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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P23040: Pequeno resumo dos dois anos em que estive na guerra (Joaquim Jorge, ex-alf mil, CCAÇ 616 / BCAÇ 619, Empada, 1964/66) - Parte I: 1964: 30 de maio, um ataque de seis horas!


Foto n.º 1 > Alguns dos ainda aspirantes a oficiais milicianos, do BCAÇ 619 , poucos dias antes do embarque para a Guiné: o 1.º da esquerda, sou eu, da CCaç 617; o 6.º é o médico da CCaç 617, Folhadela de Oliveira, o 7.º é o Montes, da CCaç 618 , o 8.º (e último), é o Joaquim da Silva Jorge, da CCaç 616.



Foto n.º 2 > Guiné > Bissau > Janeiro de 1964 > Alguns oficiais milicianos do BCAÇ 619: o 2.º sou eu e o 3.º é o Joaquim Jorge, assinalado com cercadura a amarelo.

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Joaquim Jorge, Ferrel, Peniche. 
Foto: LG (2015)


1. Mensagem de Joaquim [da Silva] Jorge, régulo da Tabanca de Ferrel / Peniche, ex-alf mil, CCAÇ 616, Empada, 1964/66, BCAÇ 619, Catió, 1964/66), bancário reformado, ex-autarca e ativista comunitário; tem 17 referências no blogue; entrou para a Tabanca Grande em 2015:




Brasão da CCAÇ 616 (Empada, 1964/65).
A divisa, em latim, "Super Omnia", quer dizer "acima de tudo". 
Foto do álbum do  Francisco Monteiro Galveia 
(ex-1º cabo op cripto, vive em Fronteira)  (*)


CCAÇ 616 > Empada, 1964/66 > Pequeno resumo dos dois anos 
em que estive na guerra 

por Joaquim Jorge

Parte I - 1964: 30 de maio, um ataque de seis horas!


Quando chegámos ao “mato”, a Empada, para rendermos a companhia de caçadores 417 (**), encontrámos, primeiro por conversas com os camaradas que iam embora e depois pelos acontecimentos que se seguiram, encontrámos, dizia eu, uma situação deveras alarmante não só na questão operacional como também no tocante à precária condição de existência dos três mil nativos que compunham a população local. 

Não quero dizer com isto que tenha havido negligência por parte dos nossos antecessores. Eles fizeram a sua obrigação; portaram-se como todos os outros e como nós, pois não éramos diferentes, mas a guerra tinha começado ainda não havia um ano e o número de inimigos crescia. 

Foi com séria apreensão que encetámos a nossa campanha em Empada, uma pequena “vila” no sul da Guiné. Sabíamos que mais dia, menos dia teríamos de nos encontrar com os nossos inimigos ou teríamos a sua visita sempre aborrecida pelas consequências que daí advinham para o nosso reduto, o que equivale a dizer para a “tabanca” de Empada. 

E o certo é que nossa apreensão inicial não foi iludida… Estávamos lá há quinze dias quando o inimigo deu o primeiro sinal de que não queria deixar, de pé para a mão, de pensar em destroçar pessoal ou palhotas (moranças) de Empada. 

Talvez por não terem sido bem sucedidos nesta primeira incursão vissem que da maneira como tinham actuado não podiam ter o êxito desejado; então reorganizaram-se, pediram reforços a outros locais seus afectos e na noite de trinta de Maio tentaram aquilo que eles consideravam o fim de Empada. 

Nós nessa altura éramos um tanto inexperientes, “maçaricos” como se dizia na gíria militar; a maior parte dos militares da companhia ainda não tinha tido o chamado, na guerra, “baptismo de fogo” e nas primeiras horas (pois o ataque durou seis!!!),  andámos confundidos no meio de tiroteio infernal. 

Graças a Deus não houve muito perigo para nós, pois além de estarmos entrincheirados nos abrigos ao redor do quartel, o fogo inimigo passava muito alto e, além disso, tínhamos em redor das “tabancas” um grande número de voluntários nativos armados que aguentavam a pé firme os primeiros embates. 

Raiava o último dia do mês quando tudo sossegou… E até meados de Julho deixaram-nos viver com relativo sossego, sossego esse aproveitado por todos nós, (oficiais, sargentos e praças) para ajudarmos a população na reconstrução da sua vida normal, interrompida pela constante aflição e preocupação no tempo dos nossos antecessores, pois não lhes era permitido ausentarem-se da “tabanca” para procurarem os alimentos e daí pode calcular-se a miséria que grassava em Empada…

Cheguei a contar numa refeição duzentas e cinquenta crianças, todas nuas, de lata na mão, a irem ao encontro da “vianda” (comida), feita pela Companhia propositadamente para elas… Era a psico-social em funcionamento e a recuperação da confiança em todos os nativos. Escoltas para manter a segurança aos civis nativos que iam ao cajú e à manga, frutos preponderantes na sua alimentação, e autênticas rusgas a oito e nove quilómetros de Empada para colheita de cola, elemento essencial na riqueza da Guiné, foram levadas a cabo para tentarmos amenizar a fome. 

Como já atrás referi, o inimigo “deixou-nos” mais ou menos e com algum condicionalismo trabalhar nesta missão civilizadora até ao dia dezasseis de Julho, altura em que tentaram por todos os meios e em força invadir e destruir a “tabanca” e o quartel de Empada, matando a população e os militares. Eram estes os seus objectivos. 

