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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19108: 'Então, e depois? Os filhos dos ricos também vão pra fora!'... Todos éramos iguais, mas uns mais do que outros... Crónicas de uma mobilização anunciada (1): Valdemar Queiroz (ex-fur mil at art, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > Centro de Intrução Militar (CIM) > CART 2479 / CART 11 > c. março/maio de 1969 > O instrutor (Valdemar Queiroz) e o recruta (Umaru Baldé, "menino de sua mãe")... Afinal, todos portugueses, todos iguais, mas uns mais do que outros...

Foto: © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso camarada C. Martins (ex-alf mil art, cmdt, 23º Pel Art, Gadamael Gadamael, 1973/74),  citava há tempos o seu avô que, na inauguração da escola lá da terra, em pleno Estado Novo, ouviu da boca de um manda-chuva esta "verdade sociológico": "O escritório, para o rico; a enxada, para o pobre"... No fundo, é uma variante do ditado alentejano: "A rica teve um menino, a pobre pariu um moço"...

Não nascemos nem morremos iguais, embora sejamos todos feitos - com a sua licença, caro leitor -,  da mesma "merda"... E, ao longo da vida, há outros fatores que nos continuam a diferenciar...No caso da tropa, da arma e da especialidade, e da mobilização para o Ultramar, o estatuto sócio-económico dos pais, as habilitações literárias, os testes psicoténicos, o mérito, a instrução militar e o famoso factor C [, a "cunha") e, já agora, a "sorte" e os "santinhos"... ajudam a explicar muita coisa...

Com graça, mas naturalmente de forma redutora,  o C. Martins dizia que o "pobre" ia para atirador de infantaria, o "remediado" ia para cavalaria, o "remediado com estudos" para a artilharia... e os  "ricos" e os gajos com cunhas, esses, desenrascavam-se muito melhor: tinham especialidades que os livravam de ir para o Ultramar ("ir para fora"...) ou ficavam no "ar condicionado" de Bissau, Luanda ou Lourenço Marques... 

O retrato pode ser grosseiro, mas, na época da guerra colonial, não andaria muito longe da "verdade sociológica"... Na sociedade portuguesa ser "filho de algo" sempre foi, historicamente, importante, se não mesmo decisivo. O mérito é uma noção recente, capitalista, burguesa, coisa de há menos de 100 anos... E a "cunha" (o factor C)  era como as bruxas: que as havia, havia, e toda a gente "mexia os seus pauzinhos"...

A este propósito o nosso editor, LG, lançou este desafio (que alguns poderão interpretar como uma "provocação", mas que não é: é amtes uma "provação", ou melhor, uma "prova de vida"...):

Camaradas: toda a gente, fosse "rico", "remediado" ou "pobre", do Exército, da Marinha ou da FAP, tem opinião sobre este "tópico"... Tirem a "máscara" e comentem... 50 anos depois não vale a pena levar segredos para a cova... E um gajo, a ter de confessar-se, deve ser agora, aqui e agora, à sombra do poilão da Tabanca Grande... antes do Parkinson, do Alzheimer, do AVC, da morte macaca ou do cancro da próstata... (De que Deus nos livre!)

Já começaram a aparecer os primeiros escritos, sob a forma de comentários... Outros se seguirão, mais curtos ou compridos, mais finos ou mais grossos... Vamos dar início a uma série, aproveitando a frase da mãe do Valdemar Queiroz que, resignada, comentou, ao receber a notícia da sua mobilização para o Ultramar:  "Então, e depois?... Os filhos dos ricos também vão pra fora!"...

De qualquer modo, há uns largos anos atrás, em 2009, tínhamos criado uma série intitulada "O trauma da notícia da mobilização"... Publicaram-se então nove postes...   A nova série de hoje  dá continuidade a essa...  LG


2. Depoimento do Valdemar Queiroz [ex-fur mil at art, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70] [, foto atual à esquerda]

Sobre cunhas, principalmente em Especialidades com pouca rotação/mobilização (ex.: munições de artilharia, topógrafo de artilharia, transmissões de artilharia), a cunha estava feita para a Especialidade e, depois, se corresse mal havia os 'mata pra fora', ou seja quando havia um com boa nota e não se importava, a troco duns contos de réis, de ir 'pra fora' no lugar dele.

Aconteceu no RAP3, Figueira da Foz, com um cabo miliciano. meu conhecido, e um jogador de futebol dum clube grande. 

Mas, isto de Santa Bárbara, padroeira da Artilharia, bem se podia rezar por ela, que em novembro de 1967, todos os que estavam na EPA, Vendas Novas, ficaram com todas as fardas ensopadas durante três dias.

Quanto ao dia do conhecimento da mobilização estava no RAP3, já com 16 meses de tropa e não me lembro como foi passado. Apenas me recordo, ainda com muita mágoa, ter telefonado à minha mãe e ela me dizer:
- Então, e depois?, os filhos dos ricos também vão pra fora!...

Pobre coitada,  assim já tinha motivo pra rezar a todos os santinhos. (*)

Valdemar Queiroz
________________

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19106: (Ex)citações (345): a Pátria, a classe social, a cunha, o mérito, os "infantes"... e que Santa Bárbara nos proteja!... (C. Martins / Luís Graça)


Imagem extraída do sítio Centro Pai João de Angola, Maringá, Paraná, Brasil (com a devida vénia...). Este portal está ligado à religão Umbanda (, afro-brasileira). Mártir cristã, nascida (c. 280) e morta (c. 317) em Nicomédia (atual Izmit, Turquia),  Bárbara de Nicomédia (, hoje Santa Bárbara) é venerada por católicos, cristãos ortodoxos e seguidores das religiões afro-brasileiras (em especial a Umbanda). É padroeira dos artilheiros, mineiros e dos que lidam com o fogo (bombeiros); protetora contra tempestades, raios, trovões, incêndios e explosões. É particularmente popular, o seu culto ou devoção, em Portugal e no Brasil. Mas, lá diz o ditado, "só se lembram de Santa Bárbara quando troveja"...

Oração a Santa Bárbara, reproduzida na Wikipédia, em língua portuguesa:

"Santa Bárbara, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos furacões, fazei que os raios não me atinjam, os trovões não me assustem e o troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura. Ficai sempre ao meu lado para que possa enfrentar de fronte erguida e rosto sereno todas as tempestades e batalhas de minha vida, para que, vencedor de todas as lutas, com a consciência do dever cumprido, possa agradecer a vós, minha protetora, e render graças a Deus, criador do céu, da terra e da natureza: este Deus que tem poder de dominar o furor das tempestades e abrandar a crueldade das guerras. Por Cristo, nosso Senhor. Amen."

1. Comentário de C. Martins  (ex-alf mil art, cmdt, 23º Pel Art, Gadamael  Gadamael, 1973/74), com data de 11 de fevereiro de 2014  (*)


"O rico é para o escritório...O pobre é para a enxada"...

Para lá caminhamos... O gajo que proferiu esta pérola, na inauguração da escola da minha terra em 1938, ia levando uma carga de porrada, disse-me o meu Avô.

Não estive em Tavira [, no CISMI,] mas parece-me que aquilo era destinado para "infante",  defensor da "pátria", sofrer...

