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terça-feira, 19 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8130: Parabéns a você (248): Victor Barata, ex-Especialista da FAP, DO 27, BA 12, 1971/73 (Tertúlia / Editores)



PARABÉNS A VOCÊ

19 DE ABRIL DE 2011

VICTOR BARATA

Caro camarada Especial(ista) Victor Barata*, a Tabanca Grande está contigo nesta data festiva, principalmente porque hoje entras no grande grupo dos Sexas.

Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia, desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos mais próximos.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.
____________

Notas de CV:

- Postal de aniversário de autoria do camarada Miguel Pessoa, Pilav da FAP.

- (*) Victor Barata foi Especialista da FAP, DO 27, BA 12, 1971/73.

- Vd. último poste da série de 18 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8121: Parabéns a você (247): Raul Brás, ex-Soldado Condutor Auto, CCAÇ 2381 "Os Maiorais", 1968/70, natural de Salavessa, Nisa (Tertúlia / Editores)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6897: Convívios (267): 1º Encontro da Tertúlia “Linha da Frente”, 4 de Setembro de 2010, na Base das Cortes em Leiria (Victor Barata)


1. O nosso Camarada Victor Barata, criador e editor do blogue dos Especialistas da BA12, Guiné 1965/74, enviou-nos uma mensagem em 12 de Agosto de 2010, solicitando-nos a divulgação da primeira festa desta sua Tertúlia:


1º Encontro da Tertúlia "LINHA DA FRENTE"
Caro companheiro Tertuliano.
Aproxima-se o dia 4 de Setembro, data esta que assinalará o 1º Encontro da nossa Tertúlia “LINHA DA FRENTE”.
É um reencontro de antigos e actuais companheiros que nos servirá para mais um momento de confraternização, reviver um passado recente e o recordar de uma vida que começa a caminhar para o “último voo”.
Esperamos ansiosamente pela tua inscrição para tão honroso encontro, pois a tua presença é que nos incentiva para manter sempre a qualidade do "ESPECIALISTAS DA BA12 e OUTROS".
Esperamos receber-te na Base das Cortes, em Leiria, no dia 4.
Saudações Aeronáuticas.
Augusto Ferreira
João Carlos Silva
Jorge Mendes
Victor Barata


NOTA: Por questões logísticas, agradecemos que a inscrição seja feita até ao dia 1 de Setembro
____________
Nota de M.R.:
Vd. também o último poste desta série em:


22 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6883: Convívios (183): Primeiro Encontro da CCAÇ 3327 (Os Nómadas), Coimbra, 17 de Julho de 2010 (José da Câmara)

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5219: Agenda Cultural (41): Os nossos camaradas Gidelda Pessoa, V. Barata e M. Rebocho na RTP1 (António Dâmaso)

1. Mensagem do nosso tertuliano e camarada António Dâmaso*, Sargento-Mor da FAP na situação de Reforma Extraordinária, com data de 5 de Novembro de 2009:

Caro Carlos Vinhal,
Saudações muito especiais para todos os responsáveis pelo Blogue.
Também quero saudar todos os ex-combatentes, independentemente da Arma e do posto, que prestaram serviço no Ultramar.

Carlos,
Fiquei comovido pela forma como saudaste o Victor Barata pela sua intervenção no Programa Portugal no Coração, na RTP 1 no dia 4 de Novembro de 2009, pelas 16 horas.

O Victor comoveu-se, mas disse aquilo que sentiu e presenciou na altura em que, apenas com 19 anos, foi obrigado a viver.
Sabia que o Victor Barata ia ao programa e fui dar o meu passeio antes para poder assistir. Estive do principio ao fim, apesar de tudo e do Rebocho, por último, ter estado no Exército, pelo facto dos Pára-quedistas terem passado da FA para o Exército. Acho que deveriam ter estado elementos da Marinha e do Exército.
Também reconheço que eles não se esqueceram destes militares.

Fui contactado por televisões, mais que uma vez, para me pronunciar sobre a minha vivência no Ultramar, nomeadamente no caso Guidage, por eu ser na altura o Comandante do Pelotão dos 3 Páras que ficaram sepultados lá em Guidage.
Declinei sempre por não ser capaz de falar sobre o assunto frente a câmaras de televisão, sofro de stress pós traumático de guerra e isso diz tudo.

Graças a Deus que os restos mortais destes jovens já se encontram junto das famílias. Sempre que passo em Castro Verde vou fazer continência ao Vitoriano, não esquecendo os outros que naquele dia se despediram desta vida, em honra da Pátria. Quis o destino que eu não tivesse lá ficado com eles, pois corri os mesmos riscos.

Porque estive em Galomaro e Dulombi em 1969; em Guileje; na operação Nó Górdio em Moçambique em 1970; novamente na Guiné em Caboxanque e Cadique em 1972 e 1973; em Bigene, Binta, Guidage e Gadamael Porto em 1973, vivi em valas e abrigos que muitas vezes tive de cavar.

Não só por ter sofrido na pele tudo isto, embora por períodos que não ultrapassavam três meses, sei dar o valor ao que sofreram todos os que foram obrigados a longas permanências nestas condições, e por isso vou aqui citar o que em tempos escrevi.

"O meu pensamento hoje vai para aquele soldado desconhecido, digo eu, refiro-me aquele militar com ou sem patente, que estava lá, contribuía com o seu esforço para o conjunto, tal como formiga obreira, mas que por não ter cunhas, não ser engraçado nem engraxador, via as benesses passar-lhe ao lado, sem prémio Governador da Província, promoções, férias, etc, no entanto lá ia procurando manter-se vivo, com a agravante de ser obrigado a viver em buracos sem as condições mínimas".

Um Alfa Bravo do camarada António Dâmaso,
Sargento Mor Pára.


2. Comentário de CV:

Caro camarada e amigo Dâmaso
Por pudor não vou reproduzir aqui a mensagem que enviei ao Victor, a quente e na mais simples condição de ex-combatente anónimo. O tal anónimo que tão bem descreves.

Mandei uma mensagem semelhante à nossa querida amiga Giselda, dizendo-lhe que quem esteve no Primeiro Canal da RTP, representou cabalmente todos os militares que combateram na Guiné.

Pena que aquele programa, tendo um carácter tão aligeirado, não esteja vocacionado para tratar assuntos tão sérios. Prova disso, foi a reacção espontânea da Tânia, que não tendo preparação jornalística, não conseguiu esconder umas lagrimazinhas que por simpatia soltaram as minhas.

Fiquei também com a ideia de que conseguimos comover as pessoas, mas não nos conseguimos fazer entender. Como alguém lá disse, só um ex-combatente consegue compreender outro ex-combatente. E claro, as nossas famílias. A minha mulher ainda hoje diz que começou a namorar com um homem, e casou com outro totalmente diferente.

Realidades que cada um para si mesmo ou com o seu agregado, vai vivendo até ao fim do percurso terrestre. Aí voltará definitivamente a paz de espírito ou lá o que se queira chamar.

Para ti, um abraço fraterno.
CV
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4766: Notas de leitura (13): "Os Anos da Guerra Colonial" e as suas incorrecções (António Dâmaso)

Vd. último poste da série de 4 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5207: Agenda Cultural (40): Os nossos camaradas Giselda Pessoa, V. Barata e M. Rebocho, hoje, 16h, RTP1, Portugal no Coração

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4339: Convívios (129): 32º Encontro de pessoal da Base Aérea Nº 12 e Outros, dia 30 de Maio, em Vouzela (Victor Barata)

Amigo Luís,  
Junto o programa do nosso 32º Encontro de Pessoal da Base Aérea Nº 12 e Outros.  
Mais uma vez esta grande "FAMÍLIA" se vai juntar, desta vez com o maior numero de participantes até hoje reunidos.  
Um abraço,  
(Victor Barata)  



quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3643: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (8): Vitor Barata, em nome dos Especialistas da BA12 (Bissalanca, 1965/74)



1. Mensagem do Victor Barata, criador e editor do blogue dos Especialistas da BA12, Guiné 1965/74:

Ilustres Companheiros!

Em nome da Tertúlia LINHA DA FRENTE, Especialistas da Base Aérea nº12, quero expressar muitos sinceros votos de Boas-Festas a TODOS os Companheiros que tão dignamente tem colaborado para que a TABANCA GRANDE seja a EXCELÊNCIA dos Blogues referentes ao passado na Guerra da Guiné.

Como os últimos são sempre os primeiros,para vocês, LUÍS, CARLOS e BRIOTE, obrigado por nos manterem vivos neste TO.

Victor Barata

2. Comentário de L.G.:

Adorei o teu/vosso cartão. Obrigado. O especialista da BA12, que esteve em Bissalanca, de 1965 a 1974, é de facto um Zé Especial, muito especial... No TO da Guiné, fez das tripas coração, da penúria imaginação e da crise oportunidade. Aguentámos uma guerra, com poucos meios e para mais obsoletos. Isto era válido para os três ramos das Forças Armadas. Graças ao teu blogue, ficamos tambem a conhecer melhor o que foi Bissalanca e o vosso espírito de corpo, solidariedade e camaradagem. E mais: tu, Victor, fizeste a ponte que faltava entre a malta do ar e a malta de terra... É também como o nosso um blogue de histórias e de afectos.

Não sei quem é o autor do Zé , mas é seguramente um tipo criativo e bem humorado. Fico, pessoalmente, muito satisfeito que o teu blogue já esteja em velocidade de cruzeiro e se tenha criado um tertúlia, com um nome muito apropriado, Linha da Frente...

Durante a minha comissão, de meados de 1969 a Março de 1971, não tive muitos contactos, personalizados, com o Zé Especial, contrariamente ao meu camarada Humberto Reis (igualmente da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) que tinha amigos em Bissalanca... Mas deixa-me fazer minhas as palavras, de admiração, reconhecimento e camaradagem, que o Virgínio Briote, meu querido co-editor e administrador (e grande operacional dos anos de brasa de 1965/66) , escreveu ontem, no teu blogue:

Caro Vítor,

Ver e reparar aeronaves abatidas ou furadas não foi nada de excepcional para os valorosos especialistas da nossa BA12 que, rapidamente, as punham de novo operacionais. Vezes e vezes, ao longo dos anos que durou a guerra, os nossos especialistas se depararam com situações idênticas, algumas com consequências muito mais graves. Para mim foi importante, jovem maçarico, ir num DO à procura das NT, ainda envolvidas na conquista de Canjambari e sair dali vivo, sem saber como, num Dornier todo furado. A categoria do piloto e a calma que aparentava e transmitia transformou o acontecimento num simples episódio, que, no fim, até deu para rir, ao ver o capelão do BCav 490 com as calças todas borradas. Daí o meu interesse em saber do que é feito do excelente piloto.

