[, foto à esquerda: António José Pereira da Costa, Cor Art Ref (ex-Alf Art, CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Cap Art Cmdt , CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74)]
Caro Camarada
(i) Também eu "receio bem que as gerações nascidas depois do vinte e cinco de Abril nunca cheguem a dissipar as névoas, tendenciosas que toldam, intencionalmente, esse acontecimento".
É mau que tal suceda. Todavia gostava de recordar que em História - e é de História que falamos - os facto têm causas: muito ou menos remotas, mais ou menos próximas e causas-pretexto.
J. L. Mendes Gomes |
(ii) Foi o que trouxe aquele "minúsculo movimento de capitães, de carreira, por uma causa muito particular e interesseira, a de se libertarem da sina de se verem a arriscar a vida em comissões sucessivas a caminho de África".
Por mim, já estava farto de levar comigo ou ver embarcar contingentes de militares - meus concidadãos - que, normalmente, não sabiam ao que iam, se queriam e se os sacrifícios que iam fazer valiam a peno. E se soubessem iriam?
Por mim já sabia que perderia em dois tabuleiros: perante os meus concidadão que me acusavam de os levar para a guerra (perdida ou no marasmo) e perante os que para lá me mandavam que não tinham por mim (e por quem ia) o mínimo respeito.~
(iii) Quanto ao tal "Cavalo de Tróia"... nunca o vi e nem sei se existiu.
Eu residia em Coimbra. Daí que só me fosse possível ver as coisas pela TV, felizmente ainda sem censura (subliminar) e manipulação, como actualmente.
(iv) "Rapidamente o movimento dos capitães foi subalternizado pelo movimento marxista internacional"
Estes factos aconteceram porque havia condições para tal. É o conflito Oeste-Leste no qual já tínhamos participado, como interpostas pessoas. Aí não pode haver dúvidas.
(v) "Vi pela TV chegar a Santa Apolónia, [...] o líder Álvaro Cunhal, vindo de Moscovo e o Mário Soares de Paris. Cada qual com interesses políticos antagónicos, como era fácil de ver... Por isso, extremaram-se as posições e movimentos contrários".
(v) "Vi pela TV chegar a Santa Apolónia, [...] o líder Álvaro Cunhal, vindo de Moscovo e o Mário Soares de Paris. Cada qual com interesses políticos antagónicos, como era fácil de ver... Por isso, extremaram-se as posições e movimentos contrários".
Veio à superfície o nosso valor estratégico no conflito latente, mas sempre vivo, ao tempo.
A CIA -leia-se EUA - só se pode queixar de si própria. Em vez de se impor a tempo e forçar uma solução politicamente negociada "deixou correr o marfim". Por isso teve que empatar aqui um dos seu pesos pesados, como viemos a ver. E até já vi celebrar!...
(vi) "Aceleradamente se desencadearam saneamentos" [normalmente bem necessários...] "das cátedras e das altas patentes das estruturas militares".
A CIA -leia-se EUA - só se pode queixar de si própria. Em vez de se impor a tempo e forçar uma solução politicamente negociada "deixou correr o marfim". Por isso teve que empatar aqui um dos seu pesos pesados, como viemos a ver. E até já vi celebrar!...
(vi) "Aceleradamente se desencadearam saneamentos" [normalmente bem necessários...] "das cátedras e das altas patentes das estruturas militares".
Em relação à academia de Coimbra, basta recordarmos das crises de 69 e 73.
Em relação à hierarquia militar não se poderia permitir o retrocesso. A chegada do Gen Spínola pôs em evidência a decrepitude (principalmente mental) e incompetência dessa mesma hierarquia que sempre se tinha "conformado" para sobreviver e passar o tempo. Não estava só! O povo também jogava nisso sempre que era "solicitado" a "cumprir o dever patriótico". Se calhar enganavam-nos uns aos outros... Quando assim é, perdemos todos.
(vii) "Uma onda de ocupações selvagens das empresas mais poderosas"...
Sim! O capitalismo tem regras e, na maior parte dos casos as falências era inevitáveis, como se viu depois quando as empresas caíram com o fim da guerra. Exemplo a Marinha Mercante: velha cara e sem resposta às necessidades do país. Ainda hoje assim se mantém.
(viii) Quanto à "reforma agrária selvagem"...
Para além de mais uma demonstração de folclore revolucionário, temos que convir que os grandes latifúndios estavam falidos e ninguém procurava alternativas, seguros de que assim fora e assim continuaria a ser. Só há poucos anos surgiram alternativas.
