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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12127: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (23): A placa toponímica "Parada Alf Tavares Machado" estava afixada na parede da messe de sargentos (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá, ex-fur mil, CART 2410, 1968/70)




Guiné > Região de Tombali > Guileje > s/d [ c. 1968] > Foto de Luís Guerreiro.

O Luís Guerreiro  foi fur mil da CART 2410, Os Dráculas (Guileje, Gadamael e Ganturé), e do Pel Caç Nat 65 (Piche, Buruntuma e Bajocunda), nos anos de  1968/70. Vive  em Monterreal, Canadá.  Outro camarada nosso que pertenceu à CART 2410 é o José Barros Rocha, de Penafiel. 

Foto: © Luís Guerreiro (2013).. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Com data de ontem, e em resposta ao poste P12124, recebemos a seguinte mensagem do nosso camarada Luís Guerreira:


Assunto: Memória de Guileje

Amigo Luis

Em resposta ao P12124 (*) sobre Memória de Guileje, do amigo Pepito,  sobre a placa da Parada Alf. Tavares Machado:

Envio uma foto aonde se vê a dita placa que estava instalada no edifício da messe de sargentos.

Espero que esta informação seja útil.

Um abraço, Luis Guerreiro

2. Comentário de L. G.:

Obrigado, Luís Guerreiro, camarada da diáspora, pela tua rápida e valiosíssima resposta. O Domingos Fonseca,  que dirige os trabalhos de reconstrução de Guileje, e que é um colaborador direto do Pepito, diretor executivo da ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento,  vai ficar felicíssimo pela preciosa informação que nos acaba de dar. 

Eu sei que nada disto é relevante para a Grande História... Ou talvez não: a História com H grande é como um rio, que é alimentado por milhares de pequenos rios e ribeiras. 

Neste caso, a pequena história (a "petite histoire", como dizem os franceses) ajudou-nos a recuperar a memória de mais um bravo de Guileje, esquecido há muito, o alf mil Tavares Machado. Honremos a sua memória, para que o seu sacrifício não tenha sido inútil. 

E aos meus amigos (sim, meu amigos da AD - Bissau!!!) Pepito e Domingos Fonseca [, foto à esquerda,]  eu mando um grande abraço com o meu apreço e a minha admiração pelo trabalho que estão a fazer, em Guileje e em Gadamael,  ajudando a reconstituir o "puzzle" da(s) nossa(s) memória(s) comum(uns)... 


terça-feira, 23 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11451: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (23): Respostas (nº 43/44/45): José Crisóstomo Lucas (CCAÇ 2617, Pirada, Paunca, Guileje, 1969/71); José Barros Rocha (CART 2410, Guileje e Gadamael, 1968/70); Eduardo Campos (CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74)

1. Resposta nº 42 >  José  Crisóstomo Lucas [ ex alferes miliciano, de operações especiais, CCAÇ 2617,  Magriços de Guileje, Pirada, Paunca, Guileje, 1969/71] [ Foto a seguir:  o JCLucas, ao centro, entre o fur mil Abílio Pimentel e o piloto do Cessna]



(1) Quando é que descobriste o blogue ? 

 Através de um dos ex-combatentes que me falou que discutiam Guileje Relembro de quem sou amigo.

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 

Claro que pesquisei no Google

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? 

Desde algum tempo ( anos )

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 

De tempos em tempos.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

 Já enviei alguns comentários mas poucos e a maior parte não foram publicados.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

 Já conheço.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ? 
Blogue

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ? 

Blogue.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ? 

Tentar enviar textos e não virem publicados,

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
 Não.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ? 

É estranho vermos muitos a dizerem o que não fizeram,

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

 Não.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ? 

Não.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ? 

Claro que sim

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 

Tudo de bom para o blogue continuem
PS1 - A foto publicada com o furriel Assunção não é minha mas de um dos meus Furriéis. A minha foto está junto da DO,  sou o Alferes que está nessa foto .

PS2 - Não sabes,  mas tenho um diário da Guine, logicamente com todos os ataques a Guileje . Um dia envio algumas páginas.. Só para que alguns se divirtam, já que têm sido os heróis privilegiados das terras de Guileje. Quando quiseres telefona estou à disposição  (...).


Resposta nº 43 >  José Barros Rocha [ex-Alf Mil, CART 2410, Os Dráculos (Guileje e Gadamael, 1968/70)]


1/2 - Descobri o Blogue, através de um camarada, em 2007.

3 - Sou membro da Tabanca Grande desde esse ano de 2007

4 - Actualmente visito-o talvez duas vezes por semana, devido a encontrar-me ainda em actividade

5 - Não tenho enviado material pois vai escasseando. No entanto, quando acho que devo intervir, lá o vou fazendo.

6/7 - Nunca utilizei o Facebook para ver a página da Tabanca Grande. E não gosto dele.

8 - No Blogue o que mais aprecio são os relatos das peripécias por que passámos no período da nossa passagem pela Guiné, além das fotos relacionadas com esse tempo e lugares.

9 - Algumas ligeiras picardias, mas que no fundo até são saudáveis. Agitam as águas !

10 - Não tenho tido dificuldade, somente alguma lentidão de vez em quando.

11 - Como já uma vez referi foi com o Blogue que vivi outras vidas...

12 - Desde a Ortigosa creio não ter falhado nenhum

13 - Lá estarei, assim tudo corra favoravelmente

14 - Tem mais que fôlego! Está aí para dar e vender! Há Camarigos que nunca o deixarão cair!

15 - A sugestão que me ocorre seria colocar para discussão "fraterna", de vez em quando, um tema relativo àquelas vivências, sem receios de ferir susceptibilidades quanto a terceiros ...


Resposta nº 44 > Eduardo Campos [, ex-1º Cabo Trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74]


1) Não me recordo.

2) Através do José Carvalho (meu cunhado).

3) Sim, sou membro da nossa Tabanca Grande.

4) Visito o blogue diariamente.

5) Já enviei bastante material e continuarei a enviar.

6) Sim, sou amigo no Facebook.

7)   Vou mais vezes ao Facebook.

8) No Blogue gosto mais de ler as narrativas dos camaradas passadas durante a sua "estadia" na Guiné.No Facebook, de nada de especial.

9)  No blogue, não encontro nada que não goste.No Facebook nada a comentar.

10) Dificuldade ultimamente em aceder ao Blogue? Agora não, mas num passado recente, sim

11)  Ajudou muito, tendo conseguido que eu falasse e muito da minha passagem pela Guiné e ter tido o privilégio de ter conhecido camaradas que hoje considero meus amigos. À nossa página no Facebook não presto muita atenção.

12)   Sim, a partir do 3º encontro estive sempre presente.

13) Sim, este ano, também vou estar no  VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real.

14)  Se essa força não te faltar a ti e a quem contigo colabora, direi naturalmente que sim.

15) O Facebook, não é nem nunca será um concorrente do nosso blogue....CONTINUA.
_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 22 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11443: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (22): Respostas (nºs 39/40/41): António J. Pereira da Costa (Cacine, 1968/69; Xime, Mansambo e Mansabá, 1972/74); António Melo (Catió e Bissau, 1972/74); e José Teixeira (Buba, Quebo, Mampata e Empada, 1968/70)

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11139: Memória dos lugares (217): Cameconde, Cacoca, Sangonhá e Ganturé, em 1968, ao tempo da CART 1692 (António J. Pereira da Costa)

Foto nº 1 - Guiné-Bissau > Região de Tombali > Setor de Cacine >  Cacoca > CART 1692 (1968/69) > " Um do nossos condutores, o  António Andrade Júnior,  que, por opção, 'viviam'  em Cameconde. O outro era o Alcides Pereira de Lima (Unimog 404), de quem não sabemos nada".(*) 

A CART 640, a que se refere o monumento, foi mobilizada pelo RAP 2, partiu para o TO da Guiné em 25/2/1964 e regressou em 27/1/66. Passou por Bissau, Farim, Sangonha, Cacoca e Bissau. Comandante(s): Cap art Carlos Alberto Matos Gueifão; e cap art José Eduardo Martinho  Garcia Leandro.


