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terça-feira, 16 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11845: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (9): Uma visita ao cais do Pidjiguiti e à baixa de Bissau da nossa tristeza, enquanto o Franscisco Silva operava na clínica de Bor uma menina que esperava este milagre há mais de um ano


Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Cais do Pidjiguiti > "Um barco [canoa nhominca] que nos faz lembrar o venerando Cherno Rachid"... O barco maior é de transporte de mercadorias (o único existente na Guiné-Bissau, estava na sucata,  foi recuperado pelo estaleiros locais que, no tempo do colonialismo, eram considerados os melhores da África Ocidental, trabalhando inclusive para a Marinha de guerra portuguesa; este barco, oferta dos holandeses no pós.independência, agirarecuoerado, foi vedeta de uma recente reportagem da RTP, em um documentário, intitulado "A Campanha do Caju", do jornalista Paulo Costa, integralmente gravado na Guiné-Bissau).



Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Cais do Pidjiguiti >  Monumento aos "Mártires do 3 d Agosto de 19590. Homenagem do Povo da Guiné e Cabo Verde"... Ao abandono, uma dor de alma!


Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Cais do Pidjiguiti > Assoreado, atulhado de lixo, fétido (1)...


Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Cais do Pidjiguiti > Assoreado, atulhado de lixo, fétido (2)...


Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Cais do Pidjiguiti > Assoreado, atulhado de lixo, fétido (3)...


Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > O Palácio Presidencial  >  "Renascido das cinzas" (, graças à ajuda da cooperação chinesa, dizem...).


Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Baixa de Bissau: a cidadezinha colonial, votada a incúria e ao abandono (1)


Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Baixa de Bissau: a  cidadezinha colonial, votada a incúria e ao abandono (2)


Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Baixa de Bissau: a  cidadezinha colonial, votada a incúria e ao abandono (3)


  Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Baixa de Bissau:  cidadezinha colonial, votada a incúria e ao abandono (4)

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte IX

por José Teixeira

O José Teixeira é membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete; no dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo; no dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse; 5, domingo, vão de Iemberém, onde estavam hospedados, visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e partem depois para o Xitole, convidados para um casamento ] (*)... É desse evento que trata a 8ª crónica: os nossos viajantes regressam a Bissau, depois de uma tarde passada no Xitole para participar na festa de casamento de uma filha de um fula que, em jovem, era empregado na messe de sargentos e que tinha reconhecido o Silva, no seu regresso ao Xitole. A crónica nº 7  foi justamente dedicada ao emocionante reencontro [, em 1 de maio, ] com o passado, por parte do ex-alf mil Franscisco Silva, que esteve no Xitole, ao tempo da CART 3942 / BART 3873 (1971/73), antes de ir comandar oPel Caç Nat 51, Jumbembem, em meados de 1973,

A crónica de hoje, a nº 9, corresponde aos dias 6 e 7 de maio: os nossos viajantes foram até Farim e regressaram a Bissau. já que o Francisco Silva, mesmo de férias, teve de fazer uma intervenção cirúrgica, a uma criança que esperava um milagroso ortopedista há mais de um ano!


Parte IX >  A cidade de Bissau da nossa tristeza...

Para o dia 6 de Maio [, 2ª feira,]  tínhamos programado uma viagem até Jumbembem, passando por Mansoa, Mansabá e Farim, porém, atendendo a um apelo da irmã Irina da Maternidade do Hospital de Cumura, o Francisco acedeu a operar uma criança que estava há cerca de um ano com uma perna fraturada.

Médico Ortopedista na Guiné, só um milagre de Deus, desabafou a simpática irmã, o que de algum modo complicou os planos de viagem.

Nesta manhã, o Francisco Silva foi ao Hospital de Cumura ver a criança e estudar a forma de a operar. Seguidamente foi reunir com o médico Diretor da Clinica Pediátrica de Bor para pedir autorização para operar neste hospital a criancinha, pois que em Cumura não encontrou as condições mínimas por falta de equipamento. Na realidade se não há médicos ortopedistas para operar, não se justifica que haja equipamento. Felizmente em Bor há o mínimo indispensável e lá se programou para o dia seguinte a operação .

Este hospital [da Cumura] foi criado pelos Franciscanos para combater a lepra nos anos 50 do século passado. Posteriormente especializou-se em doenças infeciosas como a tuberculose e o HIV/SIDA. Não tendo condições para se proceder à operação,  apelou-se ao Hospital Pediátrico de Bor, que acolheu da melhor vontade a solicitação abrindo as portas da sala de operações para que o nosso médico de visita e em férias pudesse proceder à operação e recuperar o bem estar da criança.

