segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5240: Efemérides (34): 86º aniversário da Liga dos Combatentes & 91º aniversário da I Grande Guerra (José Martins)


1. Mensagem de José Martins (1) (ex-Fur Mil, Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos,Canjadude, 1968/70), com data de 7 de Novembro de 2009:

« »14 de Novembro de 2009 « »

No próximo dia 14 de Novembro, junto ao Monumento Nacional aos Combatentes do Ultramar, em Lisboa, será comemorado o 91º aniversário da I Grande Guerra e o 86º aniversário da Liga dos Combatentes.

Nesta cerimónia estarão presentes as ossadas, bem como familiares e amigos dos nossos seguintes camaradas mortos, por ferimentos em combate, na Guiné:
  • Soldado MANUEL MARIA RODRIGUES GERALDES, mobilizado no Regimento de Infantaria nº 15, em Tomar, integrando a 2ª Companhia do Batalhão de Caçadores nº 4512/72, solteiro, filho de António Emílio Geraldes e Ascenção dos Santos Rodrigues, natural da freguesia de Vale de Algoso, concelho de Vimioso. Morreu em Guidage em 10 de Maio de 1973, vítima de ferimentos em combate rebentamento de uma mina anti pessoal. Foi sepultado no cemitério de Guidage.
  • 1º Cabo GABRIEL FERREIRA TELO, mobilizado no Batalhão Independente de Infantaria nº 19, no Funchal, integrando a Companhia de Caçadores nº 3518, solteiro, filho de João de Jesus Telo e Maria Flora Ferreira Telo, natural da freguesia de Paul do Mar, concelho de Calheta - Madeira. Morreu em Guidage em 25 de Maio de 1973, vítima de ferimentos em combate durante um ataque inimigo ao aquartelamento. Foi sepultado no cemitério de Guidage.
  • Furriel miliciano JOSÉ CARLOS MOREIRA MACHADO, mobilizado no Batalhão Independente de Infantaria nº 19, no Funchal, integrando a Companhia de Caçadores nº 3518, solteiro, filho de Manuel achado e Delta de Jesus Moreira, natural de freguesia de Ervões, concelho de Valpaços. Morreu em Guidage em 25 de Maio de 1973, vítima de ferimentos em combate durante um ataque inimigo ao aquartelamento. Foi sepultado no cemitério de Guidage.
As ossadas dos nossos camaradas foram recuperados em conjunto com os dos nossos camaradas pára-quedistas, que já foram sepultados em Portugal, nas suas terras de naturalidade, depois da homenagem que teve lugar na Igreja da Força Aérea, em Lisboa, e no Regimento em Tancos, no dia 26 de Julho de 2008.

Nesta cerimónia estará presente o Ministro da Defesa Artur dos Santos Silva que, devido ao cargo que exerce, presidirá às cerimónias.

É uma boa altura para que TODOS os antigos combatentes, que possam estar presentes, não só para honrar os nossos camaradas que agora regressam, mas para fazer sentir à Nação e aos seus Governantes que ainda estamos vivos e assim pretendemos continuar.

José Martins
7 de Novembro de 2009
(a partir da noticia publicada em ultramar.terraweb.biz)
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, do mesmo autor, em:


Guiné 63/74 – P5239: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (13): As minhas memórias da Guiné 1965/67 – Rotinas da Convalescença


1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos o 13ª fracção das suas memórias. Esta série foi iniciada em 29 de Agosto p.p., no poste P4877.

AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 1965/67

ROTINAS DA CONVALESCENÇA

No dia cinco de Fevereiro, à hora do almoço, chegou junto de mim o Primeiro Sargento, que me deu a notícia de que no dia catorze, ia ser submetido a exame de condução e queria saber a minha decisão, se eu ia ou não.

- Porque é que não hei-de de ir? - Perguntei-lhe.

Respondeu-me com outra pergunta:
- Então já não esta doente?
- Acha que eu vou perder esta oportunidade, por favor marque-me viagem para amanhã. – retorqui eu.

Como não foi possível no dia 6, só fui ao exame no dia sete, com o pescoço ainda “torcido”, pois não conseguia sequer olhar em frente.

Cheguei a Bissau e fui logo a Escola S. Cristóvão, onde me foram prestadas algumas lições de condução (creio que cinco), dei umas voltas por Bissau por circuitos estratégicos, que os instrutores conheciam bem. O instrutor ia-me dizendo:
-Cuidado com esse à vontade e… mais devagar que aqui não é mato e eles não perdoam.

No dia do exame, de manhã, apresentei-me no Quartel-General confiante, primeiro fiz provas de código da estrada: cores, sinais, reflexos e tabuleiros, com varias situações habituais do trânsito automóvel e tudo correu bem. No fim, mandaram-me esperar no exterior e, passados alguns minutos, fui chamado para a prova de condução. Ao volante de uma viatura estava outro furriel e, ao lado dele, o examinador (um alferes).

Eu e o instrutor sentamo-nos no banco de trás. O furriel que estava ao volante, iniciou a sua prova (segundo soube depois já era a segunda vez que a fazia), dando umas voltas pela cidade e foi acumulando asneira atrás de asneira. A certo momento, o alferes mandou-o encostar, o que ele não fez, ou porque não ouviu ou porque se distraiu. A verdade é que se o alferes não tivesse travado o carro, tínhamos ido bater num outro carro que se encontrava estacionado.

