Mostrar mensagens com a etiqueta Nuno Tristão. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Nuno Tristão. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14306: Notas de leitura (685): “Crónica do descobrimento e conquista da Guiné”, por Gomes Eanes da Zurara, adaptação de Frederico Alves, edição da Agência Geral das Colónias (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Maio de 2014:

Queridos amigos,
Esta adaptação da “Crónica do descobrimento e conquista da Guiné”, publicada em 1944, oferece ao leitor uma visão acalorada de um poderoso panegírico onde se exalta o projeto henriquino, etapa por etapa.
Descobriu-se posteriormente que a cronologia das expedições não foi o ponto forte de Zurara, de tal sorte que ainda hoje não é precisa a data da chegada à Guiné como a conhecemos.
Seja como for é um documento vivacíssimo, exaltado, cedendo a fábulas como a chegada dos navegadores ao rio Nilo, cantada com a maior das exaltações. Zurara escreveu um dos bilhetes de identidade da Guiné, a sua crónica é um desses documentos imorredoiros para a história de Portugal e da Guiné-Bissau, vale a pena, ao menos, conhecer-lhes alguns aspetos capitais.

Um abraço do
Mário


O romance da conquista da Guiné contado a rapazes (2)

Beja Santos

Aqui se continua e finda a recensão quanto ao “Romance da Conquista da Guiné”, uma adaptação da “Crónica do descobrimento e conquista da Guiné”, por Gomes Eanes de Azurara, feira por Frederico Alves, publicação da Agência Geral das Colónias em 1944.

Os descobrimentos henriquinos tomam um rumo imparável, toda a costa está mapeada até ao Cabo Branco, é preciso ir mais longe, o Infante confia a Gonçalo de Sintra uma caravela, diz-lhe para ir direito à Guiné, a bordo vem um gentio que a seu tempo se escapulirá. A caravela vai até à ilha de Naar, mal fundeados, mandou o capitão arrear o batel, rumou-se para a praia, esperou-se pelos mouros. Vieram como inimigos, lutou-se rijamente. Nesse dia, ali ficou morto Gonçalo de Sintra e mais sete. E regressou-se a Portugal. O Infante não desiste, nomeia Nuno Tristão que vai até às ilhas por onde Lançarote, almoxarife de Lagos, andara. Segue-se Dinis Dias em demanda da terra dos negros conhecidos por guinéus, e Zurara escreve:  
“E falando em guinéus, convém não perder de memória que se chamou Guiné a todas as terras primeiramente descobertas na linha da costa Ocidental de África. Não porque todas sejam, na verdade, uma só terra; pelo contrário, fazem diferenças umas das outras”.

Dinis Dias velejou até à vista de um grande cabo a que puseram o nome de Cabo Verde (não confundir com o nome do arquipélago só muito mais tarde deixado).

Talvez em 1445, aparelharam-se duas caravelas por mandado de D. Afonso, Regente do Reino, confiadas a Antão Gonçalves e Diogo Afonso, e largaram para o Rio do Ouro, à busca de indígenas que pudessem converter ou mercadejar, a expedição não teve sucesso, João Fernandes ficara no Rio do Ouro, foi viajar com os nómadas, procurava novidades de alguns reinos de África.

Antão Gonçalves pediu ao Infante para ir até ao Rio do Ouro buscar João Fernandes, prometendo trazer carregamento que pagasse todo o gasto da viagem, e assim foi, Antão Gonçalves, Garcia Homem e Diogo Afonso partiram para a Madeira, o mau tempo separou as caravelas, só se juntaram no Cabo Branco e depois reencontraram João Fernandes, regressaram carregados de homens e desembarcaram os cativos em Lisboa.

O relato de Zurara possui enorme vivacidade, colorido e até moralístico, como se pode ver na expressão “a vida humana é como uma roda que ora gira na direção da fortuna ora na desgraça”. Encerra o essencial de todo o projeto henriquino, quando necessário mostra o heroísmo dos homens da casa do Infante, com uma descrição de Gil Eanes, Cavaleiro de Lagos, a lançar-se contra os mouros, quando se lançaram na terra de Zaara.

É por demais sabido que estes descobridores viajavam verdadeiramente em terra incógnita. E tal como no passado recente Dinis Dias assinalara que ali começava a terra dos negros, esta expedição que passou a terra de Zaara julgou ter chegado a um braço do Nilo. Tinham descoberto água doce e alguém observou que estariam perto do Nilo e dá-se uma cena de combate entre um guinéu e um português, episódio rocambolesco, assim contado:  
“À vista do guinéu, troncudo, membrudo, de estatura grada, o português, miúdo e delgado, foi para ele, de um salto, e pendurou-se-lhe nos cabelos. O negro era teimoso e valente, e, embora, achasse, espantado, que escarneciam da sua corpulência, por mais voltas que desse não conseguiu libertar-se, que o marinheiro parecia um galgo dependurado na orelha de um touro possante”.

