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quarta-feira, 8 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25495: Os 50 anos do 25 de Abril (19): Convite para a apresentação do livro "A Caminho do 25 de Abril - Uma Organização Clandestina de Oficiais da Armada", dia 14 de Maio de 2024, pelas 18h00, no ISCTE - Edifício 2, Auditório B1.03 - Lisboa


Mensagem de:
Maria Luísa Tiago de Oliveira,
Date: 7/05/2024
Lançamento do livro “A Caminho do 25 de Abril – Uma Organização Clandestina de Oficiais da Armada”, Iscte - 14 de Maio, 18h - Edifício 2, Auditório B103:

Caros/as possíveis interessados/interessadas:
É com o maior gosto que venho sublinhar o convite anexo para o lançamento deste livro.
Até dia 14, espero.

Com os melhores cumprimentos,
Luísa Tiago de Oliveira
Professora Associada
Sub-diretora do PIUDHist
Departamento de História
Investigadora do CIES-IUL
Escola de Sociologia e Políticas Públicas

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Nota do editor

Último post da série de 7 de Maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25490: Os 50 anos do 25 de Abril (18): Guerra Colonial - Pequenas Grandes Verdades (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887)

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25487: Notas de leitura (1689): Não há tesouro literário como este na Guiné-Bissau: uma criança, uma guerra, uma bicicleta (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Outubro de 2022:

Queridos amigos,
Lê-se sempre esta joia e descobre-se mais um ângulo iridescente, este feliz acaso de escrever uma fábula que é capaz de iluminar o mundo pela inocência de uma criança que se transforma num estafeta da guerra, mas sempre sem perder de vista que soterrou a sua tão querida bicicleta, uma amizade inquebrantável. Aquela guerra de horrores inenarráveis não lhe subtraiu a alegria do sonho, o desejo de partilhar a felicidade com a malta fixe de Porto dos Batuquinhos, se bem que todos ficassem muito mais crescidos depois de tanto ódio e tanta destruição, danos incalculáveis na sua formação. E termina a fábula porque o sonho vai ser reavivado, tudo termina como numa ode triunfal: "Quando se sentou no selim sentiu-se de novo dono do mundo. E os dois pedalaram para a eternindade".

Um abraço do
Mário



Não há tesouro literário como este na Guiné-Bissau: uma criança, uma guerra, uma bicicleta

Mário Beja Santos

Custa-me entender como esta obra não conhece reedição, em Portugal ou na Guiné-Bissau, não é um conto para crianças, embora o herói seja um jovem que se vê envolvido naquele pesadelo do conflito político-militar de 1998-1999, é uma fábula a quatro mãos, um escritor prodigioso e um desenhador exímio, Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira. Como escreve José Vegar na nota introdutória desta crónica de guerra para leitura dos adultos, o que aqui preside é uma luminosidade própria de crianças, a geografia e o tempo são brutalmente reais e ali o menino consegue manter vivo o seu mundo, a sua carga afetiva é uma lição para a humanidade.

O discurso encantatório enleia-nos naquela história que começa num domingo, dia de missa e futebol, de carne ao almoço e tolerância de ponto ao acordar, mas nesse dia explodiu uma guerra. Se é fábula, temos que saber se é de opulências ou de agruras redentoras, o melhor é começarmos por conhecer a família Sissé que vive em Porto dos Batuquinhos, na margem de um rio que a seca engoliu: “Vivia numa casa com paredes de cartão, telhados de colmo, alcatifa de terra batida. As camas eram esteiras que, enroladas durante o dia, serviam de cadeiras. A cozinha, bem no centro da palhota, não passava de meia dúzia de pedras calcinadas dispostas em círculo, a casa de banho, um buraco aberto no quintal. A única mobília era um calendário de Nossa Senhora de Fátima que a madrinha de Hussi ofereceu à mãe no dia do seu nascimento.” O pai de Hussi chama-se Abdelei Sissé, vai partir para a guerra ao lado do brigadeiro Raio de Sol. A mãe é dona Geca, e há três irmãos, todos mais novos do que ele. Ora, naquele dia de futebol em que o senhor do apito era o dito brigadeiro, primou pela ausência. Acontece que o brigadeiro se saturou das prepotências do comandante Trovão, o tirano da terra, juntou os veteranos na guerra colonial e partiram todos para a Guerra do Balão.

O pai Abedelei ordena à família que regressem à aldeia dos antepassados, logo se pôs a questão da bicicleta, descobrimos que Hussi tem uma bicicleta que fala, ele sossega a bicicleta que tem medo, enterra-a, prometendo que logo a guerra acabe a irá buscar. Lá se põem todos a caminho, as saudades da bicicleta são imensas, Hussi vai fugir, apresenta-se ao pai, este furioso, enfim, Hussi vai intervir no confronto. “Transportou armas e munições para a linha da frente, fez de pombo-correio, foi ajudante de cozinheiro. Aprendeu a cozinhar arroz de todas as maneiras e feitios, mas durante quase um ano o prato principal foi uma mão-cheia de nada. Não matou mas viu morrer. Conviveu com o cheiro nauseabundo dos cadáveres em decomposição, partilhou o dia-a-dia de combatentes com nomes estranhos como Capacete de Ferro ou Rambo das Facas, assistiu ao espetáculo dos abutres a depenicarem restos de corpos de mercenários estrangeiros, tropeçou em esqueletos de soldados que não tiveram direito a última morada. Caminhou entre os horrores de uma guerra fratricida com a mesma inocência com que antes pedalava na sua bicicleta pelas ruas da cidade de asfalto.”

E assim se arrastou a Guerra do Balão. O comandante Trovão acreditava que aquela guerra eram favas contadas, todos aqueles sublevados iam ser atirados à água, no seu círculo de cortesãos mentia-se sobre a realidade da guerra, houve mesmo quem se atrevesse a dizer que estavam empatados, o chefe de Estado-Maior deu explicações: “Nós controlamos a cidade do asfalto, o inimigo a cidade de terra. Quando conquistamos uma alfeia do litoral, eles tomam logo conta de uma no interior. Mandamos no mar, eles no rio. A frente norte é nossa, a leste é deles”. A fúria do comandante Trovão não tinha medida, fulminou o chefe de Estado-Maior com um tiro de pistola. Como tudo é fábula, não faltam bruxos, profecias, fala-se mesmo numa bicicleta que ajuda muito a causa dos sublevados, o comandante Trovão dá mesmo essa ordem, é preciso destruir tal bicicleta, pôr termo ao feitiço.