Pensei, cá para comigo, isto está mau. Mandou-o sair do carro, para o banco de trás e, disse-me que passasse eu para a frente. Em seguida, mandou-me avançar, o que fiz e, após andar uns cem ou duzentos metros, parei porque estava à minha outra viatura a efectuar uma inversão de marcha, também num exame.Disse-me o alferes:
- Eu não o mandei parar.
- Desculpe meu Alferes, não vou prejudicar a pessoa que está a fazer uma inversão de marcha, num exame. – Disse-lhe eu.

Deixei completar a manobra e segui em frente. Cruzamento para aqui, encruzilhada para ali, cheguei junto de uma rotunda com sinaleiro, contornei-o e voltei à esquerda. Já sabia para onde o alferes me ia mandar, e que teria que voltar à esquerda, subindo uma pequena lomba.

Aí mandou-me parar, mesmo a meio, dizendo:
-Usa a embraiagem, ou o travão? - Respondi-lhe:
-Como quiser.”

Parei o carro usando só a embraiagem. Mandou-me arrancar novamente, o que eu fiz sem deixar descair o carro.
- Siga em frente – disse o alferes.

Quando chegamos a uma esplanada mandou-me estacionar.
- Agora vamos beber um café! – disse o alferes.
- Eu não bebo - retorqui eu.
- Então espere aí – voltou a dizer o alferes.

As coisas estavam-me a correr bem, mas ainda faltava chegar ao Quartel-General. Felizmente tudo correu tudo bem.

À tarde fui saber o resultado do exame e, como esperava, fiquei aprovado. O outro furriel, repetiu o “chumbo” e teve que esperar mais uma semana, para ir novamente a exame.

Dia quinze, foi chamado à Secretaria do Quartel-General, onde um furriel me transmitiu que havia uma avioneta que se deslocaria para Bambadinca. Voltei-me para o furriel e disse-lhe:
-Isso é que era bom, nesse transporte não vou.
- Tens que ir, estão lá à tua espera.
- Estou com baixa - disse-lhe eu.
- As ordens são para ires, para ficares no destacamento que o pessoal da tua companhia vai sair em missão.
- Não vou – voltei a repetir - só se for de avião ou de barco.

E, assim, só no dia dezassete é que regressei à minha base, de avião.

Quando cheguei a Geba fui informado pelo meu alferes que, no dia seguinte, tinha que ir para Banjara, mas que ficaria no destacamento com o meu pelotão, para manter a segurança no local. Não me falou nada sobre a minha baixa. Fui para Banjara e estive lá dois dias. Dois dias a ver um helicóptero num vaivém doido, a chegar com feridos ligeiros e a partir para trazer outros.

No segundo dia o heli não apareceu e ainda bem, pelo que regressamos a Geba.

Continuei em Geba até fins de Fevereiro, sem mais nada ter acontecido. Felizmente que nos deixaram descansar uns dias, para recuperar a moral e as forças físicas, e para eu continuar a recuperar do meu incidente, pois ainda não conseguia olhar em frente correctamente e doía-me, fortemente, quando tentava voltar-me para trás. Mas sentia que as dores iam diminuindo e o tempo ia passando, também.

No dia um de Março, a companhia fez mais uma rotação, como vinha acontecendo de dois em dois meses e, a mim desta vez, tocou-me ir para o destacamento de Cantacunda.

Do meu pelotão apenas eu é que tive o privilégio de ser o contemplado, pois o meu pelotão ficou todo em Camamudo, quando devia ter ido metade. Nem a minha Secção me acompanhou, não sei se por castigo ou por engano. Não me foi dada qualquer explicação por parte do alferes, como já era habitual, que mantinha segredo em tudo até ao último momento.

O destacamento de Cantacunda estava a ser comandado pelo Furriel Miliciano Paio, do primeiro pelotão, que ficou com duas secções, pois era a vez de eles irem para Banjara. Por isso fui eu comandar a outra secção.

Eu, com o Régulo (Chefe máximo da região de Cantacunda)

(Continua)

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426

Foto: Fernando Chapouto (2009). Direitos reservados.
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Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, do mesmo autor, em:

domingo, 8 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5238: Agenda Cultural (43): TVI, As Tardes da Júlia, 2ª feira, 9/11/2009, das 14h às 17h: As Mulheres na Guerra... (Miguel Pessoa)

1. Mensagem de Giselda e Miguel Pessoa (*), ex-Srgt Enf Pára-quedista e ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, com data de 8 de Novembro 2009:
Programa na TVI
Camaradas,
Tivemos um reporte este fim-de-semana, por parte de uma das convidadas, de que amanhã, 2ª feira, 9 de Novembro, irão estar presentes no programa da Júlia Pinheiro, As Tardes da Júlia (*), na TVI, duas ou três ex-enfermeiras pára-quedistas, sendo o tema da entrevista "As mulheres na Guerra".
Está confirmada a presença das Enfermeiras Zulmira e Rosa Serra, sendo possível que também vá a Enfermeira Maria do Céu Pedro.
Lamentamos mas não dispomos de dados adicionais, supondo nós que estarão também presentes outras Mulheres que viveram a guerra noutras áreas... e noutras perspectivas.

Base Escola de Tancos > 1971
7.º curso de paraquedismo (enfermeiras civis)
(Foto de grupo)
Um abraço,
Giselda e Miguel Pessoa
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

"Talk-Show com três horas de emissão, em directo, de Segunda a Sexta, das 14 às 17 horas. Apresentado por Júlia Pinheiro, este programa pretende criar uma aproximação afectiva com os telespectadores da TVI dando a conhecer casos de vida marcantes que possam de alguma maneira servir de exemplo, pela positiva.

"As entrevistas a figuras públicas ou anónimos serão enriquecidas com peças jornalistas de investigação e inúmeras surpresas preparadas para os convidados presentes em estúdio. A actualidade estará sempre na ordem do dia, ditando a escolha de temas fortes e polémicos ligados às mais diversas áreas - saúde, educação, familia, sociedade, crime, cultura, politica e entretenimento.

