Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça, com o objetivo de ajudar os antigos combatentes a reconstituir o puzzle da memória da guerra da Guiné (1961/74). Iniciado em 23 Abr 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência desta guerra. Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, e gostamos de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 23 de abril de 2023
Guiné 61/74 - P24243: Blogpoesia (790): Reflexão, simplista, sobre a Poesia (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)
REFLEXÃO, SIMPLISTA, SOBRE A POESIA
adão Cruz
É muito difícil saber o que é a poesia. Sempre duvidei de quem diz que sabe o que é a poesia. Tenho lido e ouvido tanta coisa sobre poesia e muito pouca coisa me convence. Isto não retira a qualquer um de nós o direito que temos a expor o nosso pensamento.
Com a proximidade cada vez maior entre as Humanidades e a Ciência, muito especialmente as Neurociências, uma ampla janela se abre, como nunca se abriu, para o entendimento da natureza e do conceito de poesia.
O Ser Humano é uma estrutura muito complexa de sentimentos, uma infinidade de sentimentos, em sentido neurobiológico, obviamente. Desde os sentimentos mais comuns e mais conhecidos, como o sentimento do amor e do ódio, o sentimento da alegria e da tristeza, o sentimento da coragem e do medo, até sentimentos menos experimentados como o sentimento da beleza, o sentimento poético e o sentimento artístico. Sim, porque eu penso que beleza, a poesia e a arte, à luz das Neurociências, não são mais do que sentimentos.
Sem ter a veleidade de pretender impor conceitos de poesia, sinto a necessidade de a entender e de me entender no seu complexo e maravilhoso mundo, tão levianamente tratado por tantos devaneios pretensamente filosóficos. Embora nascendo embrionariamente connosco, os sentimentos têm de ser vivenciados, construídos, apurados e consolidados ao longo da vida, mais ou menos profundamente e de forma diferente em cada um de nós. Comparada com a assombrosa e constante neuroplasticidade cerebral do nosso dia-a-dia, a programação genética é uma componente muito menos decisiva na construção daquilo que somos e na elaboração da nossa mente.
Parece-me, desta forma, que o sentimento poético é um sentimento muito profundo e ao mesmo tempo muito subtil, uma espécie de essencialidade harmoniosa da vida, provavelmente de uma neuronalidade muito delicada. A poesia não é, a meu ver, um sentimento de cópia, mas a simbolização, a evocação e a invocação ao mais alto nível, da beleza e da nobreza da realidade. Para quem possui este sentimento bem enraizado, a expressão poética pode ser entendida não só como harmonia verbal, em que todos os materiais fonéticos e simbólicos se diluem num resultado de suprema fruição estética, mas também como seiva ou brisa mágica que percorre transversalmente qualquer forma de expressão artística. Daí que o chamado poema, considerado a matriz literária onde habitualmente nasce e germina a poesia, pode ser estéril ou constituir mesmo a negação do sentimento poético. A poesia pode ter uma presença mais viva num texto em prosa do que num poema, ou ser muito mais sentida numa pintura ou numa peça musical do que em qualquer forma de expressão literária.
Apesar de demasiado simplista, atrevo-me a concluir através desta reflexão, que é um erro pretender que o sentimento poético chegue às pessoas da noite para o dia, por artes mágicas, como se de uma prenda banal se tratasse. Dito por outras palavras, penso que, não sendo negativa, pode ser enganadora e não racionalmente formadora, a pretensão de levar às pessoas a poesia ou sentimento poético através de celebrações, festividades e dias mundiais.
Dizia Schiller, que o vulgar é tudo aquilo que não desperta outro interesse que não seja o sensível. A arte e a poesia não devem descer ao puramente sensível, à mera receptividade sensorial, à fugaz captação de estímulos incapazes de serem trabalhados condignamente nas complexas oficinas neuronais da nossa mente. Mesmo que seja um lugar-comum dizê-lo, só criando na sociedade, através de verdadeiras políticas culturais, as condições que permitam entender a natureza e a profundidade da poesia e da arte, elas poderão ser sentidas como elemento essencial da vida.
