser executada mesmo já atrasada na hora prevista. A força pôs -se em movimento (...)

Conforme o previsto, rumaram ao objectivo. Já próximos, os "piras" do 3º Gr Comb / CART 3332 passam para a testa da coluna. E são vislumbrados à distância negros fardados. Uma consulta rápida para saber se ali havia segurança das nossa tropa..., e não havia...  Há que flanquear a progressão das tropas. Em contínuo e, mal entrados no mato, o IN tenta o assalto. Abre-se a emboscada,que de inesperada e traiçoeira e olhos nos olhos, é sufocante e tremenda. Há que se posicionar fazendo um recuo para se entrincheirar.

(...) Metralha intensa e violenta. Explosões que surpreendem, com fumo e pó que cegam .Tentativa de avanço do IN. Os "piras" do 3º  Gr Comb / CART 3332, defendem, ripostando, como podem a posição.Uma White cai numa cova e fica imobilizada: a metralhadora encrava. A segunda White fica inoperacional, sem ter dado um tiro. Há Unimogues semidestruídos. Feridos: alguns, com gravidade. 

O resto da força tinha ficado fora da linha de fogo. A 1ª secção do 3º Gr Comb já havia pago a factura: 3 mortos e um capturado em virtude da execução do flanqueamento. Anoitecia. O inimigo não abrandava a intensidade do fogo. Os nossos homens ripostavam. 

Entretanto os homens da Artilharia Pesada desengatam as peças de obus das Berlliets e de imediato fazem tiro directo, sobre as copas das árvores em direcção à posição inimiga. E silenciam - na, com mais munições.

A noite vai ser terrivelmente dramática. O inimigo,  "manhoso", vai se aproximar, silencioso, para não ser alvejado. Vai ter oportunidade de assaltar e vandalizar os corpos feridos e, já mortos, do 1º Cabo Costa e dos soldados: Mota e Araújo. Os obuses batem a zona mais próxima com tiro tenso... No terreno os combatentes em trincheiras feitas com as mãos e facas do mato não dormem. 

A manhã que tarda, sabe a poeira, pólvora, e a uma sensação estranha, que só quem viveu a guerra olhos nos olhos, sente. Para todos, era a segunda vez em menos de 15 dias. E ainda havia a lamentável e, dolorosa surpresa. Ninguém sabia, a já contada aqui.... Morte dos nossos 3 heróis e o desaparecimento do 1º Cabo Fortunato. Surpresos, não queriam acreditar.Na acção de recuo posicional e, porque já de noite, não fora dada a falta destes elementos. Assim, era de espanto e derrota o semblante "negro"dos nossos heróis periquitos que juravam vingança....


Relato de 1º Cabo trms inf  Eduardo Lopes, CART 3332 (Guiné, 1970/72)

Fotos de alferes at  art  Jorge Carneiro Pinto, CART 3332 (Guiné, 1970 - 1972)



Um abraço, porque estou comovido. Domingos Robalo, ex Furriel Miliciano Nº 192618/68, do GAC7 / Bissau.

3. Resposta do editor e administrador do blogue, Eduardo Lopes, em 26/10/2011

Domingos: também acabei por ficar comovido com o seu relato que estimo e, agradeço, e que pelo seu conteúdo é subsídio de muito valor para o conhecimento total da Operação e enriquecimento da nossa história e notoriedade do nosso Blogue.

Participei na Operação Mabecos de maneira diferente.Como trms na operacionalidade, passei duas ou três vezes integrado em acções pela Pista de Aviação e, ali, do lado esquerdo, no Campo de Futebol,lá estavam alinhadas as 9 bocas de fogo. No dia da Operação Mabecos fui escalado para saída às 6:00 (+/-). e não deixei de referenciar a imponência das peças alinhadas,e, lá segui em direcção ao Rio Corubal com o 1º grupo de Comb. da CART 3332,  à zona de Sutocó para que,  capinando uma área considerável de mato e árvores, intuisse o IN que seria dali a base de fogos. 

Regressamos ao aquartelamento pelo meio-dia, extenuados, com a missão cumprida.Para mim as acções para esse dia estavam realizadas. Uma escala de quase 12 operadores de rádio quase que que me garantia esse direito.