Tive cerca de 21 meses de actividade operacional. Golpes de mão, heliportagens de assalto, helitransportes para a fronteira Norte (Barro, Bigene, Sitató-Cuntima e outras). Sempre o apoio da FA foi decisivo e constatei sempre o elevado nível do pessoal da BA 12, até por contraste com as forças do Exército. E fui testemunha do vosso trabalho, ao manterem operacionais as aeronaves que levavam a vida aos 'mortos' que viviam dentro dos arames farpados. Evacuações, transportes, correio, alimentos, eram da vossa responsabilidade. Honra vos seja feita. Cumpriram muito bem o que a Pátria de então vos pedia.

A honra é minha, caro Vítor, ao ver o 'Tantas Vidas' anexado ao blogue dos nossos especialistas da BA 12.

Um abraço para ti e para todo os Camaradas da BA 12.

Quanto às festas que se avizinham, meu caro Victor e meu Zé, que sejam como as castanhas: quentes e boas! (*) LG
_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior desta série:

16 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3631: As Boas-Festas da Nossa Tabanca Grande (7): Votos de: R.Silva/V.Condeço/P.Neves/ V.Garcia/P.Raposo/A.Paiva/S.Fernandes

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3452: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (12): O Honório, o Pichas e o cangalheiro (Victor Barata / Victor Oliveira)

1. Mensagem com data de 6 de Novembro último, do Victor Barata, membro da Tabanca Grande e animador do blogue Especialistas da Base Aérea 12Guiné 1965/74:

Boa Tarde, Luís.

Li há pouco no teu excelente Blog a mensagem do Jorge Félix e depois o teu comentário (*).

Em relação ao primeiro, já lhe enviei um email que adiante te transcrevo.

O teu comentário não é para mim, pois se lerem a minha mensagem tão "polémica" em nada me manifestei, nem contra nem a favor, dos "Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras".

Manifestei, sim,o meu desagrado para com o Jorge com o facto de dizer que o Honório "rapava a tentar chegar com o hélice aos nativos", dizendo-lhe que um Blog era lido por todas as pessoas e algumas tirariam ilações do Honório que não correspondiam à verdade, somente isto.

Mas como só quem não me conhece poderá fazer esse raciocínio de mim e, como sou um homem com um cariz de humildade elevado, também venho aqui apresentar as minhas desculpas a quem não concordou com a minha análise.

Email enviado há minutos ao Jorge Félix:

Olá Jorge, espero que esteja tudo bem contigo.

Li o email que mandaste para o Luís Graça e notei um pouco de incompatibilidade da tua pessoa em relação a mim.

Se achas que te ofendi (só quem me não conhece, poderá ter essa imagem de mim) apresento as minhas desculpas, mas tenho consciência absoluta de que não foi essa a minha intenção.

Se foi o facto da minha manifestação de desagrado, e somente isso, em relação aos "atributos" que se dão ao Honório sobre a frase de "querer acertar com o hélice nos nativos que paravam na bolanha", fiz-te sentir que o BLOG é lido por qualquer pessoa, derivando disso ilações que muitas vezes não têm o significado que lhe queremos dar.

Sobre os "Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras", em nada me manifestei, nem tenho que me manifestar.

Resumindo e concluindo, queria apenas dizer-te que o espírito com que me integrei na "Tabanca Grande" foi aquele que o Luís me transmitiu e que já me levou, como estranho de todos, a conviver em encontros anuais, ou seja, a camaradagem, o diálogo são e aberto onde podemos manifestarmo-nos com respeito mútuo.

Mais uma vez apresento os meus pedidos de desculpas, se te ofendi, e esperançado que a nossa curta camaradagem em nada seja afectada.

Um abraço
Victor Barata


Tomei esta atitude, tanto para ti como para o Jorge, meramente pessoal, entendo que não é este o espírito dos nossos Blogs, e muito menos nesta fase do "campeonato" em que se pretende é paz e sossego, mas se entenderes que o deves publicar tens toda a liberdade da minha parte.

Mais uma vez apresentando as minhas desculpas, considera-me um CAMARADA.

Saudações Aeronáuticas.

Victor Barata


2. Mensagem do Vitor Oliveira, residente em Caneças:

Amigo Luís

Sou Vitor Oliveira, mais conhecido na Guiné pelo Pichas, 1.º Cabo Melec, 1.ª 66.

Foi com muita alegria que há cerca de um mês descobri o blogue dos especialistas da Guiné e vi o teu link - sou portanto PERIQUITO - , onde li muitas mensagems àcerca do meu grande amigo HONÓRIO que infelizmente já nos deixou.

Devo ter sido o especialista que mais voou com ele, tanto em T6G como DO27 entre Novembro 67 a Março 69 desde Madina a Bubaque. Só não conheci São Domingos.

Tenho dezenas de bebedeiras e histórias passadas com ele, quero dizer-te o seguinte: o indicativo dele era JUBIDÉ, nunca pilotou Hélis nem Fiats, mas sim T6G e DO27, deixou de pilotar T6G um mês depois da chegada do Tenente-Coronel Diogo Neto. Um dia conto a história disto.

UM GRANDE ABRAÇO.

3. Comentário do L.G.:

(i) Vitor (Barata): Estamos esclarecidos. Pelo menos, eu. O Jorge Félix dirá de sua justiça, se for caso disso. Por mim, como sabes, não faço comentários sobre o que não vi, não observei, não vivi...

(ii) Obrigado, camarada Victor Oliveira, por entrares em contacto com connosco e nos trazeres mais algumas evocações do Honório, com quem voaste e privaste. Testemunhos de pessoas como tu são preciosos. É por essa razão que tomo a liberdade de reproduzir, aqui, mais um episódio sobre o nosso Honório, que tu acabas de contar no blogue do Victor Barata. Espero que um e outro não interpretem este meu gesto como abusivo.

Só uma dúvida: o Honório era conhecido em Bissalanca como o Jagudi (abutre) ou o Jubidé ? Pode haver aqui um erro de transcrição, uma falha de memória, um lapso, uma corruptela... Enfim, ao fim destes anos todos, pode haver uma traição da nossa memória que está longe de ser de elefante... Fadiga do material, sabes como é... Queres confirmar ? O Jorge Félix, que foi Alf Mil Pilav, e que andou nos helis, entre 1968 e 1970, chama-lhe o Jagudi... Quem tem razão ?

Dispõe das páginas do nosso blogue, que também é teu. Já agora: ninguém terá uma foto com o Honório? Ainda não consegui pôr-lhe a vista em cima. Conhecio-o em Bambadinca. Tinha uma ideia dele, em termos de fisionomia. Um Alfa Bravo. LG

4. História do Honório n.º 2,
por Victor Oliveira

Amigo Victor: Vais ter que me gramar a contar histórias do meu GRANDE AMIGO HONÓRIO (JUBIDÉ), dava para um livro.

Um dia estava sentado à porta do hangar dos T6G e DO27, vejo estarem a carregar uma urna numa DO. Passado um bocado vem o Honório com os seus Ray Ban e diz-me :
-Pichas, queres ir comigo?
- Para onde?
- A Binta, mas temos que ir buscar o cangalheiro a Farim. OK?

O cangalheiro era um civil baixinho e magrinho. Quando chegámos a Farim, já ele estava à nossa espera, com uma caixa tipo lancheira e o saco de cal.

Aparece o capitão do quartel e o nosso amigo, como estava perto da hora do almoço, vira-se para mim e diz-me:
-Vamos perguntar o que é o almoço, se for bom almoçamos aqui.

Carne à jardineira, OK. Como ainda tínhamos que esperar um bocado, o capitão arranjou-nos uns calções e fomos dar um mergulho num tanque, tipo piscina, até aqui tudo bem. Almoçámos bem e regámos melhor e o cangalheiro à espera, na sombra duma árvore. Tenho a impressão que não almoçou.

Vamos para a DO, toca de meter o cangalheiro em cima da urna e o saco do correio para entregar em Binta.

O nosso amigo Honório como a viagem era curta, para dez minutos, toca de rapar até o desgraçado do cangalheiro andava de um lado para outro, parecia uma barata tonta (isto não é para te ofender, ó Victor)... E o nosso amigo ria-se.

Era para esperarmos que o homem fechasse a urna e depois trazê-lo para Bissau. Como estávamos com pouca sede, descarregámos a urna e toca a andar para Bissau, o saco do correio também veio.

Cerca das três da tarde recebem na base uma mensagem para ir buscar o cangalheiro.
Quem o foi buscar foi o piloto Gomes e o meu chefe Fernando Almeida. Quando chegaram a Binta o cangalheiro disse logo que nunca mais voava com aquele piloto. Perguntaram-lhe quem era e ele disse:
- É muito moreno e o que vinha com ele também era moreno - E diz logo o meu chefe: - Era o Pichas, parecem o roque e amiga.

UM ABRAÇO
Victor Oliveira

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3412: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (11): Ainda o Honório, o Jagudi... ou o puro gozo de voar (Jorge Félix)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3351: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (8): Homenagem à memória do Honório e do Manso (Victor Barata)


Guiné > Região do Oio > Rio Mansoa > 1970 > Restos do Helicóptero Alloutte III, que se despenhou no dia 25 de Julho de 1970, no Rio Mansoa, em consequência das condições climatéricas. Nele morreram, além do piloto (Alf Mil Av Francisco Lopes Manso), o Cap Cav José Carvalho Andrade e mais 4 deputados em visita à Província (entre eles Pinto Leite, o então chefe da Ala Liberal da Assembleia Nacional).

Cortesia de: © Victor Barata (2008) /Blogue Especialistas da BA12, Guiné 1965/74. Direitos reservados.


