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domingo, 30 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21305: Blogpoesia (693): "As falésias", "Em ondas mansas..." e "As primeiras impressões", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


As falésias

Golpes na terra. Sangrando ao sol.
Esterilizou-lhes o verde das plantas.
Lascas estéreis
Não sustentam as raízes.
Não oferecem segurança à superfície.
Oferecem panoramas deliciosos sobre o mar.
Por isso as procuram os sonhadores.
Correndo o risco sério de desabar.
Nem nas rochosas se pode confiar.
Pedaços de encosta em ferida.
A chuva lhes dá nervuras.
O sol as queima sem pudor.
Fujam delas sobre as praias.
Por certo, virá o dia da derrocada sem aviso.
Pior que morrer no mar...

Berlim, 29 de Agosto de 2020
8h24m
Jlmg

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Em ondas mansas…

Chega à praia em ondas breves o mar do meu pensamento.
Escrevem na areia poemas com o sargaço verde que o mar ditou.
Estremeço a lê-los. Tiritando ao frio.
Minha alma aquece no contentamento de cada verso aceso.
Me extasio perante a imensidão do mar.
A inspiração é breve.
Só enquanto brilha o sol no horizonte.
Recolhida em sonho, dormita pela noite branca.
Reina o silêncio no firmamento.
Minha mente se sacia da beleza azul que bebeu do mar…

Berlim, 28 de Agosto de 2020
8h14m
Jlmg

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As primeiras impressões

Há em nós um relógio milimétrico que trabalha as impressões.
Seu visor são nossos olhos.
Se fixam na face da pessoa.
Prescrutam as radiações da sua mente.
Comparam-nas com as suas.
As semelhanças e as diferenças.
Se o saldo for positivo, há condições para um fecundo entendimento.
Se não, se abrem as portas da reserva.
Dificilmente deixará de ser superficial a relação.
O tempo é, por demais, caro para se desperdiçar.
Raramente enganam as primeiras impressões.
Vêem muito mais para lá dos nossos olhos...

Berlim, 24 de Agosto de 2020
9h7m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21286: Blogpoesia (692): "Balancear...", "Salpicos de bem..." e "Será desta", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 23 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21286: Blogpoesia (692): "Balancear...", "Salpicos de bem..." e "Será desta", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Balancear…

Aquele movimento de vai e vem, com tendência para parar.
Até pode ser o ramo longo duma árvore.
Uma carvalha grossa.
Faz o céu duma criança.
Até um adulto gosta de saborear.
Longas tardes, pelo verão.
O chilreio da pequenada.
Depois um banho na poça da fonte.
Ali na mata das Figueiras.
A noite caía sem dar conta.
E a Mãe em casa, com o jantar feito.
E ele não vem.
Quem lhe valia era o Pai.
Se lembrava do que fizera.
Só se é criança uma vez.
É pena, mas não volta mais…

Berlim, 16 de Agosto de 2020
10h24m
Jlmg

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Salpicos de bem...

Com salpicos de bem já se pode erguer um altar.
Onde se cultue o bem-fazer.
Onde a moeda de troca seja o ajudar a quem precisa.
Como erva daninha, o mal se espalha e definha tudo.
E, atrevida, se serve do sol e da chuva com a arrogância dum cidadão com suas contas em dia.
Não há remédio que a mate.
Só o arado, lavrando o chão a fundo, a poderá exterminar.
Por vezes, há que sacrificar os inocentes para se garantir a sobrevivência dos bons.

Berlim, 23 de Agosto de 2020
13h45m
Jlmg

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Será desta?

Espera longa nem sempre rende.
Se a esperança morre nada mais resta.
Esperar é viver de esperança.
Tudo traz o tempo.
Tudo tem sua hora.
Alguém a marca.
Quem espera vence, se não desespera.
Enquanto espero minha alma sonha.
Se, desperta a mente, a alma alcança.
Desistir é sempre perder por pouco...

Berlim, 22 de Agosto de 2020
13h8m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21259: Blogpoesia (691): "Subitamente", "Nada vai com ameaças..." e "Como um rio corre meu pensamento", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 16 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21259: Blogpoesia (691): "Subitamente", "Nada vai com ameaças..." e "Como um rio corre meu pensamento", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Subitamente

Já estava exangue a esperança.
A calamidade avançou por todo o mundo, furibunda, com vontade de matar.
Tombaram milhões inesperadamente. Alguns na tenra idade.
Tantos idosos que ainda tinham esperança para mais uns anitos.
Inclemente, avassalou a terra inteira. Sem olhar a quem. Rico ou pobre. Forte ou fraco.
Foi uma lição para a humanidade transviada.
Os joelhos de muita gente se dobraram, humildes e arrependidos.
Subiram aos céus preces, no segredo de cada leito.
Se encheriam os Santuários, se não fosse o confinamento,
Implorando por um milagre.
E, o facto é que parece estar a retirar-se este mar de aflição.
Cada vez morre menos em cada dia.
Diminuem os acamados.
Oxalá seja verdade e, nunca mais mereçamos outra pior…

