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terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16807: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (39): pedido de ajuda para tese de doutoramento em Antropologia, pelo ISCTE-IUL, sob o tema do uso de álcool e drogas na guerra colonial (Vasco Gil Calado)





Vasco Gil Calado, « As drogas em combate: usos e significados das substâncias psicoativas na Guerra Colonial Portuguesa », Etnográfica [Online], vol. 20 (3) | 2016, Online desde 27 Novembro 2016, consultado em 06 Dezembro 2016. URL : http://etnografica.revues.org/4628 ; DOI : 10.4000/etnografica.4628


Resumo (em português):

"Apresentam-se as principais questões suscitadas pelo trabalho em curso acerca do uso de substâncias psicoativas na Guerra Colonial Portuguesa (1961-1974). São identificados alguns aspetos-chave que emergem das narrativas dos ex-combatentes acerca da sua experiência de guerra e que contextualizam um conjunto de práticas, entre elas o uso de drogas. Confirma-se o abuso de álcool e o uso de canábis entre os militares das forças armadas portuguesas envolvidas no conflito, numa altura em que em Portugal surgiam as primeiras iniciativas de combate às drogas. Tanto o consumo de bebidas alcoólicas como de outras drogas pode ser entendido como uma forma de lidar com a ansiedade e a violência do quotidiano."



Algumas conclusões do autor:

(...) "A análise das respostas permite chegar a duas conclusões: a ausência de consumo de canábis por parte das tropas portuguesas na Guiné e um consumo relevante em Angola e Moçambique. De entre os 210 respondentes, todos aqueles que estiveram na Guiné afirmam não ter consumido a planta e desconhecer por completo o seu uso no território durante a guerra. 

O mesmo não se passa com os respondentes que estiveram em Angola e Moçambique: 15% dos militares que fizeram a guerra naqueles territórios afirmam ter consumido canábis, enquanto outros 25% afirmam ter assistido ao consumo ou tido conhecimento direto disso. Feitas as contas, dos respondentes que estiveram em Angola e Moçambique durante a Guerra Colonial Portuguesa, perto de metade (40%) declaram ter tido um contacto direto com a planta." (,..)


1. Mensagem de nosso leitor e doutorando em antropologia Vasco Gil Calado: 

Data: 30 de novembro de 2016 às 11:03
Assunto: Doutoramento Antropologia

 Bom dia, Prof. Luís Graça


No seguimento do meu trabalho em curso, publiquei um artigo na revista Etnográfica. Vinha propor-lhe que divulgasse o artigo no blogue, se achar oportuno (eu divulguei o artigo numa comunidade do facebook sobre a guerra colonial onde recrutei um informante e algumas das pessoas que preencheram o inquérito on-line mas a verdade é que fui muito mal recebido. Portanto, se achar que a divulgação irá levantar uma polémica desnecessária, esqueça o meu pedido).

A minha ideia em divulgar o artigo agora é que, como me encontro na fase da escrita da tese de doutoramento, quaisquer críticas, sugestões e reparos (a imprecisões, termos mal usados, erros conceptuais, etc.), ou até mesmo encontrar alguém que queira colaborar com informação será muito bem-vindo.

O link é: http://etnografica.revues.org/4628

Cumprimentos,

Vasco Gil Calado
ISCTE-IUL; SICAD, Portugal
vascogil@gmail.com


2. Mensagens anterior de Vasco Gil Calado com data de 5/3/2015

Chamo-me Vasco Gil Calado, antropólogo e técnico superior do SICAD [Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências]. 

Estou a fazer o doutoramento em Antropologia, no ISCTE, sobre o tema do uso de álcool e drogas na guerra colonial. Foi o Renato Monteiro quem sugeriu que o contactasse, na condição de grande especialista e dinamizador de um blog essencial sobre a guerra colonial. No âmbito académico da tese, gostava de o entrevistar, de forma anónima e confidencial, naturalmente.

O meu orientador é o Prof. Francisco Oneto, do departamento de Antropologia do ISCTE.
Nós cruzamo-nos no ISC-Sul, numa pós-graduação de Sociologia da Saúde, em que deu um módulo sobre Educação para a Saúde, se bem me lembro, para aí em 1999 ou algo do género. (...)

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quinta-feira, 31 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15918: Inquérito 'on line' (50): Nunca apanhei nenhum pifo de caixão à cova na tropa ou no TO da Guiné (Augusto Silva Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Augusto Silva Santos (ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73), com data de 15 de Março de 2016, com o que será o último depoimento sobre os nossos pifos no TO da Guiné:

Olá Carlos Vinhal, bom dia!
Antes de mais espero que esteja tudo bem contigo e família.

No âmbito do inquérito "on line" que tem estado a decorrer sobre o assunto em epigrafe, recordo parte de um episódio que comigo ocorreu, e sobre o qual em tempos enviei para publicação, sendo que este foi mesmo o único "pifo" que apanhei em terras da Guiné.

O extracto abaixo faz parte do Post P10432 de 25-09-2012 / Estórias dos Fidalgos do Jol / 12 - A minha primeira noite no Jol:

..."Mas felizmente era apenas e só a minha preocupação de “pira” a funcionar, pois nada de anormal se passou, só que, ao contrário do que aconteceu com o “pira” do Juvenal, no meu caso era ver quem mais “álcool” me conseguia fazer beber e, obviamente, pagar.
Tanto quanto foi possível lá me fui aguentando, normalmente tentando disfarçar as grandes quantidades de whisky com coca-cola à mistura. Como sabia e “escorregava” bem, consegui manter-me durante um bom par de horas a ouvir alguns dos acontecimentos mais significativos dos últimos 12 meses (a eterna tentativa de “acagaçar” os recém chegados), e sinceramente não dei conta que já me encontrava muito perto dos limites.
Enquanto estive sentado, a coisa correu bem, o pior foi mesmo quando fiz mais do que uma tentativa para me levantar, e as pernas não me obedeciam. A minha intenção de evitar apanhar uma primeira bebedeira em terras da Guiné, definitivamente não tinha resultado. Estava mesmo embriagado e, só com alguma ajuda, lá me consegui pôr a caminho do meu abrigo. Pelo meio fui “apanhado” pelo Cabo da ronda que, “simpaticamente” me perguntou se precisava de ajuda, depois de me ver de joelhos e a vomitar. Bonito exemplo logo no primeiro dia, pensei eu…
Mas a “praxe” tinha sido cumprida e, no outro dia, era como se nada se tivesse passado. Nunca mais ninguém falou nisso, eu é que durante largos meses, nunca mais pude ver à minha frente aquela “maldita combinação” de whisky com coca-cola. Foi mesmo de arrasar"…

Se achares que tem interesse recordar, p.f. publica, fazendo as alterações que considerares oportunas.

Aproveito para juntar umas fotos tiradas em Jolmete, em Outubro / Novembro de 1972, que ilustram alguns momentos de "alegria". De salientar que o fim da comissão estava próximo.

Recebe um grande e forte abraço,
Augusto Silva Santos




Jolmete, Outubro e Novembro de 1972

Fotos: © Augusto Silva Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15892: Inquérito 'on line' (49): Pifos não eram comigo, só por duas vezes! (Manuel Joaquim, ex-Fur Mil da CCAÇ 1419)

quarta-feira, 23 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15892: Inquérito 'on line' (49): Pifos não eram comigo, só por duas vezes! (Manuel Joaquim, ex-Fur Mil da CCAÇ 1419)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), com data de 15 de Março de 2016:


Pifos não eram comigo, só por duas vezes!

Noite feliz com copos

Não devo estar muito errado se disser que o vinho, a cerveja, o whisky e o gin foram minhas companhias diárias nos meus tempos de guerra na Guiné. Boas companhias, diga-se, já que só por duas vezes as nossas relações descambaram para a bebedeira. Uma na noite de Natal de 1966 e outra, uma semana depois, na passagem para 1967.

Daquela passagem de ano não me lembro de nada, directamente. Sei do tamanho da piela por uma frase que encontrei numa carta para a namorada: “Entrei [em 1967] com uma grandessíssima bebedeira. Não, não te atemorizes, meu amor, que não é para continuar. Não sou alcoólico, longe vá o agoiro”.
Se desta bebedeira não me ficou memória, da que apanhei na já referida noite de Natal ainda guardo lembranças, não muitas.

