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terça-feira, 8 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9864: Notas de leitura (358): "Horas Malditas", por Manuel Martins (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 2 de Abril de 2012:

Queridos amigos,
Foi o Carlos de Matos Gomes que teve a amabilidade de me emprestar estas “Horas Malditas”.
Não tenho rebuço em continuar a pedir-vos o favor de me emprestarem quaisquer literatura sobre a Guiné em vosso poder, bom, mau ou assim-assim, os historiadores é que podem conferir importância a tais testemunhos, por vezes muito mais úteis que a pouca importância que lhes possamos atribuir. Estas “Horas Malditas” têm aspetos curiosos, soam a desabafo dentro da forma desprendida que o autor utiliza.

Um abraço do
Mário


Um romance singular sobre a guerra da Guiné: Horas malditas

Beja Santos

Intitula-se “Horas Malditas”, por Manuel Martins, Mediedições, 1991. É um romance económico, estabelecido na base de síncopes, uma linguagem fragmentária em que o acidental por vezes sobreleva o essencial. O autor explica o título pelas horas de ansiedade à espera de uma flagelação ou a estranha sensação nas horas que se seguiam ao rebentamento de uma mina. E depois generaliza: “Eram-no também todos aqueles dias e semanas de rotina ansiosamente à espera de voltar à metrópole no gozo de férias”.

O “periquito” Orlando Marques chega a Mansoa e sabe-se que depois vai até Cutia. Vai em rendição individual, quando o capitão Maia, lá na sua unidade na metrópole lhe deu notícia, quase que entrou em estado choque, já não previa o chamamento. Ele bem barafusta, tinha sido promovido a furriel há mês e meio, o capitão explica-lhe que a data de mobilização era anterior à sua promoção. Ficamos a saber que o Marques tem laços com a Lousã, que andou no Colégio Nuno Álvares, em Tomar, que tem uma irmã de um casamento em segundas núpcias do pai e que as relações com este não são lisonjeiras. Aliás, só informa o pai horas antes de partir para a Guiné. As suas lembranças, contudo, viagem para a Lousã, onde fora assessor nas Finanças e onde está a Tina, a sua namorada. E lá vai num DC-6 para Bissau, o pai está comovido quando o leva ao aeroporto. Em Bissau é descarregado no Batalhão de Intendência. Depois dão-lhe a guia de marcha para Cutia, algures entre Mansoa e Mansabá.

Podia ser um excurso sensaborão, Manuel Martins socorre-se do linguajar da tropa macaca: quilhar, canhoada, saiam da daqui, porra, é proibido o caraças!... E o que é brutal descreve-se com sobriedade, naquela flagelação uma velhota, desnutrida, jazia completamente desventrada, contendo o que pareciam ser os intestinos aconchegados no seu regaço do lado direito: “De joelhos sobre a mulher, rasgou-lhe as parcas e andrajosas roupas que a cobriam, e que juntamente com o sangue já coagulado e pedaços de terra à mistura, se confundia com aquele desfilar contínuo de tripas que pareciam continuar a sair pelo ventre”. Chama-se a ambulância, pede-se para se fazer uma massagem cardíaca, mais outra injeção. Mas o médico reconhece que nada há a fazer.

São trapos soltos, o autor não sente necessidade de falar da cronologia dos acontecimentos, sabe-se que estamos em pleno os anos 70. Marques tem uma boa relação com o alferes Pires, estabelecem uma camaradagem perfeita. E dentro deste desligamento dos textos, o leitor é convocado para o rebentamento de uma mina, vai uma GMC à frente com o Legião, um soldado na casa dos 30 anos que combatera na legião estrangeira, tinha acabado uma operação, deslocam-se para o aquartelamento. Explode uma Berliet, vinha a seguir à GMC, fica com a frente completamente desfeita, ferros todos retorcidos e praticamente sem pneus. E somos transportados para um episódio grotesco:
- O furriel pode ler-me este telegrama? É para mim e eu estou tão nervoso! Se calhar é mesmo a miúda a dar-me com os pés! Por isso não me escrevia há quase 15 dias!...

Marques, mesmo antes de ver os seus aerogramas, e como que se o nervosismo de Santos lhe tivesse sido transmitido, rasgou a tirinha de papel que sigilava o telegrama e abrindo pausadamente pousou ao de leve os olhos na pessoa que o escrevera e pôde ler: Maria da Conceição.
- Quem é a Maria da Conceição?
- É a minha miúda! Eu vi logo. Já andava a desconfiar. Anda um tipo aqui a fazer projetos e as gajas lá ao fim de um tempo já não nos respeitam.

Marques lia para si o telegrama. E infelizmente para o Santos o seu conteúdo era bem mais grave: “GRAVES PROBLEMAS STOP TEU PAI FALECEU STOP FUNERAL HOJE STOP DOENÇA DELE NÃO ME DEIXOU ESCREVER STOP CORAGEM TUA MARIA CONCEIÇÃO”
- Oh Santos, tens de ter paciência homem. A vida é assim. Hoje é má para ti amanhã será para mim, quem sabe. Temos é de ter todos coragem!

Santos já não o ouviu. Agora só conseguia ver aldeia abaixo, lado a lado com o pai, à frente da junta de vacas, a caminho da Devesa para irem fazer as sementeiras.

Os dias são monótonos onde quer que o Marques se encontre, bebe muito, joga, tá farto da comida, alguém faz um reparo: “- Vai lá para Infandre, e já comes melhor, meu cabrão! Se estivesses a arroz branco e conservas, já começavas a gostar mais deste petisco”. Pelas 3 horas da manhã Marques parte para um patrulhamento, o cabo Pires esqueceu-se do tubo do morteiro, tal a forte bebedeira e justifica-se:
- Foi o álcaro, meu alferes!

Percebe-se que caminham em direção à saída norte de Mansoa até ao cruzamento da estrada de Bissorã, cambam o rio Brá, avançam com cautelas, vão picando o caminho. E em dado passo está lá uma emboscada, pensava-se, mas não era, afinal andavam uns nativos descontraidamente à caça. É no regresso que está lá uma emboscada, o Zé da Tropa está profundamente ferido e o Marques é atingido por um estilhaço.

No texto seguinte Marques já está de férias em Lisboa, quando se prepara para ir passar uns dias à Lousã recebe uma carta do alferes Pires em que lhe comunica que desertou e foi para França, é uma carta cheia de pormenores, um retábulo barroco que termina com a promessa de se voltarem a encontrar em Lisboa e então comerão uma lagosta. É uma prosa entediante, parece que Orlando Marques perdeu a bússola, aparecem-lhe dois agentes da PIDE lá em casa, pretendem informações sobre o alferes Pires, ele nega saber o seu paradeiro. De novo em Bissau, Marques é um sargento de atos fúnebres, temos aqui outra dimensão grotesca da obra, vai trabalhar na secção de funerais, é um zelador das urnas, anda pelas casas mortuárias, vê o estado dos cadáveres, vestem os mortos, quando estão despedaçados põem cuidadosamente o fardamento por cima, Marques assiste obrigatoriamente ao ato da soldadura e à tiragem dos gases para que as urnas não expludam. Até é participado ao leitor o acidente em que o Braga quando se preparava para tirar gases a cerca de 20 urnas que deveriam de seguir a bordo do Rita Maria, inadvertidamente, após ter feito o furo junto aos pés de uma urna, por onde deviam ter saído todos os gases, resolveu não fechá-la a ferro quente e solda, usou um maçarico e provocou uma explosão, pôs tudo num desalinho. E chega o 25 de Abril, os militares do MFA andavam em delírio pelas ruas de Bissau. E nesse verão, Marques, o cangalheiro, partiu para Lisboa, casou, divorciou-se, fez-se médico. E 10 anos depois, no Rossio, encontra-se com Vitor Pires. Chegou a hora dos grandes desabafos. Pires tinha-se naturalizado francês, trabalhava lá como técnico de controlo de material da aeronáutica numa empresa do Estado. Tinha dois filhos, o Michel e a Nicole, de sete e seis anos, agora estava divorciado, viera a Portugal visitar os pais. Metem-se num táxi e vão jantar à Portugália: “Falámos durante horas a fio. E bebemos muitas imperiais enquanto conversávamos. Mas também comemos a maior lagosta que eles lá tinham”.

É um livro curioso, não se capta bem o que Manuel Martins deixa como mensagem, recupera habilidosamente o jargão da caserna, doseia as horas más e a solidariedade militar na provação com vivências do grotesco e do humor negro. É provável que este reencontro se transforme no símbolo da memória perdurável das horas malditas e das amizades que escapam às agruras do tempo.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9851: Notas de leitura (357): As grandes Operações da Guerra Colonial (2), edição do "Correio da Manhã" (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23651: In Memoriam (452): Mário Rui Anastácio (1954-2022), ex-fur mil, BII 19, Funchal, 1974/75, meu cunhado (Luís Graça)


Lourinhã > Igreja de Santa Maria do Castelo (séc. XIV) > Rosácea: uma obra-prima de desenho geométrico ...