O "pobre", ou sem cunhas ía para "infante", defender a... a...isso..

O "remediado" para cavalaria. O "remediado intelectual"...ah, ah.. para artilharia..

O "rico", ou com uma grande cunha,  para aquelas especialidades... mais ou menos..., não precisava defender a dita... que isso é para "pobre".

Vivam os infantes e também Santa Bárbara.

Ámen!

C. Martins

2. Comentários de LG (*):

(...) O "pobre" ou sem cunhas ía para "infante"...defender a... a...isso.. O "remediado" para cavalaria. O "remediado intelectual"...ah ah... para artilharia... O "rico",  ou com uma grande cunha,  para aquelas especialidades...mais ou menos... não precisava defender a dita... que isso é para "pobre" (...)

C. Martins: levantas uma questão interessante, que deveria merecer a atenção de sociólogos e historiadores da guerra colonial: a composição e a estratificação sociais das Forças Armadas Portugueses...

Em tempo de guerra, quem é que ia integrar as fileiras do Exército, Marinha e Força Aérea ?... Quem é que preenchia os "quadros de complemento" do Exército ? Ou quem é que ia para a "Reserva Naval" ?

Não sei exatamente em que altura foram introduzidos os "testes psicotétnicos"... A noção relativa de "mérito" já existia, mas eu tenho a impressão de que uma "valente cunha" se sobrepunha a tudo e a todos... E a "cunha" era usada a todos os níveis, ou pelo menos por quem podia... Por exemplo, às vezes a melhor cunha era ser-se filho... do rendeiro de um coronel ou general, lá do Norte... Ou de um político influente lá da terra... Ou então ter-se 200 contos, em "cash", para pagar a um médico do Hospital Militar Principal... Com 200 contos, comprava-se um apartamento em Lisboa...

Eu sei que o assunto é delicado, e que quem foi à Guiné não tem  em princípio histórias para contar sobre este tópico, na primeira pessoa do singular... Quem foi parar com os quatro costados à Guiné, como infante, artilheiro ou cavaleiro, é porque decididamente não tinha "cunha".... Mas no nosso blogue não há tabus... Ou não devia haver. (...)

 (...) "O soldado de infantaria é aquele que vive, vigia, sofre e combate na lama, no pó e no sangue, aquele que tirita sem abrigo e sofre privações, fadigas e horrores de toda a espécie. É aquele que no ardor da luta vê o inimigo cara a cara, que não combate só com as suas armas, mas com toda a sua alma. Ele é a verdadeira sentinela da Pátria.” 

[Fonte: "Guia do Instruendo",  CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, c. 1968] (*)

Confesso que nunca tinha lido (ou já não me lembrava de) esta lapidar e dramática definição de um infante... Cai que nem uma luva em muitos de nós que, infantes ou não, conhecemos o duro teatro operacional da Guiné, as picadas, as savanas arbustivas, as florestas galeria, os rios e braços de mar, as bolanhas...

Só pode ser da autoria de um poeta, que tenha feito a guerra das trincheiras em La Lyz, em 1918... Na guerra de contraguerrilha era difícil ficar de cara a cara com o IN, a não ser quando morto ou aprisionado... Quanto ao resto, estão lá os ingredientes todos: o lodo, o tarrafe, o sangue, a merda, mais os mosquitos, as formigas, as abelhas, as balas das "costureirinhas", as minas, os roquetes, as morteiradas... (**)

Camaradas: toda a gente, fosse "rico", "remediado" ou "pobre", do Exército, da Marinha ou da FAP,. tem opinião sobre este "tópico"... Tirem a "máscara" e comentem... 50 anos depois não vale a pena levar segredos para a cova... E um gajo, a ter de confessar-se, deve ser agora, aqui e agora, à sombra do poilão da Tabanca Grande... antes do Parkinson, do Alzheimer, do AVC, da morte macaca ou do cancro da próstata... (De que Deus nos livre!)
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12703: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (1) : Parte I (1-6 pp.)

(**) Último poste da série > 30 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19058 (Ex)citações (344): os canhões... de Bigene!... No tempo da CART 3329 (1970-1972) e depois no meu tempo, de outubro a dezembro de 1972, havia 3 obuses 14 (140 mm) e 5 morteiros 81 (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74)

sábado, 10 de março de 2018

Guine´61/74 - P18397: Álbum fotográfico do João Martins (ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69) - Parte I: A caminho de Piche, con 3 peças de artilharia 11.4, em setembro de 1968


Foto nº 89/199: > Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 > A caminho de Piche,  o novo destino do Pel Art.


Foto nº 81/199: > Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 >  Picada a caminho de Nova Lamego. Só mais tarde é que foi construída uma estrada alcatroada entre Bafatá e Nova Lamego, com seguimento até Piche.



Foto nº 90/199 > Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 > Paragem obrigatória para descansar... Rm primeiro plano, uma das 3 peças de artilharia, 11.4


Foto nº 63/199 > Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 > LDG 101, "Alfange", no cais de Bissau


Foto nº 68/199 >   Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 > A bordo da LDG 101, "Alfange"   > As peças de artilharia 11.4. ao lado de garrafões de vinho...



Foto nº 73/199 >  Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche >Setembro de 1968 > Chegada da LDG 101. "Alfange",  ao porto fluvial de Bambadinca,


Foto nº 76/199 > Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 > Em Bafatá, com as peças 11.4 à espera de prosseguirem, em coluna auto, até Piche, via Nova Lamego.



Foto nº 81/199 > Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 > Partida de Bafatá


Foto nº 82/199 > Coluna Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 > Chegada da coluna auto a Nova Lamego


Foto nº 94  A/199 > Região de Gabu > Piche > Setembro de 1968 > Finalmente as peças em posição e com bidões de proteção (1)



Foto nº 94 /199 > Região de Gabu > Piche > Setembro de 1968 > Finalmente as peças em posição e com bidões de proteção (2)



Foto nº 95/199 > Região de Gabu > Piche > Setembro de 1968 >  O régulo de Piche veio, em nome da população, dar as boas vindas ao Pel Art e ao seu comandante, o alf mil Art João Martins. Missão cumprida.


Foto nº 96/199 > Região de Gabu > Piche > Setembro de 1968 >   O disparo de uma peça 11.4


Fotos (e legendas): © João José Alves Martins (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Depois de ter gozado um merecido mês de férias, na metrópole, em agosto de 1968, o João Martins regressou ao CTIG, para ompletar a segunda parte da sua comissão de serviço. Em setembro de 1968,  lá o vemos a caminho de Piche, ma região de Gabu, com o seu Pel Art e 3 peças de artilharia 11.4... 

Estas fotos, editadas, que reproduzimos acima são relativas à coluna que, partindo de Bambadinca,  tinha como destino Piche, passando por Bafatá e Nova Lamego,

As peças (e o pessoal) vieram de LDG (Lancha de Dsembarque Grande) de Bissau, até Bambadinca, tendo feito portanto o incrível troço do Geba Estreito (a partir do Xime),

Há diferenças entre a peça 11.4 e o obus 14, que não são imediatamente percetíveis pelos "infantes" (como nos chamam, à nós, pessoal de infantaria, os nossos camaradas artilheiros, com humor e algum paternalismo...).