Até que num domingo, as forças do brigadeiro Raio de Sol fizeram um assalto ao Palácio, Trovão teve que fugir, Hussi assistiu ao fogo-de-artifício da artilharia, viu o Palácio ser pilhado, livros queimados, saqueado, o menino anda eufórico pela cidade, ele é a mascote dos revoltosos, a guerra de Hussi ainda não terminou, tem que pôr a sua bicicleta em funcionamento, o coração aperta-se quando ele vê a casa destruída. Teve uma visão, o talismã que colocara sobre as cinzas para proteger a bicicleta na altura da fuga deu-lhe o sinal onde devia cavar, não há mais belo reencontro neste arremedo de literatura infantojuvenil para gente que padeceu de uma guerra sanguinolenta, que deixou brechas ainda hoje por colmatar como este, Hussi vai cavando as entranhas da terra e conversa com a sua bem-amada bicicleta, emocionam-se, a bicicleta sempre soube que Hussi iria voltar.

E o final desta magia ou desta pérola da literatura luso-guineense é mesmo assim:

“Hussi e a sua bicicleta ainda tinham muito para falar. Era toda a conversa de uma guerra para pôr em dia. Havia algumas coisas boas mas sobretudo muito más para partilhar. À luz do dia, olhos nos olhos, sem transmissão de pensamento. Hussi limpou o retrovisor com o seu velho lenço amarelado, sacudiu o pó que asfixiava o cachecol do Barcelona, colocou a fitinha tricolor do outro lado do guião, ajustou os pedais com a sola das sandálias. Quando se sentou no selim sentiu-se de novo dono do mundo. E os dois pedalaram para a eternidade.”

Dizem os autores que Hussi existe, nasceu em Bissau, de uma família pobre e tem três irmãos, andará hoje pela casa dos 35/36 anos. Insisto que não entendo como é que esta lição de vida, esta inocência tão resiliente não anda na boca do mundo, como fábula e como monumento literário. Coisas do destino – será?

Pedro Sousa Pereira e Jorge Araújo
Fotografia de João Francisco Vilhena no semanário “O Independente”, maio de 1999
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Nota do editor

Último post da série de 3 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25474: Notas de leitura (1688): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Oficial do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1850 e 1851) (1) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25468: Notas de leitura (1687): "Poemas de Su Dongpo", introdução e notas de António Graça de Abreu (Lisboa, Grão-Falar, 2023, 177 pp.) Parte I


Capa do livro, "Poemas de Su Dongpo". Tradução, introdução e notas de António Graça de Abreu (Lisboa, Grão-Falar, 2023, 177 pp.). O livro pode ser encomendado através da plataforma Wook.



Amável dedicatória autografada do autor do livro, que eu aceito como homenagem ao nosso blogue e à nossa Tabanca Grande, onde cabemos todos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos pode separar.


1. Mais um trabalho do nosso amigo e camarada António Graça  de Abreu, escritor, poeta, tradutor, sinólogo (especialista em língua, história e cultura do Império do Meio,a grande China) (tem 343 referências no blogue). 

Culmimando um aturado e meticuloso labor de vários anos, dá agora à estampa os "Poemas de Su Dongpo", poeta chinês do séc XI.

Pormenor que não nos escapou, numa primeira leitura aprazível e atenta, foi a dedicatória que o autor faz a uma pessoa que lhe era muito querida e que morreu nesse ano de 2023, o avô dos seus filhos: "Em memória de Wang Renlun (1929-2023), alma de Su Dongo, meu Pai, meu Mestre,meu Amigo".

O poeta (e mandarim, mas também pintor, calígrafo, escritor multifacetado) é um dos grandes da literatura chinesa, tendo nascido em 1037 na cidade de Meishan, cidade da província de Sichuan, "no sopé de Emeishan, uma das quatro montanhas sagradas do budismo chinês" (pág. 9). E morreu em 1101, aos 64 anos, depois de uma vida exaltante e atormentada, em que conheceu tudo, o amor, a fama, a glória, o exílio. 

Das cerca de três centenas de poemas de Su Dongpo que chegaram aos nossos dias, o António Graça de Abreu traduziu para português 160. Para ele, é também uma aventura, uma ousadia, um prazer.

Nas suas cinquenta páginas iniciais, em que faz uma detalhada introdução à vida e obra do poeta ("Su Dongpo, um poderoso ser humano", pp. 9-59),  o nosso sinólogo debruça-se, mais uma vez, sobre a difícil arte e engenho que é a tradução da poesia, e para mais em língua chinesa clássica... Citando Nuno Júdice (que acaba de morrer  há um mês e meio), diz que a melhor "tradução" é, no fundo, a que esconde melhor a "traição":

(...) "No que me diz respeito, sei que no poema traduzido tem de estar a voz e o sentir  do poeta chinês,mais a minha própria  leitura poética, em língua portuguesa.Porque se o poema sínico parece intraduzível (por isso eu o traduzo!) avanço paraa  reinvenção, recriação, reimaginacção, transcriação, retradução. E o poema contrabandeado já é outro poema. É de Su Dongpo, mas agora também é meu" (pp. 53/54)... 

É intelectualmente honesto ao reconhecer as suas próprias limitações da língua chinesa: "É bárbaro e redutor eu ter começado a estudar chinês apenas nos primeiros seis anos de vida na China, já com 30 anos de idade" (pág. 54).


Pequeno vídeo ('54), com um excerto do programa da SIC Notícias em que o poeta e crítico literário Pedro Mexia faz uma referência a este último trabalho de tradução do António Graça de Abreu. Um justa referência. (Cortesia do filho do tradutor, o João Wang de Abreu, que gravou o excerto, e naturalmente à estação televisiva)


Este livrinho merece mais notas de leitura (pelo menso uma II Parte). Daqui a duas horas vou para o hospital para ser operado a uma  segunda catarata, mas quero aqui deixar um agradecimento ao nosso amigo e camarada por nos dar o privilégio de podermos ler, na língua de Camões, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa e Mia Couto, um expoente máximo da poesia clássica chinesa, que ainda hoje se lê pela sua humanidade, universalidade, atualidade e "legibilidade" (o termo, muito apropriado,  é do Pedro Mexia).