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Nota do editor
Último poste da série de 20 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24237: Blogpoesia (789): "Dia de enganos", poema da autoria de Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
domingo, 19 de março de 2023
Guiné 61/74 - P24154: Os nossos seres, saberes e lazeres (562): Os meus livros. Ao todo, quinze (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico)
Felizmente o nosso blogue tem já muitas publicações dos seus trabalhos de pintura, normalmente ilustrando os seus apreciados poemas. Alguns dos livros mais antigos estão há muito esgotados.
Os meus livros.
Ao todo, quinze. Falta o primeiro, escrito há largos anos, do qual tenho um exemplar, mas não sei onde pára. Era um livro de cardiologia, com o título "Cirurgia geral no doente cardíaco".
Por ordem cronológica:
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Nota do editor
Último poste da série de 18 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24152: Os nossos seres, saberes e lazeres (561): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (94): Da bela Tavira a uma exposição sobre a Ordem de Cristo em Castro Marim, com José Cutileiro em pano de fundo (1) (Mário Beja Santos)
domingo, 19 de fevereiro de 2023
Guiné 61/74 - P24079: Agenda cultural (830): Convite do Grupo "Asas de Poesia" para a sessão de poesia e música a levar a efeito no dia 25 de Fevereiro de 2023, pelas 16h00, na Biblioteca Municipal Dr. José Vieira de Carvalho - Maia. A 1.ª Parte será preenchida com o Poeta José Teixeira. Haverá ainda a participação especial do Duo de Música de Coimbra, composto por Roberto Assis e Álvaro Basto
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Nota do editor
Último poste da série de 11 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24058: Agenda cultural (829): Convite para a apresentação do livro "Volfrâmio: Suor o deu, miséria o levou - Cambra na diáspora", por Alberto Bastos, dia 13 de Fevereiro (segunda-feira), pelas 18,30 horas, sede da Universidade Popular do Porto, Rua da Bovista, 736
sexta-feira, 30 de dezembro de 2022
Guiné 61/74 - P23931: Boas festas 2022/23 (12): Mensagem do nosso camarada António Graça Abreu, com oferta de dois poemas breves, do poeta chinês Su Dongpo (1037-1101)
O escritor e tradutor António Graça de Abreu com a esposa, Hai Yuan |
1. Do nosso António Graça de Abreu, que regressou há algumas semanas de um cruxeiro à África do Sul (Durban, Cidade do Cabo...) (vem moderadamemte otimisma sobre a classe média negra que lá, sob o regime de Mandela, se está a desenvolver, contrastando com a miséria social que continua por essa África subsariana fora que se libertou do colonialismo há 50/60 anos)...
Deseja-nos a todos boas festas e as melhoras do editor e fundador do blogue, com a oferta de dois "jueju" do grande poeta chinês Su Dongpo (1037-1101), traduzidos primorosamente por ele:
Data - 29 de dezembro de 2022, 00:59
Assunto - Dois jueju, poemas breves, vinte caracteres, de Su Dongpo (1037-1101)
Vazio e silêncio
欲令诗语妙
无厌空且静
静故了群动
空故纳万境
Para a maravilha do poema,
o melhor é o vazio e o silêncio.
Em silêncio, floresce tudo o que se move,
o vazio alberga dez mil imagens.
我心空无物
斯文定何间
君看古井水
万象自往还
O meu coração vazio, suportando coisa nenhuma,
não importam as comezinhas coisas do mundo.
Olhem a água de um velho poço,
dez mil imagens aparecem, desaparecem. [1]
Nota do tradutor:
[1] A propósito destes versos, do silêncio e da água no velho poço, escreve He Qing, letrado chinês nosso contemporâneo:
Le vide et le silence sont considérés comme le principe premier de la poésie. Plus um poème sonne vide et silencieux, plus il gagne en valeur esthétique.