Recorde-se:

(i) o João José Alves Martins foi alf mil art do BAC 1 (Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69); e entrou para a Tabanca Grande em 12 de fevereiro de 2012.

(ii) ele chega a Bissau em 19 de dezembro de 1967 (e só regressará à metrópole nos princípios de janeiro de 1970).

(iii) a Bataria de Artilharia de Campanha [BAC] nº 1 é uma  unidade de recrutamento da província com cerca de 25 pelotões de artilharia (Pel Art) de soldados de todas as etnias, espalhados por muitos dos aquartelamentos do território da Guiné.


2. Sobre o obus  14 (cm e não mm...), ele já nos deu as seguintes explicações técnicas:

(...) 14 cm é  o diâmetro da alma do canhão. Recordo que um obus é constituído por "reparo", a parte que assenta no chão e que tem duas "flechas" à retaguarda para que não recue, o "canhão" que começa na "culatra" que é a parte onde se colocam as "granadas" e os "cartuchos" com diferentes dimensões e cargas, conforme a força impulsionadora que se pretende, e que está relacionada com a distância, e, finalmente, a "massa recuante" que é o sistema hidro-pneumática  que, após o tiro, leva o "canhão" à posição inicial. 

Quando estive em Bedanda, e antes de rumar a Gadamael-Porto, com destino a Guileje, os 3 obuses estavam dirigidos para 3 direções bem distintas porque os ataques eram provenientes de 3 lados bem diferenciados, pelo que, regra geral, não disparavam simultâneamente, além de que estavam em extremos do aquartelamento. 

Recordo-me que um dia, alguém vestido de modo "estranho" me perguntou se os obuses disparavam só para longe, ou, também, para perto. Respondi que só para longe. É claro que,  naquela noite, perceberam quando queriam entrar no aquartelamento, que também disparava para perto. Os africanos que se encontravam no interior da moranças é que não gostaram do "festival" porque as granadas, que pesam 45Kg, passaram-lhes a rasar, eu diria que entre 1 metro e 2metros. Numa das fotografias das minhas memórias, vê-se um furriel a acimentar o chão, onde o obus rodava... Enfim, algumas das minhas muitas recordações...que não esquecerei facilmente.. (...) (**)

No essencial,  pode dizer-se o seguinte:

(i)  a peça de 11.4 cm e o obus 14 cm eram parecidos (mesmo reparo );


(**) Vd. poste de 8 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18391: (D)o outro lado do combate (21): "Plano de operações na Frente Sul" (Out - dez 1969) > Ataque a Bedanda em 25 de outubro de 1969 (ao tempo da CCAÇ 6, 1967-1974) - II (e última) Parte (Jorge Araújo)

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18277: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (54): lusitos e infantes da Mocidade Portuguesa, uns, ou da "Mocidade Tareco", outros... Lá íamos "cantando e rindo"...









Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Miúdos da Mocidade Portuguesa  (MP) local, trajando  de acordo com o figurino, com exceção dos sapatos (que deveriam ser pretos)... Mas a MP, na Guiné, não era para todos e, já nessa época, estava em franca decadência  na metrópole, desde o final da II Guerra Mundial... No meu tempo, os jovens mais politizados ou simplesmente mais contestatários  chamavam à organização, com desprezo, a "Bufa"...


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (*)




Guiné > Região do Cacheu > Ingoré > CCAÇ 2381 > 1968 > O 1º cabo aux enf  José Teixeira no início da sua comissão," com duas crianças vestidas com a farda da Mocidade Portuguesa". Já na época, o Zé era um praticante do escutismo católico. Não sei se já era conhecido pelo seu nickname, "Esquilo Sorridente". Sobre Ingoré escreveu ele: "Foram dias, em geral, alegres e descontraídos, os dias de Ingoré, com o pessoal da CCAÇ 2381 em treino operacional antes de ser colocado no sul (Buba, Empada, região de Quínara)"

Foto (e legenda): © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné > Zona leste > Fajonquito > s/d [c. 1965] > O Sérgio Neves  com miúdos da localidade... Alguns deles acampavam literalmente no aquartelamento... e usavam a farda ou peças da frada da Mocidade Portuguesa. Fotos do álbum  do Sérgio Neves que foi Furriel Miliciano da CCAÇ 674 (Fajonquito, 1964/66), irmão do nosso camarada Constantino Neves.

Fotos (e legendas): © Constantino (ou Tino) Neves (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Zona leste > Fajonquito > 10 de junho de 1971 >  "O meu irmão Carlos (2 anos mais velho, hoje Farmacêutico, formado pela faculdade de Farmácia da Universidade Técnica de Lisboa), durante a alocução por ocasião do dia 10 de Junho de 1971, Dia de Portugal e de Camões, na escola primária de Fajonquito. Na imagem estão dois oficiais da companhia do cap Figueiredo (CART 2742), um dos quais, o alferes Félix encontrou a morte no mesmo dia que o seu capitão."

Foto (e legenda): © Cherno Baldé s (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Cherno Baldé, com data de 1 do corrente:

Caro amigo Luis,

Talvez não tenham dado conta, mas com alguma frequência tenho referido,  "en passant",   a Mocidade Portuguesa [MP] em diferentes textos das minhas memórias. Por exemplo, no tema "Quem roubou o nosso canhão" (**), falo do regresso de uma delegação da Mocidade Portuguesa na coluna da tropa que vinha de Bafatá, coberta de poeira.

Eu não fazia parte dos bons alunos porque era desenfiado e gostava mais de andar à solta, deambulando no quartel, ir à lenha ou à agua com os meus amigos condutores e/ou simplesmente passar o dia todo a andar no mato com um desvairado qualquer a caçar animais ou pássaros.

A minha primeira e única participação [erm actividades da MP] foi em 1973, mas já sabia de todos os pormenores dos participantes mais experimentados, pois que todos os anos acontecia a mesma coisa.

Os participantes que vinham de localidades como Fajonquito, Contuboel ou Sare-Bacar estavam sempre em desvantagem. Primeiro porque o nível de informação, as fardas e equipamentos nunca eram os mesmos dos da cidade de Bafatá, assim como o nível de preparação académica e performance desportiva que daí resultavam. Todas estas disparidades criavam um complexo de inferioridade e sentimentos de discriminação aliados a condições logisticas e de recepcão pouco agradáveis.


O "infante" Cherno Baldé
aos 14 anos
Em Bafatá o local dos acampamentos situava-se na Boma, o tal jardim (muito fresco e acolhedor) já aqui descrito por Fernando Gouveia, situado ao lado do quartel da Cavalaria. E, nestas ocasiões a cidade de Bafatá ficava repleta de jovens oriundos de todas as escolas da região e, normalmente, cada localidade tinha fardamentos com tonalidades um pouco diferentes, pois quem comprava eram os pais das criançaas e nas localidades onde residiam. A cor verde não era a mesma em todos os sítios.

A Mocidade Portuguesa destinava-se a preparar os mais jovens para os sacrifícios ligados à vida da
tropa porque no tempo do Estado Novo o serviço militar era obrigatório. Para os participantes deslocados as condições nem sempre eram as melhores e passava-se mesmo fome, mas sempre valia a pena fazer aquela deslocação até Bafatá, a cidade maravilha, para no regresso fazer o "ronco" frente aos demais colegas que não sabiam das dificuldades e da afronta por que tinham passado com aquelas fardas e equipamentos já em desuso. 