Aqui vai um um dos poemas traduzidos, e que eu assinalei, como um dos que mais gostei:

Sonhando com a esposa morta, há dez anos atrás:

Dez anos, a vastidão da vida e da morte,
não quero pensar, não consigo esquecer,
a mais de cem léguas,
o teu túmulo frio, solitário.
A quem confessar  tanto sofrer ?
Se nos reencontrássemos hoje,
não me reconhecerias,
a cara coberta de poeira,
os cabelos como  geada branca.
Num sonho, esta noite,
o regresso ao nosso lar.
Diante da janela,, escolhias o vestido,
pintavas cuidadosamente  o rosto.
Olhámos um para o outro, em silêncio,
lágrimas corriam em nossas faces.
Ano após ano.
o mesmo sonho rasgando oo coração.
No teu túmulo, entre pinheiros,
o brilho do luar subindo a colina. 

(In: António Graça de Abreu - "Poemas de Su Dongpo", Lisboa, 2023, pág. 104.).

Em nota de rodapé, o tradutor explica-nos que este poema foi escrito em 1075, onze anos depois da morte, de parto (aos 26 anos), da sua jovem esposa (tinha 16 anos quando se casaram). O bebé também não sobreviveu. "É um dos mais sentidos e famosos poemas da literatura chinesa", sendo "a dor profunda, a beleza trágica das palavras intraduzíveis  para português". (pág. 104)

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de abril de  2024 > Guiné 61/74 - P25459: Notas de leitura (1686): O islamismo na Guiné Portuguesa, de José Júlio Gonçalves, edição de 1961 (Mário Beja Santos)

sábado, 6 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25346: Agenda cultural (852): Convite para o lançamento do livro "Geração D", da autoria de Carlos Matos Gomes, a realiar no dia 11 de Abril de 2024, pelas 18h30, na Sala de Âmbito Cultural (piso 6) do El Corte Inglés de Lisboa, Av. António Augusto Aguiar, 31


C O N V I T E

A Porto Editora, o Âmbito Cultural do El Corte Inglés e o autor convidam-no/a para o lançamento do livro Geração D, de Carlos de Matos Gomes, que se realiza a 11 de abril (quinta-feira), pelas 18:30, na Sala de Âmbito Cultural (piso 6) do El Corte Inglés de Lisboa .*

O autor estará à conversa com José Fanha.

Esperamos poder contar com a sua presença.

*Av. António Augusto Aguiar, n.º31 | 1069-413 Lisboa


MAIS INFORMAÇÕES
Vera Valadas Ferreira | 21 836 40 50 | 910 464 457 | vvferreira@portoeditora.pt

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Notas do editor

Vd. recensão do livro "Geração D" da autoria de Carlos Matos Gomes, por Mário Beja Santos, nos posts de:

18 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25285: Os 50 anos do 25 de Abril (3): "Geração D - Da Ditadura À Democracia", por Carlos Matos Gomes; Porto Editora, 2024 (1) (Mário Beja Santos)

25 de março dfe 2024 > Guiné 61/74 - P25307: Os 50 anos do 25 de Abril (4): "Geração D - Da Ditadura À Democracia", por Carlos Matos Gomes; Porto Editora, 2024 (2) (Mário Beja Santos)
e
1 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25326: Os 50 anos do 25 de Abril (6): "Geração D - Da Ditadura À Democracia", por Carlos Matos Gomes; Porto Editora, 2024 (3) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 23 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25301: Agenda cultural (851): "Noite de Solidão no Capim", peça de teatro da autoria de Castro Guedes, levada à cena pela Companhia de Teatro Seiva Trupe. Pode ser vista na Sala Estúdio Perpétuo, no Porto, até ao próximo dia 27 de Março (Jaime Bonifácio Marques da Silva)

sábado, 30 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P25017: In Memoriam (490): Nuno Rubim (1938-2023): alguns dos seus livros publicados na área da História Militar: "A Artilharia de Campanha Estriada Portuguesa", (2014); "A Organização e as Operações Militares Portuguesas no Oriente, 1498-1580", (2013); "A Defesa Costeira dos Estuários do Tejo e do Sado: desde D. João II até 1640", (2011)


1 - A Artilharia de Campanha Estriada Portuguesa / Nuno José Varela Rubim. - Lisboa : Nuno José Varela Rubim, 2014. - 158, [1] p. : il. ; 30



2 - A Organização e as Operações Militares Portuguesas no Oriente, 1498-1580 / Nuno José Varela Rubim. - Lisboa : Comissão Portuguesa de História Militar, 2012-. - v. : il. ; 24 cm. - O 2º v. foi editado pelo Falcata - Editores, Unipessoal. - Contém bibliografia. - 1º v.: Geografia e viagens. - 306 p. 2º v.: Navios e embarcações. - 2013. - 210 p. - ISBN 978-989-95946-8-5



3 - A Defesa Costeira dos Estuários do Tejo e do Sado : desde D. João II até 1640 / Nuno José Varela Rubim. - Lisboa : Prefácio, D.L. 2011. - 130, [2] p. : il. ; 28 cm. - Bibliografia, p. 7-8. - ISBN 978-989-652-070-0



Lisboa, Campus da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa (ENSP / NOVA)  > 6 de Setembro de 2007 > Da esquerda para a direita, Nuno Rubim (1938-2023), Carlos Schwarz (Pepito) (1949-2012) e Luís Graça (n. 1947).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. O nosso tabanqueiro Nuno Rubim (1938-2023) (*) era um conceitado especialista em História Militar, e em particular em História da Artilharia. Entre 2011 e 2014 publicou diversos livros e separatas de revistas sobre história militar. 