O anterior ataque de trinta de Maio ensinou-nos muito; fizemos em conjunto uma análise a tudo o que se passou nessa noite e agora estávamos mais experientes e preparados e tínhamos tudo organizado para os “receber”. Não tiveram qualquer espécie de sorte pois viram desaparecer do rol dos vivos mais de quatro dezenas de homens, além da perda de armas e munições. Foi, diga-se, o remate psicológico nas pretensões do inimigo pois pode considerar-se que não mais tentaram penetrar em Empada. 

Não quero dizer com isto que eles deixaram de nos “visitar”. Nada disso. Simplesmente quando iam era só com intenção de flagelar, e de longe, para não sofrerem de novo os reveses sofridos na heroica (para nós) noite de dezasseis para dezassete de Julho. Até aí e sempre nunca descurámos os patrulhamentos pelas redondezas, estranhando que “eles” não se atravessassem no caminho com emboscadas ou implantações de minas traiçoeiras na terra mole dos caminhos. Também mantínhamos o cuidado constante de cortar o capim e o mato ao longo dos caminhos para dificultar ao inimigo a montagem de emboscadas. Tudo tínhamos planeado para garantir a segurança da população e a resolução do problema da sua subsistência. 

E trabalhámos arduamente para a resolução destes dois problemas. Não saía do nosso pensamento a ideia da criação e organização de uma companhia de milícias com os homens e jovens de Empada. Como comandante de Companhia expus esta ideia ao comandante de Batalhão e ao Governador e Comandante-Chefe da Guiné General Arnaldo Schultz que me apoiaram plenamente. 

Numa população de cerca de três mil pessoas conseguimos a adesão de cerca de duzentos voluntários que durante os meses de Novembro e Dezembro receberam instrução militar dada pelos oficiais e furriéis da Companhia e conseguimos organizar duas companhias: a 6.ª Companhia de Milícias comandada por Dauda Cassama e a 7.ª Companhia de Milícias comandada por Malan Sambu que seguiu para Jabadá para apoiar o Batalhão sediado em Tite. Connosco em Empada ficou a 6.ª Companhia. Os comandantes de companhia Dauda e Malan bem como os comandantes de pelotão foram promovidos a “Alferes de Segunda Linha”. 

Todos os elementos da companhia de Milícias ou “Voluntários”, como nós lhes chamávamos, passaram a receber seiscentos e setenta e cinco escudos por mês  e nos dias em que faziam patrulhamentos ou outros tipos de operações militares tinham direito a alimentação. [675$00, em dinheiro da metrópole, em 1964, equivaleria hoje a 277,92 €;  na Guiné, o escudo ou o peso, sofria ums desvalorização de 10%. LG ]

Sem dúvida que a constituição das companhias de milícias veio alterar, por completo, a vida das gentes de Empada, pois o ordenado fixo mensal veio dar possibilidades à resolução do problema há tanto tempo em causa: o problema da fome. Subiu o nível de vida do nativo, embora alguns não tenham sabido aproveitar completamente essa ascensão.

(Continua)


Guiné > Região de Quínara > Carta de Empada (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Empada e, a sudeste, Ualada, onde a CCAÇ 616 tinha um pelotão destacado, (*)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de fevereiro de  2019 > Guiné 61/74 - P19495: Consultório militar do José Martins (39): Ficha do Batalhão de Caçadores 619 (Catió, 1964/66)

(**) Vd. poste de 22 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15780: Consultório militar do José Martins (18): Forças Militares Portuguesas que passaram por Empada

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20668: Em bom português nos entendemos (25): Bicha de pirilau... Expressão da gíria militar do nosso tempo, ainda não grafada nos dicionários... Será que continua a incomodar o senhor general?



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > S/l > s/d > Progressão em coluna apeada, ou em fila indiana  (no mato, no CTIG, dizia-se: "bicha de pirilau")

Foto (e legenda): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. No Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, que é o que está mais à mão, não consta a expressão, "bicha de pirilau"... Só vêm os vocábulos "bicha" e "pirilau".  No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, onde há tudo como na farmácia, desta vez não encontrei o que pretendia...

No Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas, de  José João Almeida (Projeto Natura, Universidade do Minho),  idem, aspas... Também no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa ninguém teve, até agora, a  curiosidade em saber o seu significado e a sua origem... Há, no entanto, uma entrada sobre "bicha" e "fila"...

Resta o nosso blogue... A locução ou expressão "bicha de pirilau" aparece amiudadas vezes nos nossos postes... Cite-se, por  exemplo, o nosso saudoso Luís Faria (1948-2103), ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791 (Bula e Teixeira Pinto, 1970/72):

(...) "O amanhecer não tardaria muito quando deixámos a estrada e entrámos no desmatado, avançando em longa bicha de prilau para a mata e continuando numa progressão atenta, ziguezagueante e tanto quanto possível silenciosa, atendendo ao número de elementos, com o objectivo de detectar e interceptar um grupo IN presumivelmente numeroso, que por lá se movimentaria". (...) (*)

O vocábulo feminino "bicha de pirilau" já fazia parte do léxico militar, em 1964, aquando da Op Tridente, a avaliar pela descrição das peripécias na ilha do Como, aqui feita pelo nosso querido camarada  Mário Dias, 2º sargento comando (Brá, 1963/66):

(...) "Atravessado sem percalços este obstáculo natural, eis – nos na extensa bolanha que se estende até Cauane e à mata de Cachil mais a Norte. Aí, só era possível andar sobre os estreitos ouriques pelo que lá vamos nós em coluna por um (a célebre "bicha de pirilau", na gíria militar)" nada aconselhável em terrenos descobertos. (...) (**)

No Pequeno Dicionário da Tabanca Grande (***), há esta entrada:

"Bicha de pirilau - Progressão, em fila, no mato, mantendo cada homem uma distância regulamentar de segurança (gíria); o mesmo que fila indiana." 