Para as crianças de Bafatá, nós éramos a "Mocidade Tareco", isto é, participantes que não preenchiam os requisitos indicados para a Mocidade Portuguesa e, às vezes, nem nos deixavam desfilar. Isto repetia-se todos os anos, só quem não tinha participado é que não sabia. No regresso às origens, transformavam-se em heróis.

Em varios textos das minhas memórias, tenho referido,  "en passant",  aspectos ligados à MP (ver por exemplo no tema "quem roubou o nosso canhão" onde faço referência ao regresso dos participantes da MP na coluna da tropa que vinha de Bafatá, cheios de poeira.


2. Mais comentários do Cherno Baldé sobre este tema e afins (*)

Com as reformas introduzidas por Adriano Moreira em 1961 (muito tardiamente), o estatuto do indigena foi substituido por uma lei que facilitava a assimilaçãoo e desta forma permitia a obtenção do BI de cidadao português. Em 1971 o meu irmão Carlos, que tinha concluido a 4ª classe, obteve em Bissau o seu BI,  como muitos outros colegas.

Caro Valdemar, a obtenção do BI nao era difícil, mas era preciso preencher certas condições. Todos os casos que conheço sao de pessoas que tinham concluido, no mínimo, a 4ª classe. A milícia (voluntarios da sua própria desgraça) não precisava na altura e, se calhar nem preenchiam as condições exigidas.

Desde 1968 ou mesmo antes, que em todas as escolas da Provincia havia a formação e preparação da Mocidade Portuguesa...  e mocidade que se preza tinha que ter o equipamento completo: camisa verde, calções, meias, sapatilhas e chapéu de cor castanho. Depois eram organizados encontros a nível de cada região para competições desportivas e confraternização e ainda um acampamento nacional para os mais destacados,  em Quinhamel.

Surpreende-me que o Luis Graça nunca tenha visto jovens da Mocidade Portuguesa em Bambadinca e Bafatá. Em Fajonquito sempre aproveitávamos a boleia da tropa para vir a Bafatá ou Contuboel.

Na foto nº 7  [do poste P18273] ((*) o elemento da mocidade do lado esquerdo parece-me que é uma menina com o par de ténis (Sancho) que não era propriamente um equipamento oficial da Mocidade portuguesa. Do lado esquerda da bandeira pode-se ver parte do edificio da escola. Nos anos 60, com o inicio da guerra, foram construidas em todas as localidades com alguma importancia demografica. Ja era tarde demais para o imperio. (Mas, pensandio bem, não p

Compreende-se que vocês que vieram fazer a Guerra não tivessem olhos para ver outras coisas, pois o esforço para a sobrevivência falava mais alto e não era por menos. Em Paunca [, onde esteve o Valdemar Queiroz], de certeza que havia uma escola a funcionar,  o que não se pode dizer de Guiro Iero Bocari que é uma aldeola perdida no mato.

O 10 de Junho era festejado em todas as escolas e com a participação da administração civil e, em alguns casos, também de oficiais das companhias em quadricula como mostra a foto que enviei mostrando o meu irmão mais velho a discursar na presença de oficiais do exército e dos professores por ocasião do 10 de Junho de 1971, em Fajonquito, fardado a rigor e com o chapéu colocado por cima do ombro esquerdo, como mandavam as regras. No local estávamos muitos, mas o fotógrafo concentrou-se no alvo principal.

Por outro lado, duvido muito que os jovens da Mocidade Portuguesa fossem Felupes, como pensa o Luis Graca, mais plausivel seria que fossem filhos de familias de comerciantes ou  assimilados originários de outros grupos e que trabalhavam em S. Domingos e arredores, pois os verdadeiros felupes ainda não teriam saído dos seus tarrafos, de qualquer modo ja se notavam algumas mudanças sociais em todos os grupos etno-linguísticos da Guin´+e. A este periodo os nossos velhos apelidaram de "a epoca dos brancos" que na linguagem moderna se convencionou chamar de globalização ou mundialização.

Caro Valdemar, há um proverbio nosso que diz assim: "O velho não é, de modo algum, amigo de Deus, simplesmente convivem os dois há muito tempo". Isto a propósito das tuas palavras de elogio (?).

3. Comentário do editor:

Obrigado, Cherno, este teu contributo é, mais uma vez, importante para o nosso blogue e enriquece a tua série, "Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé)" (**)...

Tentei fazer um apanhado do essencial  que escreveste sobre a MP na Guiné... Tens aqui uma entrada, na Wikipédia, com informação relevante sobre a MP (sobre a qual, confesso, que sei pouco...).-

Criada em 1936 e obrigatória para os jovens até aos 14, a MP pelo Decreto n.º 29453, de 17 de fevereiro de 1939, a organização foi alargada «à Mocidade Portuguesa das colónias, de origem europeia, e à juventude indígena assimilada» (sic) a quem é «dada (....) uma organização nacional e pré-militar que estimule a sua devoção à Pátria, o desenvolvimento integral da sua capacidade física e a formação de carácter, e que, incutindo-lhes o sentimento da ordem, o gosto pela disciplina e o culto do dever militar, as coloque em condições de concorrer eficazmente para a defesa da Nação.»

Tens razão, os felupes em S. Domingos, em 1968/69, não deviam ser "elegíveis"...

Porque é de antologia, volto a reproduzir aqui, na íntegra, o teu fabuloso texto  "Quem roubou o nosso canhão?". Como eu não sei russo, diz-me o querem dizer estes caracteres do alfabeto cirílico (?), que aparecem no penúltimo parágrafo... Deve ser um palavrão... ȹɎψ₳

Tens aqui a letra e a música do Hino da Mocidade Portuguesa. Não sei se algum dia o chegaste a aprender a cantar... A letra é do poeta Mário Beirão (1890-1965) e a música do Rui Correia Leite.
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QUEM ROUBOU O NOSSO CANHÃO?

por Cherno Baldé (***)

No período da guerra colonial, pouco antes ou durante a permanência da CÇAC 3549,  “Deixós-poisar” (1972-74), em Fajonquito, pequeno povoado com um aquartelamento militar, rodeado de arame farpado e torres de vigia construídos com troncos de palmeira, certo dia, no regresso da coluna que regularmente ia à cidade de Bafatá, sede do batalhão [e sede de circunscrição administrativa], trouxeram em reboque dois canhões muito grandes. Normalmente, tudo que a coluna trazia era suposto ficar na localidade.

Atrelados aos veículos, os canos largos, ameaçadores, olhavam para trás, virados na direcção contrária do sentido da marcha, o que, nas nossas cabeças de crianças, parecia ser, sem dúvida nenhuma, uma tolice dos nossos militares brancos, tão insensata como a ideia descabida de obrigar as nossas milícias a carregar,  na cabeça, granadas pesadas de morteiro ou bazooka, nas saídas ao mato, com as armas nas costas, sabendo de antemão que em caso de uma emboscada traiçoeira, a vida e a morte se jogavam em milésimos de segundos.