Berlim, 12 de Agosto de 2020
8h52m
Jlmg

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Nada vai com ameaças…

Quem ameaça não está seguro.
Pode ser um aviso apenas.
Para tentar conseguir o que se quer.
Umas vezes, funciona outras, não.
A intimidação é um método que usa a imposição.
Afasta, em vez de aproximar.
Ninguém gosta de ser intimidado.
Por isso, sua eficácia está comprometida, desde logo.

Melhor método será a persuasão.
A plataforma que põe as partes no mesmo plano.
Feita com o equilíbrio entre as exigências e as concessões.
Transparência. Verdade e rectidão são as peças chave do sucesso em todos os negócios…

Berlim, 14 de Agosto de 2020
9h17m
Jlmg

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Como um rio corre meu pensamento

Como um rio corre meu pensamento.
Sigo nele mergulhado de corpo inteiro.
Nele lavo minhas mágoas e decepções.
Venho à tona respirar o ar da consolação.
Inalar o odor da esperança.
Respirar a brisa fresca da vida em paz.
Meus passos são passadas rumo ao mundo do sonho e da abundância.
Meu alimento vem na chuva da fraternidade.
Anelo um dia chegar ao mar em segurança.

Berlim, 15 de Agosto de 2020
7h47m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21240: Blogpoesia (690): "Sinceridade", "Espaços vazios" e "A mãe consciência", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 9 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21240: Blogpoesia (690): "Sinceridade", "Espaços vazios" e "A mãe consciência", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Sinceridade

Sinceridade é uma veste que deve vestir toda a gente.
Põe a nu a verdade do que realmente se é.
Quem não a usa quer esconder o que não é.
Se o mundo a deita fora, a mentira cresce, cresce.
Tapa tudo e nada é o que parece.
Não ter em quem acreditar leva à solidão e ao isolamento. Autodefesa.
Ninguém arrisca a ser enganado.

Para que serviria viver sem ter em quem confiar?
Mais valeria ser vegetal.
Uma planta é sempre igual. Da raiz até à coroa…

Berlim, 8 de Agosto de 2020
21h23m
Jlmg

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Espaços vazios

Não se dá importância aos espaços vazios.
E é por eles que tudo decorre.
O que seria do rio sem o espaço adiante?
Formaria uma barragem tão grande, levava tudo à frente.
Onde cavaríamos os caboucos para mais uma casa?
Por mais larga que seja a estrada, entope de carros, sem espaço à frente.
Para que serve a pena com o tinteiro vazio?
Quão penoso é o mês se o salário não chega.
A falta de alguém que de repente partiu e não volta a aparecer…

Berlim, 8 de Agosto de 2020
13h43m
Jlmg

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A mãe consciência

Sempre perto e ao nosso lado, como uma mãe para seu filho, pequeno ou adulto,
Pelos tempos fora.
Algo vai em nós, num local escondido que nem nós o vemos.
Sempre atento a cada passo da caminhada que escolhemos ou nos calhou.
Nos segreda conselhos sobre o que nos é bom ou mau.
Nos aplaude e nos censura, com verdade e prontidão, acerca do que fazemos.
Como lâmpada acesa que alumia nosso caminho, evitando precipícios.
Nos orienta nas encruzilhadas.
Que seria da nossa vida se não tivéssemos esta companhia?
Com certeza. Teríamos baqueado inexoravelmente. Nossa vida seria uma linha imensa tecida de derrotas e de sofrimento.
Bendita companheira que, gratuitamente, nos foi dada por Alguém.
Só quer o nosso bem.
Como uma mãe…

Ouvindo Schubert
Berlim, 4 de Agosto de 2020
17h27m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21223: Blogpoesia (689): Boas férias, cá dentro. Volto em Setembro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845)

domingo, 2 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21217: Blogpoesia (688): "O lavrista", "Escadas sombrias" e "Plangente e lacrimoso", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


O lavrista

Tomou uma pedra. Rude.
Um seixo disforme.
Poisou-a no chão.
Afez-se a ela.
Maço e guilho afiado.
Definiu-lhe a cabeça do tronco.
Delineou-lhe um rosto oval.
Riscou-lhe o nariz.
Um nada adunco.
Traçou-lhe o sobrolho.
Desenhou-lhe a boca.
Adoçada nos lábios.
Abriu-lhe os olhos.
Como fez a Cleópatra.
Espalhou-lhe cabelos na nuca.
A correrem para a testa.
Indeciso, arriscou-lhe a barba. Hirsuta.
Lavrou-lhe as orelhas. Quase escondidas.
Alisou-lhe as faces. Macias. Sem cor.
Adornou-lhe o tronco.
Braços caídos, entre o peito e o ventre.
Vestiu-o dum manto escorrendo-lhe as pregas.
Inebriado. Fitou-o nos olhos.
Soprou-lhe a alma.
Regou-o de vida.
Exclamou a chorar:
- De ora em diante, serás meu irmão!…

