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quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22834: O meu sapatinho de Natal (17): O meu Natal no mato em 1966 (José António Viegas, ex-Fur Mil)

1. Mensagem do nosso camarada José António Viegas, (ex-fur mil do Pel Caç Nat 54 (Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68), com data de 22 de Dezembro de 2021:

Caro Luís:

Recordando os Natais no mato.

Faz esta noite 55 anos que fomos atacados em Missirá, com grande destruição do destacamento, ainda me lembro dos pessoal de Bambadinca dizer que parecia Roma a arder. Alguns de nós ficaram com a roupa que levaram para o abrigo, o resto ardeu tudo.

Como não chegavam, nem do Enxalé nem de Bambadinca, mantimentos, o meu cabo Ananias disponibilizou-se para tentar caçar alguma peça de caça.

Na véspera de Natal o repasto seria cabrito, que ele confeccionou e muito bem com arroz de chabéu e de sobremesa pudim que tinha escapado, uma lata de pó.
Depois do repasto o Ananias apresentou a cabeça de cabrito que era não só a de macaco cão, tirando o Furriel Costa, que depois de elogiar o repasto, ficou mal disposto, o resto da malta ficou de repetir. Essa caveira guardada como amuleto seguiu-me para todo o lado levando sumiço quando regressei da África do Sul.

Termino desejando um Santo Natal à malta do blogue e que este maldito inimigo termine de vez.

Um abraço
Zé Viegas


Nesta foto o Alferes Marchã do Pel Caç Nat 54 junto ao depósito de géneros destruído
A palhota onde dormiam os três furriéis
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22829: O meu sapatinho de Natal (16): Mensagens natalícias dos nossos camaradas e/ou amigos: Luís Fonseca; José Carlos Mussá Biai, Valdemar Queiros; Coronel Tirocinado Carlos Cação Silva; Associação Afectos com Letras, ONGD; José Teixeira; casal Giselda e Miguel Pessoa; Joaquim Fernandes Alves

domingo, 24 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22655: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte X: "apanhado do clima", o fim da comissão e o difícil regresso à vida civil, em Coimbra (Jan - jun 1967)


Guiné > Região do Óio > Porto Gole > Fevereiro de 1967 > A melhor foto de que dispomos, no blogue, sobre o gen Arnaldo Schulz, governador e comandante.chefe (1964/68): aqui sentado,  ao lado do piloto do helicópetrio; pronto a partir depois de visita a Porto Gole;   no banco de trás, duas caixas de cerveja, Sagres e Cristal; à direita, o fur mil José António Viegas, do Pel Caç Nat 54, com camuflado paraquedista trocado com um camarada numa operação no Morés em outubro de 1966.

Foto (e legenda) : © José António Viegas (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 
1. Continuação da (re)publicação do "Diário de Guerra", do nosso camarada açoriano e escritor Cristóvão de Aguiar (1940-2021), que faleceu na passada dia 5, aos 81 anos (*).

Organização: José Martins; revisão e fixação de texto (para efeitos de publicação no nosso blogue): Virgínio Briote (,a partir da parte VI, Carlos Vinhal).

Estes excertos, que o autor cedeu amavalmente ao José Martins, para divulgação no blogue, fazem parte do seu livro "Relação de Bordo (1964-1988)" (Porto, Campo das Letras, 1999, 425 pp). (**). São onze ao todo os postes publicados no blogue, este será o penúltimo



Cristóvão de Aguiar.
Foto: Wook (com a devida vénia...)


Diário de Guerra

por Cristóvão de Aguiar


(Continuação)

Contuboel, 11 de Janeiro de 1967

Chegou alguma da tropa que nos vem render [, CCÇ 1500 / BCAÇ 1877, Fufar, Bolama, Cacheu, Teixeira Pinto Contuboel, 1966/67 ]. O Capitão Miranda, oriundo da Mealhada, também veio. Tenho dó deles. O restante pessoal só virá no dia em que nós daqui sairmos - de hoje a uma semana, que não há instalações para toda a gente. 

Neste momento procede-se à passagem de testemunho e das armas. Quando entreguei a minha, fiquei mais leve e mais livre. Mas sempre pensei que este dia há tanto esperado ficasse percorrido de uma alegria bem mais funda. Tanto a sonhei ao longo destes infindáveis meses, que ela quase toda se gastou e agora encolheu-se e ficou tristinha. Ando magro que nem cação. Estou convencido de que tenho uma ténia agarrada à parede dos intestinos. Quarenta e nove quilos é pouco! Já pedi um medicamento para o efeito no posto médico e vou tomá-lo.


Contuboel, 13 de Janeiro de 1967

Um dia inteiro em jejum, só a água, para que o medicamento produzisse efeito. Nada. Nem ténia nem outros bicharocos. Fiquei ainda mais fraco com a abstinência.


Bambadinca, 18 de Janeiro de 1967

Aqui, à beira do rio Geba, para embarcarmos logo à noite em batelões para Bissau. Amanhã tomamos o Uíge para Lisboa. Assim sem espingardas nem pistolas, parece que ficámos subitamente indefesos e nus. E temos medo. Sobretudo que nos ataquem das margens durante esta noite de viagem por aí abaixo, até Pijiguiti. Não seria a primeira vez. A escolta que vai connosco não daria para as encomendas. Nunca mais acaba o pesadelo, sofremos até à última gota.

Bissau, a bordo do Uíge, 19 de Janeiro de 1967

Veio o Governador 
[, e Comandante-Chefe, gen Arnaldo Schulz]a bordo despedir-se das tropas e agradecer-nos, em nome da Pátria, o nosso esforço, sacrifício e abnegação. Seja tudo por alma da Pátria!, disse-me nos meus fundos. Garantiu-nos no final da derradeira golada de uísque que, em matéria de guerra, deixávamos este rincão pátrio melhor do que o havíamos encontrado à chegada. 

Mentiu com todos os dentes! A guerrilha alastra-se cada vez mais. O Capitão da minha Companhia ficou em terra [, Cap Mil Cav António Tavares Martins,    substituiu o primeiro comandante da CCAÇ 800,   Cap Inf Carlos Alberto Gonçalves da Costa].