No caso dos canhões, se de repente, numa emboscada do inimigo, tivessem que ripostar rapidamente, iam fazer o quê?
– Ficávamos a imaginar a reacção dos artilheiros. Primeiro iriam parar, virar o engenho, apontar ao alvo e depois disparar. Mas, havia uma questão importante, no entanto, sem resposta. Será que teriam tanto tempo?... 

Perguntas de crianças que tinham nascido e crescido no teatro de uma guerra que se teimava em eternizar e onde viviam como se de uma grande escola se tratasse, caldeirão efervescente que, de certeza absoluta, haveria de consumir gerações inteiras, caso não a tivessem posto fim, em boa hora. 

Mas, voltando à nossa coluna, nesse dia, a nossa atenção não foi para os militares, cobertos de pó vermelho da estrada, à cata de novos amigos nem para os extravagantes jovens da Mocidade Portuguesa que regressavam dos festejos de 10 de Junho, nas suas novas fardas, camisas verdes, calções castanhos, o emblema das quinas ao peito, cor de ouro brilhando ao sol e, nem sequer nos lembramos de fazer o nosso trabalho de rotina que era recolher por baixo dos bancos de conduzir as armas e o cinto pesado de cartucheiras dos nossos patrões condutores. 

Os nossos olhos ficaram presos naquelas máquinas, engenhos escuros de metal, montados sobre gigantescas rodas, "caterpillars" de pólvora, fogo e de morte que, finalmente, tinham chegado. Doravante a barraca de Samba-Ulencunda estava ao alcance das nossas mãos. Desde a porta d’armas, acompanhámo-los, cuidadosamente, parando quando paravam, correndo atrás quando andavam, até ao centro do quartel onde foram estacionados. Deixando os apressados condutores partir, aproximámo-nos ligeiros, abraçando os canos enormes, encostando os nossos corpinhos franzinos à frieza metálica daqueles monstros impassíveis que nos pareciam velhos conhecidos.

Mesmo ali ao lado e rodeado de tanques repletos de areia, estava instalado o morteiro 81 que, em vista das novas e imponentes armas, fazia uma figura pálida, quase inútil na sua pequenez, boca ao ar, pedindo chumbo para cuspir ao céu. Tantos anos a viver com ele, estávamos por demais familiarizados com o “poc” da saída das suas granadas que caíam algures, perto das nossas bolanhas de arroz, quando batiam a zona para afastar o medo que crescia nas noites de chuva, calor e humidade.

Nessa noite, demorámos algum tempo a pegar no sono, devido à curiosidade que nos consumia antecipando o gozo de ouvir os estampidos da nova artilharia, mas dormimos melhor, embalados pela segurança que as máquinas de guerra nos proporcionavam. Ter canhões de guarda, nessa época, mais que segurança e prestígio, era uma questão de honra. Os mais velhos contavam que em terras de Gabú, mesmo as localidades mais insignificantes tinham canhões para aterrorizar as povoações fronteiriças do Senegal onde habitavam os bandidos, lançando suas granadas compridas e grandes, um pouco maiores que o pénis de um jumento.

Mas, para nossa desilusão, e da mesma forma como tinham vindo, atrelados aos veículos, os canos largos, ameaçadores, insensatamente virados para trás, na direcção contrária do sentido da marcha, as máquinas de guerra tinham retomado sua marcha tenebrosa mais ao norte, para Cambaju, aldeia situada a menos de 500 metros da fronteira, o que, nas nossas cabeças de crianças, parecia ser, sem sombra de dúvida, mais uma tolice dos nossos militares, tão insensata como a ideia descabida de entregar armas repetitivas “Mauser” às populações civis para enfrentar guerrilheiros armados com Akas e metralhadoras automáticas, assim diziam os mais velhos.

No dia seguinte, voltando ao quartel para o habitual café com leite, as crianças constataram com grande tristeza que os seus canhões não só não estavam no local do dia anterior como tinham sumido do pequeno aquartelamento, rodeado de arame farpado e torres de vigia construídos com troncos de palmeira. Estupefactas e inconformadas,  as crianças interrogavam-se entre si:
- Quem foi o …ȹɎψ₳… que roubou os nossos canhões?

Ao menos deixassem ficar um para salvar a honra da aldeia, afastar o espectro do medo que crescia nas noites de chuva e conquistar o respeito dos nossos vizinhos, Samba-Ulencunda ali tão perto de nós.

Bissau, 7 de Dezembro 2012
Cherno Baldé (Chico de Fajonquito)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18273: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XIII: uma mudança (histórica) sob o spinolismo: em 1 de janeiro de 1969, o administrador de São Domingos, cabo-verdiano, é substituído por um guineense

(**) Último poste da série >A 3 de janeiro 2018 > Guiné 61/74 - P18170: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (53): três balas de kalash para uma missão suicida: o trágico fim do ex-soldado 'comando', Cissé Candé, em abril de 1978

(***) Vd. poste de 13 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10796: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (42): Quem roubou o nosso canhão?

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17397: Meu pai, meu velho, meu camarada (55): Artilharia de defesa de costa e antiaérea no Mindelo, na II Guerra Mundial: fotos do álbum fotográfico de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo at inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, entre julho de 1941 e setembro de 1943


Foto nº 1 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >"As peças anti-aéreas do Monte Sossego; fotografia oferecida pelo meu amigo [e conterrâneo, da Lourinhã] Boaventura [Horta] em 21/3/43."

Foto nº 2 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Oficiais do Exército e da Marinha nas peças do Monte Sossego. Ao fundo a linda Baía com o [NPR] Pedro Nunes à vista. Fotografia oferecida pelo meu amigo Boaventura em 21/3/43. Mindelo. [O Monte Sossego fica a nordeste da cidade do Mindelo, sobranceiro à Ponta de João Ribeiro].


Foto nº 3 >  Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo  >"Oficiais do Exército e da Marinha nas posições da Anti-Aérea no Monte Sossego, S. Vicente. Fotografia oferecida pelo meu amigo Boaventura, em Mindelo, 21/3/43". [O Monte Sossego fica a nordeste da cidade do Mindelo, sobranceiro à Ponta de João Ribeiro].



Foto nº 4 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo  > "Posição das peças anti-áereas no Monte Sossego, São Vicente, Cabo Verde. Fotografia oferecida pelo meu amigo Boaventura em 21/3/43." [O José Boaventura  Horta, natural da Lourinhã, já falecido, era pai dos meus amigos de infância Carlos, Olga e Elisa. Éramos vizinhos da mesma rua ] 


Foto nº 4  > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "4 metralhadoras pesadas fazendo fogo anti-aéreo para balões de papel. No dia da festa de aniversário [da chegada do batalhão]. 23 de Julho de 1942. No Lazareto, S. Vicente, Cabo Verde" [O 1º Batalhão Expedicionário do R.I. 5 tinha chegado ao Mindelo há precisamente um ano, e estava aquartelado no Lazareto ]


Foto nº 5 > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Aspeto da cidade do Mindelo tirada do Oeste. Vê-se os importantes depósitos de óleos da Shell. Outubro de 1941" [A II Guerra Mundial, com a drástica redução do trâfego marítimo da Europa para a África e a América Latina, teve dramáticas consequências no movimento do Porto Grande e na socioeconomia da ilha,]



Fotos (e legendas): © Luís Henriques (1920-2014) / Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].