"As suas tardes nunca mais serão como dantes. A Júlia Pinheiro irá contagiar o país com a sua energia, sensibilidade e boa disposição, dando a conhecer histórias emocionantes e verdadeiramente surpreendentes. Para além dos espaços de entrevistas, "As Tardes da Júlia" vão estar recheadas de jogos e passatempos interactivos, actuações musicais e divertidíssimos momentos de humor. A grande aposta da TVI que irá conquistar o coração dos portugueses, já a partir de dia 10 de Abril".

Guiné 63/74 - P5237: Memória dos lugares (53): Rio Corubal: As três pontes... (C. Silva / P. Santiago / M. Dias / Luís Graça)

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 3 de Março de 2008 > Saltinho, na Estrada Bissau - Mansoa - Bambadinca-Saltinho - Quebo - Gandembel - Guileje > Seminário Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de Março de 2008) (*) > No regresso de visita a Guileje e Cantanhez > A antiga Ponte Craveiro Lopes, em cimento armado, inaugurada em 1955.

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 3 de Março de 2008 > O rio Corubal, a jusante da ponte do Saltinho, formando um belíssimo espelho de água, rodeado de margens ainda luxuruiantes, como no tempo da guerra colonial. (No meu tempo, em 1969, o Saltinho passou a ser reabastecido através da estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho, depois de reaberto o troço entre Mansambo e Xitole).

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 3 de Março de 2008 > A margem esquerda do Rio Corubal vista da antiga ponte Craveiro Lopes, no Saltinho. Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > 3 de Março de 2008 > A margem direita do Rio Corubal vista da antiga ponte Craveiro Lopes.

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > 3 de Março de 2008 > Praia fluvial, na margem direita do Rio Corubal vista da antiga ponte Craveiro Lopes. A 100 metros, erguia-se o antigo aquartelamento do Saltinho, onde esteve entre outros o nosso camarada Paulo Santiago, comandante do Pel Caç Nat 53, adido à CCAÇ 2701, na época de 1970/72.

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Ponte Craveiro Lopes > 3 de Março de 2008 > Assinalada, a vermelho, a antiga "passagem submersível do Saltinho" (**)

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados


Guiné > Zona Leste > Saltinho > 1970 > Vista áerea do aquartelamento do Saltinho, vendo-se a ponte Craveiro Lopes e a montante, do lado direito, a famosa "ponte submersível" ou "passagem submersível do Saltinho". Foto tirada antes do início da construção do reordenamento de Contabane, na outra margem do rio Corubal. Segundo o nosso camarada Paulo Santiago, que aqui esteve a comandar o Pel Caç Nat 53 (170/72), a construção do Reordenamento de Contabane começou em Dezembro de 1970 (obras orientadas pelo Alf Mil Valentim Oliveira,comandante do 4º Pelotão da CCAÇ 2701, e supervisioandas pelo Major Azeredo, de Bissau) (***).

Foto: © Paulo Santiago (2006). Direitos reservados


Guiné > Zona Leste > Saltinho > CCAÇ 2710 / Pel Caç Na 53 > 1970 > Aquartelamento do Saltinho. Ao fundo, no rio, assinalada com seta a vermelho a "passagem submergível do Saltinho".

Foto: © Paulo Santiago (2006). Direitos reservados


Guiné > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > 1972 > Vista aérea do Rio Corubal, da ponte Craveiro Lopes , e 4 arcos (, construída em cimento armado e inaugurada em 1955), e do aquartelamento do Saltinho (na margem direita, instalações hoje transformadas em unidade hoteleira)... A montante da ponte, pode-se ver restos da "passagem submersível", em uso até 1955 (seta a amarelo), e de que nos fala o Mário Dias (**).

Foto: © Álvaro Basto (2007). Direitos reservados

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 3 de Março de 2008 > Saltinho > Seminário Internacionalde Guileje (Bissau, 1-7 de Março de 2008) > No regresso de visita a Guileje e Cantanhez > Lavadeiras do Rio Corubal, a montante da antiga Ponte Craveiro Lopes... Assinalada com seta a vermelho, restos do troço da famosa "passagem submergível do Saltinho".

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Sector de Xitole > 1o de Março de 2009 > O nosso camarada Carlos Silva, na sua última viagem à Guiné, andou no encalce desta "jóia arquitectónica", a antiga Ponte Carmona (***)... Com um guia local, de catana na mão, a abrir caminho, num antiga picada que ia do Xitole até à ponte (assinalada, de resto, no mapa do Xitole)... O Carlos ficou fascinado com a beleza desta obra de engenharia...

Recorde-se que o Carlos Silva, hoje advogado e dirigente da Ajuda Amiga, foi Fur Mil da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, 1969/71. (Vd. a sua página, Guerra da Guiné 63/74, por Carlos Silva > 68/70 CART 2413 Xitole. Pelas suas, esta ponte encurtava a distância entre o Xitole e Buba, "talvez uns 50 kms").

A antiga Ponte Marechal Carmona, sobre o Rio Corubal, a sul do Xitole, é de construção anterior à Ponte Craveiro Lopes, no Saltinho, a montante... Pela concepção de engenharia e tipo de materiais usados - arco romano, pedra talhada, balaustradas, etc. - esta ponte parece ser bastante anterior à Craveiro Lopes (mais moderna, com utilização de cimento armado)... É capaz de ser de final dos anos 30, possivelmente inaugurada em 1939, pro ocasião da visita do Carmona (Vd. Memórias de África).