Tudo se passou na messe de sargentos, num edifício exterior ao quartel de Mansabá (a uns 100m). A coisa começou a “encher” durante o jantar do dia 24 e só parou a altas horas da madrugada.


Fotos 1 e 2 - Após o jantar, todos juntos ao fundo da sala para tirar a desejada foto, memória do último Natal passado na Guiné. Entretanto decidi testar a qualidade do meu equilíbrio apesar da “noite” ainda só estar no princípio. ©Manuel Joaquim

Finalizado o jantar, o tempo foi passando em clima de festa serena. Os camaradas confraternizavam, não só entre si mas também com as bebidas, sendo a cerveja a rainha da festa. A certa altura começou a debandada de uma boa parte deles para o quartel mas ainda ficaram os suficientes para encher o espaço do bar.



Fotos 3-4-5 - Ficaram bastantes para continuar a festa. ©Manuel Joaquim

A certa altura da noite, alguém começou a cantar uma canção de natal e surgiu logo a ideia de se fazer uma fogueira para continuar o convívio à volta dela. Não havendo madeiro de natal para queimar, serviram para o efeito as embalagens de madeira. A fogueira durou enquanto se não esgotou o repertório de canções natalícias (muitas!) ou então enquanto houve caixotes para queimar!


Fotos 6-7 -  Canções de Natal à volta da fogueira ©Manuel Joaquim

Esta “cerimónia natalícia” foi um dos poucos momentos felizes que passei na Guiné. Talvez os “copos” tivessem culpa de me sentir tão bem mas aquela nostalgia do Natal dos tempos de infância, a muita saudade dos nossos entes queridos, a beleza do momento dada pelas nossas vozes entoando aquelas canções numa bela comunhão colectiva à volta da fogueira, tudo isto até me fez esquecer o local onde estávamos e o perigo que corríamos todos os dias.
Mas a “magia” durou pouco tempo. Ao dar por isso, em vez de me ir deitar voltei para o bar da messe e entrei na função de bebedor. O cerimonial começou com a queima ritual de capas de palha que envolviam um certo tipo de garrafas, já não me lembro qual.

Foto 8 - Cerimónia ritual da queima da palha. Apelo à participação dos presentes no sacrifício de bebidas alcoólicas. ©Manuel Joaquim

Como mestre celebrante só podia ter um tipo de comportamento, o de dar exemplo activo de participação no cerimonial. Apesar de no início do acto já estar de “meia pipa” creio que cumpri bem e não durou muito tempo até eu encher o vasilhame. Fui de “caixão à cova”!

Foto 9 - “De caixão à cova”. ©Manuel Joaquim

A memória não me ajuda na descrição e por isso, para continuar, tenho de me servir do relato feito em carta, datada do dia seguinte e escrita no local dos acontecimentos, relato este merecedor de alguma confiança na verdade do seu teor. Eis o que diz o documento:
“A noite de Natal cá se passou. Uma barulheira infernal, bebedeiras a torto e a direito, noite em branco, choros, convulsões, maluqueiras, gritos histéricos, socos, cabeças partidas e mesas, copos, cadeiras a que aconteceu o mesmo. Bem, isto não foi Natal. Foi carnaval e do bom. Alegria falsa, no entanto. Se na noite de 24 para 25 ainda “alinhei” na coisa, ontem já não o consegui fazer. Era demais. A alma estava tão triste!... E continua.”

Mas que grande forrobodó! Tão grande como a “piela” que apanhei.
Pouco me lembro do acontecido e creio que se não tivesse as fotos não o conseguiria reconstituir minimamente, nem com o apoio deste relato sobre o qual não sei bem o que dizer.
Não me lembro da maior parte dos factos referidos na carta mas uma coisa sei; sei que não foi mentira porque nunca menti nas cartas que dirigi à minha namorada. Se por vezes não lhe queria dizer a verdade sobre alguma coisa, então não lhe falava sobre o assunto.

Mas a leitura deste relato trouxe-me a imagem do 1º sarg. da CCaç.1419, bem zangado, a queixar-se dos estragos provocados na messe de sargentos por uma “panelada” nocturna mas não sei se foi no Natal ou no fim do ano. Além de alguns pratos partidos e talheres tortos, havia panelas amolgadas por terem servido de instrumentos de percussão, tendo uma ou outra ficado inutilizada para a função devido a amolgadelas profundas, uma delas (a grande da sopa) com umas perfurações que a inutilizaram para todo o serviço. Quando aconteceu isto, foi na noite natalícia ou na passagem de ano? Em certas localidades ainda hoje há o costume de bater panelas e tachos velhos para saudar um novo ano. Se também foi o que sucedeu em Mansabá, não sei. Estava com a tal “grandessíssima bebedeira” e se calhar também fui um dos que andaram a bater com as panelas.
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Março de 2016 Guiné 63/74 - P15887: Inquérito 'on line' (48): Bebedeira colectiva durante um assalto ao bar do Zé D'Amura (Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546); O pifo monumental do "Jeová" no Domingo de Ramos de 1969 (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381)

terça-feira, 22 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15887: Inquérito 'on line' (48): Bebedeira colectiva durante um assalto ao bar do Zé D'Amura (Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546); O pifo monumental do "Jeová" no Domingo de Ramos de 1969 (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381)

1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68) com data de 11 de Março de 2016:

Prezado Luís Graça:
Naquele tempo também eu me habituei a gostar de Whisky, misturado com a água Perrier.
A bebedeira era, em certos casos, um problema complicado, quer entre os soldados, quer entre os graduados.
Envio a descrição sumária de uma bebedeira, a que chamo quase colectiva, que teve lugar em Bissau, na breve passagem da Companhia pela cidade, por alturas do NATAL DE 1967.

Um abraço amigo para todos
Domingos Gonçalves


Bissau, 20/12/1967

À noite, o pessoal quase todo, fez um assalto ao bar do Zé D'Amura. A intenção era esgotar-lhe todas as bebidas finas que ele tivesse no estabelecimento.
Os empregados foram trazendo para as mesas marisco, passarinhos fritos, cerveja fresca ....
E tudo foi acabando...

Depois, foi a vez do whisky, do gin, dos brandys ...

Experimentou-se de tudo quanto o estabelecimento possuía, para vender. No fim, compraram-se as últimas garrafas, ou o que delas restava, para beber no quartel, em ambiente esfuziante, todos aqueles líquidos que transportam as pessoas para outros mundos. Para um estado de espírito onde tudo quanto é mau se esquece.
Onde a vida parece que fica pintada cor de rosa.

É a paixão da bebedeira. Talvez a tentativa de esquecer a realidade que circunda a vida de cada um de nós.
Mas é só uma libertação momentânea, e passageira. A realidade nunca tarda a aparecer de novo.

E uns de cada vez iniciámos o regresso ao aquartelamento, que ficava a poucas dezenas de metros.
Os mais embriagados, sem que os empregados a tal se opusessem, talvez por receio, foram levando as cadeiras em que estavam sentados, e a que se agarravam para não cair.
Mas, uma após outra, foram-nas abandonando, ao longo da rua, pois, apesar de serem leves, já não podiam com elas.

E ainda há quem afirme que as bebidas alcoólicas dão força!

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2. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) com data de 11 de Março de 2016:

Luís e Carlos.
Junto uma estória verdadeira que como vosso desafio veio ao de cima no sótão da minha memória.

Abraços.
Zé Teixeira


Vinho do Porto em Domingo de Ramos

Numa bela tarde de Domingo, no domingo de Ramos de 1969, estava em Buba a saborear uns bons copos (não havia cálices) de vinho do Porto, na companhia de dois conterrâneos. O saboroso néctar tinha sido levado por um deles no regresso de férias à Guiné.

Passou por nós o “jeová”, um soldado da minha Companhia que, alegando que a sua religião não o permitia, se recusava a usar a G3. Era um tipo muito esquisito este “jeová”. Muito fechado em si. Não bebia qualquer tipo de bebidas alcoólicas, quase não comunicava com os colegas e não reagia às provocações mais ou menos atrevidas e “ofensivas” de alguns camaradas, por ser um dos elos mais fraco da Companhia.
Era contido na comida e ninguém lhe conhecia amizades junto da população.
Ofereci-lhe um copo e ele desdenhosamente respondeu:
- Na minha terra lavamos os pés com essa “surrapa” - e foi-se embora.