Carlos Silvério, grã-tabanqueiro nº 783
2. Tudo isto vem a (des)propósito de um comentado inserido no poste P20655 (****), em o nosso cap inf ref José Belo anuncia, à Tabanca Grande, a reabertura da sua Tabanca da Lapónia:

Comentário de Luís Graça, com data de 16 do corrente:

Meu caro José:

Ando há tempos com um pedido do meu/nosso camarada Carlos Silvério, de Ribamar da Lourinhã, terra de lobos do mar... Para mais é meu primo, porque casou com a Zita, que pertence ao clã Maçarico, tal como eu... Além disso, o Carlos é também primo do tenente general Luís Silvério, filho ilustre da terra... Enfim, somos um país em que somos todos (ou quase todos) primos uns dos outros...

Mas adiante... O Carlos Silvério, nosso grã-tabanqueiro nº 783, ex-fur mil at cav, CCAV 3378 (Olossato e Brá, 1971/73) (...) tem uma pequena questão a pôr-te:

Quando ele passou pelo RI 5, Caldas da Rainha, como monitor de recruta do CSM (Curso de Sargentos Milicianos), entre setembro e dezembro 1970, ele ficou com a ideia de que tu estavas lá, como instrutor, eras alferes miliciano, acabado de regressar da Guiné...

Bate certo ? Um belo dia apareceu lá um senhor general que quis certificar-se da excelência da formação dada aos futuros sargentos milicianos... E terá supervisionado uma das tuas aulas práticas... Às tantas, falavas tu da tua experiência operacional no TO da Guiné, em 1968/70, quando usaste a expressão "bicha de pirilau"...

Parece que o general ficou "piurso", saltou-lhe a mola e deu-te uma valente reprimenda ("piçada"):

- Senhor alferes, no exército português não há bichas de pirilau!... Os nossos militares, no mato, na Guiné, em Angola, em Moçambique, andam em fila!... Ponha isso no seu léxico!...

O Carlos não sabe porque é que o senhor general afinou com a expressão "bicha de pirilau"... Seria uma reacção... homofóbica"?...

Bem, para o caso não interessa, o Carlos só me pediu para confirmar se o instrutor eras... tu. Se sim, a história é divertida... Se foi com outro instrutor, a história continua a ser divertida na mesma. (...)



José (ou Joseph ou Joe) Belo, um capitão de infantaria
que a Pátria / Mátria / Fátria tramou...
3. Resposta  do José Belo, que também se assina Joseph (na Suécia) e Joe (nos States):

Caro Luís

Näo recordo a história referida. "Correcöes" por parte de Senhores Oficiais Generais... tive a honra de receber algumas durante a minha vida militar, principalmente no período indicado do... pós regresso da Guiné.Daí ser muito possível que fosse eu.

Era um termo muito usado pelos instrutores "Infantes", mesmo na casa mãe em Mafra. O feliz termo "pirilau" não tinha neste contexto quaisquer associações com homossexuais. Creio ser um termo que era vulgarmente usado pelos vindimeiros no Norte, obrigados pelo terreno a caminhar em fila (!) por sinuosos carreiros.

A única correção que poderei fazer é o facto de que na data indicada já näo era Alferes Miliciano.
Parabéns ao camarada Carlos Silvério pela sua memória, muito melhor que a minha,felizmente cada vez mais "gasta" quanto a tudo (o muito!) que foi militar na minha vida. (...)


4. Comentário do nosso editor Luís Graça:

Desculpa, José, ou Joseph, ou Joe, conforme onde tu estejas (, e nunca ninguém sabes onde estás "just in time"...), mas o senhor general tinha razão... No Exército Português não há (ou não havia...) "bichas", mas "filas"... Muito menos "bichas de pirilau"...

Esta última expressão vê-se mesmo que era de gente "apanhada do clima"... "Fila" é que era linguisticamente correto: os mancebos, nuinhos, de pilau murcho ao frio, quando iam às "sortes, esperavam em "fila", não em "bicha", a vez de serem chamados, observados, apalpados, pela junta médica que depois os considerava aptos ou inaptos para a "função", que era... "morrer em fila, organizados"... na frente da batalha!...

Se calhar o senhor general nunca esteve na Guiné e não sabia o que era a "guerra de guerrilha", ou "guerra subversiva". Estudou, pois,  por outros canhenhos... Mas tu estiveste lá, no coração do mato, em Empada, em Bula, em Mampatá,  na região do Forré, sabias do que falavas aos instruendos do CSM, nas Caldas da Rainha...