1. Mensagem do Victor Barata, com data de ontem (O Victor é membro da nossa Tabanca Grande, empresário em Vouzela, e é o grande animador do blogue dos nossos camaradas da FAP que estiveram na Guiné, entre 1965 e 1974):

Boa-Tarde, Luís.

Antes de mais quero cumprimentar todos os companheiros da Tabanca Grande e apresentar as minhas desculpas por esta ausência tão prolongada, mas a vida empresarial e o blogue Especialistas da BA 12 têm absorvido a maior parte das 24 horas do dia.

A ti quero agradecer-te os teus reconhecimentos abonatórios ao nosso Blogue (*), mas para tal aconteça não podemos deixar enaltecer o que aprendemos,e continuamos a aprender contigo, através do teu Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.

Sobre algumas mensagens que tenho lido nesse espaço, houve algumas que me deixaram um pouco desagradado da maneira como se abordam algumas passagens pelas terras da Guiné, nomeadamente, e obviamente, onde aparece o pessoal da FAP (**).

(i) Recordo a situação do Honório:

Seria possível, tanto humana com tecnicamente, um piloto da FAP "rapar na bolanha para acertar nos nativos..."?!

Não vamos denegrir a imagem de um cidadão que já não faz parte do mundo dos vivos, e que tantas vidas salvou, tanto apoio deu ao pessoal que ansiosamente esperava pelos géneros e notícias daqueles que lhe eram mais queridos, pondo em risco a sua própria vida e da sua tripulação.

Certamente que se esqueceram da geografia da Guiné,quando descolávamos de Bissalanca (BA 12) , toda a Guiné nos via, qualquer arma nos esperava em qualquer lugar. Vamos desejar ao Honório, PAZ À SUA ALMA!

(ii) Depois li também do José Martins, sobre o acidente de Mansoa:

"... acidente onde faleceram quatro deputados..."

Será que um dos deputados era o piloto do Hel Alloutte III? Ou será que o meu saudoso companheiro, Alf Pilav Manso, por não ser deputado já não conta? Ou o outro passageiro, que não era nenhum mecânico, visto só haver capacidade para seis pessoas e ter que viajar, salvo erro, um simples ajudante do Gen Spínola?

Notei e realço a tua observação ao José Martins, fazendo a mesma observação: "Então e o Piloto e mecânico?"

Desde já quero deixar bem claro que este meu reparo não serve para alimentar qualquer tipo de polémica ou incompatibilidade, é somente e apenas para me sentir bem comigo próprio.

Anexo uma foto do Helicóptero Alloutte III, sinistrado no referido acidente, consequência das condições climatéricas.

Um a abraço a toda a Tertúlia.

Victor Barata

2. Comentário de L.G.:

Camarada Victor:

Recordo-me bem de tua primeira mensagem:

"Chamo-me Victor Barata, fui Especialista, MELEC de Aviões e Instrumentos de Bordo, na Força Aérea Portuguesa que servi com muito orgulho, com dois anos de Guiné, entre 1971 e 1973"...

Tive o privilégio de saber, em primeira mão, o teu "segredo" guardado há 35 anos, e depois publicá-lo no nosso blogue (***). Tive muito gosto em apresentar-te à nossa então tertúlia (hoje, Tabanca Grande) em 10 de Maio de 2006... Tudo isto para te dizer que foste, és e continuas a ser um grande camarada e um homem sensível e solidário.

Eis o que na altura eu escrevi:

"Victor: A pista pode ser curta mas é toda tua... Na nossa caserna cabem todos os camaradas, sejam eles terrestres, voadores ou anfíbios. A FAP, tão dignamente representada por ti, é bem especialmente bem vinda à nossa tertúlia e ao nosso blogue... Por mim, sempre tive uma especial admiração pelos malucos das dessas máquinas voadoras que eram as DO 27 e que nos traziam notícias do mundo, do outro do mundo... Já não gostava tanto quando elas, em vez do carteiro, transportavam o senhor major de operações ou do senhor comandante de qualquer coisa... Ou sejam, quando de frágil caranguejola eram promovidas a um coisa que pomposamente se chamava o PCV.

"Um reparo: o blogue chama-se Luís Graça & Camaradas da Guiné... Eu sou apenas o editor. A partir de hoje o blogue também é teu, de pleno direito. Vou publicar o texto adicional que me mandaste, e que é um bonito testemunho de solidariedade em tempo de guerra, ou seja, de camaradgem. Se tiveres fotos desses tempos que já lá vão, manda, que os tertulianos têm ainda a ilusão de que recordar é viver" (***)...


Agora vamos ao conteúdo da tua recente mensagem: percebo a tua mágoa, o teu desagarado e até o teu (res)sentimento... Dois camaradas teus (e nossos) da FAP não terão sido aqui bem (re)tratados, um por acções e outro por omissões. Comecemos pelo Honório que era talvez, já no meu tempo (1969/71), o piloto da FAP mais conhecido, querido e popular... Como sabes, uma das nossas regras de ouro do nosso blogue é não fazer juízos de valor sobre a competência e o comportamento, a nível operacional, dos nossos camaradas.

Hoje admito que o título desta série (Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras) não foi feliz... E muito provavelmente vai morrer aqui. Costuma-se dizer que o inferno está cheio de boas intenções (e de bons rapazes e... raparigas). A nossa (boa intenção) era tão só a de homenagear os nossos camaradas da FAP (que tinham mesmo que ser malucos para voar nas difíceis condições da Guiné, em termos de terreno, clima e guerra; mas o mesmo também se aplicava às outras máquinas dos outros ramos das nossas forças armadas, fossem elas a GMG ou a LDM)... Enfim, há limites para tudo, e até para o humor (que foi muito útil, em tempo de guerra, para a nossa saúde mental)...

De qualquer modo aqui fica o teu desagravo à memória do Honório. Não creio que alguém o quisesse atingir na sua honorabilidade. O Honório era um mito. E, depois, só pode falar dele, em boa verdade, quem privou e/ou voou com ele... Eu, por exemplo, nunca tive essa sorte ou privilégio, mas conheci-o, pelo menos de vista, em Bambadinca, onde ele aterrava, com frequência, sempre no seu DO27.

Quanto ao trágico acidente do dia 25 de Junho de 1970, ficamos a saber finalmente que, além, dos quatro deputados da Nação, morreram dois militres: o Cap Cav José Carvalho de Andrade, camarara de curso e amigo do nosso Cor Cav Ref Carlos Ayala Botto (***) e o Alf Mil Pil Av Francisco Lopes Manso (cujo nome, de resto, não consta - contrariamente ao do referido capitão - da lista do pessoal da FAP, morto na Guiné, 1963/74; mas consta do teu blogue).

Deixa-me só vir a terreiro defender o meu amigo e camarada José Martins que é, em matéria de verdade factual, a honestidade em pessoa: ele é o nosso "rato de biblioteca", sempre disponível para fazer pesquisas na sua base de dados sobre esta ou aquela unidade, este ou aquele camarada... Infelizmente, há (ou havia até agora) um incomodativo silêncio sobre os militares que perecerem neste terrível acidente, para além dos deputados da Nação... O piloto seguramente estava na lista dos mortos do Ultramar... Mas desconhecíamos a sua identidade. Aqui fica também a tua e a nossa homemagem ao Manso.

Em resumo: temos sempre que ter cuidado com as palavras que teclamos no computador e sobretudo que mandamos para a blogosfera... Algumas das nossas evitáveis quesílias (e até conflitos), até agora ocorridos no blogue, entre camaradas e amigos da Guiné, resultam das dificuldades do processo de comunicação... Simplesmente por que não somos (nem nunca seremos) suficientemente claros, concisos e precisos, como manda as boas regras da comunicação...

Um Alfa Bravo para ti e para todos os especialistas, pilotos e demais pessoal da BA12 que estiveram na Guiné, entre 1965 e 1974. Longa vida para o teu/vosso blogue.

PS - Obrigado pelo teu reconhecimento pelo papel, de algum modo pioneiro e inovador, do nosso blogue. Que mil blogues sobre a Guiné 1963/74 floresçam à sombra dos nossos poilões ou na orla das nossas bolanhas ou no meio das picadas esburacadas pelas minas ou no fim das pistas de terra batida ou nos restos dos nossos bunkers-bidonvilles... Por que as memórias daquela terra e daquele tempo ninguém no-las pode tirar...
________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 22 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3344: Instrução, táctica e logística (18): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: A luta contra o temível helicóptero (A. Marques Lopes)

(...) Nota de L.G.:

(...) Aproveito para saudar o Victor, que é também membro da nossa Tabanca Grande e tem ido aos nossos encontros nacionais, e desejar-lhe boa sorte e perseverança neste combate, que nem sempre é fácil, de reunir as antigas tropas, agora tresmalhadas, e que no caso dele não eram de terra nem do mar, mas do ar...

No seu sempre activo blogue, têm aparecido além dos Melec (técnicos de manutenção aeronáutica, como ele), outros camaradas, como os pilotos e os pára-quedistas... Boa saúde e bom trabalho para o Victor e os camaradas da FAP que a Guiné juntou e uniu. O Victor está, além disso, a organizar uma viagem de saudade à Guiné, a realizar em Fevereiro do próximo ano. (...)

(**) Vd postes da série Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras:

23 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3226: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (1): Honório, Sargento Pil Av de DO 27 (Jorge Félix / J. L. Monteiro Ribeiro)

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3232: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (2): O Honório, meu amigo (Torcato Mendonça / Alberto Branquinho)

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3234: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (3): O Honório que eu conheci... em Luanda (Joaquim Mexia Alves)

26 de Setembro de 2008 Guiné 63/74 - P3245: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (4): Honório, o cow-boy dos ares (José Nunes)

30 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3256: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (5): Lembrando o Ten Pil Av Bettencourt (Henrique Matos)

1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3259: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (6): Alguns esclarecimentos (Jorge Félix)

8 de Outubro de 2008 >Guiné 63/74 - P3281: Gloriosos malucos das máquinas voadoras (7): Desfazendo equívocos (Alberto Branquinho)

(***) Vd. poste de

10 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIX: Victor Barata, MELEC da FAP (1971/73) (Luís Graça)

10 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLI: Ajudem-me a encontrar o tenente evacuado em 1973 do Corredor da Morte (Victor Barata)


(****) Vd. poste de 20 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3333: Controvérsias (6): O acidente aéreo de 25 de Julho de 1970 (Carlos Ayala Botto)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3226: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (1): Honório, Sargento Pil Av de DO 27 (Jorge Félix / J. L. Monteiro Ribeiro)

Logótipo do blogue do nosso amigo e camarada Victor Barata, Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74 . O Victor foi Melec/Aviões/Instrumentos-BA2 EMEL BA2 BA4 BA12 BA5 BA2 AB1. O blogue existe desde Junho de 2007 e tem tido uma crescente aceitação por parte do público-alvo a que se dirige, os antigos especialistas da BA12 (Bissalanca, 1965/74).