Foto (e legenda): © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


 1. O nosso camarada António José Pereira da Costa (Cor art ref, ex-alferes de art na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; e ex-cap e cmdt das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74). descreveu assim estes três sítios, com o rigor do geógrafo e o sentimento do etnógrafo:

(i) Só tenho fotos de Cacine e de Cameconde (*). A Ganturé nunca fui. A Sangonhá umas três ou quatro vezes e duas a Gadamael.

Tenho fotos de uma coluna ao limite do sector na estrada Cameconde-Sangonhá, quando fomos levantar três abatizes que o IN ali colocou. Em 26 de outubro de 1968 realizámos uma coluna pela estrada Cameconde - Ganturé para retirar três abatizes que o IN tinha colocado (um mangueiro e dois bisslões) e oito minas PMD - 6. Uma rebentou na roda traseira de um Unimog 404,  a penúltima viatura da coluna.

Foto nº 2

Numa das fotos [, nº 2,]   estou eu junto à traseira do Unimog no momento em que mudava o pneu.

Foto nº 3

Noutra foto [, nº 3]: eu, o João Almeida, encostados à Daimler do Pel Rec, e à direita da foto, o soldado Lameira que já nos deixou. Dos outros não me recordo do nome.


Foto nº 4

O João Almeida (o "Alce") levanta uma mina PMD-6 que estava logo ali. [, Foto nº 4].


Fotos do álbum do António J. Pereira da Costa, que era na CCaltura alferes QP da CART 1692/BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69).

Fotos (e legendas): © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


(ii) Afinal tenho esta foto de um elemento da CArt 1692 em Cacoca [ Foto nº 1].  É o António Andrade Júnior, um dos condutores que, por opção, "viviam" em Cameconde. O outro era o Alcides Pereira de Lima (Unimog 404), de quem não sabemos nada.

Este também tinha a seu cargo a manutenção do motor da luz em Cameconde. Tinha por alcunha "O Cauteleiro", tal como seu pai a tivera. Os filhos dele já foram a um encontro da CArt para conhecerem os camaradas do pai que faleceu cedo.

[Informação fornecida por email em 21/2/2013]

(iii) Memória de Cacoca (**)

(...) Em 1968, Cacoca era um daqueles lugares onde parecia não haver guerra. Dependente da Companhia sediada em Sangonhá, era um destacamento de nível Gr Comb, resumindo-se a uma pequena tabanca com pouco mais de duzentos habitantes.

O quartel era um pequeno recinto, quase um quintal, com uma vivenda de alvenaria, tipo colonial, ao centro. Nessa vivenda tinha funcionado uma daquelas lojas que só existiam ou ainda existem em África. Um daqueles estabelecimentos onde era possível comprar livros do Erskine Caldwel ou pregos de meia-galeota; garrafas de vinho verde ou pilhas para lanterna; panos com que as mulheres se cobriam ou tabaco americano que não se encontrava em Lisboa, enfim tudo ou quase tudo...

A loja ou “cantina” pertencera a um comerciante europeu a quem chamavam o Toneca e que, naquela altura, já só tinha estabelecimento em Cacine, onde vivia sem família, encarnando a figura do “lançado” no sertão. Tinha tido mais uma loja em Sangonhá, da qual se desfizera, e outra em Campeane que fora saqueada, logo no início da guerra. 

O Toneca era um homem só, longe dos seus que, ao que parece, andavam ali por Leiria. Aviava-nos com uma lenta eficácia, desencantando o que lhe pedíamos nas prateleiras junto ao tecto, ou no mais recôndito da arrecadação. Raramente falhava. À noite, a loja era um misto de tasca e café, onde se podia “meter uns copos”, ao balcão, ou tomar ar, em duas ou três mesas colocadas no alpendre. Um daqueles alpendres elevados e altos, tão frequentes, circundando as casas de um só piso. Assim teria sido também a loja de Cacoca que agora era uma instalação multiusos, misto de alojamento para pessoal, posto de socorros, posto de rádio, talvez depósito de géneros... etc., etc... e etc...

Não tenho memória de que tenha sido atacada com armas pesadas ou “ao arame”, com armas ligeiras, embora se situasse a cerca de 2 km da fronteira. Nunca mais esquecerei o meu primeiro contacto com essa casa onde, quando entrei para falar com o alferes que comandava o destacamento, se ouvia, num gira-discos a pilhas, o Gianny Morandi a cantar (bem alto) o “Non son degno di te”. 

A “máquina de fazer barulho” pertencia ao cabo maqueiro que, momentos depois discorria, em voz bastante alta, sobre os "Operacionais”, como ele, versus os “CêCê-Ésses”, que eram os outros. Via-se claramente que era um operacional pelo modo expedito como remendara um rasgão enorme nos fundilhos das calças do camuflado, recorrendo a um emplastro de adesivo daqueles com orifícios circulares, para a pele respirar... Expedientes de campanha ou o velho “desenrascanço dos portugueses”,  sempre presente aqui, ali ou em qualquer outro lado.

Quem viesse de Cacine, ao chegar ao “Cruzamento”, virava à direita e seguia paralelamente a uma pista de aterragem de terra batida (pouco operativa, na altura). O terreno era aberto e deixava ver, ao longe, a vivenda, emergindo da tabanca, cujos telhados de capim e cibe formavam uma espécie de arranjo floral de plantas secas à volta de uma flor ainda com viço. À direita e à esquerda a vegetação era densa, com todos os tons do espectro do verde, mas onde surgiam outros tons: de cinzento, de castanho e – para quem olhasse com vagar e detalhe – em salpicos mal semeados, de vermelho e amarelo.

A CArt 1692, à qual eu agora pertencia, guarnecia Cacine, mas antes tinha andado pelo sector de Sangonhá e Cacoca, e o Duarte – alferes da minha companhia, ex-seminarista como outros houve – assegurava que por ali era possível caçar pombos verdes e outras bichezas comestíveis que se manifestavam com certa abundância.

A população de Cacoca dava-se bem com os soldados e parecia haver uma certa amizade entre os jovens militares e os habitantes, independentemente das suas idades. Fiquei com a ideia de que a população colaborava na vivência da tropa de modo espontâneo e franco. A actividade operacional resumia-se a garantir a possibilidade de comunicar com a sede da Companhia. (...)


Segundo o nosso camarada Nuno Rubim, parece que também houve uma guarnição militar, nossa, em Gadamael Fronteira. E sobre Ganturé (não confundir com Ganturé, no Rio Cacheu), ele diz-nos que esteve lá iinstalado um Pel Rec ou um Gr Comb desde fev/Mmar 1964 até jul 69, pelo menos. Sangonhá terá sido abandonado, por decisão do Com-Chefe, em meados ou em finais de 1968, tal como Cacoca, segundo informação do António J. Pereira da Costa.




Guiné > Região de Tombali > Sangonhá, a sul de Gadamael -Porto > s/d > Vista aérea do destacamento e da sua pista de aviação. Este destacamento deverá ter sido abandonado pelas NT em finais de 1968 (O destacamento de Mejo foi evacuado em 28 de Janeiro de 1969, na mesma data de Gandembel e de Balana.  Em 6 de Janeiro de 1969, o PAIGC lançou um poderoso ataque contra Ganturé, a partir de Sangonhá. A FAP ripostou, provocando 36 mortos e muitos mortos. Foto de autor desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual, do nossos parceiro guineense, a ONG AD - Acção para o Desenvolvimento.

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento  (2007). [Editada por L.G.].