E no meio da fantasia de que se tinha chegado ao Nilo, Zurara é luxuriante na descrição, que ultrapassa todos os níveis da fantasia:  
“O Nilo é o rio das maravilhas, o rio mais nobre do mundo, e a sua grandeza foi cantada pelos sábios da Antiguidade.
Dizem alguns que ele nasce ao pé do Mar Vermelho e dali corre, para o Ocidente, através de muitas terras, e formando, no meio, a Ilha de Meroe. Nesta ilha, do senhorio da Etiópia, há uma cidade outrora chamada Sabá, ao tempo em que o faraó do Egipto lá enviou Moisés. Foi Cambises, rei da Pérsia, quem lhe pôs este nome.
Chegando o Nilo a Meroe, dali se encaminha para o Norte e, do setentrião, volta ao meio-dia; e em certas estações do ano transborda do leito e inunda os campos do Egipto”.

Prosseguem as refregas, reencontram-se as caravelas, regressam os navios a Lagos, mas a impaciência para regressar à costa da Guiné é enorme. E Zurara descreve a valentia de Nuno Tristão que partiu para a terra dos negros e que sessenta léguas além do Cabo Verde ordenou que se entrasse num rio, saíram em batéis e enfrentaram doze embarcações com oitenta guinéus, armados de frechas. E Zurara escreve lamentoso:  
“No fim de contas – Deus louvado – dos vinte e dois homens dos batéis, apenas dois ficaram sãos. E dos sete da caravela que primeiro escaparam, dois caíram trespassados ao levantar dos ferros e jazeram vinte dias às portas da eternidade (…) Assim acabou, o nobre, valente cavaleiro Nuno Tristão, que muito amava a vida; e também João Correia, Duarte de Holanda, Estevão de Almeida e Diogo Machado, fidalgos que o Infante criara na sua Câmara; e outros escudeiros e peões e mareantes e demais gente da companha.
Então, os corpos foram atirados ao fundo dos mares, sepultas suas carnes já frias nos ventres dos peixes vorazes! Mas que importa o túmulo? É igual que sejamos lançados à terra, como às águas, que nos devorem os peixes ou as aves! Felizes dos que morrem com Deus! E se os leitores desta história orarem por Nuno Tristão e pelos outros portugueses, tais mortes tornaram bem-aventuradas!”.

E diz Zurara que o Infante chorou tamanha perda, pois a quase todos criara, em sua casa, desde meninos.

Aqui e acolá, Zurara deriva para outros episódios, como é o caso das Ilhas Canárias, fala da Madeira e do Porto Santo e de novo regressamos à terra dos negros, como Gil Eanes como capitão. No Cabo do Resgate tomaram 46 mouros e houve escaramuças. Para trás ficara o episódio de na região da Guiné, num imenso paul, Diogo Afonso e mais quinze, passaram à frente dos outros e penetraram num arvoredo muito denso e foram surpreendidos, de través, por uns guinéus armados de azagaias, e Zurara escreve:
“Então, correu sangue da nossa gente das terras de África, pois quis a má fortuna que, de sete feridos, morressem logo cinco – dois portugueses e três estrangeiros, dos que acorriam de longe, tentados pela fama de aventuras, e pela largueza de alma do senhor Infante”.

O relato encaminha-se para o seu termo, sempre ziguezagueando na cronologia. Em 1447, o Infante envia caravelas a um lugar chamado Meça, lá voltaram João Fernandes, que vivera sete meses entre os naturais da terra de Zaara, e Diogo Gil, e Rodrigueanes, entre outros, houve tempestade e tiveram que regressar ao reino. E assim escreve Zurara:
“Foram correndo os anos; e, à medida que passavam, tanto se acostumaram os moradores de Lagos, por aquelas terras de mouros, e tamanha confiança ganharam, por sobre as ondas do oceano, que já os homens não se contentavam em viajar até África para guerrear os infiéis e dilatar a lei de cristo. Mas até houve alguns pescadores que abandonaram os lugares conhecidos de seus pais e avós e foram deitar as redes no mar africano. Muitos dos que na conquista de Guiné se esforçaram, puderam ver, por lá, as águas coalhadas de peixe; e, ao tornarem, rogaram a D. Henrique permissão de longínqua pescaria”.