(…) On peut imaginer ce silence, cette immobilité, cette limpidité, cette fraicheur, cette profondeur temporelle de l’eau d’un puits ancien, et se figurer que cette eau silencieux reflète, sereinement, les vols d’oiseaux, les voyages des nuages. les vibrations de la lumière du soleil, les oscilations des brins d’herbes et des branches des arbres, les mille couleurs de la nature. Dans cette image poétique reside non seulement la plus grande sagesse chinoise, mais aussi l’état ideal de l’ésthétique chinoise: rester ancré dans le silence le plus profund et contempler les mouvements les plus intimes de l’univers…
Tr. do Google, fr / pt (LG):
O vazio e o silêncio são considerados o princípio primordail da poesia. Quanto mais um poema soa a vazio e silêncio, mais ele ganha em valor estético. (…) Pode-se imaginar este silêncio, esta imobilidade, esta limpidez, esta frescura, esta profundidade temporal da água de um velho poço, e imaginar que esta água silenciosa reflite, serenamente, os voos dos pássaros, as viagens das nuvens. as vibrações da luz solar, as oscilações dos fios de ervas e galhos de árvores, as mil cores da natureza. Nesta imagem poética reside não só a maior sabedoria chinesa, mas também o estado ideal da estética chinesa: permanecer ancorado no silêncio mais profundo e contemplar os movimentos mais íntimos do universoFonte: He Ding, Images du Silence, Pensée et Art Chinois, Paris, L’Harmattan, 1999, pag. 80.
___________Nota do editor:
segunda-feira, 7 de novembro de 2022
Guiné 61/74 - P23768: Manuscrito(s) (Luís Graça) (214): a (ha)ver navios
Lisboa, vista em perspectiva. Gravura em cobre, meados do Séc. XVI (Pormenor) (in G. Braun - Civitates Orbis Terrarum.., vol. V, 1593) (Fonte: Museu da Cidade).
Em meados do Séc. XVI, a cidade de Lisboa não sofrera grandes alterações desde o reinado de D. Manuel. Destaque, ao centro, para a representação do Terreiro do Paço e, mais a norte, a Praça do Rossio, com os edifícios do Paço dos Estaus, ao fundo, e do Hospital Real de Todos os Santos, do lado direito. O hospital ocupava grande parte do que é hoje a Praça da Figueira
a (ha)ver navios
por luís graça
do alto do jardim das janelas verdes
enxergavas o tejo
e a sua desmedida desmemória,
e, sob o ecrã, branco de cal, da história,
os navios negreiros zarpando do cais
da rocha conde d’óbidos.
garbosos os soldados imperiais,
alinhados de popa à proa de lisboa,
em chumbo, derretidos.
e na margem esquerda do estuário
o cristo-rei no seu monstruário,
em louça de barcelos,
fingindo abraçar
os náufragos e os
cativos
dos reinos dos algarves e d'além-mar.
quebradas as cadeias do alto império
e os seus frágeis elos,
ai pobre de quem se deixava ficar
para trás,
sem honra nem glória nem epitáfio,
na vala comum do esquecimento dos quatro guês,
em gandembel, guidaje, guileje, gadamael.
remir os cativos, uma e outra vez,
era então obra de misericórdia,
a última missão, disse o capitão.
oxalá inshallah enxalé
bons ventos os trouxessem,
aos pobres dos vivos,
do campo da batalha de alcácer quibir,
a três mil e oitocentos quilómetros da guiné.
lembravas-te que eram de verde-escuro as
janelas
e rubra de sangue a bandeira
do último cruzeiro,
da última cruzada,
da última armada invencível.
via-se a espuma da autoestrada da globalização
a perder-se de vista na última encruzilhada,
no bugio de todos os azimutes.
perdeste a última carreira das índias,
fernando, menino, pessoa, de sua mãe,
quando nem navios havia já para (ha)ver
e subitamente o estuário do tejo
estava reduzido aos cais das colunas
e às lipitutianas dimensões da tua banheira
de criança.
brincavas, na inocência da tua segurança,
com navios de casca de noz,
foi quando veio o tsunami, a dor e o luto.
desististe então de rebobinar o filme da tua vida,
que, de fissura em fissura,
se podia contar,
sem cortes da censura,
num minuto.
lisboa, 28 set 2022 / lourinhã, 1 nov 2022
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Nota do editor:
Último poste da série > 8 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23244: Manuscrito(s) (Luís Graça) (213): Memória dos lugares: a rua da tua infância...
domingo, 6 de novembro de 2022
Guiné 61/74 - P23766: Lembrete (43): É já no próximo dia 12 de Novembro que vai ser lançado o livro de poemas "Palavras que o vento (E)leva", da autoria do nosso camarada José Teixeira, no Centro Cultural de Leça do Balio, às 16h30, com apresentação do Dr. José Almeida da Silva
1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) com data de 5 de Novembro de 2022.
Meus bons amigos editores
Abusando da vossa bondade, pedia o favor de, se possível, colocarem esta lembrança no nosso blogue sobre o lançamento do meu livro de poesia.