(iv) O abandono de Cacoca e Sangonhá (**)

(...) A chegada do General Spínola à Guiné alterou profundamente a condução da guerra e as visitas que realizou a todos os aquartelamentos, por diminutos que fossem, ouvindo os “residentes”, como nunca tinham sido ouvidos, causaram boa impressão, embora constituíssem, para quem expunha os problemas, como que uma espécie de exame prático das soluções adoptadas.

Havia chegado há pouco tempo quando foi a Cacine e eu assisti a uma conversa com o capitão Veiga da Fonseca em que pretendeu saber, naquele sector, quais as posições que deveriam ser abandonadas, se pretendesse recuperar tropa “de quadrícula” para dispor de mais unidades “de intervenção”. 

O nosso Batalhão – o BArt 1896 – tinha, então, seis Companhias no terreno – Cacine e Cameconde, Sangonhá e Cacoca, Gadamael e Ganturé, Guileje, Mejo e Gadembel e Ponte do Balana (acabados de construir) – e, obviamente, a CCS sediada em Buba. O capitão respondeu-lhe que, para não perder o controlo da estrada para Guileje e depois Mejo, não deveria abandonar nenhuma posição, mas se a ideia era aquela, então que abandonasse Cacoca e Sangonhá. 

A decisão veio alguns dias depois e passámos a “fazer sector” com a unidade de Gadamael. Os quartéis de Cacoca e Sangonhá foram simplesmente abandonados e a população aceitou bem a decisão (pareceu-me, pelo menos,) e repartiu-se, segundo as suas afinidades e desejos, entre Gadamael e Cacine, o que levou à realização de mais de 30 colunas em 20 dias, com as viaturas ajoujadas de carga e passageiros. Transportámos tudo o que se podia mover. Com os homens, mulheres e crianças, seguiram as mobílias, as roupas e os alimentos, os animais domésticos e até os telhados das casas (capim e as rachas de cibe). Uma autêntica migração realizada prioritariamente para Cacine, onde havia mais recursos, espaço e melhor protecção contra as actividades dos guerrilheiros. 

(...) Por volta de Março ou Abril de 1968, começámos a abrir à esquerda da estrada, como quem vai para Cameconde, uma área desmatada, com cerca de 50 metros de largura destinada a evitar que o inimigo conseguisse instalar-se a curta distância da estrada. Já tinha havido e voltou a haver, depois da nossa saída, emboscadas às colunas que iam de Cacine a Cameconde.

Aqueles 8 quilómetros de estrada eram diariamente percorridos: todas as manhãs e nos dois sentidos, por um pelotão de milícia, e pela coluna auto que saía e retornava a Cacine, sem horários marcados. A população colaborava diariamente, com mais ou menos vontade, nos trabalhos de desmatação com o objectivo de criar uma área de terreno cultivável e sob a vigilância de um grupo de combate, lá ia, formada em linha, cortando e abatendo tudo o que fosse vegetação. (..:) 

O mais insólito sucedeu no dia em que fomos atacados da ponta Cabascane. Devido às suas luzes, Cacine referenciava-se bem de longe e os serventes do PAIGC estavam inspirados, naquele fim de tarde. Por isso, algumas morteiradas caíram dentro do quartel. A flagelação teve lugar imediatamente antes do jantar, na altura em que, na varanda da vivenda que servia de messe, estávamos a apanhar fresco e beber um aperitivo. Cada um fugiu para o seu sítio e o gravador Akai do capitão continuou a tocar indiferente à flagelação. Era um gravador de fitas, com duas colunas grandes que davam um som óptimo (para o tempo). A mesa onde comíamos estava colocada a um canto da casa (um sítio bastante seguro) e o PIDE, sem lugar definido em caso de ataque, acabou por entrar em casa e esconder-se debaixo da mesa. Dali gritava para que alguém lhe “apagasse a música”. Porém, ninguém voltou atrás para essa tarefa. Depois do ataque, ao jantar, explicava que “não se deve brincar com a providência” e que aquela música, no meio das explosões, o enervara sobremaneira. Daí a sua respiração ainda resfolegante...

(...) As casas para a população de Cacoca e Sangonhá foram construídas, na área da antiga “Missão do Sono”, então desactivada pela erradicação da doença. O auxílio muito empenhado do pessoal da companhia foi essencial e foi a primeira vez que vi casas cuja construção começou pelo telhado. Tudo começava com a construção de uma estrutura que suportava o telhado. Depois, este ia sendo construído e coberto de capim. Por fim, eram as paredes que resultavam de um espécie de rede de paus mais curtos e espetados no solo que faziam ângulos de rectos com outros mais compridos dispostos na horizontal. No recticulado que assim se formava iam sendo colocadas, pela face interior, “chapadas” de lama que, secando, iam constituindo as paredes das habitações. (...)

O quartel de Cacoca ficou incluído no nosso sector e, de vez em quando íamos para aqueles lados. Até para que o IN não o tomasse como seu. Como era um ponto bem marcado no terreno e observável desde “o cruzamento” utilizámo-lo uma vez numa regulação de precisão de fogos de artilharia, com observação terrestre. (...)


Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1621 (1966/68) > 1968 > Picada de Sangonhá para Cacine. A CCAÇ 1621, que esteve antes em Cufar e Cachil, terminou a sua comissão em Sangonhá, em 1968. O aquartelamento de Sangonhá deve ter sido abandonado pelas NT em meados ou em finais de 1968. Os guerrilheiros do PAIGC fora, massacrados pela FAP,  em 6 de Janeiro de 1969, quando atacavam Ganturé, a partir da antiga pista de Sangonhá. Terão tido 36 mortos, e muitos feridos.(***).

Foto (e legendas): ©  Hugo Moura Ferreira  (2006). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 22 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11133: Memória dos lugares (215): Cameconde (António J. Pereira da Costa, CART 1962, 1968/69) / Manuel Ribeiro , CART 6552/72, 1973/74, a companhia do célebre Lemos, do FC Porto que marcou 4 golos ao Benfica, em 31/1/1971)

(**) Reprodução parcial do poste de 18 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6614: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (3): Gente de Cacoca e outros

(***) Vd. postes de:

 25 de fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2579: Álbum Fotográfico do Hugo Moura Ferreira (3): Em Sangonhá, a sul de Gadamael, com a CCAÇ 1621 (1968)

(...) Depois de estar em Cufar e Cachil, a CCAÇ1621 foi terminar a comissão em Sangonhá, que ficava a sul de Gadamael-Porto. O aquartelamento (e a tabanca) terá sido abandonado pelas NT em finais de 1968.

Fotos que foram cedidas por antigos camaradas de armas ao Hugo Moura Ferreira , entre eles o ex-Fur Mil Correia Pinto, e que nos foram enviadas em Julho de 2006, na sequência do Convívio anual do pessoal da CCAÇ 1621, em 2 de Julho de 2006.

O Hugo esteve na Guiné de Novembro de 1966 a Novembro de 1968, como Alf Mil Inf, primeiro na CCAÇ 1621, em Cufar e Cachil (de Novembro de 1966 a Junho de 1967), e depois na CCAÇ 6, em Bedanda (de Julho de 1967 a Julho de 1968). O Hugo já não acompanhoua a companhia, com destino a Sangonhá, por ter sido transferido para Bedanda (CCAÇ 6 - antiga 4ª Companhia de Caçadores) . A grande maioria do pessoal desta unidade era do Minho e Trás-os-Montes. O Hugo esteve pela primeira vez com eles, no convívio de 2 de Julho de 2006 . (,,,)

23 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2574: Estórias de Guileje (9): O massacre de Sangonhá, pela Força Aérea, em 6 de Janeiro de 1969 (José Rocha)

(,,,) No dia 6 de Janeiro de 1969, cerca das 8 horas da manhã as forças do PAIGC, estacionadas na antiga pista do quartel abandonado de Sangonhá, iniciaram um ataque bastante cerrado com armas pesadas ao Destacamento de Ganturé, tendo caído algumas granadas no interior do mesmo.