Em 2014, o nosso camarada, Nuno José Varela Rubim, de seu nome completo, ofereceu à nossa Tabanca Grande 26 exemplares do seu último livro "A Organização e as Operações Militares Portuguesas no Oriente, 1498-1580: vol. 2: Navios e Embarcações" (Lisboa: Falcata Editortes, 2013, 210 pp, ilustrado).

Foram praticamente contemplados, na altura, todos os grã-tabanqueiros que manifestaram interesse, entre 23 e 31 de maio dce 2024 (**), em obter um exemplar autografado do livro. 

Trata-se de uma obra original, de grande erudição, profusamente ilustrada (135 figuras e desenhos, a grande maioria a cores) que nos honra a todos nós, e que vem enriquecer a nossa historiografia militar. 

(**) Vd. poste de 17 dce junho de  2014 > Guiné 63/74 - P13299: E as nossas palmas vão para... (8): Nuno [José Varela] Rubim, autor de vasta obra sobre a nossa história militar, com destaque para "A organização e as operações militares portuguesas no Oriente, 1498-1580"

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24857: Lembrete (45): Convite para o lançamento do novo livro do nosso camarada José Teixeira, "O Universo Que Habita Em Nós", a levar a efeito no próximo dia 18 de Novembro de 2023, pelas 16h30 horas, no Centro Cultural de Leça do Balio, sito no Largo do Mosteiro de Leça do Balio

C O N V I T E

Mensagem do autor:

Cada um de nós ao nascer, transporta dentro de si um Universo a construir – a sua vida. Com o desenrolar do tempo e com a ajuda ou desajuda de quem nos rodeia – Mãe, pai, avós, mestres, professores, amigos, vizinhos e colegas do café e tantos outros agentes educativos – vamos desenvolvendo as nossas capacidades, formando o nosso carácter, estabelecendo a nossa forma de ser e estar na vida, ou seja, construído o nosso Universo pessoal.

As histórias que vos ofereço neste livro, ajudam cada um(a), a compreender este fenómeno maravilhoso da vida, como escreve o Prof. Júlio Machado Vaz, com candura, transparência e doçura.

Com um abraço de amizade
José Teixeira


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Notas do editor:

Vd. poste de 4 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24823: Agenda cultural (844): Convite para o lançamento do novo livro do nosso camarada José Teixeira, "O Universo Que Habita Em Nós", prefaciado pelo Prof. Júlio Machado Vaz, a levar a efeito no próximo dia 18 de Novembro de 2018, pelas 16h30 horas, no Centro Cultural de Leça do Balio, sito no Largo do Mosteiro de Leça do Balio, com apresentação a cargo do Prof Luís Graça

Último poste da série de 10 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23969: Lembrete (44): Lançamento do livro "ANTIGOS COMBATENTES, Humilhados e Abandonados", por José Maria Monteiro, dia 14 de Janeiro de 2023, pelas 12,00 horas, no Manuela Borges Eventos, Rua Principal Fonte do Feto, 2835, Santo António da Charneca - Barreiro

sábado, 4 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24823: Agenda cultural (844): Convite para o lançamento do novo livro do nosso camarada José Teixeira, "O Universo Que Habita Em Nós", prefaciado pelo Prof. Júlio Machado Vaz, a levar a efeito no próximo dia 18 de Novembro de 2023, pelas 16h30 horas, no Centro Cultural de Leça do Balio, sito no Largo do Mosteiro de Leça do Balio, com apresentação a cargo do Prof Luís Graça

C O N V I T E


Mensagem do autor:

Cada um de nós ao nascer, transporta dentro de si um Universo a construir – a sua vida. Com o desenrolar do tempo e com a ajuda ou desajuda de quem nos rodeia – Mãe, pai, avós, mestres, professores, amigos, vizinhos e colegas do café e tantos outros agentes educativos – vamos desenvolvendo as nossas capacidades, formando o nosso carácter, estabelecendo a nossa forma de ser e estar na vida, ou seja, construído o nosso Universo pessoal.

As histórias que vos ofereço neste livro, ajudam cada um(a), a compreender este fenómeno maravilhoso da vida, como escreve o Prof. Júlio Machado Vaz, com candura, transparência e doçura.

Com um abraço de amizade
José Teixeira


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Prefácio do Prof Júlio Machado Vaz

Se me pedirem para resumir estes textos numa só palavra eu não hesito na escolha – candura. E errado estaria quem a associasse à ingenuida­de, ela veio-me ao espírito de braço dado com outra – transparência…

…Por isso não me surpreendeu que da madura escrita infantil jorrasse, a céu aberta ou clandestina, uma idealização da figura feminina, ves­tida de mãe, madrinha de guerra ou mulher, mas sempre amada por cuidadora e ternurenta, nem a traição a faz descer do altar ao qual se confessa a dor por lhe ter virado costas e futuro. Essa sombra proteto­ra, indiferente ao género, permeia as estórias de quem acompanha os sem abrigo e lhes ouve as narrativas de vida, com pudor escondidas por trás dos consumos escancarados de álcool e (outras) drogas, sin­gela homenagem aos que, crentes ou não, amam o próximo depois de dias frenéticos de trabalho.

E porque o autor não esconde, na obra que nos ocupa ou no currículo, o derriço pela poesia, apetece-me fechar o círculo com rima fácil, típica de quem não verseja – juntar doçura à candura. Porque, mesmo ao abordar os quotidianos mais duros, estas páginas cultivam o registo meigo de quem os revisita dorido, mas pacificado; sem fímbria de aze­dume. Talvez seja esse o maior mérito deste livro – conduzir-nos, como indivíduos e membros de uma sociedade feroz, interesseira e geradora das maiores e mais cruéis desigualdades, a um espelho - cândido; im­placável; menineiro.