Junto um poema que pode ser incorporado.
Fraterno abraço do
zé teixeira
O mundo em que vivemos
Gostava de saber quem sou,
Saber de onde venho,
Conhecer o caminho para onde vou.
Ser eu, ser livre…
E não sou,
Poder falar, gritar, chorar,
Sorrir, brincar…
Pensar…
Pensar e agir…
Agir em consciência, sem pressões ou constrangimentos,
Nem julgamentos.
Mas a minha vida parece um circo…
Apresento, represento, faço vénias, sorrisinhos
Aparento…
Aparento o que não quero, e não gosto de ser!
Sim. Sou um macaquinho de imitação,
– Para não cair no ridículo…
– Para que me deem atenção.
Tenho ideias,
Grandes ideias…
Talvez… pequenas, sábias, inconsistentes
Talvez incongruentes,
Concretas, porque não?!
São ideias, propostas, projetos, sonhos, opiniões
Fantasias, devaneios, aspirações…
Crivadas!...
Crivadas pelo medo da ambiência.
O crivo da sociedade critica, abafa, empurra…
Isola, manieta, exclui…
Destrói…
Em lume brando… lenta paciência.
Desde o nascimento me ensinaram que não vivo sozinho
Vivo com eles e para eles…
Vivo para o sistema!
Prá sociedade que me dá tudo e nada,
A sociedade que me condena
Se não faço o que ela me ordena
E não me deixa ser quem sou…
E de tão subtil que é,
Neste circo animado,
Conduze-me por caminhos que não os meus,
E eu sigo-a como um camelo amestrado.
José Teixeira
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Nota do editor
Último poste da série de 12 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23701: Lembrete (42): Amanhã, dia 13 de Outubro, pelas 17h00, apresentação do livro "Rua do Eclipse", de Mário Beja Santos, a levar a efeito no Salão Nobre do Palácio da Independência, Largo de São Luís, em Lisboa
terça-feira, 4 de outubro de 2022
Guiné 61/74 - P23670: Agenda Cultural (814): Convite para a apresentação do livro de poesia "Palavras que o Vento (E)leva", de José Teixeira, a levar a efeito no próximo dia 12 de Novembro de 2022, pelas 16h30, no Centro Cultural de Leça do Balio, Rua do Mosteiro, 4465-703 - Leça do Balio
SINOPSE
O poeta é sobretudo um artesão, do tempo, do silêncio e da(s) palavra(s), matéria(s)-prima(s) com que recria, molda, reinventa, constrói a realidade: "Preciso tanto das palavras do silêncio / Como do eco que ele imprime"… Para o poeta a realidade não existe, a não ser reconstruída e renomeada. A poesia alimenta-se do silêncio, da dor, do sofrimento, da angústia, mas também da coragem e da fé. O silêncio é um continuum da palavra, ou a palavra é um continuum do silêncio, mas também da reflexão, da ação, da mudança e da liberdade. "A palavra é a sombra da ação / E também revolução".
DETALHES DO PRODUTO
"Palavras que o vento (e)leva"
Autor: José Teixeira
ISBN: 9789893740026
Ano de edição: 07-2022
Editor: Poesia Impossível
Dimensões: 138 x 219 x 11 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 140
Preço: 12,00€
OBS: - O livro pode ser, desde já, pedido directamente ao autor José Teixeira (jteixei@msn.com) que o enviará pelo correio.
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Nota do editor
Último poste da série de 4 de Outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23668: Agenda Cultural (813): Convite para a apresentação do livro "Rua do Eclipse", de Mário Beja Santos, a levar a efeito no próximo dia 13 de Outubro de 2022, pelas 17h00, no Salão Nobre do Palácio da Independência, Largo São Luís, 11, em Lisboa
domingo, 14 de agosto de 2022
Guiné 61/74 - P23525: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (11): "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém", poema de Luís Jales de Oliveira (ex-fur mil trms, CCAÇ 20, 1972/74)
Capa do livro de poemas, do Luís Jales de Oliveira, "Corre-me um Rio no Peito", Mondim de Basto, ed. autor, 2010, 72 pp. ilustrado. Capa de Samara (João Campos). Prefácio de José Alberto Faria, Depósito Legal n.º 307277/10.
