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terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22954: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXIII: Velhice vai no Bissau, Ó-lé-lé...lé-lé...


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Buba > CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74 > 27 de Junho de 1974> O pessoal  "instalado" na LDG batizada com o nome do nosso capitão, Vasco da Gama, a caminho de Bissau... “Tudo ao molho e Fé em Deus”... Nada de euforias!


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCAV 8351 (1972/74 >  25 de Junho de 1974 > Aqui vamos nós… sem euforias... a caminho de casa
 
Fotos (e legendas): © Carlos Machado / Joaquim Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto 3 > Guiné > Bissau > c. 1960/70 > Vista aérea de Bissau. Ao centro, o Palácio do Governo e a Praça do Império. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 118". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL). (Cortesia do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



Joaquim Costa, hoje e ontem. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondamar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado. Foi também professor.

Já saiu o seu livro de memórias (, a sua história de vida),
de que temos estado a editar largos excertos, por cortesia sua.
Tem um pósfácio da autoria do nosso editor Luís Graça (*)



Paz &  Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (**)

Parte XXIII - … VELHICE VAI NO BISSAU, “Ó-LÉ-LÉ-LÉ-LÉ…”


Entretanto, lá chega o dia, há muito desejado, de deixarmos o Cumbijã, com destino a Bissau (riscando o último “pau” na caserna), em trânsito para a peluda.

Coisa estranha!,  na partida não se sentia o entusiasmo normal destas situações. Compreensível, tendo em conta o fim (ainda que tacitamente) das hostilidades.

Deixamos o Cumbijã à guarda da companhia que havia abandonado Guileje, a CCAV 8350. Um reencontro, fraterno, mas estranho, depois de Estremoz. O normal seria a nossa substituição por periquitos e não por alguém tão velhinhos quanto nós, como era o caso da CCav 8350. Estava, obviamente, em curso algo de injusto para uma companhia que passou por um dos momentos mais dramáticos da guerra na Guiné.

Ao passarmos o cavalo de frisa, abandonando definitivamente Cumbijã, uma lágrima senti ao canto do olho. Não sei se de alegria pela partida, se de tristeza pelas perdas e sofrimento de tantos camaradas e elementos nativos, questionando-me: porquê?

Afinal tudo se resolveu da noite para o dia (de 24 para 25 de Abril de 1974)!? Eu, só sei que não sei! Alguém que me explique,  que eu estou muito cansado...

Ao fazermos o caminho de Cumbijã para Buba  (Foto nº 1) para apanharmos a LDG para Bissau, junto à bolanha das “Touradas”, um grupo de elementos do PAIGC emerge da mata, armados até aos dentes e nós já completamente desarmados (senti arrepios na espinha), acenando com as mãos e as armas. 

Foi um momento muito estranho, dava a sensação que do dia para a noite o mundo tinha virado do avesso. Ficamos na dúvida se foi um gesto fraterno ou de alívio (passe a presunção). Grupos do PAIGC tinham já ido, creio eu, a todos os aquartelamentos da zona numa visita de cortesia e ao mesmo tempo para falarem com as populações sobre os rápidos desenvolvimentos que iriam conduzir à independência.

Vivi com alguma perplexidade, a forma como gerimos o fim das hostilidades. Esta feliz fotografia publicada no Blogue (paradigma do momento) fala por si!


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Julho de 1974: visita de Bunca Dabó e do seu bigrupo, fortemente armado... Ao centro, o nosso amigo e camarada Jorge Pinto, então alf mil, em farda nº 2, desarmado, fazendo as "honras da casa" (*). O aquartelamento e a povoação foram ocupados pelo PAIGC apenas em 2 de setembro de 1974. (Natural de Turquel, Alcobaça, o Jorge Pinto é professor do ensino secundário, reformado.)

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Um dos beligerantes sempre se apresentando armado até aos dentes enquanto o outro, completamente desarmado, de mãos nos bolsos e de palito ao canto da boca.

Muita... muita negligência, muita descontração e muita “fé...zada” que o Natal é todos os dias…

Nunca a companhia se encontrou ou falou com grupos do PAIGC, nem nunca fomos contactados para os receber (talvez porque não tínhamos população?). Soubemos que passados uns dias depois da nossa saída, estes entraram, a seu pedido, em Cumbijã.

Em Bissau foi descanso, muitos bifes com batatas fritas, muita...muita ostra, com cerveja e ás vezes, imaginem! vinho verde branco fresquinho.

A minha perceção, chegado a Bissau, era o de um clima de “fim de guerra” e ao mesmo tempo tenso.

Só conheci Bissau, fugazmente, nos momentos de partida e regresso de férias, pelo que não dava para comparar. Contudo, era evidente um ambiente de descompressão, que sempre acontece com o fim da guerra, por parte dos militares, mas, ao mesmo tempo, de um nervosismos indisfarçável dos europeus aí residentes: quadros de empresas, funcionários públicos e principalmente comerciantes. O semblante do proprietário da escola de condução, meu instrutor, onde tirei a carta, gritava através do seu silêncio ensurdecedor em cada aula.

Quanto à população em geral a vida continuava, nas suas rotinas de sempre, como se nada tivesse acontecido… ou estivesse para acontecer.