Pareceu ao grupo que o “jeová” merecia uma lição e fui encarregado de o trazer até ao cantinho onde costumávamos acoitar, dentro da arrecadação para saborear uns petiscos cozinhados por um de nós – o Mário.
Ao fim da noite apareci com ele e logo lhe foi oferecido um copo de vinho do Porto que ele acabou por aceitar e gostou. Pediu outro e outro... e outro e nós a vermos a garrafa a ficar vazia.
Levantou-se de repente e foi embora a cambalear, notando à distância que não ia sozinho.

No outro dia de manhã, o cozinheiro foi procurar-me à enfermaria. O “jeová” estava a dormir num banco da cozinha, onde era auxiliar, e dormia tão profundamente que ninguém o conseguia acordar. Apenas eu e os meus dois amigos de outra Companhia, sabíamos o que lhe tinha acontecido.
Fiquei preocupado ao verificar que e o "jeová” estava no sono de Baco, ou seja, em coma alcoólico e ali ficou “dormindo” o dia inteiro, a noite seguinte e só “acordou” já o sol ia alto no terceiro dia.

Ninguém ousou pensar que estava sobre o efeito de álcool, pois sempre tinha sido abstémio. Confesso que estava a entrar em pânico e já estava a pensar em tentar dar-lhe um reconstituinte alimentar à colher, quando ele felizmente “acordou” pediu um copo de água e adormeceu, agora um sono verdadeiro que durou pouco tempo.
Quando acordou, levantou-se e foi à vida dele.

Calou-se para sempre sobre os copos de vinho do Porto que bebeu e continuou abstémio, que eu saiba, até ao fim da comissão. E o segredo ficou entre nós...
Não sei se chegou aos ouvidos de algum superior, mas se chegou, ninguém se preocupou.

Zé Teixeira
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Nota do editor:

Último poste da série de 17 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15869: Inquérito 'on line' (47): Apanhei um "pifo de caixão à cova", uma, duas, três ou mais vezes... confessam 65 em 100! (Resultados finais)

quinta-feira, 17 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15869: Inquérito 'on line' (47): Apanhei um "pifo de caixão à cova", uma, duas, três ou mais vezes... confessam 65 em 100! (Resultados finais)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 > Abril de 1968 > Não, não estavam a curar nenhum pifo de caixão à cova, estavam simplesmente a dormir ao luar...Fase de construção do aquartelamento de Mansambo  (que a "Maria Turra", na rádio Libertação, em Conacri, chamava "campo fortificado de Mansambo")...Os alferes milicianos Cardoso e Rodrigues apanham "banhos de luar" (sic)...

Legenda do Carlos Marques dos Santos, o primeiro dos Viriatos a chegar ao nosso blogue, logo em 2005, tendo depois trazido com ele o Torcato Mendonça:  "A propósito!... Sabem onde foi tirada esta foto? Em Mansambo, a céu aberto. Camas de ferro nos fossos que iriam ser o aquartelamento fortificado de Mansambo. Data: abril de 1968. A foto é do Henrique Cardoso, alferes da CART 2339 e seu comandante. Os 3 Capitães, que comandaram a Companhia anteriormente estiveram sempre doentes !!! Ele assumiu o comando. Era miliciano e responsável. Podes publicar, se quiseres. O Cardoso autorizará. Tenho o seu aval. CMSantos".

Foto: © Henrique Cardoso / Carlos Marques Santos (2005). Todos os direitos reservados.



INQUÉRITO: "NUNCA APANHEI NENHUM PIFO DE CAIXÃO À COVA NA TROPA OU NO TO DA GUINÉ"




Resultados finais > 102 respondentes

1. Nunca > 31  (30,4%)

2. Uma vez, por acaso > 25 (24,5%)

3. Duas vezes > 10 (9,8%)

4. Três vezes > 4 (3,9%)

5. Mais vezes > 26 (25,5%)

6. Não me lembro > 5 (4,9%)

7, Não aplicável: não bebia > 1 (1,0%)

Total > 102 > (100,0%)


Votos apurados: 102
Sondagem fechada em 15/3/2016 | 18h04

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Nota do editor;

Último poste da série > 17 de março de 2016 >  Guiné 63/74 - P15868: Inquérito 'on line' (46): os pifos que apanhei durante a campanha africana, aconteceram sempre pelas melhores causas e produtos (José Manuel Matos Dinis, adjunto do régulo da Magnífica Tabanca da Linha)


Guiné 63/74 - P15868: Inquérito 'on line' (46): os pifos que apanhei durante a campanha africana, aconteceram sempre pelas melhores causas e produtos (José Manuel Matos Dinis, adjunto do régulo da Magnífica Tabanca da Linha)

1. Mensagem, de 11 do corrente,  do José Manuel Matos Dinis,  adjunto do régulo da Magnífica Tabanca da Linha [que se reune hoje, 5ª feira,  17 de março, em Oitavos,  Guincho, Cascais, para mais uma sessão de (de)lib(er)ações] 


[José Manuel Matos Dinis  ex-fur mil, CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71]


Assunto - Inquérito: "Nunca apanhei nenhum pifo de caixão à cova na tropa ou no TO da Guiné"


Camaradas Luís e Carlos,
Não vos peço que publiquem o texto anexo, mas achei-lhe graça, parecendo-me fiel à vida social no leste da Guiné, durante os anos da graça de 1970 e 1971, quando o pessoal tirava partido dos melhores "resorts".
Abraços fraternos
JD



Parabéns, Luís,  pelo texto bem destilado que acabaste de produzir [, e que circulou pela Tabanca Grande, lançando o mote para o inquérito desta semana. É de pendor escocês, mas foi para uso nas terras quentes e húmidas da Guiné enquanto là malhàmos a cornadura. 

Hoje sou fraco bebedor, apesar de ainda gostar de debicar diferentes derivações devidamente embotelhadas, ou a saírem do pipo numa adega fresca. Naqueles verdes anos também apanhei uns pifos, pois já tinha uma certa noção da igualdade, e da necessidade de me manter próximo das vanguardas.

Em Piche, que foi o local onde cumpri a periquitagem, tive a sorte de dormir na cama apenas metade das noites, pois as restantes andava envolvido em escuros jogos de guerra, que na melhor das hipóteses só contariam com as luzinhas do magnífico firmamento para iluminar os sonhos. Na​s restantes​ noites de adormecer no quarto, a famosa suite 3, nunca me faltaram os vinhos do Reno, brancos secos que acompanhavam com distinção um cabrito assado, uma posta de queijo, ou um naco de presunto que se deixavam mastigar acompanhados de um casqueiro ainda quente. 7

Lá na minha suite, que era partilhada por mais 5 valentões, mas onde havia sempre alguns penetras que iam esperar pelo joão pestana, proibidos de barulhar durante as emissões da RVFM - Rádio Voz do Furriel Milicano, faziam depois a algazarra que calhava, talvez em resultado da festança e da rica variedade das bebidas, quase sempre reunidas em festejos estomacais que acabavam por subir à cabeça. Ele eram uísques simples ou de malte, novos ou velhos, escoceses ou irlandeses; conhaques, brandies e aguardentes da França e de Portugal; gins ingleses (muito bons para matar a sede, já que estávamos em guerra, e ainda complementavam uma função preventiva do paludismo); bem como os incolores líquidos de algumas garrafitas - na época ainda pouco divulgadas - em fuga das ditaduras comunistas, que para nosso gáudio iam desembocar ao lado contrário da ideologia revoltada
​ - com créditos firmados na distante Rússia, a vodka​.

​ Não sei porquê, mas a garrafeira naquela região remota era bem abastecida.​
Pois bem, durante esses meses pichenses acho que não houve noite adormecida sobre o lençol, que não tivesse tido o feliz adormecimento volatilizado, ou não fosse eu um dos felizes descendentes de Dionisius, um gajo porreiro, promotor de devassas e incrementador do extraordinário e lúcido princípio: se conduzir, beba à fartazana. 