Ainda não completou o tempo de comissão e vai compensá-lo numa repartição qualquer. Nem fiquei triste nem contente, que, com esta magreza, se me esvaíram quase todos os sentimentos. Trouxe comigo o perdigueiro. Não houve qualquer problema na sua admissão a bordo. O Vila Velha, o meu guarda-costas, prontificou-se a tratar dele durante a viagem.


Lisboa, 27 de Janeiro de 1967

Não dormi isto sequer, com a ansiedade da chegada. Navega agora o navio Tejo adentro. Ainda é noite. Está frio lá fora e outro ainda mais gelado cá dentro em mim. Encontro-me no deck, enrolado num cobertor, à laia de capa de estudante de Coimbra que ainda sou. Vejo a ponte nova, Salazar chamada, e ao longe as luzes da cidade. Não me encantam nem me chamam. Ando de um lado para o outro e penso na vida e no futuro. E olho indiferente as luzes que se espelham, tremeluzindo, nas águas do rio. Serei capaz de vencer e de me vencer? 

Vou ter o meu filho no cais à minha espera. Com dois meses apenas. E talvez seja bom assim. Se tivesse entendimento, veria o pai já cansado e envelhecido e dardejando chispas de medo dos olhos fundos. Na flor da idade. Não minto. Vi-me no espelho quando me escanhoava pela última vez. Última, sim. É que daqui em diante vou deixar crescer a barba. Não foi promessa. Foi uma jura. E cada um tem direito à sua pancada. Mas sei as razões desta minha atitude, que, como todo o neurasténico que se preza, tenho explicação para tudo quanto me aconteceu ou porventura venha a acontecer-me. Um dia hei-de contar!


Tomar, 28 de Janeiro de 1967

Agora somos três e ficámos numa residencial junto ao rio Nabão. Logo de manhã cedo, tomei o pequeno-almoço e fui para o quartel novo, agora mais completo do que quando para aqui vim há dois anos. Ultimadas as formalidades de desmobilização, muito mais rapidamente do que pensava, principiei a sentir-me angustiado. Fiquei sem me perceber. Na hora há tanto ansiada em que me desligava do pesadelo, sentia-me em tremuras tais, que tive uma vontade urgente de pedir que me socorressem. Não foi preciso, que logo entrei em pânico. Levaram-me para a enfermaria e aí deram-me um calmante dos fortes. Ao fim de um quarto de hora, já estava mais calmo. 

Regressei à residencial, meio triste, cogitando na vida que tenho agora pela frente. E só então é que me lembrei que, antes de sair, havia tomado duas chávenas almoçadeiras cheias de café. Fui perguntar. Sim, era café puro e forte! Nem sequer posso tomar um dedal de café legítimo, que me dá tremedeira, quanto mais. E já não fiquei perturbado com a minha reacção pânica.

Estação de Fátima, 28 de Janeiro de 1967

Espero o comboio que me há-de levar para Coimbra, onde vou principiar uma nova fase da vida. Está um tempo esclarecido e a temperatura é amena. A alcofa com o meu filho está poisada no chão meio saibroso, meio areento da plataforma, ao ar livre. Dorme serenamente. 

Como não posso estar quieto, passeio com a Otília para trás e para a frente e vou-lhe traduzindo em palavras os meus receios no futuro. Estou deserto por me pôr à prova no campo académico. A minha obsessão é concluir o meu curso de letras. Sei que muitos que voltaram da guerra não o conseguiram. E eu? Chega o combóio. Pego da alcofa e subo para a carruagem. Fecha-se-me um pano de boca de cena atrás das costas.


Coimbra, 1 de Fevereiro de 1967

Entrei na Faculdade de Letras como um condenado. Encontrei no sexto piso o meu velho professor de Língua Alemã, o Doutor Helling, uma santa criatura, que, ao ver-me, se assustou. Não o soube disfarçar, que bem lhe vi o rosto perturbado. Ao fim do baque perguntou-me: 
- O minino sente-se mal, está doente? 

 Respondi-lhe que acabara de chegar da guerra colonial. E pelo que me disse a seguir, verifiquei que podia contar com ele. Sim, iria rever o meu alemão esquecido e, depois de me sentir bem preparado, apresentar-me-ia a exame. Com as regalias militares, posso fazer exame quando quiser. Miminhos da Pátria agradecida.


Coimbra, 14 de Junho de 1967

Os efeitos da guerra continuam e de que maneira. Tenho corrido um ror de médicos no intuito de obter algum alívio. Um professor da Faculdade de Medicina, a pedido do meu conterrâneo, Prof. Linhares Furtado, a quem consultei, descobriu que eu tinha, nos intestinos, um anchylostoma raríssimo. Bicharia da Guiné. 

Ficou contente pela descoberta e não me levou um tostão. Receitou-me um medicamento chamado Mintzol. É um líquido branco, espesso, que tomei por duas vezes, no mesmo dia. Ia morrendo da cura. Estive oito dias de cama, quase sem forças para articular uma palavra e em soltura constante.


Coimbra, 28 de Junho de 1967

Estava há dias estudando num cubículo que tenho no terraço de casa e me serve de escritório, quando a Otília lá entrou a perguntar-me o que queria que ela fizesse da minha farda camuflada, que trazia na mão para me mostrar. Andava em arrumações. Eram dez horas da noite. Havia fogueiras de São João no Largo de São Salvador, na Alta, nas traseiras da minha República. Passou-me um clarão pela cabeça e disse-lhe: 
- Deixa cá ver a farda. 

 Sem uma palavra, passou-ma para as mãos. Fardei-me e saí de casa, sem ouvir sequer um resmungo. Ao chegar ao Largo de São Salvador, o bailarico estava animado e meti-me na roda mascarado de guerreiro. O meu amigo Germano Rego Sousa, da República dos Corsários e aprendiz de psiquiatra [, também ele açoriano de São Miguel, acabou por  especiliar-se em patologia clínica, depois de fazer uma comissão como médico militar em Angola, 1969/71... ], também lá estava. 

Num fim-de-semana que vim passar a Coimbra, quando andava por Mafra, ofereceu-me um poema que começava assim:

Gosto de ti, poeta triste
Que cantas a saudade de mares não percorridos
E trazes o cheiro de estranhas terras
Que não descobriste [...].