Deu para comprar um terço de um carocha (o carro pertencia a 3), onde o Gouveia me ensinou a conduzir, e um relógio “Citizen” (excelente relógio que ainda hoje funciona) para gastar os últimos pesos

Deu ainda para tirar a carta de condução, em tempo recorde, graças às lições do Gouveia (no meu ⅓ de carocha), com exame no dia anterior ao embarque para Portugal. Incumbi o camarada Mourato, furriel periquito do meu pelotão, para me enviar a dita carta logo que estivesse pronta. 

A carta tardou tanto a chegar que resolvi inscrever-me numa escola de condução para tirar uma nova. Felizmente, antes do exame lá recebi o dito papel com as desculpas do Mourato que não a enviou, por correio, com receio que a mesma não chegasse ao destino dada a anarquia reinante de fim do império. Acabou por ma enviar já em Portugal.

Galinha Gorda... por muito dinheiro

Já em Bissau (a conhecer e a viver um pouco do seu dia dia), éramos chamados a fazer proteção à cidade.

Bissau, em grande parte do seu perímetro, tinha uma proteção de arame farpado com vários pontos de vigia ao longo do seu percurso.

Quando entrava de serviço, uma das funções era fazer a ronda, de jipe com um condutor, por todos os postos de vigia assegurando que todos os soldados estavam nos seus postos e em alerta. Era evidente o desleixo nos postos de vigia dado que se tinha já interiorizado que a guerra tinha acabado.

Num dos postos de vigia, da responsabilidade de soldados da companhia, parei para conversar um pouco. Logo me arrependi porque de imediato vem na minha direção uma mulher esbaforida, a queixar-se de não sei do quê, não conseguindo perceber absolutamente nada do que dizia dada a pressa com que falava. Apercebo-me que os soldados,  em vez de ficarem comigo para me protegerem daquele “ataque” de fúria da mulher, todos se afastam, com um sorriso entre dentes.

Percebi logo que havia história. A mulher, um pouco mais calma, vai ao chão e pega numa pena de galinha e aponta para os soldados. Mistério fácil de desvendar, para este “Sherlock Holmes” do Cumbijã. Estamos perante um crime cheio de rabos de palha: o rancho do almoço estava intacto e junto ao posto de vigia uma fogueira ainda mal apagada.

Exerci a minha autoridade (?) fazendo uma acareação entre as partes. Dizia a mulher: "Estes militares foram à minha tabanca, roubaram, mataram e comeram a minha galinha".

Os soldados afirmaram: "Concordamos com tudo o que a mulher disse menos o rouba da galinha já que foi a mesma (a galinha) que entrou, sem autorização, no nosso posto de vigia, pondo em risco a nossa segurança"…

Assim se chegou à reconstituição do “crime”: Um soldado, que já tinha feito ali serviço, tomou de ponta aquela galinha. Trouxe umas sementes da caserna para a aliciar a entrar na guarita seguindo o carreiro de sementes, deixadas por ele, da tabanca até à guarita, acabando aqui por a matar. Perante a galinha morta, depois de conferenciarem, tomaram a decisão mais sensata de assá-la e comê-la.

Todos assumiram o pecado da “gula” ao afirmarem: "Assámos a galinha e todos a comemos. Soube-nos também como se fosse roubada... mas não foi!"

Afinal não foi nada fácil atribuir culpas, pelo que fui colocando pesos (dinheiro) na mão da mulher até ela se calar. Ou seja: Paguei, mas não comi… mas também não pequei de gula!

Continua...


.

Capa do livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina, Guiné: 1972/74". Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp.(*)

O livro, saído neste último Natal de 2021, aguarda a melhor oportunidade para a sua apresentação ao público. 

Mas podem desde já serem feitos pedidos ao autor: valor 10 € (livro + custas de envio), a transferir para o seu NIB que será enviado juntamente com o livro.

Os pedidos devem ser feitos para o e-mail: jscosta68@gmail.com, indicando o endereço postal.
__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22861: Notas de leitura (1404): Joaquim Costa, "Memórias de guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina. Guiné: 1972/74", Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp. - Parte I: "E tudo isto, a guerra, para quê ? Não sei"...

(**) Último poste da série > 16 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22911: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXII: Os torneios de futebol e a Cilinha que não veio, e a notícia do 25 de Abril que só chegou a 26...

Postes anteriores (faz agiora um ano que começámos a publicar esta série, que já deu um livro):

20 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22824: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXI: A "marcha louca" na véspera do Natal de 1973

26 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22754: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XX: outras guerras, outros protagonistas: os mosquitos, as abelhas, as formigas, as matacanhas...

12 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22711: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XIX: As hortinhas... dos "durões"

2 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22682: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XVIII: A ração de combate

11 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22621: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XVII: a minha "bigodaça”... que tanto incomodou os senhores da guerra

22 de setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22561: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XVI: O regresso de férias e o terceiro murro no estômago

31 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22499: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XV: Férias em julho/agosto de 1973... e o teste da cerveja

25 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22482: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XIV: " Bora lá... para a nova casa, Nhacobá" (Op Balanço Final)


8 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22350: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XII: A primeira noite em Nhacobá (Op Balanço Final)

23 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22308: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XI: Op Balanço Final: Assalto a Nhacobá ou o dia mais longo

7 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22261: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte X: a segunda "visita dos vizinhos" (com novo ataque ao arame)

26 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22225: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte IX: O primeiro murro no estômago

1 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22159: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VIII: A primeira visita... dos "vizinhos", com ataque ao arame!

13 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22100: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VII: Cumbijã: a nossa modesta casinha, os picadores e a crueldade das minas

24 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22032: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VI: (i) batismo de fogo... com a reza do terço; e (ii) uma patuscada... de gato por lebre!