Alcobaça >  2 de julho de 1977 > No  casamento do Mário  e da  Zairinha.  Do lado da noiva, o pai, Luís Henriques (1920-2012) e  a mana mais nova, a Béu. Na outra ponta, ao lado do noivo, a Maria da Graça (1922-2014).  


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2022). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Faleceu inesperadamente no passado domingo,  aos 68 anos, em Guimarães,  e realizou-se hoje a cerimónia fúnebre, na sua terra natal, Lourinhã, seguindo agora mesmo  os seus restos mortais para o crematório de Barcarena, Oeiras: Mário Rui Anastácio (13/1/954-25/9/2022). Era casado com a minha irmã do meio (tenho três), Maria do Rosário, "Zairinha". O casal tem dois filhos, André, treinador de futebol,  e Rita, educadora de infância.

Trabalhou na empresa Louricoop, tinha acabado de se reformar há uns meses;  andou na escola Escola Industrial e Comercial de Torres Vedras; foi jogador de futebol, júnior, no Sport Clube União Torreense (SCUT), fundado em Torres Vedras, em 1917, bem como no Sporting Clube Lourinhanense, filial do  Sporting Club de Portugal (SCP). Tinha o curso de treinador de futebol, e orientou diversas equipas, de vários escalões, na Região do Oeste. 

Sei que em 1974/75, cumpriu o serviço militar, como furriel miliciano,  no Funchal, no BII 19, o Batalhão Independente de Infantaria nº 19 (cujo quartel fora inaugurado em 1970), tendo escapado por um triz de "ir parar ao ultramar", como último soldado do Império... Tinha excelentes recordações da Madeira e dos madeirenses. Infelizmente não tenho fotos dele desse tempo. 

Na hora da despedida, na igreja de Santa Maria do Castelo (séc. XIV), na Lourinhã, tive o privilégio de dizer em público, perante a sua família, vizinhos, colegas  e amigos, algumas palavras em sua homenagem,  e também a ocasião de manifestar a minha solidariedade na dor à viúva, filhos, netos e demais família.

Mário:

Partilhaste comigo, há umas escassas semanas atrás, na Praia da Areia Branca, uma pequena inconfidência: contaste-me, com velado orgulho, que o teu filho costumava dizer, à malta das suas equipas  de futebol, que havia dois homens que o inspiravam, na vida e no desporto: o avô e o pai.

Do amor do André pelo meu pai, eu já o sabia há muito. Pude testemunhá-lo em diversas  ocasiões. Desde o André ainda miúdo. Da admiração do teu filho por ti, como pai e como desportista, eu só poderia achar normal e natural. O que foi bonito foi ver-te com um brilhozinho nos olhos quando me constaste esta história.

Sei que o mesmo amor sentias pela tua Ritinha, e pelos teus netos. E, claro, pela tua mulher e mãe dos teus filhos. Sempre te ouvi tratá-la por Zairinha, "a minha Zairinha". E sei que foi a mulher da tua vida, aquela que também é a minha Zairinha, a minha querida mana do meio.

Hoje eles e elas, a tua Zairinha, os teus filhos, nora e genro, os teus netos, os teus irmãos, os teus cunhados, os teus sobrinhos, e demais família, e os amigos que sempre te trataram, com fraterno carinho,  por Márinho… (ou por “Mister”, os teus miúdos da bola, que ensinaste a lidar com as alegrias e as tristezas no campo e fora do campo, no campo pelado da vida)… todos eles e elas estão aqui, fisicamente ou em pensamento, nesta hora e neste lugar sagrado, na igreja do Castelo, o mais belo e nobre monumento da Lourinhã, para te dizer adeus na tua última viagem.

Morreste longe da tua terra, numa morte traiçoeira e fulminante que nos deixa a todos chocados e desolados. Tinhas apenas 68 anos, uma vida ainda por completar. E nós temos agora umas escassas horas para te dizer, em silêncio ou em voz alta,  quanto te estimávamos e quanto te amávamos.  

Quando morre um de nós, todos morremos um pouco, e há uma torrente de memórias, vivências e emoções que se soltam. Como o rio Grande da nossa infância, o  rio que só era grande quando galgava as margens, arrasava as vinhas e pomares, inundava o campo da bola e o largo do Convento. e se confundia com o mar, o grande oceano. Lembras-te ? Até Deus ficava isolado na igreja matriz…E nós fazíamos gazeta à escola, à missa, e à catequese…

Hoje somos nós que ficamos tristes e sós, mesmo sabendo que todos somos mortais, e que um dia, nunca sabendo qual, cada um de nós partirá também  para essa viagem sem retorno.

Crentes ou não crentes, todos temos todavia a secreta esperança ou a vã ilusão de voltarmos a sentar-nos à mesma mesa, frente ao mar, como companheiros de viagem, e partilhar o melhor das nossas memórias da Terra da Alegria. E eu quero voltar,  noutra incarnação,  a ver esse teu brilhozinho nos olhos e o teu sorriso bondoso… E, se possível,  a  beber um copo contigo.

Até sempre, até um dia, meu querido cunhado Márinho (é a primeira vez que te trato por Mrinho).

Lourinhã, 28 de setembro de 2022.  ´

Luís (a que se junta a Alice, a Joana e o João, nesta pequena homenagem a ti que também é uma manifestação de solidariedade na dor pela tua perda).

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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23569: In Memoriam (451): Gratas recordações do confrade António Júlio Emerenciano Estácio (1947-2022) (4): “Bolama, a saudosa…”, lembranças afetuosas da sua juventude (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16874: Camaradas da diáspora (13): O ativista João Crisóstomo (EUA) visitou a nossa Tabanca Grande... e já tem causas para o ano de 2017... Um delas é a continuação das celebrações dos 225 anos do Consulado Geral de Portugal em Nova Iorque... Para ele e a Vilma, desejamos "Merry Christmas and Happy New Year".. Mas também para o Eduardo Jorge e a São que desta vez foram consoar para Londres...(O que os pais fazem pelos filhos, camaradas!)


Torres Vedras > Praia de  Santa Rita > 15 de dezembro de 2016 > Eduardo Jorge e João Crisóstomo


Torres Vedras > Praia de  Santa Rita > 15 de dezembro de 2016 > Luís Graça e João Crisóstomo


Torres Vedras > Praia de  Santa Rita > 15 de dezembro de 2016  > Alice Carneiro e João Crisóstomo


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados



1. Na véspera de Natal, o João Crisóstomo, nosso grã-tabanqueiro da diáspora, deu um saltinho à sua terra, vindo de Nova Iorque, onde vive, e onde esteve com o seu amigo e conterrâneo Padre Melícias, bem como outras personalidades que acompanharam o eng António Gueteres, no dia da tomada de posse como secretário geral das Nações Unidos... 

(Refira-se, a propósito, que a SIC e a TVI que fizeram a cobertura deste histórico acontecimento, estiveram depois,  no dia seguinte, de manhã, na casa do João e da Vilma, fazendo um reportagem, paralela,  sobre este nosso camarada e amigo a viver em Nova Iorque desde 1975, e que, apesar da dupla nacionalidade, continua a fazer o melhor que sabe e pode pela sua Pátria, tendo-se tornado  um conhecido ativista de causas sociais como a defesa das gravuras rupestres de Foz Coa, a independência de Timor e a reabilitação da memória de Aristides Sousa Mendes).

Como quase sempre que cá vem, dá uma apitadela aos amigos. Dez vez, foi possível reunimo-nos ao fim da tarde do dia 15 de dezembro, para dar dedos de conversas e matarmos saudades. O Eduardo Jorge Ferreira  foi o anfitrião (, sempre generoso e solidário, apesar de partir no sábado para Londres para poder passar o Natal com filhos e netos). Eu e a Alice viemos de Alfragide. O João, da casa da irmã em Santa Cruz. O dia era de inverno, mas o Eduardo já nos tinha marcado encontro num barzinho da praia de Santa Rita, mesmo em cima do areal.

O João deu-nos notícias, boas e más, da sua segunda terra, falámos ao telefone com a Vilma e naturalmente partilhámos os desejos de "Merry Christmas and Happy New Year".

E falámos de outros projetos em curso: o João tem, já de há algum tempo, a ideia de juntar os camaradas do Oeste (Estremadura) que passaram pelo TO da Guiné. A questão é a oportunidade da realização de um convívio, em 2017 ou 2018, num dos concelhos mais centrais (Lourinhã ou Torres Vedras) dos ex-combatentes do Oeste.  Em 29 de abril de 2017 o João estará presente no encontro anual da sua CCAÇ 1439  (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67). Gostaria também de poder ir ao XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, mas que em princípio já está  marcado para esse mesmo dia em Monte Real... (Não tendo ele o dom da ubiquidade, vai estar com os camaradas da CCAÇ 1439,  na Foz da Arelho,  Caldas da Raínha,)

Õutro dos seus projetos, que quis compartilhar connosco é a comemoração dos 225 anos do Consulado Geral de Portugal  Nova Iorque (cuja origem histórica remonmta a 1791). A ideia é continuar a celebrar esta efeméride, em 2017,  para mais num ano em que há mudança de inquilino da Casa Branca.