Mas era um dia de raiva, já contado na história que, emotivamente, acima escrevi.
Ainda no aquartelamento,aquando dos rebentamentos,ficamos apreensivos e ansiosos,fui até ao posto de rádio. onde os operadores "lutavam" contra a electricidade estática que nos deixou sem comunicação. 

Pela noite adentro eram os bombardeamentos dos vossos obuses que nos iam contando as horas à espera do início do dia, para depois, que já com boas condições de sinal, afinal, sabermos que havia três baixas: Cabo,Costa e os Sold. Arújo e Simplício (este natural de Atei, Mondim de Basto, por quem tinha um grande amizade). Que somadas com a três da CCAV 2749 e o desaparecimento do Fortunato, tornavam a manhã radiosa de sol num inferno negro.

Tive a coragem de estar presente quando chegaram as viaturas e nas três mortalhas de ponches camuflados, não consegui verter uma lágrima, a raiva e o desejo de vingança não deixaram. Mais tarde fui beber (não era meu hábito),  perdi as estribeiras, ainda andei à pancada sem razão. Passou - me. Nunca mais bebi whisky ou outras bebidas alcoólicas até ao fim da comissão, e como trms sempre que sa+ia para o mato, além da pistola, levava a G3, dois pares de cartucheiras, 4 granadas, faca do mato, o respectivo Racal, e rações de combate se fosse caso de Operação. Voltamos a ter uma emboscada fatal, mas não estive lá. Será hoje, dia 26 de Outubro, motivo de uma nova edição, aqui no nosso Blogue.

Estou- lhe particularmente grato por se ter apresentado e, pelo oportuno artigo para a nossa história que muito me sensibilizou,  levando-me de volta a Fevereiro de 1971.

Bem Haja. Disponha do blogue sempre que desejar. Grande abraço.
Saudações Artilheiras (...)

[Revisão / adaptação / fixação de texto para efeitos de edição no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné: LG]

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20367: (Ex)citações (262): Acção Mabecos, 22/2/1971: 5 obuses 14.0 cm, 4 peças 11.4 cm, 380 granadas de artilharia pesada (Pel Art Piche, Canquelifá e Sare Bacar) contra Foulamory, 3 meses depois da Op Mar Verde... Mas tudo correu mal... nessa fatídica segunda-feira de Carnaval (Domingos Robalo / Cherno Baldé / Helder Sousa)


Guiné > Região de Gabu > Carta de Piche (1957) > 1/50 mil > Detalhes > Percurso Piche > Amedalai > Sagoia > R Sagoia > R Cimongru > R Nhamprubana. A sudeste dwe Piche ficava a base do PAIGC, Foulamory,na região de Boké, ao alcance, a partir da fronteira, da artilharia portuguesa (peça 11.4 e obus 14).

Infografia: Blogue Luís Graça &  Camaradas da Guiné (2019)


1. Pedi ontem, ao Domingos Robalo, para esclarecer uma dúvida do amigo e colaborador permanente, Cherno Baldé, que vive em Bissau, dúvida essa que ele deixou em comentário ao poste P20364 (*)

Caro amigo Domingos Robalo,

Tenho dificuldades em compreender que uma operação que se passa na secção de Piche, na região de Gabu, a leste, tenha solicitado apoio de artilharia de Saré Bacar, situada no Norte, na região de Bafatá, a nordeste de Contuboel, tendo outros aquartelamentos relativamente mais perto e também com artilharia, casos de Canquelifá, Pirada, e penso que Paunca também. 

Faço esta questão, todavia, sem saber exactamente, qual foi o trajecto seguido durante a tal operação. Pareceu-me estranha esta informação, a não ser que haja outra tabanca com o mesmo nome.

Abraços,

Cherno Baldé

19 de novembro de 2019 às 17:49


2. Resposta do Domingos Robalo (*)

Caro Cherno Baldé, viva.

Com as minhas saudações dirigidas a si, saúdo, também, esse belo povo Guineense com quem tive oportunidade de conviver, uma vez que os homens que tive a honra de comandar eram do recrutamento do Território.

Vinte e quatro meses de comissão, sempre rodeado de militares Guineenses,  foram para mim uma aprendizagem de vida que nunca esquecerei. Através do Luís Graça, colocou uma questão, que, cinquenta anos volvidos, não têm resposta imediata, pelo que tive necessidade de confirmar o que passo a comentar.