23 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22028: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte V: As nossas lavadeiras... e o furriel 'Pequenina'

12 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21996: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte IV: O embarque, as 'hospedeiras'… e África Minha

27 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21953: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte III: Depois de Chaves, Estremoz, RC 3, onde fomos formar companhia...

13 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21893: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte II: A minha passagem pela maravilhosa cidade de Chaves depois do martírio de Tavira

3 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21844: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 3851, 1972/74) - Parte I: Caldas da Rainha (A chegada às portas da tropa: um fardo pesado); Tavira (Amor, ódio e... trampa)

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21038: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (22): Fotos do álbum do José Lino Oliveira (ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12jul74 - 15out74) - Parte IV: Brá, BENG 447, 14/10/1974: O último arriar da bandeira no CTIG, mas já sem a presença de representantes do PAIGC.








Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 >  14 de outubro de 1974 > O último arriar da bandeira no CTIG, mas já sem a presença de representantes do PAIGC.

Fotos (e legenda): © José Lino Oliveira (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Continuação da publicação do álbum fotográficos do José Lino [Padrão de] Oliveira [ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12-7-1974 / 15-10-1974, a mesma unidade a que pertenceu o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro; membro da nossa Tabanca Grande desde 31/12/2012; vive em Paramos, Espinho] (*)

Parte IV - Brá > BENG 447 >    Fotografias nºs  6 a 13: o arriar da Bandeira no dia de embarque [no "Uíge"]. Por coincidência também foi o Magalhães Ribeiro a arriar a Bandeira.


2. Mensagem do Zé Lino (em reposta a uma observação do nosso editor sobre a qualidade desigual das fotos):

Date: terça, 2/06/2020 à(s) 16:45

Subject: Mansoa 1974

Boa tarde

As fotos de Mansoa (**) são de uma qualidade má pois foram reveladas em Bissau.


Eu tinha, e ainda tenho, a máquina fotográfica reflex Ashai-Pentax com a qual fiz  bastantes fotos em papel como em slides. O problema é encontrá-las. As de Brá são melhores pois foram reveladas cá, e não são de slides. Vou ter mais para enviar, só espero não demorar tanto tempo para as enviar.

Quanto ao camião... Como entregamos o aquartelamento de Mansoa, e o deixamos com tudo, pronto a habitar, viaturas inclusive, tive de alugar 12 camiões para o transporte das nossas tropas até Brá. O camião em causa não posso afirmar se era "nosso" ou não, pois deveriam estar estacionados fora. Lembro-me que todas as viaturas estavam guardadas por militares armados, pois estavam com as nossas malas.

Se precisares de algum esclarecimento sobre os últimos dias é só contactar.

Um grande abraço, José Lino

3. Esclarecimento que nos chega pro email, do José Luís da Silva Gonçalves, ex-Soldado Radiotelegrafista da 2.ª CCAV/BCAV 8320/73 (Olossato, 1974), 729.º Grã-Tabanqueiro (***):


(...) "O último navio a sair do Porto de Bissau foi o "Uíge", mas não foi nele que vieram a últimas tropas. Estas vieram no "Niassa" que, como se sabe,  nem chegou a entrar nas águas territoriais da nova Nação. Correndo o risco, de ser repetitivo,  devo dizer que o "Uíge" desatracou perto das 15 horas da tarde do dia 14 de Outubro de 1974, e os últimos militares começaram a marchar para o porto perto, das 23:30 horas, desse dia, já que quando tocasse a última badalada da noite desse dia, já as lanchas de desembarque vinham a navegar ao encontro do "Niassa".

(...) Eu sei que éramos 2 Batalhões, que encontrei alguns militares do outro batalhão, que moravam em Almada, tal como eu, mas não me lembro que batalhão era. O meu era o BCAV 8320/73, e curiosamente há uns meses atrasados encontrei um desses rapazes do outro Batalhão, mas ele não se recorda nem da companhia a que ele pertencia. Só se lembra de nos termos encontrado a bordo do navio, e dos outros camaradas, companheiros de viagem. (...)
__________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 3 de junho de  2020 > Guiné 61/74 - P21035: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (15): Fotos do álbum do José Lino Oliveira (ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12jul74 - 15out74) - Parte III: a sucata da guerra, abandonada em Brá, no BENG 447...

(**) Vd. poste de 1 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21028: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (15): Fotos do álbum do José Lino Oliveira (ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12jul74 - 15out74) - Parte II: O adeus a Mansoa: 9 de setembro de 1974: o fur mil op esp / ranger Eduardo Magalhães Ribeiro arria a bandeira verde-rubra, na presença dos representantes do MFA e do PAIGC

(***) Vd. poste de 22 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16514: Tabanca Grande (496): José Luís da Silva Gonçalves, ex-Soldado Radiotelegrafista da 2.ª CCAV/BCAV 8320/73 (Olossato, 1974), 729.º Grã-Tabanqueiro

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21035: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (21): Fotos do álbum do José Lino Oliveira (ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12jul74 - 15out74) - Parte III: a sucata da guerra, abandonada em Brá, no BENG 447...






Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > Cemitério de viaturas e outros equipamentos militares (GMC, Panhard, jipes, Obus 14...) abandonados como sucata, no fim da guerra.