Recorde-se que "em 15 de Fevereiro de 1783, o Governo de D.Maria I reconheceu a independência dos EUA, figurando Portugal, juntamente com a França e Holanda, entre os 3 únicos países que reconheceram a independência dos EUA antes do Tratado final de Paris." (Fonte: Portugal, Instituto Diplomático, Ministério dos Negócios Estrangeiros).

 Por outro lado, oss pais fundadores da América celebraram a indepência do seu país com vinho... da Madeira!,,,

O João, em, articulação com a cônsul, açoriana de origem e sua amiga, tem  ideias originais para comemorar condignamente, e com o devido mediatismo,  este evento... a que o nosso blogue se associa,ndesde já, com todo o entusiasmo.

Para o João e a Vilma um feliz Natal em Nova Iorque, Para o nosso Eduardo Jorge Ferreira, esposa São e filhos, desta vez em Londres, idem aspas... Que os nossos bons encontros se continuem a realizar para o ano. (LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P16032: Camaradas da diáspora (12): Notícias da América: "Luso-Americanos que morreram ao serviço das Forças Armadas dos USA", último livro do jornalista e escritor Fernando Santos (João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439, Enxalé, Portogole, Missirá, 1965/67)

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15041: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (32): O "making of" de um projeto de ajuda ao Hospital de Cumura (João Martel e Ana Maria Gala)


1. Mensagem de João Martel, com data de 19 de fevereiro de 2014, que não foi publicado na devida altura (*) e que nos parece agora relevante para perceber melhor o projeto deste jovem médico, João Martel, com quem já falei ao telemóvel duas ou três vezes... 

[foto á esquerda, João Martel com Ana Maria Gala; são os dois mais recentes membros da Tabanca Grande (**)]


Boa tarde, caro Luís Graça

O meu nome é João Martel.

Em primeiro lugar, e ainda sem me conhecer, aceite os meus sentimentos pela partida do Carlos Schwarz, "Pepito", para a Casa do Pai. O Senhor o recompensa já, por certo, pelas suas grandes e boas obras. A luta desse grande homem, que pude conhecer pelo seu blog, também me motivou a falar consigo hoje.

Cheguei até si pela leitura do seu blog "Luís Graça e Camaradas da Guiné" e pelo site da ENSP (já agora, perdoe-me a invasão de tantos endereços de e-mail, tentei apenas acautelar as falhas do digital).

O seu blog aparece sistematicamente em tudo o que são pesquisas sobre a Guiné-Bissau e tenho ficado cada vez mais motivado para contactar consigo, dado que tenho um interesse cada vez maior neste país e neste povo.

Mas começando do início:

Estou actualmente a terminar o curso de Medicina na FCML. Vim a aperceber-me que comecei o curso no ano de término do seu filho João, em 2008, cujo relato de Cumura também li com interesse.

Há já bastantes anos que vegeta em mim a vontade de poder aplicar algum do meu tempo (e, quiçá, saber) a um povo que sinta precisar especialmente de auxílio no esforço para o desenvolvimento. Como é próprio dos maçaricos, o tempo de partir parece que nunca chega mas circunstâncias da vida e dos estudos obrigam a um adiamento. Este tempo serve para maturar, claro, e tornar a nossa visão um pouco mais clara, mais informada, mais consciente de nós e dos outros, o que não pode ser senão positivo.

Estando actualmente a terminar o 6º ano, penso que chega a altura de soltar amarras! Mas para onde, como?

Através de alguns contactos com os Franciscanos Portugueses, soube da existência da Missão de Cumura e do trabalho do Frei Vitor Henriques, médico, na missão, durante vários períodos.

Falei o ano passado com ele, falei de raspão com a drª Alice, pediatra que também lá esteve.. As coisas foram-se ligando...

Nas pesquisas on-line, como lhe disse, o seu blog, a vossa Tabanca, aparece sistematicamente. Através dele, pude completar melhor o meu olhar sobre este país e as aventuras e desventuras de tantos que por ele tanto têm feito. Nomeadamente (e terei que usar o tom coloquial) o Carlos Schwarz e a AD Bissau, o seu filho João Graça, o Zé Teixeira e o seu filho Tiago, o dr. Francisco Silva, ortopedista e tantos outros... são personagens que, ainda que só dentro da blogosfera, já habitam a minha ideia da Guiné-Bissau e me motivam a seguir em frente.

Na verdade, falo em nome de um grupo de três pessoas, eu próprio, uma colega de medicina e uma professora do ensino primário, trio que pretende partir em conjunto, em princípio no ano de 2015, dado que ainda estamos a terminar a nossa formação base.

Não querendo maçá-lo muito mais com este testamento, gostava de lhe pedir se poderia falar consigo um pouco sobre a Guiné e algumas perspectivas para o futuro dos nossos trabalhos. Igualmente, e abusando, sem querer abusar, se poderia facilitar-me alguns contactos, que adivinho muito úteis, do seu filho João e do José e Tiago Teixeira, ou outros contactos que ache importantes para nós.

Agradeço desde já a sua atenção e, logo em primeira mão, todo o sonho que já me fez viver com as suas escritas e de tantos Tabanqueiros!

Com as minhas desculpas por este rolo de texto, com amizade

João Martel (e Ana Maria e Rita)



Guiné-Bissau > Bissau > Estrada de Prábis, a 10 km de Bissau > Cumura > Missão Católica e Hospital de Cumura > Cortesia da página da União Missionária Franciscana.


2. Resposta de Luís Graça,. com data de 24 de fevereiro de 2014:

João: Vejo que é um homem crente, com sentido de coerência, e solidário. A Guiné-Bissau precisa de todos nós, e de pessoas jovens e generosas como você e as suas amigas.

Obrigado, antes de mais, por me contactar. Obrigado pelas referências elogiosas ao nosso blogue. Terei todo o gosto em poder ajudá-lo, eu e outros amigos da GB e do seu povo que se acolhem à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande...

Espero que possa concretizar, em 2015, os seus sonhos de,, uma vez concluído o mestrado integrado de medicina, na nossa FCM/UNL [, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade NOVA de Lisboa], possa partir para a GB em missão humanitária ou de cooperação ou em regime de simples voluntariado. Vou pô-lo em contacto com as pessoas que referiu.

Para já fique com os meus contactos pessoais (...)

Um alfabravo (ABraço), em linguagem dos antigos combatentes... Luís Graça

PS - Gostaria de poder publicar um pequeno texto seu, no nosso blogue, a partir desta mensagem. Caso ache oportuno, adequado e pertinente.

3. Informação sobre os promotores do projeto:

Ana Maria Gala

Formada em Educação como professora do 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico. Com 25 anos sobre este planeta, actualmente a trabalhar no Serviço Educativo do Museu Calouste Gulbenkian. No entanto, tem como grande paixão o Ensino e desde cedo desejou fazer um período de trabalho missionário,  pondo ao serviço a sua formação.

João Martel

Formado em Medicina pela Universidade Nova de Lisboa, actualmente a realizar o Ano Comum (o antigo Internato Geral). Igualmente com 25 anos, uma boa parte deles com o sonho de ser útil na construção do diálogo entre os povos. Aceita os desafios de uma medicina pobre, com múltiplas carências básicas.

O João e a Ana veem na Acção Missionária uma forma de honrar as ligações fraternas de Portugal com o Mundo Lusófono, contribuindo para o caminho do desenvolvimento. Encontraram na Ordem Franciscana uma estrutura organizada e coerente para o fazer.

(Fonte: PPL | Crowdfunding Porttugal > Causas > Um pé na Guiné)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de maio de  2015 > Guiné 63/74 - P14640: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (31): Em busca das minhas raízes nalus / In search of my Nalu family origins (Nigel Davies, historiador britânico, originário da Serra Leoa / British historian, specialising in the study of Sierra Leone Creole people)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2819: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (4): 1968-1973 (Fim) (A. Marques Lopes)

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 1 de Março de 2008 > O Rio Corubal, visto da margem direita, junto ao Saltinho... Neste rio (o único verdadeiro rio da Guiné, segundo dizia o Amílcar Cabral), morreram afogados 46 militares portugueses das CCAÇ 1790, CCAÇ 2405 e outras unidades, além de um civil guineense, no dia 6 de Fevereiro de 1969, na travessia junto ao Cheche, na sequência da evacuação de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios). Nenhum dos corpos foi recuperado (1).

Quadro 7 - Guiné 1963/74: Militares portugueses metropolitanos, mortos por ferimentos em combate, doença, acidente ou outros motivos, e cujos corpos ficaram em cemitérios locais. Parte IV (Final): 1963/73, por trimestre. Mas nesta lista não se incluem os guineenses, ao serviço do Exército Português.

O total apurado (n=254) está longe de corresponder ou até aproximar-se sequer dos números de que habitualmente se fala: três vezes mais, por exemplo. Nem sequer chegamos, nem de loge nem de perto, aos 100 locais de enterramento de que habitualmente se fala (por exemplo, a comunicação social, a Liga dos Combatentes). É possível que esse número possa estar correcto, se tivermos em linha de conta os nossos soldados africanos.



