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domingo, 5 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24121: S(C)em comentários (4): A Massiel de Ingoré, ou melhor, a cantora espanhola, que venceu o Festival da Eurovisão da Canção em 1968, e que deu a alcunha à autometralhadora Daimler ME-78-63, ao tempo em que o nosso Zé Teixeira passou por lá (e também deu uma voltinha com ela...), entre maio e julho de 1968


Guiné > Ingoré > 1968 > CCAÇ 2381 (1968/70) > O 1º cabo auxiliar enfermeiro José Teixeira, dando uma voltinha  numa autrometralhadora Daimler, no início da sua comissão que o levaria do Cacheu (Ingoré) até ao Sul, às regiões de Quínara (Buba, Empada) e Tombali (Quebo, Mampatá, Chamarra).

O veículo tem a matrícula ME-78-63. Viemos a descobrir que  a alcunha, Massiel, era uma homenagem à cantora espanhola María de los Ángeles Félix Santamaría Espinosa (nascida em Madrid, em 1947), mais conhecida como Massiel, que no ano de 1968 havia vencido o Festival Eurovisão da Canção em Londres, à frente do concorrente da casa, e o favorito (com a canção "Congratulations"), Cliff Richard. A canção vencedora chamava-se "La, la, la". (Vd. aqui o vídeo no You Tube, 2' 02''.)

Ora cá temos, mais uma cançonetista em voga na época, outra mulher, a seguir à Sandie Shaw (*), a ser homenageada pelos rapazes das Daimler...  O Pel Rec Daimler deveria ser o mesmo do tempo do Manuel Seleiro, o 2043 (Ingoré e São Domingos, maio de 1968/ março de 70).(**)

Foto (e legenda): © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Não sabíamos, até há pouco tempo quem era a Massiel, mas sabemos, desde 2005, quem é o nosso querido amigo e camarada José Teixeira, um dos históricos régulos da Tabanca de Matosinhos... e que tem no nosso blogue nada menos do que cerca de 4 centenas de referências...  E foi, na guerra, um simples (mas valente) 1º cabo auxiliar de enfermagem... É ele mesmo quem se apresenta:

(i) "Fui enfermeiro de campanha na CCAÇ 2381. Fui para a Guiné em fins de Abril de 1968 e regressei em Maio de 1970. Estacionei cerca de 3 meses em Ingoré, no Norte, onde a companhia fez o seu treino operacional [de maio a julho de 1968].

(ii) "Seguimos depois para Buba e fixámo-nos em Quebo (Aldeia Formosa), [no final de Julho de 1968]. Aí a CCAÇ 2381 teve como missão fazer escoltas de segurança às colunas logísticas de abastecimento entre Aldeia Formosa/Buba e Aldeia Formosa/Gandembel, ao mesmo tempo que garantia a autodefesa de Aldeia Formosa, Mampatá e Chamarra;

(iii) "Regressámos a Buba, em Janeiro de 1969, para servirmos de guarda às equipas de Engenharia que construiram a estrada Buba/Aldeia Formosa;

(iv) "Face ao desgaste físico/emocional fomos enviados, a partir de 1969, para Empada onde vivemos os últimos meses de Comissão".
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 27 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24104: Sem Comentários (2): A cantora descalça, Sandie Shaw, britânica, vencedora do Festival Eurovisão da Canção (Viena, 1967) que deu o nome a uma Daimler, a ME-90-93, do Pel Rec Daimler 1130 (Ingloré e São Domingos, 1966/68)

(**) Último poste da série > 4 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24116: S(C)em comentários (3): "A gratidão é uma doença canina que não se transmite ao homem"

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24079: Agenda cultural (830): Convite do Grupo "Asas de Poesia" para a sessão de poesia e música a levar a efeito no dia 25 de Fevereiro de 2023, pelas 16h00, na Biblioteca Municipal Dr. José Vieira de Carvalho - Maia. A 1.ª Parte será preenchida com o Poeta José Teixeira. Haverá ainda a participação especial do Duo de Música de Coimbra, composto por Roberto Assis e Álvaro Basto

C O N V I T E

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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24058: Agenda cultural (829): Convite para a apresentação do livro "Volfrâmio: Suor o deu, miséria o levou - Cambra na diáspora", por Alberto Bastos, dia 13 de Fevereiro (segunda-feira), pelas 18,30 horas, sede da Universidade Popular do Porto, Rua da Bovista, 736

Guiné 61/74 - P24078: O que é feito de ti, camarada ? (17): Hugo Guerra, ex-alf mil, Pel Caç Nat 55 e 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70), hoje cor inf ref, DFA

VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> Lendo (e comentando para mim, LG) o livro do Idálio Reis.. O Hugo Guerra é  um dos bravos de Gandambel / Ponte Balana (esteve lá de agosto de 1968 até ao fim, janeiro de 1969)... Veio acompanhado da sua esposa, Ema Guerra, que tinha acabado de  concluir,  com sucesso, a sua licenciatura em serviço social. É uma mulher de armas!... Do Porto...

VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> Sessão de lançamento do livro do Idálio Reis,  "A CCAÇ 2317 na Guerra da Guiné - Gandembel / Ponte Balana" > Duas  ex-enfermeiras parquedistas Natércia Neves (à direita) e Giselda Pessoa (à esquerda), ambas do mesmo curso. Nenhuma delas conheceu a Gandembel/Ponte Balana do tempo da CCAÇ 2317... (Em São Domingos, o Hugo Guerra e o Manuel Seleiro foram assistidos pela Ivone Reis, 1929-2022.)