O pessoal do destacamento [de Ganturé] respondeu com morteiro 81 e 60, mas o ataque continuava. Então pediram apoio a Gadamael, que reagiu com mesmo tipo de armamento e, se a memória não me falha, também com o obus 8,8 [, ou peça de artilharia 11,4 ?].
Mesmo assim a festa não parava e então pediu-se o apoio aéreo, que surgiu, composto por dois Fiat. Pediram-nos a localização provável de onde estávamos a ser atacados, e que sinalizámos com granadas de fumo, disparadas pelo morteiro 81. Dirigiram-se para essa zona e de imediato começámos a ouvir rajadas - eram de anti-aérea - e nós perguntámos aos pilotos se eram eles que estavam a fazer fogo, tendo-nos respondido que não! Então numa conversa entre ambos os pilotos, ouvimos um deles dizer ao outro "senti qualquer coisa no meu aparelho"! E comunicaram-nos que iam regressar a Bissau.

Passado algum tempo regressaram 4 Fiat e mais tarde 2 T-6 e uma DO [- Dornier 27]. Entraram pelo lado de Cacine e de imediato iniciaram o lançamento de bombas, cuja explosão era perfeitamente audível e sentida através de fortes tremores do solo. (Estávamos a uma distância de cerca de 6/8 Kms em linha recta).

A operação terminou cerca das 13 horas. Na tentativa de sabermos exctamente o que tinha acontecido, eu e o Rodrigues (ex-Alferes Miliciano) reunimos um grupo razoável de voluntários, e pedimos ao Capitão para nos deslocarmos ao local, mas a nossa pretensão não teve acolhimento. Apanhámos um grande balde de água fria!

Somente no dia 9 [de Janeiro de 1969, três dias depois], com apoio aéreo, é que fomos ao local. No percurso encontrámos carretéis de fio telefónico com uma extensão de cerca de 4/5 kms, abrigos individuais ao lado da estrada, e, na antiga pista [ de Sangonhá], armas destruídas e pedaços de corpos de negros e brancos e 13 sepulturas. Uns dias depois tivemos a informação de 36 mortos confirmados e muitos feridos.

O aspecto do local era medonho! A terra, cuja cor natural é avermelhada, tinha a cor cinza! O intenso cheiro a putrefacção! Os abutres (jagudis) às dezenas! As árvores queimadas! Enfim. (...).

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10500: Ficou um Palmeirim nas bolanhas da Guiné (3): No N/M Uíge, com Lisboa à vista (J.L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)



Lisboa > O N/M Uíge em 1968, no Rio Tejo, com tropas a bordo. Foto do álbum do nosso camarada, empregado bancário reformado, a viver em Penafiel, José Rocha, ou José Barros Rcoha, ex-Alf Mil, CART 2410 (que passou por Mansoa, Guileje e Gadamael, 1968/70).

Foto: © José Rocha (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

A. Continuação da nova série do nosso camarada e amigo J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil da CCAÇ 728, (Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), jurista da Caixa  Geral de Depósitos, reformado [, foto atual à esquerda]. 

[ Esta nova série evoca a figura e narra a história alf mil Mário Sasso, da CCAÇ 728 - Os Palmeirins -,  nascido na Beira, em Moçambique, de uma família de origem eslovena, os Sasso; o Mário Sasso foi morto em combate no Cantanhez, em 5 de dezembro de 1965].




B. Ficou um palmeirim nas bolanhas da Guiné >  

3. A Barra do Tejo


Foi o primeiro a subir ao portaló, do garboso Uíge, ao raiar do dia previsto para a chegada. Que ansiedade...

Fazia uma ligeira neblina sobre a extensão de mar, mas dava para ver, ao longe, em recorte de brincar, uma faixa de verdura, salpicada de pontos brancos, avermelhados por cima. Eram as casitas da costa alentejana todas rasteirinhas ao chão.

Não havia ainda aquela praga de betão, a crescer em altura, que havia de surgir, muitos anos, mais tarde. Muito diferente do que estava habituado a ver. Nada que se parecesse com aquela pujança de verde, em altura e densidade.

A luminosidade do céu e a cor da luz do sol eram diferentes. Ali, o sol estava a nascer dos fundos da terra e não das larguras das águas do mar, como na Beira. A bola de fogo não era tão cheia de lume e o vestido do céu era de um azul muito mais ténue, como o de uma criança... O céu era mais alto e transparente até ao infinito, em vez da capa acinzentada a que se habituara, desde pequeno.

Do outro lado do vapor, era o mar imenso, a perder de vista. Já estavam todos fartos de mar, desde a saída, há uns dez dias, sem parar.

Ao fim de uma horas sempre iguais, surge uma grande embocadura, a entrar pela terra dentro. Um farol ao meio, divide-a, em partes diferentes. A do lado direito é amarelada e ondulada; desce, erma e alcantilada, sobre as águas verdes do rio; a do lado esquerdo está cheia de casario estendido pela encosta suave e verde acima, coberta de pinheiros.

O rio vai-se estreitando, lentamente, sem deixar de ter um grande porte…enquanto o casario se vai adensando.

Um frémito nunca sentido invade o jovem Mário que está a sorver tudo, como se fosse uma máquina de filmar. Ali está a famosa Torre de Belém. Tão pequena que ela é afinal…mas é bonita!… Os Jerónimos de telhado rendilhado e com vários torreões esguios lançados para o alto… Um grande palácio ao meio da encosta. Deve ter sido um palácio real. E o casario adensa-se cada vez mais.

O Uíge avança lentamente, em direcção ao cais e deixa ver mais além o Castelo de são Jorge, lá em cima e a Sé, no meio de um mar avermelhado de telhados entrelaçados, sem uma ordem que se percebesse, à primeira vista…A balaustrada do paquete está abarrotar do lado do cais. Lá em baixo há muitos lenços a esvoaçar.

Era a cena que estava sempre a repetir-se. Várias vezes por semana. Os vapores de transporte de passageiros eram o principal, se não exclusivo, meio de ligação da metrópole, pelo mar abaixo, com as extensas e numerosas colónias que formavam o Portugal, de então e com o além-mar, americano.

O avião, sem qualquer carácter de regularidade, ainda estava reservado ao transporte militar.

(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10459: Ficou um Palmeirim nas bolanhas da Guiné (2): A cidade moçambicana da Beira,berço do Mário Sasso (J.L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10413: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte IX: Mais fotos do álbum do cor inf ref Jorge Parracho, que integram hoje o Núcleo Museológico Memória de Guiledje



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 40, sem legenda  >  O comandante da companhia sentado à entrada da sua morança (?), ou então mais provavelmente da secretaria, ou ainda do bar/messe de oficiais. Neste tempo já havia abrigos, construídos pela engenharia militar, presumindo-se que todo o pessoal militar dormisse, pelo menos, nos abrigos...



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 9, sem legenda  > A porta de armas... Ao fundo, uma série impressionate de barris com frases saudando os visitantes de Guileje.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 45, sem legenda  > Aspeto parcial do aquartelamento e tabanca... Ao todo viviam em Guileje cerca de 800 pessoas, entre civis e militares.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 46, sem legenda  >  Mais um aspeto parcial do aquartelamento e tabanca. Do lado esquerdo, um dos espaldões da artilharia (um das 3 peças 11,4, que defendiam Guleje, orientadas para a fronteira, a sul).


