Guiné > Região do Cacheu >
Bula > BCAV 2862 (1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Imagens brutais da reportagem
Guerre en Guinée, que passaram na televisão francesa em 11 de Novembro de 1969, no programa
Point Contrepoint e que os portugueses, devido à censura, nunca puderam ver antes do 25 de Abril de 1974 (1)...
Fotos:
INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006) / Cópia pessoal de Virgínio Briote (2)
1. Mensagem do Virgínio Briote:
Luís: Acabo de ter uma conversa telefónica com o Cor Cav, na reforma, Sentieiro, por intermédio de um conhecido comum.
A história que me conta, em resumo é a que segue (1):
(i) Era o comandante da CCAV 2485;
(ii) Tinha acabado de regressar de uma operação com 2 Gr Comb da sua Companhia;
(iii) Por impossibilidade do Cap J. Quintela, o comandante do batalhão (Ten Cor Morgado, que é o que aparece no fim do filme com Spínola e Almeida Bruno, e ainda hoje vivo) encarregou-o de comandar 2 Gr Comb da CCAV 2487.
(iv) Esta CCAV estava algo deprimida, por várias razões que não explicitou. Limitou-se a falar de 2 alferes que não tinham regressado das férias em Lisboa. Um deles apareceu em Paris, do outro não me soube dizer nada.
(v) O Ten Cor Morgado informou-o de que ia acompanhado por uma equipa da ORTF e de um ou dois jornalistas do Paris-Match.
(vi) Questionados pelo então Cap Sentieiro sobre a experiência que tinham de cenas de guerra, os jornalistas disseram que já tinham estado no Vietname (não presenciaram qualquer cena bélica), em Angola (idem) e em Moçambique (onde conseguiram filmar umas cenas do final de um rebentamento de uma mina);
(vii) E que pretendiam filmar o que viesse a acontecer, [no TO da Guiné, ] estando desejosos que viesse a haver contacto com o IN.
(viii) A cena filmada é a NE (?) de Bula (para os lados da base de Cobiana).
(ix) O tiroteio foi intenso, de um lado e do outro. As cenas, diz o Cor Sentieiro, não são nem mais nem menos do que as que ocorreram muitas vezes na Guiné.
(x) Que os jornalistas tiveram um comportamento muito profissional. Acabada a emboscada, quiseram ir atrás dele e não no final da coluna como aconteceu quando os GrCmb foram emboscados. Que ele, cap. Sentieiro, não lhes permitiu. Que atrás dele ia um tipo da absoluta confiança, normalmente portador de uma caçadeira ou de um LGFog.
(xi) Que a jornalista era a Chaubel (não tenho a certeza se se escreve assim; que há ainda em Paris uma casa de fotografia, que é da família dela).
(xii) Que ela ficou profundamente arrasada. Nem os acompanhou mais, apanhou o heli e regressou com o Almeida Bruno a Bula, onde desceu.
(xiii) Que era jovem e linda e que, à noite ao jantar, depois dos banhos, apareceu na messe com um vestido de pele, do tipo que as índias usavam nos filmes, sem nada por baixo.
(xiv) Que o militar que estava a servir (ele disse-me o que foi que estava na travessa, mas não fixei) se entusiasmou tanto com o que viu que se distraiu e entornou a travessa na mesa...
(xv) Que alguém em Bula (um dos jornalistas) o provocou, perguntando-lhe se ele, Cap Sentieiro, não terá previamente dado algum sinal ao IN...
(xvi) Que ele, Sentieiro, nunca viu o filme (1), que sabe que ele existe e que as únicas imagens que viu são as que às vezes aparecem na TV. Ele chama a essas imagens
fruta fresca, isto é, quando a TV quer mostrar cenas violentas da guerra da Guiné, aí vão elas.