Fotos (e legenda): © José Lino Oliveira (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográficos do José Lino [Padrão de] Oliveira [ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12-7-1974 / 15-10-1974, a mesma unidade a que pertenceu o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro; membro da nossa Tabanca Grande desde 31/12/2012; vive em Paramos, Espinho] (*)

Parte III - Brá > BENG 447 > setembro / outubro de 1974
__________

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21028: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (20): Fotos do álbum do José Lino Oliveira (ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12jul74 - 15out74) - Parte II: O adeus a Mansoa: 9 de setembro de 1974: o fur mil op esp / ranger Eduardo Magalhães Ribeiro arria a bandeira verde-rubra, na presença dos representantes do MFA e do PAIGC












 Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 4612/74 (12jul74-15/10/74) >  9 e setembro de 1974 > Cerimónia da entrega (simbólica) do território aos novos senhores da Guiné, o PAIGC,  e  da retirada, ordeira, digna e segura, das últimas tropas portuguesas. Mansoa, em pleno coração do território, na região do Oio, serviu perfeitamente para esse duplo propósito... São fotos históricas, em que se vê o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro, fur mil op esp / ranger, a arriar a bandeira verde-rubra. (O MR é membro da nossa Tabanca Grande, há mais de 15 anos, desde 1/11/2005 (*)...

Já agora, pergunta-se: de quem era o camião , de cor vermelha ou grená, que está estacionado frente ao pau da bandeira ? Devia ser do PAIGC ou ao serviço do PAIGC...


Fotos (e legenda): © José Lino Oliveira (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Mansoa > 1974 > José Lino Oliveira

1. C
ontinuação da publicação do álbum fotográficos do José Lino [Padrão de] Oliveira [ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12-7-1974 / 15-10-1974, a mesma unidade a que pertenceu o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro; membro da nossa Tabanca Grande desde 31/12/2012; vive em Paramos, Espinho] (**)

Parte II - Mansoa > 9 de setembro de 1974

Mas este, não seria ainda o último ato da soberania portuguesa...O BCAÇ 4612/74 seria colocado depois de 9/9/1974, no BENG 447, em Brá, Bissau, e,  conforme informação (e fotos, estas já de melhor qualidade,  do José Lino Oliveir, a publicar nos dois próximos postes), a útima bandeira portuguesa a ser arriada, no CTIG, seria no próprio "dia do  embarque", ou seja, mais de um mês depois, em 15/10/1974

E, "por coincidência, também foi o Magalhães Ribeiro a arriar a Bandeira", diz o José Lino Oliveira.. Será que o nosso "ranger" (e querido coeditor, anigo e camarada MR) confirma ?

________________

Notas do editor:

Mansoa > 9 de setembro de 1974 >
Comissário político do PAIGC,
Manuel Ndinga, prestando declarações
à imprensa. Foto: Eduardo Magalhães
Ribeiro (2005)
(*) Vd. poste de 1 de novembro de 2005 > Guiné 63/74 - P284: Tabanca Grande: Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp do BCAÇ 4612/74 - Eu estava lá, na entrega simbólica do território (Mansoa, 9 de Setembro de 1974)

(...) Eu estive na Guiné, em Mansoa, em 1974, na CCS do BCAÇ 4612/74 (o último batalhão que partiu para a Guiné e também o último que de lá saiu), e participei, ali, na entrega do aquartelamento ao PAIGC e na simbólica entrega do território, que incluiu uma muito concorrida cerimónia do último arriar de bandeira nacional, com cerimónia oficial, na Guiné, e o hastear da primeira bandeira da Guiné-Bissau.(...)

(...) "Estiveram presentes nessa cerimónia: a CCS do BCAÇ 4612/74, comandada pelo major Ramos de Campos; o comandante  do mesmo batalhão, ten cor Américo C. Varino; um grupo de combate, um grupo de pioneiros, Maria Cabral (viúva de Amilcar Cabral) e o comissário político Manuel Ndinga, do PAIGC [, foto à direita]; e, pelo CEME do CTIG, o major  Fonseca Cabrinha. (...)

(...) "A bandeira foi arriada por mim, à data furriel miliciano de operações especiais, Eduardo José Magalhães Ribeiro. À cerimónia compareceram ainda 
uns largos milhares de nativos locais, de diversas etnias: 
papéis, balantas, fulas, futa-fulas, mandingas, manjacos, etc., 
e umas dezenas de jornalistas de todo o mundo. (...)

(...) Um guerrilheiro do PAIGC hasteia a bandeira da nova República da Guiné-Bissau. Os inimigos de ontem dão-se as mãos e prometem cooperar, no futuro, numa base igualitária, falando a mesma língua. Sob a bandeira do PAIGC os vários povos da Guiné lutaram pela indepência mas é através da língua portuguesa (oficial) que se entendem. (...)

domingo, 31 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P21026: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (19): Fotos do álbum do José Lino Oliveira (ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12jul74 - 15out74) - Parte I: Mansoa


Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 4612/74 (12jul74-15/10/74) > Artilharia: espaldão do obus 14


Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 4612/74 (12jul74-15/10/74) > Aspeto da rua principal da vila.


Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 4612/74 (12jul74-15/10/74) > Instalações do quartel


Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 4612/74 (12jul74-15/10/74) > Aspeto de uma das tabancas


Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 4612/74 (12jul74-15/10/74) > O José Lino Oliveira, à direita, de óculos, com outros furrieis milicianos de diversas unidades.