Zurara findou a sua crónica em 18 de fevereiro de 1453. O documento que escreveu é peça fundamental para a história dos descobrimentos henriquinos. Continua a ser polémico, nesta extensa e nebulosa costa da Guiné, saber quem chegou e quando à terra dos negros, os historiadores debatem e não se entendem quanto à data rigorosa da chegada ao que foi a Guiné onde tivemos praças e presídios até que no século XIX se deu a ocupação e nasceu aquela Guiné que é hoje a Guiné-Bissau.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14286: Notas de leitura (684): “Crónica do descobrimento e conquista da Guiné”, por Gomes Eanes da Zurara, adaptação de Frederico Alves, edição da Agência Geral das Colónias (1) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13997: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (11): Ah! Como sinto / Uma nostalgia imensa, / Quando me lembro / Do velho cais do Pigiguiti... (Manuel Ribeiro, natural de Cabo Verde, funcionário bancário)



Elemento gráfico da capa da brochura Caderno de Poesias "Poilão", edição limitada a cerca de 700 exemplares, policopiados, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. A obra é editada em dezembro de 1973, por iniciativa do Grupo Desportivo e Cultural (GDC) dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (A história do GDC dos Empregados do BNU  remonta à I República: foi carido em 1924).










Guiné > Bissau > s/d [c. meados do séc. XX] > A estátua de Nuno Tristão, erigida por ocasião do 5º centenário do seu desembarque em terras da Guiné (1446)... Ficava no final na Av da República, hoje, Av Amílcar Cabral... 

Esta artéria, a principal avenida de Bissau no nosso tempo, vinha da Praça do Império ao Cais do Pidjiguiti, tendo no final a estátua de Nuno Tristão; no sentido ascendente, ou seja, do Pidjiguiti para a Praça do Império, tinha à esquerda a Casa Gouveia [, visível nesta foto, por detrás da estátua, e mais à frente, à direita, a Catedral). 

Foto de autor desconhecido. Cortesia do nosso camarada Carlos Fortunato (sítio Guiné- História). [Edição: LG]

O Nuno Tristão, agora "apeado e desterrado"  na vila de Cacheu,  c. 2012.  O navegador da Cass do Infante terá chegado a estas paragens por volta de 1446. A sua estátua é do tempo do Estado Novo,  tendo sido erigida por ocasião do 5º centenário do desembarque do navegador em terras da Guiné. Todas as estátuas do período colonial foram removidas dos seus pedestais depois da indepência da Guiné-Bissau (Diogo Cão, Honório Barreto, Teixeira Pinto... ) e levadas para o forte do Cacheu, para um futuro museu.

Foto; Cortesia  da página da AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau, "Cacheu, Caminho de Escravos"


1. Considerada a primeira antologia da poesia guineense, esta edição deve muito à carolice, ao entusiasmo, à dedicação e à sensibilidade sococultural de dois homens:

(i) o Aguinaldo de Almeida, caboverdiano,  funcionário do BNU, infelizmente já falecido;  era o  coordeandor da secção cultural do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do BNU - Banco Nacional Ultramarino, Bissau [, foto à esquerda];

e (ii) o nosso camarada Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; tenente art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74; "último soldado do império", é natural de Castelo Branco, e vive no Fundão;
é poeta, romancista e antropólogo) [, foto à direita, em Bissau,  em 1972/73].

Em relação aos poetas que constam desta antologia, sabemos que foi o Aguinaldo de Almeida  quem contactou e selecionou os poetas "civis", tendo cabido ao Albano de Matos a tarefa de incluir os poetas "militares".

Com o 25 de abril de 1974, esta coleção não teve continuidade: estava prevista publicação de um 2º caderno («Batuque», com poemas do Albano de Matos; será editado mais tarde, em Oeiras, 1987, com o título "Batuque - Poemas Africanos", ) e de um 3º, dedicado ao Pascoal D'Artagnan.

Temos uma cópia, em pdf, do Caderno de Poesias "Poilão", que o Albano Matos nos facultou mandou,. Temos também a autorização, como coeditor literrário, para reproduzir aqui, para conhecimento de um público lusófono mais vasto, este livrinho de poesia que está fora do mercado livreiro.


2. Do poeta, hoje divulgado, Manuel Ribeiro, não temos  mais referências do que aquelas que nos são dadas na pág. 21: (i)  natural de Cabo Verde;  e (ii) funcionário bancário...

Pode ser que alguma leitor de Cabo Verde ou algum antigo funcionário do BNU em Bissau (caso do nosso camarada António Medina, que vive hoje nos EUA) nos possa dar algum notícia do seu paradeiro: se é vivo, se está em Cabo Verde, se veio para Portugaal depois da independência da Guiné-Bissau, se continuou a escrever...

sexta-feira, 14 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12837: Notas de leitura (572): "Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné", de Gomes Eanes de Azurara (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Setembro de 2013:

Queridos amigos,
Em termos historiográficos, é a pedra de toque para se entender o plano henriquino para cartografar África até descobrir o caminho marítimo para a Índia.
Azurara ou Zurara não esconde a profunda admiração pelo Infante, enuncia as razões para o empreendimento dos descobrimentos, ele é um contemporâneo entre contemporâneos, descreve nomes, viagens e resultados.
Passado o Cabo Bojador, etapa a etapa, chega-se à terra dos negros, a Guiné. Um pouco acima, quando se atingiu o rio Senegal, julgou-se ter encontrado o Nilo.
A crónica Zurara permite uma leitura fascinante, nele sente-se o grandioso da obra e o aparecimento do mundo moderno. Esta versão não é de fácil leitura mas quase. Dá orgulho ser português.