(ix) "Os canais da TV e da Rádio foram ocupados."
(ix) "Os canais da TV e da Rádio foram ocupados."
Havia apenas um canal de TV que foi disputado, como era de prever. As Rádios também nomeadamente a da Igreja que tinha uma "missão" a cumprir e que nada tinha a ver com a religião. Como viemos a ver na fundação da "4", hoje TVI.
(x) "Anunciou-se a perseguição religiosa".
É um facto que a Igreja se pôs a jeito, salvo raras e honrosas excepções. Basta vermos a actuação dos capelães militares e a pouca acorrência dos jovens aos seminários e as múltiplas desistências. A Igreja tapava o Sol com a peneira...
(xi) "O MRPP insolente, escavacou [...] uma série dessas faculdades"...
(xi) "O MRPP insolente, escavacou [...] uma série dessas faculdades"...
Fez o seu papel! Porém, lembro que o grande "comentador" Marcelo R. de Sousa recordou que o MRPP foi uma boa "escola de políticos" que hoje andam por aí, brilhando como comentadores, deputados, fiscalistas, juízes, primeiros-ministros que vão às reuniões internacionais servir cafés e vêm o que não existe e depois se passam para o "capitalismo mais desenfreado".
(xii) "Quem estava no fim dos seus cursos superiores ficou perdido, sem saber o que fazer"...
Aqui poderia dizer que deveria ter-se defendido do que estava a suceder, mas prefiro constatar que, quanto maior fosse o granel, nos sítios que interessava, melhor. No fundo, era necessário criar condições para o ensino privado nas áreas do "papel e lápis" que é que melhor (de)forma os políticos "que interessam".
Não me lembro de terem estancado os mantimentos para Lisboa. "Se havia que secar as praças e mercados. Vi o da Ribeira sem nada nas bancas", tudo fazia parte do granel a criar...
(xiv) "Houve famílias com miúdos pequenos, que fugiram para a província"..
(xiv) "Houve famílias com miúdos pequenos, que fugiram para a província"..
Há sempre, mas não creio que esse êxodo seja por causa das crianças. Hoje continua a haver gente a emigrar para fora da "zona de conforto" e depois é cumprimentado pelo PR devido ao seu desempenho profissional. E os serviços da política incentivaram-no!...
(xv) Foi realmente "um período muito turbulento que se implantou".
Não tenho conhecimento de drásticas modificações político-sociais - muito necessárias e urgentes - feitas por decreto estudado e intensamente debatido. Mas deve porque ando cá há pouco tempo...
(xvi) "O Vinte e Cinco de Novembro, com Ramalho Eanes e um grupo patriota de militares conseguiu clarear e inverter a supremacia comunista."
(xvi) "O Vinte e Cinco de Novembro, com Ramalho Eanes e um grupo patriota de militares conseguiu clarear e inverter a supremacia comunista."
Talvez, mas eu não creio que os soviéticos viessem a correr pela Europa fora com uma foice numa mão, um martelo na outra e uma estrelinha vermelha (de preferência) no alto da cabeça. O conflito Leste-Oeste nunca se materializaria assim. Além disso, os tempos eram outros.
(xvii) "Outro facto político de tremenda importância foi a chamada descolonização".
(xvii) "Outro facto político de tremenda importância foi a chamada descolonização".
Confirmo. No fim, tudo girava à volta da questão colonial que o regime nunca tentou (sequer) resolver.
Depois de 13 anos de sacrifício não houve família que não visse partir para a guerra de África algum dos filhos. Lamento e confirmo. Infelizmente
Quantos por lá ficaram para sempre? Mais de 8000, fora os feridos, como o camarada sabe. Há aqueles a quem falta um bocado do corpo ou do espírito ou os que ficaram deformados também no corpo ou na alma. Creio que há uma contabilidade feita. É só ler e acrescentar 10% para compensar imperfeições de cálculo.
(xviii) "E é de ressaltar que a guerra do ultramar estava praticamente sob controle".
(xviii) "E é de ressaltar que a guerra do ultramar estava praticamente sob controle".
As guerras não se controlam. E ao fim de 13 anos ou se ganham ou se perdem.
No que à Guiné diz respeito, o camarada sabe que não era assim. Em Moçambique, sabemos agora que em Abril de 74 cerca de 27% do pessoal em rendição individual ou em unidades estava em "mata-bicho". Solução: subir o tempo de permanência para 30 meses ou aumentar o contingente incorporado forçando o "potencial humano" da nação para além do seu limite.