Gosto de ti, poeta,
Que chegas com a mala abarrotando
De uma camisa e de um livro de poesia
E que esqueces às vezes a camisa,
Que essa, pode-se esquecer,
Mas nunca a poesia [...].

Quando me viu naquele preparo, fardado de guerreiro da guerra colonial, deve ter torcido o nariz e desconfiado da minha sanidade mental. Aproximou-se de mim. E, muito delicadamente, pediu-me que o seguisse até à República, que queria falar comigo. Falou, interrogou, como se me estivesse praticando psicanálise. Por fim pediu-me que no dia seguinte fosse à clínica onde trabalha com o Louzã Henriques 
 [ 1933- 2019, psiquiatra , etnógrafo, escritor. opositor ao regime de Salazar ], a de Santa Teresa, que me queria fazer testes. Fui. Vim de lá com um arsenal de amostras de medicamentos para tomar. Ando a cair de sono pelos cantos da casa e de mim.

(Continua)

[ Revisão / fixação de textos / imagem e legenda / links / notas entre parêntesis rectos / subtítulo, paar efeitos de publicação deste poste: LG ]

domingo, 1 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22421: Efemérides (350): Fez 55 anos, em 30/7/1966, que parti para o CTIG, no T/T Uíge, para ir formar em Bolama o Pel Caç Nat 54... Estive depois em Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Ilha das Cobras e Ilha das Galinhas (José António Viegas, fur mil art, 30/7/1966 - 22/9/1968)


Foto nº 2 > 30 de julho de 1966 > O fur mil art José António Viegas, de rendição individual, Pel Caç Nat 54, no T/T Uíge, a caminho de Bissau.


Foto nº 3 > Lisboa > 30 de julho de 1966 > Cais da Rocha Conde Óbidos, com a ponte sobre o Tejo, ao fundo, e ainda em construção... "Com o meu conterrâneo Manuel Viegas"



Foto nº 4 > Agosto de 1966 > A bordo do T/T Uige > Sala de jantar dos sargentos > O fur mil art José António Viegas é o último da mesa, do lado direito. "Já partiram alguns", acrescenta na legenda.


Foto nº 5 > CIM Bolama > Agosto de 1966 > No IAO com o Pel Caç Nat 54 que, três semanas semanas, seguirá para Mansabá (1)



Foto nº 6 > CIM Bolama > Agosto de 1966 > No IAO com o Pel Caç Nat 54 que, três semanas semanas, seguirá para Mansabá (2).


Fotos (e legendas): © José António Viegas (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 


1. Mensagem do nosso amigo e camarada José António Viegas [ ex-fur mil art,  Pel Caç Nat 54 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e Ilha das Galinhas, na altura, colónia penal); vive em Faro; é um dos régulos da Tabanca do Algarve; tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue]:

 
Date: sexta, 30/07/2021 à(s) 00:00
Subject: 55 Anos da partida para a Guiné (*)

30 de Julho de 1966:  acordo cedo  no Depósito Geral de Adidos, faço o saco venho p'ra parada, o reboliço de tropas é muito, resolvo ir tomar o pequeno almoço fora, desço a Calçada da Ajuda , paro num  (,uiosque em frente ao Museu dos Coches (, que hoje já não existe o dito quiosque),e tomo o meu pequeno almoço nas calmas. 

Nisto para meu espanto chegam duas moças amigas que viviam em França e, de repente, sem mais preâmbulos , dizem: "Zé, tu não vais para a guerra, a gente tem tudo preparado, amanhã estás em Paris"...

Começamos a discutir e elas não me conseguiram convencer, acabaram por ir embora zangadas e só voltamos a fazer as pazes 15 anos depois e, aí, sim, levaram-me a Paris. 

Acabou o pequeno almoço  vou andando para o cais , entrego a minha guia ao P.M. e subo as escadas para o navio, depois de ter ido ao beliche, venho á amura ver aquele espectáculo das formaturas e os gritos das famílias, espectáculo que se prolongou por 13 anos.

Depois do navio largar,  tento encontrar algumas caras conhecidas pois  não ia integrado em companhias. No primeiro dia de navegação encontro o meu conterrâneo Manuel Viegas e depois na messe alguns camaradas do curso.

Foram 5 dias de boa navegação. Chegado ao cais a Bissau encontro outro conterrâneo o Júlio, já falecido, que me diz: "Então, menino vem prá guerra"... E mete-me no Jeep e leva me a dar uma volta por Bissau e de seguida fomos para os Adidos.

Três dias depois embarcamos na Bor e fomos para Bolama, onde nos foi entregue o Pel Caç Nat 54. Depois de 3 semanas de adaptação, lá seguimos para Mansabá onde começou a nossa aventura, seguiu-se Enxalé, Missirá, Porto Gole, Ilha das Cobras e Ilha das Galinhas.

Voltei a 22 de Setembro 1968, 25 meses depois. (**)

José A. Viegas
__________

Fotos: Legenda;

1- Ordem Serviço Mobilização (ques e reproduz a seguir, pág. 38)
2-Viajando no Atlântico
3-Com o meu conterrâneo Manuel Viegas
4- Na messe, já partiram alguns
5 e 6 - No C.I.M. Bolama 




Ordem de Serviço de Mobilização > CTIG > O. S. nº 32, de 13Agos66-. Destinado ao CIM Bolama, o fur mil art nº 7926665, José A. Viegas, do BC 8 (Elvas), recebeu o nº 2176/C.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de agosto de  2020 > Guiné 61/74 - P21224: Efemérides (333): Foi há 54 anos que parti para o CTIG, no T/T Uíge, para ir formar em Bolama o Pel Caç Nat 54 (Jose António Viegas)

(**) Último poste da série > 30 de junho de  2021 > Guiné 61/74 - P22327: Efemérides (349): Recordando o dia 24 de junho de 1622, a vitória de Macau sobre os holandese, hoje dia da cidade (Virgílio Valente, ex-alf mil, CCAÇ 4142/72, Gampará, 1972/74)

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22250: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (86): pedido de colaboração do dr. Ming, sediado em Londres, para projeto de investigação sobre o monumento, mandado erigir em Bolama, em 1931, por Mussolini, "ai caduti di Bolama"


Guné > Bolama > c. 2016 > Monumento italiano , com a inscrição "Mussolini: Ai caduti di Bolama" > "Uma bela fotografia de Francisco Nogueira para o mais belo monumento Arte Deco da Costa Ocidental Africana, com a cordialidade do Mário Beja Santos" (, enviada ao dr.Ming, em 2 do corrente)... Fonte: Rodrigo Rebelo de Andrade e Duarte Pape - “Bijagós, Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016 (com a devida vénia...)