Mais tarde, em Bajocunda, eu e o Tito tivemos sempre camas no quarto,  não nos aventurando às perigosas deslocações para as catacumbas periféricas, insanas para quem se preocupava com a melhor condição física e psicológica. O Zé Tito tinha alargadas fronteiras sobre a espiritualidade, e aos caudais de ideias que lhe afloravam na carola, regava-os cuidadosamente com os melhores líquidos de diferentes proveniências, desde que houvessem, claro, e ainda tinha a gentileza de me acordar a desoras da noite com uma solidária recomendação: bate-te à hepatite, pá!

Ele bateu-se com valentia, muito mais do que eu, e por isso foi medalhado com umas férias estivais de três meses durante um Verão de Cascais, e como prémio complementar, foi assistido por uma dedicada enfermeira francesa que nunca lhe faltou com carinhosos tratamentos. Foi no parque do Guincho de onde não saíu a caravana, enquanto o menino recuperava para o regresso à guerra, e o Carlos Santa - que viria a bater-se em Nova Lamego - estudava sob a batuta atenta de outra francesa, e preparava os exames finais de engenharia. Passou, e foi uma festa cujo ronco chegou desapiedadamente à Guiné.

Conclusão: os pifos que apanhei durante a campanha africana, aconteceram sempre pelas melhores causas e produtos, pois resultaram de manifestações de festa e alegria que eram tão frequentes durante a minha juventude. De facto, não tenho memória de ter bebido para esquecer. (**)

Abraços fraternos

JD

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Nota do editor:

terça-feira, 15 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15858: Inquérito 'on line' (45): Apanhei um "pifo de caixão à cova", apanhei!...No regresso da Op Inquietar I, em 13 de junho de 1967... (A. Marques Lopes, cor inf DFA, ref)

APANHEI UM PIFO DO CACHÃO PARA A COVA, APANHEI!

Texto e fotos: A. Marques Lopes (2016)

[A. Marques Lopes, coronel DFA ref, ex-alf mil (CART 1690, Geba, 1967/68; e CCAÇ 3, Barro, 1968)]

Tínhamos regressado da Operação Inquietar I, para irmos destruir a base do PAIGC em Samba Culo [, de 9 a 13 de junho de 1967].

Três dias de mato sob sol e chuva e obrigados três vezes a furar um cerco por ordem do Capitão Maia, quando estávamos cercados e encostados ao rio Canjambari.

Um soldado meu levara um tiro nas costas dado pela Companhia dele.

Maia era o nome dele e não Lindolfo, como o designei no meu livro “Cabra-cega, do seminário para a guerra colonial”. Foi o General Moreira Maia, Comandante da Região Militar do Norte, que me disse um dia, era eu já Tenente-Coronel, que não se lembrava nada disso. Mas eu lembrava-me bem.

Estávamos cansadíssimos e lixados.
Disse ao rapaz do bar:
- Olha, é uma grade de cervejas para mim e para os nossos furriéis.

Ele trouxe-as e bebemos tudo.

Mas a mim não me chegou. Mandei vir whisky e bebi. Mandei vir gin e bebi. E caí para o lado depois de vários. Pegaram-me nos braços e pernas e levaram-me para a cama.
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de março de 2016 >  Guiné 63/74 - P15854: Inquérito 'on line' (44): Como é que eu apanhei um "pifo" de uísque Dimple (José Carlos Gabriel, ex-1.º cabo op cripto, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Nhala, 1973/74)... ou de "tintol" (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

segunda-feira, 14 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15854: Inquérito 'on line' (44): Como é que eu apanhei um "pifo" de uísque Dimple (José Carlos Gabriel, ex-1.º cabo op cripto, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Nhala, 1973/74)... ou de "tintol" (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)


O Luís Dias, ex-alf mil,  CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74) dizia-nos, em 2010, que ainda tinha lá em casa "5 garrafas de uísque das que trouxe da Guiné (...)... São elas uma 'President', uma 'Something Special', uma 'Dimple', uma 'Smugler' e uma 'Logan' (conforme foto...). Umas autênticas belezas".

E acrescentava: "Alguns dirão que isto é um sacrilégio; porque será que o Dias não tratou destas 'meninas' em conformidade? Outros dirão que não é lá muito de beber e que, por tal facto, foi deixando andá-las lá por casa. Eu respondo: fui bebendo algumas, deixei outras ao meu pai, também ao meu tio Armando – este sim um grande apreciador – e fui ficando com outras e, olhem, ganhei-lhes amizade, porque olhava para elas e ia-as destinando a grandes momentos. Bebi uma, já não me lembro a marca, quando o meu filho nasceu há 30 anos. (...) Vou abrir a 'Dimple' quando fizer 60 anos, se Deus permitir que eu lá chegue,  e as outras serão para outras 'special ocasions' ” (...) (*)

Foto (e legenda): © Luís Dias (2010). Todos os direitos reservados.


Mais 2 comentários sobre o tema do nosso inquérito 'on line' que encerra amanhã, dia 15m, terça feira, às 18h (**):


(i) José Carlos [Ramos dos Santos] Gabriel, ex-1.º cabo op cripto, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74), nosso grã-tabanqueiro desde 16/8/2011:

[foto à esquerda: é o segundo, de perfil, do lado esquerdo. Nhala, Natal de 1973]

Assunto -  Resposta ao questionário sobre o "Pifo"

Não fui diferente de muitos dos nossos camaradas. Se a memória não me falha só apanhei um “pifo” na Guiné, e único até hoje.

Aconteceu no posto de rádio,  juntamente com um camarada telegrafista que fazia anos nesse dia.

Como era habitual, passava muito tempo junto dos telegrafistas e nesse dia eu estava de serviço ao Centro Cripto e ele começou a receber uma mensagem.

Sempre que faziam uma paragem para perguntar se todos a estavam a receber em condições, nós aproveitávamos para beber uma tampinha de Dimple.

Claro que quando a mensagem acabou de ser transmitida também a garrafa estava no fim.

O resultado foi um grande "pifo" de tal forma que não consegui decifrar a mensagem e tenho uma vaga ideia que foi o meu camarada que acabou por a decifrar.

Tive que deitar a carga ao mar para ficar mais ou menos bem. Nunca mais apanhei nenhum "pifo" até hoje mas "ficar alegre" até já me aconteceu com uma simples mini a meio da tarde que por qualquer razão o organismo não a aceitou.


(ii) José [Botelho] Colaço ex-soldado trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), membro da nossa Tabanca Grande desde 2 de junho de 2008 (*).

Assunto - Um "pifo" com tinto do caixão à cova para alimentar os mosquitos no Cachil.

[Uma das fotos mais espantosas do álbum do José Colaço: uma pausa no pessoal, na construção da famosa paliçada do Cachil]

E como a ocasião faz o ladrão,  aconteceu...

No posto rádio do Cachil só eu,  mais o 1.º Cabo Dias, fazíamos serviço,  sempre 12 horas cada um e dormíamos no posto rádio, mas quando um metia o pé na argola, o outro fazia o serviço.

O posto rádio ficava colado à parede da casa dos géneros, como nós éramos amigos do cabo cozinheiro e a parede era de troncos de palmeiras ao alto com barro amassado com algum capim para tapar as frestas, nós fizemos um pequeno furo no barro e metíamos a borracha do filtro de campanha e assim que o cabo cozinheiro via lá a borracha, enfiava a dita num garrafão de tinto e nós, no posto rádio, era só bombar para garrafas. Por esse motivo nunca nos faltava o tinto da Metrópole (daí a razão da ocasião que faz o ladrão).

Acordo com o corpo numa lástima todo picado. O "pifo" e os mosquitos uma noite após o jantar depois de bem regado adormeci que nem uma pedra, mas talvez devido ao "pifo"  meti os pés para fora do mosquiteiro, os amigos mosquitos aproveitaram o mosquiteiro aberto e satisfizeram a sua gula de sangue do Tuga.

Quando acordei como no posto rádio durante a noite, a luz estava quase sempre acesa devido às explorações rádio, olhei para o mosquiteiro todo coberto de mosquitos com um grande bunda cheia de sangue, começo à palmada a matá-los, mas ao fim de pouco tempo corria-me sangue pelos braços abaixo, o lençol, a fronha, o mosquiteiro tudo sujo de sangue, desisti abri mais o mosquiteiro e corri com os que restavam para fora que ainda eram bastantes.