Foto: ©
Victor Barata (2008). Direitos reservados (com a devida vénia...)


1. Mensagem de Jorge Félix, de 24 de Maio de 2008, publicado no blogue do nosso amigo e camarada Victor Barata, Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74:


O Ar quente da Guiné >
223-Jorge Félix
Ex-Alf Pilav Helis
Braga

Caro Victor:

Depois de tanto silêncio, escrevo-te pela terceira vez. Desta feita é por causa de um poste do amigo e camarada José Luis Ribeiro Monteiro que esteve em Bissalanca na mesma altura que eu, Outubro de 68 a Julho de 70. (O post é de 28 de Setembro 2007).

Falam-se de assuntos que eu vivi também e outros de que não estou de acordo. Talvez por já terem passados muitos anos alguns factos são 'adulterados' sem outra intenção que não seja falar duma vivência que parece que aconteceu.

Ora vamos lá aos casos pontuais.

1- Quando o José Monteiro chegou a Bissau já por lá voavam os Fiat. Já tinham abatido um (Ten Coronel Costa Gomes) poucos meses antes. Voavam nessa altura o Cap Vasquez, o Cap Nico e o Ten Cruz, em Fiat.

2- Outra confusão que está a fazer é com o Sarg Honório, excelente piloto, na época a voar somente DO 27.

O Honório nunca voou helicópteros como piloto, e se fizer um esforço de memória lembrará que o Honório passava muitas épocas no destacamento de Nova Lamego, com as DO 27. Quem está ainda vivo e pode dizer quem era o Piloto do Spinola, se é que havia um piloto, é o Sr General Almeida Bruno. Ele deve ter uma memória disso. Pela minha parte não quero ter o epíteto de piloto de ..., mas o certo é que voei muitas e inesquecíveis manobras com os dois Senhores referidos, Capitão Almeida Bruno e Brigadeiro Spínola.

Victor, posta o que melhor entenderes, como fizeste com a minha estória do Borrachão, e dá esta memória ao camarada José Monteiro a quem envio um forte abraço.

Escutámos as mesmas mornas e bebemos da mesma chuva.

Um abraço

Jorge Félix

2. Comentário do editor do blogue, L.G.:

Amigos e camaradas, brancos, pretos e mulatos, gente da nossa Tabnaca Grande:

O Honório é uma figura que perdura na nossa memória. E foi aqui tão oportuna como justamente evocado pelo Alberto Branquinho. Não tanto por ser cabo-verdiano (cuidado com a demasiada ênfase nas questões da 'cor da pele'...), como sobretudo por ser, aos olhos do comum militar no TO da Guiné, um 'gajo maluco', popular, que gostava do seu copo e que fugia um bocado aos cânones do militar-como-mandava-a-puta-da-sapatilha... (Passe, aqui, a expressão que era/é linguagem de caserna...)

Quem é que não ouviu falar dele, do Honório, nomeadamente na Zona Leste ? Não privei pessoalmente com ele, mas viu-o várias vezes em Bambadinca, no período em que lá estive, com a malta da minha CCAÇ 12, entre Junho de 1969 e Março de 1971. E sempre a pilotar a D0 27.

Foi por isso que achei que valia pena criarmos, no nosso blogue, uma série só para os Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras... Os primeiros postes podem ir para o Honório, com toda justiça, propriedade e oportunidade... Os próximos para o António Lobato.

Há já material suficiente, incluindo os postes que já foram publicados no blogue do nosso camarada Victor Barata, Especialistas da Base Aérea 12, Guiné-Bissau 1965/74... Há lá intervenções do Jorge Félix e do J. Mexia Alves (e do Monteiro Ribeiro, melec) que eu recuperei em devido tempo...

Depois pode ser que apareçam mais depoimentos de gente da FAP ou até dos TACV. Gostava de saber, por exemplo, como é que ele lidou com as questões de fractura, conflito e transição: o PAIGC no poder, na Guiné e em Cabo Verde... Como é que ele chega aos TACV, por exemplo...

Por outro lado, temos o nosso Jorge Félix e eventualmente outros Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (o epíteto é um elogio, é um mimo, é uma ternura!) que andam por aí, sem eventualmente quererem ou poderem dar a cara...

Talvez o Jorge e o Victor nos possam ajudar nesta nobre tarefa de 'reabilitar e valorizar a memória dos nossos camaradas da FAP'... Também gostaria de fazer o mesmo para a Marinha, o terceiro ramo das nossas FA... É tempo, de resto, de enterrarmos de vez os nossos estereótipos sobre tropas de elite, topa-macaca, filhos e enteados, ricos e pobres...

Isto sem querer entrar, de modo algum, em competição, antes pelo contrário, com o blogue do Victor, que tem um público-alvo diferente do nosso... e que é um blogue 'especialista' (enquanto o nosso é 'generalista') e com o qual nós queremos manter uma saudável e frutuosa relação de mútuo apoio, de troca e até de complementaridade...

De resto, o Victor (a quem eu saúdo pelo sucesso do seu blogue) sabe bem que não precisa de nos 'pedir licença' para usar os nossos materiais, bastando para tal citar a fonte; e nós faremos o memso sempre que houve notícias que interessem ao pessoal da Tabanca Grande. Um Alfa Bravo. Luís

_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 26 de Setembro de 2007, publicado no blogue do Victor Barata, membro da Tabanca Grande,

Uma lufada de ar quente da GUINÉ!
17-Mensagem do José Luis Ribeiro Monteiro
OPC 3ª/66
Bissalanca 1968/1970

Companheiro de armas, Victor.

Por aquilo que tenho lido no teu Blog sobre a Guiné e que retrata uma determinada realidade encontrada por nós e especialmente por ti,e considerando que:
-Estive na BA12,no período de 09.10.68 a 14.07.70;
-Provavelmente e quase de certeza que as condições de Guerra e logística foram diferentes daquelas que eu encontrei, isto é, foram outros tempos, sendo que em termos de guerrilha as que encontraste foram piores;
-Quando cheguei á Base os meios aéreos existentes era o velho T6G, DO27 e Dakota. Só mais tarde chegaram os Fiat G91;
-O tempo passado neste "Teatro" de Guerra foi terrível, nunca mais me hei-de esquecer dele.

Assim começando por falar daquilo que eu assisti em termos de alimentação dir-te-ei que era uma miséria. Quando fui pela primeira vez ao refeitório, fiquei com uma fome dos diabos, não comi nada, mas o espectáculo ficou-me na retina (cabeças de peixe com cigarros a arder na boca e arroz colado ao tecto do referido refeitório). Os nossos camaradas mais velhos matavam a fome com cerveja o que levava a que fossem evacuados para Lisboa com destino ao hospital com doenças do fígado, era uma forma de deixarem a Guiné!

As valetas das ruas da Base estavam sempre cheias de garrafas de cerveja vazias, o que levava a que quando havia ataques simulados à Base, muitos dos nossos camaradas fossem parar á enfermaria com feridas,porque segundo as instruções de defesa que nós somos obrigados a cumprir, passava por sair das camaratas e metermo-nos nas valetas.

Com a chegada e inicio de funções do Coronel Pilav já falecido, Diogo Neto(foi no mesmo avião que eu),começou por se inteirar do que se estava a passar,já que entrávamos no refeitório para não comer. Sendo que e passado pouco tempo deixámos de ir ao refeitório, o que criou alguns problemas ao Capitão encarregue dos refeitórios, somente a Polícia Aérea e o Serviço Geral, porque tinham que fazer formatura,iam.

Para resolver o problema o Comandante da Base demitiu o Capitão encarregue dos refeitórios e nomeou outro.A partir dessa altura passámos a ter uma alimentação muito melhor e eramos tratados doutra forma (o capitão perguntava-nos o que queríamos comer), sendo que por volta das onze horas da manhã tínhamos direito a entrada que consistia em carnes verdes e sumos.

Foi nessa altura que foi reconstruído o bar,parecia mais um Pub que outra coisa. Também foi nessa altura que começaram a construção das infraestrutura desportivas e do novo Centro de Comunicações. Nunca lá operei, já que somente ficou operativo em 1970,altura em que me vim embora, com destino ao GDACI-Monsanto.

Daquilo que tenho lido sobre a guerra, especialmente no que diz respeito às condições, clima e dificuldades devidas á morfologia do terreno [...].

Recordo-me, não sei se em 1969 se em 1970,de uma viagem que o General Spinola fez a Lisboa,esteve ausente da Guiné um mês,constando que tinha sido preso por querer dar a independência,com negociação com Amílcar Cabral, por se julgar na altura que nunca íamos vencer a guerra.

De vez em quando havia festa na Base em que actuava o conjunto A Voz de Cabo Verde e num certo dia disseram-nos que a Amália Rodrigues e outros artistas iriam lá actuar, ficámos muito satisfeitos, simplesmente essa actuação não se chegou a realizar, porque tinha havido um massacre de um dos majores e, se não estou em erro, capitães e motoristas, para os lados de Serpa Pinto, pela Fling, outro movimento existente na Guiné. Iam ter uma reunião com o o PAIGC, aliás,o Gen Spínola,tinha reuniões de vez enquanto com eles.´Quase todas as manhãs saía de Helicóptero, cujo o piloto era o Sarg Honório,caboverdiano, já falecido.