Ouvindo Borodin
Berlim, 30 de Julho de 2020
19h28m
Jlmg

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Escadas sombrias

Sobem esconsas as ruelas, sombrias
Que vão do Mondego ao Penedo da Saudade.
Casas brancas, portas estreitas e ombreiras.
Capas pretas. Luarentas.
Desgarradas para as janelas.
Lá no cimo. As estudantes recatadas.
Expectantes.
Amorosas. Saudosas.
Seus amores, em segredo.
Garraiadas. Estrepitosas.
Bem regadas.
Pelas calçadas, sombrias, luarentas.
É Coimbra apaixonada do Mondego.
Do Choupal e da Lapa
A fervilhar. Hospitaleira e orgulhosa.
Pensamento. Sabedoria de primeira, em escola livre e arejada.
Alfobre perene, em combustão...

Berlim, 27 de Julho de 2020
9h49m
Jlmg

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Plangente e lacrimoso

Plangente e lacrimoso o piano chora.
Se desfaz em lágrimas.
Toca triste a melodia.
Veementes rangem suas teclas.
São de dor suas pancadas.
Rio largo, impetuoso, corre em fúria para o mar.
Clama por clemência e esperança.
A humanidade sofre atroz este sinal de ira.
Seus passos se extraviaram da rota da justiça e da fraternidade.
A terra se cobriu de sangue inocente.
Pela voragem insaciável dos poderosos.
Mas, foram, exemplarmente destronados e humilhados.
Jazem no chão incapazes de se eximirem à força desta vaga inclemente que os depôs.

Ouvindo Schubert
Berlim, 26 de Julho de 2020
7h34m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21200: Blogpoesia (687): "O sabor da sabedoria", "Quem haveria de dizer..." e "Desinfestar os males", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 26 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21200: Blogpoesia (687): "O sabor da sabedoria", "Quem haveria de dizer..." e "Desinfestar os males", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


O sabor da sabedoria

É vasto e fundo o mar.
A sabedoria é um mar.
As ideias e os conceitos navegam nele à solta e em liberdade.
A ele recorrem, a toda a hora, os pescadores com suas artes, as mais variadas.
Enchem os seus porões.
Como sardinha ou pescada.
Depois as levam com sofreguidão.
As descarregam, em grande festa, nas bancadas dos mercados.
A seguir são cozinhadas e servidas à mesa das refeições.
Cada cozinheiro tem sua mão.
Dali saem gostosos petiscos que saciam não só o corpo mas também a alma.
É bom e salutar mergulhar no mar da sabedoria a toda a hora...

Berlim, 23 de Julho de 2020
7h56m
Jlmg

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Quem haveria de dizer…

Nasceu de família rica e apalaçada.
Frequentou colégios dos melhores que havia pela redondeza.
Foi para o Porto.
Quis viver sozinho.
Ruelas manhosas.
Crivou-se de vícios.
Mergulhou nas drogas.
Dormia no chão.
Inverno e verão.
Fez-se um farrapo.
Tudo esqueceu.
A família inteira.
Lá na aldeia serrana.
‘Inda espera por ele.
Juiz ou doutor.
Um destino perdido.
Mas a avozinha velha,
Lhe queria tanto.
De pequenino o cuidou.
Todas as noites acendia uma vela.
Senhora da Esperança!
Senhora de Fátima!
Uma fé total.
Há-de aparecer.
...................

Certo dia, pela tardinha,
Apareceu ao portão
Da quinta murada.
Conhecia-o tão bem.
O velho cão logo apareceu.
Se atirou a ele.
A ladrar de júbilo.
A velha criada assomou ao alto,
Lá do escadório,
A ver o que era.
E o cão, de contente, ladrava, ladrava.
Sem lhe fazer mal.
Um pressentimento:
Só pode ser ele.
O Antoninho.
Desceu a correr.
Que grande abraço.
Eu sabia que havia de voltar.
E agora a avozinha?
Seja o Deus quiser.
…................

Que grande festa houve naquela mansão, naquela noite.
Quem haveria de dizer?...