Guiné > Bolama > Agosto de 1966 > O José António Viegas, de pé, no pedestal do "monumento aos pilotos italianos"... "Se me lembro uma das coroas era da fábrica Fiat"...

Foto (e legenda): © José António Viegas (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso leitor, dr. Ming, devidamente identificado, investigador académico, oriundo de uma prestigada universidade inglesa:

Date: quarta, 2/06/2021 à(s) 13:45
Subject: Bolama.
 
Sou investigador, baseado em Londres,  e tenciono desenvolver um projeto de investigação acerca do monumento italiano sito na Ilha de Bolama (Guiné-Bissau) e chamado "Monumento ai caduti di Bolama" (em português: "Monumento aos caídos de Bolama").

O monumento foi erguido pela ditadura de Mussolini no decurso do ano 1931 após cinco pilotos e tripulantes italianos terem falecido ao largo de Bolama a 6 de janeiro de 1931 no contexto das primeiras travessias aéreas transatlânticas entre a Europa e a América do Sul.

Vista a relativa escassez de informações sobre este assunto na literatura científica, estou à procura de fotografias e queria solicitar quaisquer informações gerais, técnicas ou históricas,  suscetíveis de me ajudar neste projeto.

Agradecendo de antemão todas as sugestões, endereço ao blogue as minhas melhores saudações.

Fico ao seu dispor para mais informações.

Saudações académicas,

Dr. Ming
Endereço de correio eletrónico:    bolamamonument@gmail.com 

PS - Muito obrigado, Luís Graça, pela sua pronta resposta ao meu pedido de ajuda e por disponibilizar os links dps postes que eu não consegui encontrar, para além do

Parabéns pelo seu site que contém inumeráveis informações pelo estudo e pela memória dum tão importante período da história de Portugal e da Guiné. A fim de manter um relativa anonimato na fase inicial da pesquisa, resolvi, até por sugestão sua, indicar apenas o meu apelido. Além disso, receio poder receber milhares de spams se o meu endereço eletrónico, pessoal ou profissional, fosse compartilhado no espaço público da Internet.

2. Resposta do nosso editor; 

Caro Ming: retomando a nossa conversa, obrigado pelas suas referências elogiosas ao blogue, e por ter aceite a minha sugestão para publicar a sua mensagem original, com as necessárias (e aconselháveis) adaptações,

Faço daqui apelo a mais contributos dos nossos leitores... Muitos dos militares portugueses, entre 1961 e 1974, passaram por Bolama, por aí haver um Centro de Instrução Militar,

Por outro lado, recordo aos meus camaradas que os acadmécios gostam de ser discretos em relação ao que estão a fazer e onde, nomeadamente na faze inicial dos seus projetos.

Saudações académicas, Luis Graça, Ph D

PS - Vou reencaminhar o seu pedido original ao nosso colaborador permanente e membro deste blogue coletivo, o Mário Beja Santos, autor do poste P17810:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2017/09/guine-6174-p17810-historiografia-da.html

Mas aproveito para lhe indicar os links de outros postes com referências ao monumento "ai caduti de Bolama", com conhecimento aos seus autores,

Se nos autorizar, publicamos a sua mensagem no nosso blogue... É possível que ainda apareçam mais informações (e nomeadamente fotos) deste monumento erigido pela Itália de Mussolini aos seus aviadores caídos em Bolama, no Arquipélago dos Bijagós, em 1931.

Boa saúde, bom trabalho. O editor, Luís Graça, Ph D.

___________

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/11/guine-6374-p7212-album-fotografico-de.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2007/08/guin-6374-p2030-o-cruzeiro-das-nossas.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2015/02/guine-6374-p14213-historiografia-da.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/11/guine-6374-p10713-memoria-dos-lugares.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/09/guine-6374-p6979-actividade-da-cart-730.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/12/guine-6374-p5404-postais-ilustrados-17.html

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2005/08/guine-6374-clxxiii-informacao.html

3. Resposta do nosso camarada e colaborador permanente Mário Beja Santos:

Meu prezado Ming, o blogue e eu agradecemos-lhe os elogios, fazemos votos para que o seu trabalho venha a ser muitíssimo bem-sucedido. Falei há pouco com a Dr.ª Helena Grego, da Biblioteca da Sociedade de Geografia, pedi-lhe a amabilidade de ver nas publicações oficiais da Guiné o registo do acidente aéreo que vitimou membros da equipa que vinha fazer a viagem de travessia do Atlântico Sul, a partir de Roma. No meu livro sobre o BNU - Banco NacionalUltramarinio, da Guiné, creio que refiro superficialmente o que escreveu o delegado do banco.

Haverá com certeza referências à inauguração do monumento, ilustrações sobre o mesmo não faltam, houve uma tentativa a seguir à independência para o dinamitar, ficou felizmente intacto. Amanhã à tarde vou para a biblioteca ver o que existe e depois escrevo-lhe. Com muita cordialidade, Mário Beja Santos (...)

terça-feira, 18 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22210: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte VIII: A partir de outubro de 1965, em Enxalé e seus destacamentos, Porto Gole e Missirá

 



Guiné > Região de Bafatá > CCAÇ 1439 (1965/67) > 1965 > Bambadinca > Rio Geba > Cais fluvial e cambança, em canoa, para Finete (na margem direita)                         



Emblema da CC1439 que me foi dado na Madeira. Esteve comigo na Guiné 
e tem andado comigo pelos quarto cantos do mundo!

Fotos (e legtendas): © João Crisóstomo (2021. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação da publicação das memórias do João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67)




CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, 
Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” 
como eu a lembro e vivi 
(João Crisóstomo, 
ex-alf mil, Nova Iorque)

Parte VIII: Dia 9 de Outubro de 1965: A CCaç 1439 em Enxalé (e seus destacamentos de Porto Gole e  Missirá)


Não foi de bom grado que recebi a notícia de que íamos para Enxalé na outra margem (,direita,) do Geba. No lado do Xime e Bambadinca havia pelo menos algumas possibilidades e certa facilidade de ir até Bafatá, pensava eu. Mas ir para Enxalé no outro lado do rio? Mas não tinha dizer na matéria e, resignado, para lá me mudei com a minha companhia.