Mondim de Basto > 29 de agosto de 2019 > Junto ao monumento aos combatentes do ultramar > Da esquerda para a direita, a Nitas (Ana Carneiro Pinto Soares), o Luís Graça, o "Ginho" [o escritor e poeta Luís Jales de Oliveira] e Alice Carneiro.(*)
1. O Luís Jales de Oliveira, carinhosamente tratado por "Ginho", na sua terra natal, Mondim de Basto, é nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande desde 21 de janeiro de 2008 (*), tendo sido fur mil trms inf, Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74).
Lembrei-me dele, hoje, que a 83ª Volta a Portugal Continente chega à mítica Senhora da Graça, em Mondim de Basto (Paredes - Mondim de Basto - Senhora da Graça), atravessando também a não menos mítica EN 304, uma das mais belas estradas da Europa.
No cimo do monte há uma capela,
E cada vez que olho para ela,
Apetece-me voar…
E humilde peregrino,
Vou em ânsias de menino,
Lá rezar.
No cimo do monte há uma capela,
E cada vez que entro nela,
Vivo um mistério profundo:
Senhora,
Que feitiço derramais,
Que o mais comum dos mortais
A teus pés é Rei do Mundo?
Fonte: Luís Jales Oliveira – Basto (poemas). [Mondim de Basto], edição de autor, 1995 [Obra, de 49 pp., subsidiada pela programa LEADER Probasto], pág. 43
Pelo telefone soube dos seus novos projetos, um livro que está pronto para ser lançado dentro em breve (ficando nós, aqui no blogue, a aguardar notícias para o poder divulgar) e outro, para o ano, sobre Gadamael. Lembre-se que foi em 7 de julho de 1973, que a sua CCAÇ 20, comandada pelo então ten grad 'comand0' Tomás Camará, acabada a instrução no CIM de Bolama, foi colocada em Gadamael e lá ficou até ao fim, até sua extinção em agosto de 1974, perfazendo pouco mais de um ano de existência (****).
Em princípios de Ago74, foi desactivada e extinta.
Observações: Não tem História da Unidade.
Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 641
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 30 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20110: Os nossos seres, saberes e lazeres (350): a mítica estrada nacional, EN 304, em pleno Parque Natural do Alvão, entre Mondim de Basto e Vila Real... E finalmente conheci o "Ginho", "ao vivo e a cores", na sua terra natal, em terras de Basto, na "Casa do Lago"...(Luís Graça)
(****) Último poste da série > 3 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23487: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (10): o massacre do alf mil Artur José de Sousa Branco e do seu pequeno grupo, nas imediações de Gadamael, em 4/6/1973 (J. Casimiro Carvalho / Manuel Reis / Carmo Vicente / Manuel Peredo / Jorge Araújo)
terça-feira, 9 de agosto de 2022
Guiné 61/74 - P23508: (In)citações (213): Testamento, de Ana Luisa Amaral (1956-2022)... E homenagem a uma grande voz feminina da língua portuguesa (Luís Graça / Laura Fonseca)
morremos todos nós um pouco.
Ou morre um pouco de todos nós,
que de poeta e louco todos temos um pouco.
Não punhamos rótulos nos poetas ou nas poetisas,
porque são inclassificáveis,
não há poet...istas,
há só poemas, poemários,
há poetas, homens, mulheres,
A poesia é pura liberdade,
liberdade livre, disse outro poeta,
e a liberdade, quando é livremente livre,
é capaz de irritar,
quem só vê as coisas através do manual da sua escola
Ana Luisa Amaral
morreste, aos sessenta e seis anos,
porque eras mortal,
mas gostavas tanto da vida
e eles e elas, os teus poemas e as tuas palavras,
permanente.
Desculpa-me ter-te descoberto tão tarde
que leste há dias, uma semana antes de morreres, na RTP 3,
Leste-o, o teu "Testamento",
Leste-o premonitoriamente,
sem poderes saber ou adivinhar
que o teu coração-avião já te tinha condenado à morte,
Ana Luisa Amaral,
e chegar a todo o lado,
mas, por favor, Ana,
Laura Fonseca, Porto (by email)
8 ago 2022 20:14
Olá, Luís
Ainda não digeri a morte deste grande ser humano, poeta, colega, mulher de causas e também de algum relacionamento pessoal, feminista, académica de excelência. Partilhei com ela, nos anos 1990/2000(?), a direção da APEM - Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres. Estava ainda no início do seu reconhecimento poético e no final do seu doutoramento. O que nós partilhávamos e apreendíamos!!!