E portanto eu reconheço-te autoridade para "grafar" a expressão... Só não entendo a reação (, algo destemperada, a crer na versão do Carlos Silvério...) do general que te deu a "piçada"... Mas, enfim, devia ser um daqueles generais da brigada do reumático que nunca foi à guerra e, como tal, era incapaz de imaginar uma fila de trânsito no mato, de gente apeada, 250 homens / 8 grupos de combate, de G3 em punho, a progredir em direção ao Poindom ou à Ponta do Inglês, e ao banho de sangue que os esperava... (Vd. o que eu aqui já escrevi sobre a Op Abencerragem Candente, subsetor do Xime, Setor L1, Bambadinca, 25-26 de novembro de 1970, estavas tu a dar instrução aos instruendos do CSM, nas Caldas da Rainha...).

Era, vista de cima, do PCV, da DO 27, uma "bicha" de todo o tamanho, entre mil a mil e quinhentos metros... partindo-se do princípio que entre cada combatente havia um espaço de 4/5 metros... ou às vezes mais...


5. O mais surpreendente é que os lexicógrafos desconhece-se a expressão "bicha de pirilau" !...E mesmo na Net, e à exceção do nosso blogue, é difícil apanhá-la... Ele há bicha-de-rabear, ele há bicha-de-sete-cabeças... mas "bicha de pirilau",... cá tem.

Em todo o caso, encontrei este "delicioso apontamento" sobre a expressão "bicha de pirilau", num blogue com um título deveras original (e muito "feminista"), de Maria Brojo:   "Sem Pénis Nem Inveja":

Domingo,  5 de novembro de 2006 > Bicha-pirilau

(...) Fomos assaltados. Roubados. Espoliados do significado de termos que eram nossos até o português exportado do Brasil os ter censurado cá, por serem pejorativos lá. Bicha foi um deles. Fila passámos a dizer, não fossem os «bichas» - homossexuais, paneleiros, abafadores da palhinha na gíria portuguesa - ficarem numa espera confundidos.

Bichas eles ou as gentes em carreira esperando a vez? As novelas brasileiras tiveram o (des)mérito de obrigar ao volteio do português escorreito. Banais acrescentos como lingerie, hobby, gays ou stress? Talvez, mas por pertencerem a língua comum falada em continentes diferentes, formiga dos termos a adopção.

Bichas há muitas: gatas e cadelas, fila indiana, ficar como uma bicha (fulo, danado), ver se as bichas pegam (tentar obter o desejado), bicha-pirilau.

Esta é, de longe, a mais impressiva. Usada no mundo militar, é gritada por sargentos aos recrutas temerosos se alinhar é preciso. Um "bicha-pirilau" trovejado,  com voz de comando por arregimentado façanhudo, a uma mulher, daria vontade de rir;  aos mancebos magricelas e fardados soará como clamor dos Infernos.


Mas faz sentido:  homens formando linha direita, pirilaus erectos acompanhando o desenho. Duvido, porém, do estado hirto e firme dos atributos masculinos embrulhados nas fardas e alinhados em parada. Estivessem com bravura todos erguidos em carreira, e constituiriam, sem que prante a menor das dúvidas, espectáculo digno de ser visto. (...)

Fonte: Do blogue Sem pénis nem inveja, editado por Maria Broja > Domingo,  5 de novembro de 2006.


6. E voltando ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, portal que eu muito admiro... Encontrei, em todo o caso, esta deliciosa resposta do João Carreira Bom, cofundador com José Mário Costa, do Ciberdúvidas, e infelizmente já falecido... A resposta é a uma questão sobre a diferença entre "bicha" e fila"... Aqui vai, para o nosso comum enriquecimento linguístico (*****). Porque a falar é que a gente se entende, e de preferência em bom português. Vou pôr esta questão, algo melindrosa para os nossos generais,  ao meu amigo José Mário Costa, o Senhor Ciberdúvidas, coordenador editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa:

(...) No «Novo Dicionário da Língua Portuguesa», de Cândido de Figueiredo, editado em 1939 (Bertrand), bicha é associada a «qualquer objecto que, pelo seu feitio ou movimento sinuoso, dá ideia de um réptil». Entre outros sentidos, Cândido de Figueiredo atribui-lhe o de «fileira de pessoas, umas atrás das outras». Fila, na mesma obra e no significado que aqui nos interessa, é uma «série de coisas (animais ou pessoas) dispostas em linha recta. Enfiada; fileira: uma fila de cadeiras.» Nos dicionários mais recentes que consultei, seguem-se, no essencial, estas indicações.

Não pude confirmar, assim, a especialização de sentido que, quanto ao movimento, o prezado consulente fez o favor de nos referir. Mas concordo consigo no aspecto mais importante: querem matar uma palavra necessária. Bicha está a ser comida à má fila nas cabecinhas, tão piedosas quão perversas, de alguma classe média.

Contrariando opiniões que recolhi e atribuem o fenómeno às telenovelas brasileiras, não cometerei grande erro se disser que já existia em certas camadas da sociedade portuguesa um preconceito sexista em relação a esta palavra. Um preconceito muito mais ténue do que no Brasil, mas lembro-me de uma «tia» me corrigir, na minha adolescência, por haver utilizado a sonora expressão «bicha do eléctrico». As telenovelas brasileiras não criaram, pois, o preconceito. Tê-lo-ão difundido um pouco mais.