Fiquei surpreendido por encontrar várias casas normais, construídas por antigos comerciantes que, adaptadas, ofereciam instalações razoáveis. Graças a este blogue, viria mais tarde a encontrar a dona das casas que aí nos serviram de messe, escritórios e residência, a Sra Helena do Enxalé, a Maria Helena Carvalho, que, além de membro da Tabanca Grande, se tornou uma amiga querida de todos os que têm a sorte de a conhecer.

Considero os primeiros meses aí passados quase que um tempo de aprendizagem, reconhecimento e adaptação. Os destacamentos de Missirá e Porto Gole “pertenciam ao Enxalé", pelo que os pelotões e seus respectivos comandantes, Alferes Freitas, Crisóstomo e Sousa se revezavam.

Porque não tive o cuidado de registar em agenda as datas certas das nossas “andanças", não tenho sequer maneira de poder dizer com certeza quem estava num lado ou outro em alguma data específica nos primeiros meses. Sei que estive destacado em Porto Gole em Janeiro/Fevereiro de 1966, mas não sei as datas certas; em fins de Fevereiro eu estava no Enxalé, pois não esqueço que fazia parte de uma operação onde sofremos muita sede , como consta no “Relatório”.

Como disse já, depois de 55 anos passados, não tenho dados suficientes , nem memória suficiente que me permita muito mais do que o que vem descrito no ‘Relatório”, a partir de fins de Maio de 1966. Por isso apenas mencionarei com maior detalhes ou destaque alguns casos “ especiais" na medida em que a minha memória ainda me permite fazê-lo. De resto farei um resumo de datas, dados e informação como vem no "Relatório#, para que conste.
  

   


Guiné > Região de Bafatá > CAÇ 1439 (1965/67) > Enxalé > Setembro de1966 >  Na messe”: 1-Cap Mil Amandio Pires; 2 Alf. Sousa 3 Alf Zagalo 4 Alf medico Paulo Petracki; 
5 Alf Henrique Matos, Cmdt Pel Caç Nat 52; 6 Alf mil Marchand, Matos Cmdt Pel Caç nat 54; 7 fur. Mil Antunes; 8 e 9 fur Monteiro e Altino, Pel Caç nat 52

Foto de fur Viegas. Legenda de Herique Matos  (editada por João Crisóstomo)



No  canto esquerdo  está o Sargento  Bicho; eu estou ao fundo de camisa branca



Ainda no Funchal, em vésperas do embarque para a Guiné,  Capitão Pires, que vai partir mais cedo,  espede-se dos seus quarto oificiais  Freitas, Crisóstomo. Sousa e Zagalo

O Monumento/recordação deixado em Enxalé... Na foto, Alferes Freitas, Capitão Pires e Alferes Sousa. O alferes Zagalo estava na altura em Missirá e o alferes Crisóstomo estava em Porto Gole


Novembro de 1965: dia 9


Patrulha de reconhecimento e batida ao Chão Balanta. durante este patrulhamento foi assinalado o clima de colaboração entre a populança balança e o IN, colaboração que se supõe ser devida à ameaça do IBN à população. Procurou-se cativar a simpatia da mesma população.

Novembro de 1965: dia 19

A CCaç 1439 realizou a Operação Fama, patrulha de reconhecimento e combate à região de Madina. O relato é extenso e pouco claro; antes confuso.

De facto o relato que se segue parece ser um jogo de "gato e rato” ou "agora atacas tu, agora ataco eu” sem qualquer encontros sérios a destacar. Não me recordo se fiz parte desta operação, mas creio que não. Não me iria com certeza esquecer do que consta deste relatório, um vez que menciona resultados de alguma envergadura , como seja a destruição de um acampamento de 70 casas (sic):

(...) " As nossas tropas foram detectadas por um sentinela avançado , tendo alertado o IN com disparos de P.M. (..). As nossas tropas aproximaram-se do objectivo sem encontrar qualquer resistência. O IB tinha-se furtado ao contacto, tendo dispersado. Destruído todo o acampamento IN, constituido por 70 casas e, batida toda a região, foram destruídas todas as culturas IN de mandioca,milho, arroz e bananeiras".

E o "agora atacas tu, agora ataco eu” continua sem qualquer gravidade de notar parece , embora mencione que "encontraram-se vestígios de baixas IN que posteriormente foram confirmadas por prisioneiros". E depois diz-se que "não houve baixas nas NT""-

Embora mencione a captura de tês prisioneiros, sendo um deles o próprio chefe da tabanca IN Albino Có, diz a seguir que "ss magros resultados obtidos são consequência da falta de um bom guia" e que "Nnesta operação houve uma perfeita colaboração com a forca aérea".


Novembro de 1965: dia 27

Patrulha de reconhecimento a Colicunda, Hafo(?) e Chombé . "Em Colicunda foram capturados dois indivíduos suspeitos, sendo um deles posto em liberdade e(o)outro feito prisioneiro."


Novembro de 1965: dia 29

Patrulha de reconhecimento, seguida de batida à zona de Cherel (sic): "por exploração imediata de notícias, a CCAL 1439 deslocou-se à regina de Cherel onde se suspeita existir uma tabanca não apresentada sob controle directo do IN. tendo-se detectado uma Tabanca fez-se o cerco e batida, capturando dois homens, três mulheres e quatro crianças.. Foi capturado o seguinte material: 1 pistola Ceska; 1 pente de munições de espingarda Mauser.

Foram destruidas 10 casas de mato além de varios utensílios domésticos que se tornavam impossível transportar bem como um campo de milho e arroz."

Dezembro de 1965: dia 22


"Realizou-se a Op Prova, patrulha de reconhecimento e combate à região de Madina, saindo de Missirá, picada de Bissá até Madina. Não foi detectado qualquer elemento IN nem vestígios de acampamento."

Fevereiro de 1966: dia 25

Lembro bem esta “operação” em que eu e o meu pelotão tomámos parte. O descrito no relatório é bastante objectivo e esclarecedor:

(...) "No dia 25 de Fevereiro de 1966 a CCaç 1439 realizou a Op Vigor que consistiu numa patrulha de reconhecimento e combate na região a N de Cherel. (...) O guia prisioneiro utilizado, ou mentiu ou não estava actualizado. (...)