Na verdade, o teu amigo Adão Cruz (*) faz um texto belíssimo, que exprime bem o que penso e sinto em relação a esta mulher: tão culta, tão solidária, tão inquieta e subversiva perante os problemas humanos. E fazia-o sempre e tinha sempre tempo, com a sua presença, a sua poesia.
Admirava a sua cultura, o seu empenho, o caminho de maturidade poética que estava a trilhar, sem perder o pé na terra nas pequenas e grandes coisas. Ana Luisa adorava partilhar o seu trabalho, fazer e dizer poesia, divulgar o trabalho de outras mulheres e homens. Não se cansava de dizer sim e ser generosa, mesmo que crítica com tudo o que fosse errado para as pessoas e a natureza neste mundo.
É uma pessoa que nos deixa muito. Mas é também uma pessoa que nos vai fazer muita falta, ao mundo, ao país, ao Porto, à academia, à ciência, ao movimento cívico e político, aos amigos e à sua adorada filha Rita, sempre sua companheira e sua inspiração de amor e de humanidade.
sábado, 6 de agosto de 2022
Guiné 61/74 - P23502: In Memoriam (444): Poetisa Ana Luísa Amaral (Lisboa, 5 de Abril de 1956 - Porto, 5 de Agosto de 2022) (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887)
PARA ANA LUISA AMARAL
Como a vida te apagou, também apaguei o teu e-mail.
Lá para os confins do mundo molecular do Universo, não tenho possibilidade de comunicar contigo, mas irei falando para mim mesmo sobre tanta coisa que deixaste.
Aprendi com outros e também contigo que a cultura tem de fazer parte integrante da estrutura do ser humano, da sua solidez e profundidade, da sua autenticidade, da sua verdade e da sua intrínseca sabedoria.
Aprendemos que a cultura com que te irmanaste e que cedo a morte ceifou é construída através da vida como qualquer mecanismo de adaptação, mas apenas quando assenta nos fortes alicerces do conhecimento científico e na aprendizagem dos emaranhados mecanismos neurobiológicos da mente criativa.
Também aprendemos que a verdadeira cultura, a cultura do saber autêntico, a cultura do ser são indissociáveis da nossa língua e de toda a linguística onde sempre foste mestra.
Como todos sabemos, a língua não é apenas um mero instrumento de comunicação, mas uma parte inseparável do todo que somos e da riqueza anímica que construímos.
Um bom perfume deve ser sentido como parte integrante da personalidade de uma mulher e não como um cheiro. Uma boa decoração deve ser sentida pelo bom ambiente, pelo conforto e bem-estar que cria e não por dar nas vistas apenas pelo estilo e pela configuração dos objectos.
A cultura não é um enfeite, uma cosmética, uma roupagem mais ou menos vistosa, nem pode ser confundida com a cultura-folclore, com a prolixa cultura política ou com a cultura do enciclopedismo balofo dos nossos dias.
Adeus Ana Luisa. Guardarei como recordação o difícil livro que me aconselhaste: PAISAJES COGNITIVOS DE LA POESIA, de Amelia Gamoneda e Candela Salgado Ivanich
adão cruz
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Nota do editor
Último poste da série de 6 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23501: In Memoriam (443): Maria Aldina G. O. Marques da Silva (Fafe, 1946 - Lourinhã, 2022), esposa do Jaime Silva (ex-alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72): o funeral é em Fafe, amanhã, domingo, às 12h00
terça-feira, 2 de agosto de 2022
Guiné 61/74 - P23484: Agenda cultural (817): "Palavras que o Vento (E)leva", de José Teixeira (Lisboa, Poesia Impossível, 2022, 138 pp.): uma vocação literária “tardia” mas já “amadurecida” e, direi até, “consolidada” (Luís Graça)
Capa do livro do José Teixeira, "Palavras que o Vento (E)leva". Lisboa: Poesia Impossível,2002, 138 pp.
palavra”: afável, comunicativo, talentoso, mas também coerente, solidário e generoso. E tem uma qualidade que não abunda por aí, nos tempos que correm, de feroz individualismo e competição: a sensibilidade sociocultural, a abertura aos outros que são diferentes, quer sejam os sem-abrigo a quem vê como irmãos, quer sejam os fulas, muçulmanos, da Guiné-Bissau com quem conviveu intimamente durante a guerra colonial…
O facto de eu ser seu amigo e camarada (de armas, numa guerra, de resto, já esquecida, ignorada ou escamoteada pelos portugueses, e sobretudo pelos mais novos) mas também seu
editor, de longos anos, num blogue em que partilhamos memórias e afetos, não me impede de o dizer com isenção e orgulho: é uma vocação literária “tardia” mas já “amadurecida” e, direi até, “consolidada”.