Até demonstração do contrário, continuarei a dizer «fila de automóveis», «fila de soldados», «fila de cadeiras», «bicha do IRS». E, se calhar, até digo «bicha de carros», «bicha de espera». Na bicha para a compra do passe, nunca ouvi exclamar: «Olha a espertinha, está a passar à frente da fila!» Os elementos mais pretensiosos da classe média, pelo seu número e posição, podem ser muito influentes. Mas não vão para as bichas dos transportes públicos. Afigura-se-me não terem influência directa para provocar a morte de uma palavra inocente que, afinal, os perturba. Eles lá sabem porquê.

João Carreira Bom 1 de janeiro de 1997.

in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/bichas-ou-filas/219 [consultado em 18-02-2020]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de maio de  2009 > Guiné 63/74 - P4361: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (14): Um mês complicado (3): O osso

(**) 15 de dezembro de  2005 > Guiné 63/74 - P353: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20566: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - XIV (e última) Parte: "Periquito vai no mato, olé, lé, lé, / que a velhice vai no Bissau, olaré, lé, lé" ...


Foto nº 1A


Foto nº 1 >  Lisboa >  Cais da Rocha Conde de Óbidos >  fevereiro de 1966 > O João Sacôto com a filha ao colo, a esposa  do seu lado esquerdo, e a sua mãe, do lado direito. Em primeiro plano, em baixo, à direita, um caixote de "scotch whisky", daquele que vinha diretamente "From Scotland for the Portuguese Armed Forces"... (Vinha estampado no rótulo, que era para se vender na candonga...)


Foto nº 2 >  T/T Uíge > Fevereiro de 1966 > Refeição a bordo, no regresso a Lisboa. Da esquerda. para a direita, oficiais da CCAÇ 617: (i) alf mil Farinha (era arquiteto, já faleceu): (ii) alf mil  Santarém (foi professor liceal na Guarda); (iii) alf mil Gonçalves (é industrial de plásticos); (iv) alf mil Sacôto (foi comandante da TAP); v) alf  mil Monteiro, de outra unidade).... Recorde-se que a CCAÇ 617 / BCAÇ 619, partiu para o CTIG em 8/1/1964 e regressou a 9/2/1966-, tendo sido comandada pelo cap inf António Marques Alexandre. Esteve em Bissau, Catió e Cachil.


Foto nº 3 > Catió (c. 1964/66) > "Periquito vai no mato, olé-lé-lé, / que a velhice vai no Bissau, olaré lé lé"... Quem não se lembra da cantiga mais saborosa da Guiné ?!... [Trata-se de um  periquito-da-guiné, também conhecido, na Guiné-Bissau, por massarongo (Poicephalus senegalus). Fonte: Wikipedia]

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Montemor-o-Novo-Ameira > 14 de outubro de 2006 > I Encontro Nacional da Tabanca Grande > O  J. L. Vacas de Carvalho interpreta algumas das cantilenas  do nosso tempo da Guiné, a começar pelo famoso "Periquito vai no mato"... Reconhece-se, atrás do nosso querido artista de Bambadinca (1969/71), o Martins Julião, o nosso saudoso Fernando Franco (1951-2020), a Alice Carneiro,  a Lígia, esposa do David Guimarães,  o António Baía, o Paulo Santiago, o David Guimarães, o Jorge Cabral, entre outros. Em voz "off", o Luís Graça... Vídeo: 1' 20 ''.

Vídeo (e legenda): © Luís Graça  (2006). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Último poste com as fotos do álbum da Guiné, do João Gabriel Sacôto Martins Fernandes:

(i) ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66);

(ii) trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC (Direção Geral de Aeronáutica Civil);

(iii) foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.

(iv) estudou no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG):

(v) andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente; (vi) é natural de Lisboa; (vii) casado;

(viii) tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas);

(ix) é membro da nossa Tabanca Grande, desde 20/12/2011;

(x) já viajou por mais de 50 países.


2. Estas são as derradeiras fotos do álbum da Guiné... E, como todas as histórias que acabam bem, temos o nosso herói de regresso a casa, onde é recebido pela mãe, a esposa e a filha... Além do "Roby", o cão-herói,  trouxe, como ele, como  "recuerdo", uma caixa de garrafas de uísque Johnnie Walker (foto nº 1), coisa que era ainda um luxo no Portugal provinciano desse tempo... 

E aqui começou uma nova vida, uma nova carreira profissional, brilhante, como piloto da aviação civil.

No regresso, lá no T/T Uíge, beberam-se os últimos copos, trocaram-se moaradas e telefones (quem os tinha, ainda era um luxo também, ainda não havia e-mails, telemóveis) e fizeram-se promessas de novos (re)encontros.

Estamos gratos ao João pela paciência eo carinho com que, ao longo de um longo, colaborou connosco  neste projeto, aceitando pôr as suas fotos da Guiné "on line",  na página do seu Facebook e no nosso blogue, aqui organizadas por categorias temáticas, que deram origem a 14 postes (*), e procurando sempre, prestável e  amável, responder às nossas dúvidas sobre a legendagem.