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2012)  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

Guiné > Região de Tombali > Ponte Balana > Dezembro de 1968 > Da esquerda para a direita, os alf mil Hugo Guerra e João Barge (1945-2010), com os respetivos "lavadeiros (graduados em alferes)"...

Foto e legenda): © Hugo Guerra (2007).  Todos os direitos reservados.
 [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Há muito, desde 2013, que não temos notícias (*) do Hugo Guerra, que comandou o Pel Caç Nat 55 (Gandembel e Balana) e depois o Pel Caç Nat 60 (São Domingos), entre 1968 e 1970. Temos-lhe dado os parabéns pelo seu aniversário a 27 de abril (nasceu em 1945) e pouco mais.

Em 21 de abril de 2012, participou no VII Encontro Nacional da Tabanca Grande em Monte Real, acompanhado da sua esposa Ema Guerra. (**)

O último poste da sua autoria, aqui publicado, remonta a 2013 (***). Entrou para a Tabanca Grande em 2008 (****). Tem cerca de 4 dezenas de referências no blogue. Tem página no Facebook mas é pouco ativo.

2. Quando se apresentou à Tabanca Grande em 2007, escreveu sobre ele o seguinte:

(...) Chamo-me Hugo Guerra, nasci em Estremoz em abril de 1945 e estudei na Escola de Regentes Agrícolas de Évora onde acabei o meu curso em 1964. 

Em agosto de 1968, sem perceber bem como (depois hei-de contar), estava no Ana Mafalda a caminho da Guiné em rendição individual e, como a sorte nunca me bafejou, quando desembarquei já tinha guia de marcha para Gandembel onde fui comandar o Pel Caç Nat 55 que estava adstrito à CCaç 2317 [Gandembel/Balana, 1968/69].

Passei por Aldeia Formosa, num heli, e aterrei, ainda em agosto, em Gandembel. Passei a maior parte do tempo em Ponte Balana e estava lá quando fechámos a porta em Janeiro de 1969 (...).

 [ Foto à esquerda, com uma granada ao cinto e toalha ao ombro e sabonete na mão, ia tomar banho num regato perto de Gandembel; e à direita, em Balana, 1968].

Nessa altura, e porque a sorte continuava alheia à  odisseia, fiquei num destacamento logo a seguir, de nome Chamarra. A CCAÇ 2317 foi para Buba e mais tarde foram acabar a sua martirizada comissão em território menos hostil.

Eu tive, mais tarde, uma passagem rápida por S. Domingos no comando do Pel Caç Nat 60 mas o suficiente para ficar ferido com o rebentamento duma mina anti-pessoal, salvo erro a 13 de março de 1970.

Sou hoje DFA e Coronel. (...)

Moro em Lisboa e o meu contacto de (...) telemóvel: 960 085 289. /...)

[ Foto à direita em São Domingos, com o 1º Cabo Manuel Seleiro, que ficou gravemente ferido no mesmo rebentamento que o Hugo Guerra, em 11 de março de 1970... O  Seleiro perdeu as duas vistas e ambas as mãos; o Guerra perdeu uma vista.].


3. No seu último poste,  P11142 (**), o Hugo Guerra falou-nos depois do rumo que a sua vida tomou, indo parar a Angola e, 
após o 25 de Abril e o regresso à metrópole, enveredar pela carreira militar:


(...) Depois de ser ferido em São Domingos em março de 1970 (*****), fiz-me à vida e fui trabalhar e viver para Angola em setembro desse mesmo ano.

Como era Regente Agrícola de formação, não tive qualquer dificuldade em arranjar bons empregos e por lá estive até agosto de 1974, quando optei por reingressar no Exército e vir prá Capital.

Corri Angola de Norte a Sul, exceptuando as Terras do Fim do Mundo, e depois da experiência traumatizante que foi Gandembel/Ponte Balana e São Domingos,  tive oportunidade de formar opinião comparativa entre as três colónias.

Também passei algum tempo em Moçambique. (...)


4. Sobre a sua "vivência" em Angola, deixou-nos aqui uma "saborosa" história que vale a pena relembrar (***):

- Como está, Senhor Capitão? E os senhores Alferes,  sentem-se bem? Está uma óptima tarde para o nosso chazinho, só tenho pena que não possamos ficar mais tempo aqui fora porque os mosquitos não nos largam... Vamos entrar.

Assim falava a Dona, mulher do Gerente da Fazenda Tabi,  a maior produtora de banana do Norte de Angola com o à-vontade do seu estatuto,  dirigindo-se depois ao subgerente e à mulher deste que também faziam parte deste ritual.

Com o grunhido de assentimento do marido, homem feito nas roças de cacau um São Tomé sempre de chibata na mão e acompanhado do seu fiel cão, entrámos.

Um dos criados, fardado de branco e com luvas da mesma cor, habituado a estas andanças, providenciou as bebidas para todos em copos de cristal e um dos Alferes dirigiu-se ao piano e dedilhou qualquer melodia, que já se sabia fazia os encantos da Dona.

A conversa naquele dia girou à volta do acidente que poucos dias antes tivera lugar, quando um Unimog carregado de militares havia sido alvo de uma emboscada no percurso para as salinas a poucos quilómetros da sede da Companhia, tendo os soldados sido apanhados à mão ( parece que levavam as armas debaixo dos bancos) e, não podendo resistir,  foram dizi
mados e a viatura queimada.

-  Uma desgraça… Um lamentável acidente…

- Um enorme desleixo - disse eu, ainda fresquinho de dois anos de porrada na Guiné.

- Mas eles não foram culpados -  logo se levantou a Dona.