Fotos (e legendas): © José Lino Oliveira (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de José Lino [Padrão de] Oliveira  [ex-Fur Mil Amanuense da CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12-7-1974 / 15/10/1974, a mesma unidade a que pertenceu o nosso coeditor  Eduardo Magalhães Ribeiro; membro da nossa Tabanca Grande desde  31/12/2012 (*); vive em Paramos, Espinho]

Date: quinta, 28/05/2020 à(s) 16:12
Subject: Guiné 1974
Boa tarde

O último Batalhão a chegar e a sair da Guiné foi o 4612/74, a que eu pertenci. 

Envio algumas fotos desse tempo, do quartel e da vila de Mansoa; da cerimónia, em Mansoa, da entrega do quartel ao PAIGC, em 8/9/1974, com o Magalhães Ribeiro a arrear a bandeira; e ainda do Batalhão de Engenharia em Bissau: (i) parte do que lá ficou abandonado, viaturas, artilharia, etc.; (ii) arrear da bandeira no dia do embarque, por coincidência essa"honra" também coube ao Magalhães Ribeiro).

O nosso batalhão, em Bissau, ficou colocado no BENG 447 até virmos todos embora no T/T Uíge,  em 15/10/74, nós,  os últimos soldados do império... Estivemos no CTIG apenas 3 meses, desde 12/7/74... (**)

Se vires que tem interesse,  podes editar.

Legendas da Parte I:

Fotografia de Mansoa nº 0 - furriéis milicianos de diversas  unidades jantando no exterior.
Fotografias de Mansoa nºs 1 a 4 - aspectos de Mansoa, quartel e tabanca.

Um abraço
José Lino
_______________

Notas do editior:

(*) Vd. poste de 31 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10886: Tabanca Grande (377): José Lino Padrão de Oliveira, ex-Fur Mil Amanuense da CCS/BCAÇ 4612/74 (Guiné, 1974)

(**) Último poste da série > 10 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13122: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (13): No caos de Bissau, sou destacado, como médico, para uma missão nos Bijagós, Ilha Caravela: um aeródromo de recurso, para uma eventual evacuação de emergência das NT... (Rui Vieira Coelho, ex-alf mil med, 1972/74)

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16461: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (18): A Retirada Final: os últimos militares portugueses a abandonar o TO da Guiné (Luís Gonçalves Vaz / Manuel Beleza Ferraz)



1. Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande, tem mais de meia centena de referências no nosso blogue. É professor do ensino básico em Vila Verde e é filho do falecido Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74). (tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974). E enviou-nos mais esta achega histórica dos últimos dias do Império.



A Retirada Final: os últimos militares portugueses a abandonar o TO da Guiné (últimas notícias)





Assinaturas do Acordo entre o Governo Português e o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no âmbito da Descolonização de Cabo Verde (19 de Dezembro de 1974). Documento do Arquivo Nacional Torre do Tombo.

Caros Amigos:
Acabei de ler o  o livro da autoria de Jorge Sales Golias, A Descolonização Da Guiné-Bissau e o Movimento dos Capitães, que vos aconselho a ler vivamente. Neste livro com prefacio de Carlos de Matos Gomes que afirma mesmo que "... é o trabalho sério e rigoroso, pessoal, de colocação no seu devido lugar do que aconteceu na Guiné ...", pude constatar depois de o ler com muita atenção, que apesar de no global, não dizer nenhuma "inverdade" no meu artigo (Retirada Final), já que que os principais acontecimentos históricos, bem como as suas datas coincidem com as apresentadas neste artigo e noutros também da minha autoria, existirá no entanto um erro na "cronologia dos últimos acontecimentos". 

A título de exemplo poderei referir que o pedido do PAIGC  no dia 4 de Outubro de 1974, para que as nossas tropas se retirassem na totalidade da Guiné até 15 de de Outubro, o que invariavelmente obrigou na altura "à revisão total do planeamento de evacuações via aérea e marítima", coincide de facto com os registos do CEM da altura,  pois o coronel Henrique Gonçalves Vaz afirma nos seus registos pessoais a  4 de Outubro de 1974 que:
"...Soubemos hoje que o nosso regresso se efectuaria a 15 deste mês! Novos planos, novas missões e novos aspectos de vários problemas a encarar! ..." 

No entanto, volto a referir que existe neste meu artigo sobre a "Retirada Final" uma incorreção, que gostaria de corrigir com base na Narrativa apresentada neste livro por este oficial do MFA e protagonista muito importante neste processo de descolonização da antiga Província Ultramarina da Guiné, que se relaciona com a (cronologia dos acontecimentos) entrega do último bastião das tropas portuguesas na Guiné, o Forte da Amura, da retirada das últimas forças militares por via marítima e a saída do comandante chefe das tropas portuguesas (Brigadeiro Carlos Fabião), o seu Estado Maior e os oficiais do MFA por via aérea. Como tal e segundo li neste livro do sr. coronel Jorge Sales Golias, a cronologia destes mesmos acontecimentos deu-se da seguinte forma, a saber:


Foto: © João Martins  (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]

 - O último acto oficial do brigadeiro comandante-chefe Carlos Fabião foi a deslocação ao Boé a pedido Comité Central do PAIGC, no dia 12 de Outubro de 1974 (dois dias antes de abandonar a Guiné) onde foi recebido por Luís Cabral;


In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angol,a Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d. , pp. 332 e 335. Autores das fotos: desconhecidos. (Reproduzidas com a devida vénia).
 