Já que falamos dos nossos mortos (militares portugueses metropolitanos) que ficaram em terras da Guiné (uns insepultos, desintegrados por minas ou afogados nos traiçoeiros rios e braços de mar; outros enterrados, em cemitérios locais ou improvisados: Bissau, Nova Lamego, Bafatá, Bolama, Guidaje, Farim, Bambadinca, etc.) , e estamos a pensar em reabilitar e dignificar esses locais de enterramento, com o apoio do Governo da Guiné-Bissau, também era altura de fazermos um pouco de justiça aos guineenses que combateram e morreram ao nosso lado, dando a conhecer no mínimo os locais onde foram enterrados. Nalguns casos, a sua tabanca de nascimento. Estou-me a lembrar, por exemplo, do 1º morto da CCAÇ 12, o soldado Iero Jau, que foi enterrado com honras militares na sua terra, de cujo nome já ninguém se lembra (2). Muitos outros terão ficado nos sítios (ou perto) onde morreram.

Nesta lista não constam elementos de outros ramos das Forças Armadas, para além do exército. Não consta ninguém da Marinha nem da Força Aérea. Não constam, por exemplo, os três camaradas nossos, pára-quedistas, da CCP 121/BCP 12 (1972/74) que morreram na sequência da emboscada do PAIGC em 23 de Maio de 1973, na tristemente famosa bolanha do Cufeu. Eram eles, o Manuel da Silva Peixoto, de 22 anos, natural de Vila do Conde; o José de Jesus Lourenço, de 19 anos, natural de Cantanhede; e o António das Neves Vitoriano, de 21 anos, natural de Castro Verde. Os três ficaram sepultados em Guidaje.

Enfim, esta lista parece-nos estar incompleta ou ter lacunas grosseiras: por exemplo, dela ta´mbém não constam os três camaradas da CART 3494 / BART 3873, que, saídos do Xime para o Mato Cão, em Sintex, foram apanhados pelo macaréu, tendo desaparecido ou morrido, em 10 de Agosto de 1972: Soldado Abraão Moreira Rosa (desaparecido), Soldado José Maria da Silva e Sousa (natura de Famalicão, morto, sepultado em Bambadinca) e Soldado Manuel Salgado Antunes (desaparecido). Os três eram camaradas do nosso tertuliano nº 2, o Sousa de Castro.

Quadro 8 – Guiné 1963/74: Distribuição, por cemitério, dos corpos dos militares portugueses metropolitanos, mortos por ferimentos em combate, doença, acidente ou outros motivos, e cujos corpos foram enterrados em cemitérios locais. Parte IV (Final): 1963/1973 (n=254).

O cemitério de Bissau (n=106) representava 41,7% do total (n=254), seguido à distância pelo cemitérios de Nova Lamego (n=17), Bafatá (n=15), Bolama (n=11), Guidaje (n=6), Farim (n=4), Bambadinca (n=3), Fulacunda (n=2) e Catió (n=2). Cerca de 31,5% dos corpos (n=80) não tinham sido recuperados.

Outros locais de enterramento (n=8), com um sepultura cada: Aldeia Formosa, Bedanda, Binta, Buba, Cacine, Ilha das Galinhas, Conacri e ainda um local desconhecido.


Imagens e legendas: ©
Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.


Aqueles que nem no caixão regressaram - Parte IV (Final)
(Organização por ordem cronológica da data de morte: A. Marques Lopes, Cor DFA, Ref) (Continuação) (2)


NOME e POSTO / UNIDADE / DATA da MORTE / LOCAL da MORTE / CAUSA da MORTE NATURALIDADE / LOCAL DA SEPULTURA


Manuel Nunes dos Reis Cardoso, Furriel/ Pel Mort 1208 / 03.02.68 / Rio Feniqué / Afogamento / Oliveira do Bairro / Corpo não recuperado.

Eduardo Guilherme Teixeira Monteiro, Alferes / CArt 1612 / 15.05.68 / Itinerário Aldeia Formosa-Guilege / Ferimentos em combate / Caala, Angola / Corpo não recuperado.

Abel Gomes Simões, Furriel / CCaç 2317 / 04.08.68 / Change Iaia/ Ferimentos em combate/ Seixo, Montenor-o-Velho / Cemitério de Bissau, Guiné.

Eduardo da Costa Pacheco, Soldado / CCaç 2317 / 04.08.68 / Change Iaia / Ferimentos em combate / Frazão, Paços de Ferreira / Cemitério de Bissau, Guiné.

Luís dos Santos Marques, Soldado / CArt 1690 / 20.12.68 / Conakry (Guiné-Conakry / Doença / Serra Verde, Aguiar da Beira / Cemitério de Conakry.


Albertini Silva Mendes, Soldado / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / São Lourenço de Sande, Guimarães / Corpo não recuperado (5)

Alfredo António Rocha Guedes, 1.º Cabo / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Vila Justa, Mesão Frio / Corpo não recuperado.

Américo Alberto Dias Saraiva, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / S. Sebastião da Pedreira, Lisboa / Corpo não recuperado.

Aníbal Jorge da Costa, Soldado CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Rossas, Vieira do Minho Corpo não recuperado.

António Domingues do Nascimento, Soldado / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Santa Maria, Trancoso / Corpo não recuperado.

António Jesus Silva, Soldado / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Arazedo, Montemor-o-Velho / Corpo não recuperado.

António Marques Faria, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Tellhado, Vila Nova de Famalicão / Corpo não recuperado.

António dos Santos Lobo, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Favaios do Douro, Alijó / Corpo não recuperado.

António dos Santos Marques, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Corpo não recuperado.

António Martins de Oliveira, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Rio Tinto, Gondomar / Corpo não recuperado.

Augusto Caril Correia, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Santa Cruz, Coimbra / Corpo não recuperado.

Augusto Maria Gamito, 1º Cabo / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / São Francisco da Serra, Santiago do Cacém / Corpo não recuperado.

Avelino Madail de Almeida, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Glória, Aveiro / Corpo não recuperado.

Carlos Augusto da Rocha, Furriel / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Angústias, Horta, Açores / Corpo não recuperado.

José da Silva Góis, Soldado / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Meãs do Campo, Montemor-o-Novo / Corpo não recuperado.

José da Silva Marques, Soldado / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Marmeleira, Mortágua / Corpo não recuperado.

José de Almeida Mateus, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Santa Comba Dão / Corpo não recuperado.

Celestino Gonçalves de Sousa, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Poiares, Ponte de Lima / Corpo não recuperado.

David Pacheco de Sousa, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69/ Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Lastosa, Lousada / Corpo não recuperado.

Francisco da Cruz, Soldado / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Leboção, Valpaços /Corpo não recuperado.

Francisco de Jesus Gonçalves Ferreira, 1.º Cabo / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Tortosendo, Covilhã / Corpo não recuperado.

Gregótio dos Santos Corvelo Rebelo, Furriel / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Angra do Heroísmo, Terveira, Açores / Corpo não recuperado.

Joaquim Nunes de Alcobia, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal/ Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Igreja Nova, Ferreira do Zêzere/ Corpo não recuperado.

Joaquim Rita Coutinho, 1º Cabo / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Samora Correia, Benavente / Corpo não recuperado.

Joel dos Santos Silva, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Guisande, Vila da Feira / Corpo não recuperado.

José Antunes Claudino, 1.º Cabo / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Alcanhões, Santarém / Corpo não recuperado.

José Bento Pacheco Aveiro, Soldado / CCaç 2444 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Nordeste, São Miguel, Açores / Corpo não recuperado.

José da Silva Coelho, Soldado / CCaç 1790 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Recarei, Paredes / Corpo não recuperado.

José Fernando Alves Gomes, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Carvalhosa, Paços de Ferreira / Corpo não recuperado.

José Ferreira Martins, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Pousada de Saramagos, Vila Nova de Famalicão / Corpo não recuperado.

José Loureiro, Soldado / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / São João do Fontouro, Resende / Corpo não recuperado.

José Maria Leal de Barros, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Vilela, Paredes / Corpo não recuperado.

José Pereira Simão, Soldado / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Salzedas, Tarouca / Corpo não recuperado.

José Simões Correia de Araújo, 1.º Cabo / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Telhado, Vila Nova de Famalicão / Corpo não recuperado.

Laurentino dos Santos Pessoa, Soldado / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Sonim, Valpaços / Corpo não recuperado.

Luís Francisco da Conceição Jóia, 1.º Cabo / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Alvor, Portimão / Corpo não recuperado /

Manuel Amaral Carreiro, Furriel / CCaç 2444 / 06.02.69 / Estrada Cacheu / Bachile / Morte por ferimentos em combate / Sepultado no Cemitério Municipal de São Joaquim - Ponta Delgada. (Ver comentário)

Manuel António da Cunha Fernandes, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Arão, Valença do Minho / Corpo não recuperado.

Manuel Brás Catanho Ribeiro, 1.º Cabo / CCaç 2446 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Ribeira Seca, Machico, Madeira / Corpo não recuperado.