Pois não, a culpa é da bandalheira a que se deixa chegar esta situação nas Fazendas onde os Senhores Oficiais são tratados a uísque, gin e tapas, onde os Furriéis têm um belo bar com piscina,  jogos de cartas ou de mesa e onde as patrulhas são efectuadas por civis armados.

O ambiente ficou de cortar à faca. Veio-me à cabeça que àquela hora, na Guiné estariam a começar os ataques aos desgraçados que iriam passa a noite em claro a levar e dar porrada e sem lhe passar pela cabeça que noutras paragens como aquela onde agora eu me encontrava, se jantava com todos os requintes, se bebiam os melhores vinhos de mesa com café, conhaque e charutos.

Se não estou pirado, esta cena passou-se em Outubro de 1970. (...)

5. Comentário do Zé Teixeira ao poste P24074 (*****):

(...) Tenho acompanhado com muita emoção todo este sangrento filme que envolveu o Manuel Saleiro e o Hugo Guerra que conheci na sua passagem por Mampatá. Aquele jovem alferes que foi enviado para Gandembel,  chegadinho da Metropole. Ali viveu momentos terríveis que punham aos saltos o nosso coraçaão, apesar de estarmos a mais de 10 Km, "passeou" por campos de minas que o guerrilheiro Braima Camará ia semeando, conforme me contou em 2008 no Simpósio Internacional de Guileje.  

Depois, quando Gandembel foi abandonado, foi para o Norte e caiu com a Manuel Saleiro.

Doi muito, ainda hoje, tomar conhecimento destas tristes realidades de uma guerra que não queríamos. Parece que estou a ver e a ouvir os lamentos do Hugo, quando em Mampatá se apercebeu do que o esperava.

Ao Manuel Saleiro um abraço sentido de admiração pela sua força anímica. Ao Hugo Guerra cujo Facebook está parado, mas creio que está vivo,  um abraço de solidariedade e amizade.

(***) Vd. poste de 21 de fevereiro de  2013> Guiné 63/74 - P11132: Vivências em tempo de guerra (Hugo Guerra)

(****) Vd. poste de 29 de novembro de  2007 > Guiné 63/74 - P2312: Tabanca Grande (43): Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)

(*****) Vd. poste de 17 de fevereiro de 2023 >  Guiné 61/74 - P24074: (De) Caras (195): Em 1975, cinco anos depois, saí do Hospital Militar Principal com as marcas da mina A/P, armadilhada, que me mudou completamente a vida: estava destroçado, cego, sem a mão direita e com dois dedos na mão esquerda (Manuel Seleiro, 1º cabo, Pel Caç Nat 60, DFA, São Domingos, Ingoré e Susana, 1968/70)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24024: In Memoriam (468): Recordar Francisco Silva (1948-2023) - Viagem de saudade à Guiné-Bissau em 2008 (José Teixeira)

1. Em mensagem do dia 29 de Janeiro de 2023, José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) recorda a viagem à Guiné-Bissau, em 2008, na companhia do nosso camarada Francisco Silva.


Recordar o Francisco Silva

O Francisco foi apanhado na contestação coimbrã de 1968, quando cursava o 1.º ano de Medicina, e “despachado” para tropa, quando tinha 18 anos.

Ofereceu-se para os paraquedistas, mas chumbou e voltou à “tropa macaca”. Daí o nome de “alfero paraquedista” como era conhecido na Guiné. Apelido que já estava no esquecimento, quando em 2013 aquele guineense - Alto quadro administrativo, como diretor de um departamento governamental, - no antigo Quartel-General em Bissau, não o abordasse e lhe perguntasse: Tu não és o alfero paraquedista?

O Francisco ficou a olhar para ele, muito admirado, pois tinham-se passado mais de quarenta anos, e disse: - Sim! Chamavam-me o paraquedista…
- Em bem me parecia que eras tu. O meu pai vivia no Xitole e eu estudava no Honório Barreto. Fui para lá nas férias grandes e tu estavas lá.

Logo, se abraçaram e se perderam em conversa, nesta visita de saudade que ambos tínhamos planeado e estávamos a iniciar, acompanhados pelas nossas companheiras de vida.

Foi o início do primeiro dia da visita. No dia seguinte partimos para Xitole e as surpresas continuaram.

Começou por fazer uma “peregrinação” pelos locais que mais o marcaram: Os postos de sentinela dos seus homens; o lugar do morteiro; as valas à volta do quartel, onde se refugiavam e se defendiam quando o inimigo atacava; a messe de oficiais…
Falava-me dos locais onde estava o inimigo nos seus ataques à povoação e da forma como reagiu num dos ataques em que sendo o alferes mais velho , comandou a defesa, quando vê ao longe, aproximar-se em passo rápido um guineense ainda jovem que se dirigiu a ele e afirmou:
- Tu és o alfero paraquedista!
Era o “djubi” que servia na messe de sargentos, tinha quinze anos. E, não mais largou o Francisco. Tinha uma filha que se ia casar no sábado a seguir e logo convidou o Francisco e a comitiva para a festa di casamenti.

Seguimos caminho, ao fim da tarde, para o Saltinho. O Francisco entabulou conversa com um nativo e ali descobriu um antigo guerrilheiro. Localizaram-se no tempo e nos embates de frente a frente em Xitole e perderam-se em conversa durante a noite.

O Francisco era um profundo observador e guardava na memória muitos dos pormenores vividos em combate. Era para mim, um prazer ouvi-lo.

Seguimos para Iemberém. Também ali, o Francisco localizou um antigo guerrilheiro (já falecido), e para sorte do nosso homem, estivera na área do Xitole e passara para o Norte, áera de Jumbembem, tal como Francisco e no mesmo tempo. Fui testemunha destas cenas que ouvi e fotografei para memória futura.