Com cerca de 370 referências no nosso blogue (coletivo), o Zé está tanto à vontade na crónica, na memorialística e no conto (ou microconto) como no verso, na prosa poética ou no comentário, sempre assertivo e sereno, mas também empático e abrangente. É um homem apaixonado e proactivo e um cidadão lúcido e empenhado, de princípios e valores, humanos e cristãos, que lhe dão sentido à vida e conforto espiritual nesta fase da sua caminhada terrena (agora tão, ou mais, cheia de “minas e armadilhas” como no teatro de guerra).
Por isso, este livro é um também um conjunto notável de “preces” ou “orações”, constituídas pela/por palavra(s) que se eleva(m) ao céu, uma das formas que, desde a antiguidade clássica, os humanos criaram para de algum modo escaparem à prisão do tempo. Todos os animais comunicam, mas o homem é único que aprendeu a escrever e a fazer poesia. Contra o tempo, contra a morte. Afinal, o tempo é o único recurso que não podemos aforrar. A imortalidade é apenas uma cápsula do tempo.
O poeta é sobretudo um artesão, do tempo, do silêncio e da(s) palavra(s), matéria(s)-prima(s) com que recria, molda, reinventa, constrói a realidade: “Preciso tanto das palavras do silêncio / Como do eco que ele imprime”… Para o poeta a realidade não existe, a não ser reconstruída e renomeada. A poesia alimenta-se do silêncio, da dor, do sofrimento, da angústia, mas também da coragem e da fé. O silêncio é um continuum da palavra, ou a palavra é um continuum do silêncio, mas também da reflexão, da ação, da mudança e da liberdade. “A palavra é a sombra da ação / E também revolução”.
Em mais de 120 páginas e em mais de 14 mil palavras, há vocábulos que parecem dezenas de vezes, num todo coerente: Tempo (obsessivamente…), Vida, Morte, Sonho, Amor, Mãe
(extremosamente…), Saudade, Coração, Liberdade, Esperança, Deus (serenamente…). Mas também, Futuro, Guerra, Paz… Subentendidas, estão outras como a Guiné e o seu povo, que ainda não ganhou, infelizmente, a guerra que lhe prometeram ganhar, a da paz, a da liberdade, da justiça, da democracia, do desenvolvimento…
Não me compete aqui descobrir o “fio de Ariadne” que liga estas cerca de nove dezenas de poemas. Esse é o “trabalho de casa”, o TPC do leitor, e irá fazê-lo, seguramente, com emoção
e prazer. Para o poeta, a poesia é, de resto, um jogo de sedução e cumplicidade com o leitor. Daí o autor, logo na “introdução”, e na esteira do Alberto Caeiro / Fernando Pessoa, dizer que escreve para o mundo e que os seus versos já não lhe pertencem, a partir do momento que são
acaparados/apropriados pelo leitor.
“Palavras (e)levas o vento” encerra, então, na nossa leitura muito pessoal, o duplo desafio que se coloca a qualquer poeta, artesão do tempo, do silêncio e da palavra: o de pôr a poesia no patamar talvez mais alto da criatividade literária… e, ao mesmo tempo, saber mexer com a nossa caixinha de Pandora das ideias e emoções. É o que o autor faz em poemas como
“Amor de Mãe”, “A morte passou por mim”, “Suadê, nome de mãe”… ou “Trancafiar o tempo”.
Lisboa, 25 de abril de 2022
Luís Graça, editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/
Último poste da série > 1 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23479: Agenda cultural (816): Acaba de sair o livro de Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, "Sanctuary Lost: Portugal's Air War for Guinea 1961-1974". Volume I: Outbreak and Escalation (1961-1966), Helion & Co, UK, 28 de julho de 2022
Guiné 61/74 - P23482: Blogpoesia (778): "O deserto", "Tu vens" e "Delicadamente", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887
O deserto
O deserto tem de ter uma porta
uma saída
um caminho que não encontro.