Dos muitos comentários que os nossos camaradas foram fazendo a estes postes, destaco o do António Murta, com data de 18/10/2019..Ele fala por todos nós:

"De tempos a tempos, lá surgem estas séries fotográficas do João Sacôto, desenterradas das profundezas do baú e dos tempos. São uma bênção para a alma e uma delícia para os olhos. Vem saciar uma certa nostalgia daquele tempo e daquelas paragens. Não que eu tenha saudades da guerra e dos efeitos nefastos que ela trouxe a todos nós, mas ao ver estas imagens, de tão boa qualidade, empolgo-me por voltar a ter vinte anos e estar lá de novo. Mesmo com água pelos joelhos... Obrigado, João Sacôto."
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20501: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte XIII: Um heli Alouette II, oficiais do batalhão e outras fotos

Vd. postes anteriores:

11 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20441: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte XII: Mais fotos da população de Catió, com destaque para as mulheres e bajudas

3 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20412: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte XI: Mais fotos, parte delas sem legendas...

18 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20252: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte X: Cabedu, Cantanhez



20 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19604: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte VI: Em Príame, a tabanca do João Bacar Jaló (1929 - 1971)

3 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19546: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte V: Catió, o quartel e a vida da tropa

28 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19539: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte IV: Catió: as primeiras impressões

17 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19502: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte III: O meu cão Toby, que fez comigo uma comissão no CTIG, e que será depois ferido em combate no Cantanhez

10 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19488: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte II: Chegada a 15/1/1964 e estadia em Bissau durante cerca de 2 meses

4 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19468: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte I: A partida no T/T Quanza, em 8/1/1964

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20503: FAP (114): O helicóptero Alouette II


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66) > O pessoal em operações militares: na foto, acima, transporte às costas de um ferido, evacuado para o HM 241, em Bissau, por um helicóptero Alouette II (versão anterior do Alouette III, que nos era mais familiar, sobretudo para aqueles que chegaram à Guiné a partir de 1968).


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66) > "O heli [, aqui a descolar,]  era o Alouette II (dois). O que está na foto nº 1 já tem rodas, os que conhecia eram todos com patins. Nesta altura, os feridos eram transportados no "caixão" que eu destaquei a amarelo. Podes imaginar como arrepiante seria viajar, amarrado e bem amarrado, naquele cubículo do lado de fora da carlinga" (Jorge Félix) (*)..

Foto (e legenda): © Alberto Pires (Teco) / Jorge Félix (2009). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Foto nº 3 > Guiné > Região do Oio > Jumbembem > CART 730 (1964/66) e CCAÇ 1565 (1966/68) > Domingo, 10 de julho de 1966 > Um dia trágico: pormenor da evacuação do cap mil inf Rui Romero, na foto a ser transferido para a maca do helicóptero Alouette II... A enfermeira paraquedista era a alf Maria Rosa Exposto.

Foto ( e legenda): © Artur Conceição (2007). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 4 > Guiné > Região de Quínara > Tite > Agosto/Setembro de 1965 > Alouette II. Foto do álbum de Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66.

Foto (e legendas): © Santos Oliveira (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 5 > Guiné > Região do Oio > Porto Gole > Arnaldo Schulz ao lado do piloto do helicóptero;  Fevereiro de 1967 > A despedida: em segundo plano, no banco de trás, duas caixas de cerveja, Sagres e Cristal; em primeiro plano, à esquerda, um cabo especialista da FAP e, à direita, o fur mil Viegas, do Pel Caç Nat 54, com camuflado paraquedista trocado com um camarada numa operação no Morés em outubro de 1966. A aeronave parece ser um Alouette II.

Foto (e legenda) : © José António Viegas (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 6  > Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66) > Alouette II > "O meu batismo em heli"...

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Tancos > Base Aérea nº3 > 1967 > 1.º Curso de Pilotos de Helicópteros, onde pela 1.ª vez também foram incorporados milicianos, segundo informação do Jorge Félix, aqui, junto a um Allouette II, no meio dos seus camaradas, onde se inclui o Duarte Pio de Bragança [e não Duarte Nuno de Bragança, como por lapso escreveu o Jorge Félix]

Os primeiros pilotos milicianos de helicópetros da FAP > 14 de Março de 2008 > "Éramos oito milicianos (Eu, Antolin, Cavadas, Melo, Baeta, Pinto e Duarte) e três da Academia Militar (Braga, Afonso e Costa).

O Pinto faleceu em Outubro de 2007, em Lisboa, vítima de doença. O Oliveira faleceu no acidente de aviação em Tancos, em 72 ou 73. Estes dois companheiros estiveram comigo na Guiné. O Melo anda em sítio incerto na Venezuela (vou saber pormenores da 'chatice' que foi a vida dele por lhe terem roubado um Allouette III da FAP). O Baeta faleceu em Gago Coutinho, Angola, Março de 1969, num acidente, voo nocturno, Heli. O Cavadas também já faleceu em acidente de Heli, andava nas pulverizações, no Alentejo. O Antolin está de perfeita saúde, Comandante da TAP reformado, a viver em Lisboa. O Duarte é... Sua Alteza D. Duarte Pio de Bragança, esteve em Angola [... e não em Moçambique...] e vive em Lisboa. O Pinto, também reformado da TAP, faleceu há quatro meses. Do Braga, Afonso e Costa, sei muito pouco (...)..