De facto quase nada de extraordinário aconteceu, salvo ter-se encontrado um “acampamento IN ” abandonado havia muito tempo e logo a seguir outro acampamento que devia ter substituído o anterior, mas que também já estava abandonado há algum tempo.

(...) "Foi uma das operações que obrigou todo o pessoal a um grande desgaste físico devido à falta de água naquela região."

Esta Operação mereceu do Agrupamento 24 a seguinte referência: " Dadas as condições difíceis em que se desenvolveu a Operação— sob temperaturas escaldantes , --solicito que transmita às NT intervenientes o reconhecimento pelas suas boas qualidades militares e o espírito de muita compreensão e sacrifício."

Nota: Não foi só o calor e a falta de água. Foi também o seu longo tempo/duração, pois pernoitamos no mato e depois o caminho de volta não acabava mais. Recordo-me do quase desespero de todos, na ânsia de encontrar água, fosse de riacho ou um simples poço. 

Eu bem tentava motivar e inspirar confiança, mas eu próprio sofri a sede nessa operação. E não é fácil inspirar ou convencer alguém quando nós próprios somos os primeiros a precisar de acreditar e ser “convencidos”.  

Creio que foi nesta operação ( pois a situação de sede e falta de água sucedeu mais do que uma vez ) que encontrámos uma pequena, mas funda depressão no terreno, como que um lagosito pequeno; a cor da água era escura e num canto estava um macaco já em decomposição. Mas não houve hesitações: felizmente que, junto com a ração de combate toda a gente trazia os comprimidos para "purificação” de água, cujo nome não me lembro,. E foi encher os cantis e dar graças a Deus…



Junto estas duas fotos  quase como”homenagem" ao meu valente  guarda-costas de quem, acabado o meu serviço militar,  nunca mais soube  nada.  Pelo que lembro dele, opinião esta partilhada por outros que  o conheceram,  era um indivíduo de uma lealdade, altruísmo  e coragem  únicas; para mim mais do que um simples soldado guarda costas ele era um amigo. Jamais o  esquecerei.

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22080: Os Nossos Enfermeiros (16): O António José Paquete Viegas, da CCS/BCAÇ 1877, que eu conhecia de Faro e reencontrei em Porto Gole (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e Ilha das Galinhas, 1966/68)


Foto nº 1 > Chegada da CCAÇ 1551 a Porto-Gole.  



Foto nº 1A > O António José Paquete Viegas é o que tem o casaco por cima dos ombros, e a malota dos primeiros socorros, do lado direito.



 Foto nº 2 > Porto Gole > Da esquerda para a direita, eu, o Alferes da compahhia  dele e o Paquete Viegas


Foto nº 3 > Porto Gole > O Paquete Viegas  saindo para uma operação com o braço em cabresto 

 
Fotos (e legendas): © José António Viegas (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem do nosso camarada José António Viegas [ fur mil do Pel Caç Nat 54, passou por vários "resorts" turisticos em 1966/68 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e, o mais exótico de todos, a Ilha das Galinhas, na altura, colónia penal); vive em Faro; é um dos régulos da Tabanca do Algarve; tem mais de 40 referências no nosso blogue]:



Date: quarta, 7/04/2021 à(s) 18:13
Subject: Paquete Viegas enfermeiro da 1551
 

Caro Luis

Ontem li sobre os enfermeiros condecorados com a Cruz de Guerra , entre eles Paquete Viegas (*). Conheci dos meus tempos de juventude o Paquete Viegas, enfermeiro num hospital psiquiátrico que havia em Faro e fomos amigos. 

Depois de alguma ausência,  vim a encontrá-lo em Porto Gole quando a companhia. dele, a CCAÇ 1551,  foi lá fazer operações, foi uma festa mas vinha ferido,  o que não o impedia de ir ás operações. Era um bom falante e pusemos a conversa em dia. Depois dessas operações,  nunca mais lhe pus a vista em cima.

Em Porto Gole tinha grandes conversas com o médico da CART 1661 que acho que era da área de Psiquiatria.

Vim a saber,  anos depois, que esteve ligado ao Hospital de S. José  e que passava receitas na consulta de genecologia, foi apanhado e pirou-se para a América Latina,  lá não sei que voltas deu,  chegou ás boas graças de um Presidente e era ele que tratava do Presidente. 

Voltou,  faz alguns anos,  para o Algarve,  para Almancil,  onde faleceu.

 Junto 3 fotos com o Paquete Viegas. (**)
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22072: Memórias cruzadas: relembrando os 24 enfermeiros do exército condecorados com Cruz de Guerra no CTIG (Jorge Araújo) - Parte VI

(...) Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a Cruz de Guerra de 3.ª Classe (...), por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, o soldado auxiliar de enfermeiro, n.º 2538064, António José Paquete Viegas, da Companhia de Comando e Serviços / Batalhão de Caçadores 1877 (...)

(**) Último poste da série > 25 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21805: Os nossos enfermeiros (15): seleção aleatória, formação rudimentar do pessoal de enfermagem, carência de material, etc. (selecão de textos de Armandino Alves, 1944-2014)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21682: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (24): A Tabanca de Faro deseja a todos os Camaradas das Tabancas espalhadas pelo País um Feliz Natal e Próspero Ano Novo (José António Viegas)


Faro > Tabanca de Faro > 2º Encontro anual > 20 de maio de 2017 > Foto parcial do grupo de participantes cujo total era da ordem dos 75.

Foto: © José António Viegas  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José António Viegas, um dos régulos da Tabana de Faro / Algarve
 
Data: quarta, 23/12/2020 à(s) 17:15
Assunto: Boas Festas 

A Tabanca de Faro deseja a todos os Camaradas das Tabancas espalhadas  pelo País um Feliz Natal e Próspero Ano Novo e que o bicho fuja para longe.