(xvii) Fiquei de lhe enviar o filme. Tenho algumas dúvidas sobre a oportunidade de o fazer, estar a mostrar-lhe cenas que ele pessoalmente viveu há quase quarenta anos. Mas foi tanta a insistência, que acabei por lhe prometer. Temos vários conhecidos comuns e estou convidado para almoçar com ele quando passar por Torres Novas.
E pronto, Luís.
Um abraço, vb
Nota de L.G. - A revista
Paris Match publicou, na edição nº 1071, de 15 de Novembro de 1969, uma reportagem efectuada pelo(s) seu(s) jornalista(a)s que vieram (ou veio) à Guiné... Título da peça:
Guinée: l'étrange guerre des Portugais [Guiné: a estranha guerra dos Portugueses]...
2. Operação Ostra Amarga
Extractos do PERINTREP Nº 42/69, Página 13 de 23
CAOP/BCAV 2868 (Intervenção-Sector 01)
Op Ostra Amarga
Patrulhamento
Pta Matar-Pta Ponate-Pta Fortuna-Pta Penhasse-Bissauzinho-Bofe
12 Out [de 1969]
7 dias
2 Gr Comb/ CCAV 2485; 2 Gr Comb / CCAV 2486; 2 Gr Comb / CCAV 2487
(i) 1º dia : 500 m a N Ponta Fortuna foi destruído um acampamento IN abandonado há 3 dias, com 14 casas de mato;
(ii) IN, avistado de longe, furtou-se ao contacto;
(iii) 7º dia, accionada uma mina A/P na região de Badapal, com 2 feridos NT; na região de Pecure, IN não estimado emboscou NT, retirando com 4 mortos e 2 feridos; as NT sofreram 2 mortos e 1 ferido; na região a L de Biura, IN não estimado emboscou NT, retirando pela reacção fogo manobra.
(iv) Restantes dias sem contacto.
Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV Outubro de 1969 > Resumo informativo sobre as Op Caça Ratos, Op Ostra Amarga e Op Gato Assanhado
Ainda no mesmo PERINTREP:
Em 17 de Out[ubro de 1969], durante a Op Ostra Amarga, forças do BCAV 2868 accionaram uma mina A/P na região a sul de Capafa em 1545 1205 D3-86, causando 2 feridos graves às NT (Pelotão Cav BCAV 2868).
Segundo informações de elementos IN que estiveram na tabanca de Nhemgue na noite de 18 para 19 de Outubro, o IN sofreu 4 mortos e 2 feridos.
Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Monumento aos Mortos do Ultramar > > 28 de Outubro de 2007 > Passei por lá e fotografei o muro onde constam os nomes dos infortunados camaradas António Capela, natural de Cabaços, Ponte Lima, e Henrique Costa, natural de Ferrel, Atouguia da Baleia, Peniche, mortos na
Op Ostra Amarga / Op Paris Match... Para que sejam lembrados por todos nós e pelos vindouros... (LG)
Fotos: ©
Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
3. Os mortos na Op Ostra Amarga (filme):
(i)
António da Silva Capela
Soldado atirador, nº 07241868 / CCAV 2487 / BCAV 2868
Ferimentos em combate, em 18 de Out. de 1969
Solteiro
Pai: Gabriel dos Santos Capela / Mãe: Rosa Araújo da Silva
Freguesia de Cabaços / Concelho de Ponte do Lima
Local da operação: Bula
Local da sepultura: Cemitério de Lousa – Loures
(ii)
Henrique Ferreira da Anunciação Costa
Soldado atirador, nº 03434368 / CCAV 2487 / BCAV 2868
Ferimentos em combate, em 18 de Outubro de 1969
Casado (com Noémia M. M. Oliveira)
Pai: Francisco Ferreira da Costa / Mãe: Maria da Anunciação Lourenço
Freguesia de Atouguia da Baleia / Concelho de Peniche
Local da operação: Bula
Local da sepultura: Cemitério de Ferrel – Atouguia da Baleia
4. Informações adicinais sobre o
Batalhão de Cavalaria nº 2868 (Bula, 1969/70)
Unid. Mobilizadora: RCav 7
Comandante: Ten Cor Carlos Alves Morgado
2º Comandante: Maj Cav João Marcelino; Maj Cav Luís Casquilho
Of Inf Op Adj.: Major Cav Ruy Pereira Coutinho
Comandantes de Companhia
CCS: Cap SGE António Vagos
CCAV 2485:
Cap Cav José Sentieiro
CCAV 2486: Cap Cav João Almeida; Alf mil José Fernandes
CCAV 2487: Cap Cav João Quintela; Cap QEO Caimoto Duarte
Divisa:
Não Temo
Partida: 23 de Fevereiro de 1969 / Desembarque: 1 de Março de 1969 / Regresso: 30 de Dezembro de 1970
Actividade Operacional: Síntese
(i) Com a sede em Bissau, foi-lhe atribuída a função de intervenção como reserva do Com-Chefe.