Os restantes companheiros de aventura ficaram pelo Bairro de Quélélé a descansar um pouco aguardando o regresso do nosso médico para almoçarmos e seguir até Jumbembém, tabanca onde o Francisco passou parte do seu tempo de Comissão.

Acabamos por ir almoçar ao Arco-Íris e com a chegada do Francisco Silva fizemo-nos á estrada na esperança de conseguirmos chegar a Jumbembém. A estrada até Mansoa foi fácil de transpor, mas a partir desta cidade, todo se complicou com a estrada em construção.

O tempo gastado na estrada, numa viagem iniciada tardiamente, impediu que chegássemos a Jumbembém, por falta de garantia de chegarmos a tempo de apanhar a última lancha de passagem no Rio Cacheu,  em Farim.

Chegamos até Farim atravessando o rio Cacheu de canoa. Demos uma volta pela cidade numa daquelas tardes quentes em que só apetece estar sentado à sombra de um mangueiro e regressamos à estrada depois de nova travessia do rio na casca de noz. 

Como todas as cidades da Guiné-Bissau, a de Farim está uma lástima. Ruas esburacadas, prédios degradados e lixo por todo o lado. Resta-nos um povo, também aqui, alegre, comunicativo, onde o Português é recebido como povo irmão. 

Aqui ou ali há sempre um ex-combatente, não importa de que lado da contenda. A sua preocupação é saber por onde andamos na nossa passagem pela guerra, em busca de um ponto de referência que conduza a uma conversa, à recordação de emoções antigas que continuam bem presentes na memória, abafadas pelo tempo e talvez pelo medo.

No dia seguinte, pelo cedinho, lá seguiu o nosso médico para o Hospital Pediátrico de Bor, onde a criança já devia estar devidamente preparada para ser submetida à operação.

O tempo parece que voa. Ainda há dias chegamos e já estamos a sete de maio.

O resto do grupo procurou aproveitar bem este dia. Foi até à Baixa de Bissau apreciar a azáfama da vida do povo guineense na sua cidade Capital. Depois de uma visita a Catedral de Bissau,  descemos até ao Cais do Pjiguiti, onde decorria uma feira ou é um mercado diário, não sei bem. Peixe, legumes, fruta e bugigangas, tudo a monte com lixo que baste à mistura. 

O cheiro das águas fétidas das margens do Rio Geba, onde se despeja todo o tipo de detritos ao qual se junta os que a mar arrasta nas marés, a ainda o estado de degradação das ruas e das casas ao estilo colonial, transforma todo aquele espaço e redondezas num lugar do qual apetece fugir. 

A avenida principal e o cais são,  para nós e todos os que visitam a Guiné-Bissau, o centro da idcade, pela história que incarnam, pela arte e cultura que transmitem o espelho da cidade e até de um povo. Mereciam, por essas razões e muitas mais, serem tratados com outro carinho e mais cuidados por parte das autoridades e do próprio povo, sobretudo no campo da limpeza e ordenamento.

Que saudades do tempo em que se vinha até ao Pjiguiti, na esperança de encontrar ou avistar ao longe o barco que nos iria transportar de volta à nossa terra. Ou, sentados no Pelicano a saborear umas cervejas sempre acompanhadas de um pratinho de marisco.

Internamo-nos pelo interior de Bissau para apreciar a arte na construção tipo colonial. Habitações lindas, ruas bem ordenadas, mas tudo tão degradado que mete dó. Não há tinta ou dinheiro para a comprar e pintar as paredes, ou incúria por parte de quem lá mora, porque talvez não sinta o espaço como seu. Muito pó e montes de lixo pelos cantos, fonte de mosquitos, melgas e doenças num povo já em si de saúde frágil devido às circunstâncias da vida.

Ao princípio da tarde chegou o nosso doutor, depois de uma manhã de trabalho em Bor que decorreu a contento, apesar da falta de equipamento. Vinha feliz e confiante que a criança ia recuperar bem. Vinha feliz por ter feito equipa com um médico guineense dedicado, conhecedor e prático, num hospital moderno, bem apetrechado e bem dirigido por uma comunidade franciscana de origem italiana.

Após o almoço, partimos de novo a caminho do norte, tendo como Varela, o nosso destino.