1. Fotos do álbum de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo at inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo, no Lazareto, entre julho de 1941 e setembro de 1943, em missão de soberania; este e outros batalhões foram entretanto integrados mais tarde no RI 23].  (*)


[Foto  à direita, Luís Henriques > 19 de agosto de 1942 > "No dia em que fiz 22 anos, em S. Vicente, C. Verde. 19/8/1942. Luís Henriques ".]



Escreveu o nosso camarada, natural do Mindelo (1943), Adriano Miranda Lima (cor inf ref, com duas comissões de serviço em Angola e Moçambique, no tempo da guerra colonial), e que tem escrito sobre as tropas expedicionárias portuguesas em Cabo Verde durante  a II Guerrra Mundial

(...) "As unidades desembarcaram e rumaram logo para os locais de destino previstos. No que respeita ao dispositivo da ilha de São Vicente, o Batalhão de Infantaria 5 (proveniente das Caldas da Rainha) ficou sediado na zona do Lazareto, o Batalhão de Infantaria 7 (proveniente de Leiria) na zona de Chã de Alecrim, e o Batalhão de Infantaria 15 (proveniente de Tomar) foi logo para [a ilha de] Santo Antão, sediando-se no Porto Novo, com excepção da 3.ª Companhia de Atiradores e de um pelotão da Companhia de Acompanhamento, que ficaram em São Vicente, mesmo dentro da área urbana do Mindelo.

"A artilharia de defesa de costa ficou instalada no Morro Branco e em João Ribeiro, enquanto a artilharia antiaérea não poderia ter encontrado posição tecnicamente mais adequada que o cimo do Monte de Sossego, que lhe conferia visão simultânea sobre o Porto Grande e sobre os pontos críticos da cidade do Mindelo."

(...) "Sei que, tanto quanto as possibilidades locais o permitiram, recorreu-se ao aboletamento (...) de oficiais e sargentos em casas particulares e pensões, pelo menos em parte e numa fase inicial, ao mesmo tempo que se utilizaram instalações de campanha (tendas e barracas), enquanto não eram construídos aquartelamentos!. (...) (**)
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Notas do editor;



(**) Blog Praia de Bote > 15 de outubro de 2012 > [0264] Adriano Miranda Lima: a continuação (ver posts 256, 257 e 259): Tropas expedicionárias portuguesas a Cabo Verde no período da segunda Guerra  Mundial: 4 - A Actividade Militar e o Meio Físico Envolvente 

Vd. postes anteriores:

29 de setembro de 2012 > [0256] Adriano Miranda Lima:  Tropas expedicionárias portuguesas a Cabo Verde no período da Segunda Guerra Mundial: 1- Introdução

(...) as Tropas Expedicionárias que no período da II Guerra Mundial encheram o Mindelo foram grandes protagonistas da história da ilha naquele preciso contexto, e de uma forma tão mutuamente partilhada que na memória das populações e na dos próprios militares ficaram para sempre impregnadas as mais gratas recordações. Neste e em alguns posts subsequentes falarei do envolvimento dos militares com as gentes locais e de acções de tocante solidariedade humana numa altura em que a fome ceifava vidas nas nossas ilhas porque as carências eram gritantes. (...)


30 de setembro de 2012 > [0257] Adriano Miranda Lima:  Tropas expedicionárias portuguesas a Cabo Verde, no período da Segunda Guerra Mundial: 2 Totalidade de forças mobilizadas

(...) em Julho de 1941 encontravam-se prontos a embarcar em Inglaterra com destino a Cabo Verde, 3 peças de artilharia 4,7", 3 jogos para plataformas e 450 munições. (este material diz respeito à artilharia de costa). As autoridades inglesas ofereceram ainda pessoal para instruir e montar estas peças.

Em 1941, foi criada na cidade do Mindelo, em S. Vicente, uma Bateria de Artilharia de Costa. Em fins de Agosto de 1941, era transferida a título provisório, da cidade da Praia, em Santiago, para a cidade do Mindelo, em S. Vicente, a sede da Repartição Militar.

A evolução da guerra mostrou a urgência de criar um dispositivo defensivo na ilha de S. Vicente, pelo que foi ordenada a mobilização das seguintes forças:

Para a Ilha de S. Vicente:

- Comando Militar de Cabo Verde, sendo comandante o brigadeiro Augusto Martins Nogueira Soares, desde Agosto de 1941 até Dezembro de 1944;
- Comando do Regimento de Infantaria 23, integrando os batalhões seguintes;
- 1.º Batalhão expedicionário do Regimento de Infantaria 5 (Caldas da Rainha);
- 1.º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria 7 (Leiria);
- 1.º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria 15 (Tomar);
- Bataria de Artilharia de Costa 1;
- Bataria de Artilharia de Costa 2;
- Bataria de Artilharia Contra Aeronaves 9,4 cm;
- Bataria de Artilharia Contra Aeronaves 4 cm;
- Bataria de Referenciação;
- 2.ª Companhia de Sapadores Mineiros do Regimento de Engenharia 2;

Apoiavam estas unidades as formações dos serviços militares seguintes:
- Parque de Engenharia;
- Tribunal Militar;
- Hospital Militar Principal de Cabo Verde;
- Depósito de Subsistência e Material;
- Laboratório de Análise de Águas;
- Depósito Sanitário;
- Secção de Padaria.

O conceito de defesa da ilha de S. Vicente consistia essencialmente numa sólida ocupação e, em caso de emergência, manter a posse a todo o custo das regiões de João Ribeiro e de Morro Branco e a cidade do Mindelo. Para tal, 2 batalhões ocupavam posições de defesa e 1 batalhão, reduzido, encontrava-se em posição de reserva. (...)


(...) As razões de ordem sentimental prendem-se, como referi em post anterior, com o facto de o Batalhão de Infantaria 15 (BI 15) ter sido mobilizado para a minha ilha natal (S. Vicente) precisamente pelo Regimento de Infantaria 15 (RI 15), onde servi largos anos da minha vida. E o sentimento reforça-se com o facto de eu residir em Tomar, sede daquele regimento, e cidade onde viveram e conheci muitos militares expedicionários e entre eles um oficial (capitão) que marcou indelevelmente a memória do povo do Mindelo, como terei oportunidade de vir a relatar. (...) 

Ver ainda:


1 de novembro de 2012 > [0274] Adriano Miranda Lima: Tropas expedicionárias portuguesas a Cabo Verde, no período da Segunda Guerra Mundial:6 - A actividade militar e as suas múltiplas contingências (2.ª parte)



E ainda:

20 de março de 2014 >  [0782]  Adriano Miranda Lima: Tropas expedicionárias portuguesas a Cabo Verde, no período da Segunda Guerra Mundial:  Convivência entre militares e população civil

terça-feira, 3 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14316: Meu pai, meu velho, meu camarada (40): Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) faria 100 anos no passado dia 28 de fevereiro... Na tropa (entre 1936/37 e 1943), foi da arma de artilharia, como o filho que o recorda hoje com muita saudade (Torcato Mendonça, ex-alf mil art, CART 2339, Mansambo, 1968/69)


Cascais > GACA 1 > c. 1940&43 > Foto nº 1 A > Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) > Segundo os especialistas em artilharia, os cor Nuno Rubim e Costa Matos a peça que aparece na foto é uma Anti Aérea (AA 9,4), pertencente ao quartel de Cascais, sediado na Cidadela [Grupo de Artilharia Contra Aeronaves, criado em 1935, depois GACA 1, em 1939, assim se mantendo até 1959, quando passou a  Centro de Instrução de Artilharia Anti-Aérea e de Costa (CIAAC), que veio a ser extinto em 2004].