Aprendi a lição e a partir dessa data passei a ter mais cuidado com o álcool e os "pifos".
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Notas do editor:

sábado, 12 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15846: Inquérito 'on line' (43): Um em cada quatro, de um total preliminar de 83 respondentes, diz que NUNCA apanhou nenhum pifo de caixão à cova... Dois não se lembram, um não bebia... Há ainda três dias para responder...


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971/72> O alf mil médico Mário Bravo, à direita, de perfil, entre os furriéis da companhia... Boa disposição, boa música, bom uísque (a garrafa mais pequena era de Old Parr, uísque velho)... Os nomes dos furriéis já se varreram da memória do nosso camarigo... O Mário Bravo não terá estado mais do que 4 meses em Bedanda (entre dezembro de 1971 e março de 1972, com algumas saídas, pelo meio, até Guileje, Gadamael e Cacine)...mas guarda boas recordações dos bedandenses.  A CCAÇ 6 era então comandada pelo jovem Cap Cav Carlos Ayala Botto, futuro ajudante de campo do gen Spínola.

Hoje cirurgião, ortopedista, reformado,  o Mário Bravo vive no Porto e já nos apareceu em Monte Real num dos nossos Encontros Nacionais da Tabanca Grande.  Já agora,  acrescente-se que, depois de sair de Bedanda, em março de 1972,  foi colocado no Serviço de Estomatologia do HM 241, em Bissau, onde aprendeu a tratar da dentuça do Zé Soldado.. Imaginem quem foi que um nm belo dia quem se sentou na cadeira do nosso camarada estomatologista ? Nem mais nem menos, o com-chefe e governador geral,  o gen Spínola (*)...

Foto: © Mário Bravo (2011). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



INQUÉRITO: 

"NUNCA APANHEI NENHUM PIFO DE CAIXÃO À COVA NA TROPA OU NO TO DA GUINÉ" (**)


Nº de respostas (preliminares) > 83


1. Nunca > 25 
(30,1%)



2. Uma vez, por acaso  > 21 
(25,3%)


3. Duas vezes  > 8 
(9,6%)

4. Três vezes  > 4 
(4,8%)

5. Mais vezes  > 22 
(26,5%)

6. Não me lembro  > 2 
(2,4%)

7. Não aplicável: não bebia  > 1 
(1,2%)


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Notas do editor:

Guiné 63/74 - P15845: Inquérito 'on line' (42): Eu, como 1º cabo radiotelegrafista STM e chefe de turno, não me podia dar ao luxo de apanhar um pifo de caixão à cova.... Alegre, sim, confesso que muitas vezes estive... (Belarmino Sardinha)

1. Mensagem do Belarmino Sardinha [ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia FormosaBissau, 1972/74; trabalhou na Sociedade Portuguesa de Autores; alentejano, vive hoje no Cadaval]:


Data: 10 de março de 2016 às 16:01

Assunto: Inquérito

Olá, Luis e Carlos,

Tenho respondido a quase todos,  se não mesmo a todos, os inquéritos que têm aparecido no blogue, mas confesso que a este, embora ainda não o tenha visto na página, a não ser o seu enunciado, porque nada me aparece para poder votar, gostava de sugerir uma pequena alteração: é que nunca apanhei nenhuma de caixão à cova pelo simples facto de não poder, caso isso acontecesse via-me a braços com uma porrada que podia levar-me a ainda lá estar a cumprir serviço.

Nós funcionávamos por turnos e individualmente e em caso de não comparecermos era complicado fazer uma substituição imediata, não havia reforços que previssem essas situações e também nem sempre tínhamos hierarquia de vigilância. No meu caso, enquanto estive em Bissau, ainda pior por, sempre que estive de serviço, ser o chefe do turno, sem qualquer autoridade e sem nada poder fazer a não ser informar depois superiormente se isso acontecesse.

Não me recordo de alguma vez ter acontecido. Qualquer bebida a mais tinha que ser curada antes ou marcada a presença mesmo que agoniado, com vómitos e mal disposto, isso sim, acontecia, a qualidade do serviço não sei, não posso avaliá-la.

Sugeria por isso que houvesse diferentes graus na pergunta, pois alegre confesso que muitas vezes estive, mesmo muitas, de caixão à cova só depois de estar cá, já descansado e com outras responsabilidades.

Não vejam aqui qualquer coisa que não esteja escrita, não havia meninos de coro nem éramos diferentes nem melhor que ninguém, acontece é que num grupo ou num pelotão pode faltar um elemento, mas onde um é a totalidade não pode faltar ninguém.

Penso que já em tempos escrevi onde referia que,  durante um período de convalescença de um camarada e amigo, bebíamos diariamente uma garrafa de gin, cada dia pagava um, daí resultar um dos estados de alegre em que me encontrei diversas vezes, mas não bêbado. Ou será que estava e não sabia e por isso não me lembro de muitas coisas hoje em dia?

Espero ter contribuído para poder melhorar o inquérito.

Um abraço,

BS

2. Comentário do editor:

A sugestão é bem vinda e faz todo o sentido. Simplesmente o inquérito já está no ar e o prazo de resposta acaba na 3ª feira, dia 15, às 18h00. Desde o momento que a malta começa a votar, já não é possível corrigir a pergunta ou as hipóteses de resposta, a não ser "remover" o questionário e fazer um de novo, sem possibilidade de recuperação das respostas já dadas...

E depois o inquérito só pode ter uma pergunta... E a pergunta tem que ser fechada (sim, não, talvez, não sei...). Não é nada flexível, mas o objetivo não é "científico": queremos apenas a pôr a malta a refrescar a memória e a escrever sobre  o "in illo tempore",  aquele tempo em que tínhamos idade para ter todos os sonhos e fomos mandados para a guerra...

Felizmente que não vivemos num país puritano (, pelo menos, por enquanto), e não é política, ética e socialmente incorreto recordar em público os "pecadilhos" da juventude passada, incluindo "pifos de caixão à cova" que apanhámos lá na "Guiné, longe do Vietname" (, como eu gostava de dizer, nas minhas cartas, que nunca pus no correio)... Um abraço valente... LG
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sexta-feira, 11 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15843: Inquérito 'on line' (41): "Nunca apanhei um pifo de caixão à cova na tropa ou no TO da Guiné"... (Comentários de Rui Santos, Manuel Luís Sousa, Orlando Pinela, Mário Gaspar)


As últimas garrafas de uísque
da Guiné (**)...Foto de Manuel
Traquina (2015)
1. Alguns comentários de grã-tabanqueiros, chegados à nossa caixa de correio, sobre o tema (candente) do álcool & seus derivados, consumidos no TO da Guiné, desde pelo menos 1961 até 1974... (*)

Tudo se bebia no TO da Guiné, mas o rei parece que era o destilado na Escócia, a 38º graus... E havia "scotch" para todas os gostos e até bolsas... entre os 50 pesos e os 150... (O de Sacavém ainda não se exportava para a Guiné, que eu me lembre... Era a bebida preferida dos "patos bravos" que proliferavam em Lisboa e arredores com o "boom" da construção)...

Havia quem preferisse o "gin" tónico, dizia-se que era o melhor "profilático" contra o paludismo... Mas que dava cabo da figadeira... em tempo recorde. Outros, seguramente a maioria, alinhava na cerveja... À hora da refeição (, quando não era "ração de combate"...) servia-se o  mais fraquinho, "martelado" ou "batizado", o da Intendência, também conhecido por  "água de Lisboa"...

Recorde-se que esta pitoresco designação era dada,   pelos nossos amigos guineenses,  ao "vinho"... Em dia de festa, abria-se uma garrafa de "verde", Três Marias, Gazela, Lagosta... Era caro, quase ao preço do "uísque"... E mauzinho, tipo pirolito, gaseificado... Vinho branco leve da Estremadur, levado para o norte, misturado com algum verde genuínio, "martelado", engarrafado e exportado para a tropa, que tinha algum poder de comora...  E foi lá, nos trópicos, que o português do sul, o alfacinha,  começou a apreciar os nossos verdes, que estão hoje na moda em todo o mundo, com o rei "Alvarinho" a dar cartas... O "tinto verde", o carrascão do Norte, esse não chegava lá... Dizia-se que dava-se mal com a passagem pelos trópicos... De resto, não se engarrafava!...

