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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12074: Notas de leitura (522): "No Ocaso da Guerra do Ultramar", por Fernando de Sousa Henriques (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Maio de 2013:

Queridos amigos,
O nosso malogrado confrade Fernando de Sousa Henriques descreve neste texto de recensão o assédio brutal a Canquelifá.
Estamos num local e num tempo da guerra de guerrilhas da Guiné onde o PAIGC já se move como num teatro de guerra convencional, traz viaturas e despeja em rampas os foguetões sobre os objetivos. Pelo que ele tão discretamente narra, o abandono de Copá teve foros de dramatismo. Nos primeiros tempos, a aviação ainda se afoitou a procurar castigar as peças de artilharia que desfaziam Canquelifá. Depois atingiram um avião, as coisas mudaram. Até porque um mês depois chegou o 25 de Abril.

Um abraço do
Mário


No ocaso da guerra do Ultramar (2)*

Beja Santos

“No ocaso da guerra do Ultramar”, por Fernando de Sousa Henriques, já foi dito, é uma narrativa sem rival nesta literatura da nossa guerra. O autor prometera aos seus camaradas de Batalhão escrever esta crónica sobre a vivência de todos no Leste da Guiné, com fronteiras com o Senegal e a Guiné-Conacri, entre 1972 e 1974. E concretizou a sua promessa, dirigindo-se a um leitor não iniciado descreveu armamentos e equipamentos, a composição da máquina de guerra, as entidades civis intervenientes, como fizera e onde a sua formação militar, narrou detalhadamente as vicissitudes passadas pelo BCAÇ 3883 e particularmente a CCAÇ 3545, a sua companhia, que irá viver o terrível assédio de Canquelifá, perto do termo da guerra.

Nunca encontrei relato que se aparentasse com este, não é uma questão zelo burocrático, é a nítida vontade de inserir o leitor num ambiente de Piche e quartéis envolventes, deu-se ao cuidado de explicar o que era o reino de Pachisse, caracterizou Canquelifá, todas as instalações do aquartelamento, os usos e costumes de Fulas e Mandingas, as acessibilidades, as milícias locais, os guias e colaboradores, o sistema de informações naquela área tão sensível, dá-se mesmo ao cuidado de contar, em resumo, os principais factos relacionados com o Batalhão que foram render e como se processou o período de sobreposição. Igualmente minucioso com o quotidiano de todo o efetivo militar e assim chegamos à guerra propriamente dita.

O sector do BCAÇ 3883 tornou-se repentinamente explosivo em 1973. O PAIGC saíra beneficiado da retirada das tropas portuguesas do Boé, paulatinamente foi-se aproximando de populações hostis e urdiu uma estratégia de clara intimidação a partir de 1972, começou por privilegiar as emboscadas nos principais eixos de comunicações. Em Agosto de 1973, entre Piche e Canquelifá fez um ataque feroz e observa que depois destes acontecimentos nada ficou como dantes. O próprio capitão Peixinho de Cristo ficou abalado, ele que assistiu à morte de um dos seus soldados, atingido gravemente nos intestinos, conversou com ele até ao final, dele recebeu, entre gemidos, as últimas vontades. As minas anticarro começaram a proliferar. O moral da companhia baixou.

A partir de Novembro, não mais houve descanso em Canquelifá, repetiram-se as flagelações, os mísseis deram entrada nas flagelações frequentes, era nítido que os guerrilheiros queriam comprometer os reabastecimentos e acantonar as tropas aos seus quartéis. As emboscadas às obras da estrada Piche-Nova Lamego também se acentuaram. Em dezembro houve um relativo descanso mas os assaltos às tabancas deram frutos, as populações, ainda lentamente, começaram a fugir para os grandes centros.

No início de Janeiro, os ataques com foguetões a Canquelifá marcaram presença, o autor explica a natureza das destruições que as imagens, pela sua eloquência, desfazem todas as dúvidas. Mas não só Canquelifá, Piche e Buruntuma também foram contempladas. Nessa altura os efetivos do Batalhão levam quase 24 meses de Guiné, foi necessário pedir apoio à CCAÇ 21, uma companhia só de guineenses, comandada pelo tenente Jamanca. Em 7 de Janeiro a CCAÇ 21 surpreende uma força inimiga e traz dois corpos, um cubano e cabo-verdiano. As flagelações recrudesceram. Ia começar o martírio de Copá, um destacamento que irá ser abandonado por impossibilidade de defesa. As picagens tornaram-se um tormento. De 19 a 21 de Março, Canquelifá é sujeita a bombardeamentos consecutivos, a partir de diversas bases de fogos situados a Leste e a Norte do aquartelamento. Quartel e tabanca estão irreconhecíveis, o gerador elétrico inutilizado, muitos edifícios queimados, um dos paióis periféricos da artilharia escapou milagrosamente. O desgaste psicofísico das tropas é enorme. As tabancas vizinhas começam a desertificar-se, a própria população civil de Canquelifá começa a retirar. O autor escreve: “Canquelifá passara a ser o epicentro de um vulcão, pronto a explodir. Era a capital do reino de Pachisse, um território ancestral e carismático, o único com fronteiras com o Senegal e Guiné-Conacri. Canquelifá era um alvo a abater para maior projeção externa do PAIGC”.

Em capítulo separado, o autor descreve os derradeiros dias do destacamento de Copá: “A partir do início de Fevereiro, esse destacamento passou a estar sujeito a fogo de morteiro de 120 mm, com intensidade variável, mas algumas das vezes até inusitada. Dentro, não havia a possibilidade de levantarem a cabeça”. Na segunda quinzena de Fevereiro, depois de uns três dias seguidos de assédio a Copá, foram aparecendo aos poucos e em pequenos grupos os elementos provindos daquele destacamento. “O pessoal vinha todo sujo, camuflado, se existia, em desalinho, arma às costas ou ao ombro, desorientado e de olhar perdido. Enfim, uma lástima. Tinham fugido do inferno em que Copá se transformara. Sem o saberem, deixaram para trás o furriel, o operador das transmissões e talvez outros. Aquilo parecia deserção. Confrontados com a ideia de regresso, diziam que preferiam ser mortos”. Lá foram convencidos a juntarem-se a quem permanecera no posto de combate, juntaram-se ao furriel, e então regressaram todos.

Em 21 de Março, chega ao aquartelamento o major Raul Folques, vinha a comandar duas companhias de comandos africanas. Detetaram uma base inimiga, atacaram-na, veio a Força Aérea e rechaçou-os, o PAIGC terá tido 26 mortos, entre eles 2 cubanos, capturam-se 2 morteiros 120 completos e 2 incompletos. Os Comandos, no decorrer da refrega, sofreram 2 mortos e 20 feridos. A seguir, fez-se uma nova coluna de reabastecimento, os guerrilheiros apareceram em peso mas a resposta das nossas tropas foi enérgica. As minas prosseguiram, mesmo a seguir ao 25 de Abril.