Por outro lado, recorde-se que António Óscar de Fragoso Carmona (1869-1951) foi presidente da República Portuguesa, durante a Ditadura Militar e Estado Novo, desde 1926 a 1951 (ano da sua morte, sucedendo-lhe Craveiro Lopes).

Se não estou em erro, o Presidente Carmona visitou a Guiné (e a África Ocidental Francesa) em 1939 no seu périplo por África. É o primeiro presidente da República Portuguesa a visitar as possessões ultramarinas (incluindo Angola). Em 1955, seria Craveiro Lopes a repetir essa visita presidencial e, mais tarde, já em plena guerra colonial, Américo Tomás, em 1968. (Salazar, como é sabido, nunca poria os pés em África). Por outro lado, a Guiné vai beneficiar do I Plano de Fomento, no início da década de 1950: muitas das obras públicas (incluindo infra-estruturas de comunicações e transportes) datam desse tempo.

Foto: © Carlos Silva (2009). Direitos reservados.

Angola > Ponte Marechal Carmona, sobre o Rio Zambeze, em Cazombo. Foi inaugurada em 1932 (É uma obra de engenharia típica dos anos 20).

Fonte: CCAÇ 115 (Angola, Maio de 1961/Julho de 1063) (Com a devida vénia ao webmaster, NOCA).


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Sector de Xitole > 10 de Março de 2009 > A antiga Ponte Marechal Carmona, sobre o Rio Corubal, de há muito em ruínas... Já não era usada no tempo da guerra colonial... O primeiro camarada nosso a falar dela foi o David Guimarães que a revisitoiu em 2001. Para ter o nome do Marechal Carmona, deve ter sido inaugurada antes da sua morte, ou seja, anteriormente a 1951... Por razões técnicas ou outras, um segmento da ponte ruiu, inviabilizando a sua utilização.

Foto: © Carlos Silva (2009). Direitos reservados.

Guiné-Bissau <> Sector de Xitole > A antiga Ponte Marechal Carmona, sobre o Rio Corubal, a sul do Xitole, em ruínas.

No mapa do Xitole (Serviços Cartográficos do Exército, 1956), a "ponte em ruínas" vem devidamente sinalizada, no Rio Corubal, a cerca de 4,5 km, a sul do Xitole, entre os ilhéus Saido (jusante) e os rápidos de Cusselinta (a montante)...

Foto: © Carlos Silva (2009). Direitos reservados.

Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Sector de Xitole > 10 de Março de 2009 > Vista, da margem direita (lado do Xitole), da antiga Ponte Marechal Carmona, sobre o Rio Corubal, a montante do Xitole (cerca de 5 km a sul). Segundo o Carlos Silva, a ponte terá ficado inacabada por razões de deficiência na concepção ou construção ou então umas ou mais das secções terá ruído, possivelmente na sequência de uma cheia no rio... A vermelho assinala-se o segmento da ponte que caíu ou nunca chegou a ficar concluído, junto à margem esquerda.

Foto: © Carlos Silva (2009). Direitos reservados.

"Xitole 28- o que resta da Ponte Marechal Carmona"... Janeiro de 2006 > Foto de Rui, participante da Expedição Humanitária Portugal/Guiné-Bissau 2007, organizada pela Associação Humanitária Memórias e Gentes. Fonte: Rui's Public Gallery > Picasa Web Albuns > Xitole (Com a devida vénia...)


1. Resposta do Mário Dias (Srgt Comando Ref, Brá, 1963/66), à minha pergunta sobre a loocalização da ponte submersível do Saltinho do teu tempo (anterior à ponte Craveiro Lopes, inaugurada em 1955):

Caro Luís:

Tanto quanto sei e me recordo, a tal "ponte submersível", que na realidade era conhecida por "passagem submersível do Saltinho" (**), pois não era na realidade uma ponte mas sim uma espécie de dique que na época da maior caudal ficava submerso, situa-se um pouco a montante da ponte Craveiro Lopes, construída já em meados da década de 50 precisamente para manter a travessia do Corubal transitável durante todo o ano. A sua localização encontra-se na carta militar 1/50.000, folha de Contabane.

O David Guimarães é um "sortudo" pois conheceu a tal ponte Carmona cuja existência eu desconhecia (**). Quando fui para a Guiné, no início dos anos 50, já a travessia do rio já se fazia pela passagem submersível que, suponho, foi construída precisamente por a anteriormente existente (Carmona) ter ruído. O motivo do colapso deve ter sido por causas naturais. Não sei pois nunca ouvi ninguém falar sobre o assunto.

Um grande abraço para todos os moradores da tabanca.

Mário Dias

Guiné > Mapa de Contabane > Pormenor Aparece, a tracejado, a jusante da nova ponte do Saltinho, uma linha curva, a tracejado, que também pode ser uma "passagem submergível" como um dique... A "passagem submergível de Saltinho" era a monante (e não a jusante) da ponte Craveiro Lopes. Terá sido erro dos serviços cartográficos ?

(O Mapa de Contabane é resultante do levantamento efectuado em 1959 pela missão geo-hidrográfica da Guiné – Comandante e oficiais do N.H. Pedro Nunes A fotografia aérea é da aviação naval (Abril de 1956. Restituição dos Serviços Cartográficos do Exército. Fotolitografia e impressão: Litografia de Portugal, Lisboa, 1962. A edição é do da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar, do antigo Ministério do Ultramar, s/d. Digitalização efectuada na Rank Xerox, 2006. Cortesia do nosso camarada e amigo Humberto Reis).