Conheci o Francisco em 2008. Fizemos a viagem para a Guiné, por terra, foram seis dias de viagem para lá, seis dias na Guiné, e mais seis dias no regresso, para participar no Simpósio de antigos combatentes da Guiné, onde convivemos com antigos soldados africanos do exército português e soldados do PAIGC. Excelentes momentos de convívio que, quem viveu não vai esquecer.

O nosso querido amigo Francisco primava pela sua forma de estar. Ficava para trás, sem se preocupar com o grupo. Ele tinha de observar bem tudo o que o despertava. Era sempre o último a chegar e uma vez, no regresso, teve de vir de táxi para a pensão em Noadhibou na Mauritanea, pois os camaradas esquecerem-se dele no centro da cidade. Apareceu meia hora depois, calmamente como se nada tivesse acontecido.

Na noite anterior, tínhamos ficado num Oásis. Um local maravilhoso, no meio do deserto, onde só estavam os guardas do Resort, dado não ser época de caça. Nada para comer, nem mesmo pão, pelo que o nosso jantar, foram sardinhas enlatadas, que felizmente ainda havia na carrinha dos mantimentos.

Nessa noite, o Francisco veio ter comigo - Teixeira, dizem que não há estradas para podermos continuar a viagem, mas escuta!...
Ouvia-se ao longe, um ruído, que parecia, carros a passarem numa autoestrada.
Ele insistia: - Passa aqui perto uma estrada e tem muito movimento. Vamos ver?!

Seguimos os dois pelo deserto dentro na direção do vento que nos levava ao ruído. Andámos cerca de um quilómetro e localizamos a origem do mesmo. Era o gerador de eletricidade do resort, onde estávamos alojados. Ali colocado, à distância, para não incomodar os residentes. O vento, vindo daquela direção fazia chegar ao resort um leve ruído que o Francisco detetou.

Desfeita a dúvida iniciámos o regresso, mas o céu estava tão lindo, carregado de estrelas que nos deitámos na areia e ficamos a apreciar e a divagar sobre a beleza que pairava por cima de nós. Perdemo-nos no tempo e quando regressámos, tínhamos os 27 companheiros de jornada assustadíssimos à nossa procura, chamando-nos e procurando-nos à volta do resort, pensando alguns que tínhamos sido feitos prisioneiros por algum grupo de guerrilha local. Com o vento contra, não ouvimos chamar pelos nossos nomes.

Era este homem, amante da natureza, profundo observador de tudo o que o rodeava e sempre pronto a procurar a razão, ou a raíz das coisas e acontecimentos, que tenho pena de só o ter conhecido em 2008. Ele e a Elizabete, sua esposa estão no meu coração.

Partiu para a eternidade, depois de um longo e profundo sofrimento.

Espera por mim, querido amigo. Não tardarei.
José Teixeira

Fotos 1 e 2 - Em Bissau, conversando com um quadro administrativo que o reconheceu.
Fotos 3 e 4 - No Xitole, com o "djubi" que era o cantineiro em 1972.
Fotos 5 e 6 - No Xitole, em perigrinação pelas valas e local do morteiro 81.
Fotos 7 e 8 - Em Iemberém a estudar a localização de um e outro num ataque a Xitole e... o abraço da paz. 

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Nota do editor:

Vd. poste de 30 de Janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24022: In Memoriam (467): Francisco Justino Silva (1948-2023), médico, ortopedista, ex-alf mil, CART 3942 / BART 3873, Xitole, e Pel Caç Nat 51, Jumbembem (1971/73) cerimónias fúnebres, hoje, em Porto Salvo, na igreja local, com velório a partir das 16h00; missa de corpo presente às 14h00 de 3.ª feira, seguindo o funeral para o cemitério de Carnaxide

Guiné 61/74 - P24022: In Memoriam (467): Francisco Justino Silva (1948-2023), médico, ortopedista, ex-alf mil, CART 3492 / BART 3873, Xitole, e Pel Caç Nat 51, Jumbembem (1971/73) cerimónias fúnebres, hoje, em Porto Salvo, na igreja local, com velório a partir das 16h00; missa de corpo presente às 14h00 de 3.ª feira, seguindo o funeral para o cemitério de Carnaxide

 
Dr. Francisco Silva (1948-2023), médico, cirurgião 0rtopedista, nosso amigo e camarada, ex-alf mil at inf, CART 3492 / BART 3873 , Xitole, e cmdt do Pel Caç Nat 51, Jumbembem, 1971 /1973. Foto de Manuel Resende (s/d) com a devida vénia.


1. Chegou-nos a triste notícia ao meio da tarde de ontem, por intermédico de um amigo comum, o Zé Teixeira, régulo da Tabanca de Matosinhos, numa mensagem que também era de parabéns pelo meu aniversário: morreu o meu/nosso amigo e camarada Francisco Justino Silva, vítíma de doença prolongada. 

Deixa viúva a nossa querida amiga Elisabete (que frequentava os convívios da Tabanca da Linha e também o Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real: o Francisco esteve em 10 e a Elisabete em 7.  O casal  fez igualmente uma viagem de saudade, à Guiné-Bissau, em 2013,  com onZé Teixeira e  a esposa.

O casal tem dois filhos e três netos. A filha é também médica, em Santiago do Cacém. O Francisco nasceu na Madeira, onde chegou a trabalhar no início da sua carreira. Mas a sua "casa e escola"  foi o serviço de ortopedia do Hospital de Santa Maria e depois o Hospital Amadora-Sintra, onde operou alguns de nós, seus camaradas Trabalhou sobre a direcção do lourinhanense dr. Francisco Mateus, hoje reformado. (Tratava-o por "Xiquinho", confidenciou-me ele, a quem transmiti hoje a triste notícia; já trabalhavam juntos dese Santa Maria, e foram juntos para o Amadora-Sintra, onde o Francisco foi abrir o serviço (ou um dos serviços) de ortopedia, creio que Ortopedia B.