A operação [ou Acção] Mabecos, executada a partir de Piche, tinha como objecto a retaliação com fogo de artilharia [, à base IN de Foulamory, na região fronteiriça]. Os obuses adequados e definidos para a operação eram os de 14 cm [, Saré Bacar e Canquelifá, não me recordando se havia peças de 11,4 cm, com maior alcance. [, Sim, havia as de PIche.]

Então, convocaram-se os Pelotões de Artilharia de Saré Bacar, com 3 obuses 14,0; Canquelifá com 2 obuses [,14,0] e o pelotão reforçado de Piche, com 4 obuses [, peças 11.4][. Bajocunda e Pirada tinham obuses 10,5 cm, não sendo adequados à Operação.

Embora Sare Bacar fosse "longe" de Piche, estas foram as decisões, de ordem operacional e logística, que o Comando Operacional Territorial tomou. Por curiosidade, posso referir que o alferes, comandante do Pelotão de Sare Bacar, participante na operação,  era sobrinho directo do então Ministro do Exército [ , Horácio José de Sá Viana Rebelo, 1910-1995], tendo tido eu um outro camarada de artilharia, colocado em Catió, que era filho de um dos deputados à Assembleia Nacional, cujo pai veio a falecer com a queda de um héli junto a Mansoa, na sequência da visita que um grupo de deputados fazia a território Guineense.

Aproveitando esta comunicação: em Maio de 2017 estive num encontro de confraternização com combatentes na Guiné, em que tive a honra de partilhar ideias com o Sr. Embaixador da Guiné-Bissau, em Lisboa, o Sr. Hélder Jorge Vaz Gomes Lopes, que simpaticamente aceitou o convite que lhe tinha sido endereçado.

Uma outra nota de registo, no tempo em que estive na Guiné (1969/1971),  os militares que visitavam as mesquitas, deixavam à porta as botas e as espingardas G3, em sinal de respeito, não só pelos crentes como pela religião que estes professavam. Claro, que nem sempre terá sido assim.

Esperando ter ido ao encontro da sua expectativa atrevo-me a perguntar-lhe se está vivendo na Guiné.

Com um abraço de amizade, fico ao dispor

Domingos Robalo

(combatente e defensor do povo Guineense)

3. Comentários adicional do editor LG:

A Acção Mabecos, em 22/2/1971, destinou-se a escoltar e montar segurança a forças de artilharia, vindas de Piche (4 peças 11,4), Sare Bacar (3 obuses 14) e Canquelifá (2 obuses 14), e que iam fazer barragem de artilharia junto à fronteira, nas proximidades do Rio Nhamprubana, afluente do Rio Coli que divide os dois territórios... O objetivo era atacar ou flagelar a base do PAIGC, em Foulamory, na região de Boké, a sudeste de Piche.

O Pel Art de Sare Bacar, com 3 obuses 14 (longo alcance) vieram de propósito para esta ação, desde a fronteira com o Senegal, via Contuboel, Bafatá, Nova Lamego... Como o Hélder Sousa, que estava lá em Piche nesta altura, houve uma série de contratempos, que inviabilizaram a Acção... E não foi apenas a emboscada, retomaremos o assunto num próximo poste.

De acordo com a carta de Piche (1957), não havia nenhuma povoação com o nome "Sare Bacar"... Os de Sare Bacar, e os de Canquelifá, os Pel Art (Pelotões de Artilharia) é que vieram dar uma ajudinha ao subsetor de Piche... Há assim, à saída de Piche uma tabanca chamada Amedalai, topónimo vulgar na Guiné.

Veja-se o extenso esclarecimento prestado pelo Hélder Sousa (*).

Sobre a Acção Mabecos, sabemos qual era a Ordem de operações (nº 1, 21 de fevereiro de 1971):

Composição das forças;

(i)  CART 3332, a 4 pelotões;

(ii)  3º e 4º Pel / CCAV 2749 ( BCAV 2922);

(iii) 2 Secções de milícias da CM 249;

(iv) 1 Secção de milícias da CM  246, com Morteiro 60, com 30 granadas;

(v) 1 Secção Morteiro 81 - 30 granadas;

(vi) Artilharia Pesada,  4 peças 11,4 com 160 Granadas (Pel Art Piche); 2 Obuses 14 com 100 (Pel Art Canquelifá); e  3 Obuses 14 com 120 granadas;

(vii) 2 PEL/REC 2 Chaimites.