Do Teatro de guerra na Guiné, no período que lá esteve, assisti a ataques constantes dos chamados terroristas,ataques esses que não ficavam sem resposta,quer pela Força Aérea, incluindo os pára-quedistas,quer pelas outras forças no terreno. Foram milhares de toneladas de bombas as lançadas e também,material de guerra apreendido aos guerrilheiros, possuía fotografias desse material. Nesse período,os guerrilheiros já possuíam misseis terra-ar, o que se tornava difícil para os meios aéreos no terreno. Felizmente nenhum avião foi abatido, porque havia constantes bombardeamentos diurnos e nocturnos às bases dos guerrilheiros, especialmente Madina de Boé,onde eles declararam a independência e outras localidades como Guileje, Gadamael, Farim e ainda outras que não me recordo do nome.

Lembro o Cap Pilav Nico, actualmente Gen Pilav ,que não dava descanso aos Fiat, muitas vezes,quando estava de serviço às operações,comunicava ao dito que havia ataques em tal sitio, ele pedia autorização ao Comandante Diogo Neto ou era eu a solicitar,por ordem dele,autorização para levantar voo com o Fiat G91.Era certo que mal ele levantava da pista acabava o ataque,o que induz que havia informadores infiltrados na BA12 ou nas proximidades, na aldeia de Bissalanca.

De qualquer forma pelo andar da carruagem, tinha-se a noção de que a guerra ia acabar o mais rápido possível. Não foi mais cedo porque Lisboa não deixou e nós é que pagámos as favas [...].

Depois de ter estado na Guiné e regressado a Lisboa,e quando passei á disponibilidade,fui para Angola [...].

José Luís Monteiro Ribeiro
OPC 3ª/66

(**) Resposta do J. L. Monteiro Ribeiro, publicado no mesmo blogue, em 25 de Maio de 2008:


QUE BONITO!

226-José Ribeiro
Ex-Esp Opcart Guiné
Lisboa
BA12


Amigo, Victor Barata.

Depois de lida a mensagem do amigo Jorge Félix, julgo de me pronunciar sobre o conteúdo da mesma (...):

Quanto ao que [disse] o ex-camarada de armas, piloto de helicópteros, Jorge Félix, tenho que agradecer as correcções feitas pelo ele ao texto por mim elaborado e publicitado por ti.

É um facto que muitas das realidades que nós assistimos enquanto militares em África – porque não muito marcantes – são às vezes um pouco modificados pelo tempo passado da ocorrência e o de hoje. Chama-se a isso lapsos de memória.

De qualquer forma, tendo em atenção a correcção bem feita pelo ex – camarada de armas, Jorge Félix, em dois aspectos referidos por mim, há que considerar o seguinte:

- No que se refere ao falecido Sargento, Honório, falava-se na Base que era o piloto do General Spínola – afinal não era, como referiu o amigo Jorge;

- Em relação aos Fiat G91, quando cheguei à Base pouco ou nada os vi operar. Ainda possuo uma foto da primeira (julgo) aterragem de um F91 na ex-BA12. Os T6 eram os mais operacionais, daquilo que me apercebi. Progressivamente estes aviões deixaram de operar. Não me lembro se quando me vim embora algum ainda operava.

O falecido sargento piloto, Honório, era um artista. Quando vinha de Nova Lamego, em regra, aterrava com o motor da DO27 desligado. Segundo constou na altura, foi algumas vezes chamado à atenção pelo facto.

Lembro-me do capitão piloto Monteiro, segundo ouvi dizer já falecido em Portugal em desastre aéreo. Foi atingido várias vezes em ataques aéreos. Uma vez fui ver o Fiat G91, estava todo furado por balas, sendo que conseguiu trazê-lo até à Base e aterrar em segurança.

Também me lembro do capitão piloto Rodrigues e do cabo especialista MAE, não me lembro do nome, mortos no desastre em Bafatá, contra uma antena de rádio, senão estou em erro, não havendo na altura qualquer hipóteses de os salvar (morreram queimados).

José Luís Monteiro Ribeiro, OPC 3ª/66.

sábado, 20 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3219: Homenagem aos Ten Pil Av Lobato e Pessoa e, Enf Pára-quedista Gisela (Nuno Almeida)


Mensagem de 17 de Setembro de 2008, do nosso camarada Nuno Almeida, ex-1.º Cabo MMA de Heli, BA12, 1972/73 (1).

Olá Camaradas
Junto envio foto actual para completar os vossos arquivos.

Apesar de pouco contribuir com a minha verbe, sou um visitante assíduo do blogue e sempre atento ao que cá se escreve, por isso ao ler a nota do Beja Santos, Guiné 63/74 - P3132: Notas de leitura (10): A minha Jornada em África (Beja Santos), fiquei imediatamente interessado no livro "A Minha Jornada em África" de António Ramalho da Silva Reis e publicado pela Editora Ausência.

Porque estive dois meses internado no HM241 de Bissau, entre 25 de Novembro de 1972 e 25 de Janeiro de 1973, onde fui operado 4 vezes em 25 dias, tenho uma enorme dívida de gratidão por todos quantos ali prestavam serviço, é, para mim, fundamental ter acesso a este relato da vivência de quem do outro lado da barricada (doente/enfermeiro) via a situação daqueles que dependiam das suas capacidades para sobreviverem aos ferimentos sofridos.

Sobre o que o Beja Santos diz sobre o Tenente Lobato, é sintomático de como os heróis da Guerra, que fomos obrigados a combater, são esquecidos pela História e remetidos a uma insignificância, para que não se dimensione o que foi, na realidade, a juventude de toda uma geração.

Guiné-Conacri > Conacri > Instalações do PAIGC > 1970 > Prisioneiros portugueses, fotografados pelo fotógrafo húngaro Bara István (nascido em 1942).

Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria (com a devida vénia / with our best wishes...)


O Tenente Lobato foi um mártir, durante muitos anos prisioneiro, sem saber se regressaria ao seio dos seus, torturado fisica e psicologicamente, nunca uma Lei foi promulgada onde verdadeiramente se desse o valor a essa condição de prisioneiro e se compensasse, devida e correctamente, os anos de ausência e sofrimento que ele e muitos outros como ele sofreram.

Foto do Tenente Lobato quando, no passado dia 31 de Maio de 2008, os Especialistas da Força Aérea, que serviram na Guiné, o homenagearam com o respeito que ele nos merece. Junto e ladeando-o estão o Victor Barata e o Carlos Wilson,  organizadores deste evento.

Neste almoço de confraternização foram igualmente homenageados o Ten Pil Av Pessoa e a sua esposa Enfermeira Pára-quedista Giselda, ele abatido em 1973 por um míssil e ela representando todas as Enfermeiras Pára-quedistas que tantas vidas salvaram com a sua coragem e prontidão na recuperação de feridos em zonas de combate.

Foto da evacuação do Ten Pessoa, assistido pela enfermeira na altura e actual esposa, a nossa muito querida camarada da armas Giselda.

Capa do livro Liberdade ou Evasão; Autor: António Lobato; Colecção: Memória do Tempo; Editor: Rui Rodrigues; Editora: Erasmos. © ERASMOS e António Lobato.

Neste livro, António Lobato conta o seu percurso na FAP desde a incorporação em Setembro de 1957, até ao dia 22 de Novembro de 1970, dia em que finalmente libertado, após sete anos e meio de cativeiro. Pelo meio ficam três tentativas de fuga frustradas. Por se tratar do militar português que mais tempo esteve prisioneiro do IN, pela forma como sobreviveu às condições mais adversas a que o ser humano pode ser submetido e porque nunca traíu a Pátria nem os camaradas que no terreno continuavam a lutar, António Lobato é digno da nossa admiração, estima e reconhecimento. CV


Foto e legenda de Carlos Vinhal
__________________

Nota de CV:

(1) - Vd. poste de 10 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1941: Estórias (nem sempre) vistas do ar (Nuno Almeida, ex-1º Cabo Mecânico de Heli, FAP)

Embarquei para a Guiné (BA12 - Bissalanca) em 27-01-1972 e fui ferido na mata de Choquemone - Bula , ao proceder a uma evacuação de dois feridos, debaixo de intenso fogo de metralhadoras e morteiros, em 25-11-1972.

Fui evacuado para o Hospital Militar de Bissau, onde fui sujeito a 5 intervenções cirúrgicas, no espaço de 25 dias, e evacuado para Lisboa em 27-01-1973 (para vir morrer ao pé da família!!!).

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1868: Força Aérea Portuguesa: Cor Pil Av Moura Pinto, um grande comandante, um grande líder (Victor Barata)

Guiné > Bissalanca > Base Aérea nº 12 > Clube de Especialistas > 1973 > Festa de aniversário de um camarada da FAP > Principais convidados: o comandantes da Base, Cor Pil Av Moura Pinto (á esquerda) Ten Cor Pil Av Lemos Ferreira (à direita).

Foto: © Victor Barata (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem de Victor Barata (ex-Especialista da Força Aérea Portuguesa, MELEC de Aviões e Instrumentos de Bordo, Bissalnaca, 1971/73). Vive em Vouzela, onde é empresário.


O Grande Comandante! (1)

Camaradas, há personagens na nossa vida que, pela sua conduta, actos praticados ou simples acções, nos marcam para sempre.

Obviamente que nem todos nós podemos compartilhar da mesma ideia, mas uma das virtudes do ser humano é saber respeitar-se mutuamente.

A foto que te envio recorda um aniversário no Clube de Especialistas, na Base Aérea nº 12, em Bissalanca, em que os convidados eram ao comandantes da Base, o da esquerda, Cor Pil Av Moura Pinto, o da direita , Ten Cor Pil Av Lemos Ferreira.

Pois bem,vou falar do Coronel Moura Pinto, como um verdadeiro líder, homem de poucas falas, sisudo,alto, magro com grandes qualidades humanas.

Isto passa-se no ano de 1973, quando entre Março e Abril, a nossa Força Aérea estava a perder Grandes Homens na frente de combate, companheiros do diaa dia que lutavam pela mesma causa que nós mas que o destino quis que partissem mais cedo: Ten Cor Pil Av Brito, Maj Pil Av Montovani e Furriéis Pil Av Baltazar e Ferreira (2).

A instabilidade estava instalada, o receio - principalmente em quem operava com aeronaves de pequenas velocidades - apoderou-se por se desconhecer o tipo de arma utilizada para abater os nossos aviões.