O Francisco tinha-se reformado, do SNS,  ainda há poucos anos  (creio que em 2017). Mas continuou a trabalhar no seu consultório e num hospital privado, até que a saúde o impediu de vez. Vivia em Porto Salvo, Oeiras.

A Elisabete teve a gentileza de nos telefonar, a mim e a Alice, por volta das 22h00.  As cerimónias fúnebres terão lugar hoje, em Porto Salvo, na igreja local: velório a partir das  16h00; missa de corpo presente às 14h00 de terça-feira, seguindo o funeral para o cemitério de Carnaxide.(*)

Fazia anos a 14 de junho. Recordo-me de um soneto que lhe fiz em 2017, por ocasião do seu 69.º aniversário. Em cima da hora, e nesta hora muito triste, faço-lhe, em meu nome pessoal, e da Alice, e da toda a nossa Tabanca Grande, esta pequena homenagem, reditando os versos que lhe escrevi e republicando fotos de alguns dos nossos agradáveis momentos de convívio e também da viagem à Guiné -Bissau em 2013, publicadas no nosso blogue  (mantendo as legendas da altura). 

Para a Elisabete e a restante família, vai o nosso mais caloroso e fraterno chicoração. Até sempre, Francisco! Iremos lembrar-te sempre como um homem bom, afável e  simples, e um dedicado médico, um amigo do seu amigo, um camarada do seu camarada. LG

Ao nosso querido Francisco!

por Luís Graça
(grato ao seu ortopedista, amigo e camarada)


Veio da terra da Laurissilva,
É camarada, amigo, solidário,
O afável doutor Francisco Silva
Tem hoje o seu dia de aniversário.

Mas não pensem que é dia de gazeta,
Ortopedista é sempre um guerreiro,
A idade, para ele, é uma treta,
Parabéns ao nosso grã-tabanqueiro.

Reformado está, mas não arrumado,
Tem mãos de artista e ainda opera,
Não gosta de ver ninguém aleijado.

Pela sua Maria e queridos filhos,
Tinha a Guiné em lista de espera,
Pois voltou, percorrendo os velhos trilhos!

14 de junho de 2017 (**)

Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 > Da esquerda para a direita, Jorge Rosales, JERO ("o último monge de Alcobaça") e Francisco Silva. (Três saudosos amigos e camaradas,  de cujo convívio  a morte já nos privou; também três presenças frequentes em Monte Real, nos nossos encontros anuais.)

Foto: © Miguel Pessoa (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Leiria >  Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) >  XI Encontro Nacional da Tabanca Grande >  16 de abril de 2016 >  "Ó camarada doutor Francisco Silva, aqui só para nós... Então, o meu amigo é de Porto Salvo, Oeiras, e ainda não se dignou dar-nos a honra da sua presença à mesa da Magnífica Tabanca da Linha?!" (pergunta  o régulo Jorge Rosales, para o Francisco Silva que, na Guiné, tinha fama de durão, e que acaba de se reformar, tendo um brilhante currículo como ortopedista no Serviço Nacional de Saúde, e nomeadamente no Hospital Amadora-Sintra, onde operou por duas vezes, o nosso editor-mor, a um joanete e à anca...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Lisboa > Belém > Monumento aos Combatentes do Ultramar > XXV Encontro Nacional  dos Antigos Combatentes  > 10 de junho de 2019 > Sob o olhar atento do Carlos Silva, régulo da Tabanca dos Melros, o Francisco Justino Silva, hoje ortopedista (foto à  esquerda),  membro da nossa Tabanca Grande desde 26 de abril de 2010 (***), relembra os tempos em que foi substituir, em Jumbembem, em circunstâncias trágicas, o comandante do Pel Caç Nat 51: o seu interlocutor, um antigo milícia do seu tempo  (à direita, na imagem), estava lá, nesse fatídico dia 16 de julho de 1973, em que foi cobardemente morto a tiro de G3 o alf mil op esp / ranger, Nuno Gonçalves Costa. (Era natural de Arcos de Valdevez. A sua morte foi atribuída a "acidente com arma de fogo", forma eufemística das Forças Armadas classificarem não só os casos de acidente devidos a arma de fogo, como os de homicídio e suicídio.)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Lisboa > Belém > XXIII Encontro Nacional de Combatentes > 10 de junho de 2016 > O Francisco Silva era presença frequente no 10 de Junho. Aqui  ao lado do Silvério Lobo (que veio de Matosinhos),

Foto (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > 10 de Junho de 2009 >  O Virgínio Briote e o Francisco Silva.

Foto (e legenda): © Luís Graça (20'0). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 48.º Convívio > 19 de maio de 2022 > Caras lindas que não se viam por aqui há mais de 2 anos: primeiro veio a pandemia, depois vieram as  mazelas do corpo e da alma... A nossa Eisabete Silva, por exemplo, quem diz que em 2013 andava pelos matos e bolanhas da Guiné-Bissau, toda fresca, com o marido,  o nosso dr. Francisco Silva, cirurgião ortopedista, e que depois passou por um grave problema de saúde, felizmente já  superados ?!... Está de volta aos convívios da Tabanca da Linha e com ótima cara... Que bom, ver-te, Elisabete!    (Já agora, a Tabanca Grande que ela trabalhou na Pedrogão desde os 20 e tevê como colegas, por exemplo , o António  Levezinho, a Isabel Levezinho, o Fernando Calado... E por certo  o Pinto Carvalho de que ela não se lembra bem.)

Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48.º Convívio > 19 de maio de 2022 > Que bom, rever-te, Francisco!... Temos andado desencontrados, mas cada um à volta dos seus  problemas de saúde... e lambendo, como o cão do balanta, as suas feridas.  Dizem-me que não tens atendido os telefonemas de ninguém... Grande madeirense, amigo e camarada, as tuas melhoras!... Olha, eu acabo de fazer uma artoplastia total ao joelho esquerdo, no Hospital Ortopédico de Sant'Ana, na Parede... Agora são dois meses de fisiatria...

Fotos: © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

Guiné-Bissau >  Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de  2013 > "O Francisco Silva  mais um antigo guerrilheiro do PAIGC, procurando localizar pontos de guerra comuns". [Companheiro de viagem do Zé Teixeira, em 2013 (**), o Francisco, hoje cirurgião, esteve no Xitole, como alf mil, ao tempo da CART 3492 / BART 3873 (1971/73), antes de ir comandar o Pel Caç Nat 51, Jumbembem, em meados de 1973]


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > O Aliu do Xitole  (antigo menino da messe dos sargentos)  e o Francisco Silva... O Aliu reconheceu de imediato o "alfero paraquedista” , o “Sirva”. E logo o grupo ficou em amena cavaqueira com o Aliu a falar do “alfero Sirva”, "manga de bom pessoal". (Sempre ele, calmo e sereno, observador de ouvido atento, como no tempo em que comandava os seus soldados perdidos na selva da guerra.)

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e lendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Leiria > Monte Real > IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > 14 de junho de 2014 > O Francisco Silva, ortopedista no Hospital Fernando da Fonseca, que operou recentemente o nosso editor Luís Graça bem como o camarada Humberto Reis, tinha um segredo  bem guardado até à hora do almoço... Fazia anos, deixou a família em casa, deu um salto a Monte Real e voltou a casa, em Porto Salvo, Oeiras, para acabar o resto com a esposa, Elisabete, os filhos e os netos... Cantámos-lhe os "parabéns a você... Da esquerda para a direita, o  João Martins, o Humberto Reis, o Xico Alen (já falecido em 2022), o Francico Silva e a Alice Carneiro.

Recorde-se aqui o percurso militar do Francisco: madeirense, ofereceu-se como voluntário aos 19 anos, em 1968 para os paraquedistas... Acabou na Guiné como alf mil at inf, esteve no Xitole, ao tempo da CART 3492 / BART 3873 (1971/73), antes de ir comandar o Pel Caç Nat 51, Jumbembem, em meados de 1973, Depois de regressar à metrópole, fez o curso de medicina na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. 


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Iemberem > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > Em primeiro plano, ao meio, o Dr. Francisco Silva, madeirense, ortopedista no Hospital Fernando da Fonseca, Amadora-Sintra, médico do nosso camarada Hugo Guerra. À sua esquerda, a Maria Alice e à direita Salifo Camará, 87 anos, régulo de Cadique Nalu e Lautchandé, antigo Combatente da Liberdade da Pátria, venwrado como "rei dos nalus" (também ja falecido). Foto tirada por ocasião da visita ao centro de saúde materno-infantil de Iemberem. O Francisco Silva viajou de jipe, com mais camaradas, na viagem à Guiné, de ida e volta, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008),

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23860: Convívios (949): Almoço de Natal da Tabanca de Matosinhos, dia 14 de Dezembro de 2022, no restaurante Espigueiro, em Matosinhos, a partir das 12 horas (José Teixeira)


1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) com data de 8 de Dezembro de 2022:

Bem-vindo ao almoço de Natal na Tabanca de Matosinhos.

Quarta feira dia 14 de Dezembro na Tabanca de Matosinhos.

Podes vir acompanhado e traz uma pequena prenda para dar a alguém. Levarás de volta uma recordação deste dia que alguém trouxe para ti.

Um grande abraço

Pela Tertúlia da Tabanca de Matosinhos
Zé Teixeira

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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE NOVEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23805: Convívios (948): 82.º Encontro da Tabanca do Centro, a levar a efeito no próximo dia 30 de Novembro no Restaurante "Tertúlia do Manel", Cortes, Leiria

domingo, 6 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23766: Lembrete (43): É já no próximo dia 12 de Novembro que vai ser lançado o livro de poemas "Palavras que o vento (E)leva", da autoria do nosso camarada José Teixeira, no Centro Cultural de Leça do Balio, às 16h30, com apresentação do Dr. José Almeida da Silva


1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) com data de 5 de Novembro de 2022.

Meus bons amigos editores
Abusando da vossa bondade, pedia o favor de, se possível, colocarem esta lembrança no nosso blogue sobre o lançamento do meu livro de poesia.
Junto um poema que pode ser incorporado.

Fraterno abraço do
zé teixeira



O mundo em que vivemos

Gostava de saber quem sou,
Saber de onde venho,
Conhecer o caminho para onde vou.
Ser eu, ser livre…
E não sou,
Poder falar, gritar, chorar,
Sorrir, brincar…
Pensar…
Pensar e agir…
Agir em consciência, sem pressões ou constrangimentos,
Nem julgamentos.
Mas a minha vida parece um circo…
Apresento, represento, faço vénias, sorrisinhos
Aparento…
Aparento o que não quero, e não gosto de ser!
Sim. Sou um macaquinho de imitação,
– Para não cair no ridículo…
– Para que me deem atenção.
Tenho ideias,
Grandes ideias…
Talvez… pequenas, sábias, inconsistentes
Talvez incongruentes,
Concretas, porque não?!
São ideias, propostas, projetos, sonhos, opiniões
Fantasias, devaneios, aspirações…
Crivadas!...
Crivadas pelo medo da ambiência.
O crivo da sociedade critica, abafa, empurra…
Isola, manieta, exclui…
Destrói…
Em lume brando… lenta paciência.