Um abraço do
Mário


Crónica do descobrimento e conquista da Guiné, 
por Gomes Eanes de Azurara

Beja Santos

Em 1989, as Publicações Europa-América deram à estampa uma edição em português atualizado de uma peça nobre da historiografia dos Descobrimentos (sobre o achamento da Guiné), a incontornável crónica de Azurara, escrita em 1448, trata-se do primeiro documento que traça a cronologia dos descobrimentos portugueses até essa data.

Como cronista, foi bastante diferente do seu antecessor, Fernão Lopes. Como se verá a propósito da figura do Infante D. Henrique, Azurara celebra os seus heróis, é um panegirista sem complexos. Como escreve Reis Brasil, “o seu estilo é vivo e elucidativo, chegando mesmo em certos casos a ser fortemente emotivo, mas a frase longa, o uso demasiado intenso da subordinação, a praga dos pronomes do tipo relativo, são métodos de escrita que, em certos casos, o tornam um pouco enfadonho ou pesado”.

Erudito, de uma grande fidelidade à verdade, tem a particularidade de narrar factos contemporâneos ao cronista. Azurara idolatrava o Infante D. Henrique, conheceu diretamente os principais descobridores do que nos fala.

Na sua introdução de 1841, o visconde de Santarém não esconde o regozijo de se dar pela primeira vez ao público a crónica do descobrimento e conquista da Guiné: “É incontestavelmente não só um dos monumentos mais preciosos da história da glória portuguesa mas também o primeiro livro escrito por autor europeu sobre os países situados na costa ocidental d’África além do Cabo Bojador, e no qual se coordenaram pela primeira vez as relações de testemunhas contemporâneas dos esforços dos mais intrépidos navegantes portugueses que penetraram no famoso mar Tenebroso dos Árabes”.

São múltiplas as leituras possíveis deste diadema historiográfico. Por exemplo, ficamos a conhecer o estado das ciências e da erudição entre nós nos fins da Idade Média; Azurara mostra ter um vasto conhecimento da geografia sistemática dos antigos; deixa claro o plano expansionista de D. João I e faz o leitor perceber que o Infante D. Henrique tinha construído o seu próprio plano para explorar a costa ocidental de África.

A crónica abre com uma carta que Azurara dirige a D. Afonso V, que lhe ordenara que pusesse em escrito “os feitos do Senhor Infante D. Henrique”. É uma crónica que assombra pela cronologia dos feitos que se passaram no achamento da Guiné. Dirige-se encomiástico ao Infante, enaltece os seus feitos, o seu génio e a sua magnanimidade, sumaria as coisas notáveis feitas por ele, arrola as suas virtudes e costumes, dá rédea solta a uma cultura clássica de alto nível. E assim se chega a um dos pontos capitais da crónica: as cinco razões porque o senhor Infante foi movido de mandar buscar as terras de Guiné: queria saber a verdade sobre a terra que ia além das ilhas de Canária, e de um cabo, que se chama do Bojador, se ele não trabalhasse de o saber, nenhuns mareantes, nem mercadores nunca se dele antremeteriam; considerou o senhor Infante que achando-se em aquelas terras alguma povoação de cristãos ou portos em que sem perigo pudessem navegar, se poderiam para estes reinos trazer muitas mercadorias; era também preciso conhecer melhor o poderio dos mouros daquela terra de África; de mais de trinta anos que havia que guerreava os mouros, nunca achou rei cristão, nem senhor de fora desta terra para o ajudar e assim queria saber se achariam em aquelas partes alguns príncipes cristãos; queria levar a fé de nosso senhor Jesus Cristo, procurar salvar as almas que se quisessem salvar.

E o cronista traça o itinerário: as dificuldades sentidas para passar além do Cabo Bojador, e com Gil Eanes dobrou este Cabo; de como Afonso Gonçalves Baldaia chegou ao rio do Ouro e trouxe os primeiros escravos; surge Nuno Tristão, criado de moço pequeno na Câmara do Infante e que passou além do porto da Galé e como se foram aproximando de regiões onde já não se falava a língua dos mouros, a dos Azenegues (países que confinam com os negros de Jalof, onde começa a região da Guiné); o envio de uma embaixada ao Papa Martinho V, pedindo perpétua doação dos reinos descobertos e do que se descobrisse do mar oceano do Cabo Bojador até às Índias.