O BCAÇ 3883 deixou a Guiné em Junho de 1974. Fernando Sousa Henriques descreve emocionado as despedidas de todos, enumera e louvores e distinções de todo o Batalhão, e ao longo dos anos, os convívios sucessivos. Procede à relação nominal dos efetivos e não descura o espólio fotográfico relacionado com o sector L4. São impressionantes as imagens de Canquelifá em fase de destruição, os aspetos desoladores da tabanca, vemos mulheres e crianças catando nas cinzas os seus pobres bens pessoais, vemos as colheitas a arder, um canhão sem recuo completamente destruído. Fernando de Sousa Henriques cumpriu cabalmente o objetivo a que se cometera, nada de mais minucioso, segundo sei, se fez à volta da história de um Batalhão, de uma Companhia, de uma vivência. O autor já não está entre nós, ainda voltou à Guiné, escreveu em 2011 “Picadas e caminho da vida na Guiné”, na mesma altura em que aderiu ao nosso blogue.
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Nota do editor

(*) Vd. poste de 20 de Setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12061: Notas de leitura (521): "No Ocaso da Guerra do Ultramar", por Fernando de Sousa Henriques (1) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12061: Notas de leitura (521): "No Ocaso da Guerra do Ultramar", por Fernando de Sousa Henriques (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Maio de 2013:

Queridos amigos,
Graças à impressionante afabilidade da Teresa Almeida, da Biblioteca da Liga dos Combatentes, lá vou tendo acesso a material de registo obrigatório.
O Fernando de Sousa Henriques já nos deixou, a ele se deve um outro livro de viagem de saudades que ele coordenou. Este “No ocaso da guerra do Ultramar” é um relato sem rival, nunca vi tanta minúcia, detalhe e pormenor. Preocupou-se em criar o cenário da guerra, com as suas armas e transportes, a natureza da instrução, a caracterização do meio.
E na segunda parte vamos ter o seu testemunho sobre os terríveis acontecimentos ocorridos em Copá e Canquelifá.

Um abraço do
Mário


No ocaso da guerra do Ultramar (1)

Beja Santos

“No ocaso da guerra do Ultramar, uma derrota pressentida”, por Fernando de Sousa Henriques, edição de autor, 2007, é um livro único no panorama da literatura da guerra colonial da Guiné. Único pela quantidade de informação compilada pelo autor: sobre o cenário da guerra; o tipo de armamento e equipamento usados; súmula dos meios de intervenção e de apoio logístico dos três ramos das Forças Armadas; o que faziam o Movimento Nacional Feminino e a secção feminina da Cruz Vermelha Portuguesa. E dispostos todos estes elementos, o leitor é convocado para uma experiência militar, desde a ida “às sortes” até à desmobilização, tudo é esmiuçado: o ato da inspeção médica, o apuramento do mancebo, o número mecanográfico, o grupo sanguíneo, a recruta, o curso de operações especiais em Lamego, os mandamentos do Ranger e, enfim, a mobilização para a Guiné. O autor integrou a CCAÇ 3545 pertencente ao BCAÇ 3883, é enunciada toda a composição das unidades. Em Março de 1972, parte para a Guiné, de Bissau passam para Bolama, a IAO terá aqui a duração de um mês, e depois rumam para o reino de Pachisse, via Xime/Bambadinca/Bafatá/Nova Lamego/Piche. O destino é Canquelifá.

A minúcia do relato não abranda, ficamos a saber quem vão render, que estão na Zona de Ação L-4, zona de savana com cerca de 2000 km2 de extensão, caracterizada por uma superfície plana, de solo argiloso, coberto de mata dispersa. De Canquelifá a Piche distam 33 km. Ficamos a saber que nesse ano de 1972 Piche teria uma população aproximadamente de duas mil almas, predominantemente Fulas mas coexistindo com a etnia Mandinga. O régulo de Piche era Maundé Embaló, que morava numa casa ao lado da oficina de mecânica do batalhão, saíram de Piche e passaram por Cambor e Dunane. Ficaram surpreendidos quando entraram em Canquelifá, havia uma placa com o símbolo internacional identificativo de termas, estavam a ser praxados.

Não há qualquer economia descritiva na caracterização de Canquelifá, o reino de Pachisse, os lençóis de água, tipo de clima, os marcos fronteiriços identificativos de Portugal e Senegal, enquanto a nossa fronteira com a Guiné-Conacri era definida por certas árvores seculares que existiam naquela zona árida e agreste. Canquelifá era um aldeamento com cerca de 1,2 km de comprimentos e 500 m de largura. Dentro do perímetro interno havia 15 abrigos para as nossas tropas e milícias, espaldões previstos para os obuses 14 e o canhão sem recuo. Com todo o detalhe, o leitor ficará inteirado onde estão os edifícios, um a um, quem ocupa as instalações, como era a casa ocupada pelo capitão Peixinho de Cristo, são apresentados o 2.º Sargento Patada e o 1.º Sargento Simões. Depois o autor embala-se na pormenorização do Canquelifá social, o nome das povoações e até as tabancas abandonadas. E mais, o leitor é induzido para as celebrações do ramadão, as cerimónias do casamento, os batuques, os dias de festa na tabanca, o fanado, as tarefas domésticas, os trabalhos a cargos dos homens, os casos de lepra. Logo ficamos a saber que o autor esteve em Bambadinca cerca de três meses a comandar uma companhia de instrução de milícias, assunto que remete para o pelotão de milícias 267, em Canquelifá.

Segue-se o breve historial sobre o BCAV 2922, esteve na região de Piche entre 1970 e 1972, são registadas as atividades militares mais relevantes.

E começa o dia-a-dia de Canquelifá, da companhia “Os Abutres”, os seus patrulhamentos, as obras de beneficiação, o material utilizado, os lazeres com jogos de cartas, jogos de futebol e de voleibol. Ficamos também a saber as recordações do capelão e do médico. O capelão fora já para a Guiné com muitas dúvidas de fé, admitia no futuro deixar o sacerdócio. As missas eram celebradas debaixo de uma árvore frondosa que exista junto à enfermaria. Improvisava-se uma espécie de altar que não era mais do que uma pequena mesa onde se colocava o Cristo crucificado. A homilia consistia numa mensagem de paz interior, tudo muito terra-a-terra. Ficaram muito boas impressões do médico da companhia, desvelado e interessado pela saúde de todos. Temos aqui fartos apontamentos sobre o paludismo, as visitas a Canquelifá e até a deserção do furriel Vagomestre, que nas férias rumou para a Suécia. Falava-se muito da comida, todos tinham saudades do rancho familiar. Todos se dedicaram às pequenas hortas, até se plantavam piri-piri, pimentos e salsa.

Asseguro que nunca li um relato como este, é uma prosa coloquial, quase divagante, Fernando de Sousa Henriques depõe, indignado, pela sorte dos militares guineenses que foram esquecidos na pós-independência, não pactua com o abandono destes camaradas tão fiéis, tão aprumados, tão combativos. Parece que escreve para diferentes públicos ao mesmo tempo, a sua participação na guerra parece confundível que toda a guerra, com os acontecimentos ocorridos em todos os teatros de operações, toma-se a sua mobilização como a mobilização de centenas de milhares de jovens portugueses. Não disfarça o orgulho pelas suas classificações e por ser o número dois da companhia. A sua preocupação é envolver o leitor, dar-lhe a saber que havia rações de combate, como eram os quartéis, qual o comportamento das populações face à guerra. Nesta dimensão é um cronista que não esconde os seus estados de alma, faz reproduzir o seu álbum fotográfico com oportunidade. No final do livro, não descurará as listagens de militares ex-combatentes, teremos ali o BCAÇ 3883 por inteiro, tal como o BCAV 2922, a lista nominativa dos combatentes originários dos Açores, o seu espólio fotográfico insere-nos em Canquelifá, aperta-se-nos o coração com as destruições que irão ocorrer na última fase da guerra, pois o relato será igualmente minucioso com os graves acontecimentos em 1974 que tocaram à desditosa Copá e ao cerco a Canquelifá.

Será esta a matéria para a próxima recensão.