José Teixeira

(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11805: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (8): Um casamento fula no Xitole... Ou a tradição que já não é o que era no nosso tempo...

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11613: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (1): Bissau, ontem e hoje


Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 1 > Antiga Messe de oficiais do QG, hoje Hotel Azarai (1)



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 2 > O primeiro encontro com o passado: um antigo "djubi", hoje quadro superior estatal, reconhece o "alferes paraquedista", hoje médico, ortopedista, Francisco Silva. Do lado esquerdo, a Maria Armanda e a Elisabete.



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 3 > Antiga Messe de oficiais do QG, hoje Hotel Azarai (2)



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 4 > Antiga Messe de oficiais do QG, hoje Hotel Azarai (3)



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 5 > Uma rua de Bissau (1)



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 6 > Uma rua de Bissau (2)



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 7 > Um monumento Português com um “toque” independentista, a estrela.



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 8 > A Cadidjato Candé, filha de Aliu Candé,  e a Maria Armanda, esposa do José Teixeira.




Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 9 > Transportes públicos

Fotos: © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (28 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte I

por José Teixeira [, membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário  da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013]


Chegamos alta madrugada ao Aeroporto de Bissau [, terça-feira, 30 de abril]. À nossa espera estavam os dedicados funcionários da AD, o Tchibi e o Bemba,  que nos conduziram rapidamente para a sede desta Associação no Quelélé onde amavelmente disponibilizara dois quartos na Escola de Hotelaria, para os quatro turistas tugas: o Francisco Silva e esposa Elisabete, e o José Teixeira e esposa, a Maria Armanda

Após um sono reparador iniciamos as visitas de cumprimentos na sede da AD, ao Pepito e colaboradores. Pude abraçar de novo a Cadidjato Candé, mas conhecida por Cadi Guerra, a filha do lendário Aliu Sada Candé, dos tempos de Aldeia Formosa (Quebo). O combatente que avançava com o seu grupo, de peito aberto às balas ao encontro do inimigo que nos fazia esperas no mato com fins nada amistosos. Lamento a morte violenta a que foi sujeito, uns meses depois de termos abandonado aquele povo. Sei que, acabada a guerra,  voltou à sua terra e dedicou-se como todos os ex-combatentes ao ganha-pão na lala, onde o foram buscar para julgamento popular e morte violenta. Em 2008 tive o grato prazer de conhecer a sua filha, a Cadi em Guiledje e logo ali firmamos uma grata amizade. Sou o “tio” mais novo da Cadi

Grandes amigos, os companheiros da AD. Sabem acolher como ninguém. Sentimo-nos em casa, com o calor humana que nos proporcionaram, apesar do asfixiante calor solar que se fazia sentir. Momentos gratificantes que não esqueceremos.

Fomos de seguida à procura da nova cidade de Bissau que não conseguimos encontrar. Vimos,  sim, uma cidade velha esburacada, poluída e ruidosa. Muita gente em alegre movimento no seu colorido característico, muitas viaturas a rodar, umas velhas a cair de podre em disputa com a nova vaga de carros e jeeps de luxo, sinais de riqueza de alguns, mas uma cidade sem alma. Muito lixo nas ruas. O Cais do Pijiguiti completamente descaracterizado, pela imundície e pelo cheiro nauseabundo de detritos perdidos na orla marítima. Ali mesmo funciona um pequeno mercado cheio de vida.

Dando asas à saudade,  fomos até à antiga messe de Oficiais em Santa Luzia, onde funciona atualmente um Hotel [, o Azarai]. Foi sem dúvida o único local onde nada mudou e,  se tal aconteceu, foi para melhor. Instalações modernas, bem conservadas e bem apetrechadas, os jardins bem tratados. A piscina, um encanto.

Ali mesmo se deu o primeiro encontro com o passado quando o diretor de um Instituto do Estado Guineense, de passagem, reconheceu ao primeiro olhar o “alferes paraquedista”, ou seja o nome pelo qual o Francisco Silva era conhecido por ter feito uma experiência nos paraquedistas antes de ingressar no Exército e entabulou conversa connosco, sobre os tempos em que,  sendo ele um miúdo, convivia na sua tabanca natal com os militares portugueses ali estacionados. (*)

Um franguinho de chabéu no Restaurante A Padeira Africana retemperou-nos as forças, numa tarde quente que convidava ao repouso, a quem acabava de chegar do frio Portugal.