A "água de Lisboa", por sua vez, e antes de atravessar de trópico de Câncer, e ser descarregado em Bissau, chegava em pipas e toneis, através das fragatas de vela erguida, vinda "diretamente do produtor ao consumidor", ali aos cais ribeirinhos, do Tejo, no Poço do Bispo e no Beato, onde havia os grandes armazéns... E os maiores eram de um grande senhor, empresário, vitivinicultor, e armazenista vínicola, que   em 1910  havia mandado construir em Marvila o famoso edifício, conhecido como a "catedral do vinho"...

Referimo-nos, naturalmente, ao Abel Pereira da Fonseca, de quem se contava, certamente como anedota, as últimas palavras que terá proferido na derradeira hora da sua morte aos seus descendentes:  "Lembrem-se, meus filhos, que até da água se faz vinho" ou, noutra versão, não menos popular e jocosa, "lembrem-se, meus filhos, que enquanto houver água no Tejo, nunca deverá faltar vinho a Lisboa"... Não sei se os filhos ou os netos do Abel Pereira da Fonseca fizeram a tropa e foram parar à Intendência... A verdade é que havia sempre piadas ao "vinho" da Intendência. metendo esta história do Abel Pereira da Fonseca... Mas, não sejamos injustos para com os nossos bons camaradas da Intendência que, por certo, deram o seu melhor e alguns a vida, no TO da Guiné... E sobretudo não nos deixaram morrer de sede nos bu...rakos para onde nos mandaram!

Mas não é da "água de Lisboa", e do seu abastecimento, que queríamos falar... Mas, sim, das "bezanas"  ou "narsas" que a malta apanhou, algumas de caixão à cova, por muitas e variadas razões...  (Alguns, mais poetas, dizem que "melhor que as bajudas, eram o 'scotch' que fazia esqucer as bajudas", as de cá e as de lá)...

Das razões, algumas eram fáceis de explicar: misturas mal feitas, de "coisas" que não combinavam e continuam a não combinar bem,  por exemplo,  vinho + cerveja + uísque + licor de uísque ou edronho ou poncha... A primeira coisa que se aprendia, quando se era "periquito" (na Guiné e na ciência do álcool & seus derivados)  era ter cuidado com estas "misturas"... explosivas... Hoje os putos aprendem isso logo aos 15 anos... (Será ? Eles agora chamam "shots" a essas misturas; no nosso tempo só conhecíamos os "cocktails Molotov")...

Oiçamos, entretanto,  mais alguns camaradas que têm pequenas histórias para nos contar... Os outros façam o favor de ir respondendo ao nosso inquérito "on line", no canto superior esquerdo do blogue... Até 3ª feira, dia 15, às 18h04... Nesta matéria, toda a gente tem opinião, mesmo que nunca tenha apanhado nenhuma "cardina",,, LG
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(i) Rui Santos [ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, 
Bedanda e Bolama, 1963/65]


Apenas me lembro de uma [, "piela de caixão à cova"], pois a guerra, a vigilância interminável e o comando do pelotão destacado davam-me muita responsabilidade acrescida...

Uma tarde o sargento do destacamento dos armazéns de víveres foi lá abaixo ao meu aquartelamento, aboletado na povoação de Bedanda, encontrámo-nos na casa comercial do Sr. Abel, pessoa muito afável e bastante amigo meu, abriu uma garrafa de Vat 69 e, com Perrier, bebêmo-la os três em menos de 15 minutos...

É claro que a tal velocidade o álcool subiu de imediato, fui guiando o meu jeep até o destacamento do sargento, e saltou-me à vista (bem nublada) uma pele de cobra pregada numa tábua a secar ... Ele convidou-me para comer uma "canjinha" mas quando vi os pedaços de cobra, que pareciam filetes de linguado, recusei.

E aqui segue a História das duas bebedeiras que apanhei ... a 1ª e a última ...

(ii) Manuel Luís Sousa (#)

O meu testemunho sobre este tema, está em linha com os demais camaradas. Gostei imenso do produto escocês e,  num dos testes, foi uma de " Johnnie Walker",  simples e sem gelo, durante 1/2 hora para esquecer uma má situação. 

O que me safou foi o enf  Paulino,  hoje doutor no hospital do Funchal. E continuo adepto desse "digestivo".

(#) Um deles que desempate, temos dúvidas sobre o autor: Manuel Luís Nogueira de Sousa (ex-Fur Mil At Art da 1ª CART do BART 6520/73, Bolama, Cadique, Jemberém, 1974) ou Manuel Luís R. Sousa, Sargento-Ajudante Reformado da GNR (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74) ?...


(iii) Orlando Pinela [ex-1º Cabo Reab Mat da 
CART 1614/BART 1896, Cabedú, 1966/68]


Enquanto estive na Guiné não apanhei nenhuma piela a sério, ficava alegre e nada mais, isto é,  à base de bazucas.

Quanto a esquentamentos,  fui sempre cuidadoso, também nada.

Um abraço para a Direcção da Tabanca.




Sobre a bebida há muito que contar. Pergunto se vale a pena destilar uma Piscina Olímpica de 100 metros. Deve ter sido o que bebi. 

Cerveja nunca faltou. Faltou tudo, mas cerveja,  que me lembre, não, em Guileje após  emboscada no meu "corredor" favorito.

Luís e Carlos, valerá a pena perder o meu latim, se toda a Tabanca se cala?


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quarta-feira, 9 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15835: Inquérito 'on line' (41): "Nunca apanhei um pifo de caixão à cova na tropa ou no TO da Guiné"... (Comentários de Luís Graça, Abílio Duarte, Francisco Baptista e Valdemar Queiroz)

Valdemar Queiroz, CART 11, Nova Lamego, c. 1969-70
Enquanto está a decorrer esta semana mais um inquérito 'on line', aqui ficam alguns comentários ao poste do Valdemar Queiroz, P15827 (*)

(i) Luís Graça, editor 

Valdemar, meu camarada de Contuboel (, que pena não termos uma foto em conjunto, foi escasso o nosso convívio, de menos de dois meses!), acompanho-te na pergunta: quem nunca apanhou um pifo na Guiné, daqueles de caixão à cova, pois que levante, não o copo, mas a garrafa vazia!...

Até os oficiais superiores apanhavam pifos, na nossa guerra!... E até os puritanos que pregavam a lei da abstinência (alcoólica e sexual): "Quem não sabe beber vinho, que beba merda!"... Ora merda era o que a gente comia e bebia quando ia para o mato... Ou dentro do "quartel" (, melhor dizendo, bu...rako, para muitos de nós)... Merda era, afinal, aquela guerra a que fomos condenados!...

É uma boa pergunta para um próximo inquérito de opinião... (**)


(ii) Abilio Duarte:

Nós, na CArt 11, éramos uns sortudos, pois tínhamos vinho e whisky, como mato, como a companhia era de africanos, e eles não bebiam bebidas alcoólicas, e tínhamos a mesma dotação, que uma companhia de brancos, era uma alegria. Eu tinha uma embalagem de morteiro 60, carregada de garrafas, pois, além das 2 obrigatórias, podia comprar as que quisesse.

Como andei muito no mato, e sempre fui bem recebido, por toda a gente, quando esses amigos passavam, pelo nosso Quartel em Nova Lamego, tinha muito gosto em retribuir, essa amizade com uma garrafa do dito escocês. Muitas vieram para Portugal, ainda vieram comigo quase quarenta garrafas, a maior parte de whisky. Mas fui apanhado no Aeroporto de Lisboa (lembras-te, Queiroz?), mais o Matias e tu, e tivemos que pagar imposto. Tu que escreves bem, conta aí essa nossa aventura no Aeroporto.


(iii) Francisco Baptista:

Estava à espera do testemunho de outros camaradas para ganhar coragem. Afinal só apareceu o nosso professor e mestre Luís Graça a confessar esses pecados mas o testemunho dele traz a compreensão e absolvição do sociólogo. Isso me basta.

Em Buba, uma noite, com o quartel cheio de gente, pois a coluna de reabastecimento do batalhão não pôde regressar por causa do mau tempo, houve uma bebedeira geral com muito alarido. Imaginem o exemplo e o espectáculo de um capitão e alguns alferes aos tiros para o ar. O capitão seria conduzido à enfermaria para levar uma injecção. Eu não tive necessidade disso mas fiz bem o meu papel.