(ii) Em princípios de Abril 1969, estabeleceu um posto de comando avançado em Cacheu, com a missão de actuar nas regiões de Churo e Pecau, a fim de deter o alastramento da luta armada à região do “Chão Manjaco”, em área temporariamente retirada ao BCAÇ 2845.
(iii) Após um curto período de IAO, até 19 de Abril de 1969, comandou e coordenou a actividade de duas das suas unidades e outra ali instalada do antecedente, desenvolvendo actividade operacional de patrulhamento, batidas e emboscadas nas regiões de Churo-Pecau-Quesse e do Cacheu.
(iv) Em 30de Agosto de 169, após substituição pelo Comando Militar do Cacheu, transferiu o Pel Cav para Bula, onde assumiu em 5 de Setembro de 1969 a responsabilidade do sector 01-A, então criado nesta zona por subdivisão da área do BCAÇ 2861, com a sede em Bula e incluindo as suas subunidades também ali estacionadas, e depois outras que lhe foram atribuídas em reforço.
(v) Em 8 de Janeiro de 1970, duas das subunidades passaram a ter a sua sede em Ponta Augusto Barros e Pete, com vários destacamentos disseminados nas respectivas áreas de acção. (…)
(vi) A partir do início de 1970, a sua actividade foi especialmente orientada para o desenvolvimento e promoção sócio-cultural do “Chão Manjaco”, com abertura de itinerários e asfaltamento da estrada Bula- S.Vicente e orientação e construção de aldeamentos da população.
(vii) Pela acção desenvolvida, destacam-se as operações “Freio Reluzente” e “Pequeno Baio”, entre outras.
(viii) Dentre o material capturado ao IN, salientam-se 8 espingardas, 4 lanças granadas-foguete e levantamento de 28 minas.
(ix) Em 1 de Dezembro de 1970, o BCAV 2868 foi rendido no sector 01-A pelo BCAÇ 2928, recolhendo a Bissau, a fim de aguardar embarque.
Nota de vb - Seguem-se as Companhias, com a descrição dos percursos da comissão, sem notas relevantes. O BCAV 2868 tem História da Unidade (Caixa nº 117- 2ª Div/4ª Sec do AHM).
5. Bula >
Comando de Agrupamento Operacional
COMANDO de AGRUPAMENTO OPERACIONAL
COMANDO de AGRUPAMENTO OPERACIONAL OESTE
COMANDO de AGRUPAMENTO OPERACIONAL nº 1
Início em 8 de Janeiro de 1968 / Extinção em 1 Julho de 1974
Cmandantes: Cor Pára Alcínio Ribeiro / Cor Art Gaspar Freitas do Amaral
Cor Pára Rafael Durão / Tem Cor Inf Pedro Henriques
Cor Pára João Curado Leitão
CEM: Maj CEM Passos Ramos / Maj CEM Santiago Inocentes
Maj Art Pimentel da Fonseca / Maj Inf Bacelar Pires
Maj Art Fernandes Bastos
__________
Notas de V.B./L.G.:
(1) Vd. post de 8 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)
(2) Vd. post de 16 de Julho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)