E em Angola, já sabemos que MPLA só tinha quadros, não tinha militantes, o FNLA não existia e a UNITA estava sob o controlo da PIDE. Então para quê continuar a aumentar o efectivo presente? É difícil de explicar, mas...
(xix) "Havia prosperidade e progresso crescentes"...
No que à Guiné diz respeito, o camarada sabe que não era assim. Em Moçambique, sabemos agora que em Abril de 74 cerca de 27% do pessoal em rendição individual ou em unidades estava em "mata-bicho". Solução: subir o tempo de permanência para 30 meses ou aumentar o contingente incorporado forçando o "potencial humano" da nação para além do seu limite.
E em Angola, já sabemos que MPLA só tinha quadros, não tinha militantes, o FNLA não existia e a UNITA estava sob o controlo da PIDE. Então para quê continuar a aumentar o efectivo presente? É difícil de explicar, mas...
(xix) "Havia prosperidade e progresso crescentes"...
Onde? Talvez houvesse, mas não muita.
(xx) "O Governo estava a estudar". instituir uma União ou Confederação das províncias ultramarinas com a metrópole."
Estranho governo este que necessita de 13 anos de guerra para estudar um assunto... E ainda por cima com uma União ou Confederação, depois de ter verificado que todas as soluções deste tipo tinham falhado... Nunca é tarde para aprender.
(xxi) "As potencialidades desta fusão de interesses, respeitadores dos interesses nacionais, eram enormes?"
E ninguém via isto? O povo é mesmo estúpido!
(xxii) "Mas, a gula dos países europeus ocidentais ficou embriagada com a hipótese de entrarem gratuitamente em África, para lhe sugarem as riquezas"
As democracias europeias sempre varreram a questão do colonialismo português para baixo do capacho. E se não se implantavam lá era porque os portugueses não deixavam. Coitados destes portugueses que assim impediam o progresso que os outros tinham possibilidade de fazer e eles não eram capazes. Egoísmo ou estupidez?
E agora as tais potências europeias iam perder uma oportunidade? A política não é Casa do Padre Américo! Mesmo assim perderam-na, mas por outras razões.
(xxiii) "O poder político passou para as mãos glutonas desse países oportunistas"
Já disse que não são contas do meu rosário, mas acrescento nunca esperei que a miséria atingisse estes níveis. De qualquer modo quem lutou (tanto tempo e com tanta violência) para atingir estes objectivos, se não tem competência, não se estabelece.
(xxiv) "As populações 'brancas' residentes e que já viviam bem, viram-se abandonadas pelas nossas forças militares"
(xxiv) "As populações 'brancas' residentes e que já viviam bem, viram-se abandonadas pelas nossas forças militares"
"Já" viviam bem? Mas alguma vez viveram mal, especialmente se comparadas com as populações "pretas"? Viram-se abandonadas? Evidentemente. A situação não poderia eternizar-se e os exemplos dos outros países de África não eram eloquentes? Era só prever e precaver-se.
(xxv) "E depois foi a debandada"...
A "debandada" tinha que suceder. Porém alguém foge de alguém por alguma razão, Era bom aprofundarmos esta questão.
(xxvi) "Aquele movimento escabroso de aviões em cortejo a despejarem retornados com seus caixotes"...
... foi a possível solução para uma guerra civil e racista que se avizinhava e já tinha sucedido noutros países.
(xxvii) "O cais, desde a Ribeira até lá longe, ficou a rebentar com tanto caixote"...
Eram as célebres "camisinhas" que traziam na pele...
(xxviii) "Os retornados que trabalhavam na banca e nas funções públicas entraram, e bem, para os quadros. Entupindo por dezenas de anos as carreiras de quem cá estava".
Parabéns, camarada! Esta expressão fala por si.
(xxix) "Desenvolveu-se um certo confronto e hostilidade entre ambas as partes"...
Era de calcular, não?
(xxx) "De realçar também que o Governo nacional estava a desenvolver uma reforma administrativa profunda"...
Como se impunha, não é verdade?
(xxxi) "A legislação fundamental, Constituição incluída, foram revistas em pontos muito importantes, implantando uma igualdade de cidadania real, entre homens e mulheres e em em muitos outros sentidos".
Parece-me que estas medidas vão no sentido certo. Digo eu...