Manuel da Conceição Silva Ferreira, Soldado / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Santarém / Corpo não recuperado.

Manuel dos Santos Costa Almeida, Soldado / CCaç 2444 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Arrifes, Ponta Delgada, Açores /Corpo não recuperado.

Manuel da Silva Pereira, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Penude, Lamego / Corpo não recuperado.

Octávio Augusto Barreira, Soldado / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Soçães, Mirandela / Corpo não recuperado.

Ricardo Pereira da Silva, Soldado / CCaç 1790 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Serzedelo, Vila Nova de Gaia / Corpo não recuperado.

Valentim Pinto Faria, Soldado / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Valedigem, Lamego / Corpo não recuperado.

Vitor Manuel de Oliveira Neto, Soldado / CCaç 2405 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Buarcos, Figueira da Foz / Corpo não recuperado,

José António Martins Nogueira, 1.º Cabo / Comp de Transmissões / 23.07.69 / Rio Cacine / Afogamento / Vandoma, Paredes / Corpo não recuperado.

Manuel José Machado da Silva, Soldado / CArt 1612 / 23.07.69 / Conakry / Doença / Parada de Monteiros, Vila Pouca de Aguiar / Desconhecido.

António Manuel Soares de Resendes, Soldado / CCaç 2527 / 27.07.69 / Sambuiá / Ferimentos em combate/ São Pedro, Vila do Porto / Corpo não recuperado.

Carlos da Mata Lima, 1.º Cabo / CCaç 2366 / 21.09.69 / HM241, Bissau / Doença 0/ Ilha de Santo Antão, Cabo Verde / Cemitério de Bissau, Guiné.

José Bernardo Andrade da Silva, Soldado / CCaç 2529 / 07.11.69 / Rio Cacheu / Afogamento / Campanário,Ribeira Brava, Madeira / Corpo não recuperado.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Campa do José Maria da Silva e Sousa, natural de Vila Nova de Famalicão, que morreu afogado no Rio Geba, em 10 de Agosto de 1972, na sequência de uma acção de patrulhamento ao Mato Cão. Era soldado da CART 3494, pertencente ao BART 3873.
Este batalhão, sedeado com a respectiva CCS em Bambadinca (1972/74), tinha três unidades de quadrícula no Sector L1: CART 3493 (Mansambo, 1972/1973); CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974); CART 3492 (Xitole, 1972/74).
Esta campa foi mostrada, completamente abandonada, num vídeo da RTP (Dor Adormecida), do programa Em Reportagem, de 20 de Setembro de 2006. Imagens que na altura nos chocaram a todos. O José Maria da Silva e Sousa é um dos nossos camaradas que não consta da lista que hoje publicamos. E os outros dois militares da CART 3494, cujos corpos não foram recuperados.
Os três eram camaradas do nosso tertuliano nº 2, o Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo , 1972/74).
Foto: © Sousa de Castro (2007). Direitos reservados.

1970, 1972, 1973
Manuel Santos Andrade, 1.º Cabo / CCaç 2701 / 09.08.70 / Saltinho / Afogamento / Paialvo, Tomar / Corpo não recuperado.

Vitor Manuel Teixeira Queiroz, Soldado / CArt 3417 / 13.01.72 / Rio Cacheu / Afogamento / Feitoria, Madalena, Amarante / Corpo não recuperado.

Jaime Frederico Mariz, Major / COP3 / 06.04.73 / Bigene, avião abatido / Ferimentos em combate / Amadora, Oeiras / Corpo não recuperado.

António Júlio Carvalho Redondo, Soldado / 3.ª CCaç / 09.05.73 / Itinerário Guidage-Binta / Ferimentos em combate / Vreia de Jales, Vila Pouca de Aguiar / Corpo não recuperado.

Manuel Maria Rodrigues Geraldes, Soldado / 2.ª Comp. do BCaç 4512/72 / 10.05.73 / Guidage / Ferimentos em combate / Vale de Algoso, Vimioso / Quartel de Guidage, Guiné.

Gabriel Ferreira Telo, 1.º Cabo / CCaç 3518 / 25.05.73 / Guidage / Ferimentos em combate / Paúl do Mar, Calheita, Madeira / Cemitério de Guidage, Guiné.

José Nunes Ferreira, Soldado / CCaç 3518 / 25.05.73 / Guidage / Ferimentos em combate / Câmara de Lobos, Madeira / Cemitério de Guidage, Guiné.

Jorge de Andrade Gonçalves, Soldado / CCaç 3518 / 25.05.73 / Guidage / Ferimentos em combate / Campanário, Ribeira Brava, Madeira / Cemitério de Guidage, Guiné.

José Carlos Moreira Machado, Furriel / CCaç 3518 / 25.05.73 / Guidage / Ferimentos em combate / Ervões, Valpaços / Cemitério de Guidage, Guiné.

António Luís Fernandes, Soldado / Pel Intendência / 26.05.73 / Ilha das Galinhas / Afogamento / Orvalho, Oleiros / Cemitério da Ilha das Galinhas, Guiné.

António Santos Gerónimo Fernandes, Furriel / CCaç 19 / 26.05.73 / Guidage / Ferimentos em combate / Carção, Vimioso / Cemitério de Guidage, Guiné.


Fonte: Tomo II, Guiné - Livro 2, do 8º Volume, Mortos em Campanha, da autoria de CECA - Comissão para o Estudo das Campanhas de África. Editado em 2001 pelo Estado Maior do Exército. Desta lista não constam os naturais da Guiné, ao serviço do exército português, nem eventualmente militares dos outros ramos das FAP: Marinha e Força Aérea. (4)


__________

Notas de L.G.:

(1) Sobre o desastre do Cheche, no Rio Corubal, no âmbito da Operação Mabecos Bravios, e sobre Madina do Boé, vd. os postes publicados no nosso blogue (1ª e 2ª série). Há ainda uma depoimento do Brigadeiro Hélio Felgas, a publicar em breve, e que nos chegou às mãos por intermédio do Paulo Raposo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2405.

17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)

2 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre de Cheche, na retirada de Madina do Boé (5 de Fevereiro de 1969)

8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXX: A retirada de Madina do Boé (José Martins)

3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCV: Madina do Boé: 37º aniversário do desastre de Cheche (José Martins)

12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)

7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P853: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (10): A retirada de Madina do Boé

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)

15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)

21 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)

(2) Vd. posts de:

30 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2231: Blogoterapia (34) : Os Ieros Jaus que trouxemos na nossa memória pisada (José Morais)

14 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLII: A galeria dos meus heróis (2): Iero Jau (Luís Graça)

8 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLVI: Setembro/69 (Parte I) - Op Pato Rufia ou o primeiro golpe de mão da CCAÇ 12

(3) Vd. postes anteriores desta série:

28 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2799: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (1): De 1963 a 1964 (A. Marques Lopes)

30 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2802: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (2): 1965 (A. Marques Lopes)

5 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2811: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (3): De 1966 a 1967 (A. Marques Lopes)

(4) Sobre este dossiê (ainda doloroso...) dos nossos camaradas que nem no caixão regressaram, para usar uma feliz (porque inspirada) expressão do A. Marques Lopes, já publicámos inúmeros postes. Citam-se alguns:

22 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2785: Ninguém Fica Para Trás: Grande Reportagem SIC/Visão (3): Sabemos ao menos quem foram e onde estão ? (Luís Graça)

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2687: Cemitério militar de Bissau: homenageando os nossos 350 soldados, uma parte dos quais desconhecidos (Nuno Rubim)

22 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2672: De Guidaje para Bissau, trinta e cinco anos depois (Diário de Coimbra / Carlos Marques dos Santos)

4 de Agosto de 2007 >Guiné 63/74 - P2026: Antologia (61): Rumo a Fulacunda: uma estória que ficou por contar ou a tragédia das CCAÇ 1420 e 1423 (Rui Ferreira)

19 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1676: Vivo ou morto, procura-se o Soldado Mateus, da CCAV 1484, natural da Lourinhã (Benito Neves)

2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1488: Vídeos (1): Reportagem da RTP sobre os talhões e cemitérios militares no Ultramar (Jorge Santos)

28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1468: Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes)

22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1453: Ninguém fica para trás: uma nobre missão do nosso camarada ex-paraquedista Manuel Rebocho

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

26 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1117: Reabilitação de talhões e cemitérios militares nas antigas colónias (Jorge Santos)

23 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1108: Cemitérios militares: chocado com o programa da RTP1 (Paulo Santiago)

23 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1106: A ubiquidade dos nossos mortos (Zélia Neno)

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)

20 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1093: Programa da RTP1, hoje, às 21h, sobre as campas abandonadas dos nossos mortos (José Martins)

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

30 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIX: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes).

domingo, 21 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14775: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte I: Chegadas e partidas...


Porto > RC 6 > Abril de 1970> O Pel Rec Daimler 2046,  na passagem à disponibilidade (1): O Jaime Machado é o quarto, a contar da esquerda para a direita, na segunda fila. A composição incial ds subunidade eram 14 elementos, em maio de 1968.