2. Mensagem do Paulo Santiago, com data de 8/11/2009:

Estava para te enviar um mail sobre as pontes. Quando estive no Saltinho (***) havia duas pontes, uma, a conhecida Craveiro Lopes, que ainda lá se encontra, outra, ligeiramente a montante, chamada de submersível, como bem diz o Mário Dias.

Actualmente esta ponte submersível (na época das chuvas) desapareceu, havendo uns ténuos vestígios. Na foto em anexo, já publicada no blogue, vê-se em fundo a tal ponte que só aparecia na época seca.

Abraço
P. Santiago


3. Mensagem do Carlos Silva, com data de ontem:

Luís

Como sabes, sobre o Saltinho e sobre a Ponte Craveiro Lopes, visitada pelo então General durante a Construção em 1955, tenho dezenas de fotos.

Não sei se a Ponte Carmona no Xitole, foi iniciada antes da Ponte do Saltinho. Em que te baseias para produzir tal afirmação?

Quanto à ponte submersível que o ex-Fur Carvalheira da CCArt 2413 me falou em 2007 e os locais também me falaram e creio que até estive à entrada dela, tenho em casa um livro antigo que ainda não li e que fala dessa ponte.

Mas a minha cabeça, por enquanto anda muito baralhada e não me recordo qual é o livro, porque sobre a Guiné tenho mais de 200 e talvez mais de 50 para ler. Mas foi uma aquisição recente num alfarrabista. Tenho de ver.

Sobre a Ponte Alf Nunes vou ver se retomo o trabalho, pelo menos já descobri quem foi o Alf José Nunes e presumo o porquê de lhe ter sido dado o nome à ponte, ´pois faleceu durante um massacre junto daquele local ou no Caheu, mas estou com dúvidas na interpretação que faço.

É um Trabalho que estou a fazer em conjunto com o Jorge Picado. Mas o tempo não dá para tudo.

Quanto à Ponte Carmona, como sabes foi uma curiosidade que partiu das fotos do David Guimarães e que mostrei a ti, ao Pepito e à ministra , quando estivemos na Ponte Balana [ em 1 de Março de 2008, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje], e que eu pensava, que fosse essa, mas que não era.

Contudo cheguei lá e tive um enorme prazer e é pena que não esteja assinalado na Estrada do Xitole, a existência daquele monumento e que não se abra uma picada para lá.

Já sugeri isso ao Pepito, este ano em Março, no convívio que tivemos em casa dele e que ele até enviou uma reportagem para o Blogue.

É uma pena, os guineenses não aproveitarem o seu património histórico. Tenho salientado essa situação junto das mais altas personalidades do País incluindo o falecido Nino.

As fotos que vou publicando e tenho milhares, é numa perspectiva de dar a conhecer à malta, o que podemos visitar na Guiné, tentando enquadrá-las nas respectivas localidades onde tivemos aquartelamentos.

Tenho pena de não ter tempo para levar este trabalho a bom termo.

Um grande abraço

Carlos Silva

4. Também um leitor do nosso blogue, S. Nogueira, antigo pára-quedista, me mandou hoje o seguinte mail a propósito das pontes do Corubal:

Assunto - Pontes vistas

Amigo Luís, a propósito do interessante P5227 (***) seria curioso investigar/desvendar qual a ponte que julgo ter visto do ar, no triângulo Geba-Corubal-Estrada Bambadinca-Xitole(eventualmente a leste desta estrada) e onde nem passava o rio por baixo nem a estrada por cima.

Era uma ponte nova, em betão, com uns vinte ou trinta metros de comprimento, isolada e sobre-elevada na bolanha e que se encontrava sobre a bissectriz do ângulo formado por um rio e por uma estrada, a uns 50 m do seu cruzamento e numa encenação impensável.

Se calhar sonhei...

Boa noite
S. Nogueira

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 9 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2621: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (3): Pequeno-almoço no Saltinho, a caminho do Cantanhez

(**) Vd. postes anteriores da série Memória dos Lugares:

7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5228: Memória dos lugares (52): Rio Corubal: afinal, havia... 3 pontes !? (C. Silva / D. Guimarães / M. Dias / Luís Graça)

7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5227: Memória dos lugares (51): Ponte Carmona sobre o Rio Corubal (Carlos Silva)

Vd. também postes da I Série:

26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXVI: As pontes sobre o Rio Corubal (Mário Dias)

26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIX: As pontes sobre o Rio Corubal: rectificação (Mário Dias)

(***) Vd. poste de 19 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1192: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (3): De prevenção por causa da invasão de Conacri

Guiné 63/74 - P5236: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (23): Um Aspirante Xico-esperto e um grande berro

1. Mensagem de Luís Faria ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 5 de Novembro de 2009:

Caro Vinhal
Mais um bocadito de “Viagem…”
Se achares que deves abreviar ou modificar alguma coisita… força.

Tudo de bom para todos
Luís Faria


Teixeira Pinto – Um grande berro

5 Junho 1971 - Véspera de entrar em férias e apanhar o TAP para Lisboa


A festa está no adro. Daí a nada o silvo dos foguetes na sua fuga para os céus será audível e lá chegados, vai transformar-se num estralejar com lágrimas cintilantes e coloridas de felicidade, esparramadas por toda a envolvência. É, em pensamento (virtual como agora se diz), a festa pela minha chegada à aldeia.

Com o Fontinha sou chamado ao Capitão: a missão é destruir material explosivo velho despejado para o efeito numa cratera lá para as bandas da bolanha.

Os festejos, ainda que virtuais… esfumam-se com o ribombar da bomba, antes mesmo de se ver e ouvir as lágrimas estralejantes.