(Continua)
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Notas do editor

Vd. também poste de 28 DE JANEIRO DE 2009 > Guiné 63/74 - P3809: Notas de leitura (12): Os últimos dias do destacamento de Copá, Janeiro/Fevereiro de 1974 (Helder Sousa / Fernando de Sousa Henriques)

Último poste da série de16 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12048: Notas de leitura (520): "Guiné Mal Amada - O Inferno da Guerra", por António Ramalho de Almeida (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10397: Em busca de... (203): Exemplar do livro de Fernando de Sousa Henriques "Picadas e Caminhos da Vida na Guiné" (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 13 de Setembro de 2012:

Meus prezados amigos,
O Prof. René Pélissier gostaria muito de publicar uma resenha sobre o livro do nosso malogrado confrade Fernando de Sousa Henriques.

Eu pedia a generosidade a alguém que com ele se tivesse relacionado se mo podia enviar para eu reencaminhar para o Prof. Pélissier, acho que era uma bonita homenagem que prestaríamos ao Sousa Henriques.

Antecipadamente grato,
Mário




2. Hoje mesmo o Blogue enviou a seguinte mensagem à tertúlia:

Caros camaradas e amigos tertulianos

De acordo com a mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos, o nosso conhecido Prof René Pélissier gostava de ter acesso ao livro do falecido camarada Fernando de Sousa Henriques "Picadas e Caminhos da Vida na Guiné" para fazer uma recensão desta obra.

Se alguém tiver algum exemplar e puder emprestar ao Professor, via Mário Beja Santos, seria, como diz o nosso camarada Mário, uma hipótese de homenagear o malogrado Fernando de Sousa Henriques.

Deixo-vos um abraço
Carlos Vinhal


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10326: Em busca de... (202): Memórias de uma infância perdida .... (Paulo Mendonça, nascido em 1961, em Có, Bula, Cacheu, trazido para Matosinhos em finais de 1967, criado na Casa do Gaiato até aos 14 anos, e a viver há 20 em França)

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8746: Recortes de imprensa (47): Correio dos Açores: A notícia da morte do Fernando de Sousa Henriques (1949-2011) (Carlos Cordeiro)




In Correio dos Açores, 6 de Setembro de 2011. Recorte enviado pelo nosso camarada Carlos Cordeiro, residente em Ponta Delgada, com a seguinte mensagem:

"Infelizmente é verdade, Luís [, a notícia inesperada da morte do Fernando de Sousa Henriques, que vivia há muito nos Açores]. Está na última página do jornal [, Correio dos Açores]. Foi na ilha de Santa Maria. Bolas!!!!!!!!!! A malta tem que pensar que não tem 20 anos! P... e eu também tenho que pensar nisso. Um grande - e muito triste - abraço, Carlos".

As nossas sentidas condolências à sua família, na pessoa da viúva, Noémia Maria Chaves e filhos, Fernando Melo José Henriques e Cristina Melo Henriques, em nome de todos os amigos e camaradas da Guiné, aqui representados na Tabanca Grande, de que o Fernando era membro. Continuará o seu nome a figurar na lista dos amigos e camaradas da Guiné, na lista dos que da lei da morte se vão libertando, o mesmo é dizer que nos compete, a nós, os vivos, honrar a sua memória, a passagem por esta terra e por este blogue.

Consultar também o blogue do nosso co-editor Eduardo Magalhães Ribeiro > Coisas do MR > 7 de Setembro de 2011 > M363 – Faleceu o RANGER Fernando Henriques do 3º curso de 1971
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Nota do editor:

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8738: In Memoriam (90): Fernando de Sousa Henriques (1949-2011), foi Alf Mil Op Esp / RANGER na CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74), faleceu ontem, dia 4 de Setembro de 2011







1. Ainda não estamos recompostos do impacto da notícia do falecimento da nossa Camarada Enfª Pára 
Piedade Gouveia e tomamos conhecimento pelo nosso Camarada José Pinho, hoje, pelas 13h19, através de um comentário escrito no poste P8024, onde se apresentou na Tabanca Grande o Fernando de Sousa Henriques, da sua surpreendente e repentina morte:

“O Fernando faleceu ontem, 4 de Setembro 2011, quando fazia aquilo de que muito gostava: caça submarina. Fica a memória de um grande amigo e companheiro. Até Sempre, Fernando.”

Ficou mais pobre a CCAÇ 3545 e o BCAÇ 3883, ficamos mais sós no blogue e o mundo perdeu um homem bom, sempre bem disposto e um excelente Amigo dos seus Amigos.



Recorda-se que o nosso Camarada Fernando de Sousa Henriques, foi Alf Mil OpEsp / RANGER na CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74), nasceu em Estarreja (Aveiro) em 1949, tinha-se formado na cidade Porto em Química e, posteriormente, em Electrotecnia.

Como Alferes do CIOE e adjunto do Comandante de Companhia, partiu, em Março de 1972, rumo à Guiné, de onde regressou em Julho de 1974.

Foi Professor, tendo passado por Empresas como a Mobil Oil Portuguesa e os CTT, até se fixar, como Assessor, na Administração Portuária, em Ponta Delgada, São Miguel, RAA. Mantinha a sua actividade de Engenheiro.




2. O Henriques deixou 4 Obras Publicadas:

- Picadas e caminhos da vida na Guiné

- Um Icebergue chamado 25 de Abril

- No Ocaso da Guerra do Ultramar

- Nandinho - Os primeiros 6 anos dos últimos 60… (Conto infantil)


3. Em nome do Luís Graça, Editores e demais Camaradas da nossa tertúlia da Tabanca Grande, apresentamos à querida Esposa do Fernando Henriques, filhos e restante família enlutada, e porque outras palavras nos faltam, as nossas melhores e mais sentidas condolências.

4. NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA: O corpo do Fernando Henriques, encontrar-se-á na próxima quarta-feira, dia 7, a partir das 08h30 em câmara ardente na nova Casa Mortuária do Cemitério de São Joaquim (contígua ao Crematório). A missa realizar-se-á às 13h30, finda a qual se procederá ao funeral.
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Notas de M.R.:

Vd. Também sobre a literatura do Fernando os seguintes postes:

10 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3430: Bibliografia de uma guerra (36): No ocaso da Guerra do Ultramar, de Fernando Sousa Henriques. (Helder Sousa)

28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3809: Os últimos dias do destacamento de Copá, Janeiro/Fevereiro de 1974 (Helder Sousa / Fernando de Sousa Henriques)

11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3871: Em busca de... (65): Pessoal de Copá, 1ª Companhia do BCAV 8323/73 (Helder Sousa)

1 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8496: Notas de leitura (252): Picadas e Caminhos da Vida na Guiné, de Fernando de Sousa Henriques (Mário Beja Santos)


Vd. último poste desta série em:

4 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8733: In Memoriam (89): A Enfermeira Pára-quedista Piedade Gouveia faleceu hoje, dia 4 de Setembro de 2011


sexta-feira, 1 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8496: Notas de leitura (252): Picadas e Caminhos da Vida na Guiné, de Fernando de Sousa Henriques (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Junho de 2011:

Malta,
Quem quer voltar à Guiné, faça como este grupo a que se juntou o Fernando de Sousa Henriques. É assim que se produzem relatos singelos, com solidariedade, encontros imprevistos, se descobrem vestígios de quartéis entre picadas por onde se deambula com o coração pequenino, não de medo mas de emoção. Os caminhos da vida na Guiné estão à mercê de quem deles guarda saudade.
Um abraço do
Mário


Retorno à Guiné pelo chamamento da saudade,
percorrendo as picadas dos tempos sofridos


Beja Santos

“Picadas e caminhos da vida na Guiné” (por Fernando de Sousa Henriques, edição de autor, 2011), é um relato de uma viagem de um conjunto de ex-combatentes que, décadas depois se afoita a revisitar os locais onde cada um deles cumprira o seu dever. É um documento singelo na reconstituição das situações, desempoeirado até no recurso que faz, com sucesso, ao uso da linguagem de caserna, que a todos irmanava. Conheci as peripécias desta viagem através da visita que fiz ao Jaime Machado, na Senhora da Hora, em Matosinhos, vi os filmes e as fotos de muitos desses momentos tocantes, por isso não fui apanhado pelo factor surpresa das minúcias recolhidas pelo Fernando de Sousa Henriques que soube usar tão equilibradamente os apontamentos da viagem integrando-lhes as imagens apropriadas.