Foto (e legenda): © Jorge Félix. Todos os direitos reservados [Cortesia de: Blogue do Victor Barata > Especialistas da BA 12, Guiné 1965/74.] (**)


Guiné > Algures > Jorge Félix, allf mil pil heli Al III (BA 12, BA 12, Bissalanca, 1968/70) e António Spínola (Com-Chefe e Governador Geral, CTIG, 1968/73)... O tratamento por "pilav" era reservado aos pilotos-aviadores que vinham da Academia Militar. Não sabemos exatamente em que data chegaram, à BA 12, Bissalanca, os Alouette III. A partir de 1969, o fabricante francês destaca para a BA 12 um técnico de manutenção, o Pierre Fargeas (nascido em 1932) e que se tornou um grande amigo de Portugal e do pessoal que passou pela BA 12 entre 1969 e 1974. A sua esposa, Ivette Fargeas, também o acompanhou. (***)

Foto (e legenda): © Jorge Félix (2010). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O que muito de nós não sabem (ou não sabiam) sobre o heli Alouette II, antecessor do Alouette III

(i) Maria Arminda Santos (****)

(...) "A partir daí a guerra na Guiné estava instalada e assim que foi possível fomos colocadas na Base de Bissalanca, para o início das evacuações aéreas com enfermeiras. Havia os aviões Auster e os helicópteros Alouette II; nestes não nos era possível acompanhar de perto os feridos, os quais eram transportados fora do helicóptero, numa espécie de caixas colocadas por cima dos patins do heli, uma de cada lado. Nos Auster a maca quase entrava pela cadeira ao lado do piloto e na cauda do avião. 

"Felizmente mais tarde chegaram os DO-27 e os Alouette III, onde passámos a fazer inúmeras evacuações, adaptando e modificando os meios sanitários e a nossa actuação, com a finalidade de uma mais eficaz prestação de cuidados aos feridos, os quais iam sendo cada vez em maior número. Infelizmente tivemos que chegar a fazer evacuações no Dakota, quando havia ao mesmo tempo muitos feridos e a pista era adequada para a sua aterragem." (...)  


(ii) Wikipedia > Aérospatiale Alouette II (em português)

(... ) O Alouette II é um helicóptero ligeiro, produzido, sob diversas versões, pelo construtor aeronáutico francês, SNCASE, que em 1957 deu origem à Sud Aviation, em 1970 à Aérospatiale, em 1992 à Eurocopter e que em 2000 passou a integrar a EADS (...)

Foi o primeiro helicóptero do mundo, motorizado com turbina a gás a ser certificado para voo.

As versões militares eram usadas essencialmente em, fotografia aérea, observação, salvamento marítimo. ligação e treino. Na parte civil era usado essencialmente na evacuação médica principalmente em grande altitude, tirando partido do seu motor de turbina. (...)

(...) O Alouette II foi o segundo modelo de helicóptero ao serviço da Força Aérea Portuguesa, a seguir ao único Sikorsky UH-19 operado desde 1954. Foram recebidas sete unidades em 1957, começando a ser operadas no ano seguinte, uma das quais seria destruída por acidente.

Com o início da Guerra do Ultramar, os seis helicópteros remanescentes foram enviados para Angola, de onde operaram a partir das bases aéreas do Negaje e de Luanda. Foram utilizados sobretudo para evacuações sanitárias e para ligações. 

A partir de abril de 1963, começaram a ser substituídos em Angola pelos recém adquiridos Alouette III, sendo enviados para a Guiné Portuguesa onde se tinha aberto uma nova frente. Também neste teatro de operações começaram a ser substituídos por Alouette III, sendo quatro transportados num DC-6 para a nova frente de Moçambique em 1966. Foram finalmente completamente substituídos operacionalmente pelos Alouette III e pelos Puma, sendo todas as unidades colocadas na Base Aérea de Tancos na função de instrução, onde serviram até 1976. (...)
__________

Notas do editor:


(***) Vd. poste de 1 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12375: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (7): By air... (Vídeo de Jorge Félix / Pierre Fargeas)

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20501: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte XIII: Um heli Alouette II, oficiais do batalhão e outras fotos


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Catió >  CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66) > Alouette II > "O meu batismo em heli"... 


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Catió >  CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66) > Oficiais do batalhão



Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Catió >  CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66) >  Comando do batalhão, mais oficiais da CCS,. CCAÇ 617 e CCç 619... E o inseparável e lendário Toby...



 Foto nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Catió >  CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66) >  O João Sacôto mais o cor inf Matias, cmdt do batalhão.



Foto nº 5 > Guiné > Região de Tombali > Catió >  CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66) >  O João Sacôto numa viatura "bindada"


 Foto nº 6 > Guiné > Região de Tombali > Catió >  CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66) >  A artilharia (obus 8,8) em ação


Foto nº 7 > Guiné > Região de Tombali > Catió >  CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66) >  O João Sacôto no espaldão da Browning 12.7


Foto nº 8 > Guiné > Região de Tombali > Catió >  CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66) > A matança da vaca.

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do João Gabriel Sacôto Martins Fernandes:


(i) ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66);

(ii) trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC (Direção Geral de Aeronáutica Civil);

(iii) foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.

(iv) estudou no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG):

(v) andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente; (vi) é natural de Lisboa; (vii) casado;

(viii) tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas);

(ix) é membro da nossa Tabanca Grande, desde 20/12/2011;

(x) já viajou por mais de 50 países.