Fur Mil Jorge Fontinha (Inchalazinho)

A festa verdadeira vai ser agora, com outro tipo de foguetes que se espera não rebentem em berros e lágrimas de dor e sofrimento!

Cá está a cratera! No fundo, espalhados sem nexo e à mistura com terra quase cor de sangue, uma boa dezena de quilos de granadas várias e minas, com e sem espoletas que é preciso meter na ordem com todo o respeito. Dava a ideia que de longe as tinham atirado para lá, o que de todo não teria acontecido com certeza.

Depois de se ter olhado apreensiva mas atentamente para aquela bagunçada, a estratégia foi delineada: a primeira acção a executar era descer ao buraco e com toda a cautela pôr uma ordem no caos.

Para isso, descemos sorrateiramente para o fundo do buraco, fazendo tudo para não acordar nenhuma das frágeis e possíveis berradoras!

O tempo parou… todos os sentidos estavam concentrados no manuseamento daquelas putas falsas, de modo a que não acordassem do seu sono e berrassem em uníssono!!! Tudo correu bem, sem gritaria!

Concluída esta fase, saímos do covão. Um olhar atento ao trabalho feito… afastamo-nos… uma cigarrada para descomprimir… uma folga para ganhar novo alento e continuar trabalho!

Para escaparmos a um encore indesejado, era preciso distribuir correctamente uns petardos de trotil e cordão detonante de modo a garantir que não teríamos de regressar a este palco de tragédia expectante!

Estávamos neste compasso de descanso quando, vindo do lado do rio, aparece o Aspirante Comando de sua graça Domingos (creio) - já o conhecia de Lamego onde à altura era Furriel, se não estou em erro – que nos interpela do que estamos a fazer. Esclarecido e sem mais delongas, dizendo que resolve o problema… saca de duas granadas e atira-as para o buraco sem dar tempo a qualquer contraposição argumentativa da nossa parte. Obviamente afastamo-nos rápido!!

Fiquei expectante e… lixado!! Podia ser que resultasse, quem sabe?

Bum?!... porra… só foi bum! foda-se… ao menos podia ter sido BUUUMMMMMMM!!!! o que quereria dizer que aquela porra toda tinha ido c'o caralho… assim, só um bum… era porque tínhamos ficado mais fodidos do que antes!

Tempo de segurança dado e aproximamo-nos. O Domingos olhou e… retomou o seu caminho. Cobras, lagartos e faíscas à mistura com palavras feias, saíram em janela dos meus olhos na sua direcção! A intenção dele foi boa mas… precipitada e impensada!

Na cratera… tudo revolvido e espalhado à balda, com algumas granadas encobertas pela terra…! Só uma das granadas lançadas deflagrou, ficando a outra descavilhada e bem visível pelo meio daquela merdice toda! Enfim, um cu de boi para resolver!! Todo o trabalho anterior se tinha perdido. Puta de sorte!

Mais uns tempos de concentração, de estudo e cigarros e… nova estratégia.

Desta vez, pelo risco acrescido, só um de nós desceria. O outro ficava em segurança relativa, de prevenção, socorro e apoio aos trabalhos.

Novamente a descida sorrateira, o manuseamento individual, pensado e cauteloso mas firme das malditas granadas, voltando a pôr ordem no caos. Tudo a correr lindamente!
De seguida e com todo o respeito, foram colocados os cubos de trotil, os detonadores e o cordão detonante de modo a que não houvesse novo encore.
Feito isto e como não tínhamos dispositivo de disparo eléctrico, era a hora de ligar tudo aquilo a cordão lento (rastilho). Ok, tudo a correr sobre granadas.

Só me faltava sair da cova e estendermos o rastilho até uma distância que nos permitisse abrigo minimamente seguro de modo a não apanharmos com o entulho nos cornos após o arrebentamento. A uns bons metros lá estava o bagabaga (?) previamente escolhido.

O rastilho foi aceso e iniciou a sua marcha ardente… começamos a contar o tempo… esgotou-se… aninhámos com as mãos na cabeça… BUUUUUUMMMMMMMM…

De olhos em nesga vi o entulho começar a cair como chuva granizada pesada… o chão tremeu como se de um terramoto se tratasse… com aquele BERRO não ia ser preciso novo encore! Graças a Deus.

Um Jeepe aproxima-se rápido. No quartel tudo tinha abanado e o Comando quis saber o que acontecera!

O que acontecera já era passado e tínhamos ganho o 1.º prémio.
No dia seguinte eu ia de férias para o Puto.
Isso era o futuro radioso e promissor do cumprimento de tantos sonhos adiados.

A todos o meu abraço
Luís Faria
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Nota de CV:

Vd. poste de 1 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5191: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (22): Teixeira Pinto, férias à vista

sábado, 7 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5235: Blogues da Nossa Blogosfera (26): Terras do Marnel e Vouga – Contar e mostrar o que existe em redor (José Marques Ferreira)


1. O nosso Camarada José Marques Ferreira, que foi Sold. Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462, Ingoré - 1963/65 -, enviou-nos com data de 4 de Novembro de 2009, um convite para visitarmos o seu blogue.

Camaradas,

Nos últimos anos, os ex-Combatentes como Homens inteligentes, perspicazes, astutos e curiosos, como sempre o foram e hão-de continuar a ser, não ficaram indiferentes à evolução tecnológica e, com maiores ou menores dificuldades, vão à “luta”, para acompanhar o conhecimento, o domínio e a monitorização, dos novos instrumentos e aparelhos que aos poucos, por aqui e por ali, vão surgindo mundo fora.