Terminamos o dia com uma visita à maternidade do Hospital da Cumura, onde a Irmã Irina nos acolhe com um sorriso de agradecimento e esperança. Agradecimento pela instalação do sistema de energia solar que deu luz à maternidade e enfermaria de pediatria. Assim se evitarão,  segundo ela, partos e cesarianas à luz da vela como tem acontecido muitas vezes. Esperança, porque ter a sorte de ser visitada por um médico ortopedista [, o Francisco Silva, do Hospital Amadora-Sintra], o que considerou uma bênção de Deus, logo, aproveitada e muito bem pela Drª Helena, voluntária quase permanente neste hospital.

Uma criancinha aguarda há cerca de um ano o milagre de ser vista e operada a uma perna. Faltava o médico ortopedista e eis que aparece um vindo de Portugal, sem ninguém contar e não se faz rogado. Logo, se alinham as condições para que a criança seja operada. Torna-se necessário pedir à Clinica Pediátrica de Bor para que a operação seja feita neste Hospital, pois no de Cumura não há as condições ideais. Programadas as démarches para se concretizar a operação clínica,  recolhemos a Quelélé para um merecido repouso, depois de jantarmos na Baixa de Bissau e apreciarmos a ruidosa noite com carros e carros em movimento num vai e vem pela única saída da cidade, a Avenida do Aeroporto.

(Continua)
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 26 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6252: Tabanca Grande (215): O Francisco Silva, hoje cirurgião, ortopedista, no Hospital Amadora-Sintra, foi o substituto do infortunado Alf Mil Op Esp Nuno Gonçalves da Costa, do Pel Caç Nat 51, morto por um dos seus homens em 16 de Julho de 1973

(...) O Francisco Silva revelou-me na altura [, em Iemberém,] ter saído da CART 3492 para substituir um alferes morto na parada, pelos seus homens, africanos (ou por um dos seus homens, já não sei precisar bem) do Pel Caç Nat 51, sediado em Jumbembem, sector de Farim. Segundo o Francisco Silva, o alferes terá sido morto por que "era um tipo bom de mais, com problemas para impor a sua autoridade ao pelotão (que era etnicamente heterogéneo, e tinha um historial de problemas de disciplina)"...

Sabemos agora, através do Fernando Araújo, que esse infortunado camarada chamava-se Nuno Gonçalves da Costa, era natural de Arcos de Valdevez, e terá sido morto, "traiçoeiramente", a sangue frio, à queima-roupa, " com 3 tiros de G3", disparados por um militar do seu Pel Caç Nat 51, que não acatou o castigo (um reforço) que lhe imposto pelo seu comandante. A data fatídica foi em 16 de Julho de 1973. Os seus restos mortais repousam no cemitério da sua freguesia natal, São Jorge. (...)

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9855: Ser solidário (126): Da mesma maneira que muitos dos ex-combatentes sentem aquela pulsão de regressar, eu também a sinto (Tiago Teixeira)

1. O nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) reencaminhou-nos esta mensagem do seu filho Tiago, médico, que está na Guiné-Bissau em missão humanitária a trabalhar no Hospital de Cumura:

"Eras meu camarada, que é uma palavra que só quem esteve na guerra compreende inteiramente o sentido: não é bem irmão, não é bem amigo, não é bem companheiro, não é bem cúmplice, é uma mistura de tudo isto com raiva e esperança e desespero e medo e alegria e revolta e coragem e indignação e espanto, é uma mistura de tudo isto com lágrimas escondidas"

in “Quarto Livro de Crónicas” de António Lobo Antunes


Hoje de tarde fui ao cemitério de Bissau, onde estão sepultados camaradas de armas do meu pai, do tempo da guerra colonial...

Da mesma maneira que muitos dos ex-combatentes sentem aquela pulsão de regressar, eu também a sinto. E talvez seja por isso que vim. Cresci a ouvir falar de tabancas, bajudas, fulas, balantas, bolanhas, bijagós, cajus, poilões, febres quartãs...

Sabia onde era Bissau, Empada, Mampatá, Bolama, Aldeia Formosa. Desde pequenino que sei distinguir um papel de um manjaco. Conheço todas as histórias das granadas que rebentaram com a vida daqueles jovens, e dos estilhaços que ainda hoje continuam nos seus corações... tudo isto a preto e branco, num álbum de memorias que em família desfolhávamos amiúde...