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 42, sem legenda  >  Vista aérea, geral, do aquartelamento e tabanca. Ao fundo, os três espaldões de artilharia, antes a orla da floresta... Ao lado direito, o heliporto


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 45, sem legenda  >  Porta de armas, passadeira VIP feita com garrafas de cerveja dando acesso à pista de aviação e ao fundo um dos impressioantes "bunkers" construídos pelo BENG.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 6, sem legenda  > Guiné > Região de Tombali > Guileje >  Porta de armas e por detrás um dos "bunkers" construídos pela engenharia militar no tempo da CART 2410 (1969/70). Jorge Parracho e um dos seus alferes (presume-se que seja o Rodrigues).


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho > Foto n.º 39, sem legenda  > O cap Parracho com a malta do Pel Art n.º 5, que era comandado pelo alf mil art Cristina... O quarto militar, na primeira fila, a contar da direita para a esquerda, parece ser o alf mil médico Mário Bravo, nosso grã-tabanqueiro.

Fotos: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [As fotos de Jorge Parracho foram disponibilizadas à ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, em 2007, no âmbito do projecto de criação do Núcleo Museológico Memória de Guiledje. Não têm legendas, vêm apenas numeradas.
Legendagem da responsabilidade de L.G, que recorreu às informações já aqui publicadas pelo Orlando Silva sobre a CCAÇ 3325].


1. Já aqui chamámos, no devido tempo, a atenção para a a qualidade dos materiais usados pela Engenharia Militar na construção dos abrigos de Guileje que toda a gente diz (ou dizia) que eram os melhores da Guiné... As escavações arqueológicas, pela AD - Acção para o Desenvolvimento, vieram mostrar as placas de cimento armado ainda estavam como novas, ao fim de quase 4 dezenas de anos, capazes de aguentar bem o morteiro 120...

O José Barros Rocha, ex-alf mil, da CART 2410, os Dráculas, chegou a  Guileje em Junho de 1969, e por lá ficou até Março de 1970. Já aqui nos falou também sobre a construção dos abrigos:

"Recordo-me que houve um Pelotão de Engenharia que durante esse período aí esteve sediado para construir dois abrigos de betão armado, e que se afirmava serem à prova das granadas do Morteiro 120 ou 122. Dois Pelotões aí tinham a sua residência!!! Tais abrigos localizavam-se por detrás do refeitório e à direita da saída para estrada que seguia para Mejo"...

Recorde.se aqui as companhais que passaram por Guileje, desde o tempo do José Barros Rocha, de junho de 1960 a maio de 1973:

CART 2410 (Jun 1969/Mar 1970) (contacto: Armindo Batata,. comandante do Pel Caç Nat 51)
CCAÇ 2617 ( Mar 1970/Fev 1971) > Os Magriços (contacto: Abílio)
CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971)  > Os Cobras de Guileje (contacto: Jorge Parracho)
CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972) > Os Gringos de Guileje (contacto: Amaro Munhoz Samúdio)
CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) > Os Piratas de Guileje (contacto: José Casimiro Carvalho )


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Outubro de 2010 > Escavações no antigo aquartelamento das NT, abandonado em 22 de Maio de 1973 > Foto n.º 12 > Um curioso artefacto produzido por um militar da CCAÇ 3325 (À direita, a sua efígie; de quem seria ?)...

Fotos: © Pepito / AD -Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



2. A origem destas fotos do cor inf ref Jorge Parracho já foi aqui explicada pelo nosso amigo  Pepito, em poste de 15 de janeiro de 2007:

(...) Queria pedir-te dois apoios, embora saiba que tempo é o que tens menos:

(i) Quando aí estive no verão 2006, conheci o Coronel Jorge Parracho que me forneceu excelentes fotos, algumas das quais te enviei. Nessa altura, e por seu intermédio conheci o ex-enfermeiro de Guiledje, Vitor Manuel Rodrigues Fernandes (CCaç  3325) que estava na altura a digitalizar o Livro da Unidade, tendo-mo prometido logo que acabasse (em finais de Setembro). O favor que te pedia era o de, se possível, dares-lhe uma chamada (933323135) para saber se ele já concluiu o trabalho e se te poderia dar esse documento, para tu mo dares.

(ii) Como vou aí na 3.ª semana de Fevereiro, gostaria de contactar com o [Coronel] Coutinho Lima, último Comandante do quartel de Guiledje [ou, melhor, do COP 5], elemento determinante do nosso 
projecto. (...)




Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1972 ou 1973 > Croquis do aquartelamento e tabanca, desenhado à mão pelo Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho (CCAV 8350, 1972/73), e enviado pelo correio a seu pai. Clicar na imagem para ampliar.

Legenda:

(i) Pelo que se consegue perceber nesta infografia, o aquartelamento e a tabanca de Guileje formavam um rectângulo, todo minado à volta, na parte desmatada, com minas, armadilhas e fornilhos;

(ii) A orientação parece ser norte/sul, tendo as peças de artilharia de 11.4, em número de três, apontadas para a fronteira com a República da Guiné-Conacri (a sul);

(iii) Podem ver-se ainda as posições dos morteiros, a verde: dois 81 (incluindo o 'meu', o que era operado pela secção do Furriel Carvalho, do lado oeste, junto a um dos abrigos) e dois 10,7 (ou 120?);

(iv) A oeste, há um campo de futebol, uma pista de aterragem de aeronaves e um heliporto;

(v) Ao longo do perímetro do aquartelamento, há arame farpado, postos de iluminação, postos de sentinela (cinco), abrigos e valas, todos devidamente assinalados;

(vi)  As palhotas da tabanca situam-se dentro do perímetro do aquartelamento;

(vii) O trilho que corre a norte da pista de aviação era o trilho da água, o que significava que as NT e a população precisavam de sair do perímetro defensivo para se abastecer do precioso líquido;

(viii)  A esttrada que atravessava o aquartelamento e a tabanca, no sentido norte/sul era a que seguia para Mejo e Bedanda (a noroeste) e ligava a sul à estrada de Mampatá - Gadamael - Cacine, ao longo da fronteira.

Infografia: © José Casimiro Carvalho (2005)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. 
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Nota do editor:
 

Último poste da série >16 de setembro de 2012 >  Guiné 63/74 - P10390: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte VIII: Mais fotos do álbum do cor inf ref Jorge Parracho, que integram hoje o Núcleo Museológico Memória de Guiledje

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10116: Inquérito online: "Um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude ?" (Parte III) (Luís Graça / Hélder Sousa / José Rocha)


Sondagem realizada, "on line", de 28 de junho a 4 de julho de 2012. Opinião dos nossos leitores (n=115) sobre o conteúdo da afirmação do historiador francês René Pélissier sobre o nosso blogue ("É um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude")...

Como se pode avaliar pelos resultados expostos acima, as opiniões estão extremadas: uma maioria relativa de 48.7 % (n=56) concorda totalmente ou em parte com a afirmação do René Pélissier; outra parte dos nossos leitores, ligeiramente mais pequena (41.8%; n=48),  discorda totalmente ou em parte ... Apenas 1 em cada 10 parece não ter opinião.

Não se tratava de opinar sobre o historiador (e a sua obra) mas apenas sobre a percepção que ele tem do nosso blogue. Alguns dos nossos leitores acabaram por centrar-se demasiado na pessoa do mensageiro, ignorando ou escamoteando a sua mensagem. Pessoalmente, também discordei frontalmente da opinião do nosso leitor René Pélissier, que me parece redutora. De qualquer modo, todos os que votaram nesta sondagem e/ou expressaram os seus pontos de vista, são credores dos nossos encómios e agradecimentos. (LG)



2. Um dos nossos leitores (camarada, amigo e colaborador permanente) que publicitou e justificou o seu voto foi o o Helder Sousa [, foto à direita]... Aqui fica a sua opinião:

(...) Caros amigos e camaradas: Também exerci a minha possibilidade de votar e votei 'discordo'. Esta questão parece-me simples e fiquei um tanto admirado com o teor de alguns comentários que fui lendo.