Uma delas que muito nos tem surpreendido, pela sua rápida disseminação entre o pessoal “irrequieto”, dados o seu imenso alcance e infindas possibilidades está, sem qualquer tipo de dúvida, é a informática.Assim, aqui estamos nós, aventureiros que baste, a adaptarmo-nos e a dominar-nos estas poderosas máquinas – os Personal Computers, ou PCs com queiram designá-los-, e a trocarmos mensagens, testemunhos, experiências, histórias, etc.

Imaginem que até ousamos criar blogues pessoais.Até eu criei um blogue, aberto à colaboração de quem quiser prestar, também ali, o seu testemunho.É visitado com frequência, e tem como endereço:





Para todos um abraço,
J.M. Ferreira
Sold Ap Armas Pes
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5234: Estórias avulsas (55): O ar assustado de uma prisioneira de guerra (António Tavares)

1. Mensagem de António Tavres*, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72, com data de 5 de Novembro de 2009:

Caro Vinhal,
Uma das riquezas das obras de arte está na interpretação individual.

Os artistas dizem que as fotos não devem ser legendadas, porém permito-me opinar
sobre a foto inclusa:

Passados 40 anos já não sei qual das companhias do BCA 2912 - com a divisa EXCELENTE E VALOROSO - aprisionou esta mulher**.

Em Galomaro foi bem tratada embora apresente um ar assustado…
Tinha razão!… Não deixava de ser uma prisioneira de guerra…

Quem não estava triste era o Comandante do Batalhão!…
Estaria a pensar nos seus próprios benefícios com a captura?



Com o sacrifício, fome, medo, dor e morte dos subalternos o seu medalhário ficava mais rico…

Em 02 de Outubro de 1971 o Comandante foi obrigado a alinhar numa Operação, após recusa de todo o pessoal para perseguir o IN que no dia anterior nos tinha emboscado em Bangacia/Duas Fontes.

Após formatura e palestra lá seguiu na operação, mas chegados ao local do destino disse ao Furriel Miliciano para dispor o pessoal conforme entendesse porque já não estava muito actualizado…

A vida dele também estava em perigo! … Estava na mata e na guerra de guerrilha!...
Os galões não o protegiam das balas do IN…
Naquele momento deixaria de ser um militar que só pensava nele próprio?
Era um ser humano igual a todos os outros que estavam sob as suas ordens!
Os outros eram números que facilmente podia substituir.

Para o final da comissão Janeiro/Fevereiro de 1972 era só louvores a sair em O.S. do Batalhão.

Eu fui um dos muitos contemplados.

O Comandante foi condecorado/louvado pelo General.

Esteve presente num dos nossos convívios quiçá com outro pensamento!

Esta é uma das histórias passadas na mata do Leste da Guiné, em 1970/72, numa guerra de guerrilha que nunca será ganha por nenhum dos intervenientes.

Cumprimentos do,
António Tavares
ex-Fur Mil SAM
Foz do Douro, 04-11-2009
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4654: Estórias avulsas (42): O whisky e a Coca-Cola do nosso contentamento (António Tavares)

(**) "Excelente e Valoroso" era a divisa do BCAÇ 2912

Vd. último poste da série de 7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5226: Estórias avulsas (54): A noiva Mandinga (José Marques Ferreira)

Guiné 63/74 - P5233: Controvérsias (42): A nossa idade de sexagenários! (Mário Gualter Rodrigues Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem:

Camaradas,

Na necessidade de manter a actualidade dos temas comuns a todos, aqui deixo mais umas “achas para a fogueira” dos graves problemas que afectam a generalidade dos Veteranos da Guerra do Ultramar:


"A NOSSA IDADE DE SEXAGENÁRIOS"


Com o avançar da idade, é fundamental para nós aquilo que eu penso ser um misterioso e estranho preconceito, que se tem agravado na sociedade dos nossos dias, que é a exclusão das pessoas idosas e a consequente descriminação e, infelizmente, é já um hábito no nosso mirrado país.

A relação entre os nossos pais e os nossos avós, deixava-nos satisfeitos e com a sensação interior que éramos seres mais humanos. Lembro-me de me sentar, longos períodos junto deles, para ouvir as suas histórias e factos das suas vivências de outros tempos.

Hoje, existe uma grande parte da população que não estima e muito menos acarinha aceita os seus idosos e despreza totalmente as suas memórias descritivas.

Chego a pensar que mundo é este em que vivemos, onde o respeito pelos mais velhos se perdeu quase completamente

Neste contexto integro os ex-Combatentes, que apesar das provas dadas, já todos sexagenários, donos de Histórias de grandeza Patriótica, são impiedosa e vilmente ostracizados por quem os havia de, pelo menos, ouvir.

Ainda por cima somos o alvo dos nossos actuais políticos, para sucessivos ataques aos parcos direitos, que havíamos adquirido entretanto e nos foram reconhecidos migalha a migalha.

Mais, somos descriminados nas leis difundidas nesta Sociedade. Tal como esta:

"Todos os ex-Combatentes da Guerra do Ultramar, que após o regresso, não entraram por uma actividade do Estado, não têm, por isso, a contagem de tempo em que estiveram em zonas de perigo. Nem esse tempo conta a dobrar para efeitos de reforma, não obstante esse direito estar escrito na caderneta militar. Para uns conta, para outros não, isto é pura descriminação."

Deixou de haver respeito pelos mais idosos (ex-Combatentes incluídos), apesar da maioria das famílias portuguesas terem estes “engulhos” no seu seio. Ninguém perde tempo em ouvir e honrar as suas memórias e as justas reivindicações dos seus direitos.

Uma sociedade que comparada com outras mundiais, é muito preconceituosa, isto é, não sabe e, ou, nem quer, louvar e dignificar os Homens e Mulheres (também as ouve), que combateram e se bateram por Portugal.