O leitor vai tomando nota de toda esta aventura, as embarcações tenteando os contactos, por vezes sendo repelidos, outras capturando nativos, até que se chega a um capítulo extraordinário em que Azurara cede à emoção e descreve a chegada dos escravos a Lagos, são páginas únicas da historiografia portuguesa, como se exemplifica: “Mas qual seria o coração, por duro que ser pudesse, que não pungido de piedoso sentimento, vendo assim aquela companha; uns tinham as caras baixas, e os rostos lavados com lágrimas, olhando uns contra os outros; outros estavam gemendo mui dolorosamente, esguerdando a altura dos céus, firmando os olhos em eles, bradando altamente, como se pedissem acorro ao Pai na natureza; outros feriam seu rosto com suas palmas, lançando-se estendidos em meio do chão; outros faziam suas lamentações em maneira de canto, segundo o costume da sua terra, nas quais posto que as palavras da linguagem aos nossos não pudesse ser entendida, bem correspondia ao grau de sua tristeza”.

O Infante manda Gonçalo de Sintra à Guiné, será a primeira baixa de tomo. Outros navegadores prosseguem até ao rio do Ouro e Dinis Dias chega à terra dos negros, onde vivem os guinéus. As viagens prosseguem até ao Cabo Branco depois atinge-se a ilha de Arguim. A proximidade da região durante séculos conhecida por Costa da Guiné é enorme. É então que um grupo de navegadores requer licença para irem à Guiné. O Infante aquiesce. Diz o cronista que neste período o Infante vê-se envolvido em graves quezílias familiares, era regente do reino o Infante D. Pedro que mal se relacionava com a rainha viúva, os nobres dividiram-se e tomaram partido, D. Henrique foi forçado ao papel de conciliador. As explorações da costa africana prosseguiram, Lançarote de Lagos passou o Cabo Branco, assim se chega à terra da Guiné. Ao tempo, julgava-se que o rio Nilo passaria por esta região, já se passara a terra de Zaara (o Sahara), avistavam-se palmeiras e pela primeira vez deparava-se ao navegador gente toda negra, guinéus ou negros, passou-se o rio Çanaga (Senegal), descobriu-se que a água do mar era doce como a dos rios. Os locais resistem, combatem, ferem e matam com azagaias, e fogem, não querem ser capturados ou filhados. Seguem-se páginas muito interessantes em que Azurara discreteia sobre o rio Nilo, fala nas caravanas, nos filósofos e historiadores, gregos e romanos, as caravelas afoitam-se a entrar nos rios, fazem-se capturas, descobre-se que a religião dos mouros aqui tem um peso ínfimo.

O relato prossegue com mais viagens e expedições às terras dos negros, são descrições palpitantes que interessam ao historiador. E assim se chega à morte de Nuno Tristão em terra da Guiné, em circunstâncias dramáticas.

É um relato espantoso o que nos oferece esta crónica que ainda hoje conserva segredos bem guardados que fazem palpitar os historiadores do presente.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12818: Notas de leitura (571): "Nos Trópicos sem Le Corbusier - Arquitectura Luso-Africana no Estado Novo", por Ana Vaz Milheiro (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8930: A nossa expedição à Guiné (Tina Kramer) (2): Bula e Cacheu (de 12 a 18 de Abril de 2011)

A nossa expedição à Guiné
Escrito por Tina Kramer

Para a minha tese sobre as memórias da Guerra Colonial/Luta de libertação eu fui para a Guiné no mês de Fevereiro até Junho em 2011

2 - Bula e Cacheu (de 12 a 18 de Abril 2011)

Durante a segunda viagem o que me impressionou muito foram Bula e Cacheu. Gostei imenso da natureza do noroeste com as suas palmeiras, o cadju e as terras planas vastas. Por causa dos rios e do mar perto tem um clima muito mais fresco e agradável do que o nordeste ou o sul da Guiné.

Em Bula ficámos surpreendidos quando o presidente da câmara conseguiu organizar encontros com seis antigos combatentes do PAIGC que estavam todos muito motivados para falar sobre as memórias deles. Em geral tivemos a impressão que sempre depende da situação social de presente como os antigos combatentes do PAIGC estimam a luta. Quem teve proveitos depois da independência, por exemplo no governo, diz que a luta valeu a pena e que hoje os guineenses estão livres. A maioria dos outros que não tiveram proveito nenhum da independência já não percebem porque eles lutaram durante doze anos e sacrificaram tanto para nada.