É nestas ocasiões que se distinguem os grandes COMANDANTES, o coronel Moura Pinto mandou reunir na sala de operações os 42 pilotos presentes na Base e, com a serenidade que lhe era virtude, foi dizendo (3):

Havia garantia de que a arma utilizada pelos guerrilheiros para abater as nossas aeronaves era um míssil. Em seguida afirmou ter duas certezas,uma fruto das suas convicções pessoais, outra, resultado da sua experiência como oficial.

A primeira era muito subjectiva e resumia-se numa frase: só é atingido pelo míssil quem tiver esse destino traçado. A segunda também se dizia em poucas palavras: ninguém pode ter medo do míssil, porque o piloto que vai voar com medo está mais vulnerável e acaba por ser atingido.

Depois para reforçar a sua argumentação linear, recordou o ditado latino:"A sorte protege os audazes". Estas afirmações no ambiente tenso que pairava na sala, tiveram um impacto extraordinário. Gerou-se uma descompressão colectiva, embora estivessem todos ainda apreensivos.

Faltava na sala o único piloto, furriel Santos, por se encontrar de serviço às operações. Nesse momento a porta do fundo da sala abriu-se e entrou o piloto em falta, pedindo licença para falar. Toda a assembleia virou a cabeça em sua direcção. O comandante Moura Pinto autorizou-o a falar. Com desenvoltura, o furriel Santos informou ter recebido um pedido de evacuação de feridos graves de um batalhão do Exército que tinha sido atacado. Vinha pedir instruções. Diz-lhe o Cor Moura Pinto:

-Responda que se vai fazer a evacuação. Mande preparar o helicóptero, quem vai fazer a evacuação sou eu.

Voltou-se para a assistência e perguntou:
- Meus senhores, quem quer colocar alguma questão? - Reinou o silêncio entre toda a gente.
- Se não têm perguntas, eu já disse tudo e, como há coisas mais importantes a fazer,vou-me embora. Foi fazer a evacuação.

O desfecho desta reunião teve um impacto fortíssimo no moral dos pilotos, o ânimo passou a falar mais alto, abafando os últimos resquícios do medo natural.

Descanse em paz, meu COMANDANTE!

Victor Barata
__________

Notas de L.G.:

(1) Há uma outra versão publicada em 17 de Junho de 2007 > Blogue do Victor Barata > Especialistas da Base Aérea 12 (Guiné, 1965/74)


(2) Vd. post de 21 de Junho de 2007 Guiné 63/74 - P1867: Força Aérea Portuguesa: Seis Fiat G.91 abatidos pelo PAIGC entre 1968 e 1974 (Arnaldo Sousa)

(3) Fonte: A Força Aérea na Guerra de África, de Luís Alves de Fraga, Coronel da FAP na reserva. Lisboa: Editora Prefácio. Vd. blogue Fio de Prumo, de Luís Alves de Fraga

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1765: Convívios (8): 30.º Almoço anual dos Especialistas da Força Aérea que estiveram na Guiné, 26 de Maio de 2007 (Victor Barata)

Mensagem enviada pelo nosso camarada Victor Barata, ex-especialista da FAP (Guiné 1971/73)

Boa Tarde, Carlos. Aproveito para pedir a divulgação a todos os camaradas a realização do 30º almoço anual dos Especialistas da Força Aérea que estiveram na Guiné a realizar em Aguiar de Sousa no dia 26.5.2007 na Quinta do Baptista(nosso camarada de Guerra).

É para nós uma honra ter junto de nós todos os Tertúlianos deste Blogue.

Um Abraço
Victor Barata

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1731: Não há registo, no Arquivo Histórico da FAP, de nenhuma areonave abatida no sul da Guiné em 28 de Março de 1968 (Victor Barata)

Mensagem do Victor Barata, o nosso único representante, até ao momento, dos heróis do ar:

Olá amigo Luis e Camaradas Tertulianos!

Li com atenção as intervenções dos nossos camaradas Idálio Reis (que tive o prazer de conhecer em Pombal durante o diálogo travado com o Rui Ferreira) (1) e do José Teixeira (2), depois de já ter lido a do Casimiro de Carvalho (3) e, como militar que fui da Força Aérea, achei por bem dar o meu esclarecimento, ressalvando desde já não querer com esta minha intervenção fazer critíca ou desmentir o que quer que seja.

De facto, eu tinha conhecimento que no dia 11 de Novembro de 1966 um avião Fiat G91, quando operava na zona do Xitole, tinha sido atingido com tiros, não sei de que tipo de arma, que lhe perfuraram a fuselagem junto ao motor, sem quaisquer lesões para o piloto, Castanheira e Sá (se não estou em erro).

Mas como, em relação aos camaradas citados, sou um periquito, para poder enriquecer a minha própria cultura sobre a Aviação Portuguesa procurei a entidade que acho mais competente para me esclarecer sobre o assunto, o Arquivo Histórico da Força Aérea Portuguesa, e de facto não existe qualquer registo de acidente com uma aeronave tipo Fiat G91 no dia 28 de Março de 1968... Será outro tipo de aeronave a que os nossos camaradas se referem?

Luís, gostaria de ressalvar que não quero com esta minha intervenção menosprezar quem quer que seja mas sim esclarecer, através dos registos históricos, o que se passou.

Ao Casimiro, Idálio e Teixeira um grande abraço de amizade.

Victor Barata

2. Comentário de L.G. : 

Obrigado, Victor, pela tua contribuição, oportuna e pertinente. Não se trata de provocar gratuitamente nenhuma polémica, mas sim de apurar a verdade dos factos, como nos compete. Em breve vou publicar o texto original do Idálio Reis, onde este facto vem mencionado. 

Diz-me: consultaste apenas a página da Força Aérea Portuguesa - Arquivo Histórico ? Não haverá outras fontes ? Continua as tuas pesquisas sobre este assunto... É bom recordar que o PAIGC, em 1968, já tinha antiaéreas, e que só em 1973 (em Março) é que começaram a usar os mísseis terra-ar Strella. Olha, gostei de te ver em Pombal, a ti, ao Rui e ao Carlos. Infelizmente, falámos pouco.

PS - Já chegámos todos à conclusão de que houve um lamentável lapso, ou meu ou do Idálio: a data correcta é, de facto, 28 de Julho de 1968. Já corrigi o título do post de 2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1721: O primeiro Fiat G-91 foi abatido em 28 de Julho de 1968 (Idálio Reis) .

_______

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1721: O primeiro Fiat G-91 foi abatido em 28 de Março de 1968 (Idálio Reis)



(2) Vd. post de 3 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1724: Em 1968 eu vi ser abatido um Fiat G.91 sob os céus de Gandembel (Zé Teixeira)

(3) Vd. post de 25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G 91

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1703: Álbum das Glórias (11): O autocarro da carreira Bissau/Bissalanca (Victor Barata)

Guiné > Bissau > s/d [1971/73 ] > Um autocarro dos Transportes Colectivos de Bissau, carreira Bissau/Bissalanca!... Uma verdadeira peça de museu... Uma foto para o nosso Álbum das Glórias (1)...

Foto: © Victor Barata (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Victor Barata, que foi especialista de Instrumentos de Bordo, na nossa gloriosa FAP (1969/1974).
Esteve na Guiné, de 1971/73, "na linha da frente das DO 27". Aterrou em tudo o que era bocado de pista (2), tendo voado inclusive com o malogrado furriel piloto aviador Baltazar (3).

Ele já pertence à tertúlia, desde Maio de 2006. Faltava-lhe cumprir o ritual das fotos... Aqui estão, para a gente o reconhecer no encontro de amanhã em Pombal. Tem de ter um tratamemto VIP, já que ele é o único representante da Força Aérea no nosso blogue...

Vive há 20 anos na região de Lafões, mais exactamente em Vouzela, onde é empresário ligado á indústria das rochas decorativas. É amigo do Martins Julião (de quem já foi sócio), do Carlos Santos e do Rui Ferreira, e já nos desafiou para uma próximo encontro da nossa tertúlia na bela região de Lafões (área geográfica que compreende os concelhos de Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul) (4)...

2. Amigo Luís: Junto anexo as minhas fotos de ontem e hoje para que me concedas a HONRA de pertencer àquela família que tu deitaste na ...Internet e tão bem tens educado e ajudado a singrar.
Muito obrigado e espero que me digas se estas sempre chegaram.

Um abraço

Victor Barata
_____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. o último post desta série > 30 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1636: Álbum das Glórias (10): Paunca, CCAÇ 11: Com o PAIGC, depois do 25 de Abril de 1974 (J. Casimiro Carvalho)

(2) Vd. post de 9 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIX: Victor Barata, MELEC da FAP (1971/73)

10 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLI: Ajudem-me a encontrar o tenente evacuado em 1973 do Corredor da Morte (Victor Barata)

(3) Vd. post de:

17 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1668: In Memoriam do piloto aviador Baltazar da Silva e de outros portugueses com asas de pássaro (António da Graça Abreu / Luís Graça)

(4) Vd. post de 14 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1661: Tertúlia: Notícias de Lafões, do Rui Ferreira, do Carlos Santos e da nossa gloriosa FAP (Victor Barata)

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1675: 28 de Março e 5 de Abril de 1973: cinco aeronaves da FAP abatidas pelos toscos mísseis terra-ar SAM-7 Strella (Victor Barata)

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Guiné > Zona Leste > Bafatá > Estrada de Bambadinca-Batatá , vista de héli. Foto do arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.

Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2007 Photobucket Inc. All rights reserved.


1. Mensagem do Victor Barata (Especialista da Força Aérea Portuguesa, MELEC de Aviões e Instrumentos de Bordo, Guiné, Bissalanca, 1971/73).


Sobre o assunto relacionado com a morte do Fur Pil Baltazar, no dia 13 de Março último enviei-te uma resenha dos trágicos acontecimentos aéreos da Guiné, mas tu, pelo que vejo, não te recordas. Acredito, pois o teu esforço e boa vontande são para mim um grande orgulho de camarada de Guiné.

Já agora aproveito para esclarecer que o Baltazar não faleceu no dia 8 de Abril de 4 de 1973 (1) , mas sim no dia 6, pelo menos é este o registo que tenho na minha caderneta de vôo. Como te digo nesse email que não publicaste, fui eu que fui fazer a evacuação dos restos mortais.