Berlim, 24 de Julho de 2020
7h21m
Jlmg

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Desinfestar os males

Oro ao sol desinfeste as nuvens negras que, de repente, toldaram a terra de tristeza e de angústia.
Secaram os sonhos de viver.
Nos sentimos amordaçados pelo terror do temor.
Ficaram presos nossos passos.
Deixamos de voar com medo das tempestades inesperadas e imprevisíveis.
Temos os olhos entumecidos por pesadelos das noites mal dormidas.
A esperança deixou de brilhar no horizonte.
Soaram a rebate os sinos da aflição.
Parece que o abandono se instalou.
Mas eu, contra tudo e todos, creio vivamente que não estamos abandonados.
Brevemente, há-de vir Alguém, a socorrer e desinfestar todos os males...

Ouvindo Schubert
Berlim, 25 de Julho de 2020
8h23m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21183: Blogpoesia (686): "As multidões..." e "Derramaram prata neste mar ardente", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 19 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21183: Blogpoesia (686): "As multidões..." e "Derramaram prata neste mar ardente", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


As multidões…

As pessoas se amontoam.
Não somam e formam multidões.
Criam um ser novo.
Diferente.
Com alma própria.
Na forma de pensar e de agir.
Por vezes, irracionais.
Dissolvem as pessoas que as formam.
Elegem os seus ídolos.
À sua ordem, com cegueira, cometem crimes de lesa pátria.
Arrastam para o abismo, sem dar conta.
As multidões são capazes de gerar Hitler´s.
Mao´s.
Staline´s,
Mussoline´s
E o que mais ainda poderá vir.
Se calhar, foi uma multidão voraz, a mando dos poderosos, que gerou esta pandemia avassaladora.
Sem vencedores.
Só vencidos e humilhados…

Roses, 15 de Julho de 2020
16h59m
Jlmg

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Derramaram prata neste mar ardente

Derramaram prata neste mar ardente.
Semearam luz neste mar sem fim.
Queimaram fogo como palha a arder.
Secaram sonhos que o tempo levou.
Horas suaves desta tarde de sol.
Um brinde à vida porque a morte vem.

Roses, 16 de Julho de 2020
11h52m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21161: Blogpoesia (685): "A coragem de escolher", "Pinhais de Melides" e "Quando me toca a mim...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 12 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21161: Blogpoesia (685): "A coragem de escolher", "Pinhais de Melides" e "Quando me toca a mim...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


A coragem de escolher

Entre o sim e o não vai quase o infinito.
Ser ou não ser “eis a questão”.
Determinar o caminho.
É sempre pôr de lado outro caminho.
É chegar a outro lado.
É ganhar ou perder.
O tempo é de oiro.
Não se pode perder.
Como estaria eu agora se, lá atrás, tivesse seguido noutra direcção?
Nunca se sabe.
É um drama mesmo.
O reencontro é improvável.
Ser-se limitado é nossa natureza.
O verdadeiro sentido disto transcende infinitamente nossa condição humana.
No fundo, há Alguém a tanger nossos passos pelo caminho que nos tocou.
Essa verdade deve serenar-nos…

Ouvindo Ennio Morricone - The Best of Ennio Morricone
Ericeira, 10 de Junho de 2020
22h3m
Jlmg

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Pinhais de Melides

São verdes e extensos os pinhais de Melides.
O silêncio e o vento os agitam.
O chão é de areia revestida de musgo e feno seco.
Pelo meio, há casinhas brancas e montes ermos.
Tudo caminha calmo.
Até o burrico só se sente bem neste entardecer.
Nunca lhe falta a paparoca e isso basta.
Os fretes são poucos e não há grandes ladeiras para ele atacar de patas.
Sabe bem vir aqui visitar os nossos amigos e quebrar-lhes a quietude.
Eles ficam felizes e nós também.
Pró ano há mais…

Ericeira, 9 de julho de 2020
17h10m
Jlmg

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Quando me toca a mim…

Se o mal cai na casa alheia, se lamenta e a vida segue.
Porém, se cai sobre o meu telhado, tudo é diferente.
A percepção é outra.
Porquê a mim?
Destino ingrato.

Somos todos assim.
Só se aprende bem e certo, sentindo na pele.
Ainda bem que não se pode comprar a sorte nem o destino.
Coitados dos pobres…
Cairiam na escravidão do mal.
A insegurança geral é um freio.
Um acicate.
Morigera os costumes e dá moral ao viver.