Júlio Machado Vaz



DETALHE DO LIVRO

Título: O Universo Que Habita em Nós
Autor: José Teixeira
Editora: Astrolábio Edições
Data de publicação: 2023-09-28
Dimensões: 15x23 cm
Páginas: 230
Encadernação: Capa mole
ISBN: 978-989-37-6094-9
Género: Ficção
Idioma: PT

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Notas do editor

Vd. poste de 19 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24772: Agenda cultural (842): Pré-apresentação do novo livro do nosso camarada José Teixeira, "O Universo Que Habita Em Nós", prefaciado pelo Prof. Júlio Machado Vaz

Último poste da série de 23 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24786: Agenda cultural (843): Doclisboa - 21º Festival Internacional de Cinema: 25 de outubro, 4ª feira, às 10h30, na Culturgest, Pequeno Auditório, projeção do documentário português (119'), "Fogo no Lodo", filmado na aldeia de Unal, a sul de Buba, seguida de debate com os realizadores, Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24799: Notas de leitura (1628): "Dos Sonhos e das Imagens, A Guerra de Libertação na Guiné-Bissau", por Catarina Laranjeiro; Outro Modo Cooperativa Cultural, 2021 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Fevereiro de 2022:

Queridos amigos,
Há aspetos surpreendentes na investigação de Catarina Laranjeiro, logo a releitura a que procede de toda a filmografia durante a Luta e o que se tentou fazer no pós-independência, as mensagens produzidas para uso externo e interno, o que revelavam e o que ocultavam. Cabral contava com um novo sistema educativo que fosse gradualmente reduzido à insignificância o animismo (e estou levado a crer que essa nova cultura iria paralisar a influência do islamismo). As coisas não aconteceram assim como a autora mostra no seu trabalho de campo em Unal. Um olhar inovador que faz cruzar a etnografia com o conhecimento histórico, é uma obra que merece ser apreciada.

Um abraço do
Mário



A construção e a desconstrução das imagens sobre a Guerra de Libertação da Guiné-Bissau (2)

Mário Beja Santos

O livro Dos Sonhos e das Imagens, A Guerra de Libertação na Guiné-Bissau, por Catarina Laranjeiro, Outro Modo Cooperativa Cultural, 2021, baseia-se na tese de doutoramento da autora, é um misto de inventário historiográfico, análise sociocultural da imagem e trabalho etnográfico que a autora realizou em Unal, no Sul da Guiné, entre setembro de 2015 e abril de 2016, aqui voltou entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020.

A investigadora esclarece:
“A montante do trabalho etnográfico, esta investigação propôs analisar os filmes realizados durante a guerra em tabancas das zonas libertadas, entre as quais o Unal foi escolhido como arquétipo (…) Este livro é sobre as imagens produzidas no decorrer da luta da Libertação da Guiné-Bissau e particularmente sobre os filmes documentais. Genericamente, estes filmes mostram como o PAIGC desenvolvia uma ação militar eficaz contra o exército colonial português enquanto construía uma nova sociedade, nas zonas libertadas, precursora da nação por vir. Enquanto instrumento de Luta, o cinema tinha por missão primeira construir uma memória documental e, em última instância, um arquivo; isto é, o que deveria ser dito no futuro sobre o presente quando este se tornasse passado (…) Esta investigação é movida pela vontade de compreender como uma imagem provoca outra, dispositivo fundamental da linguagem cinematográfica. Concretamente, como as sucessivas crises e a instabilidade política procederam uma Luta de Libertação particularmente promissora que assegurava estar a ser construída uma auspiciosa sociedade nas zonas libertadas. Para tal, importa considerar quem é que, antes e depois da independência, reclamou o poder de construir todas estas representações, quer as de sucesso, quer as de fracasso. Trata-se de debater a legitimidade e a autoridade que os processos históricos adquirem quando se tornam visualmente percetíveis”.


Já se discorreu sobre a síntese histórica da Luta da Libertação, apresentou-se uma análise pós-colonial das imagens, enfatizando o papel do cinema e dos documentários propagandísticos. Eram obras destinadas a mostrar como se combatia e se consolidava o novo Estado, tornava-se obrigatório que se vissem crianças nas escolas, hospitais a funcionar, estas imagens deviam ser tratadas com o expoente de uma nova cultura, assim se estavam a preparar profissionais de saúde graças aos países amigos, até se mostrava imagens de uma farmácia, seguramente para cativar gente do primeiro mundo. Era, para consumo interno, imagem de o “por vir”, estava em construção uma nova cidade nas zonas libertadas. Catarina Laranjeiro questiona a natureza de todas estas encenações e extrai exemplos de vários filmes. Recorda, por exemplo, que há imagens que sugerem que estava um sistema económico a ser implementado que permitia à população das zonas libertadas aceder a bens de primeira necessidade. “São ocultadas todas as formas de resistência ao sistema económico colonial vigente, sendo que, ao longo destes filmes, a ineficiência da colonização portuguesa surge sempre para descrever a ausência de estruturas como escolas ou hospitais, ou de quadros como professores, enfermeiras ou médicos. É, assim, implícito que o problema não era o colonialismo por si, mas uma penetração incompleta de um estado colonial ineficaz na sociedade tradicional, o que, ironicamente, corrobora que a missão europeia havia ficado incompleta. Subjacente, fica a ideia de que competia agora ao apoio internacional terminá-la”.

São, insista-se, imagens que pretendem propagar os sinais de uma nova cultura e a autora observa:
“Em contraponto, nunca são mostradas imagens de queimaduras a serem tratadas com óleo de palma e folhas de farroba piladas, terapêutica partilhada naquele contexto, que, segundo os dados empíricos recolhidos no decorrer do meu trabalho de campo, eram um recurso bastante comum. Acrescento que, reconhecendo o amplo contributo dos médicos cubanos, os antigos combatentes que entrevistei enfatizavam que houve um enorme envolvimento dos curandeiros locais no apoio às vítimas de guerra, nunca devidamente reconhecido. Estes especialistas foram remetidos para o fora-de-campo das imagens; ao serem exclusivamente documentados as formas e os saberes dos doadores internacionais, apenas estes foram considerados válidos”.

A autora vai mais longe e interroga as línguas em que se fala nestes filmes, a língua dominante é o português, o pai fundador do PAIGC nunca hesitou qual seria a futura língua oficial do novo Estado. É um extenso e inovador olhar sobre o discurso do poder, a representação das mulheres, a centralidade política de Amílcar Cabral, ele era o único dirigente a conceder entrevistas. Igualmente a autora observa que em todos os filmes estão presentes treinos e formações militares, era importante que se soubesse que havia disciplina militar, aulas de ginástica, gente uniformizada, jamais se concede imagem às religiões tradicionais, o próprio Cabral era cuidadoso nos seus discursos, com subtileza pedia aos professores para combater a ignorância e os medos, apelando mesmo: “A maior libertação que podem dar à nossa terra é libertar o povo do medo. Para libertar o nosso povo do medo temos de o libertar da ignorância. Por isso é que o trabalho de professores é o trabalho de vanguarda”.