Desde o nascimento me ensinaram que não vivo sozinho
Vivo com eles e para eles…
Vivo para o sistema!
Prá sociedade que me dá tudo e nada,
A sociedade que me condena
Se não faço o que ela me ordena
E não me deixa ser quem sou…
E de tão subtil que é,
Neste circo animado,
Conduze-me por caminhos que não os meus,
E eu sigo-a como um camelo amestrado.


José Teixeira

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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23701: Lembrete (42): Amanhã, dia 13 de Outubro, pelas 17h00, apresentação do livro "Rua do Eclipse", de Mário Beja Santos, a levar a efeito no Salão Nobre do Palácio da Independência, Largo de São Luís, em Lisboa

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23717: In Memoriam (456 ): Xico Allen (1950-2022), ex-Soldado Condutor Auto, CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972/74), um dos nossos pioneiros nas viagens de saudade à Guiné-Bissau

 



Xico Allen (1950-2022). O funeral é na quinta feira, às 14h30, em Lordelo do 
Ouro, Porto.  Ia completar, em 19 de maio de 2023,  os 73 anos.

1. O Zé Teixeira mandou-me, por SMS, com data de ontem, às 23h49, a triste mensagem que acabei de ler às seis e meia da manhã, quando peguei no telemóvel: 

"Luís, acabo de ser informado pela Inês, filha do Xico Allen, que ele faleceu há minutos. Não resistiu à segunda operação aos intestinos - Teve uma recaída há dois dias. E partiu." 

A notícia foi igualmente partilhad na página do Facebook da sua filha, Inês Allen

A mim, cumpre-me o doloroso dever de anunciar à Tabanca Grande esta notícia da morte de mais um dos nossos (*).

O Francisco Allen, mais conhecido por  Xico Allen, e também por Xico de Empada, ex-Soldado Condutor Auto, da CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972/74),  era um histórico da Tabanca Grande, para onde entrou, em princípios de 2006, pela mão do seu amigo e vizinho Albano Costa.(**)

Bancário reformado, vivia em Vila Nova de Gaia.  Conheci-o, pessoalmente, a ele, ao Albano Costa, ao Hugo Costa e ao Zé Teixeira, em 31/12/2005, na Madalena... Foi um dos primeiros camaradas a voltar à Guiné depois da independência. E nos últimos anos chegou mesmo a lá viver. 

De acordo com as memórias da Zélia Allen, sua companheira na altura, mãe da nossa amiga Inês Allen (as duas são também nossas tabanqueira), o casal Allen visitou a Guiné do pós-guerra, em abril de 1992, eles os dois mais um outro casal, o Artur Ribeiro e a esposa. Em 1994 lá voltaram, desta vez foram 3 casais e conseguiram ir a Empada, onde o Xico tinha feito a sua comissão. Uma terceira viagem foi em 1996 e uma quarta em 1998.

Para a Zélia aquela, a de 1998, foi a sua última viagem à Guiné, mas não para o Xico, que continuou a lá ir regulamente.  Em 1998, o  Xico, a Zélia, o Camilo e outros camaradas foram até à região do Boé, a partir de Quebo, no sul, seguindo a estrada junto à fronteira. Estiveram em Madina do Boé, não sei se chegaram a ir a Beli, e seguiram depois pela antiga picada que, indo por Cheche e Canjadude, ia dar a Gabu (Nova Lamego)... Fizeram, por isso, o mesmo percurso das NT,  no âmbito da Op Mabecos Bravios (1-7 de fevereiro de 1969), ou seja a picada Madina do Boé-Cheche-Canjadude-Gabu.

Era um homem de ação, pouco dado à escrita, afável, amigo do seu amigo... Guardo dele as melhores recordações, incluindo as suas idas ao Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real (a última vez, em 2018). 

Sobre ele escrevi algures, legendando a feliz foto do Hugo Costa, a do Xico com um saraui, na Mauritãnia, a caminho da Guiné-Bissau:

(...) O Xico Allen em acção: ele tem o melhor dos portugueses (a abertura aos outros, o sorriso aberto e frontal, a alegria de viver, o sentido da aventura) e dos ingleses (a organização, a tenacidade, a teimosia, o pragmatismo)... Pelo menos, dos portugueses e dos ingleses do Porto. É o que eu deduzo da apreciação feita pelos amigos que o conhecem... e também daquilo que eu já sei dele (...). Desejo-lhe good luck / boa sorte nas suas próximas aventuras terrestres a caminho dessa "terra vermelha e ardente", como  chama o Torcato Mendonça à nossa Guiné" (...)

À família enlutada, e em particular à sua filha querida, a Inês Allen, bem como ao seu filho, fica a nossa manifestação de dor e do nosso apreço por este camarada e amigo, cuja memória prometemos honrar: o Xico era muito querido por todos nós. E este é o "In Memoriam" possível que eu aqui deixo, feito em escassas duas horas, antes de ir para a minha sessão matinal de fisioterapia. 

Até sempre, Xico! (LG)

Viagem Porto-Guiné > Abril de 2005 > O Xico com um saraui

Expedição Porto-Bissau, organizada por Xico Allen e A. Marque Lopes... 9 de abril de 2006... Dia 5... A caminho de  Nouakchott, capital da Mauritânia... Um encontro amigável com sarauis e camelos... Fabulosa esta foto do Xico com um saraui, Grande fotógrafo, o nosso Hugo Costa, filho do Albano Costa que, juntamente com a Inês Allen, integrou esta viagem à Guiné, por terra, pelo deserto do Sara...  