Não sei bem explicar porque sinto que isto é um regresso... Na verdade, nunca cá estive. Acho que é um regresso em nome do meu pai, da sua fidelidade a esta terra e a esta gente, que o marcaram para a vida, que me marcaram para a vida... Como se um linha filial marcasse estes quarenta anos de tempo, e que o meu regresso fosse o cumprir de uma tal promessa de fidelidade...

O cemitério de Bissau é triste como qualquer outro cemitério, mas é sujo, descuidado, com cabras a comer as flores apodrecidas... A campas dos militares portugueses estão ao abandono. No fundo, uma metáfora sobre a forma como o país cuida daqueles que por cá ou por lá, continuam perdidos no capim.

Tiago Teixeira








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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9818: Ser solidário (125): Jardim Infantil de Ingoré - Flor de Arroz - inaugurado no passado dia 6 de Abril (José Teixeira)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8146: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (8): 14/12/2009, das 16 às 18h: Visita ao hospital de Cumura: lepra, sida, tuberculose... e compaixão


Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 &gt > 18h > Mural com as seguintes inscrições: "Obrigado, Bispo Settimio"; "X Aniversário da Morte de Dom Settimio"; "A Verdade Vos Libertará".

O missionário Settimio Arturo Ferrazzetta, da ordem franciscana, foi o 1º bispo da diocese de Bissau, criada em 1977. "Homem Grande" da Igreja Católica de África, nasceu em Itália, em 8 de Dezembro de 1924, e morreu, com fama de santidade, em Bissau, em 26 de Janeiro de 1999.



Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 > Fazem-se bichas a partir das 5h30, à porta deste hospital privado, ainda recentemente ciatdo neste blogue (vd. poste P8133)

Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Descarregamento de medicamentos, sob a supervisão da madre italiana...

Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Todos dão uma ajuda no descarregamento


Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Medicamentos doados pelo Brasil


Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Uma farmácia bem recheada e organizada

Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Os missionários também sabem conduzir tractores


Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 &gt >O João, com o seu colega Vitor, frade e médico, com duas mulheres que trabalham no hospital: a da esquerda, de óculos, ao lado do João, é a enfermeira Joaquina Sousa que - segundo informações que nos chega da nossa leitora Isabel - já fez várias missões no hospital de Cumura, tendo estado este ano em Janeiro com uma equipa de médicos (os obstetras/ ginecologistas José Furtado e António Silva, os  anestesistas Fernanda Nunes e Filipa Felix, e o cirurgião José Trigueiros)....




Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Um recém-nascido, desnutrido, ao colo de uma das enfermeiras (a da esquerda, em primeiro plano, é a Joaquina de Sousa, natural de Guimarães, segundo informação da nossa amiga Filomena Sampaio)


Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Dando o biberão ao recém-nascido... 





Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 &gt > Pátio interior do hospital


Fotos: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação das notas do diário de viagem à Guiné, do João Gracça, acompanhadas de um selecção de algumas das centenas fotos que ele  fez, nas duas semanas que lá passou (*)... 

Nos cinco primeiros dias (de 6 a 10 de Dezembro de 2009) fomos encontrá-lo, como médico, voluntário, no Centro de Saúde Materno-Infantil de Iemberém.  O fim de semana,  de 11 a 13 (6ª, sábado e domingo) de Dezembro de 2009, foi passado em Bubaque e Rubane, no arquipélago de Bolama-Bijagós, como simples turista.  Dia 13, domingo,  à tarde, regressou  a Bissau, ao bairro do Quelelé, onde se situa casa do Pepitop e da Isabel, que lhe derem guarida. É também aqui a sede da AD - Acção para o Desenvolvimento, cujos trabalhadores tiveram,  na segunda feira de manhã,  exame médico de vigilância...  Viu 18 de manhã (e no dia 17, viu mais 5). À tarde, nesse dia de segunda-feira, o João Graça foi, de carro ao centro de Bissau, e visitou, nos arredores o Hospital de Cumura, gerido por um Missão Católica portuguesa... (LG)



14/12/2009, 2ª feira, Bissau, Cumura


10.1. Consultas na AD (ver ficha clínica), [aos trabalhadores da ONGD, cuja sede é no Bairro do Quelelé]. Consultório improvisado, mesa a fazer de maca.

10.2. Hospital da Cumura. Fui buscar, com o Domingos, a Sara, ao centro de Bissau. Cumura fica na periferia, passando o Quelelé [, a 10km, na estrada de Prábis].