(xxxii) "Tudo ficou paralisado e sujeito ao vendaval das facções políticas".
Mas parece que cedo começámos a andar...
(xxxiii) "Esta visão, tudo isto, foi ocultada e desvirtuada às novas gerações"
Se foi, não deveria ter sido. A verdade não se deturpa. É feio, mau e a "mentira tem perna curta".
(xxxiv) "Creio bem que quem hoje tem para baixo de cinquenta anos já não vai ter tempo de dissipar as nuvens de desinformação que lhes meteram na cabeça..."
Infelizmente. E quanto mais lhe fornecerem factos deturpados ainda será mais difícil.
Um Ab para todos
António J. P. Costa
PS - Foram 5 comentários, mas a culpa é do blog
Aconselho o autor dos poemas a deixar o verso branco. É pobre, pois a rima e a métrica ao mesmo tempo que se transmite um ideia é mais complicada, porém mais rica. Mas cada um faz o que pode e sabe.
O conselho musical e enológico têm muito valor.
Já estou a ver o Mendes Gomes a poetar em versos brancos no bar de Mafra ou em Berlim, com um capacete m/43 e a ouvir as 4 estações de Vivaldi.
Por mim, não gosto de versos brancos. Preferia que escrevesse "prosa poética": textos de sensibilidade apurada e conteúdo profundo. Prefiro "versos tintos" ou mesmo "palhetes" com rima e métrica. Dão mais trabalho mas são outro asseio.
Um Ab. e um bom dia sem "névoas tendenciosas".
António J. Pereira da Costa (**)
_______
Notas do editor:
Eram as célebres "camisinhas" que traziam na pele...
(xxviii) "Os retornados que trabalhavam na banca e nas funções públicas entraram, e bem, para os quadros. Entupindo por dezenas de anos as carreiras de quem cá estava".
Parabéns, camarada! Esta expressão fala por si.
(xxix) "Desenvolveu-se um certo confronto e hostilidade entre ambas as partes"...
Era de calcular, não?
(xxx) "De realçar também que o Governo nacional estava a desenvolver uma reforma administrativa profunda"...
Como se impunha, não é verdade?
(xxxi) "A legislação fundamental, Constituição incluída, foram revistas em pontos muito importantes, implantando uma igualdade de cidadania real, entre homens e mulheres e em em muitos outros sentidos".
Parece-me que estas medidas vão no sentido certo. Digo eu...
(xxxii) "Tudo ficou paralisado e sujeito ao vendaval das facções políticas".
Mas parece que cedo começámos a andar...
(xxxiii) "Esta visão, tudo isto, foi ocultada e desvirtuada às novas gerações"
Se foi, não deveria ter sido. A verdade não se deturpa. É feio, mau e a "mentira tem perna curta".
(xxxiv) "Creio bem que quem hoje tem para baixo de cinquenta anos já não vai ter tempo de dissipar as nuvens de desinformação que lhes meteram na cabeça..."
Infelizmente. E quanto mais lhe fornecerem factos deturpados ainda será mais difícil.
Um Ab para todos
António J. P. Costa
PS - Foram 5 comentários, mas a culpa é do blog
Aconselho o autor dos poemas a deixar o verso branco. É pobre, pois a rima e a métrica ao mesmo tempo que se transmite um ideia é mais complicada, porém mais rica. Mas cada um faz o que pode e sabe.
O conselho musical e enológico têm muito valor.
Já estou a ver o Mendes Gomes a poetar em versos brancos no bar de Mafra ou em Berlim, com um capacete m/43 e a ouvir as 4 estações de Vivaldi.
Por mim, não gosto de versos brancos. Preferia que escrevesse "prosa poética": textos de sensibilidade apurada e conteúdo profundo. Prefiro "versos tintos" ou mesmo "palhetes" com rima e métrica. Dão mais trabalho mas são outro asseio.
Um Ab. e um bom dia sem "névoas tendenciosas".
António J. Pereira da Costa (**)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 25 de abril de 2020 > "Guiné 61/74 - P20905: Blogpoesia (674): "Sobre o Vinte e Cinco de Abril", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728"
(**) Último poste da série > 22 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20890: (Ex)citações (366): Assim como que ... uma resposta ao Mário Gaspar, que diz que nunca viu no mato, em 23 meses, nenhum fuzileiro, comando ou ranger (Ramiro Jesus, ex-fur mil cmd, 35ª CCmds,Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)