Vi as coisas do seguinte modo: um senhor chamado René Pelissier, tido por 'especialista' em questões africanas e em particular relacionadas com Portugal, apreciou e comentou um livro dum camarada nosso, o Fernando Gouveia, que o escreveu a partir do impulso que a sua vivência no nosso Blogue lhe incutiu.

Por via disso, o René, para além de elogiar o livro "Na Kontra Ka Kontra",  acaba também por referenciar o nosso Blogue caracterizando-o como sendo "um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude".

Também por via disso, foi colocado o inquérito para saber em que medida nos revemos nessa classificação.

Vamos por partes: temos, por um lado, uma apreciação a um trabalho de um estimado camarada e, sendo positiva (até podia não ser),  é agradável. Há depois a referência ao nosso Blogue. Não o hostiliza, não o ridiculariza, apenas o classifica segundo os seus (dele) preconceitos, segundo o que ele 'pensa' que é.

Discutir o René, é perda de tempo. Aliás, é inútil, porque o que quer que seja que se venha aqui a teorizar sobre os méritos ou deméritos do 'escritor', do 'jornalista', do 'historiador', não terão grande efeito para além da esfera da nossa audiência.

Portanto, fica a pergunta do inquérito. Não, não acho, que seja um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude. Aliás, grande parte dos comentários que se foi lendo explicam isso muito bem. Pode haver 'nostálgicos', isso sim. Nostálgicos da guerra? Alguns, sim!

Nostálgicos dos tempos da juventude? Também haverá, certamente, e como não poderia isso acontecer, se é normal que o avançar na idade faça muitas vezes recuar as lembranças? Mas não é essa a 'imagem de marca' dos milhares de textos, de poemas, de artigos, que por aqui vão passando.

É, para alguns, um acerto de contas com a 'sua' história, é 'blogoterapia', é tantas vezes o sublimar da amizade...

Ná, não é, definitivamente, "um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude". É de gente solidária, veja-se a ajuda aos vários projectos que se vão desenvolvendo na Guiné, é até de 'filhos de veteranos', portanto o meu forte 'discordo'. (...)




3. Outro camarada, o José Barros Rocha (ex-Alf Mil da CART 2410 - Os Dráculas, Guileje e Gadamael, 1968/70), também expressou um ponto de vista pessoal e original sobre o tópico em apreço:

(...) Não se trata de uma nostalgia da juventude 'lato sensu' nem de uma nostalgia limitada a um período curto - 3 anos?! - da nossa juventude, apesar de, este, ter sido vivido em intenso ambiente de guerra.

Trata-se antes - e é esse, se bem interpreto o espírito da Tabanca - da comunicação pessoal das nossas vivências de tempos tão difíceis, tempos de imprevistos, tempos de incógnitas, tempos de indefinições.

É a libertação de alguns pesadelos, uma sessão de psicanálise, uma catarse, que se manifestam quer pelas palavras e quer também pelas fotografias com todo o seu significado intrínseco e intenso.

Por tudo isto, discordo frontalmente da opinião do 'historiador'. (...)

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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10110: Sondagem: "Um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude ?" (Parte II) (A. Graça de Abreu / António Rosinha /Armando Pires / Carlos Nabeiro / J. Pardete Ferreira / Manuel Joaquim / Manuel Maia

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P8977: Em busca de ... (175): 1.º Cabo Corneteiro Albino da CCAÇ 3326, Mampatá, 1971/72 (José Barros Rocha)

1. Mensagem do nosso camarada José Barros Rocha (ex-Alf Mil da CART 2410 - Os Dráculas, Guileje e Gadamael, 1968/70), com data de 30 de Outubro de 2011:

Caro Camarigo Carlos Vinhal
Desde já as minhas desculpas pelo "trabalho" que venho solicitar e que é o seguinte:

Conheci há dias um Camarada que também esteve na Guiné, mais precisamente em Mampatá, nos anos 1971/1973, integrado num Pelotão Independente de Armas Pesadas agregado à CCAÇ 3326, que me perguntou se seria possível localizar um outro Camarada, de quem era amicíssimo e do qual perdeu o contacto desde o regresso. Respondi-lhe que iria tentar através da "nossa" Tabanca, e daí este meu pedido.


Sinteticamente:
O camarada que ele procura chama-se Albino, natural da Covilhã, tinha o posto de 1.º Cabo Clarim e pertencia à CCAÇ 3326, sediada em Mampatá.

Renovo as desculpas e desde já os meus agradecimentos pelo que puderes conseguir para este nosso camarada.

Um abraço camarigo
José Rocha
CART 2410


2. Comentário de CV:

Aqui fica o pedido do nosso camarada José Barros Rocha, em nome do camarada (não identificado) que procura o Albino, ex-1.º Cabo Corneteiro da CCAÇ 3326 que esteve em Mampatá entre Fevereiro de 1971 e Agosto de 1972.

Não temos no nosso Blogue nenhuma referência à CCAÇ 3326, nem na página do nosso camarada Jorge Santos há algum pedido de contacto desta Unidade.
Resta a esperança de que algum dos nossos leitores possa dar uma ajuda.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8938: Em busca de ... (174): Henrique Paulino Serrão, ex-Marinheiro Fuzileiro Especial do DFE10, procura informação sobre a localização dos seus camaradas

terça-feira, 26 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8168: Efemérides (66): 41º Aniversário do regresso, em 25/4/1970, no N/M Ana Mafalda, da CART 2410, Os Dráculas (Gadamael e Guileje, 1968/70) (José Barros Rocha)



N/M Ana Malfada > Abril de 1970 > Malta da CART 2410 >  Legenda do fotógrafo: "Porão do Ana Mafalda. Assim viajaram os soldados"...


Lisboa > O N/M Ana Mafalda, navio misto (mercadorias e passageiros), que tinha o comprimento (fora a fora) de um campo de futebol...lAlojamentos para 16 passageiros em primeira classe, 24 em segunda e 12 em terceira classe, no total de 52... Nº de tripulantes: 47...


Lisboa > Estuário do Tejo > 25 de Abril de 1970 > A chegada do N/M Ana Mafalda, tendo do lado direito o monumento do Cristo Rei (inaugurado em 1959) e o Olho de Boi, no cais do Ginjal, Cacilhas, na margem esquerda do Rio Tejo, concelho de Almada.

Fotos (e legendas): © José Rocha (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
 
1. Mensagem do nosso camarada, empregado bancário reformado, a viver em Penafiel,  José Rocha, ou José Barros Rcoha, ex-Alf Mil, CART 2410, Os Dráculos (Guileje e Gadamael, 1968/70) (*)

Data: 25 de Abril de 2011 14:56
Assunto: 41º Aniversário do regresso da Guiné da CART 2410

Olá, Camarigos!

Espero que tenham tido um óptimo Dia de Páscoa! E que os "coelhinhos" do Miguel Pessoa não hajam "sofrido" muito...

Venho ao vosso encontro para comunicar que hoje, 25 de Abril, a minha Companhia - CART 2410 - celebra o 41º aniversário do regresso da Guiné, no ANA MAFALDA! (**)

Vou tentar enviar umas fotos alusivas ao dia 25 de Abril de 1970.