Depois da guerra o antigo aquartelamento do exército português em Bula foi usado como uma escola, mas hoje está vazio e abandonado. Como vimos durante as nossas viagens muitos antigos quartéis portugueses estão abandonados hoje (Bula, Tite, Bambadinca, Suzana), mas alguns são usados pelo exército guineense (Bissau, Gabu, Buba), ou funcionam como residências (Catió). Em todos os quartéis o PAIGC tirou as inscrições portuguesas ao pé dos mastros de bandeira. Aparentemente tentou retirar todos os monumentos portugueses até ao monumento na antiga Praça do Império em Bissau que estava forte demais. Infelizmente ninguém na Guiné podia explicar-me o significado deste monumento português em Bissau.

Parte do antigo aquartelemento português em Bula, 12 de Abril de 2011
Foto ©: Tina Kramer

Parte da entrada do antigo aquartelamento português em Bula, 12 de Abril de 2011
Foto ©: Tina Kramer

Em Cacheu a influência dos portugueses ainda está muito visível, sobretudo na arquitectura como a rua larga que tende para o porto, a fortaleza ao lado esquerdo e o cemitério. Podíamos visitar a fortaleza que dá uma vista impressionante ao mar e às casas. Dentro ficam monumentos dos quatros personagens históricos: Nuno Tristão, que na época estava instalado no porto de Pidjiguiti em Bissau, Diogo Cão que na época estava instalado na Fortaleza Amura em Bissau, Teixeiro Pinto, antigamente instalado na Praça de Che Guevara em Bissau e Honório Barreto, antigamente na praça do mercado em Cacheu. As figuras estão destruidas parcialmente.

O porto em Cacheu, 16 de Abril de 2011
Foto ©: Tina Kramer

A fortaleza em Cacheu, 16 de Abril de 2011
Foto ©: Tina Kramer

A fortaleza em Cacheu, 16 de Abril de 2011
Foto ©: Tina Kramer

Monumento do Nuno Tristão na Fortaleza de Cacheu, 16 de Abril de 2011
Foto ©: Tina Kramer

Honório Barreto na Fortaleza de Cacheu, 16 de Abril de 2011
Foto ©: Tina Kramer

Não encontrámos nenhum antigo combatente em Cacheu, mas falámos com um omi garandi (= homem idoso) de noventa anos, educado em Cacheu e na escola agrícola em Bissau. Ainda se lembra dos contos dos pais dele sobre Teixeiro Pinto e Honório Barreto. Ele falou dos tempos difíceis antes da guerra quando os guineenses sofreram sob a pobreza e o trabalho forçado para o comércio com amendoim e coco em que comerciantes franceses, ingleses e portugueses estavam involvidos. Ele disse que no início da construção da fortaleza os habitantes de Cacheu não sabiam que ia ser uma fortaleza para escravos. Portanto na opinião dele Cacheu estava muito mais bonito antes da independência. Tudo era mais barato, as ruas estavam com mais vida e entre a gente havia ainda mais respeito. Ele disse que muitas cidades na Guiné têm um epíteto e para Cacheu é o nome Cacheu da Silva. Infelizmente ele não sabia porquê.

(Continua)
____________

Nota do Editor:

Vd. primeiro poste da série de 19 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8928: A nossa expedição à Guiné (Tina Kramer) (1): Gabu - Lugadjole (de 28 de Março a 7 de Abril de 2011)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8356: Parabéns a você (266): Agradecimento de Mário Beja Santos

1. Mensagem de hoje, 1 de Junho de 2011, do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), que ontem esteve de parabéns:

Meus queridos camaradas,
Tive ontem um dia muito feliz, começou logo com as vossas trombetas no blogue. Trabalhei, participei nas jornadas da Comissão Portuguesa de História Militar onde o Dr. Carlos Valentim, oficial da Armada, e que prepara o doutoramento sobre a obra o do almirante Teixeira da Mota me deu a saber que encontrara numa das caixas da correspondência do distinto historiador um maço de correio que eu lhe enviei do Cuor, com poemas e tudo. Fiquei tão emocionado que a minha intervenção reflectiu depois essa notícia. E no final recebi um abraço do Humberto Reis, ele é um dos principais responsáveis por eu ter chegado ao blogue, aquela fotografia com a capela de Bambadinca mudou o curso dos acontecimentos da minha vida, em 2006.

Agradeço oferecendo-vos a todos este textinho que saiu assim, de rajada e que passa a pertencer-vos a todos.

Agradeço o telefonema do Luís e a mensagem do Carlos Vinhal, pelo ânimo que me deram, preparando o caminho para a alegria dos vossos cumprimentos.

Não sei meter este texto no comentário, o Carlos faça como entender.