Cascais > GACA 1 > c. 1940&43 > Foto nº 1 >  Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) > Na altura deveria ser furriel ou sargento miliciano,,,

O nosso camarada Torcato Mendonça não tem informação sobre a a data e o local. Possivelmente estas quatro primeiras fotos foram tiradas  num contexto de exercícios de campo, algures na Estremadura ou no Ribatejo. O pai do Torcato que deve ter feito a recruta e instrução de especialidade em 1936/37 em Évora,  terá sido chamado depois para operar com a AA 9,4 cm, m/940, fornecida pelos ingleses...

Sobre a Peça AA 9,4 cm m/940, de origem inglesa > Calibre: 94 mm L50 | Comprimento: 4.96m  | Comprimento do Tubo: 4,7 m  | Peso: 9.317 Kg  | Munição: 12.7 kg (total)  | Velocidade Inicial: 792 m/seg.  | Alcance Máximo: 18.000 m (horizontal) e 9.000 m (teto)  | Cadência de Fogo: 10 a 20 tiros por minuto (prático) | Guarnição: 7  | Quantidade total recebida: 54  (Fonte: ForumDefesa.com > Arilharia Aérea Portuguesa > 26 de outubro de 2007).


Cascais > GACA 1 > c. 1940 >  Foto nº 2 >  Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) é o segundo a contar da direita... A peça AA 9.4 cm m/940 tinha uma guarnição de 7 homens...


Cascais > GACA 1 > c. 1940 >  Foto nº 3 > Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) é "o 2º a contar da direita, em cabelo (descoberto)"; ele e os restantes à sua direita são um grupo de 4 graduados... (*) [Percebe-se que são graduados pelo uso de bota alta, tal como na cavalaria].



Cascais > GACA 1 > c. 1940 > Foto nº 4 > O "Matador" que rebocava a antiaérea AA 9,4. Também as havia no CTIG, as viaturas de transporte AEC Matador,  para rebocar a artilharia (obus 14 e 10.5, peça 11.4) e  até para transporte de tropas (**)...  O pai do Torcato é  "o que está sentado na cabine do Matador com o braço de fora"...


Évora > Regimento de Artilharia Ligeira (RAL) 1 (que passou depois a 3) > c. 1936/37 > . "O meu pai serviu no RAL 1 [Évora]... Ele deve ter entrado em 1936/37, saiu, veio a guerra, o entra sai e só em 43 se livrou daquilo. Por isso eu sou um jovem de 44" (TM)...


Évora > Regimento de Artilharia Ligeira (RAL) 1 (RAL 3, ao tempo da guerra colonial ) > c, 1936/37 (*) > A artilharia hipomóvel (puxada a cavalos...) ainda do tempo da I Guerra Mundial!...


Évora > Regimento de Artilharia Ligeira (RAL) 1 (RAL 3, ao tempo da guerra colonial) > c. 1936/37 > O pai do Torcato é   "o primeiro da esquerda, com o boné do RAL 1"... Possivelmente ainda na fase da recruta ou na instrução de especialidade. Sobre a história da reorganização do exército,  e da artilharia em particular, no Estado Novo, vd. Abreu (2008) (***).

Fotos (e legendas): © Torcato Mendonça (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Fotos do álbum de família do Torcato Mendonça que me mandou as velhas fotos do tempo da tropa do pai dele... Évora, RAL1 e depois Cascais, GACA1. Presume-se que ele tenha sido chamado, mais do que uma vez pela tropa, e nomeadamente já no período da II Guerra Mundial para aprender a operar com a artilharia antiaérea fornecida ao exército pelos nossos aliados ingleses...  Diz o Torcato que o pai só passou à peluda em 1943, ano em que pôde finalmente casar... As fotos claramente dizem respeito a dois períodos distintos; Évora, 1936/37; e Cascais, c. 1940/43...

En passant, diga-se que a primeira unidade de Artilharia Antiaérea em Portugal foi o Grupo de Artilharia Contra Aeronaves (GACA), criado em 1935 na cidadela de Cascais. No ano seguinte, passou a incluir designar-se GACA 1.

O Torcato recorda com muita saudade o pai, o amigo e o camarada... Era algarvio, de Armação de Pêra, trabalhoui depois como técnico na Junta  Autónoma das Estradas... Morreu cedo, em 1977. Cabe-nos aqui evocar e honrar a sua memória (****)
______________

Notas do editor:

(*) 18 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2773: Álbum das Glórias (44): A viatura AEC Matador 4x4 e outras peças do museu da artilharia (Nuno Rubim / Torcato Mendonça)

(**) 17 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2768: Pensar em voz alta (Torcato Mendonça) (10): A nossa por vezes difícil mas sempre boa con(v)ivência

(***) Vd.    ABREU; Filipe da Silva - As Principais Reorganizações do Exército do Século
XVIII ao Século XXI. Reflexos para a Artilharia. [Em linha] Amadora: Academia Militar, Direção de Ensino, Curso de Artilharia, julho de 2008, 41 pp + IV [Consult. 1 mar 20154]. Disponível aqui [em formato pdf].

(***) Último poste da série >  4 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11803: Meu pai, meu velho meu camarada (39): Amadeu Simões Picado, ilhavense, 1º cabo quarteleiro, da arma de engenharia, integrou o corpo expedicionário português, em França, na I Guerra Mundial (1917/18), e emigrou depois para os EUA onde trabalhou quase sempre como pescador... Só o conheci aos 9 anos, em 1946... (Jorge Picado)

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13947: Fotos à procura de... uma legenda (45): o obus 10,5 (ou 105 mm, Krupp), de Mansambo, onde, em 1968, o Torcato Mendonça posou para a posteridade... com o seu relógio Rolls Royce Breitling, comprado no libanês de Bafatá!





Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > O alf mil Torcato Mendonça junto a obus 10,5 ou 105 mm.


Foto: © Torcato Mendonça  (2007). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

1. Um leitor nosso, Luís Laranjeira, militar da marinha  que se interessa pela temática da artilharia de campanha (usada na guerra de África) (*), mandou-nos o seguinte pedido:


Boa tarde,

Vi no seu blog [, no poste P6929] (**), a foto que anexo [, vd, acima,], pode dizer o que o obus tem escrito no cano?

Com os meus melhores cumprimentos,

Luis Laranjeira

PS - foto de Torcato Mendonça. Legenda: "Fotos Falantes II > Sem título > Mansambo > Junto do obus 10,5"

2. Reeditei a foto, a partir do original, que guardo em arquivo e remeti ao seu autor, com o seguinmte pedido:

Torcato: O obus 10.5 era de origem alemã, marca Krupp... No cano parece ler-se N(M)agul 1895(6)... Magul 1895 ou 6 ? Nagul ? Magol ?... Ampliei o mais que podia... Tens alguma ideia ?