- No dia 14 de Outubro, pelas 3 da manhã, o comandante-chefe Carlos Fabião partiu do aeroporto de Bissalanca, juntamente com os comandantes do CTIG, da Zona Aérea, do seu Estado-Maior (onde se encontrava também o seu CEM) e os oficiais da Comissão Coordenadora do MFA na Guiné. Este voo representou o penúltimo contingente das nossas tropas, e não o último. No aeroporto encontravam-se representantes do PAIGC em Bissau, nomeadamente Juvêncio Gomes, Vítor Monteiro, Constantino Teixeira, Paulo Correia e o comandante Silva Cabral (o célebre comandante Gazela); 


O Alto Comissário[1] (Vice Almirante Vicente Manuel de Moura e Coutinho Almeida d´Eça) ao lado de Aristides Pereira, futuro presidente da República, na abertura da primeira sessão da Assembleia Representativa do Povo de Cabo Verde.

Documento fotográfico do Arquivo Nacional Torre do Tombo.






[1] Nota: O então Comodoro Vicente Manuel de Moura Coutinho de Almeida D´ Eça, além de ter sido nomeado comandante de todas as forças dos três Ramos presentes no Teatro de Operações da Guiné a partir de 14 de Outubro, posteriormente desempenhou as funções de Governador e Alto-Comissário, de Cabo Verde (Jan75).

- O último comandante das Forças Portuguesas dos três Ramos das Forças Armadas, ainda estacionadas em Bissau, foi o Comodoro Almeida D´ Eça, já que em 7 de outubro o brigadeiro comandante-chefe determinou: "É nomeado comandante de todas as forças dos três Ramos presentes no TO (Teatro de Operações) a partir de 14 de Outubro à uma hora, o Exmo Senhor comodoro Vicente Manuel de Moura e Coutinho Almeida d´Eça com a missão de:

- O comandante das Forças Terrestres a embarcar (este sim o último contingente militar a abandonar o TO da Guiné), foi o coronel de infantaria António Marques Lopes;

- O comandante do destacamento da Força Aérea foi o tenente-coronel piloto aviador, Fernando João de Jesus Vasquez;

- Em 9 de outubro foi emanada pelo comandante-chefe a última diretiva, que detalhava o planeamento da entrega das instalações ao PAIGC (Ordem de Operações nº 1/74);

- Na manhã do dia 14 de outubro realizou-se a entrega do Palácio do Governo, tendo assistido a esta cerimónia o comodoro Vicente Almeida d' Éça em representação do Governo Português (segundo Jorge Sales Golias, este foi o último acto oficial antes da retirada de todas as Forças Portuguesas);

- Segundo o Relatório Final do CDMG (Comando da Defesa Marítima da Guiné),

- Neste mesmo dia e depois da cerimónia do último arriar da Bandeira Nacional, embarcavam as últimas tropas portuguesas (este sim, o último contingente a abandonar o TO da Guiné), para o navio NIASSA, em diversas LDG (Embarque simultâneo em LDG´s entre as 142300 e as 150130 segundo o Programa de embarque das Forças).

Como já disse todas estas informações, são fruto das investigações do sr. coronel Jorge Sales Golias, plasmadas no seu livro "A Descolonização Da Guiné-Bissau e o Movimento dos Capitães", Edições Colibri, com prefácio de Carlos de Matos Gomes. 

Aconselho a sua leitura, pois narra de uma forma sábia o fim do nosso Império nesta antiga Província Portuguesa, mas sempre com uma contextualização dos acontecimentos políticos/militares na Guiné em relação aos acontecimentos políticos que decorriam na "antiga Metrópole", dos encontros de Dakar, de Londres e as negociações/acordos de Argel. Penso que com estas informações terei contribuído para um maior esclarecimento da "Retirada Final da Guiné" no ano de 1974.

Abraço para todos vós
Luís Gonçalves Vaz 


Imagem do Livro do sr. coronel Jorge Sales Golias

____________

Notas:



(**) Vd. postes de





sábado, 10 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13122: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (17): No caos de Bissau, sou destacado, como médico, para uma missão nos Bijagós, Ilha Caravela: um aeródromo de recurso, para uma eventual evacuação de emergência das NT... (Rui Vieira Coelho, ex-alf mil med, 1972/74)


Guiné-Bissau > "Caravela é uma ilha do arquipélago de Bijagós, constituindo um setor da região de Bolama, na Guiné-Bissau. Localizada a 37 km da costa continental, tem 128 km² e é a ilha mais a norte daquele arquipélago, caracterizando-se por densas florestas, vastos mangais e praias de areia branca. O aeroporto tem o código ICAO GGCV." (Imagem e legenda: Wikipédia).



1. Mensagem, de 7 do corrente, enviada pelo nosso camarada, médico reformado, Rui Vieira Coelho:ex-Alf Mil Médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [,foto atual, à direita];



Assunto: Aeródromo de recurso


Na parte final da minha comissão no CTIG (comando territorial independente da Guiné) e após a entrega do quartel de Galomaro,  a um bigrupo do PAIGC, e  que era a sede do meu último Batalhão, o BCAÇ  4518, e após uma curta estadia em Bafatá.  lá segui com ordem de marcha para Bissau para me apresentar no Hospital Militar.

Como não quis ficar aquartelado nas instalações hospitalares,  aluguei um apartamento na baixa da cidade,  perto do Quartel da Amura, por um preço irrisório, pertencente à Casa Gouveia (CUF), para ter mais liberdade de movimentos e não ter que aturar a confusão instalada na cadeia de comando, com gente bastante impreparada e a gerarem um caos e uma anarquia que nos poderiam ter saído bastante caros.