Um abraço Camarigo para todos!
José Rocha, ex-Alf Mil [, foto à esquerda]
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Nota do editor:

(*) Vd. outros psotes do José Rocha:

23 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2574: Estórias de Guileje (9): O massacre de Sangonhá, pela Força Aérea, em 6 de Janeiro de 1969 (José Rocha)

18 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1443: Contributo para a história da construção do aquartelamento de Guileje (José Barros Rocha, CART 2410, Os Dráculas, 1969/70)

(**) A CART 2410 foi mobilizada pelo GACA 2, embarcou em 11/8/1968 e regressou a 18/4/1970. Esteve em Gadamael e Guileje. Comandante: Cap Mil Art Amílcar Cardigos Pereira. A CART 2410, Os Dráculas, está também representada no nosso blogue pelo ex-Fur Mil do 4.º Gr Comb Luís Guerreiro (que vive hoje na Canadá).
18 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2663: Tabanca Grande (58): Luís Guerreiro, ex-Fur Mil da CART 2410 e Pel Caç Nat 65 (Ganturé, 1968/70)

23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3086: Memórias dos Lugares (10): Gadamael, CART 2410, 1968/69, Parte I (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá)
 
23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3087: Memórias dos Lugares (11): Gadamael, CART 2410, 1968/69, Parte II (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá)
 
22 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7156: Memória dos lugares (102): Gadamael: a misteriosa sigla A.S.C.O já lá estava no tempo do Luís Guerreiro (1969) e do José Gonçalves (1974), dois camaradas que vivem no Canadá
 
(***) Último poste da série > 7 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8059: Efemérides (64): Freguesia de Mar-Esposende: Homenagem aos ex-Combatentes no dia 1 de Maio de 2011 (José F. Silva/Fernando Cepa)

Guiné 63/74 - P8167: 7º Aniversário do Nosso Blogue: 23 de Abril de 2011 (22): Graças a vocês consegui viver "outras vidas" (José Barros Rocha)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CART 2410 (1968/70) >  Preparação de uma coluna de reabastecimento a Guileje



 
Lisboa >  A formatura da minha Companhia (parte) antes do embarque no Uíge, no dia 11 de Agosto de 1968, no Cais da Rocha do Conde de Óbidos.(O José Rocha aparece em segundo plano, do lado esquerdo.



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Vista do porto de Gadamael-Porto.


Lisboa > O N/M Uíge em 1968 com tropas a bordo.


Fotos (e legendas): © José Rocha (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada, empregado bancário reformado, a viver em Penafiel,  José Rocha, ou José Barros Rcoha, ex-Alf Mil, CART 2410 (que passou por Mansoa, Guileje e Gadamael, 1968/70)



Data: 23 de Abril de 2011 14:22
Assunto: Aniversário/Blogue



Camarada e Amigo Luis Graça:
Parabéns pelo 7.º Aniversário do Blogue! Parabéns pelo Blogue! Parabéns a Ti!


Graças ao Blogue do Graça  consegui "viver" outras vidas...


Obrigado! A ti, Luís, e aos  teus Ajudantes de e em Campo, os meus agradecimentos.
Sigam em frente! O Blogue é imprescindível!


Aquele abraço camarigo!
José Rocha
Ex-Alf Mil da CART 2410
P.S. - Vou tentar enviar algumas fotos daqueles tempos...


A 1.ª  é o Uíge em 68 com tropas a bordo;
A 2.ª é a Formatura da minha Companhia (parte) antes do embarque no Uíge, no dia 11 de Agosto de 1968, no Cais da Rocha do Conde de Óbidos;
A 3.ª é uma vista do porto de Gadamael-Porto;
A 4.ª é a preparação de uma coluna de reabastecimento a Guileje


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Nota do editor:

Último poste da série >  26 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8166: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (21): Saúdo o núcleo permanente de colaboradores que vem mantendo absolutamente impecável este grande projecto (Rui Ferreira)

sábado, 25 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7502: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (19): José Barros Rocha, de Penafiel, ex- Alf Mil, CART 2419 (Mansoa, 1979/70)

Região de Tombali > Guileje > 1969 CART 2410, Os Dráculas (Junho de 1969; Março de 1970) > Alf Mil José Barros Rocha, reformado da actividade bancário, natural de Penafiel, se não erro... [,foto à esquerda].

1. Notícias de um camarada José Barros Rocha (não confundir com o com popular José Rocha, ex-Alf  Mil da CCS/ BBCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70, amigo do António Pimentel, nosso amigo também, membro da Tabanca de Matosinhos, mas que ainda não se inscreveu na Tabanca Grande: estranha contradição, quem pertence à Tabanca Pequena deveria passar automaticamente a pertencer à Tabanca Grande, mas não: as regras são diferentes, a filosofia organizativa também é um bocado diferente...).  

Estamos a falar de um camarigo do Norte, um homem que na Guiné esteve no sul, e eu eu conheci por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje... membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007. Foi ele quem nos alertou para batalha de Sangonhá. (LH)


De: José Rocha

Data: 24 de Dezembro de 2010 14:12

«Então, Luís:
Que raio de de maleita essa - ciática - te havia de apoquentar e numa altura destas!!!....
Só quero desejar-te as mais rápidas melhoras e que consigas uma noite de Consoada o mais tranquila possível na companhia dos que de ti estão e são mais próximos.

As tuas melhoras!
Feliz NATAL!

Aquele abraço "camarigo"!
José Rocha


P.S. - Os votos de melhoras são extensivos a todos os "camarigos" que neste momento se encontrem menos bem.

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Nota de L.G.:


ÚItimo poste da série > 25 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7499: Agostinho Gaspar, de Leiria ( 3ª CCAÇ / BCCAÇ 4162, Mansoa, 1972/74)

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2574: Estórias de Guileje (9): O massacre de Sangonhá, pela Força Aérea, em 6 de Janeiro de 1969 (José Rocha)


Guiné >Região de Tombali > Gadamael - Porto > s/d> Aquartelamento, com o espaldão, em primeiro plano, da peça de artilharia 11,4. Ao fundo, a tabanca (reordenamento feito pelo exército, com as casas com certura a chapa de zinco).

Guiné > Região de Tombali > Gadamael - Porto > s/da > Tabanca, reordenada pelas NT.

Guiné > Região de Tombali > Sangonhá, a sul de Gadamael -Porto > s/d > Vista aérea do destacamento e da sua pista de aviação. Este destacamento deverá ter sido abandonado pelas NT em finais de 1968 (O destacamento de Mejo foi evacuado em 28 de Janeiro de 1969, na mesma data de Gandembel e de Balana; os aconteciementos referidos nesta estória do José Rocha ocorreram em 6 de Janeiro de 1969).

Fotos: Autores desconhecidos. Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Gentileza de: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007). Direitos reservados (Editada por L.G.).



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 2410, Os Dráculas (Junho de 1969 a Março de 1970) > O Alf Mil José Barros Rocha posando sobre a roda de uma peça de artilharia 11,4 .

Foto: © José Barros Rocha (2007). Direitos reservados.

1. Texto de José Rocha (1), enviado em 19 do corrente:

Assunto - Guileje, Gadamael e Mata do Cantanhez...

Amigo Luis:

Ontem na minha visita ao Blogue, li um relato do Zé Teixeira (2) acerca de um bombardeamento efectuado pela Força Aérea na zona de Gadamael em 1969, e tendo em vista precisar a data do mesmo, decidi - sem qualquer intenção de entrar em preciosismos - dar o meu contributo (3).

Aí vai: No dia 6 de Janeiro de 1969, cerca das 8 horas da manhã as forças do PAIGC, estacionadas na antiga pista do quartel abandonado de Sangonhá, iniciaram um ataque bastante cerrado com armas pesadas ao Destacamento de Ganturé, tendo caído algumas granadas no interior do mesmo.

O pessoal do destacamento [de Ganturé] respondeu com morteiro 81 e 60, mas o ataque continuava. Então pediram apoio a Gadamael, que reagiu com mesmo tipo de armamento e, se a memória não me falha, também com o obus 8,8 [, ou peça de artilharia 11,4 ?].

Mesmo assim a festa não parava e então pediu-se o apoio aéreo, que surgiu, composto por dois Fiat.




Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves, bancário, reformado, residente em Abrantes, ex-Fur Mil da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67) > Foto 28: "Cufar, 1966 - Artilharia no quartel de Cufar, Obus 8,8 cm".

Foto e legenda: © Benito Neves (2007). Direitos reservados.