Ainda quanto ao que me perguntas: voei algumas horas com o Baltazar, tendo ele se mostrado sempre um piloto qualificado. Obviamente que existe sempre uma fase de adaptação ao chegar-se a um quadro de guerra...

Obrigado, se não for antes até ao dia 28 de Abril de 2007, em Pombal. "É preciso ir fardado ou...vimos com farda!"

Um abraço.
Victor Barata

2. Victor, já ficou tudo esclarecido entre nós: o teu mail de 13 de Março nunca me chegou à caixa do correio, pelo simples facto de te teres enganado no meu endereço. Também não recebi as fotos para a fotogaleria da tertúlia. Reproduzo agora esse mail, para conhecimento dos nossos amigos e camaradas:


Luís:

Depois que te enviei as fotos (de ontem, como militar, e de hoje, como civil) - que ainda não foram publicadas mas espero que tenham chegado,pois posso não ter feito a operação bem feita e pensar que enviei e não ter chegado - nunca mais te contactei... Hoje resolvi contar uma passagem na Guiné. Se entederes que é matéria para publicar, publica...

O risco aéreo no teatro operacional de guerra da Guiné foi sempre um ir e não voltar, não só pela vertente da luta que diariamente era travada, como também pelo acidentado geográfico. Apesar de plana, a Guiné tinha a cota mais alta, de 300 metros, em Madina de Boé!

O nosso maior inimigo, de todos os tempos, foi visto pela primeira vez no dia 29 de Março [?] de 1973 em Compada, pelo Ten Coronel Pil Av Brito, Comandante do Grupo Operacinal da BA12 e pelo Major Pessoa: chamava-se míssel terra-ar STRELLA! (2)

Quis o destino que estes dois homens fossem as primeiraa vítimas desta peça de fogo, primeiro em 20 de Março de 1973, o Maj Pil Av Pessoa que se ejectou juntamente com a sua cadeira de cabine e desceu de paraquedas, vindo a ser encontrado no dia seguinte pelo grupo de Marcelino da Mata,com participação do então Ten Cor Almeida Bruno(julgo que na altura tinha esta patente)e o Cap paraquedista António Ramos, adjunto de campo do Gen Spínola.

Pior fim, em 28 de Março de 1973, teve o Ten Cor Brito: faleceu! Precisamente aquele que nunca acreditou na existência de tal arma, dizia que era um RPG,veio a tombar quando fazia uma missão de bombardeamento,se a memória não me atraiçoa... Era um grande Homem,Comandante e Piloto,senhor de invejáveis capacidades...Enfim, criou-se clima de consternação no seio do Grupo Operacional.

Mas eis que surge o macabro dia 5 de Abril de 1973, que nos dita novamente, e em tão curto espaço de tempo,o LUTO! Faleceram o Fur Pil Av Baltazar em DO27 e Maj Pil Av Montovani em T6, e é dado com desaparecido o Fur Pil Av Ferreira em DO27!

Recordo ter evacuado os restos mortais do Fur Pil Av Baltazar de manhã e, à tarde, fui a Bissau. A esposa estava na paragem do autocarro sem nada saber,as lágrimas correram-me pela cara a baixo: Que vida perdida aos 20 anos!

O Fur Pil Av Ferreira,ouvi dizer que tinha sido entregue com a independência da Guiné. Será que algum camarada da nossa Tertúlia me poderá confirmar esta excelente notícia? Sei que ele era de Paços de Ferreira.´

Estava instalada a instabilidade no seio da comunidade da base, ligada ao Grupo Operacional: pilotos,mecânicos e atiradores de helicanhão. Recordo que houve uma certa repulsa às saídas e, como tal, havia que fazer algo para nos motivar e dizer que era a vida onde estavamos inseridos.

Era Comandante da BA12 o Cor Pil Av Gualdino Moura Pinto (já falecido). O 2º Comandante era o Ten Cor Pil Av José Lemos Ferreira. Aquele, com as virtudes que lhe eram reconhecidas de um GRANDE COMANDANTE,de imediato reuniu os pilotos das esquadras todas,para fazer um ponto de situação, dizendo que também estavam todos a defender a mesma causa.Tanto assim que durante esta reunião foi solicitada uma evacuação à Zona e foi ele mesmo fazê-la!

Este SENHOR foi punido pelo Gen Spínola, motivando o seu pedido de passagem á reserva, seguindo depois uma nova carreira como Comandante da TAP.

Cumpriamos as nossas missões mais arriscadas com a certeza de estarem a contribuir para a sobrevivência dos camaradas que,em terra,no mato,nos rios, enfrentavam o inimigo,defendendo a ordem que a razão nem sempre comprendia, e muitas vezes actuando-se por iniciativa própia.

Obrigado, Luís.Um Abraço
Victor Barata
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 17 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1668: In Memoriam do piloto aviador Baltazar da Silva e de outros portugueses com asas de pássaro (António da Graça Abreu / Luís Graça)



(2) Míssel rudimentar, de origem soviética, conhecido como SAM-7 Strella... Podia ser lançado, como RPG, a partir de um tubo apoiado nas costas de um guerrilheiro... A FAP, na Guiné, levou algum tempo a reagir ao aparecimento desta arma letal...



Escreve o António Graça de Abreu, no seu Diário da Guiné:



"Cufar, 26 de Junho de 1973



"(...) Hoje chegou uma DO, um Nordatlas - o avião é conhecido entre a tropa por Horácio - e dois helicópteros. Vêem de Bissau e para lá regressam. Trazem víveres, correio, pessoal, pequenas cargas. Os helicópteros redistribuem os géneros pelos aquartelamentos da região, frangos e peixe congelado, carne, batata, farinha, couves frescas.



"Se os homens do PAIGC voltam a mandar um avião ou um héli abaixo, estamos todos lixados porque suspende-se outra vez o apoio aéreo. Mas agora já não é fácil que tal aconteça. Os pilotos conhecem as características dos mísseis terra-ar, os Strella ou Sa 7, que são eficazes entre os 200 e os 2.000 metros de altitude, e toma as devidas precauções. As DO e os hélis voam muito baixo, a rapar, rente às árvores, às bolanhas e aos rios, e os Nordatlas ou os DC3 voam muito alto, com tectos de mais de 2.500 metros. Descem e sobem a pista de Cufar, onde montamos sempre segurança, voando em círculos ou espirais para evitar sobrevoar as florestas, as zonas IN: Em quarenta minutos de voo, uma pessoa põe-se em Bissau. É seguro ? Até hoje tem sido" (...).

sábado, 14 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1661: Tertúlia: Notícias de Lafões, do Rui Ferreira, do Carlos Santos e da nossa gloriosa FAP (Victor Barata)


Guiné > Bissalanca > Restos do motor da DO 27, do Furriel Piloto Aviador Baltazar... De vez em quando, embora com menos frequência do que o pessoal do Exército, o pessoal da FAP também sofria acidentes graves (e quase sempre mortais). 

Esta imagem foi-nos enviada pelo nosso camarada Victor Barata, que vive hoje em Viseu, e que foi especialista de Instrumentos de Bordo, na nossa gloriosa FAP (1969/1974). Esteve na Guiné, de 1971/73, "na linha da frente das DO 27". Aterrou em tudo o que era bocado de pista (1). Pedi-lhe para me dar mais pormenores sobre este trágico acidente.

Foto: © Victor Barata (2007). Direitos reservados.

Mensagem do Victor Barata, com data de 2 de Março de 2007:


Olá, Camarada Luis.

Pode parecer que ando ausente da tertúlia, mas na realidade não é verdade, todos os dias de manhã e à noite, vou recuperar energias tertulianas para combater as carências sócio-afectivas em que mergulhou este País!

Convidei para almoçar comigo há cerca de 15 dias o Rui Alexandrino e o Carlos Santos, foi para mim uma satisfação conhecer mais um elemento da Guiné, o Carlos Santos, pois o Rui já conhecia. Fez o favor de, tal como a ti, oferecer-me a sua obra Rumo a Fulacunda com uma dedicatória comovente, como só ele sabe fazer (2).

Pois bem, alvitrei durante o repasto propor aos nossos camaradas Tertulianos uma recepção neste lindo jardim que dá pelo nome de Lafões (área geográfica que compreende os concelhos de Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul) já com programa elaborado e tudo, solicitando ao Rui, que precisa de se entreter, que fosse o interlocutor contigo para que tal fosse uma realidade.

Segundo a informação do Rui e transmitida por ti, vai haver um almoço em Pombal com o Vitor Junqueira!?...

Vou fazer os possíveis para estar presente a representar a minha FAP [Força Aérea Portuguesa], mas não podemos nem queremos estar à vossa espera para o ano, é muito tempo, e esta confraternização aqui é reclamada por mim, pelo Rui Alexandrino, pelo Martins Julião, pelo Carlos Santos,etc, Vamos lá a fazer um esforço, acreditem que não vamos ficar mal com o programa a proporcionar-vos.

Vamos, Luis, fala lá com a malta, faz o teu esforço a que estas habituado para atingir este objectivo!

Um grande abraço.

Victor Barata
Telemóvel > 917 567 868

Comentário de L.G.:


Victor: Como eu já em tempos de tinha dito, a pista pode ser curta mas é toda tua... Na nossa caserna cabem todos os camaradas, sejam eles terrestres, voadores ou anfíbios. A FAP, tão dignamente representada por ti, é bem especialmente bem vinda à nossa tertúlia e ao nosso blogue...

Também te disse que, sem ter privado convosco (contrariamente ao meu camarada da CCAÇ 12, o Fur Mil Humberto Reis, que adorava viajar pelo ar e fotografar os cantinhos da Guiné), eu sempre tive uma especial, secreta, admiração pelos malucos dessas máquinas voadoras que eram as DO 27 e que nos traziam notícias do mundo, do outro do mundo...

Já não gostava tanto, como também te disse, muito sinceramente, quando elas, em vez do carteiro, transportavam o senhor major de operações ou o senhor comandante de qualquer coisa... Ou sejam, quando de frágil caranguejola eram promovidas a um coisa que pomposamente se chamava o PCV. Do PCV tenho as piores recordações da mimnha vida na Giuné...

A tua proposta - que eu sei que é também do Rui e da rapaziada da tertúlia de Viseu - é irrecusável. Por mim, proponho que o 3º encontro da nossa tertúlia seja nas terras de Lafões. Ms o povo é quem mais orden(h)a...