Ouvindo melodia do filme – Lista de Schindler.
Ericeira, 6 de Julho de 2020
14h37m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21141: Blogpoesia (684): "Noite negra...", "Renascer..." e "Se, de repente...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 5 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21141: Blogpoesia (684): "Noite negra...", "Renascer..." e "Se, de repente...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


Noite negra…

Sem estrelas nem luar, a noite fica negra de breu.
Nada puxa ao sonho.
Medonha.
Boa para assaltos pelos caminhos ermos.
Melhor ficar em casa.
À lareira ou sob a manta de estopa.
Boa para contar contos à lareira.
De fadas ou almas penadas.
Se silvar o vento pelas frestas dos telhados.
O pior eram os pesadelos que vinham a seguir sobre o travesseiro.
Lembro-me duma noite longa de vendaval.
De manhã, só se viam ramos de pinheiro e eucalipto pelo chão dos montes.
Foi bom para quem pôde comprar toros de pinheiro a bom preço.
Meu pai foi um deles…

Ericeira, 3 de Junho de 2020
19h42m
Jlmg

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Renascer…

Como um rio largo e vigoroso a vida corre. Abundante e cheia de vida.
Nos banha com suas forças.
Renascendo em nós em cada manhã.
Naveguemos bem. Alegres por estarmos nela.
Frutificando intenso e muito, cada um de nosso jeito, conforme nossos talentos.
É longo o seu cortejo sobre a terra.
Com altos cumes beijando os céus e vales profundos onde abundam os mistérios.
Não vamos ao deus-dará.
A esperança é nossa energia.
Nossa viagem tem seu rumo e porto.
Onde haveremos de chegar festivamente.
Finalmente a paz…

Ouvindo Ennio Morricone - (2002) La Misión [Suite Orquestal]
Ericeira, 30 de Junho de 2020
9h36m
Jlmg

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Se, de repente…

Se, de repente, me saísse a sorte grande, ficaria atónito.
Acalmaria meu espírito.
Para apurar que fazer a tanto dinheiro.
Quem haveria de beneficiar, além dos mais próximos. Os familiares.
Ficar com tudo só para mim seria a destruição total da minha vida.

Mas, se de repente, inesperadamente, fosse acometido por uma doença grave, seria muito pior.
Não há dinheiro ou riqueza que pague a riqueza de ter saúde.
A vida só tem cor se ela reinar em nós.
Se bem que se possa ser feliz mesmo que apanhamos por uma doença.
Tudo vem da dimensão de valores que partilhemos.
Designadamente a espiritual…

Ouvindo Schubert
Bar 7 Momentos, arredores de Mafra,
9h7m
Jlmg
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Nota do editor

Poste anterior de 28 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21116: Blogpoesia (683): "Me agarro à vida...", "Sobraram canhões e castelos" e "As ideias", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 28 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21116: Blogpoesia (683): "Me agarro à vida...", "Sobraram canhões e castelos" e "As ideias", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


Me agarro à vida…

Adoro viver. Agarro a vida como um leão.
Fujo das jaulas que me prendem os movimentos.
Desato as laçadas todas com que tentam prender-me.
Escarneço dos ociosos e parasitas que não sabem o que fazer dela.
Desfaço os ataques da preguiça com banhos de água fria.
Agarro-me às fragas com garras duma águia atenta.
Não desespero de me livrar das tendências más que a natureza inoculou e me puxam para o abismo.
Recuso a escravidão.
Quero respirar sempre o ar puro da liberdade…

Ouvindo Rachmaninoff plays Piano Concerto 2
Bar 7 Momentos, 22 de Junho de 2020
10h25m
Jlmg

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Sobraram canhões e castelos

Pelo mundo fora, no alto dos montes, sobraram canhões e castelos.
Não acabaram as guerras.
Não há vencedores.
Imensas derrotas enchem os palcos.
Humilham os fortes.
Vingam humildes.
Desfeitiam arrogantes.
Despedaçam a paz.
Roubam as vidas.
Afugentam a esperança.
Invenção diabólica disseminada no mundo.
Mundo pirata.
Qual o sentido?
Se, ao menos, aprendessem a lição.
Ditadores e piratas, espécies famintas.
De sangue e de ódio.
Piores que as pestes.
Não há quem os farte…

Ouvindo Brahms - Piano Concerto No. 1 | Hélène Grimaud, Piano
Bar Castelão em Mafra, 24 de Junho de 2020
Jlmg

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As ideias

Elas andam por aí.
Famintas. Buscando o pólen das muitas flores.
Para fabricarem o mel.
Há quem o espere sedento.
Alimento suculento.
Neste mar de torpor.
Acre e doloroso.
Eu as apanho com manha de raposa.
Saltitantes.
Me afeiçoa a elas e faço jogos de palavras.
Teço versos coloridos com pena de pintor.
Me extasio ao ver um quadro harmónico na paleta.
Onde os claros e escuros se combinam com o feitiço da harmonia.
Depois, leio-os, do começo ao fim, como um pai embevecido…

Ouvindo Schubert
Bar 7 Momentos, 25 de Junho de 2020
10h24m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21096: Blogpoesia (682): "Terra negra, Terra negra, seca", "Rostos mascarados" e "Sábios e presunçosos", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 21 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21096: Blogpoesia (682): "Terra negra, Terra negra, seca", "Rostos mascarados" e "Sábios e presunçosos", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


Terra negra Terra negra, seca.