Foto (e legenda(: © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné-Bissau > Região de Quínara (Buba) > Empada > Abril de 2006 >  Pai, Xico Allen, e filha, Inês Allen, juntos na pesquisa de vestígios da presença dos "Metralhas"  (CCAÇ 3566) nos já idos tempos de 1972/74.

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Brasil > Cidade de Praia Grande > Estado de São Paulo > 2014 >  Da esquerda para a direita, o António Chaves, o Joaquim Pinheiro da Silva e o Xico Allen.

Foto (e legenda): © Joaquim Pinheiro  (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Leiria > Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 > O Xico Allen e o Agostinho Gaspar

Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné-Bissau > Região do Oio > Jugudul > Abril de 2006 > Uma paragem na casa do Manuel Simões (1941-2014). A única mulher do grupo, com o seu recente penteado africano, feito em Bissau: a Inês Allen. O Manuel Simões era um velho conhecido e amigo do Xico Allen,

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006).  Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Gabu > Picada de Cheche - Gabu > 1998 >  Restos de viaturas das NT abandonadas...Trinta anos depois da retirada de Madina do Boé (6 de fevereiro de 1969), ainda continuavam vísiveis os sinais das emboscadas e das minas... que fizeram da zona do Boé uma das mais trágicas para as NT.

Fotos (e legenda): © Francisco Allen / Albano M. Costa (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 1998 > A famosa Fonte de Empada... " O calor era tanto que o melhor naquele momento foi despejar várias bacias de água pela cabeça abaixo somente para refrescar e tirar a maioria do pó apanhado ao atravessar as muitas picadas para ali chegar. Fomos ali pois era àquela fonte que o Xico ia fazer o carregamento de água e assim nos deparamos com as mulheres a lavar a roupa após o que tomavam banho. Na foto eu estava nas escada a filmar enquanto meu marido tirava fotos" (Zélia)... "A Zélia é mesmo assim e lá foi tomar o seu banho" (Albano Costa). 

Foto (e legenda); © Xico Allen / Zélia Neno (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Matosinhos > Leixões > Restaurante Casa Teresa > 9 de Abril de 2008 > Reunião habitual, às quartas feiras, da Tertúlia de Matosinhos (ou Tabanca Pequena de Matosinhos)... Da esquerda para a direita: (i) de pé, A. Marques Lopes, João Rocha (1944-2018), Eduardo Reis, José Teixeira, Armindo; na primeira fila, Jorge Félix, Xico Allen (1950-2022) e Silvério Lobo... À entrada da Casa Teresa, o António Pimentel. Foi na Casa Teresa, em Leixões, que começou a Tabanca Pequena de Matosinhos.

Foto (e legenda): © Jorge Félix (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Vila Nova de Gaia > Madalena > Vésperas de Natal de 2005 > Uma minitertúlia de camaradas e amigos da Guiné: da esquerda para direita: Luís Graça (que costuma passar o Natal no Norte, em casa dos cunhados), A. Marques Lopes, José Teixeira, Albano Costa, Hugo Costa e Francisco Allen (mais conhecido pelo Xico de Empada ou Xico Allen...)


Foto (e legenda): ©  Hugo Costa / Xico Allen (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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(...) O Xico ainda hoje falei com ele e disse-lhe para ele também entrar na nossa tertúlia. Eu tenho a certeza que ele vai contar a sua estória mas ele não se sente muito à vontade para a escrita: é daqueles que só de empurrão mas vai...

Ja mandei um e-mail ao José Teixeira para nos encontrarmos um dia destes. Afinal também somos vizinhos. O Allen é uma pessoa que tem uma visão da Guiné muito grande, ele já lá foi muitas vezes, conhece muitissimo bem a Guiné, e os guinéus conhecem-no bem a ele (...)

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23670: Agenda Cultural (814): Convite para a apresentação do livro de poesia "Palavras que o Vento (E)leva", de José Teixeira, a levar a efeito no próximo dia 12 de Novembro de 2022, pelas 16h30, no Centro Cultural de Leça do Balio, Rua do Mosteiro, 4465-703 - Leça do Balio



SINOPSE

O poeta é sobretudo um artesão, do tempo, do silêncio e da(s) palavra(s), matéria(s)-prima(s) com que recria, molda, reinventa, constrói a realidade: "Preciso tanto das palavras do silêncio / Como do eco que ele imprime"… Para o poeta a realidade não existe, a não ser reconstruída e renomeada. A poesia alimenta-se do silêncio, da dor, do sofrimento, da angústia, mas também da coragem e da fé. O silêncio é um continuum da palavra, ou a palavra é um continuum do silêncio, mas também da reflexão, da ação, da mudança e da liberdade. "A palavra é a sombra da ação / E também revolução".


DETALHES DO PRODUTO

"Palavras que o vento (e)leva"
Autor: José Teixeira
ISBN: 9789893740026
Ano de edição: 07-2022
Editor: Poesia Impossível
Dimensões: 138 x 219 x 11 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 140
Preço: 12,00€


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OBS: - O livro pode ser, desde já, pedido directamente ao autor José Teixeira (jteixei@msn.com) que o enviará pelo correio.

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23668: Agenda Cultural (813): Convite para a apresentação do livro "Rua do Eclipse", de Mário Beja Santos, a levar a efeito no próximo dia 13 de Outubro de 2022, pelas 17h00, no Salão Nobre do Palácio da Independência, Largo São Luís, 11, em Lisboa