Seria esse trabalho a forma mais eficaz de combater as crenças no Poilão sagrado, nas intempéries naturais, os curandeiros, os Irãs, os amuletos. Chegada a independência, criada uma nova elite, prometido até um Instituto Nacional de Cinema (que não dispunha de verbas) realizaram-se imagens em que Amílcar Cabral continuava a estar muito presente, aliás o único filme terminado intitula-se O Regresso de Cabral, é o documentário das cerimónias fúnebres durante a transladação do seu corpo de Conacri para Bissau. Esta filmografia irá ser proibida por Nino Vieira, argumentando que se tratava de um instrumento de propaganda de um regime anterior. E depois entrou-se numa era de conspirações (inventadas ou não), na Guiné-Bissau imergiram inimigos internos sob múltiplos disfarces, eram encenações para travar descontentamentos ou marcar a exemplaridade do poder do ditador.


A autora está agora em trabalho de campo em Unal, faz a apresentação do lugar, chegou a hora das entrevistas, houve recriminações de gente desapontada, eu estava a ler este trabalho da Catarina Laranjeiro e ocorreu-me a tese de doutoramento de Tina Kramer, na Universidade Humboldt de Berlim sobre a reconciliação (ou não) dos antigos combatentes guineenses, depoimentos pungentes de gente que até confessava a sua humilhação por agora trabalhar para guineenses que tinham combatido ao lado dos portugueses e que recebiam reformas, tese de doutoramento que deploravelmente não está traduzida para português. Aquele povo do Unal exigiu ter escola, construíram-na, cuidam do professor, a região, confrontada com a inércia do Estado dá as respostas que pode. E muito interessante é a sua abordagem que vai dos discursos fílmicos às memórias vernaculares, é então que fica claro que as forças animistas têm um papel preponderante não só no Sul do país como em todas as outras regiões da Guiné-Bissau.

E chegou a hora das considerações finais, àquelas imagens fílmicas eram inventadas e idealizadas para o exterior e presumiam-se ter valor catequético no interior.
“As imagens produzidas no decorrer da Luta revelam muito sobre o tempo presente. Mais precisamente permitem-nos compreender o paradigma político que hoje rotula de falhado o Estado guineense. Os homens e mulheres que viviam nas zonas libertadas não foram meras marionetas manobradas por ideologias ou legados históricos, isto é, não foram apenas personagens que integraram estes filmes. Todos e todas foram atores sociais conscientes que construíram as suas próprias ficções em torno da Luta (…) A população da Guiné-Bissau não pode ser lida como um todo homogéneo. Para a grande maioria dos combatentes desta guerra, o Estado-nação moderno era uma abstração. Nos últimos anos, tem havido uma tentativa notória de atribuir uma maior visibilidade à memória da Guerra Colonial. É hoje consensual que as guerras coloniais contribuíram para extenuar o regime ditatorial português e a ideologia imperial em que este se alicerçava. Os dados encontrados sugerem que, tal como as identidades, as memórias, e as modernidades, também a descolonização deve ser conjugada no plural”.

Esta descolonização não deixa nenhum ator de fora, nem os antigos combatentes portugueses nem o povo guineense em geral.

Pela sua abordagem original, uma obra que se recomenda pelo novo sentido da História que a acompanha.
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24784: Notas de leitura (1627): "Dos Sonhos e das Imagens, A Guerra de Libertação na Guiné-Bissau", por Catarina Laranjeiro; Outro Modo Cooperativa Cultural, 2021 (1) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24784: Notas de leitura (1627): "Dos Sonhos e das Imagens, A Guerra de Libertação na Guiné-Bissau", por Catarina Laranjeiro; Outro Modo Cooperativa Cultural, 2021 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Fevereiro de 2022:

Queridos amigos,
Reconheça-se a abordagem original desta tese de doutoramento sobre as representações históricas e políticas dos homens e mulheres que vão aparecer na filmografia que tanto impressionou todos aqueles que apoiavam a luta anticolonial, mostravam-se infraestruturas de educação e saúde, um povo que era encenado como homogéneo e totalmente representativo de todas as etnias, eram uma Nação na forja, um quase-Estado, um incontestável líder com reputação internacional, enfim filmografia apologética a uma nova sociedade, eram estas as imagens que circulavam pelos auditórios e que correspondiam, na íntegra, à estratégia diplomática idealizada por Cabral.

A pesquisa de Catarina Laranjeiro é de ir ao fundo da questão, saber se estes homens e estas mulheres estavam e ficaram cientes da uniformidade do projeto político que o PAIGC propunha implementar. Como veremos, há respostas assustadoras, e veremos que os horrores e pesadelos que esta propaganda do PAIGC atribuía aos portugueses era inteiramente vivida e sofrida pelas crueldades perpetradas nas chamadas zonas libertadas, logo com os recrutamentos forçados. Peço ao leitor que acompanhe o desenvolvimento do trabalho da Catarina Laranjeiro, deixa uma ampla margem de reflexão, abre espaço para novas investigações.

Um abraço do
Mário



A construção e a desconstrução das imagens sobre a Guerra de Libertação da Guiné-Bissau (1)

Mário Beja Santos

O livro Dos Sonhos e das Imagens, A Guerra de Libertação na Guiné-Bissau, por Catarina Laranjeiro, Outro Modo Cooperativa Cultural, 2021, baseia-se na tese de doutoramento da autora, é um misto de inventário historiográfico, análise sociocultural da imagem e trabalho etnográfico que a autora realizou em Unal, no Sul da Guiné, entre setembro de 2015 e abril de 2016, aqui voltou entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020.