Boa noite... Luis

3. Resposta pronta do meu amigo e camarada Torcato Mendonça:

Não sei,  Luís e também ampliei. O relógio é um Royce (Breitling - linha branca), vendido por um Libanês de Bafatá.  Para me convencer um Unimog (grandes?) com malta passou por cima de um... Preço ? Menos que uma mina anti-carro, 2000 pesos, mas lá perto,  se bem me lembro.  Está ali a funcionar bem, com cronómetro e tudo. 

A foto é de 68 e eu vim em Dezembro de 69,  dia 10.
Tenho que escrever ou contar algo sempre...feitios de caca...
Ab,T.

4. Comentário de L.G.:

Pode ser que algum artilheiro da Tabanca Grande possa ajudar o pobre  infante do editor a dar a competente resposta ao pedido de esclarecimento feito pelo o nosso 1º sargento da Marinha, Luís Laranjeira,  que nas horas vagas se dedica, como "hobby", à construção de modelos de peças de artilharia e carros de combate...

O dono da foto, Torcato Mendonça, era atirador... de artilharia. Nunca percebi que raio de especialidade era essa, tal como a minha (armas pesadas de infantaria... a única que me deram no TO da Guiné foi a G3 que pesava, diziam os manuais, 4,4 kg, descarregada...).

Lembro-me de ver no Xime a inscrição do fabricante alemão, Krupp, num obus 105 mm. Mas não sei o significado da inscrição que está no cano deste obus de Mansambo... Magul 1895 ? Temos de perguntar á malta do BAC 1. Ou a quem saiba responder (***).

Ouvia-se bem em Bambadinca, quando ele começava trabalhar, no meu tempo (1969/71)... Havia mais dois, se não erro, deste calibre. Nunca houve obus 14 no setor L1,  pelo menos no meu tempo. O 10.5  do Xime era curto para bater algumas zonas da margem direitra do Rio Corubal  onde fazíamos operações, como o Poindom / Ponta do Inglês...

Quanto ao nosso amigo Luís Laranjeiro, teremos muito gosto em ajudá-lo, cedendo-lhe cópias de imagens com melhor resolução do que as publicadas no blogue (e que em geral  tem  resolução *a volta de 0,5 MB). Ele que nos volte a contactar.

_________________

Notas do editor:

(*)  O nosso leitor já há tempos nos tinha contactado há uns tempos atrás:

De: Luis Laranjeira
Data: 24 de Março de 2014 às 18:33
Assunto: Artilharia em África

Boa tarde, Chamo-me Luis Laranjeira, tenho 44 anos e sou militar, 1º Sargento Artilheiro, na Marinha.

Como hobby, construo modelo à escala (1/35) de carros de combate e especialmente peças de Artilharia na mesma escala.

Quando faço pesquisas no Google, sobre Artilharia Portuguesa durante a guerra em Africa, encontro sempre o Vosso blog fotografias de peças de artilharia. O único problema é que estão com pouca definição e dificilmente se conseguem ver pormenores, que preciso para a construção dos modelos terem o rigor que desejo.

Deste modo, pergunto se me podem facultar fotografias, de peças de Artilharia Portuguesas com melhor definição, comprometendo-me em nunca as publicar, seja lá onde for.

Com os meus melhores cumprimentos, Luis Laranjeira.

(**) Vd. poste de 4 de setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6929: Parabéns a você (147): Torcato Mendonça, 66 anos, uma referência do nosso blogue, um português pré-esforçado, um orgulhoso ex-combatente (Luís Graça)

(***)  Último poste da série > 25 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13939: Foto à procura... de uma legenda (44): na Tasca do Zé Maria, na Bambadinca ribeirinha, comendo lagostins do Rio Geba Estreito... Na foto, Humberto Reis, Tony Levezinho e José António Rodrigues (já falecido)

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13675: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (16): Um soldado de Artilharia na fronteira sul

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 26 de Setembro de 2014:

Bom dia Carlos,
Cordiais saudações.
Do velho e já desgastado baú, sempre algo pode surgir...

Lembro o já distante ano de 70, quando em meados do ano rumei a Gadamael, para assumir o Comando do 23.° PelArt, e por lá fiquei na maior parte da minha comissão de serviço.

A situação operacional de Gadamael, já foi descrita pelo Camarada Manuel Vaz na sua magistral "Uma visão alargada do ataque a Gadamael". Também, o Exmo. Sr. Coronel de Artilharia Morais Silva, caracterizou a situação: "...A CCaç 2796 foi fustigada de forma brutal nos seus primeiros passos em Gadamael numa primeira tentativa do PAIGC de, indirectamente, eliminar a posição de Guileje (o que veio a conseguir em 1973 por via directa). Sofreu baixas, incluindo o comandante da companhia (24Jan71)..." .

Gadamael - Espaldão de obus 10,5

Gadamael - Obus em acção de tiro
Fotos: © Humberto Nunes

O Pelotão era maioritariamente composto por soldados da incorporação local, somente o Comando, um Oficial e dois Sargentos vinham de Portugal, no sistema de rendição individual.
Os soldados (profissionais) eram operacionalmente eficientes, e sob aspecto disciplinar, só lembro um evento de relativa gravidade, quando um soldado na formação e revista diária do Pelotão, teve uma atitude (passiva) de insurbordinação.
Já falei antes da sorte que tive com os Furriéis, dedicados, eficientes e leais.

Coincidiu a minha chegada com a entrega das casas do reordenamento, sendo atribuida ao Pelotão, a última fileira de casas junto ao rio e aos obuses, conforme assinalado na foto.
Acredito que foi do Furriel Oliveira, a sugestão de também nós nos instalarmos na tabanca, e foi o que fizemos, na primeira casa junto aos obuses, aliás excelente sugestão, sob o ponto de vista operacional, como parece óbvio, se se olhar a foto.

Gadamael - Casas atribuídas ao Pel Art.ª
Foto: © Coronel Morais Silva

O Comando da Artilharia em Bissau (GAC 7), não permitia a saída do Pelotão sem sua prévia autorização, sendo portanto a atividade da Artilharia dentro do quartel, no "bem-bom" do arame farpado, segundo alguns.

Os quartéis da zona Sul, ficavam expostos a ataques de Artilharia, efetuados também além fronteira. As ordens do Comandante do Aquartelamento eram bem claras: "...Ao ... Pelotão sempre exigi, quando andava no mato, tempo de resposta que não podia exceder 1 minuto e perante uma "saída" das armas IN a resposta imediata de um obus fosse qual fosse, no momento, a direcção de vigilância..." - Ex-Capitão Art. Morais Silva.

Além da resposta a ataques IN, havia o apoio a tropas em movimento, e eventualmente atingir alvos determinados por alguma autoridade militar. ​Como somos poucos, e quase esquecidos, é sempre bom lembrar o papel da Artilharia na Guiné!!!

forte abraço
VP
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13623: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (15): Autorretrato de um soldado