Escalvada pelo estio gritante.
Nem sequer lagartos, minhocas atrais.
Uma camada de erva queimada te cobre.
Pareces a morte.
Só depois da primavera te vestirás de verde.
Virá o arado. Te desventra.
Ficas exposta.
O sol te emprenha de vida, outra vez.
Cai-te a semente.
E um manto verde reverdece.
Cria fruto.
Muitas espigas. Em cada caule
É o milagre da Natureza que acontece cada ano aos nossos olhos.
Até os cegos o vêm com os da alma…

Ericeira, 14 de Junho de 2020
19h54m
Jlmg

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Rostos mascarados

Eis que, do pé para a mão, se mascararam os rostos, não de vergonha, mas de medo subterrâneo.
Esse sentimento oculto que só rebenta quando o perigo vem e ameaça.
Uma praga ingente grassou na nossa época.
Súbita e inesperada.
Ficará na história das calamidades que avassalaram a humanidade inteira.
Sem distinções.
Não há fortes, fracos ou poderosos que consigam eximir-se.
Só esta cortina simples frente às narinas lhe faz frente tentando impedi-la de entrar.
Uma avalanche de mortos eclodiu, vencendo toda a resistência das medicinas.
Uma humilhação total para a arrogância que, oxalá, irá mudar nossa forma de estar no mundo em convivência…

Ouvindo Zubin Mehta and Khatia Buniatishvili
Mafra, café Castelão, 15 de Junho de 2020
9h38m
Jlmg

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Sábios e presunçosos

Não me revejo nos sábios e presunçosos que pululam por essas praças.
Nem nos inchados que pregam de barriga cheia de gorduras e gulodices.
Nem daqueles opíparos que só aparecem quando a vida lhes corre bem.
Fujo a sete léguas dos pés descalços que, num repente, viraram ricos, ninguém sabe bem como foi.
Prefiro caminhar sozinho.
Trago em mim a marca das distâncias.
Cair no abismo não quero a todo o custo.

Ericeira, 16 de Junho de 2020
13h43m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21076: Blogpoesia (681): "Chave de fendas", "A última noite" e "A primeira noite", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 14 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21076: Blogpoesia (681): "Chave de fendas", "A última noite" e "A primeira noite", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


Chave de fendas

Objecto minúsculo e discreto, tecido de aço,
Dotado da força, quase infinita
Duma alavanca potente.
Remove a teimosia com suas garras.
Capaz de erguer o mundo.
Quebra as cascas.
É arguta.
Busca na noz só o miolo.
Arma escondida.
Se ostenta branda no seu gume atroz.
Quem a tem consigo é capaz de desandar o mundo.
Escancara os cofres e abre as algemas.
Desafia as cadeias e abre as cancelas.

Cuidado!
A chave de fendas faz dum anão um gigante,
bom ou ladrão...

Mafra, 7 de Junho de 2020
8h58m
Jlmg

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A última noite

Durmo hoje a última noite na casa de Mafra.
Um sonho que acaba.
Sonhamo-la como um ponto de encontro da família total.
À beirinha do mar e do campo.

Os ventos da vida nos arrastam para longe.
Netos e filhos. Apelos ingentes.
Que não se podem negar.
O coração perdeu em favor da razão.
Não fazia sentido mantê-la.
Mas dói que se farta.

Um lenitivo:
Uma família jovem e numerosa a vai saborear…

Ouvindo a 7.ª sinfonia de Beethoven
10 de Junho de 2020
21h35m
Jlmg

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A primeira noite

Pela derradeira vez fechei a porta da velha casa.
Carreguei no carro os últimos caixotes e vim para a casa nova.
Um T0 duma moradia em turismo de habitação.
Tomamos a primeira refeição
– O jantar.
A dona presenteou-nos com um bolo caseiro feito por si.
E uma garrafa de “Redondo”. Carrascão.
Estamos cansados, mas felizes.
Uma nova etapa se abre.
Uma lição recebemos desta contingência dolorosa e inesperada.
Despimos a casa dum recheio mirabólico.
O que se vai acumulando no compra-compra.
Compra-se e não se usa.
Tivemos de nos desfazer de tudo porque ninguém apareceu para comprar.
Só a satisfação de nos ver livres já recompensou.
Temos só o que coube no carro.
Somos ricos porque temos a liberdade de avançar para Berlim.

Ericeira, 11 de Junho de 2020
20h49m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21051: Blogpoesia (680): "Nem sol a mais", "Minha alma é uma viola" e "Terror do sexo...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 7 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21051: Blogpoesia (680): "Nem sol a mais", "Minha alma é uma viola" e "Terror do sexo...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


Nem sol a mais. 
Nem sal a menos.