Sei que sou buraco de mim mesmo
mas não é por aí que eu quero sair.
Meu sonho foi ser um pássaro
voar na proporção do amor
sem medo nas asas…
Meu pesadelo é ser um homem sem vento
arrastando a vida.
Sou apenas caminho andado
sou fim de tempo
resto de palavras e gestos perdidos
na eternidade de um dilema.
Já não giram os olhos mortos
nem os lábios descarnados suspiram.
Já o coração não treme
e a alma desliza pela areia infinda.
Tudo é longe e sem destino
foi-se embora o cheiro a alfazema…
mas no silêncio do deserto
há-de haver um verso para acabar o poema.
adão cruz
Tu vens
Tu vens
eu acredito que vens
neste céu de cabelos soltos e seios ao vento
nesta fome de corpo e pensamento.
Tu vens
eu sei que vens
é hora de vires
nesta vespertina voragem de felicidade
neste céu da cor da angústia.
Tu vens construir a Primavera
em teu vestido branco de espuma
tu vens dominar meu indómito cabelo
com jogos simples dos teus dedos.
Eu quero acreditar que tu vens
pegar docemente nas minhas mãos cegas
e fazer delas uma flor de acácia
com que amacias os lábios
e abres o cofre dos teus seios de fogo.
Tu vens
eu sei que vens
por isso sou feliz no meu silêncio.
adão cruz
Delicadamente
Delicadamente
ela abriu a blusa
e levantou os olhos decidida.
Era uma mulher de guerra combatida
daquelas cuja face conta a história.
Mansamente
baixou a medo as alças do soutien
inclinou a cabeça
e fechou os olhos à espera da minha mão.
Depois comemos pão de centeio
molhado num golpe de azeite
bebemos um capitoso vinho
e fomos à procura de uma paisagem com cegonhas.
adão cruz
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Nota do editor
Último poste da série de 24 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23457: Blogpoesia (777): "Ontem à noite… quem diria", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887
domingo, 31 de julho de 2022
Guiné 61/74 - P23477: Frase do dia (6): Abençoadas Guiné e China que me deram este gosto pela poesia (António Graça de Abreu)
Meu caro Luís:
Abençoadas Guiné e China que me deram este gosto pela poesia (**).
as suas ondas varrem os heróis da História.
A oeste da antiga muralha,
entra-se na Garganta Vermelha,
outrora terras de Zhuge Liang (1)
nos recuados tempos dos Três Reinos.
Cumes aguçados perfuram o céu,
rápidos em fúria batem no casco dos barcos,
águas desfazem-se em mil pedaços de névoa, como neve.
Os pintores gostam de pintar as montanhas e os rios,
em memória dos grandes homens do passado.
Recordo, (há quantos séculos?),
a união ente o guerreiro Gong Chin
e a bela e esplendorosa Jiaoxiao,
lembro o chapéu azul de Zhuge Liang,
o estratega acenando com seu chicote de crina de cavalo,
conversando enquanto as chamas consumiam a frota de Cao Cao
e as cinzas se espalhavam pelos quatro ventos.
Tudo se desvaneceu com o fumo dos séculos,
mas eu gosto de sonhar com reinos desaparecidos.
Há quem ria diante do branquear dos meus cabelos.
Por resposta tenho uma taça de vinho
encharcada em luar, mergulhando nas águas do rio.
[António Graça de Abreu: (i) docente universitário reformado, escritor, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); (ii) natural do Porto, vive em Cascais; (iii) autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); (iv) ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74; (v) é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem 314 referências no blogue]
(1) Referência ao período dos Três Reinos (220-281) e à Falésia Vermelha situada nas margens do grande rio Yangtsé, onde se travaram algumas das maiores batalhas fluviais da história da China. Su Dongbo recorda o grande estratega militar Zhuge Liang (181-234) e o general Cao Cao (155-220), príncipe e poeta.
(*) Vd. poste de 30 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23472: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXXVII: China: Visita à Falésia Vermelha, no outono de 1081, a 16 do sétimo mês, por Su Dongbo (1037-1101) (tradução de António Graça de Abreu)