Porto > RC 6 > Abril de 1970> O Pel Rec Daimler 2046,  na passagem à disponibilidade (2): o porta-estandarte



T/T Niassa > Viagem de regresso, Bissau-Lisboa, abril de 1970


T/T Niassa > Viagem de regresso, Bissau-Lisboa, abril de 1970


T/T Niassa > Viagem de regresso, Bissau-Lisboa, abril de 1970


T/T Niassa > Viagem de regresso, Bissau-Lisboa, abril de 1970


 Guiné > Bissau > fevereiro de 1970 >  O cargueiro Rita Maria, atracado no porto, visto da LDG que veio do Xime com o pessoal do Pel Rec Daimler 2046 (que irá ficar em Bissau ainda dois ou três meses, antes de regressar à metrópole)


Guiné > Bissau > fevereiro de 1970 > Porto: ao fundo do lado esquerdo, a fortaleza da Amura, e do lado direito, o cais acostável e o edifício das alfândegas... È mais provável que a foto tenha sido feita a partir ds LDG que chegava a Bissau, vinda do Xim


Guiné > Bissau > Porto > fevereiro de 1970 > Porto fluvial do Xime, tirada "à medida que nos afastavamos,  transportados na LDG para Bissau"



Guiné > Bissau > Porto > s/d > Não temos a certeza se a chegada da LGD a Bissau, vinda do Xime, tendo à esquerda a ilha de Rei



Guiné > Rio Geba > Fevereiro de 1970 > Viagem de LDG,  de regresso, do Xime a Bissau,  funa a comissão de serviço em Bambadinca


Guiné > Rio Geba > Fevereiro de 1970 > Viagem de LDG,  de regresso, do Xime a Bissau,  finda comissão de serviço em Bambadinca


Guiné > Rio Geba > Fevereiro de 1970 > Viagem de LDG,  de regresso, do Xime a Bissau,  finda a comissão de serviço em Bambadinca


Guiné > Rio Geba > Fevereiro de 1970 > Viagem de LDG,  de regresso, do Xime a Bissau,  finda a comissão de serviço em Bambadinca



Guiné > Rio Geba > Fevereiro de 1970 > Viagem de LDG,  de regresso, do Xime a Bissau,  funa a comissão de serviço em Bambadinca... Tanto a LDG 101 [Alfange] como a LDG 104 [Montante] estavam equipadas com 2 peças Oerlikon de 20 mm  


Guiné > Rio Geba > Fevereiro de 1970 > Viagem de LDG,  de regresso, do Xime a Bissau,  finda a comissão de serviço em Bambadinca


 Guiné > Rio Geba > Xime > Fevereiro de 1970 > Viagem de regresso a Bissau...Tendo em conta que o fotógrafo está em terra,  a foto diz respeito à chegada ao Xime da LDG que depois transportou o pessoal do Pel Rec Daimler 2046 até Bissau.


Fotos (e legendas): © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Inícío da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Jaime Machado, ex-alf mil cav,  Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70). Vive ma Senhora da Hora, Matosinhos.

 Alguns dados sobre o  Pelotão de Reconhecimento Daimler  n.º 2046 (*):

(i)  teve como unidade mobilizadora o Regimento de Cavalaria n.º 6, no Porto;

(ii)  foi organizado em 13 de Março de 1968, sendo  destinado a reforçar a guarnição normal da província da Guiné;

(iii) os exercícios de IAO  foram efetuados nas regiões limítrofes da cidade do Porto em conjunto com mais nove pelotões da mesma especialidade, todos com o mesmo destino, o TO da Guiné:

(iv) após o gozo dos dez dias de licença regulamentares,  embarcou no T/T Niassa, no cais da Rocha de Conde de Óbidos,  em Lisboa,  no dia 1 de Maio de 1968; 

(v) aportou a Bissau  a 6 de maio; 

(vi) na manhã do dia seguinte foi o pessoal do Pel Rec Daimler  2046 transferido para uma LDG [possivelmente a 101, Alfange ], tendo seguido diretamente pelo rio Geba, até ao Xime;;

(vii) seguiu depois em coluna auto para Bambadinca onde ficou ao serviço do comando do BART 1904 (Bambadinca, 1967/68) (rendido em setembro de 1968 pelo BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70):

(viii) O Pel Rec Daimler 2046 tinha inicialmente a seguinte composição (14 elementos): 

Cmdt, alf mil cav Jaime de Melo R. Machado;
2º srgt cav, Jose Claudino F. Luzia
1º cabo cav, apontador de Daimler, José Óscar Alves Mendes
1º cabo cav, apontador de Daimler, João Manuel R Jesus
1º cabo cav, apontador de Daimler, Manuel Maria S. Alfaia
1º cabo cav, apontador de Daimler, João de Jesus Cardoso
1º cabo cav, apontador de Daimler, José Ferreira Couceiro
1º cabo SM, mecânico, Germano de Oliveira Fonseca
Soldado cav, condutor Daimer, António José Raposo
Soldado cav, condutor Daimer, Aníbal José dos A. Duarte
Soldado cav, condutor Daimer, Joaquim Pinho Marques
Soldado cav, condutor Daimer, José do Nascimento Lázaro
Soldado cav, condutor Daimer,  Arlindo da Conceição Silva
Soldado cav, condutor auto,Manuel Moreira Tavares

(ix) Baixas sofridas:  em 2/12/1968 foi evacuado para o HM 241, por doença, o 1.º cabo n.º 07731167 Mamuel Maria Serra Alfaia;  em 19/12/1968 foi o mesmo militar evacuado para o HMDIC, não tendo regressado ao pelotão;  em 1/4/1969 apresentou-se nesta subunidade,  para o substituir, o 1.º cabo n.º 12950268, António Luís dos Reis; em 22/9/1969 baixou ao HM 241 o 2.º Sargento n.º 51517311 José Claudino Fernandes Luzia; em 29/9/1969 foi evacuado para o HMP não tendo sido substituído.

(x)  Finda a comissão, em fevereiro de 1970, esta subunidade regressou à metrópole, no mesmo T/T Niassa, em abril de 1970.

(Continua)

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quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22724: O cruzeiro das nossas vidas (30): Em 23 de outubro de 1968, embarquei no N/M Uíge, mobilizado para o CTIG, em rendição individual (Carlos Pinheiro, ex-1.º cabo trms op msg, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70)


N/M Uíge, o navio que mais viagens fez para o CTIG, transportando tropa (*). O Uíge era um navio misto, de carga e de passageiros, construído na Bélgica em 1954 e abatido em 1978. O seu comprimento não chegava aos 150 metros. A sua arqueação bruta era de 10 mil toneladas. Armador: Companhia Colonial de Navegação, Lisboa. Velocidade de cruzeiro: 16 nós. Alojamentos para 4 passageiros em classe de luxo, 74 em primeira classe, 493 em classe turística, no total de 571 passageiros... Nº de tripulantes: 139.  

Foto Álbum dos Navios da Marinha Mercante Portuguesa, publicado pela Junta Nacional da Marinha Mercante em Junho de 1958. (Com a devida vénia...)


1. Muitos dos nossos leitores, camaradas da Guiné, já não fizeram "o cruzeiro das suas vidas" nos navios de transporte de tropa, da nossa marinha mercante, requisitados pelo Exército, entre 1969 e 1971. Os mais novos, os "periquitos", os "últimos soldados do Império, a partir de 1971/72, passaram a ir para (e a vir de) o  TO da Guiné nos aviões dos TAM - Transportes Aéreos Militares (que em 1970 adquirira dois Boeing 707), embora a nova modalidade de transporte, que veio substituir a via marítima,  caussase consideráveis atrasos na rendição das unidades,  e muito descontentamento, a começar pelo Com-Chefe, o gen Spínola, mas isso é outra história.

Já aqui reunimos os testemunho de diversos camaradas que, mobilizados para o CTIG, foram transportados em navios como o Uíge, o Niassa, o Carvalho Araújo e outros. Na série "O cruzeiro das nossas vidas"  (**) republicamos hoje dois  textos do Carlos Pinheiro que merecem maior visibilidade.

(i)  um, o da sua apresentação à  Tabanca Grande, em 25 de outubro de 2010 (Poste P7173) (**)

(ii) o outro, originalmente publicado no semanário regionalista "O Almonda" (, fundado em 1918), de Torres Novas, em 2 de maio de 2008, e depois no nosso blogue, na série "Blogoterapia", no poste P9822 (***).


O Carlos (Manuel Rodrigues) Pinheiro, natural de Alcanena, e residente em Torres Novas,  foi 1.º cabo trms op msg, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70, e é dos membros da Tabanca Grande um dos que melhor conheceu Bissau dessa época.  Está connosco desde 2010 e tem mais de 7 dezenas de referências

(i) Já lá vão 42 anos
Faz hoje (, em 23 de outubro de 2010), 42 anos que embarquei para a Guiné, em rendição individual,  destinado ao BCAÇ 1911 que afinal veio no mesmo barco em que fui.  
 .
É verdade. Parece que foi ontem (...)