É um relato de emoções, todos eles irão ser confrontados com imprevistos, de Bissalanca a João Landim (local de pernoita), a viagem de reconhecimento a Bissau, o contraste da cidade, nos principais pontos de referência. Ninguém que ali tenha combatido pode esconder a amargura de ver uma cidade em ruinas ou em derrocada. Depois rumam para Bafatá, a decepção pelo estado da antiga segunda cidade da Guiné-Bissau não foi menor. O grupo vai largando lembranças. No hospital de Bafatá deixaram um aparelho para medir a tensão arterial, equipamento para o despiste da diabetes, medicamentos. Seguem para Bambadinca, um dos viajantes, médico, não sabe esconder a emoção no reencontro som a sua lavadeira, Cumba. Registam a destruição do porto de Bambadinca, há ali duas imagens que constam da operação Tangomau: o cabeço de amarração, único sinal da vida pujante que teve o cais de Bambadinca e as canoas junto ao rio, adormecidas sobre o tarrafe.

Segue-se a pernoita no Capé ao pé de Bafatá e parte-se para Cadique, com passagem por Guileje, foi um longo dia de emoções através do Saltinho, Quebo, Cadique, próximo do rio Cumbijã. O que resta de Cadique é fotografado enquanto quem ali combateu anda agitado e eufórico; segue-se a viagem ao Museu de Guileje. Como não há viagem sem desencontros, chegados a Jemberem, uma das viaturas virou à direita outra à esquerda, lá chegaram ao Capé, com o coração aos saltos, sem saber uns dos outros.

No dia seguinte partem à conquista de Piche, Buruntuma e Canquelifá, os viajantes captaram imagens eloquentes com uma placa a referir as distâncias para Bafatá, Piche, Cam-Quelefá, Buruntuma, Cabuca, Madina (Boé), Sonáco, Paunca, Bajocunda e Pirada. Que belas fotografias! Os memoriais existentes na ponte Caium, em Buruntuma, os edifícios de Canquelifá, as crianças a cantarem o hino nacional da Guiné-Bissau, os últimos vestígios da presença dos militares como os memoriais; depois Piche, com as ruinas da capela e a espantosa fotografia da antiga piscina agora circundada de campos lavrados. O imprevisto são também as gentes, aqueles que combateram e que exibem documentos, perguntam por nomes destes ou daqueles, pois são estimas que perduram. Dia muito quente, também para os corações.

Do Capé partiram depois para Bambadinca, Xitole, Quebo e Buba. Inevitavelmente, visitas a escolas e ao cemitério de Bambadinca, não lhes deixaram tirar fotografias no Xitole (o Tangomau teve sorte, andou por ali à solta com os seus antigos soldados, o blogue guarda imagens dos principais vestígios do quartel e de edifícios que assinalam uns tempos de prosperidade comedida quando no Xitole havia uma encruzilhada comercial). A comitiva passa junto à ponte Carmona, destruída durante a guerra. Visitaram o Quebo e prosseguiram em direcção a Buba. Graças a um jerricã, houve um encontro inesperado e a alegria de uma confraternização, toda a viagem vai conhecer estes tempos, viaturas empanadas, crianças ruidosas à procura de uma lembrança.

A viagem prossegue pelo Norte, agora vai-se para Nova Lamego ou Gabu, e depois Pirada. São captadas belas imagens de Pirada, apetece perguntar como guineenses e portugueses pretendem lidar com este património, é impossível responder com indiferença. Como é sabido, os guineenses tomaram a atitude resoluta de pôr Teixeira Pinto, Honório Pereira Barreto, Nuno Tristão e Diogo Gomes nas respectivas peanhas, a história não se apaga. Apetece dizer: estes quartéis também não.

Agora o grupo aproxima-se de Bissau, percorre Bula, Canchungo (Teixeira Pinto), Cacheu e S. Domingos. Encontros, entrega de livros, abraços de antigos combatentes. Regresso a Bissau, compra lembranças e o regresso. Cada um foi ao seu ermo, ali relembrou os tempos sofridos, levaram ajuda e também pediram ajuda para as suas memórias. Quem escreve este relato sente-se recompensado. No blogue, também nos devemos sentir recompensados por estas magníficas lembranças. Há muita gente que não quer dizer (ou infelizmente não tem meios) que com um empurrão também se aventuraria por estas picadas, dói que se farta ver tanta gente acolhedora magoada pela indiferença e pelas más governações, foram estas gentes que confiaram em nós, combatemos no meio deles, e por vezes só com eles. Todos estes relatos são o nosso dever de memória. Obrigado, Fernando de Sousa Henriques.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8478: Notas de leitura (251): Mansas, Escravos, Grumetes e Gentio – Cacheu na encruzilhada de civilizações (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8303: Agenda cultural (123): Lançamento do Livro: "Picadas e caminhos da vida na Guiné",


1. Amigos e Camaradas da Guiné, não esqueçam que hoje, dia 20 de Maio (6ª feira), pelas 18h00, vai ser apresentado o novo livro: "Picadas e caminhos da vida na Guiné”, da Autoria do nosso Camarada Fernando de Sousa Henriques - ex-Alf Mil OpEsp / RANGER na CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74).


CONVITE: Lançamento do Livro: "Picadas e caminhos da vida na Guiné"
O nosso Amigo e Camarada Fernando Henriques tem o prazer de convidar todos para o Lançamento do seu novo Livro com o Título: “Picadas e caminhos da vida na Guiné”, que irá ter lugar 20 de Maio (6ª feira), 20 de Maio (6ª feira), pelas 18h00, no Museu Militar do Porto, sito à Rua do Heroísmo, nº 329 – Porto.
Por favor divulguem o mais possível a realização deste evento não só junto das vossas rodas de amigos, como de outras Entidades e Organizações com quem se relacionem.

Foi o Coronel Castro Neves, Capitão em Canquelifá e Comandante da Companhia, que foi render a do Fernando Henriques, que escreveu o Prefácio do Livro.
Ele vem de propósito de Lisboa para estar nesta Cerimónia.
O mesmo acontece com o Coronel Raul Folques dos Comandos Africanos que irá fazer a apresentação do Livro. Homem que, ainda capitão em Guiné, “safou" em Março de1974 o Fernando Henriques e demais Camaradas da sua Companhia, dos ataques e do cerco que as forças do PAIGC (comandadas, ali no Leste e na altura, pelo Nino Vieira e pelo Ansumane Mané) tinham montado ao seu aquartelamento.
Ele pensa que não podia ter escolhido nem outras, nem melhores pessoas, para colaborarem com ele, eu desde o primeiro momento se mostraram prontos e disponíveis, para colaborarem no lançamento do livro.