Tudo deve ser moderado. 
O elástico rebenta 
Se for demais esticado.

Mais vale esperar um minuto, 
Que a chuva passe 
Que apanhar uma molhadela 
De ir para a cova.

Sossega-se mais 
Com uma vida cheia 
Que andar ao alto 
E morrer à seca.

Quantas vezes se ganha mais 
Em não ir à feira. 
Porque a boa sorte, 
Bate sempre à porta 
Quando passa. 

Berlim, 6 de Junho de 2014 
8h57m 
Joaquim Luís Mendes Gomes

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Minha alma é uma viola

É uma viola a alma que eu dedilho com estes dedos mortais.

Suas cordas tocam as melodias que só minha mente ouve.

Adormeço com meu cansar dos dedos... 
e sonho tocando versos 
que apenas são sonho.

Quero tocá-los 
e cantá-los nestas cordas tensas. 
Até que rebentem.

Escrevo-os na pauta de cada dia 
e os solto ao vento, 
como quem abre a porta duma gaiola.

Fico a vê-los desaparecer 
no ar. 
Não sei para onde eles vão. 
Tenho a esperança 
de que poisem nos quintais e hortas 
onde há pão e vinho 
para colher.

De casinhas brancas, 
com portas e janelas rubras, 
brilhando ao sol...

Lá dentro, só Deus sabe o que se passa.

Sejam a bênção... 
a palavra certa na hora certa... 

ouvindo a diva Maria Betânia... 
Berlin, 6 de Junho de 2015 
14h24m 
Joaquim Luís Mendes Gomes

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Terror do sexo...

O sexo domina o mundo. 
Tudo gira à força dele. 
Se brota do coração, 
É o amor que reina.

Se não, é o terror do mal. 
Egoísta. 
Dominador. 
Tudo devora.

Gera só ódio. 
É o pai da guerra. 
Tudo avassala. 
Erva daninha. 
Se sobe ao poder, 
Espalha o terror 
Sem qualquer escala.

O mundo é pequeno. 
Para tamanha avidez. 
Nada respeita. 
Tudo conquista 
Para sua mesa.

Desfaz a presa. 
Goza com ela. 
E joga fora. 
Pior que a selva.

Joga a dinheiro. 
Vai para o casino. 
Desbarata tudo. 
Fica feroz.

E volta de novo. 
Se veste de santo. 
Como um senhor. 
Assalta inocentes. 
Despe-os ao frio.

Joga-os fora 
Volta ao governo. 
Como um malvado. 
Tudo lhe serve 
Para seu reinado.

Como seria o mundo, 
Se o amor brotasse 
Do coração do rei!... 

Berlim, 5 de Junho de 2014 
14h29m 
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21040: Blogpoesia (679): 1.º Dia de praia Covid (José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp)

domingo, 31 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P21027: Blogpoesia (678): "O mugido das vacas", "Amarelo e bolorento" e "Vamos voltar a sorrir", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


O mugido das vacas

Na hora suave da tarde se ouve e ressoa na aldeia o mugido lactente das vacas.
É a hora da ordenha.
Se põem de cócoras por debaixo e lhe espremem as tetas.
Escorre quente o leite.
Depressa, ficam cheios os potes.

Pela manhã, de cântaro à cabeça, a lavradeira corre as veredas da aldeia.
Aqui, um quartilho, ali uma canada, conforme as bocas.
É seu ganha-pão com a bênção dos pastos.
Bendita a sorte que a Natureza, de graça, nos dá.
Só é preciso semear e colher.
Louvado seja o Senhor…

Mafra, 24 de Maio de 2020
10h32m
Jlmg

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Amarelo e bolorento

Espalhado pelo chão, apodreceu amarelo e bolorento.
Restos duma vida mal vivida.
Repassada de angústia.
Crestada de desilusões.
Sonhos que se desfizeram no amanhecer.
Armas que derreteram na madrugada do combate.
Amarras que se desfizeram presas às muralhas do porto de abrigo.
Gaivotas amarguradas com o rigor das ventanias.
Restos da saliva amarga que amargou os sonhos de aventura.
Ocasos desfeitos num horizonte de promessas e de amargas desilusões.
Esperanças vãs que se desfizeram para sempre…

Mafra, 28 de Maio de 2020
12h35m
Jlmg

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Vamos voltar a sorrir

A onda vai passar.
Vamos voltar a sorrir.
Timidamente, primeiro.
Depois, às gargalhadas.
Vamos duvidar se, de facto, aconteceu o que passou.
Atordoados.
Nunca ninguém previu tal humilhação.
Tudo ficou remexido.
Ninguém escapou a este vendaval.
Como a água que chega a todo o lado,
Não há um palácio ou um castelo imune.
Os presidentes andam desvairados.
Fogem do vírus como o diabo foge da cruz.
Alguns já sucumbiram.
Os outros mudam de quarto de dormir em cada noite.
Oxalá aprendam com esta lição tão cara…