Depois de uma noite muito mal dormida nos Adidos, na Calçada da Ajuda, logo de manhã lá estava ataviado a preceito para embarcar para a guerra.

Dois dias antes, ainda no RI 15 em Tomar, a minha Unidade mobilizadora para o BCaç 1911 que nunca vi que veio no barco onde fui, apanhei uma boleia com um senhor da minha terra que lá foi buscar o filho, para também embarcar para a guerra, salvo erro era para Angola. Lá fomos os três no Volkswagen 1300 do senhor, a caminho dos Adidos em Lisboa. Almoçámos, já não me lembro onde, e lá chegámos.

Entrámos os dois pela porta de armas, cada um foi para o seu sítio, mas no dia seguinte deixei de o ver. Afinal ficou cá. Não chegou a embarcar. Tinha as suas mazelas certamente. Eu também tinha as minhas, mas embarquei e ele ficou por cá.

No dia do embarque, no dia 23 de Outubro de 1968 (...), logo de manhã lá estava fardado como deve ser, de saco às costas com os meus pertences. Foi só esperar que as camionetas começassem a chegar para levar toda aquela malta de rendição individual para o cais de Alcântara. Éramos cerca de sessenta.

Quando chegamos ao Cais, o grosso dos expedicionários já estava devidamente formado; era o Batalhão de Caçadores 2856 constituído por quatro Companhias, mais um Pelotão de Polícia Militar que ia para Cabo Verde e ainda outras Unidade mais pequenas, género Pelotões de Canhão Sem Recuo, Pelotões de Apoio Directo, etc.

Nós ficámos livres da formatura e, certamente por isso, fomos dos primeiros a embarcar. Ao cima das escadas lá estavam as senhoras do MNF – Movimento Nacional Feminino a darem um maço de cigarros "Porto", um isqueiro e uns aerogramas. Também por lá se viam uns senhores de chapéu e de sobretudo que alguns mais vividos diziam ser da Pide.

O Uíge atracado à espera, com a tropa formada, depois de um General ter passado revista às forças ao som de uma Banda Militar, e que, depois dos discursos da ordem, lá começaram a embarcar, sempre com a Banda a tocar marchas militares.

Os nossos familiares estavam do outro lado das barreiras e muitos nas varandas da Gare. Os lenços brancos a acenar eram mais do que muitos. Da minha parte lá estavam os meus pais e os meus tios que moravam em Lisboa. Sabia mais ou menos onde eles estavam posicionados porque tínhamos combinado antecipadamente. A amurada do barco do lado do Cais estava repleta de militares, o que provocava um relativo adornar do navio.

Entretanto, cerca do meio-dia, as máquinas do navio começam a fazer mais barulho e a silvar. Vêem-se já os rebocadores que o hão-de ajudar a largar e a ganhar o rumo da Barra do Tejo. Foram momentos difíceis de descrever. Adivinhávamos facilmente que os familiares no Cais choravam. Alguns até gritavam. Ouvia-se.

A bordo também havia lágrimas em muitos olhos. O barco ganha rumo, a ponte "Salazar", era assim que se chamava a que hoje se chama "25 de Abril", começa a ficar cada vez mais perto até que passámos por baixo dela. Dali até à Barra e depois ao mar alto parece que foi um momento.

Mal ou bem lá fomos encaminhados para os nossos aposentos, para largarmos o nosso saco e para tomarmos conhecimento dos nossos beliches. A esmagadora maioria, onde eu estava incluído, viajámos nos porões que noutras viagens transportavam tudo e mais alguma coisa. O cheiro era horroroso. As camas eram mesmo tipo beliche, mas em madeira de pinho, com colchões de palha e uma manta da tropa em cima. A estrutura das mesmas, porque em madeira, estava já cheia de dedicatórias de toda a ordem que se possa imaginar, fruto de outras viagens de idas e de regressos.

Já no mar alto fomos para a primeira refeição, o almoço, numa sala grande, a sala de jantar do barco, e a comida era aquela que nos quiseram dar, porque os orçamentos naquela altura já eram apertados.

Depois foram cinco dias a ver-se só mar e céu, tudo azul, e de vez em quando uns peixes voadores a acompanhar o Uíge,  por vezes até golfinhos, como que a desejarem-nos boa viagem. Raras vezes avistámos outros barcos, mas sempre ao longe. Passámos relativamente perto das Canárias. Disseram-nos que, como aquilo era um Transporte de Tropas, estávamos a ser a ser acompanhados por um submarino. Já era a psico a funcionar.

No convés havia uma espécie de um bar onde se vendia cerveja e Coca-Cola, sendo esta uma novidade autêntica uma vez que na Metrópole a mesma ainda era proibida. A cerveja era holandesa. Eram garrafas de meio litro, verdes, que nós nunca tínhamos visto. Claro que com estes estimulantes a viagem parece que custava menos.

Nos porões, logo no primeiro dia, foram montadas bancas para a batota, neste caso a lerpa, e os profissionais dessa jogatina lá assentaram arraiais e foram depenando os mais desprevenidos, que eram muitos.

E assim chegámos a Bissau no dia 28 (de iutubro de 1968), ao final do dia, tendo o barco ficado ao largo e o pessoal desembarcado para barcaças que de imediato tinham rodeado o navio.

A todos os que vão sobrevivendo e que há 42 anos a esta hora viajavam comigo no UÍGE, um grande abraço e votos de muita saúde.

Carlos Pinheiro
23 de Outubro de 2010


(ii)  "Estórias" da guerra colonial 

As "estórias" começavam cá, mesmo muito antes do assentamento de praça. Eram as preocupações pelo desconhecido, porque a informação que nos davam a "beber" era só a que interessava à situação, pois a mesma estava absolutamente controlada. Tínhamos a Emissora Nacional, o Diário de Noticias e a generalidade dos jornais que, para saírem, tinham que ir ao lápis azul da censura. Era a situação. 

Salvava-se, por vezes, com muita ginástica, o República, fundado por António José de Almeida e nos últimos anos dirigido por Raul Rego, que pouca gente podia ler e o Diário de Lisboa, da família Ruela Ramos, que também utilizava muita imaginação para dizer alguma coisa que não nos deixavam contar. Salvavam-se também aqueles felizardos que podiam ir estudar para Coimbra, Lisboa ou Porto, onde os contactos permitiam uma consciencialização política muito acima da média. Outros, muito à socapa, ainda iam ouvindo a Rádio Moscovo, clandestinamente claro, como alguns, os do partido liam o Avante, e outros até a Voz da América ou mesmo a BBC, que sempre iam dizendo verdades que não conhecíamos, apesar de muitos casos se passarem à nossa porta.

E, quer queiramos quer não, guerra é sempre guerra, o maior flagelo da huanidade, e era para a guerra que a malta estava destinada. Uma guerra de guerrilha, talvez por isso, pior do que a chamada guerra convencional. Muita psico-social, lá e cá, pois os espíritos eram fracos e desinformados e assim melhor trabalhados. Teimosamente sós, era a política daquela época. 

Mas mesmo assim muito armamento da NATO era desviado para a guerra colonial a começar por alguns navios de guerra e a acabar no rearmamento vindo da Alemanha, especialmente viaturas ligeiras e pesadas, a partir de certa época. 

Já tínhamos perdido o "Estado da Índia", já tinha havido a "estória" do "Santa Maria" a que Henrique Galvão chamou "Santa Liberdade", e a malta começava a tomar consciência que estávamos em guerra na Guiné, em Angola e em Moçambique, mas que também se tinham reforçado posições em Cabo Verde, em S. Tomé, em Macau e em Timor. Tudo isto, como se a descolonização por parte do resto da Europa não tivesse existido, como se fôssemos diferentes, como se fôssemos mais fortes, como se conseguíssemos resistir sozinhos.



O paquete Santa Maria que, por breves semanas, em janeiro de 1961, foi rebaptizado "Santa Liberdade"  por Henrique Galvão 

(Com a devida vénia ao  sítio  Navios No Sapo, que já não existe)

A emigração, principalmente a clandestina, estava no auge. Era a pobreza franciscana em que o país vivia, era a falta de perspectivas de futuro, era a falta de escolas e as dificuldades de ingresso na Universidade e era também o sentimento de alguns, mais esclarecidos, que não queriam participar na guerra. Paris e seus arredores, chegou a ser a cidade onde mais portugueses viviam. Está tudo dito.

Mas a malta que cá ficava ia de certeza para a tropa. Escapavam os cegos, os coxos e os aleijados. O resto era tudo apurado. Por isso, depois da entrada, eram os rigores de uma vida nova, aparentemente sem sentido, passava-se a ser só um número, havia horários para tudo, menos para descansar e conviver, de dia e de noite, nos campos, nos matos, nas carreiras de tiro, nas salinas, nas marchas, nos exercícios, era tudo a correr, sempre em fila, por vezes ao toque de caixa, mas era tudo sempre a correr.

Eram precisos soldados, muitos soldados, com sangue novo para a guerra. Rapidamente e em força, era o slogan.