Sobre o Autor:
Fernando de Sousa Henriques nasceu em Estarreja (Aveiro) em 1949.
Formou-se, no Porto, em Química e, posteriormente, em Electrotecnia.
Como Alferes do CIOE e adjunto do Comandante de Companhia, parte, em Março de 1972, rumo à Guiné, donde só regressa em Julho de 1974.
Foi Professor, tendo passado por Empresas como a Mobil Oil Portuguesa e os C.T.T., até se fixar, como Assessor, na Administração Portuária.
Mantém a sua actividade de Engenheiro.
Relato de viagem rocambolesca de retorno a um País – Guiné (Bissau) – passados que foram mais de 36 anos. Paralelamente, procura relembrar as vivências doutros tempos difíceis e “sofridos” em que, em nome do Dever, se combatia e sofria. Utilizando a terminologia e o calão da altura, descreve a viagem de um pequeno grupo que pretendia revisitar os locais onde cada um dos seus elementos tinha estado em tempo de Guerra.
Interessante o conjunto de situações e de coincidências que acabam por ter lugar naquele longo e intenso deambular por Terras do Fim do Mundo e onde foram recebidos calorosamente pelas suas Gentes. Já não há lugar para ódios ou racismo, mas sim para um apertar de mãos, como irmãos. Foi assim o encontro com antigos Combatentes, ainda vivos, independentemente do lado por que tinham combatido, que acabava invariavelmente em fortes e fraternos abraços.
Percorrendo as, outrora tão amadas como temidas, Picadas, refere continuamente pessoas a precisarem urgentemente de ajuda para ultrapassarem as condições de apenas sobrevivência em que vivem, à margem do Mundo – aquele mesmo onde se apregoa a solidariedade e a amizade entre as Pessoas e os Povos.

Outras Obras Publicadas:
- Um Icebergue chamado 25 de Abril
- No Ocaso da Guerra do Ultramar
- Nandinho - Os primeiros 6 anos dos últimos 60 … (Conto infantil)
____________
Notas de M.R.:
Vd. Também sobre este evento:

31 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8024: Tabanca Grande (274): Fernando de Sousa Henriques, ex-Alf Mil Op Esp /RANGER da CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74)

Vd. o último poste desta série em:

14 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8272: Agenda cultural (122): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (Carlos Cordeiro)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8173: Convívios (314): CCAÇ 274, uma das primeiras a partir para o CTIG, em Janeiro de 1962, comemorou os 50 anos da sua incorporação no BI nº 18, Ponta Delgada, Açores (Durval Faria)

1. Informação recolhida da página do Facebook do nosso camarada Durval Faria:

A Companhia de Caçadores Especiais nº 274 comemorou no passado dia 23 de Abril as bodas de ouro da sua incorporação no BI nº 18, no RG2, Arrifes

Esta companhia esteve em teatro de guerra, na Guiné, de Janeiro de 1962 a Janeiro de 1964, na Guiné.

Programa

10h00 – Concentração dos antigos militares e suas famílias

10H30- Cerimónia militar alusiva aos mortos em combate na Guine

11h00 – Visita à unidade (RG2)

11h30 - Missa na capela do RG2

12h30 – Almoço no RG2

Presentes:

(i) O antigo capitão, hoje general, Adérito Augusto Figueira

(ii) Antigos militares, provenientes de Canadá, Estados Unidos da América, Suécia, RA da Madeira e RA Açores (Ilhas de Santa Maria e S. Miguel), num total de 70 pessoas.


Convidados especiais:

(i) Eng Fernando de Sousa Henriques, presidente da Liga dos Combatentes de Ponta Delgada,

(ii) e o Dr Carlos Cordeiro, docente da Universidade dos Açores

quinta-feira, 31 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8024: Tabanca Grande (274): Fernando de Sousa Henriques, ex-Alf Mil Op Esp /RANGER da CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74)


1. Respondendo ao nosso convite para se juntar a nós nesta Tabanca Grande, o Camarada Fernando de Sousa Henriques ex-Alf Mil OpEsp / RANGER na CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74), enviou-nos as habituais fotos e um convite para o lançamento do seu próximo livro.

Nascido em Estarreja (Aveiro) em 1949, formou-se em Química e em Electrotecnia, na cidade do Porto e foi professor, tendo, posteriormente, passado por Empresas como a Mobil Oil Portuguesa e os CTT, até se fixar como Assessor, na Administração Portuária. Ainda hoje mantém a sua actividade de Engenheiro.
Na CCAÇ 3545 foi adjunto do Comandante de Companhia, tendo partido em Março de 1972 rumo à Guiné e regressado em Julho de 1974.
Em 1973 comandou uma Companhia de Instrução de Milícias em Bambadinca, por escolha do Comandante de Batalhão, do Major de Operações e do seu Capitão, de quem era adjunto (selecção esta resultante da sua especialidade - Operações Especiais / Ranger).

2. Convite
O Fernando Henriques aproveita esta sua apresentação, para nos convidar para estarmos presentes no lançamento de um novo Livro com o título: “Picadas e caminhos da vida na Guiné”, que irá ter lugar pelas 18h00, do próximo dia 20 de Maio (6ª feira) no Museu Militar do Porto, sito à Rua do Heroísmo, nº 329 – Porto, pedindo-nos também para que façamos o favor de divulgar este evento, não só junto das nossas rodas de amigos, como ainda junto dos nossos Camaradas e de outras Entidades e Organizações com que nos relacionemos.


3. Sobre o lançamento livro teceu-nos as seguintes considerações:
Foi o Coronel Castro Neves, Capitão em Canquelifá e Comandante da Companhia que fomos render, que me escreveu o Prefácio do Livro. Ele vem de propósito de Lisboa para estar naquela Cerimónia.
O mesmo acontece com o Coronel Raul Folques dos Comandos Africanos que irá fazer a apresentação do Livro e que foi o Homem que me “safou”, em Março de1974, dos ataques e do cerco que as forças do PAIGC (comandadas, ali no Leste e na altura, pelo Nino Vieira e pelo Ansumane Mané) lançaram e montaram ao meu aquartelamento.
Penso que não podia ter escolhido nem outras, nem melhores pessoas, para colaborarem comigo. Mostraram-se sempre prontas e disponíveis.
4. Sobre o conteúdo do livro resumiu assim:
É um relato de viagem rocambolesca de retorno a um País – Guiné (Bissau) – passados que foram mais de 36 anos. Paralelamente, procura relembrar as vivências doutros tempos difíceis e “sofridos” em que, em nome do Dever, se combatia e sofria.
Utilizando a terminologia e o calão da altura, descreve a viagem de um pequeno grupo que pretendia revisitar os locais onde cada um dos seus elementos tinha estado em tempo de Guerra.
Interessante o conjunto de situações e de coincidências que acabam por ter lugar naquele longo e intenso deambular por Terras do Fim do Mundo e onde foram recebidos calorosamente pelas suas Gentes. Já não há lugar para ódios ou racismo, mas sim para um apertar de mãos, como irmãos.
Foi assim o encontro com antigos Combatentes, ainda vivos, independentemente do lado por que tinham combatido, que acabava invariavelmente em fortes e fraternos abraços.
Percorrendo as, outrora tão amadas como temidas, Picadas, refere continuamente pessoas a precisarem urgentemente de ajuda para ultrapassarem as condições de apenas sobrevivência em que vivem, à margem do Mundo – aquele mesmo onde se apregoa a solidariedade e a amizade entre as Pessoas e os Povos.
5. Outras Obras Publicadas pelo Henriques:
- Um Icebergue chamado 25 de Abril
- No Ocaso da Guerra do Ultramar
- Nandinho - Os primeiros 6 anos dos últimos 60… (Conto infantil)
6. Outro elemento do BCAÇ 3883 entre nós:
2. O Fernando Henriques vem juntar-se ao nosso Camarada tertuliano Jacinto Cristina, do mesmo batalhão, que formou fileiras aqui em 24 de Março de 2010 e que, sendo Soldado Atirador, passou a Padeiro da sua companhia, a CCAÇ 3546 (Piche e Caium).
3. Amigo RANGER Henriques, como é habitual cabe-me a mim oferecer-te aqui, em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, demais Camaradas tertulianos desta Tabanca Grande, os nossos melhores votos de boas-vindas e transmitir-te que ficamos a aguardar que nos contes alguns episódios da tua estadia na Guiné, que ainda recordes (dos locais, das pessoas, seus hábitos e costumes, dos combates, dos convívios, etc.) e, se tiveres mais fotografias daquele tempo, que nos as envies, para as publicarmos.