Só nos resta continuar unidos na contestação e na luta diária pela conquista de justos e merecidos direitos sociais.

Juntemo-nos pois, TODOS, em manifestação pelos nossos direitos. Não podemos ficar insensíveis aos apelos das organizações e associações de ex-Combatentes, que nos querem unir para uma mega-manifestação em Lisboa.

Vamos todos estar presentes e assim mostrar a estes senhores do governo, a nossa Unidade e a nossa Força.

Finalizo lançando aqui o grito de guerra da minha companhia:

VAMOS A ELES!

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5232: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (15): Uma estória de faca e alguidar

1. Mensagem de Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, com data de 3 de Novembro de 2009:

Caro Carlos:
Em anexo mando mais uma estória para a série A Guerra Vista de Bafatá.
Tinha logo no início, prometido ao Luís Graça contá-la; ei-la.

Abraços para todos.
Fernando Gouveia


A Guerra Vista de Bafatá
15 – Uma estória de faca e alguidar

Por Fernando Gouveia

Antes de entrar propriamente na novela refiro que nos finais de 1969 o meu Comandante, Coronel Hélio Felgas, foi apanhado de surpresa. Uma ordem de Bissau, talvez forjada pelo recente Comandante do COP de Nova Lamego e as elites do ar condicionado da capital, transferia-me a mim e mais alguns militares, do Agrupamento para o COP. Quer eu, quer os meus superiores, achámos que foi um golpe baixo.

Confiando no Coronel Felgas que me disse que eu não estaria lá muito tempo. Foi só esperar que aparecesse outro alferes disponível para me substituir e eu regressei. Ao fim de uns quinze dias estava novamente em Bafatá. O Alf Mil Correia substituiu-me em Nova Lamego.

No Gabu, onde não me recordo de fazer o que quer que fosse relacionado com a guerra, conheci o Fur Mil Dinis, (nome fictício), o protagonista desta estória, com quem aliás bebi uns bons whiskys.

Vista geral de Nova Lamego a partir de poente

Nova Lamego. Edifício do comando

Nova Lamego. Na esplanada dum café com um cabo escriturário, que também veio do Agrupamento. A foto foi tirada pelo Fur Mil Dinis.

Nova Lamego. Com um grupo de camaradas que trabalhavam no COP. À esquerda o Capitão das Informações

Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados.


Passado pouco tempo o Coronel Felgas acaba a comissão e o Coronel Neves Cardoso vai substitui-lo no Comando de Agrupamento. Com ele vem todo o pessoal afecto ao COP incluindo o nosso Fur Mil Dinis.

Em princípios de 1970 a guerra ia correndo com mais ataque, menos ataque, mais mina, menos mina e em Bafatá, oásis de paz, a vida corria entre o trabalho no aquartelamento, as idas ao café depois de almoço (quando não se dormia a sesta) e as idas ao cinema.

Tudo isso era propício ao devaneio.

O nosso Fur Mil Dinis, nas suas saídas para a cidade, começou a frequentar mais assiduamente determinada casa comercial. Era perto do quartel, comia-se lá bem, era agradável permanecer na esplanada, mas sobre tudo o senhor Tenório, (nome fictício) e a sua esposa tinham uma filha, a Rosinha, (nome fictício) de uns dezanove anos, que embora cheiinha não era nada de se deitar fora.

O nosso Furriel viu ali uma companhia que o faria esquecer as agruras da guerra.

Penso que um namoro se tinha desencadeado. Naquela altura, há 40 anos, e dado que a Rosinha não saía debaixo das saias da mãe, a coisa não teria ido além de algum beijito trocado num intervalo das idas da mãe à cozinha.

Imagino, naquele clima, que o nosso Furriel devia andar nas nuvens.

Porém o Dinis cometeu um erro grave. Como militar que era não devia ter subestimado o adversário, que neste caso era o pai da Rosinha. O senhor Tenório, raposa velha, homem de pele curtida de trinta anos de Guiné, embora atarracado mas entroncado como um touro de lide, vivido como era, meteu-se ao caminho até ao Comando de Agrupamento.

Não o vi por lá mas logo a seguir, o Ten Cor Teixeira da Silva chama-me e em termos de desabafo diz-me:

- Oh Gouveia sabe quem esteve aqui? Foi o senhor Tenório. Queria saber informações sobre o Furriel Dinis pois ele anda de namoro com a filha, a Rosinha, e era minha obrigação dizer-lhe tudo, nomeadamente que ele era casado…

Faltaria um mês para o Furriel Dinis acabar a comissão, mas à parte final fui assistindo eu diariamente:

O Furriel Dinis nunca mais saiu do quartel até ir embora.

Tudo é real, excepto alguns nomes.

Até para a semana camaradas.
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Nota de CV:

Vd. postes da série de:

27 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4254: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (1): Três oficiais: um General, um Coronel, um Alferes - suas personalidades

28 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4256: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia (2): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (I Parte)

8 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4305: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (3): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (II Parte)

21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4395: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (4): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (III Parte)

28 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4429: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (5): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (IV Parte)

6 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4470: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (6): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (V Parte)

26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4585: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (7): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro (VI Parte)

3 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4637: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (8): À carga no Esquadrão de Cavalaria de Bafatá

12 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4675: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (9): Férias na Metrópole. Não há duas sem três...

19 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4707: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (10): Mina bailarina

26 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4739: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (11): Interrogatórios

3 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4769: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (12): O Mercado de Bafatá

25 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5159: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (13): O Comando de Agrupamento (I Parte)

1 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5190: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (14): O Comando de Agrupamento (II Parte)