Em Mansabá contrariamente aos soldados da companhia de madeirenses que gastavam todos os trocos em cerveja os graduados eram no geral bastante abstémios. Lá nunca participei em grandes festas de cerveja mas passei a beber muita água do castelo com gelo e whisky. Era um refresco que me dava boa disposição físíca e mental. Com a companhia já quase de partida para Bissau, a aguardar o regresso, roubei uma garrafa de whisky ao Marques, furriel enfermeiro, de quem era amigo, convidei-o para beber dela e ele quando soube não gostou nada desse meu abuso. Mais tarde fiquei com remorsos, que ainda hoje não me largaram, já procurei o Marques para lhe dar uma boa garrafa para o compensar mas o Carlos Vinhal, também dessa companhia, já há decadas que lhe perdeu o rasto. 

Tu camarada, Valdemar Queiroz, curaste-te, pelos vistos com uma garrafa. Eu como sofria dum mal maior, gastei muitas com o tratamento.

O camarada Abílio Duarte diz que comprou muitas, confessa que trouxe muitas e que ofereceu a amigos mas não diz se ele as bebia como remédio para a dor de dentes ou para brindar à vida e esquecer a puta da vida que nos tinha calhado na roda da fortuna.


(iv) Abilio Duarte:

Francisco Baptista, bebi muitas,e hoje ainda bebo, e posso dizer, que é o que me traz de pé.
Muitas noites na varanda da nossa messe, em Nova Lamego, onde a malta que estava de descanso, ao som de uma boa música, no meu leitor de cassetes, conversando e jogando umas partidas de Copas, ou King, lá passamos bons bocados.

Não me esqueço de um dia em que estava de Sargto. de Dia, e o Furriel Macias, chegou de férias do continente, trazendo uns enchidos, da terra dele, Aldeia Nova de São Bento, apanhei, uma piela de todo o tamanho. Durante uns tempos nem podia tocar no whisky, e virei-me para o Gin.
Mas em Paúnca, voltei a apreciar o escocês até hoje.


(v) Valdemar Queiroz

Viva, meu camarada Luís Graça.

É verdade: quem nunca apanhou um grande pifo que levante o primeiro copo. (excelente revisão Luís).

Uns mais outros menos, por lá se apanharam grandes bezanas, umas por festejos, outras por nem tanto, muitas pelo stresse e outras por nenhuma razão.

Suas excelências também se atiravam aos copos, daí não vem mal nenhum, também por lá andavam, por profissão, o mal era quando os senhores da guerra com uns copos a mais faziam perigar muita gente. 

Vendo bem, já na altura nos parecia que por cá todas as extraordinárias excelências estavam com uma grande e prolongada bebedeira. Ao menos podiam ter procedido como qualquer bêbado e apenas dar vivas à república, mas não. Era uma bebedeira sem lucidez, era uma bebedeira violenta, era uma bebedeira de guerra.

Nós na CArt 11, nesses momentos, sempre trauteávamos ...Ó bioxene... ó bioxene, fazendo lembrar a letra da canção do John Lennon 'Give a chance ...'

Quanto ao nosso relacionamento em Contuboel, com certeza que tivemos troca de opiniões. Para ser franco eu não me lembro com nitidez da rapaziada da futura CCaç 12. Lembro-me das vossas tendas (Tarrafal), lembro-me do Sargento Piça e, principalmente, do Levezinho,  por ser familiar dum colega de trabalho e julgo que do râguebi na Amadora, mas não mais que isto a não ser que os soldados do meu pelotão de instrução foram todos para a vossa Companhia, ex.,  Umaro Baldé, Sori,  J. Carlos Suleimane Baldé, Cimba, Cherno e muitos outros.

Quanto às garrafas de bioxene que o Abilio Duarte se refere na Alfandega do Aeroporto da Portela, já contei o episódio no blogue, mas qualquer dia volta à cena por ser absolutamente delirante.

PS - A grande canção e grande música de John Lennon é "GIVE PEACE A CHANCE" [, 1969,][clicar aqui aqui para o vídeo no You Tube].

Oiçam e digam se não parece que é cantado: Ó bióxe..ne ... Ó bióxe..ne. ..Ó bióxe..ne...Ó bióxe...ne. (Era assim trauteada, quando se estava mais ou menos com os copos. Oiçam e arranjem uma tradução da letra). (***)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15827: (De)caras (35): Quem nunca apanhou um pifo, de caixão à cova, que levante o primeiro copo!... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

(**) Último poste da série > 6 de março de  2016 > Guiné 63/74 - P15825: Inquérito 'on line' (40): Num total de 126 respostas, quatro razões principais são apontadas em termos de "problemas" das NT logo no início da guerra: (i) Deficiente instrução (73%); (ii) Deficiente equipamento (63%); (iii) Cansaço (62%); e (iv) Instalações inadequadas (61%)

(***)  Eis a letra original e uma tradução [, Cortesia do sítio brasileiro Vagalume]

Give Peace A Chance

Two, one two three four
Ev'rybody's talking about
Bagism, Shagism, Dragism, Madism, Ragism, Tagism
This-ism, that-ism, is-m, is-m, is-m
All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance

C'mon
Ev'rybody's talking about Ministers
Sinisters, Banisters and canisters
Bishops and Fishops and Rabbis and Pop eyes
And bye bye, bye byes

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance

Let me tell you now
Ev'rybody's talking about
Revolution, evolution, masturbation
flagellation, regulation, integrations
meditations, United Nations
Congratulations

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance

Ev'rybody's talking about
John and Yoko, Timmy Leary, Rosemary
Tommy Smothers, Bobby Dylan, Tommy Cooper
Derek Taylor, Norman Mailer
Alan Ginsberg, Hare Krishna
Hare, Hare Krishna

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance


Dê uma chance à paz

Um, dois, três, quatro
Todos estão falando sobre
Bagismo, Shaguismo, Draguismo, Madismo, Ragismo, Tagismo
Esse ismo, ismo, ismo
Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz
Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz

Qual é
Todos estão falando sobre Ministro
Sinistro, Corrimãos e Latas
Bispos, Peixes, Coelhos, Olhos Abertos
E tchau, tchau

Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz
Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz

Vou falar agora
Todos estão falando sobre
Revolução, Evolução, Masturbação
Flagelação, Regulação, Integrações
Mediações, nações unidas
Parabéns

Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz
Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz

Todos estão falando sobre
John e Yoko, Timmy Leary, Rosemary
Tommy Smothers, Bobby Dylan, Tommy Cooper
Derek Taylor, Norman Mailer
Alan Ginsberg, Hare Krishna
Hare Hare Krishna

Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz
Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15397: (Ex)citações (301): O álcool na génese de não poucas baixas mortais no CTIG: relato de um quase acidente que se passou comigo, e que podia ter resultado em tragédia (Abílio Magro, ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG, Bissau, 1973/74)

1. Mensagem de ontem do Abílio Magro, ex-fur mil amanuense,  CSJD/QG/CTIG (Bissau, 1973/74), com a seguinte nota:

 "Caros camaradas destas e de outras lides: Aqui vos envio mais uma pequena peripécia (uma rapidinha) vivida por um bravo do ar condicionado durante o seu "martírio" por terras de Kaku Baldé.
Abraços".

Acontece que esta história já fora publicada, na série "Um Amanuense em terras de Kako Baldé ", há um ano e meio atrás  (*)... O Abílio já não se devia lembrar...Mas merece ser de novo reproduzida aqui (**), tendo em conta  a questão da existência ou não de "batota", na classificação das nossas "baixas" (por acidente, doença e em combate), ainda recentemente objeto de debate no nosso blogue.

Esta história ilustra muito bem a arte lusitana do "desenrascanço" (por exemplo, na gestão de conflitos). Também pode servir para ilustrar um certo "nacional-porreirismo" e, seguramente, a camaradagem que existia entre nós, no TO da Guiné, independentemente do sítio onde se estava, não sendo relevante, para o caso, a distinção  entre quem estava no mato ou em Bissau... Camaradagem também significava bom senso  e recusa do militarismo do RDM...