Um Abraço

Zé Viegas
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 23 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21680: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (23): Os meus/nossos três Natais no CTIG (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp/ranger, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74)

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21675: O meu Natal no mato (46): Depois do ataque a Missirá, na noite de 22 de dezembro de 1966, pouco havia para consoar... O meu caçador nativo Ananias Pereira Fernandes foi à caça, e fez um arroz com óleo de chabéu que estava divinal... O pior foi quando, no fim, mostrou a cabeça do macaco-cão... (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, Enxalé, Missirá e Ilha das Galinhas, 1966/68)


Foto nº 2 A - O furriel mil Viegas, do Pel Caç Nat 54


Foto nº 1A - O alferes mil Freitas, da CCAÇ 1439, natural do Funchal


Foto nº 1 > Palhota dos Furriéis e o Alf Freitas da CCAÇ 1439


Foto nº 3 > Sítio do Unimog


Foto nº 4 > Depósito de géneros


Foto nº 1 > A nossa segunda residência


Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 54 > 1966


Fotos (e legendas): © José António Viegas (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo e camarada José António Viegas [ fur mil do Pel Caç Nat 54, passou por vários "resorts" turisticos em 1966/68 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e, o mais exótico de todos, a Ilha das Galinhas, na altura, colónia penal); vive em Faro; é um dos régulos da Tabanca do Algarve; tem mais de 40 referências no nosso blogue]:


Data - segunda, 21/12, 23:58

Assunto . Missirá, 22 de Dezembro de 1966



22 de Dezembro 1966. 22h30 da noite estavam os 3 Furriéis conversando á espera do sono, eis que atravessa a palhota uma saraivada de balas incendiárias, tracejantes,  explosivas, um pouco acima dos mosquiteiros.

Fui pegar na G3,  meio vestido, a caminho do abrigo.  A palhota já ardia, no caminho duas morteiradas certeiras entram no depósito de géneros alimentícios, acertando no bidão de óleo e de azeite o que provocou um fogo de artifício. 

Já no abrigo ajudo o meu cabo a municiar a MG [42, a célebre metralhadora do exército alemão na II Guerra Mundial], no meio daquele fogacho ele diz que ouve falar espanhol, presume-se que estavam lá Cubanos .
,
O ataque já ia avançado e as nossas munições escasseando, o único Unimog que tínhamos estava debaixo de um embondeiro [, "cabaceira", em crioulo] e caia morteiradas junto, com as palhotas na maioria a arder.

Parecia Roma vista de Babandica , o condutor da CCAÇ 1439 arranca debaixo de fogo e põe o Unimog a trabalhar para o retirar da zona de fogo. Como ele estava a escape livre,  a barulheira foi muita e o IN, pensando que eram reforços, retirou.  Este soldado condutor foi condecorado com medalha de guerra de 4ª classe. 

Tendo ido montar emboscada em Mato Cão,  já calculando que a CCAÇ 1439, sediada em Enxalé,  viria em nosso socorro,  o que aconteceu,  e como tal caíram debaixo de fogo, não havendo feridos do nosso lado. Houve um tiro caricato no Furriel Monteirinho,  do Pel Caç Nat 52,  do Alf Matos [, o açoriano Henrique José de Matos Francisco] , que lhe passou no meio das nádegas deixando somente queimaduras. 

Ao nascer do dia, feito o balanço, tivemos dois mortos na população e alguns feridos ligeiros e muitas palhotas destruídas, alguns de nós ficaram só com a roupa que tínhamos no corpo.

Aproximava-se a véspera de Natal, e para o  rancho pouco havia... O meu cabo nativo Ananias Pereira Fernandes sugeriu que ia tentar caçar qualquer coisa e caçou,  arranjou óleo de chabéu e arroz e cozinhou uma maravilha que todos na messe gostaram, mas quando chegou a altura de mostrar o troféu,  a cabeça do macaco cão,  houve quem não aguentasse o estômago... Guardei essa caveira do macaco por anos.

E foi este o primeiro Natal na Guiné do Pel Caç Nat 54.

Foto 1 - Palhota dos Furriéis e o Alf Freitas da 1439
Foto 2 - A nossa segunda residência
Foto 3 - Sítio do Unimog
Foto 4 - Depósito de géneros

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18137: O meu Natal no mato (45): Um Natal antecipado: 23 de dezembro de 1967 em Gadamael Porto (Mário Gaspar), ex-fur mil art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21617: Os nossos capelães (15): Fiz uma vez uma operação, em que ia o capelão, que pelas vestes me parecia franciscano... Era gorducho e baixinho... Seria o Pe. António Paulo Frade, o capelão do BCAÇ 1888 (Bambadinca, 1966/68)? (José António Viegas, ex-Fur Mil, Pel Caç Nat 54, Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68


1. Mensagem do nosso camarada  José António Viegas, ex-fur mil do Pel Caç Nat 54 (Enxalé e  Ilha das Galinhas, 1966/68).
 
Date: sábado, 5/12/2020 à(s) 22:15
Subject: Padres Franciscanos

Boas Luis

Hoje tive a agradável surpresa de um telefonema do João Crisóstomo a desejar as Boas Festas.

Estivémos a conversar  um bocado e veio à baila o assunto dos padres franciscanos, Numa das últimas operações com a CCAÇ  1439,  já não consigo lembrar se nos fins de 66 ou princípio de 67,  fizemos uma operação ao nível de Batalhão,  que era o BCAÇ 1888, e vinha integrado um Padre Franciscano, gorducho e baixinho, que nos acompanhou na operação, 

Lembro de brincar com ele a dizer como é que ele aguentava o calor com aquelas vestes castanhas e pesadas. O João não ia nessa operação e não tem idéia de quem seja ele,  o Franciscano estava sediado em Bambadinca.

Vou tentar contactar o meu Alferes [, cmdt do Pel Caç Nat 54,] ou outros Camaradas para ver se têm alguma idéia.

Um abraço

Viegas

2. Comentário do editor LG:

Viegas, obrigado pela tua mensagem e o carinho que manifestas sempre pelo  nosso blogue. Obrigado pelas tuas boas festas, que eu retribuo em nome de toda a nossa Tabanca Grande, Tudo de bom para ti, família, amigos e demais camaradas da Tabanca do Algarve.

Em relação à informação que prestas, sobre o capelão do teu tempo, vamos lá a ver se te dou uma pista (*)... O BCAÇ 1888, a que estava adido o teu Pel Caç Nat 54, partiu para o CTIG em 20/4/66 e regressou a 17/1/68 [Vd. ficha de unidade, no ponto 3, a seguir]...