A recruta era feita num qualquer quartel que já não existe, viajava-se ao fim de semana a caminho de casa, onde se ia buscar o farnel para semana, quando era possível, sempre de noite, naqueles comboios que pareciam pintados de verde por dentro. Depois era a especialidade, normalmente noutro quartel também daqueles que já não existem, e aí o sofrimento, dado o rigor, por norma era ainda maior.

Ao longe, parece que já se ouviam as sirenes dos barcos que haviam de levar, um dia, aquela malta toda para África. E esse dia chegava quase sempre, para a esmagadora maioria da rapaziada. Para uns chegava mais cedo do que esperavam. Para outros chegava mais tarde, quando pensavam que já tinham escapado à mobilização.

De noite, de camioneta ou de comboio, a malta lá era despejada no Cais da Rocha ou de Alcântara, vinda dos seus quartéis de origem, lá se perfilava como mandavam as regras e ao som de marchas militares lá embarcava, depois de um ou outro discurso de circunstância, no "Uíge", no "Timor" no "Niassa", no "Índia", no "Vera Cruz", no "Rita Maria", no "Ana Mafalda" ou no "Alfredo da Silva" e até, na parte final, no velho "Carvalho Araújo", e lá ia durante 5, 8, 10 ou 30 dias conforme fosse para a Guiné, para Angola ou Moçambique e até mesmo para Macau ou Timor.

Quando se começavam a subir as escadas de acesso ao barco, lá estavam, para além da Polícia Militar, aqueles fulanos que vestiam sobretudo e usavam chapéu e bigode, estrategicamente colocados, as senhoras do Movimento Nacional Feminino que davam à soldadesca um macito de cigarros, por vezes um isqueiro e até uns aerogramas, os chamados bate-estradas, para a malta escrever quando lá chegasse. Era porreiro, pá!

A partida era sempre dolorosa. Os familiares apinhavam-se nas varandas do Cais ou junto às grades que separavam a gentalha dos senhores. Os lenços da despedida desfraldavam-se ao vento e as lágrimas escorriam, de um lado e muitas vezes também do outro, pela cara abaixo. E o barco a afastar-se vagarosamente, a música da banda militar que tinha ficado no cais, cada vez se ouvia mais longe, passava-se por baixo da ponte Salazar, via-se o Bugio, Lisboa cada vez ficava mais para trás até deixar de se ver e lá estávamos no mar alto, no mar salgado.

Eram dias desgraçados. Só se via mar e céu e quando o tempo estava bom, era azul por baixo e azul por cima. Por vezes os golfinhos lá vinham visitar o barco e distrair, por momentos, a rapaziada. Os barcos, apesar de civis, eram considerados "Transporte de Tropas" e diziam-nos, para nos sossegarem, que íamos escoltados, para nossa segurança. Mas nunca se viram aviões ou barcos de guerra e, claro, muito menos qualquer submarino a proteger-nos. Lá íamos entregues à nossa sorte.

A vida a bordo era soturna. Nalguns barcos ainda havia instalações menos más, para alguns. Mas a maioria passava o tempo nos porões, que em tempo de paz serviam para o transporte de todo o tipo de mercadorias. Não havia outras condições. Lá muito em baixo, onde a luz do sol só chegava por um buraco, que era a boca do porão, mal se respirava, dados os odores lá acumulados ao longo de anos. 

Havia excepções: o "Rita Maria", o "Ana Mafalda" e o "Alfredo da Silva" só viajavam até à Guiné, eram barcos pequenos e normalmente levavam pouca gente e só em rendição individual. Estes eram barcos da "Sociedade Geral", uma empresa da "CUF" que não era só dona do Barreiro como dona de quase toda da Guiné. 

Também o "Carvalho Araújo" escapava, de certo modo, à regra.  A malta viajava à mesma nos porões, mas estes tinham circulação de ar porque o barco, em tempos, tinha sido adaptado para o transporte de gado dos Açores para o Continente e o gado, esse precisava sempre de ar fresco. Mas em contrapartida a viagem neste barco demorava sempre mais uns dias. Era muito vagaroso e gastava muito combustível. Para ir à Guiné tinha que passar por S. Vicente, em Cabo Verde, para meter água e nafta, que na Guiné não havia. No regresso parava sempre no Funchal para se reabastecer e a malta aproveitava para ver aquela Pérola do Atlântico depois de dois anos de guerra. 

Lá em baixo, muitos jogavam às cartas, especialmente à "lerpa", e alguns iam surripiando os outros. Quando chegava a hora da refeição havia um sinal e só os doentes é que não subiam ao convés, mas, para esses, havia sempre um camarada que lhes trazia uma bucha e uma pinga de água enquanto não iam para a enfermaria, que por norma era pequena. Bebia-se muita cerveja, daquelas "bazookas" holandesas que a malta cá não conhecia. Bebia-se Coca-Cola, inglesa ou de Moçambique, que cá era proibida. Era raro tomar-se banho, porque os barcos não tinham sido construídos para transportar tanta gente de cada vez. Até as casas de banho, as chamadas retretes, eram escassas e normalmente improvisadas no convés, numas barracas de madeira, como ainda hoje se vê para aí nalgumas obras.

Muitos enjoavam, principalmente naqueles dias em que o mar parecia que tinha poucos amigos. A comida, essa tinha dias e era conforme os barcos. Ninguém empanturrava com o que lhe era dado, mas comia-se sempre menos mal na viagem de ida do que na do regresso. Vá-se lá saber porquê?

Os dias passavam, assinalava-se a passagem do equador com uma espécie de festa e a meio da viagem fazia-se um simulacro como se o barco estivesse em perigo e cada um lá se desenrascava como melhor podia ou sabia.

Entretanto a temperatura começava a subir e as águas a mudarem de cor. A chegada estava próxima. Na maioria dos casos os barcos atracavam ao cais, mas na Guiné, até certa altura, ficavam ao largo, especialmente o "Uíge" e o "Niassa" e a malta era transferida para batelões até ao cais, onde colunas de viaturas aguardavam a chegada daqueles reforços que eram sempre bem-vindos para os que já lá estavam e a muitos dava a oportunidade de rendição e por consequência, do tão esperado regresso.

Alguns, mal tinham tempo de pôr os pés em terra. Mal chegavam, embarcavam outra vez, numa "LDG", ou "LDM", lanchas de desembarque grandes ou médias, conforme o contingente, directamente para o mato onde os esperavam dois anos de privações e outras aflições. Outros ainda iam uns dias para os Adidos, quartéis exemplares no pior sentido, onde nada havia, e outros ainda eram encaminhados para campos militares nos subúrbios da cidade, onde iam completar a instrução da metrópole e aclimatarem-se à nova vida.

Depois, depois era o desconhecido. Era a guerra na pior acepção da palavra, era o arame farpado, as operações para reabastecimento de tudo e mais alguma coisa, incluindo a água. A fome, a sede e as emboscadas eram frequentes, como eram os combates e os ataques aos aquartelamentos, os mortos e os feridos, as evacuações pelo ar, a saudade, etc.

E o tempo lá ia passando. Quem podia, quer dizer quem tinha dinheiro para tanto, lá vinha passar um mês de férias à Metrópole e muitos, depois, até se enganavam no dia do regresso a África e lá iam de comboio ou a salto até Paris.

No regresso, no mesmo ou noutro barco e alguns até já de avião, lá regressavam, muitas vezes cheios de mazelas no corpo e no espírito, mas era sempre uma alegria o regresso. A cena do cais agora era ao contrário. O barco começava a aproximar-se, normalmente bem cedo, pela manhã, e os lenços a acenar desta vez queriam manifestar a satisfação pelo regresso. Os outros, alguns, mas só alguns dos que por lá tinham tombado, esses eram retirados mais tarde, longe da vista da multidão e depois encaminhados em armões militares para as suas terras de origem. 

Era a guerra que resistiu treze longos anos e que mesmo depois do 25 de Abril ainda causou baixas em alguns teatros de operações. Dizem as estatísticas que foram cerca de 10.000 mortos contabilizados.

É certo que muito se tem escrito ultimamente sobre este capítulo da nossa História, mas relatos destes, simples mas honestos, nunca serão demais para que a memória não esqueça e para que os mais novos fiquem a saber o que uma certa juventude, a daquele tempo, passou e que os senhores do poder continuam a não reconhecer. Mas até isso faz parte da História. A carne para canhão sempre foi barata e esquecida. Serviram-se dela mas nunca a reconheceram, pelo menos por cá. É esta a realidade dos factos que convém não esquecer mesmo agora que se está a comemorar mais uma vez, a 38ª, a Revolução dos Cravos, o 25 de Abril, que levou ao fim da guerra.

Carlos Pinheiro
2 de maio de 2008

(Revisão e fixação de texto, para efeitos da edição deste poste: LG)
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Notas do editor:


(***) Vd. poste de 25 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7173: Tabanca Grande (250): Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG (STM/QG/CTIG, 1968/70)

(****) Vd. poste de 28 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9822: Blogoterapia (210): "Estórias" da guerra colonial (Carlos Pinheiro)