Recebe pois o nosso virtual abraço colectivo de boas vindas.
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Notas de M.R.:
Vd. Também sobre a literatura Fernando os seguintes postes:
Vd. último poste desta série em:

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Guin é 63/74 - P7438: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (5): Canquelifá, a ferro e fogo, 18 de Março de 1974








Guiné > Zona Leste > Região de Nova Lamego > Canquelifá > CCAÇ 3545 (1972/74) > 18 de Março de 1974 > A paisagem desoladora da tabanca, depois do violento ataque do PAIGC com morteiros 120 e foguetões 122, durante 4 horas... 

Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


Continuação da  publicação do álbum  fotográfico de Jacinto Cristina (Sold At Inf, CCAÇ 3546, 1972/74) [, foto à esquerda]  (*).


Recorde-se o trajecto (militar) do Jacinto Cristina:  (i) Natural de Ferreira do Alentejo, hoje com 61 anos, fez a recruta no RI 14, em Viseu, e a especialidade no RI 2, Abrantes; (ii) Foi mobilizado para a Guiné, como Sold At Inf, da CCAÇ 3546; (iii) esta subunidade  pertencia ao BCAÇ 3883, mobilizado pelo RI 2; (iv) A CSS estava sediada em Piche; (v) O comandante era o Ten Cor Inf Manuel António Dantas; (vi)  O comandante da CCAÇ 3546 era o Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira; (vii) As outras companhias do BCAÇ 3883 era a CCAÇ 3544 (Buruntuma e Piche) e a CCAÇ 3545 (Canquelifá e Piche); (ix) Estas quatro subunidades partiram para a Guiné de avião,  em Março de 1972; (x) Regressaram à Metrópole, também de avião, em Junho de 1974; (xi) O Cristina esteve no destacamento de Ponte de Caium, na estrada entre Piche e Buruntuma,  cerca de 14 meses (Fevereiro de 1973 / Abril de 1974), onde foi municiador do morteiro 10,7 e padeiro.

As últimas fotos do seu álbum fotográfico são justamente estas seis, que publicamos acima... São "recuerdos", sem legenda, de Canquelifá (junto à fronteira com o Senegal) depois do ataque de violento ataque do PAIGC que arrasou completamente a tabanca (**)... O Jacinto Cristina nunca lá esteve mas comprou estas fotos a alguém do seu batalhão, que vivia do negócio da fotografia. Comprou-as e pô-las no seu álbum, para "mais tarde recordar"... Há fotos que falam por si... (***)
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Notas de L.G.:

(*) Último poste da série > 18 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7303: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (4): Parabéns ao municiador (e às vezes apontador) do Morteiro 10.7, que fez 61 anos no passado dia 14...


(**) Vd. poste de 27 de Outubro de 2006
Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)


(...) Camarada, Luis Graça.


Estou há muitos anos a guardar na minha memória vários acontecimentos que se passaram na Guiné. Penso que isso acontece com todo o pessoal. Vivi à distância os acontecimentos de Guidaje e Guileje, mas a guerra passava-me pelas mãos, porque em Nova Lamego fui sempre operador de mensagens e não transmissões que de facto foi a especialidade que me despejaram em Campolide - Lisboa.

Acho que chegou o momento para contar um deles. Além de Guidaje e Guileje/Gadamael houve uma terceira ofensiva forte, levada a cabo pelo PAIGC no final da guerra, mas desta vez no Leste, no início do ano de 1974, mais precisamente no sector L4 e L6. Alvos preferenciais: BajocundaCopá, Mareué e Canquelifa, sem esquecer outros.

Copá foi extinto em 14 de Fevereiro de 1974, após violentas flagelações, Mareué idem em 11 de Março de 1974, mas o aquartelamento mais sacrificado foi o de Canquelifá, que sofreu flagelações a toda a hora. Neste caso a arma mais utilizada foi o morteiro 120, e houve abrigos que não resistiram.

A 20 de Março de 1974, entrou em cena o Batalhão de Comandos Africanos, com as três companhias que dele faziam parte integrante. Saíram de Nova Lamego em coluna composta por viaturas militares e civis e dirigiram-se para o local. A operação durou 3 dias, de 21 a 23 de Março 1974. Segundo os canhenhos militares, capturaram 3 Mort 120, 1 RPG, 2 espingardas, 367 granadas de Morteiro e deixaram 26 mortos do lado IN (do nosso lado nada dizem)...

Mas cá o rapaz, no dia 22 [de Março de 1974], como não fazia nada, e porque o condutor da ambulância era do meu pelotão e foi chamado à pista, eu fui com ele. Chegados ao local, era um vaivém de helicópteros que traziam mortos e feridos. Eu dei uma mãozinha para pegar nas macas. Retirava dos Helis e, segundo instruções do médico, ora pousava na pista (estava morto), ora colocava num Dakota que estava logo ali (estava muito ferido)... Vi pernas destroçadas por estilhaços de não sei de quê!

Isto foi só em Nova Lamego porque em Piche não soube, nem quis saber e não sei o que se passou.

Um Alfa Bravo. A. Santos (...)


(***) Ainda sobre a batalha de Canquelifá, vd. comentário de Luís Borrega ao poste de 8 de Dezembro de 2010 >Guiné 63/74 – P7405: Controvérsias (113): Os derradeiros dias do Destacamento de Copá (Fernando Henriques)


(...) Camarigos: Sou amigo do Fernando Henriques.Tenho o seu livro e li todos os acontecimentos em Copá. Tenho-o como uma pessoa honesta e amigo do seu amigo.
Para quem não sabe, o Alf Mil OE Fernando Henriques pertencia ao BCaç 3883, que foi render em Pitche o meu BCav 2922.

O F. Henriques integrou a CCaç 3545, capitaneada pelo Cap Mil Fernando Peixinho de Cristo, que foi render em Canquelifá a CCav 2748. 

O Destacamento de Copá tinha o apoio da Artilharia do Quartel de Canquelifá. Eram 3 obuses de 14 cms, que foram substituídos, por ordem de um Crâneo,  residente em Bissau, por obuses de 10,5 cms. Como é óbvio, estes obuses, não tinham o alcance dos de 14 cms.
Esta substituição fragilizou o Destacamento de Copá, assim como o próprio Quartel de Canquelifá.


Em [18 de]  Março de 1974, Canquelifá ficou a "ferro e fogo", e muito limitado no fogo de retaliação aos ataques. Tiveram que ser socorridos pelos Comandos Africanos. A força de socorro a Canquelifá integrava a 1ª, a 2ª e a 3ª CComandos Africanos, e era comandada pelo Major Raúl Folques [Op Neve Gelada, de 21 a 30 de Março de 1974].

Eram 6 Morteiros de 120 mm a despejar fogo e ainda com Canhão sem recuo, além de 300 foguetões de 122mm. A Tabanca ficou arrasada. Como já lá não estava ,vou lendo o que se escreve.