A investigadora esclarece:

“A montante do trabalho etnográfico, esta investigação propus analisar os filmes realizados durante a guerra em tabancas das zonas libertadas, entre as quais o Unal foi escolhido como arquétipo (…) Este livro é sobre as imagens produzidas no decorrer da luta da Libertação da Guiné-Bissau e particularmente sobre os filmes documentais. 

Genericamente, estes filmes mostram como o PAIGC desenvolvia uma ação militar eficaz contra o exército colonial português enquanto construía uma nova sociedade, nas zonas libertadas, precursora da nação por vir. Enquanto instrumento de Luta, o cinema tinha por missão primeira construir uma memória documental e, em última instância, um arquivo; isto é, o que deveria ser dito no futuro sobre o presente quando este se tornasse passado (…) 

Esta investigação é movida pela vontade de compreender como uma imagem provoca outra, dispositivo fundamental da linguagem cinematográfica. Concretamente, como as sucessivas crises e a instabilidade política procederam uma Luta de Libertação particularmente promissora que assegurava estar a ser construída uma auspiciosa sociedade nas zonas libertadas. Para tal, importa considerar quem é que, antes e depois da independência, reclamou o poder de construir todas estas representações, quer as de sucesso, quer as de fracasso. Trata-se de debater a legitimidade e a autoridade que os processos históricos adquirem quando se tornam visualmente percetíveis”.

A autora quis ir mais longe, trabalhou em Unal, bastião do PAIGC, obteve inúmeros testemunhos.

“Com estes testemunhos, levei a cabo um exercício de contrastes com as narrativas fílmicas, de forma a aceder a outras narrativas, em particular as ligadas à cosmologia, enquanto arena de resistência política, cultural e militar. Através deste exercício, examinei como a história da Luta da Libertação tem sido instrumentalizada para legitimar ou confirmar versões dos acontecimentos que carecem de discussão”.

Dando primazia ao quadro colonial e à luta pela independência, Catarina Laranjeiro dá-nos uma síntese da presença portuguesa, a alvorada dos movimentos emancipalistas, o crescente predomínio do PAIGC na Luta de Libertação, é indiscutível que leu algumas das obras mais relevantes, isto sempre num quadro convencional em que infelizmente cai a generalidade dos historiadores, nem uma palavra sobre o hiato que vai entre o início da guerra e a chegada de Spínola, é o tal buraco que só será preenchido quando os doutos investigadores se lembrarem que existem arquivos da Defesa Nacional e do Ultramar que, no caso vertente, superam o que possa constar no Arquivo Salazar ou documentação existente noutros arquivos idóneos, como a documentação de Amílcar Cabral na Fundação Mário Soares e Maria Barroso. Paciência, melhores tempos virão.

A autora destaca, e reconheçamos vem a propósito, o papel dos Balantas na guerrilha, o papel das mulheres na Luta, a questão animista com a qual Cabral contundia com cuidado, tratando-a por “liquidação progressiva dos restos de mentalidade tribal”, ele suponha que a cultura da Luta superasse o sistema religioso da grande maioria da população guineense, devota a espíritos que em crioulo se designam de Irãs, reconheça-se que a autora prima no campo da inovação das investigações trazendo para a mesa da discussão estas forças religiosas que não vão aparecer na filmografia propagandística que percorreu mundo.

Ainda dentro desta síntese histórica, a autora dá-nos um quadro sumário sobre a violência política pós-independência, as propostas ideológicas de Cabral para a descentralização e para a participação das populações vão sendo sucessivamente ignoradas, as populações rurais acabaram entregues à sua sorte, viraram as costas aos comités das tabancas, isto enquanto o país avançava para o colapso económico e a miséria recrudescia, dá-se o golpe de Estado de 14 de novembro de 1980, é a separação da Guiné de Cabo Verde, não abranda o clima de violência política, vai ser retomada a questão Balanta, que terá o seu ponto alto nas execuções de Paulo Correia e outros, temos seguidamente o conflito político-militar, e a autora anota bem que “Finda a Luta de Libertação, a rebeldia e a resistência da população guineense deixaram de ser valorizadas quer pelas vanguardas políticas que apoiaram o PAIGC, quer pelo próprio partido”

Gradualmente, o farol revolucionário que era atribuído à Guiné-Bissau apagou-se e a Guiné foi incluída nos circuitos do narcotráfico e tratada até hoje como um Estado falhado.

A segunda vertente do trabalho de Catarina Laranjeiro é da interpretação das imagens, como hoje se vê aquele passado, imagens muitas vezes encenadas, muito ao gosto do que via ser passado para emocionar as plateias, sobretudo aquelas que apoiavam a luta anticolonial, a autora revela-se bem conhecedora da história das imagens e do seu desempenho e o papel do mito, os seus significados sociais, a nossa perceção pelo visual, a dupla temporalidade da imagem e da memória, a representação das cenas de combate ou daquela atividade humilde de transportar à cabeça munições ou alimentos, mostrar esses anónimos como figurantes do entusiasmo da luta. 

E essa representação cénica até pode vir a incluir as imagens dos encontros entre as tropas portuguesas e o PAIGC, as iniciais revelando um misto de desconfiança e acanhamento, posturas rígidas, mesmo quando alguns dos protagonistas conversam com o semblante ameno, os outros em expetativa, mesmo fugindo com o olhar à objetiva.

Esta reflexão sobre a imagem é uma inovação nos estudos, abre a porta ao questionamento do que se pretendia passar para o exterior e vir a utilizar o interior como apêndice histórico. E daí o mergulho que a autora procede no Cinema de Libertação na Guiné-Bissau, indo mesmo aos acervos existentes no INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, onde se guardam imagens da administração colonial, buscando a sua utilidade: 

“O grande propósito destas imagens era promover, na sociedade metropolitana, sensações de proximidade e pertença, tornando próxima e aparentemente segura uma guerra que acontecia numa terra que, supostamente, lhe pertencia”

Em contrapartida, o PAIGC criava a sua máquina de propaganda, dava a sugestão das atrocidades cometidas pelo Exército Português, desvelavam-se as infraestruturas nas zonas libertadas, afluíram à Guiné cineastas estrangeiros, vieram nomeadamente da Argélia, Suécia e Cuba.