,,, Mas tudo correu mal. Há dias assim em todas as guerras (**).
_____________

(**) Último poste da série > 29 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20285: (Ex)citações (361): Do meu amigo Zé Saúde, com quem estive estes anos todos sem falar da guerra, até ao segredo dos 'Asas Brancas' de Contuboel (Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547, 1972-74)

Guiné 61/74 - P20365: Álbum fotográfico de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 (Bissau e Fulacunda, 1969/71) - Parte I


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8


Fotos (e legenda): © Domingos Robalo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Tabanca da Linha > Domingos Robalo.
Foto de Manuel Resende (2019)
1. Fotos do álbum de Domingos Robalo,  ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71; comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda;  

[, Foto à direita: Domingos Robalo:

(i) tem página no Facebook desde março de 2009 e administra também o grupo Artilharia de Campanha na Guiné-BAC1/-GAC7;

(ii) vive em Almada, está ligado à Universidade Sénior Dom Sancho I, de Almada, onde faz voluntariado, desde julho de 2013, como professor da disciplina de "Cultura e Arte Naval";

(iii) trabalhou na Lisnave; é praticante de golfe;

(iv) e passou a integrar a Tabanca Grande, com o nº 795, desde 21 de setembro último]


Legendas das fotos acima publicadas (*)


(...) A minha mobilização para a Guiné ocorrera para cumprir uma rendição individual de um militar que não teve oportunidade de chegar ao fim. Ia substituir o furriel miliciano Batista [, António da Conceição Dias Baptista, natural de Murtal, São Domingos de Rana, Cascais ], que infelizmente não terminara a sua comissão no tempo normal. No dia 14 de fevereiro de 1969, morre heroicamente ao lado do seu Comandante de pelotão, o alferes Gonçalves [, José Manuel de Araújo Gonçalves, natural de Lisboa], São vítimas de um ataque IN no aquartelamento de Guileje.

(...) A sete de maio de 1969, embarco no “Niassa” com destino a Bissau (Fotos nº 1 e 2].

(...) Ao fim da manhã do dia 12 de maio, o navio “Niassa” está ao largo de Varela, aguardando a ida a bordo da Autoridade Marítima. Ao fim da tarde do mesmo dia está a acostar ao cais de Bissau.

(...) Sou dos últimos militares a desembarcar, por ser de rendição individual e por o meu destino ser o quartel da BAC 1 [Bataria de Artilharia de Campanha nº1, sediada junto ao QG (Quartel General)]. [Fotos 3, 4 e 5]

(...) Chego finalmente ao aquartelamento da BAC1, onde me espera um quarto com cama feita.
Sou recebido por Furriéis e Sargentos e Oficiais que me aguardavam com amizade e simpatia. Ainda hoje me encontro com alguns desses meus camaradas, o Mendes, o Glória, o Faro, o Chaves, o Correia, o Mendes de Almeida e outros tantos, e até o meu Comandante, à altura o Capitão M. Soares.

(...) Durante cerca de quatro meses permaneci em Bissau [, na BAC 1], participando nas “escolas de recrutas” que era levada a efeito com soldados do recrutamento da Província. [Fotos nºs 6. 7 e 8]

(Continua)

____________

Nota do editor:
Vd. postes de :


3 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20202: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte II: recruta no RI 5, Caldas da Rainha, na 5ª companhia, comandada pelo ten inf Vasco Lourenço


9 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20222: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte IV: Depois de 4 meses a dar formação de artilharia de campanha, a graduados de pelotões de morteiro, sou colocado em Fulacunda, a comandar o 22º Pel Art

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20364: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - IX (e última) Parte: Nunca mais esquecerei aquele abraço, num lojeca em Bissau, antes do meu regresso a casa, daquele negro de Fulacunda, o Eusébio, suspeito de colaborar com o IN, e a quem poderei ter salvo a vida...



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda >  22º Pel Art (Fulacunda, 1969/71) > "Eu e o Eusébio" [, um antigo milícia, suspeito de colaborar com o IN)

Foto (e legenda): © Domingos Robalo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >   "Porto fluvial", no Rio Fulacunda > Montagem de segurança > Um obus 14, rebocado por uma Berliet. Para i o desse e viesse...


Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1/ CAC 7, 1969/71) > IX (e última) parte 

[ Foto à esquerda: 
Domingos Robalo, 
ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71; comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda; vive em Almada]


Está esta prosa mais longa do que eu imaginaria que fosse. Não termino sem antes referir o seguinte: em visita ao aquartelamento, o Comandante Chefe, General Spínola, é recebido com a formatura em parada. Repara que na parada estão alguns militares aprumados, mas sem a “boina negra” na cabeça, pergunta:

- Quem são aqueles que não têm boina negra?  [,os "boinas negras" era a malta da CCAV 2482]


- São o pessoal da Artilharia! [, 22º Pel Art, comandado pelo fur mil art Domingos Robalo]

Mudou o olhar, aconchegando o seu monóculo, concentrou-se nas tropas e população que o “adorava”, e é bom não esquecer estas palavras nem ter medo de as pronunciar. Falou de uma “Guiné Melhor”, a ser construída pelos Guineenses e seriam eles a decidir o seu futuro….

Estou a escrever estes factos, muito resumidamente, 50 anos depois de eles terem acontecido. Só agora dou o verdadeiro valor à memória. Coisas que aparentemente estavam escondidas ou apagadas, aparecem como se ontem tivessem sido vividas.

Mas, o deslizar a pena é como se estivesse a mexer um caldeirão onde as letras aparecem já escritas e a memória as traga à tona. Ideias que já estavam esquecidas, ultrapassadas e limpas aparecem agora em turbilhão.

Quase quatro anos de vida militar, por muito sacrifício que se tenha passado, não tem sido maior do que passar 40 anos com memórias que não tivemos oportunidade de contar ou “carpir”, como contributo de um desabafo coletivo que todos os jovens adultos do meu tempo deveriam ter feito. 


Ter-se-iam, porventura, poupado muitos dos traumas que vamos tendo conhecimento. O 25 de abril de 1974 trouxe-nos uma mudança radical de vida e de pensamento, com a esperança de uma vida em paz e de convivência com os povos que foram por nós colonizados. Com o golpe de Estado deu-se a “independência” aos povos das Colónias (então Províncias Ultramarinas), mas aprisionando-se memórias com uma barreira imposta, e auto-imposta como capa de proteção por um período da vida de quase todos os jovens adultos daquele tempo.

Conforme estou escrevendo, vou avivando essa vivência, mas também não posso nem devo calar o afronto que se fez aos militares portugueses de origem africana que, após a independência, foram assassinados por grupos que se diziam de libertadores. Libertadores de quê? 


Mais grave considero ainda que as autoridades portuguesas tenham tido conhecimento da situação e à época fez-se um silêncio total.

Através de um tripulante do navio Rita Maria ou Alfredo da Silva [, já não recordo ao certo,] fui sabendo de situações que ocorriam na Guiné. Segredo, pedia-me ele; as informações eram muito confidenciais.

Na minha Unidade, em Bissau, foram-me atribuídas várias funções:

-Participar na instrução básica e de cabos na especialidade de artilharia a militares naturais da Província da Guiné;

-Participar nas principais ações do TO, sempre que a artilharia era requisitada;

-Participar nas regulações de tiro de artilharia e elaboração das respetivas “cartas de tiro”, nos vários pelotões espalhados pelo TO;

-Participar, junto do Comando da Unidade, na então designada “sala de informações e operações”...





Infografia da emboscada de 22/2/1971,no decurso da Acção Mabecos, que envolveu forças do BCAV 2922, numa operação de escolta e segurança a forças de artilharia no trajecto Amedalai - Sagoiá - Rio Sagoiá - Rio Cimangru [... e não Camongrou] - Piche 4E545 - Rio Nhamprubana. As baixas das NT foram todas da CART 3332 (**).


Participei na Acção “Mabecos”, na terça-feira de carnaval no ano de 1971 [, em 22 de fevereiro de 1971, três meses depois da Op Mar Verde,invasão de Conacri]. 