Pediram-nos a localização provável de onde estávamos a ser atacados, e que sinalizámos com granadas de fumo, disparadas pelo morteiro 81. Dirigiram-se para essa zona e de imediato começámos a ouvir rajadas - eram de anti-aérea - e nós perguntámos aos pilotos se eram eles que estavam a fazer fogo, tendo-nos respondido que não! Então numa conversa entre ambos os pilotos, ouvimos um deles dizer ao outro "senti qualquer coisa no meu aparelho"! E comunicaram-nos que iam regressar a Bissau.

Passado algum tempo regressaram 4 Fiat e mais tarde 2 T-6 e uma DO [- Dornier 27]. Entraram pelo lado de Cacine e de imediato iniciaram o lançamento de bombas, cuja explosão era perfeitamente audível e sentida através de fortes tremores do solo. (Estávamos a uma distância de cerca de 6/8 Kms em linha recta).

A operação terminou cerca das 13 horas. Na tentativa de sabermos exctamente o que tinha acontecido, eu e o Rodrigues (ex-Alferes Miliciano) reunimos um grupo razoável de voluntários, e pedimos ao Capitão para nos deslocarmos ao local, mas a nossa pretensão não teve acolhimento. Apanhámos um grande balde de água fria!

Somente no dia 9 [de Janeiro de 1969, três dias depois], com apoio aéreo, é que fomos ao local. No percurso encontrámos carretéis de fio telefónico com uma extensão de cerca de 4/5 kms, abrigos individuais ao lado da estrada, e, na antiga pista [ de Sangonhá], armas destruídas e pedaços de corpos de negros e brancos e 13 sepulturas. Uns dias depois tivemos a informação de 36 mortos confirmados e muitos feridos.

O aspecto do local era medonho! A terra, cuja cor natural é avermelhada, tinha a cor cinza! O intenso cheiro a putrefacção! Os abutres (jagudis) às dezenas! As árvores queimadas! Enfim...

Fico-me por aqui. Um abraço e até Bissau

José Rocha


Aeronaves DO-27, T-6 e Fiat 91 G (por ordem) > Fotos: gentileza de Victor Barata, membro da nossa tertúlia, criador e fundador do blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74

2. Comentário de L.G.:

Até Bissau, camarada Rocha, grande Drácula de Guileje! ... Obrigado pelo teu testemunho em directo!... Que vale ouro ! Tu não relatas algo que tenhas ouvido falar (em Bissau, na esplanada da 5ª Rep, o Café Bento, ou à beira do Geba, a comer ostras e a beber cerveja)... Não, camarada, tu estiveste lá, em Sangonhá, três dias depois, em 9 de Jeneiro de 1969. 

E viste com os teus próprios olhos, que a terra há-de comer, a terra vermelha calcinada de Sangonhá e os corpos carbonizados, desmembrados, dos combatentes do PAIGC... Ali ao lado, em Chamarra, o Zé Teixeira só podia imaginar o chão juncado de mortos, os gritos dos feridos, o desespero dos vivos tentando escapar e arrastando os feridos para a protecção da mata...

Quando formos a Guileje (ou Guiledje), no dia 1 de Março de 2008, no próximo sábado, eu quero ouvir-te contar o resto da história de Sangonhá... Foste parco nas palavras, o que eu entendo... Ao que ocorreu em Sangonhá (de eu nunca tinha ouvido falar), chamei-lhe massacre... Não estou a exagerar, pois não ? Haverá ainda antigos guerrilheiros do PAIGC, sobreviventes deste terrível bombardeamento da nossa Força Aérea ?!... Se sim, gostaria de ouvir os seus depoimentos, para podermos finalmente juntar as peças do puzzle e fazer mais um pequeno luto do grande luto que foi esta grande tragédia, para a nossa sacrificada geração...

Se alguém passar por Sangonhá, deixe uma simples flor, silvestre, colhida no mato, e uma tosca cruz nas imediações da actual povoação, para lembrar aos jovens guineenses (e aos eventuais turistas distraídos que por lá passarem, por engano) que, naquela terra, houve bravos guineenses que foram massacrados pela FAP - Força Aérea Portuguesa, numa luta desigual, em 6 de Janeiro de 1969... Não estou a fazer nenhum juízo de valor sobre os nossos camaradas da Força Aérea que fizeram o seu dever, bombardeando as posições do PAIGC, tal como os combatentes do PAIGC faziam o seu dever, combatendo-nos e matando-nos... Estou só a constatar a brutalidade da guerra na Guiné...

Na altura o PAIGC ainda não tinha os Strela, apenas algumas velhas anti-aéreas (5)... Mas em Sangonhá, e por todo o Tombali, também morreram tugas, inúmeros camaradas e amigos nossos... Verguemo-nos à memória de todos esses bravos, de um lado e de outro, que a morte ceifou no auge da vida... Que o seu supremo sacrifício não tenha sido em vão!... Que todos nós e os nossos filhos e netos possam aprender com os erros (trágicos) do passado e com a brutalidade da guerra, de todas as guerras...

____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

6 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1568: Álbum das Glórias (8): Os Dráculas, CART 2410, Guileje (José Barros Rocha)

18 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1443: Contributo para a história da construção do aquartelamento de Guileje (José Barros Rocha, CART 2410, Os Dráculas, 1969/70)

(2) Vd. poste de 17 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2545: Blogoteria (41): Guileje, Gadamael, Mata do Cantanhez... e a memória das gentes (José Teixeira)

(...) "Chamarra, 16 de Janeiro de 1969:

"Gadamael foi teatro de uma das maiores lutas no Ultramar entre a Força Aérea e o IN.O resultado, pelo que dizem, demonstra bem o poder da aviação e sobretudo mostra que os homens se matam sem compaixão e mesmo neste caso em que as nossas forças lutam para manter a ordem, não há homem, creio eu, que não sinta o coração sangrando, quando vê o inimigo a sofrer, numa luta desigual.

"Quando os Fiat sobrevoaram o IN, foram metralhados por uma quádrupla anti-aérea. Deixaram 200 kg da sua carga mortífera e foram buscar mais. Os bombardeiros T6 apareceram também e durante duas horas foi um descarregar de bombas. Nós só víamos os aviões à distância e ouvíamos o estrondo dos rebentamentos, mas calculámos que tenha sido uma luta terrível, tal a quantidade de chocolate que estourou.

"Eu imagino o chão juncado de cadáveres, regado com o sangue dos mortos e feridos, imagino os gritos lancinantes dos feridos ao verem a vida a fugir-lhe. Parece-me que estou a ver os que ficaram ilesos carregar os mortos" (...).



(3) Vd. postes anteriores da série Estórias de Guileje:

18 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2552: Estórias de Guileje (8): Como feri, capturei e evacuei o comandante Malan Camará no Cantanhez (Manuel Rebocho, CCP 123 / BCP 12)

11 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2523: Estórias de Guileje (7): Um capitão, cacimbado, e um médico, periquito, aos tiros um ao outro... (Rui Ferreira)

31 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2493: Estórias de Guileje (6): Eurico de Deus Corvacho, meu capitão (Zé Neto † , CART 1613, 1966/68)

30 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2492: Estórias de Guileje (5): Os nossos irmãos artilheiros Araújo Gonçalves † e Dias Baptista † (Costa Matos / Belchior Vieira)

29 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2489: Estórias de Guileje (4): Com os páras, na minha primeira ida ao Corredor da Morte (Hugo Guerra)

27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gandembel (ex-Fur Mil Art Paiva)

23 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2473 - Estórias de Guileje (2): O Francesinho, morto pela Pátria (Zé Neto † )

14 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2437: Estórias de Guileje (1): Num teco-teco, com o marado do Tenente Aparício, voando sobre um ninho de cucos (João Tunes)

(4) Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2535: PAIGC - Instrução, táctica e logística (9): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IX Parte): Defesa anti-aérea (A. Marques Lopes)