Mafra, 28 de Maio de 2020
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Maio de 2020 > Guiné 61/74 - P21005: Blogpoesia (677): "Nossas amarras", "O cesteiro das Idanhas" e "Disponibilidade das pétalas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 24 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P21005: Blogpoesia (677): "Nossas amarras", "O cesteiro das Idanhas" e "Disponibilidade das pétalas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


Nossas amarras

Não nascemos soltos e livres.
Trazemos dentro novelos de amarras.
Tolhem-nos os gestos e os rasgos que brotam naturais.
Põem-nos à prova a capacidade de reprimir tendências e inclinações.
Somos híbridos nas nossas manifestações.
Temos ânsias de infinito e de perfeição.
Por outro lado, há chamamentos obscuros que nos apelam.
Nem sempre para o bem e a perfeição.
Temos de chamar a vontade e a razão para refrear nossas inclinações.
Nem sempre boas e puras.
Nascemos com algemas no corpo e na alma...

Mafra, 17 de Maio de 2020
12h48m
Jlmg

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O cesteiro das Idanhas

Uma casinha baixa, comprida, ali à face da estrada que vai para a vila.
Existiu ali um cesteiro. Trabalhar o vime era sua arte.
A família ia buscar a matéria-prima na borda do rio. Varas de salgueiro verdes.
Estavam em molhos, encostadas à parede da casa.
A elas recorria para fazer uma giga, um açafate ou, sei lá que mais.
Trabalhava o dia todo. À vista da gente que passava.
Lembro o cheiro forte que se exalava daquelas varas.
Não era agradável.
Mas, a simpatia e a simplicidade tudo suplantava.

A evolução dos tempos destronou o vime.
O malfadado-bem-amado plástico tomou conta de tudo…

Mafra, 17 de Maio de 2020
17h42m
Jlmg

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Disponibilidade das pétalas

As pétalas se abrem ao sol.
Se dispõem a tudo.
Se pintam às cores.
Em prole da fertilidade.
Insinuam.
Pintam a manta.
Seduzem insectos.
Buscam o pólen.
Adejam as asas.
Bailam ao vento,
Com véu de rainhas.
Ficam expectantes.
Querem reinar.
Dispostas a tudo,
Enquanto seu viço durar...

Mafra, 23 de Maio de 2020
15h21m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20982: Blogpoesia (677): "Se a vida fosse um mar...", "Tardes suaves" e "Fugir da terra...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 17 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20982: Blogpoesia (677): "Se a vida fosse um mar...", "Tardes suaves" e "Fugir da terra...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


Se a vida fosse um mar…

Seria azul a vida, se a vida fosse um mar.
Seria um céu.
Com sol, aceso, de manhã à noite.
Haveria baile a toda a hora.
Com as ondas a bailar.

Haveria lendas e caravelas.
Velas pandas. Nautas perdidos.
Buscando estrelas.
Na solidão da noite.

Brotariam sonhos.
Paixões a arder.
Morreria a dor.
Não haveria fim
E o mal também.

Se calhar, tudo seria eterno.
Haveria paz…

Ouvindo Peaceful Music, Relaxing Music, Instrumental Music "Beautiful Norway" By Tim Janis
Mafra, 13 de Maio de 2020
17h20m
Jlmg

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Tardes suaves

Horas suaves à mesa
Na esplanada do café
Nesta praça de Évora.
Década de sessenta.
Cumprindo a tropa.
RI-16.
Juventude em pujança.
O futuro era a esperança e o sonho.
As tardes eram escaldantes.
Por bosques e montados.
Calcorreando veredas.
De "mauser" ao ombro.
De fato zuarte,
Suando as estopas,
Robustecendo pernas e braços,
Conquistando moinhos.
Ao cabo de meses,
Partíamos para África.
Não mercenários.
Na defesa da Pátria.
Entregues à sorte.
Os anos passaram.
Dezenas.
Favor do destino.
Hoje eu relembro as tardes de Évora.
Emoção e saudade...

Mafra, 14 de Maio de 2020
10h55m
Jlmg

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Fugir da terra...

Fugir da terra para o refúgio do mar
Há ventania e tempestade na terra.
Tornou-se impossível viver.
Rugem ferozes elementos mortíferos.
Sem distinção, atacam indefesos,
Desarmam pobres e ricos,
poderosos e fracos.

Só dá para fugir.
Ficar é morrer.
A não ser que a clemência divina
nos venha valer...

Mafra, 12 de Maio de 2020
10h46m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20959: Blogpoesia (676): "Não matem a lagartixa", "Um raio de sol" e "Oração à sabedoria", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728