Com gratidão,
Mário


Guiné-Bissau > Zona Leste > Bambadinca > 1997 : A velha Capela de Bambadinca.
Foto: © Humberto Reis (2005) (com a colaboração do (Braima Samá)


Nós, os que viemos depois de Nuno Tristão

Beja Santos

Nuno Tristão chegou numa barca de 40 toneladas, saída de Lagos, em Junho de 1446, ia abrir caminho à primeira colónia moderna do mundo, a última que os portugueses julgavam ter pacificado, em1915. Dobrou o Cabo Verde, numa região que durante séculos foi conhecida por Senegâmbia, estava uma manhã soalheira e calma, as águas tinham uma coloração verde amarelada, o vigia, no cesto da gávea, gritou: almadias à vista!

Não eram embarcações, eram tufos de vegetação, a barca singrou por entre essa vegetação luxuriante, ladeou a costa, progrediu para sul, apontou para um rio largo, aproveitando uma maré favorável, num estuário amplo o tripulante descobriu dois rios. Apontou para a esquerda, foi nisto que se ouviu o fragor de trovões, era Junho o mês dos tornados e dos dilúvios tropicais, ouviam-se estrondos medonhos, estarrecida a marinhagem olhava para um céu umas vezes escuro outras vezes glauco, coriscos e trovões sucediam-se ininterruptamente. Depois tudo acalmou, o rio entrara na vazante, seguiu-se imprevistamente uma ondulação rumorosa, o macaréu. Nuno Tristão chegara ao Geba estreito. O Geba estreito onde vivi dois incomensuráveis anos. E definitivos.

Nós fazemos parte daquela falange que em noites de calor húmido, dentro de rolos de serpentina de vapor, ou no Geba de prata escura, pela manhã, aportámos num local chamado Pidjiquiti e daqui partimos para essa vegetação luxuriante, para aqueles tornados, talvez para ilhas, múltiplos pontos ermos numa Guiné que se transformara, na sua beleza labiríntica de tufos luxuriantes, de florestas tropicais, numa densíssima plataforma de guerra.

Viajámos, acampámos, serpenteámos entre lalas e bolanhas, chapinhámos no lodo viscoso, conhecemos gentes de sorriso largo, de pele escuríssima ou acobreada, subimos e descemos nas peças do mosaico etnográfico mais surpreendente do mundo, conhecemos povos tatuados, adornados de contaria, braceletes em alumínio e ferro, com anéis, amuletos, trabalhando a ráfia, as madeiras perfumadas, imolando animais para aplacar as fúrias dos irãs. Ouvimos tocar o korá, fomos picados por biliões de insectos, vimos os anos reduzidos a duas estações, vimos homens a caminhar como reis e mulheres a saracotearem-se como deusas de um olimpo vegetal. Olhámos a arrozais, campos de mandioca, de fundo, de feijão, vimos viajar as perdizes, as chocas, os flamingos. Dentro do arame farpado ouvimos hienas e onças, até javalis, dizem mesmo o brado dos elefantes. E combatemos rodeados pelas geobotânica mais frondosa dos jardins botânicos que África dispõe. Com espingardas metralhadoras, bazucas e morteiros, cirandámos entre o pau-conta, o pau-sangue e o pau-incenso, rasgámos a pele na alfarroba de lala, subimos e descemos caminhos de saibro assente em laterite pura, daí a Guiné ser um misto de verde que desponta num solo incendiado fendido por água enlameada.

Fomos os últimos viajantes depois de Nuno Tristão, este fora precedido por Gil Eanes, que dobrara o Cabo Bojador, deitando por terra a lenda do mar tenebroso. Fomos intrépidos, lacrimejámos, pusemos cruzes nos dias do calendário, ouvimos o grito dos moribundos e o trovão dos palavrões dos últimos adolescentes da nossa geração. Hoje estamos aqui, confraternizando numa mesa que reunirá mesmo depois do último de nós fechar os olhos. Porque esta mesa é a história e há deveres de memória que não morrem. Ponto final.

[Negrito da responsabilidade do editor do texto]
____________

Nota de CV:

Vd. postes de 31 de Julho de 2011:

Guiné 63/74 - P8348: Parabéns a você (264): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P8349: Parabéns a você (265): Pedido de livro emprestado... ou a fome de livros do nosso camarada Beja Santos, em dia de aniversário (Luís Graça)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2465: Aires Tinoco, um dos primeiros alentejanos a ver terras da Guiné (Virgínio Briote)


Aires Tinoco, natural de Olivença, ao embarcar na caravela de Nuno Tristão, foi seguramente um dos primeiros alentejanos a ver as terras da Guiné.

O Comandante e quase toda a tripulação acabaram dizimados com setas envenenadas pelas populações nativas. Tinoco, que tinha partido como escrivão de bordo, fez-se ao mar e conseguiu atingir a costa portuguesa quase ao fim de dois meses sem avistar terra, pela rota que ficou a ser conhecida pela “Volta da Guiné”, a volta pelo largo ou, posteriormente, navegação pelo largo.