Operação complicada, malo rganizada / planeada, com três mortos  e um soldado apanhado à mão que apenas foi libertado no pós-25 de abril de 1974 [, º 1º cabo Duarte Dias Fortunato, foto à direita]: nesta operação, debaixo de fogo na emboscada que sofremos [, no subsetor de Piche, perto da fronteira,quando íamos flagelar Foulamory, na região de Boké] eu próprio tomei a iniciativa de “ordenar”, ao pelotão [, Pel Art,]  de Sare Bacar, para desengatar um obus 14,0 cm e responder ao fogo IN, que estava a ser intenso.



Guiné > Região de Gabu > Carta de Piche (1957) > 1/50 mil > Detalhes > Percurso Piche > Amedalai > Sagoia > R Sagoia > R Cimongru > R Nhamprubana. A sudeste dwe Piche ficava a base do PAIGC, Foulamory,na região de Boké, ao alcance, a partir da fronteira, da artilharia portuguesa (peça 11.4 e obus 14).

Infografia: Blogue Luís Graça % Camaradas da Guiné (2019)



Eu estava sob as ordens do Capitão Osório, homem da artilharia, já falecido. No relatório desta operação está referido a forma elevada como o pessoal da Artilharia participou na resposta ao fogo IN.

O tempo vai correndo inexoravelmente. Estamos em abril de 1971, já com a comissão quase a chegar ao fim. Por vezes vagueei por Bissau na compra de alguns objetos para fazer embarcar num navio com destino a Lisboa.

Num desses dias, acompanhado pelo Furriel Franco, vagueávamos pelas ruelas transversais à avenida onde se situava o hospital civil [, hoje Hospital Nacional Simão Mendes]. Entrámos numa pequena loja, com uma montra muito pequena, onde estavam expostas uma camisas azuis com um monograma interessante.

Entro na loja,  secundado pelo Furriel Franco, e dirijo-me ao balcão onde estão dois “negros”.  De repente sinto-me abraçado por um deles e o peito a apertar. Não percebia o que se passava, mas a primeira impressão era o de estar a ser alvo de agressão.

Passado o sufoco e o outro negro olhando impávido e sereno para mim, recupero o fôlego e sinto que o abraço forte afinal tinha aspeto fraternal. Mas se aquilo é um abraço...

Olho para a cara do “negro” e não podia acreditar... Quem era aquele negro que assim me abraçava? Nem mais: 


- O Eusébio de Fulacunda!!!... (*)

Aquele “negro” reconhecendo-me, estava com aquele abraço a agradecer o pouco que eu, uns meses antes, lhe tinha feito naquele final do mês de setembro de 1969.

Para mim, tinha sido pouco o que lhe fizera. Mas para ele terá representado o reconhecimento de que era um ser humano como qualquer outro. Daí, aquele abraço que eu senti ter a força do Universo. Não é a cor da pele que diferencia os homens.

Onde quer que estejas, Eusébio, nunca me esquecerei de ti nem daquele abraço.

Para finalizar o meu texto. Não posso nem devo esquecer os mortos e os estropiados que as guerras sempre provocam. Elas podem ter um início, mas nunca sabemos quando terminam. Será que a nossa já terminou?

Domingos Robalo

Furriel de Artilharia, 

nº 192618/68

____________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 4 de novembro de 2019 
Guiné 61/74 - P20313: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte VIII: Fulacunda, usos e costumes... Lembro-me pelo menos de uma menina que foi a Bissau ao "fanado", e não voltou... Não havia, na época, preocupação de maior com a Mutilação Genital Feminina, por parte das autoridades. civis e militares


Vd. postes anteriores:

25 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20274: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte VII: Em Fulacunda, também havia milagres...

20 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20260: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte VI: Eusébio, um preso que eu mandei tratar com dignidade e que me vai ficar reconhecido

12 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20232: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte V: Rumo a Fulacunda, com o 22º Pel Art, passando por Bolama, e com batismo de fogo

9 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20222: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte IV: Depois de 4 meses a dar formação de artilharia de campanha, a graduados de pelotões de morteiro, sou colocado em Fulacunda, a comandar o 22º Pel Art

5 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20206: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte III: recebido em Bissau, pelos camaradas do BAC 1, de braços abertos, na noite de 12/5/1969

3 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20202: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1

26 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20178: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte I: Apurado para todo o serviço militar


(**) Vd.poste de  23 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3926: Efemérides (17): Piche, 22 de Fevereiro de 1971 ou... Carnaval, nunca mais! (Helder Sousa)