10.3. Encontro com a irmã Ida (brasileira, ternurenta) e com a enfermeira de Guimarães […] nas enfermarias de pediatria e ginecologia de mães com HIV. Criança desnutridíssima, pele repuxada, viam-se os ossos. Há cerca de 30 camas ali.

10.4. Sala de partos em condições, cesarianas [são feitas] no [Hospital Nacional] Simão Mendes.

10.5. Consultas externas com óptimas condições, vários gabinetes. Grávidas fazem fila à porta a partir das 5h30 da manhã.

10.6. Aqui conhecemos o Frei Vitor, médico formado na minha faculdade [, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa]. Terminou o curso em 1986. Depois entrou na Ordem dos Franciscanos: “Quando Deus chama por nós, temos de ir. Não interessa nem quando nem como”. […] Acabou a especialidade de medicina interna em Torres Vedras [,no então Hospital Distrital,] há uns anos,

10.7. [O] Hospital [de Cumura foi] construído nos anos 50 pelos Franciscanos de Veneza, creio que a área foi oferecida pelos portugueses nessa altura. Dedicava-se à Lepra. Hoje também, mas sobretudo à Sida e à Tuberculose.

10.8. Actualmente o financiamento é da associação (de um tipo que foi trabalhar para uma ilha de leprosos e lá morreu e ajudou a sensibilizar para o problema da lepra). [Mais pela] Portuguesa e menos pela Italiana [, provável referência à União Missionária Franciscana, Convento da Portela, Rua dos Mártires, 1, Apartado 1021, 2401-801 Leiria, Tel. 244 839 904/6, que gere a Missão Católica e  e a Leprosaria de Cumura]

10.9. Ajudámos a descarregar um carregamento de 100 mil eurps em medicação. Madre italiana gesticulava e dava ordens: “Soro para aqui… Ecco [, expressão idiomática, em italiana, equivalente ao nosso pronto]… mas está bem”. De óculos graduados [?], grossos.

10.10. Ala da Sida e tuberculose. Ele ]Frei Vitor] não se protege. “Está ali um doente com tuberculose multirresistente. Entrou ali na boa”.

10.11. Doente ala da tuberculose com sintomas de Pancoast – edema do membro superior por compressão venosotorácica.

10.12. Farmácia com imensa medicação, tubos toracocentese.

10.13. Ala da lepra mais interessante. Doente com dedos retraídos, espessamento do cubital, outra com facies leonina (cá fora, forma em L, bacilífera).

10.14. [Frei Vitor] fez um curso de lepra no sul da Índia, muito conhecido. “Lesão hipopigmentada com sensibilidade reduzida=lepra até prova em contrário”.

10.15. Duas crianças com lepra. A mulher que nos tirou a foto de grupo não tinha o indicador da [mão] direita.

10.8. Havia tractores com padres italianos… Havia um cemitério para padres… 



João Graça

(Continua)

[ Revisão / fixação de texto / selecção, edição e legendagem de fotos: L.G.]
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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:



 4 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8043: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (7): Os encantos e as armadilhas das ilhas de Bubaque e Rubane (Bijagós), 11/13 de Dezembro de 2009 (Parte III, o regresso a Bissau)


28 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8005: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (6): Os encantos e as armadilhas das ilhas de Bubaque e Rubane (Bijagós), 11/13 de Dezembro de 2009 (Parte II)


 12 de Março de 2011 Guiné 63/74 - P7931: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (5): Os encantos e as armadilhas das ilhas de Bubaque e Rubane (Bijagós), 11/13 de Dezembro de 2009 (Parte I)


19 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7816: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (4): 10/12/2009, último dia de consultas em Iemberém e viagem de regresso (10 horas!) a Bissau


19 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7816: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (4): 10/12/2009, último dia de consultas em Iemberém e viagem de regresso (10 horas!) a Bissau


5 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7727: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (3): 9 e 10/12/2009, em busca do dari (chimpanzé), em Farim e Madina do Cantanhez...


28 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7686: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (2): 6/12/2009, domingo, 1ª consulta, um baptizo muçulmano, um casório católico, uma visita a uma fábrica de caju... 7/12/2009, 2ª feira: 1º dia de consultas. 42 doentes à porta do C.S. Materno-Infantil de Iemberém


16 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7622: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (1): 5/12/2009, sábado, viagem de carro, de Bissau (13h30) a Iemberém (21h50)