Por fim, o caso aqui relatado pelo Abílio chama a atenção para o grave problema do álcool em tempo de guerra: já antes tinham sido publicadas outras histórias com casos  que originaram tragédias (***)... As baixas mortais que daí resultaram foram classificadas, eufemisticamente, como "acidentes"...  Mais uma vez o nosso "nacional-porreirismo"...

Também ficamos a saber que a PIDE/DGS, em Bissau,  tinha as "costas quentes", ou melhor, sabia que podia dormir decansada,  com segurança militar à porta, de noite e de dia... Sinais dos tempos. 

Acrescentámos os comentários que, na altura, foram feitios e enriqueceram o poste do Abílio Magro. LG
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Pelas tarefas que desempenhava na CSJD/QG/CTIG (Serviço de Justiça), fui-me apercebendo que muitas doenças, ferimentos e até mortes, eram resultantes do abuso na ingestão de bebidas alcoólicas, mas quem, durante a sua comissão, não apanhou a sua "tosgazita"?

Porém, quando estamos num TO e somos possuidores de uma arma de guerra, uns copitos com os camaradas e algum descontrolo, podem resultar em tragédia. 

Este pequeno episódio que se passou comigo é bem elucidativo disso mesmo, e se o multiplicarmos por dezenas, ou até centenas (durante toda a guerra colonial, talvez milhares) e o transpusermos para uma qualquer companhia no mato, não será difícil adivinhar a quantidade de incidentes com finais trágicos que ocorreram durante aquela guerra.

Numa das minhas muitas seguranças nocturnas que fiz às instalações da PIDE-DGS em Bissau, junto ao bairro do "Pilão", comandando um pequeno grupo de 6 ou 7 homens, deu-se um episódio que me deixou bastante incomodado e "acagaçado". 

O pessoal que integrava estes pelotões pertencia à CCS/QG e apresentava-se à noite para efectuar o "serviço" já bastante cansado das muitas picadas percorridas durante o dia entre gabinetes e, alguns, com muitas paragens para reabastecimento no Bar. 

Por norma estacionávamos numa pequena ruela, nas traseiras da DGS, que dava acesso ao Bairro do Cupilom e ali, junto a uma palhota, o pessoal "ferrava o galho" com uma "pinta do caraças"!
Eu nunca dormia e não era por medo ..., não senhor! Era pelo meu elevado sentido de responsabilidade e pela obrigação moral de zelar pelo merecido descanso daqueles bravos militares. 

Nessa noite, íamos talvez fazer o turno das 00h00 às 04h00 e tínhamos acabado de chegar ao "objectivo" quando entra na ruela um táxi conduzido por um negro e com um "pendura" negro 
também.
De repente, um "fabiano" do pelotão manda parar o táxi, puxa a culatra a trás, e apontando a arma ao "pendura", indaga: 
- "Quem és tu, para onde vais!?" 

Oh balha-me Deus, carago, que é isto!? Pergunto-me a mim próprio, completamente abananado. 

Passados uns segundos logo me apercebi que o "fabiano" estava com uma valente "tosga", daquelas chamadas de "caixão à cova". Ai meu Deus se o gajo dispara aquela merda!
Com pinças e tentando manter a calma do "fabiano" (eu tremia todo e devia estar azul - ai s'aquilo dispara!), a muito custo, mas muito de levezinho, lá consegui retirar-lhe a arma e desarmá-la, apetecendo-me logo de seguida dar-lhe uma valente coronhada na "tola", mas, lembrando-me de algumas "tosgas" próprias, lá pedi desculpas ao taxista e Companhia e mandei-os seguir viagem. 

Pelo "telemóvel" contactei o Alferes Mil de prevenção (um amigo dos tempos do QG de Lisboa) e, com receio de possíveis escutas, disse-lhe apenas que precisava da presença dele pois havia um pequeno problema. 

Apareceu passado pouco tempo de Unimog e com mais um pelotão, meio abananado também por não perceber o que se estava a passar. 

Chamei-o à parte e lá lhe contei o que acontecera. Substituiu-se o "fabiano" que seguiu de Unimog 
para o Quartel e tudo o resto decorreu normalmente. 

Acordamos depois que não faríamos qualquer participação e o "fabiano" livrou-se duma valente "porrada". 

Eu ..., apanhei mais um valente "cagaço".

Abílio Magro
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Notas do editor:


Comentários:

(i) JD disse...

Caro Abílio,

Bom regresso ao meio tabancal. A minha intervenção agora tem a ver com o epíteto "fabiano". Retenho que foste contemporânio do Fabião, pelo que associo o termo ao nome do futuro comandante da entrega da Guiné. Asim, peço-te para me esclareceres, se sim, ou não, a associação existe, e em que circunstâncias o pessoal recorria ao termo "fabiano".

Um abraço
JD



(ii) Abílio Magro disse...

Caro JD:
"Fabiano" nada tem a ver com o Brig Carlos Fabião e trata-se de um termo que ouvi algumas vezes ser usado por militares do QP quando se queriam referir a um qualquer militar do QC e outras pessoas usam-no em vez de "fulano", por brincadeira, como é o meu caso.

Durante a minha passagem pela Guiné nunca me apercebi de que fosse comum entre os militares.
Abraço

(iii) Abílio Magro disse...

O texto que enviei terminava assim: Eu ..., apanhei mais um valente "cagaço".
O camarigo Carlos Vinhal resolveu não incluir a última frase que, efectivamente, é perfeitamente desnecessária por se encontrar sobejamente implícita nos outros postes que enviei.
Sempre atento o nosso Editor-Mor!
Abraço


(iv) Abílio Magro disse...

fabiano
adjetivo
HISTÓRIA relativo a Fábio, general e estadista romano (275-203 a. C.)
nome masculino
1. HISTÓRIA antigo sacerdote romano
2. popular indivíduo indeterminado
3. popular indivíduo inofensivo
4. membro da associação socialista inglesa, Fabian Society, criada em Londres em 1863
(Do latim Fabiānu-, «Fabiano»)

fabiano In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014.
(v) JD disse...

caro Abílio,
Muito obrigado pela diligência explicativa. Com isto acabo de enriquecer o meu léxico.
Manda mais, que voltarei a pedir-te ajuda, se me esquecer da Infopédia.
Um abraço
JD



(vi) Carlos Esteves Vinhal disse...

Calma e pára o baile!!!
O editor não corta nada, pelo menos sem antes "conversar" com o autor dos textos.
Não consigo justificar a falta da última frase que já foi posta no seu sítio.
Ao camarada Abílio Magro as minhas desculpas.
Carlos Vinhal
Co-editor


(vi) Abílio Magro disse...

Ok, siga o baile!


(vii) Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Já fazia tempo que não tínhamos recordações de Abílio Magro (amanuense, porra!), lembram-se?

E desta vez contempla-nos com um pedaço da sua vida atribulada em Bissau.´

O 'pessoal do mato' costuma falar depreciativamente dos que estavam em Bissau. É natural, faz parte do modo de estar em zona de guerra, essa confrontação entre os que estão 'no mato' e os que estão no 'bem bom', no 'ar condicionado'...

Mas, a verdade, é que várias situações perigosas também aí sucediam. Quem não se lembra das questões, com vítimas, entre elementos das nossas "especiais"? Dos problemas com os fuzileiros? E os paraquedistas? E o Pilão (Cupilom)?
Portanto, este relato é apenas mais uma amostra de como nem tudo era 'pêra doce'.

Abraço
Hélder S.

(**) Vd. poste de 22 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15395: (Ex)citações (300): (i) Conheci de perto, em Alhandra, o Conjunto Académico João Paulo... Ouvi-os ensaiar vezes sem conta... Fiquei farto... Mesmo assim preferia-os a eles a ter que ouvir, até à exaustão, nos "rangers", em 1966, o "Sambinho Chato" e o "Et Maintenant" (Mário Gaspar); (ii) link com a canção "O Salto" (EPI, Mafra, 1966) (Inácio Silva)

(***) Vd. por exemplo poste de 23 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9256: À margem da história oficial ou oficiosa (2): A tragédia, em São João, que ensombrou o Natal de 1966 da CART 1613: o assassínio do Cap Fausto Ferraz, substituído depois pelo Cap Eurico Corvacho (que morreu anteontem)