Assim, todos os dias vinham buscar-me por volta das 7 horas da manhã,  levavam-me para o hospital onde fazia consulta ou dava apoio cirúrgico à Urgência, almoçava por lá e após giboiar um pouco, regressava a casa, sem antes passar pelo QG .(quartel general), para me inteirar da minha situação e receber ordens para o dia seguinte.

O clima na cidade de Bissau ia-se deteriorando, o trânsito era caótico, com numerosas viaturas militares carregadas de camaradas que regressavam do Mato, de Batalhões e Companhias aí estacionados,l  e que se amontoavam nos edifícios militares da capital, aguardando um embarque para a Metrópole.

No Caís do Pidjiguiti o movimento de mercadorias, viaturas militares, armas pesadas e homens era brutal .As LDG e LDM ajudavam no transporte de material bélico para cargueiros que demandavam o Porto de Bissau e que se encontravam fundeados ao largo.

O mesmo se passava também em Bissalanca, onde se constava que iria ser organizada uma ponte aérea para transporte rápido de dezenas de milhares de militares, e onde se amontoavam paletes de mercadorias,  malas e outros haveres. O Quartel de Adidos estava superlotado. O Quartel do Cumeré também estava a romper pelas costuras.

A desordem na cidade era grande, ninguém respeitava ninguém, havia uma grande quebra na hierarquia, com insultos à mistura aos superiores, pilhagens de tudo o que pudesse ser transportado, irritabilidade á flor da pele, escaramuças e cenas de pugilato tornavam a vivência e o clima de relação humana cada vez mais difíceis.

Os boatos e as mentiras eram demais e a tensão psicológica criada originava desacatos entre os a favor do movimento e os contrários, mas todos com um objectivo comum,  partirem o mais depressa possível daquele Inferno.

Começava a constar cada vez com mais força, à  medida que os dias iam passando, que estaria eminente um assalto final á capital. Vai daí os "inteligentes da altura", ligados ao movimento dos capitães, retomaram um projecto anteriormente delineado de que para uma evacuação rápida necessitariam de um Aeródromo de Recurso no Arquipélago dos Bijagós, mais propriamente na Ilha Caravela,  para onde seriam encaminhados todos os militares em LDG, LDM e outros vasos de guerra navais onde estariam incluídos todos os Patrulhas a operar na Guiné além de outro tipo de embarcações.

E assim sobrou para mim! Fui convocado a comparecer no QG onde me foi dada ordem para seguir em viatura militar para a Base Aérea em Bissalanca a fim de enquadrar como mêdico uma Missão de carácter confidencial.

Chegado à Base aérea foram-me reveladas mais informações da Missão e que está seria para a Ilha Caravela, para a qual já tinha partido no dia anterior uma Companhia de Engenharia.

Cerca de meia hora depois levantaram 6 helicópteros num dos quais eu segui. A viagem foi espectacular, com progressão a rasar o mar, com os 6 helis em formação agitando a água pela deslocação do ar. O barulho das turbinas e a velocidade imprimida tornaram toda esta acção digna de um filme, com banda sonora da Cavalgada das Valquireas de Wagner,  tudo em paralelismo com um Apocalipse Now. No meio daquele mar começa a vislumbrar-se a ilha verdejante no meio de um azul turquesa lambendo as areias das praias que a circundavam.

Como médico as ordens eram a de instalar uma Tenda de Apoio Mêdico, macas, suportes para soros, verificação de latrinas e fossas sépticas, iinstalação de cialiticas e geradores eléctricos, verificação do atrelado sanitãrio e farmacêutico, equipamentos cirúrgicos,

Ao meu lado instalavam-se tendas gigantes para alojar o pessoal no caso de evacuação . No terreno já se encontravam manobradores com máquinas de terraplanagem a nivelarem as terras revolvidas previamente da futura pista onde seguidamente entravam os cilindros para capacitação . Tudo trabalhava, minha gente.

A população da ilha olhava estupefacta para tudo isto. Com os seus saiotes de palha e seios á mostra as mulheres da terra com os filhos á ilharga. Os homens enquadravam-nas boquiabertos e desconfiados.

Ali fiquei de um dia para o outro conjuntamente com um furriel enfermeiro e mais dois cabos maqueiros da companhia de engenharia. Tudo foi devidamente controlado e elaborado um relatório, de prontidão e operacionalidade por parte da acção mêdica pedida.

No dia seguinte vieram -me buscar e,  chegado a Bissau, levaram-me ao [QG ?],  onde mais uma vez me pediram o máximo de confidencialidade.

Curiosamente já lá vão 40 anos e nunca mais ouvi falar em aeródromo de recurso na ilha Caravela, mas podem ter a certeza eu estive lá

Um alfabravo do Rui Vieira Coelho

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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10220: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (16): Os primeiros encontros, em Bissorã, com o inimigo de ontem (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, CCAÇ 13, 1973/74)


Foto nº 3


Foto nº 3A


Foto nº 2A


Foto nº 2B


Foto nº 1A


Foto nº 1C


Foto nº 1B



Foto nº 4


Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCAÇ 13 (169/74) > 1974 > Os primeiros (re)encontros, pacíficos, entre as NT e os guerrilheiros do PAIGC (fotos, 1, 2 e 3). Na foto nº 4, vê-se em primeiro plano o Henrique Cerqueir, saindo em patrulhamento com um Gr Comb da CCAÇ 13. Recorde-se que o Cerqueira esteve, como fur mil, no TO da Guiné, desde finais de Novembro de1972 até inícios de julho de 1974, primeiro na 3ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72 e depois na CCAÇ 13. Fotos editadas por L.G.