Abraço, Camarigo
Luís Borrega


Vd. também o poste do Hélder de Sousa > 11 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4811: Informações adicionais ao Poste 4800 (Hélder Sousa)

(...) Nessa época eu também já não estava na Guiné, por isso só posso 'ajudar' relatando o que a propósito está no tal livro com a história da CCAÇ 3545 [ "No Ocaso da Guerra do Ultramar", de Fernando de Sousa Henriques], Companhia essa que estava em Canquelifá, e que diz, para esse dia: "A 22 de Março, pelas 08H30, um grupo IN, estimado em mais de 200 elementos, emboscou uma coluna constituída por duas Chaimites, uma White, três Berliet e quatro Unimog, no itinerário Piche-Nova Lamego, na região de Bentem, causando às NT 6 mortos, 15 feridos graves e 3 feridos ligeiros, que se discriminam a seguir". (...)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3809: Notas de leitura (12): Os últimos dias do destacamento de Copá, Janeiro/Fevereiro de 1974 (Helder Sousa / Fernando de Sousa Henriques)

(...) "O livro tem como título principal No Ocaso da Guerra do Ultramar, e como subtítulos Uma Derrota Pressentida,. Notícias de um Correspondente de Guerra, Combatente na Guiné e é da autoria de Fernando de Sousa Henriques.

"Obtive-o num encontro de camaradas que pertenceram à CCS do BCAV 2922, sediada em Piche, sendo esse Batalhão (e as suas Companhias colocadas em Buruntuma e Canquelifá) substituído pelo BCAÇ 3883, ao qual o autor do livro pertencia, mais propriamente integrando a CCAÇ 3545. Como o autor retrata os mesmos locais e até faz largas referências à fase de 'passagem de testemunho' entre esses dois Batalhões, foi natural ter aparecido nesse convívio.

"Da ficha técnica pode-se retirar que a impressão e acabamentos pertenceram a Coingra, Lda, mas não tem mais indicações a não ser os contactos com o autor que sabemos ser Fernando de Sousa Henriques, ter o telemóvel 919534059 e o endereço de mail
fernando.sousa.henriques@gmail.com , para o caso de algum camarada o quiser contactar.

"O autor foi Alferes Miliciano de Operações Especiais e encontrou-se na Zona Leste no período de 1972-74 sendo que foi testemunha directa do final do conflito pois o regresso só ocorreu em Julho de 1974. É natural do concelho de Estarreja e encontra-se radicado na Ilha de S. Miguel (Açores) onde desenvolve a sua actividade profissional (na Administração Portuária do Porto de Ponta Delgada), colaborando activamente com a ADFA-Açores" (*).


1. Mensagem do Hélder Sousa, ex-Fur Mil de Transmissões TSF (Bissau e Piche, 1970/72)(*):

Caros Editor e Co-Editores

Procurando responder ao apelo feito pelo Luís Graça no sentido de se obterem mais elementos sobre os acontecimentos do Destacamento de Copà(*), aqui envio alguma coisa sobre o que está no tal livro que em tempos comentei, da autoria de Fernando de Sousa Henriques, intitulado No Ocaso da Guerra do Ultramar.

O autor dedica algumas páginas a esse Destacamento (pág 330 a 334), aos seus últimos dias, Destacamento esse que pertencia à Companhia de Pirada e não à sua Companhia, de Canquelifá, mas estava naquela zona entre os limites de acção de uns e outros. Vejamos o que ele conta. Trata-se sem dúvida de relato muito curioso, no mínimo, e que certamente trará mais algumas interrogações, mas está lá no livro!

Copà - Localização geográfica nas coordenadas: 12º 30' Latitude Norte; 13º 55' Longitude Oeste

"A partir da terceira semana de Janeiro de 1974, o IN começou a flagelar, igualmente, um Destacamento que se localizava em Copà, aproximadamente a Noroeste (NW) do nosso aquartelamento, sujeitando-o a fortes bombardeamentos. Esse Destacamento pertencia à Companhia sediada em Pirada, aquele e esta localizadas próximo da fronteira com o Senegal e, respectivamente, nas imediações dos marcos fronteiriços 63 e 68. Devido à sua proximidade do nsso aquartelamento, consideravamo-lo como se de um nosso 'enteado' se tratasse, já que filho não podia ser atendendo à sua cadeia de comando.

"Se com os obuses 14 podíamos e fazíamos o batimento da zona em redor de todo o destacamento de Copà, com os obuses 10,5 só conseguíamos atingir as imediações daquele Destacamento e apenas do lado que ficava mais próximo de nós.

"No dia 31 de Janeiro, como atrás se referiu, dois pelotões da nossa Companhia efectuaram um patrulhamento em direcção ao Marco 61, que envolvia o reconhecimento das imediações da Copà. Assim, seguimos até Cantire, onde inflectimos para Oré Maundé e Orèodé, duas Tabancas recentemente abandonadas, tendo as suas populações sido levadas pelo IN, como denunciavam os vestígios, bem visíoveis, dos roddos das viaturas utilizadas 'nessa limpeza' e que se dirigiam em direcção ao Senegal, detectados num patrulhamento efectuado dias antes. Dali fomos até às imediações de Copà, aproximando-nos daquele aquartelamento por Leste. Voltou a detectar-se, também ali, a existência de múltiplos rodados de diversas viaturas pesadas, bem como o estabelecimento de pequenas trincheiras e, para espanto geral, o abandono de inúmeros cunhetes vazios. Ficámos estupefactos perante tais imagens, pois não contávamos com aquele 'estendal todo' no meio da mata. O IN estivera ali em força, estabelecendo os seus morteiros (82 e 120) a Noroeste daquele e a uma distância de uns 3 km do mesmo, sem ter a mínima preocupação de eliminar vestígios da sua presença no local. Após termos procedido a um reconhecimento daquela área onde o IN estivera instalado, precisamente fora do alcance dos obuses 10,5, rumámos em direcção a Canquelifá, já que não estava previsto qualquer contacto com o pessoal daquele aquartelamento.

"A partir do início de Fevereiro, esse destacamento passou a estar sujeito a fogo de morteiro de 120 mm, com intensidade variável, mas algumas das vezes até inusitada. Através das comunicações via rádio comunicávamos com aquela força para inferirmos da sua situação. O Furriel, comandante daquele Destacamento, e o próprio responsável pelas transmissões, de início ainda gracejavam, referindo-se aos ataques como se de jogos de futebol se tratassem e dizendo que só levavam golos, sem conseguirem marcar nenhum. Não tinham a possibilidade de levantarem a cabeça, quanto mais ripostarem e, ainda por cima, com o quê? Nós, com os nossos obuses 10,5, de má memória, lá íamos, de vez em quando, tentar a nossa sorte nas 'barbas' daquele aquartelamento, mais próximo do nosso, sabendo, de antemão, que só o barulho dos rebentamentos das granadas é que poderia incomodar o IN.

"O IN, como se verá a seguir, aproveitava-se dessa circunstância e desferia sossegadamente e nas calmas os seus ataques. Nós ouvíamos, por vezes, as suas transmissões onde começou a aparecer, cada vez com maior frequência, um linguarejar em espanhol, sinal de que os internacionalistas cubanos também por ali andavam. Normalmente durante a noite, ouvíamos o roncar de viaturas que deviam proceder ao reabastecimento das diferentes posições no terreno ou, então, à mudança das mesmas com transporte de pessoas, armas e munições.

"Esta situação trazia-me preocupado, pois se viessem ao assalto ao nosso Aquartelamento a nossa posição seria débil, no caso de utilizarem viaturas blindadas, de que se ouvia falar, uma vez que só dispunhamos de umas três ou quatro bazucas, usadas, nos patrulhamentos, e sem nenhum pessoal treinado para a luta anti-carro. Os RPG-2 e RPG-7, usados pelo IN, revelavam-se de manejo mais fácil e eficaz.

"Retomando o assunto: Copà passou a ser 'abonado' quase diariamente, com as flagelações a ocorrerem a horas sempre diversas e com durações igualmente variáveis.