2. Estas são mais algumas fotos do álbum... A do heli Alouette II é relativamente rara... 

______________

Nota do editor:

Último poste da série > 11 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20441: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte XII: Mais fotos da população de Catió, com destaque para as mulheres e bajudas

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20494: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (16): Augusto Mota (Brasil), António Graça de Abreu, Cristina Silva (filha do Jacinto Cristina), João Azevedo / Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, João Sacôto, José Colaço, Lucinda Aranha, Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes



1. Mandaram-nos boas festas, por email ou telemóvel, por estes dias, mais os seguintes camaradas e/ou amigos/as, aproveitando também para fazer "prova de vida":

António Graça de Abreu, Cristina Silva (filha do Jacinto Cristina),  João Azevedo / Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes,  João Sacôto, José Colaço e Lucinda Aranha Antunes.



2. Mensagem do Augusto Mota

[ex-1º cabo, Grupo Material e Segurança Cripto (Bissau, QG/CTIG, 1963/66); viveu em Bissau até 1974, e depois no Brasil, até hoje; natural do Porto, tem a dupla nacionalidade: é o nosso grã-tabanqueiro nº 726, desde 6/9/2016; tem 7 referências no nosso blogue] 


Amigos!

Muito tempo se passou desde que contatei vocês. Infelizmente as vicicitudes do dia a dia não têm permitido mais atenção para acompanhar vossa causa. Enfim...


Ainda não é hoje que lhes vou dar notícias mais concretas, mas pelo menos quero desejar-vos UM BOM NATAL e MELHOR ANO NOVO!!!!
Tudo de bom para vocês.





3. Mensagem do Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes:

O Núcleo  de Ponte de Lima da Liga  dos  Combatentes, aproveita esta quadra natalícia, para desejar um SANTO NATAL e que NOVO ANO traga saúde e Bem Estar.


A Direcção

Manuel Oliveira Pereira
António Mário Lopes Leitão
Leonardo Costa Gonçalves
____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 de Dezembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20493: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (15): António Marques Lopes, Cor Art DFA Ref, ex-Alf Mil Art da CART 1690; Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208; José Firmino, ex-Soldado At da CCAÇ 2585; Luís Fonseca, ex-Fur Mil TRMS da CCAV 3366 e Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20441: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte XII: Mais fotos da população de Catió, com destaque para as mulheres e bajudas


Foto nº 1 > Catió > Alfaiates... uma profissão masculina!


Foto nº 2 > Catió > Luta desportiva de mulheres


Foto nº 3 > Catió > A minha lavadeira Fátima


Foto nº 4 > Catió > A lavadeira nalu do capitão.[ Os nalus eram uma minoria étnica que habitavam o Cantanhez. Eram grandes escutores, antes de se converteram ao islamismo, religião que proíbe a figuração humana e animal.]


Foto nº 5 >Mercado de Catió


Foto nº 6 > Catió > "A Fátima em pose artística"


Foto nº 7 > Catió > Estima, a mais bonita fula de Catió
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do João Gabriel Sacôto Martins Fernandes: 

(i) ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66);

 (ii) trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC (Direção Geral de Aeronáutica Civil);

 (iii) foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.

 (iv) estudou no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG):

 (v) andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente; (vi) é natural de Lisboa; (vii) casado; 

(viii) tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas); 

(ix) é membro da nossa Tabanca Grande, desde 20/12/2011;

(x) já viajou por mais de 50 países.


2. Estas são mais algumas fotos que dispomos do seu álbum: neste caso, da população sobretudo  feminina de Catió. E a propósito do "nu" de há mais de 50 anos na Guiné  (que nós chamamos "nu etnográfico"), o autor já fez em tempos um elucidativo comentário, em 30/3/2019 (**)

(...) "Quando cheguei à Guiné, em 1964, já tinha tomado contacto, especialmente em alguns lugares no Algarve e em França, Nice e Biarritz,  de mulheres em tronco nu nas praias "topless". Também já tinha visto imagens e fotografias de cenas affricanas em que as mulheres, principalmente as mais jovens ("bajudas"), em cenas rurais se apresentavam em tronco nu. Creio que, por isso, não fui especialmente surpreendido, o que não quer dizer que não tenha admirado a beleza de algumas bajudas, e que, com sua autorização e pose artística,  fotografei. Vou mandar para o Luis duas dessas fotos que as publicará se achar oportuno." (...)

Anteriormente, o Virgílio Teixeira tinha feito, em 29/3/2019, no mesmo poste (**), o seguinte comentário;:

(...) "À atenção de João Sacôto e Cherno Baldé: À margem do assunto deste Poste, faz-me uma confusão que não apareçam as mulheres, bajudas ou mulheres grandees, com as 'mamas ao léu', desculpem a expressão mas é assim para nos entendermos.

Nos locais e sitios por onde passei [, em 1967/69], a maioria das mulheres, em especial nas tabancas, andavam  desnudadas, e não era eu que lhes tirava a roupa. Fiz tanta fotografia que já foi publicada, mas ainda há mais e são só para mim. Nunca abusei ou fiz disto um assunto sexual, era apenas a curiosidade de um jovem que não estava habituado a ver tanta mama de tanto feitio. Ou o Sacoto tem essas fotos guardadas? É pura curiosidade, nada mais.

Talvez andei por sitios de culturas diferentes, como os felupes que praticamente andavam nus, eles  e elas, miudos e graudos!" (...)