Dá-me uma valente abraço ao Rui, ao Carlos e ao Julião. Outro para ti. E faz-me o favor de ma ndar estórias desses gloriosos malucos das máquinas voadoras. A minha homenagem, sentida, aos que perderam a vida na Guiné. Encontramo-nos em Pombal.

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Notas de L.G.

(1) Vd. posts de:

10 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLI: Ajudem-me a encontrar o tenente evacuado em 1973 do Corredor da Morte (Victor Barata)

9 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIX: Victor Barata, MELEC da FAP (1971/73)

(2) Vd. post de 17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)

quarta-feira, 10 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P741: Em busca de: Ajudem-me a encontrar o tenente evacuado em 1973 do Corredor da Morte (Victor Barata)

Texto do Victor Barata, o mais recente membro da nossa tertúlia:

Pois bem, Luís Graça, tomei o gosto, não vos largo.

Chamo-me Victor Barata, fui Especialista da Força Aérea Portuguesa, MELEC (1) de Aviões e Instrumentos de Bordo.

Cumpri o meu serviço militar de 1969 a 1974, sendo o período de 1971/1973 cumprido na Província da Guiné, mais concretamente na linha da frente das DO27, fazendo todo o tipo de serviço desde a tão desejada entrega de correio, géneros alimentícios, etc., às tristes evacuações, algumas sabe Deus em que circunstâncias.

Percorri todos os locais onde este tipo de aeronave tinha poucas condições para se entregar a uns metros de terra avermelhada. Tive um acidente dentro de uma desta aeronaves, já em terra. Mas...existiu uma situação, há 35 anos, que me faz perder a fala de cada vez que a recordo... Vou tentar!

Julgo, se a memória não me atraiçoa, que em Fevereiro/Março de 1973, fui destacado para uma operação no Corredor da Morte (ainda não li nada com este nome no site!...). A carta cartográfica da Guiné designa por Guileje, onde participaram também os Fiats, os T6, os Helis.

Aterrá mos e, obviamente, que a expectativa era grande,não só por ser a primeira vez que ali estava como também pela alcunha com que o local foi baptizado [Corredor da Morte].

Estacionou-se o avião, abriu-se a porta e vejo a uma certa distância uma pessoa que de repente desapareceu. Não manifestando a minha desconfiança pelo facto, eis que nos aparece um Capitão do Exército, que se apresenta como o comandante da unidade, para nos dar as boas vindas e nos fazer uma visita guiada ao local.

Não perdendo o rumo ao local onde a tal figura desapareceu, lá fomos olhando para isto e para aquilo e eis que me é identificada a minha referência que não era mais nem menos que os abrigos subterrâneos onde dormia o pessoal!

Beliche, chão de terra batida e o tecto uma placa que, dizia o Capitão, era à prova de 120! Acredito solenemente nos traumas da Guerra, 24 meses, às vezes lerpava-se com mais uns meses, naquelas condições, debaixo de guerra constante?!...

Bom, chegou a hora de me ser destinado o aposento. Nada mais, nada menos, o quarto do Capitão Caldas, paraquedista, que estava no mato, não era subterrâneo mas sim em superfície, talvez 1,50 x 1,50, MUITO BOM!

O dia correu normalmente, até que fui jantar à messe de oficiais e depois jogar umas cartas até se fazer noite, pois a transição do dia para a noite, segundo diziam, era a hora do IN bater à porta.

Encontrei um Tenente do Exército cujo nome, infelizmente para mim, já não recordo, e que me aturou jogando comigo o que eu sabia e ensinando o que eu não sabia, somente para passar aquele mau período do dia.

Chegado às 23h00, como a noite já ia longa,resolvi pedir-lhe a sua anuência para me ausentar e fui-me deitar. Ainda não me tinha descalçado e já a festa estava a começar, pois os foguetes já estalavam no ar... Forte morteirada!

Nesta minha estada conheci figuras hoje públicas, recordo o actual Presidente da Guiné, Nino Vieira, desertor do nosso Exército, como prisioneiro (2).

Terminada a minha missão, regressei a Bissalanca.

Passados uns 2 meses, 6 horas da manhã, a sala de operações chama o alerta e sai o Dakota, avião bimotor, com trem de cauda, que traria sempre umas 20 macas, enquanto a DO 27 só podia trazer uma. A coisa era muito má, viemos a saber antes do regresso do Dakota... A expectativa para mim era total, porque tinha lá estado, até que se começa a ouvir o barulho dos motores, cada vez mais perto, a instabilidade, embora o tempo já nos tivesse reservado péssimas situações, não sabíamos o que ali vinha.

Eis o avião na placa (estacionamento), a porta é aberta, subo os poucos degraus da escada de acesso ao seu interior e coloco-me ao fundo, a meio,vendo cerca de 10 macas de cada lado com corpos envoltos em lençóis brancos! Clima de verdadeiro massacre,o silêncio era a voz que perdurava, os corpos começaram a ser retirados e eu arrisquei subir o corredor até à cabine.

Eis que num preciso momento ouço uma voz de grande sofrimento emitir o meu nome, não conseguia localizar a sua origem, volto a ouvir e ai, sim, era o tal Tenente que tanto me ajudou na minha estada no Corredor da Morte... E eu incapaz de lhe poder valer!

Acreditem, companheiros, que estou a redigir estas letras com muita emoção,e porque não dizê-lo, com algumas lágrimas à mistura! Hoje, a minha grande esperança reside no facto de que eu não o pude ajudar, mas Deus encarregou-se disso por mim...

Não consigo escrever mais, desculpem!

AJUDEM-ME A ENCONTRÁ-LO!!!

Victor Barata
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Notas de L.G.

(1) Melec: termo usado pelo pessoal da Força Aérea para designar a especialidade de manutenção electrónica...Vd. post de hoje > Guiné 63/74 - DCCXXXIX: Victor Barata, MELEC da FAP (1971/73)

(2) Deve haver aqui um mal-entendido por parte do nosso camarada: o 'Nino' Vieira, comandamte da frente sul, nunca foi nosso prisioneiro, pese embora as muitas operações de busca e caça e emboscadas que lhe foram montadas pela nossa tropa de elite, a começar pelo temível e mítico Marcelino da Mata.

Guiné 63/74 - P739: Tabanca Grande: Victor Barata, MELEC da FAP (1971/73)

Força Aérea Portuguesa (FAP) > Museu do Ar > Alverca > Imagem de um DO 27
© Museu do Ar - Alverca (2006) (com a devida vénia...) (1)


1. Texto de Victor Barata, ex-especialista da Força Aérea Portuguesa, MELEC (1) de Aviões e Instrumentos de Bordo, Guiné, 1971/73.

Luis Graça,

Não tenho a honra de te conhecer mas tenho o privilégio de ser, há uns dois meses a esta parte, um assíduo [visitante] e admirador do teu site Blogue-Fora Nada. Parabéns!

Por diversas vezes redigi um artigo com um assunto que me traz no peito há 35 anos, relativo a uma episódio passado na Guiné, mas sempre achei que era inoportuno da minha parte estar a meter a foice em seara alheia e como tal nunca tive a coragem de o enviar.

Isto tudo, porquê? Porque servi, com muito orgulho, a Força Aérea Portuguesa (FAP)!

Para meu espanto e alegria em paralelo, aparece um companheiro da Armada (2) e de imediato tu a salientares a falta de um da FAP!

Pois, do que é que eu estou à espera para entrar nesta maravilhosa colectânea de recordações de toda a espécie e saudar todos os que me vão receber, e a ti agradecer esta minha primeira intervenção ?!

Fui Especialista da FAP, na área dos Instrumentos de Bordo, de 1969 a 1974. Fiz a Guiné de 1971 a 73, na linha da frente das DO 27. Conheço tudo o que era sítio onde havia a pista de aterragem para este tipo de aeronave.

Oportunamente, se me for permitido, contarei o tal episódio que tenho preso há 35 anos!

Bem hajas! Victor Barata.


2. Comentário de L.G.:

Victor: A pista pode ser curta mas é toda tua... Na nossa caserna cabem todos os camaradas, sejam eles terrestres, voadores ou anfíbios. A FAP, tão dignamente representada por ti, é bem especialmente bem vinda à nossa tertúlia e ao nosso blogue... 

Por mim, sempre tive uma especial admiração pelos malucos das dessas máquinas voadoras que eram as DO 27 e que nos traziam notícias do mundo, do outro do mundo... Já não gostava tanto quando elas, em vez do carteiro, transportavam o senhor major de operações ou do senhor comandante de qualquer coisa... Ou sejam, quando de frágil caranguejola eram promovidas a um coisa que pomposamente se chamava o PCV.

Um reparo: o blogue chama-se Luís Graça & Camaradas da Guiné > Blogue-fora-nada. Eu sou apenas o editor. A partir de hoje o blogue também é teu, de pleno direito. Vou publicar o texto adicional que me mandaste, e que é um bonito testemunho de solidariedade em tempo de guerra, ou seja, de camaradgem. Se tiveres fotos desses tempos que já lá vão, manda, que os tertulianos têm ainda a ilusão de que recordar é viver duas vezes...
__________

Notas de L.G.

(1) No sítido do Museu do Ar, em Alverca (e que está aberto das 10 às 17 - Jul, Ago e Set, das 10 às 18 -, encerrando à segunda-feira, 1 de Jan, Domingo de Páscoa e 24 e 25 de Dez), pode ler-se o seguinte sobre a história do DO 27 em Portugal:

"Os aviões Do 27, de que a Força Aérea teve 133 exemplares nas versões A3 e A4, começaram a ser recebidos em 1961. Estes aviões foram adquiridos para operação no Ultramar, em missões de transporte ligeiro, evacuação sanitária e reconhecimento armado - para o que era equipado com lança foguetes - e operaram, praticamente, de todas as unidades do Ultramar. No fim das hostilidades alguns aviões foram cedidos aos novos países independentes e os restantes voltaram para a Metrópole onde serviram até 1979. O Museu do Ar tem 3 Do 27 estando todos a voar".

(2) Vd. post de 21 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXIII: Apresenta-se o Imediato da NRP Orion (1966/68) e 1º tenente da reserva naval Lema Santos