"Lá para a segunda quinzena de Fevereiro [***], depois de uns três dias seguidos de assédio forte a Copà e aí a meio de uma tarde, que nunca esqueceremos, foram aparecendo aos poucos e em pequenos grupos, ou isoladamente, os elementos provindos daquele Destacamento. O pessoal vinha todo sujo, camuflado, se existia, em desalinho, arma às costas ou ao ombro, desorientado e de olhar perdido. Enfim, uma lástima.

"Aqui foi uma das outras vezes em que recordei a tal frase muito usada e divulgada, mesmo em cartazes, nos meios militares, que assentava como uma luva perante o cenário que se me apresentava. A frase, já anteriormente citada, rezava assim: 'O Exército é o Espelho da Nação'.

"Mas prosseguindo. Tinham fugido, praticamente aos pares, do Inferno em que Copà se transformara. Primeiro demos-lhes de beber e de comer e depois procurámos saber o que tinha acontecido, embora, antecipadamente, já soubessemos a resposta. Lá fomos sabendo pormenores à medida que foram acalmando. Como todos sabíamos estavam a ser sujeitos a flagelações cerradas, dia após dia, que lhes foi destruindo o aquartelamento e a moral. Não conseguindo aguentar mais, fugiram naquela tarde, depois de terem passado palavra uns aos outros, dirigindo-se desorientados para o nosso aquartelamento que era o que lhes ficava mais próximo. Ainda hoje estou para perceber como é que não foram interceptados pelo IN. Sem o saberem, deixaram para trás o Furriel, o fulano das transmissões e não sei se mais alguém. Aquilo era deserção. Confrontados com a idéia de regresso, diziam que preferiam ser mortos.

"Entretanto, recebíamos uma mensagem, de que não posso precisar a origem, adiantando-nos que, na manhã do dia seguinte, ir-se-ia proceder à desactivação daquele Destacamento, sendo dali retirada a sua guarnição, sendo que em tal operação estariam envolvidas as unidades de pára-quedistas. Foi um fim de dia agitado. O Capitão Cristo a confirmar essa Operação de resgate e a reunir-se com alguns dos nossos Milícias no sentido de se arranjar uns dois ou três elementos, entre População e Milícias, que conhecessem bem aquela parte da região, para servirem de guias e levarem de volta aqueles elementos transviados que nos tinham ali caído inusitadamente. Paralelamente, os Alferes e Furriéis falavam com os mesmos no sentido de os convencer a regressarem à procedência, em face das novas notícias. Duas tarefas que não se revelaram tão fáceis como poderia parecer. Foi tudo muito estudado e planeado para se ter êxito no que se pretendia: enfiar no Destacamento sem serem interceptados pelo IN e fazer de conta que os mesmos nem dali tinham saído. Houve certa resistência dos mesmos em regressarem, mas ao cabo de umas horas convenceram-se de que aquela, embora arriscada, operação era o melhor para eles, pois não passavam ali de uns 'miseráveis desertores'.


"Um dos factores de maior peso na mudança de atitude daqueles homens foi o caso de terem abandonado o Furriel e mais um ou dois dos seus camaradas. Esse facto que, inicialmente, desconheciam era o que mais os constrangia, sendo por isso aquele que foi mais vezes utilizado, a par do relativo à desactivação do seu aquartelamento, daí a umas quantas horas. Assim, por volta das 03H30, lá seguiu o grupo de militares com os seus guias. O Capitão não dormiu bem nessa noite, tal como eu. Acho que todos suspirámos de alívio quando os guias regressaram a são e salvo com a 'encomenda entregue', o mesmo voltando a acontecer logo que se teve conhecimento de que a Operação de evacuação de Copà se tinha realizado com êxito.

"Sempre me surpreendeu o IN não ter interceptado os fugitivos, bem como não ter ido ao assalto final do Destacamento. Estava a actuar nas calmas, para além de talvez ignorar o que nele se estava a passar. Sabia que a sua queda era inevitável e uma questão de dias, não precisando de expor os seus homens. Se tivessem ido ao assalto após todas as flagelações efectuadas, acho que apanhariam, praticamente à mão, os nossos Militares, totalmente debilitados quer física, quer psicologicamente que dali só tinham uma saída: a morte.

"Para o Furriel e os seus dois ou três acompanhantes, que junto dele sempre se mantiveram, aqui fica exarado um voto de louvor.

"Mais sós ficámos, já que o nosso 'enteado' nos tinha abandonado, deixando mais uma parcela de território para nos 'estendermos', em comunhão com o IN.

"E assim reza a História sobre o final de um Destacamento em terras-do-fim-do-mundo: O Destacamento de Copà. Muito resistiu, embora passivamente, por não ter a mínima chance de ripostar."

_______

Nota de H.S.:

O Capitão Cristo referido no texto acima era o Cap Mil Fernando Peixinho de Cristo, Comandante da Companhia, CCAÇ 3545, colocada em Canquelifá e pertencente ao BCAÇ 3883 e à qual pertenceu o autor do texto inserto no livro também acima identificado, o então Alf Mil Op Esp Fernando de Sousa Henriques.
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3430: Bibliografia de uma guerra (36): No ocaso da Guerra do Ultramar, de Fernando Sousa Henriques. (Helder Sousa)
Sobre o autor e o livro, vd. também o artigo, publicado no Diário dos Açores, 9/11/2007 > "No Ocaso da Guerra do Ultramar" relata uma vivência militar na Guiné, por Vera Borges

(...) "Em declarações ao Diário dos Açores, Fernando de Sousa Henriques qualifica o seu trabalho como sendo um livro 'de factos, de vivências, sentimentos e simbolismo, de grande interesse histórico'.
(...) "Repleto de ilustrações, o título do livro No Ocaso da Guerra do Ultramar, remete-nos para um significado: 'os últimos dias da Guerra do Ultramar' (...).
"O livro procura retratar 'como se vivia e se passava na Zona Leste da Guiné, com fronteiras com o Senegal e a Guiné-Conacri, entre 1972-74, num período em que o IN (Inimigo) incrementava aí a sua actividade, procurando levar a cabo a denominada Limpeza do Leste que, a concretizar-se, aumentaria consideravelmente as chamadas Zonas Libertas, permitindo-lhe maior notoriedade e projecção a nível Internacional e um eventual assento na ONU', ressalva o autor.
"Por outro lado, Fernando de Sousa Henriques pretende transmitir ao leitor o período de 'sufoco vivido pelas nossas tropas (NT), perante o cada vez maior poder ofensivo que o IN continuadamente vinha a apresentar, contando mesmo com elementos internacionalistas a integrarem já as suas fileiras'.
(...) "Esta é a segunda obra publicada de Fernando de Sousa Henriques, a primeira tem como título: Um Icebergue Chamado 25 de Abril. 'A Revolução dos Cravos' foi vivida à distância pelo autor, porque nesta altura se encontrava no Ultramar, tendo este acontecimento histórico sido decisivo para o término da guerra colonial.
"Fernando de Sousa Henriques formou-se, no Porto, em Química, e, posteriormente, em Electrotecnia. Em São Miguel seguiu um percurso profissional muito diferenciado, tendo percorrido áreas como as do Ensino Técnico, desenvolvido trabalhos diversos, em especial a nível de Projecto e Fiscalização, no âmbito da sua Formação Profissional, com relevância para a Engenharia Electrotécnica, passando por Empresas como a Mobil Oil Portuguesa e os CTT. Em 1989 assumiu o cargo de Engenheiro-adjunto da Junta Autónoma do Porto de Ponta Delgada".

(**) Vd. postes de:

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues
e
26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3797: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (2): Unidades de intervenção no subsector de Bajocunda

(***) Deve ser primeira quinzena de Fevereiro de 1974, já que oficialmente o destacamento terá sido abandonado a 14/2/74.