Era a quarta viagem que Nuno Tristão fazia, a mando do Infante D. Henrique, aventurando-se pela faixa costeira entre o Cabo Branco, que ele próprio descobrira em 1441, e o rio Geba.
À frente de uma caravela com cerca de trinta homens a bordo, Tristão passou ao largo de Cabo Verde, que Dinis Dias tinha descoberto em 1444 e, navegando para sul, achou a embocadura de um rio que se julga ter sido o Gâmbia.

Fundearam a caravela e, em dois batéis, subiram o rio. O batel de Nuno Tristão foi logo atacado pela população ribeirinha, que matou toda a tripulação com setas envenenadas.

Os outros tentaram refugiar-se na caravela, acabando por salvarem-se apenas cinco homens, “um grumete, assaz pouco avisado na arte de marear e um moço da câmara do infante, que se chamava Aires Tinoco, que ia por escrivão, e um moço guinéu que fora filhado com primeiros que filharam em aquela terra, e outros dous moços assaz pequenos que viviam com alguns daqueles escudeiros que ali faleceram” (Gomes Eanes de Azurara, cronista).

Aires Tinoco, com os escassos conhecimentos de navegação que possuía, conseguiu fazer-se ao mar, tentando atingir a costa portuguesa, o que conseguiu ao fim de quase dois meses, sem nunca avistar terra.

Diz Eanes de Azurara, na “Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné”:

“Ó grande e supremo socorro de todos os desamparados (…), onde bem mostraste que ouvias suas preces quando em tão breve lhe enviaste tua celestial ajuda, dando esforço e engenho a um tão pequeno moço, nado e criado em Olivença, que é uma vila do sertão mui afastada do mar, o qual, avisado por graça divinal, encaminhou o navio, mandando ao grumete que directamente seguisse para o norte (…), por que ali entendia ele jazia o Reino de Portugal (…).
(…) Este moço que disse era aquele Aires Tinoco (…), no qual Deus pôs tanta graça que por dois meses continuados encaminhou a viagem daquele navio (…); ao fim dos quais cobraram vista de uma fusta *(…), sobreveio em eles uma nova ledice, e muito mais quando lhes foi dito que estavam na costa de Portugal, a través de um lugar do Mestrado de Santiago, que se chama Sines. E assim chegaram a Lagos, donde se foram ao contar-lhe o forte acontecimento da sua viagem, apresentando-lhe a multidão de flechas com que seus parceiros morreram (…).


Os alíseos e a corrente das Canárias não permitiam, no retorno a Portugal, a navegação junto à costa.
"A volta da Guiné ou da Mina, afastando-se da costa, entrando bem pelo mar Atlântico, passou a ser comum, levando os marinheiros de então a escalar os Açores".

"Pelo feito, Aires Tinoco foi agraciado com terras em Elvas, na sua Olivença natal, onde lhe foi atribuído o Monte do Barroco (Velho), junto à aldeia de S. Jorge de Alôr, e ainda em Estremoz, onde, além do almoxarifado, recebeu casas e terras.
Aires Tinoco foi ainda escrivão do Infante D. Henrique. Em 1475 ainda vivia, ao que se julga em Extremoz".
(Maria Antónia Goes).

Segundo Francisco Contente Domingues, Professor de História na Faculdade de Letras na Universidade de Lisboa,
“ (…) os navegadores portugueses viram-se obrigados a fazer a chamada ‘volta pelo largo’, ou seja, a internarem-se no mar alto para contornar os ventos que sopravam constantemente no sentido aproximado Norte-Sul, junto à costa africana. Essa manobra só podia ser feita recorrendo ao cálculo de, pelo menos, uma coordenada, a latitude, para o que se impunha a observação comparada das alturas dos astros. A novidade não consistiu nesta observação, conhecida e praticada havia muito, mas no facto de ter sido feita a bordo e dela se obter a posição do navio no alto mar, deixando o cálculo da longitude à perícia dos pilotos, já que só a puderam determinar com rigor quando o quarto protótipo do cronómetro de John Harrison provou a sua suficiência, no decurso do terceiro quartel do século XVIII”.
__________

*embarcação comprida de fundo chato, de vela e remo.

Recolha e selecção de texto: vb

Com a vénia e os agradecimentos devidos a Maria Antónia Goes, à revista Alentejo, Terra Mãe e ao Professor Doutor Francisco Contente Rodrigues (Univ. Lisboa).

“A Nossa História”, Maria Antónia Goes. Publicado na revista Alentejo, Terra Mãe. Revista gratuita > Nº 10 > 1º Trimestre de 2008 > http://www.alentejo-terramae.pt/

Imagens extraídas da revista.