Na lista dos 113 capelães que passaram pelo CTIG durante a guerra (**), encontro um nome, cuja comissão coincide justamente com a comissão de serviço do BCAÇ 1888: é o nº 31 da lista, e chama-se António Paulo Frade, mas em princípio não seria franciscano (OFM - Ordem dos Frades Menores], mas sim do clero regular....

A única referência que encontrei a este capelão foi a seguinte:

(...) "Sensivelmente a meio da comissão, chegou a Salazar [, Norte de Angola,] o novo Capelão militar, um meu antigo chefe escuteiro, de nome António Paulo Frade, que passou a dar-se muito bem com o Comandante Carvalho" (...). Fonte: Blogue do PAD - Pelotão de Apoio Directo, nº 1245, 1967/69, criado e mantido pelo ex-fur mil Álvaro RoxoVaz, que mora no Fundão. 

Este PAD, comandado pelo tenente Carvalho, partiu para Angola em 11/10/1967 e ficou instalado em Salazar [, hoje N’Dalatando}, Quanza Norte, adido ao BCAÇ 13. A maior parte do pessoal metropolitano do PAD 1245, regressou a casa em 27/12/1969. O capelão António Paulo Frade devia, pois, pertencer ao BCAÇ 13.

Acabada a comissão no CTIG, em 21/1/1968, deduzimos que este  capelão fez uma segunda comissão em Angola para onde deve ter partido  em finais de 1968 (a meio da comissão do PAD 1245).



Excerto da lista dos 113 capelães que passaram pelo CTIG (**)

3. Ficha de unidade > Batalhão de Caçadores nº 1888 (BCAÇ 1888)
 
Unidade Mob: RI I - Amadora
Cmdt: TCor Inf Adriano Carlos de Aguiar
2.° Cmdt: Maj Inf Artur Miguel Agrely Rebelo
OInfOp/Adj: Não identificado
Cmdts Comp:
CCS: Cap SGE Manuel Pereira Pimenta de Castro
CCaç 1549: Cap Mil lnf José Luís Adrião de Castro Brito
CCaç 1550: Cap Mil Inf Agostinho Duarte Belo
CCaç 1551: Cap Mil Inf Francisco Silva Pinto Pereira
Divisa: "Vendo, Tratando e Pelejando"

Partida: Embarque em 20Abr66; desembarque em 26Abr66
Regresso: Embarque em 17Jan68

Síntese da Actividade Operacional

Em 26Abr66, rendendo o BCaç 697, assumiu a responsabilidade do Sector L I, com sede em Fá Mandinga e a partir de 14Nov66, em Bambadinca, e abrangendo os subsectores de Xitolc, Xime, Bambadinca e Enxalé, este até  1Jul67 e retirado ao sector por alteração dos limites.

Comandou e coordenou a actividade das forças que lhe foram atribuídas, orientando a sua acção sobre as linhas de infiltração do inimigo, em patrulhamento, reconhecimentos e emboscadas em ordem a obstar à sua instalação e movimentação na zona. Desenvolveu ainda uma intensa actividade psicossocial junto das populações, promovendo a sua autodefesa e reordenamento e garantindo a segurança dos itinerários e a recuperação das populações.

Dentre o armamento capturado mais significativo, salienta-se: 1 metralhadora pesada, 2 metralhadoras ligeiras, 70 espingardas, I lança-granadas foguete, 4 minas, 28 granadas de armas pesadas e 3000 munições de armas ligeiras.

Em 16Jan68, foi rendido no sector de Bambadinca pelo BArt 1904 e recolheu a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.
 
 Duas das suas companhias estiveram em (ou passaram por) o Sector L1: a CCAÇ 1550 e a CCAÇ 1551

A CCaç 1550 seguiu imediatamente para Farim, a fim de substituir a CCaç 675, como subunidade de intervenção e reserva do sector, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 733 e depois do BCaç 1887, orientada para a realização de patrulhamentos, emboscadas e acções sobre os corredores de Sambuiá e Samine.

Em 28Dez66, foi rendida pela CCaç 1546, e após curta permanência em Bissau, seguiu em 03Jan67 para Xime, a fim de substituir a CCav 1482. Em 1lJan67 , assumiu a responsabilidade do subsector de Xime, com efectivos destacados em Ponta do Inglês, Taibatá e Galomaro e depois ainda em Demba Taco, Samba Silate e Candamã, estes por períodos curtos e variáveis, ficando então integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.

Em 09Jan68, foi rendida no subsector de Xime pela CArt 1746 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

A CCaç 1551, seguiu imediatamente para Bambadinca, a fim de substituir a CCav 678 e assumir a responsabilidade do respectivo subsector e, cumulativamente, a função de subunidade de intervenção e reserva do sector, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão. Por períodos variáveis, destacou efectivos para guarnecer destacamentos em Amedalai, Taibatá e Candamã, tendo em 14Nov66 transferido a sua sede para Fá Mandinga.

Em 27Jan67, por troca com a CCaç 818, assumiu a responsabilidade do subsector de Xitole, com um pelotão destacado em Saltinho, mantendo-se no mesmo sector. Destacou ainda efectivos para guarnecer os destacamentos em Cansamange, Quirafo e Ponte do rio Pulom, por períodos curtos. A partir de princípios de Jun67, passou a ter um pelotão destacado em Mansambo. 

Em 14Nov67, por troca com a CArt 1746, voltou para Fá Mandinga, de onde seguiu para Bissau a fim de efectuar o embarque de regresso. Observações

Tem História da Unidade incompleta (Caixa n." 72 - 2: Div/d." Sec., do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pp. 85/87.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série >  3 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21605: Os nossos capelães (14): João Baltar da Silva (Santo Tirso, 1944 - Moçambique, 2011): fez duas comissões no CTIG, de 16/9/1971 (Joaquim L. Fernandes, ex-alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974)

(**) Vd. poste de 17 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19023: Os nossos capelães militares (9): segundo os dados disponíveis, serviram no CTIG 113 capelães, 90% pertenciam ao Exército, e eram na sua grande maioria oriundos do clero secular ou diocesano. Houve ainda 7 franciscanos, 3 jesuitas, 2 salesianos e 1 dominicano.