A autora resume a principal filmografia e interroga-nos sobre o que se mostrava externa e internamente: a construção de um Estado por vir. Vale a pena ter em consideração os comentários tecidos pela autora.


(continua)
Amílcar Cabral
Casal de combatentes
Preparação do canhão

Três imagens retiradas de Os esboços da nação guineense em Madina Boé (1968), de José Massip

Um dos primeiros cineastas guineenses, Sana Na N’hada, fotografia é retirada do Jornal O Democrata, Guiné-Bissau, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24775: Notas de leitura (1626):"Portugueses em África, Uma Breve História, Da Conquista de Ceuta à Descolonização", por Pedro Rabaçal; Marcador Editora (Editorial Presença), 2017 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24772: Agenda cultural (842): Pré-apresentação do novo livro do nosso camarada José Teixeira, "O Universo Que Habita Em Nós", prefaciado pelo Prof. Júlio Machado Vaz


1. Em mensagem de 14 de Outubro de 2023, o mosso camarada José Teixeira faz-nos a pré-apresentação do deu novo livro O Universo Que Habita Em Nós.


O UNIVERSO QUE HABITA EM NÓS

Histórias de vida, com vida

Um livro escrito por José Teixeira

Prefaciado por Júlio Machado Vaz

Cada um de nós ao nascer, transporta dentro de si um Universo a construir – a sua vida. Com o desenrolar do tempo e com a ajuda ou desajuda de quem nos rodeia – Mãe, pai, avós, mestres, professores, amigos, vizinhos e colegas do café e tantos outros agentes educativos – vamos desenvolvendo as nossas capacidades, formando o nosso carácter, estabelecendo a nossa forma de ser e estar na vida, ou seja, construído o nosso Universo pessoal.

As histórias que vos ofereço neste livro, ajudam cada um(a), a compreender este fenómeno maravilhoso da vida, como escreve o Prof. Júlio Machado Vaz, com candura, transparência e doçura.

Com um abraço de amizade
José Teixeira
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24769: Agenda cultural (841): Comemorar o Cinquentenário do 25 de Abril em Torre de Moncorvo - A Guerra Colonial: Conversa/debate com escritores - Mário Beja Santos e Paulo Cordeiro Salgado; moderador António Lopes (Paulo Cordeiro Salgado)

domingo, 19 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24154: Os nossos seres, saberes e lazeres (562): Os meus livros. Ao todo, quinze (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico)

1. Em mensagem do dia 17 de Março de 2023, o nosso camarada Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68), enviou-nos uma listagem dos seus livros publicados, cujos temas vão desde a Medicina à poesia, passando pelo Conto e pela pintura.
Felizmente o nosso blogue tem já muitas publicações dos seus trabalhos de pintura, normalmente ilustrando os seus apreciados poemas. Alguns dos livros mais antigos estão há muito esgotados.


Os meus livros.
Ao todo, quinze. Falta o primeiro, escrito há largos anos, do qual tenho um exemplar, mas não sei onde pára. Era um livro de cardiologia, com o título "Cirurgia geral no doente cardíaco".

Por ordem cronológica:


1 - Cirurgia geral no doente cardíaco.
2 - ESTA ÁGUA QUE AQUI VEM DAR (Poemas e pintura)
3 - VEM COMIGO COMER AMENDOIM (Contos e poemas)
4 - PALAVRAS E CORES (pintura e poemas)
5 - ADÃO CRUZ - Tempo, Sonho e Razão (Pintura e texto).
6 - ADÃO CRUZ - Hora a hora rente ao tempo (Pintura e texto).
7 - ADÃO CRUZ - Um gesto de silêncio (Pintura e poemas).
8 - Poemas do lusco-fusco (Poemas).
9 - Poemas do ser e não ser (poemas).
10 - Poemas estoricônticos (Poemas).
11 - VAI O RIO NO ESTUÁRIO - Poemas de braços abertos (Poemas).
12 - VAI O RIO NO ESTUÀRIO - Cores de braços abertos (Pintura e texto).
13 - CENAS DO PARAÍSO (Contos).
14 - CONTOS DO SER E NÃO SER (Contos).
15 - Entre as mãos e o sonho (Poemas).
Adão Cruz
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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24152: Os nossos seres, saberes e lazeres (561): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (94): Da bela Tavira a uma exposição sobre a Ordem de Cristo em Castro Marim, com José Cutileiro em pano de fundo (1) (Mário Beja Santos)

domingo, 12 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24139: Agenda cultural (831): Lançamento, em Abril, do livro "Rumo à Revolução - Os Meses Finais do Estado Novo", por José Matos em coautoria com a jornalista Zélia Oliveira (José Matos)


1. Mensagem, datada de 11 de Março de 2023, de José Matos, membro da nossa Tabanca Grande, investigador em História Militar, que tem feito investigação sobre as operações da Força Aérea na Guerra Colonial, principalmente na Guiné, e é colaborador regular da Revista Militar, dando notícia do lançamento, em breve, do livro "Rumo à Revolução - Os Meses Finais do Estado Novo" de que é coautor com a jornalista Zélia Oliveira:

Caros amigos
Queria pedir a vossa divulgação do meu último livro no blogue.
Vai estar à venda brevemente (abril) em todas as livrarias. Para já ainda não está à venda, mas deixo aqui a capa e algumas notas, dado que também fala da Guiné.

- É uma abordagem histórica aos três meses que antecederam a revolução.
- Procuramos narrar com algum detalhe os acontecimentos na fase final do regime.
- Analisamos também a situação nas colónias (Moçambique, Guiné e Angola) e as intenções do Governo relativamente à guerra.
- Quem comprar vai perceber porque é que o 25 de Abril era inevitável e como é que o MFA preparou tudo.

Obrigado
José Matos


Clicar nas imagens para leitura dos textos
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24079: Agenda cultural (830): Convite do Grupo "Asas de Poesia" para a sessão de poesia e música a levar a efeito no dia 25 de Fevereiro de 2023, pelas 16h00, na Biblioteca Municipal Dr. José Vieira de Carvalho - Maia. A 1.ª Parte será preenchida com o Poeta José Teixeira. Haverá ainda a participação especial do Duo de Música de Coimbra, composto por Roberto Assis e Álvaro Basto