Fotos: © Henrique Cerqueira (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




1. Mensagem de Henrique Cerqueira [, foto atual, à direita], de 27 de julho pp.:

Olá, camarada Luís Graça:

 Tal como prometido envio em anexo algumas das fotos que relembra o glorioso dia do primeiro encontro com as tropas do PAIGC em Bissorã e após 25 de Abril. Creio eu que foi em meados ou finais de Maio de 1974.


Como entenderás,  as fotos são pouco reveladoras para outras pessoas, pois que a principal imagem é aquela que nos fica gravada na memória. No entanto a foto mais reveladora dos tais "presentes " é a foto nº 3, em que se vê quatro" ciclistas" em direção ao mato, ou seja em direção ao Olossato e no sentido inverso,  
no sentido Olossato / Bissorã. já vem a nossa coluna de reabastecimento. Nota que os "ciclistas" têm quico na cabeça porque a malta se fartou de trocar bonés uns com os outros. 

Nas fotos nºs 1 e 2,  tens uma mistura de soldados meus, da CCAÇ13,  com combatentes do PAIGC. Na foto nº 1 A,  ao alto está em primeiro  plano o dito chefe da guerrilha que incrivelmente não decorei o seu nome e que era um bom comunicador e, para além disso,  falava fluentemente o português, pois que,  segundo ele, tinha tirado o curso de Regente Agrícola em Santarém.

Foi este homem que primeiro se destacou no contacto comigo,  como comandante de coluna no ponto de encontro da estrada do Olossato. Começou por falar primeiro em Balanta para os meus homens me traduzirem quais as suas intenções, tradução essa feita pelo homem da minha inteira confiança e que se chama(va) Branquinho, o tal que hoje é chefe de tabanca em Nhamate (isto segundo li no portal do Carlos Fortunato,  numa das suas idas a Bissorã com ajudas de diversos materiais e realização de sessões de formação no domínio da agricultura).

Já agora acrescentei a foto nº 4, pois que andei muitíssimos dias e semanas como comandante de grupo e embora fosse olhado de "esguelha" por alguns dos meus superiores (que até me acusaram de ter pouco espírito militar), nunca me poderão acusar de ter sido incumpridor e mau soldado,  mesmo tendo ao mesmo tempo a minha atenção virada para a família que estava lá comigo (mulher e filho). Sempre saí para patrulhamentos ou outras operações,  tivesse ou não mais graduados no grupo. 

Esta fota nº 4 foi tirada num Domingo,  ao fim da tarde quando saíamos para o mato para fazermos proteção durante a noite à periferia do aquartelamento.

Bom, meu amigo Luís Graça, as lembranças quando aparecem são comos as cerejas e daí o melhor é para já pôr um travão e guardar outras para a próxima, okay ?!


Um grande abraço e um bom dia para ti.

Henrique Cerqueira 



2. Comentário de L.G.:


Estas fotos do nosso camarada Henrique Cerqueira foram tiradas em Bissorã, em finais de maio ou princípios de junho de 1974, documentando os primeiros encontros das NT com o PAIGC, o "inimigo de ontem". Incitei-o a mandar estas fotos do seu álbum. Provavelmente elas nunca seriam publicadas, se o Henrique não vencesse a barreira do receio de ser criticado pelos seus pares, sobretudo os seus camaradas mais velhos que não passaram por esta situação, o processo de transição, de negociação e de paz a seguir ao 25 de abril. 


Estas fotos não são fáceis de justificar, enquadrar, contextualizar, legendar... Estamos longe de um confraternização entre antigos inimigos, os rostos ainda estão crispados, de um lado e do outro são homens calejados na luta, e não podemos saber o que se passa nas suas cabeças... A foto do comandante do bigrupo, em primeiro plano, é notável. Alguns dos nossos leitores virão, de imediato, lembrar que o antigo regente agrícola de Santarém é possivelmente o mesmo que mandou executar ou executou, meses mais tarde (em outubro de 1974),  o Cabá Santiago e outros guineenses que colaboraram com as NT... 


No entanto, estas fotos "já não nos pertencem", já não são do   Henrique nem sequer do blogue... Pertencem à História. Muitos camaradas que estiveram no TO da Guiné, nesta altura, no pós 25 de abril de 1974, têm fotos destas, tiradas com o antigo inimigo contra o qual combateram... Mas mostram relutância em partilhá-lhas, em público. Aplaudo a franqueza e o espírito de colaboração bloguístico do Henrique. Ele é credor do meu apreço. Estes encontros aconteceram, e estão documentados. Por toda a parte da Guiné. O que aconteceu depois é outra história, e infelizmente há pouca informação de arquivo sobre os ajustes de contas, no pós-independência. Fixemo-nos neste momento, que foi de esperança para todos ou quase todos os protagonistas.  Era o fim da guerra ou o princípio do fim da guerra. A verdade é que há milhares de fotos destas no silêncio dos nossos álbuns e a maior parte delas irão um dia parar ao caixote do lixo. LG
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Nota do editor:

 Último poste da série > 24 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10189: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (11): Dos planos de evacuação do território aos graves acontecimentos de Bissorã, em junho de 1974 (Paulo Reis, jornalista, freelancer / Luís Gonçalves Vaz)