sexta-feira, 3 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8369: Convívios (346): Encontro de confraternização da Companhia Independente 763, Sesimbra, 29 de Maio de 2011 (Mário Fitas)


1. O nosso camarada Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763, “Os Lassas” - Cufar -, 1965/66, enviou-nos notícias da festa da sua Unidade.

Encontro de confraternização da Companhia Independente 763
Sesimbra, 29 de Maio de 2011

Camaradas,

Anexo as intervenções e algumas fotos do 12º Almoço da CCAÇ 763 efectuado ontem, 29/05/2011, em Sesimbra.

Estiveram presentes 43 elementos dos "Lassas", acompanhados por esposas, filhos e netos num total de 105 pessoas.
As fotos dos oradores são:
Marília Rodrigues
Mário Fitas
Alferes Miliciano Jorge Paulos

Um Abraço,
Mário Fitas

2. Inicio com as palavras da jovem Marília Rodrigues, que foi buscar a descrição de uma operação da C.CAÇ. 763 ao diário do seu avô, Domingos Rodrigues Botas, soldado 2048/64 pertencente à citada Companhia.
Estimados senhores, camaradas de meu avô, Domingos Rodrigues Botas, soldado 2048/64 da Companhia 763.
Estimadas senhoras e senhores familiares destes homens que foram companheiros de meu avô.
Não podendo estar presente neste convívio, solicitou-me o meu avô Domingos que nós, familiares no total de sete, aqui estivéssemos em sua representação.
Resolvemos então, pegar no seu diário de guerra e trazer aqui um pouco da dolorosa experiência por ele vivida com os seus camaradas e amigos.
Peço desculpa por algum erro pois irei ler apenas o que ele escreveu.

“No dia 24 de Fevereiro partiram em coluna duas companhias, a minha e a 1500, para uma operação que consistia em fazer a limpeza à estrada que vai do cruzamento da mata de Cufar Nalú a Cobumba.



Partimos de Cufar pela 00H30, com destino ao cruzamento e seguimos para a mata de Áfiá, e, pouco antes de chegar ao local, sofremos uma estrondosa emboscada que durou das 04H00 até às sete e tal, debaixo de fogo serrado.


Pretendíamos montar segurança para uma coluna que saíra de Catió, a fim de retirar as abatizes da estrada.

Os primeiros tiros disparados do inimigo iluminavam a estrada com tal intensidade que nos cegava momentaneamente.


Logo nos primeiros tiros foi morto o Fur. Mil. Vaz, cujo corpo caiu para cima de mim.


O camarada que ia à minha frente, ao cair da viatura prendeu a arma do que estava ao lado, ficando este desarmado.


Deitamo-nos na valeta da estrada e começamos a responder ao fogo inimigo.


Dos que se instalaram na valeta do lado direito ficaram protegidos, mas os que saltaram para a valeta oposta ficaram muito expostos ao fogo do IN.

Eu, quando me instalei, verifiquei que não conseguia fazer fogo, pois a minha arma estava encravada.


A determinada altura, senti uma “porrada” num ombro, como se fosse uma pedrada. Tinha acabado de ser atingido por uma granada de mão lançada pelo inimigo, que felizmente não rebentou.


Deixei-me estar quieto e não disse nada. Passado um bocado disse para os que estavam ao meu lado se retirarem mais, porque tinha caído ali uma “coisa” que parecia uma granada de mão.

Dai a pouco já se ouvia queixumes por todo o lado.


Junto a nós tínhamos um camarada morto e tratamos de socorrer um ferido, que só passado algum tempo se ouviu dizer: “Ai.. ai… venham-me buscar!”


Fui ver quem era, mas ele não queria que eu lhe tocasse. Chamei mais alguns camaradas e levamo-lo, entre gritos de dor, pois tinha o corpo todo estilhaçado.

O fogo inimigo continuava.

O meu comandante de grupo mandou avançar a secção da retaguarda, para que nos viesse reforçar e retirasse o ferido que gemia em resultado das dores.

Só às 07H00 da manhã é que se começou a ver qualquer coisa.

Nós continuávamos sem apoio e tentamos retirar, com granadas de fumo.

Quando podemos retirar, trazíamos connosco 16 homens feridos e um morto. Havia ainda um desaparecido.

Quando eu regressei com o ferido ao comando do quartel onde se encontravam os enfermeiros, voltamos a ser atacadas fortemente.

Deitei-me, fazendo fogo com a minha arma automática, que entretanto desencravara. A certo momento esta foi atingida com uma bala no ponto de mira, cuja protecção desapareceu, ficando ainda pequenos bocados de metal por onde a bala tinha passado.

Felizmente voltei a salvar-me.

Os primeiros tiros do inimigo foram efectuados com uma arma pesada, com balas tracejantes, para melhor orientarem o tiro.

Antes de sofrermos esta emboscada, tínhamos passado por uma estrada toda armadilhada cerca de 300 homens e, por sorte, nenhuma das minas e armadilhas rebentou.

Como já disse, o primeiro morto que tivemos, logo no início do combate, foi um furriel que, logo nos primeiros tiros, um acertou-lhe na cabeça, tendo-lhe varado o capacete.

Quanto ao desaparecido, só demos por falta dele quando chegamos ao quartel. Como as evacuações dos feridos foram feitas de helicóptero, próximo do local da emboscada, pensamos nós que também tivesse sido evacuado.

Por fim, constatou-se que este tinha ficado por lá, no terreno da emboscada, ferido ou morto.

O corpo do Furriel Miliciano Vaz, foi colocado numa urna de chumbo comprada por nós, que foi chumbada em Cufar, seguiu para Catió, Bissau e dali para a Metrópole.

Obrigado pela atenção prestada, e as minhas desculpas se vos recordei tempos dolorosos.

3. Palavras do ex-furriel miliciano de Operações Especiais Mário Fitas:


“Caros camaradas! Queridos amigos! Companheiros da aventura que foi a participação na Guerra em terras da Guiné.

Estimadas senhoras esposas, filhos, netos e amigos destes nobres homens que, aos vinte anos, souberam cumprir a missão que a Pátria lhes exigiu.

Peço compreensão e entendimento para aquilo que vou dizer e que é de minha inteira e única responsabilidade.

Fiz a guerra com os meus companheiros na, à altura, Província Portuguesa da Guiné, internacionalmente reconhecida como tal, como parte do Estado Português.

Uma época mundialmente muito difícil.

A Guerra-fria estava no seu auge, as grandes potências digladiavam-se pelo controlo do mundo.

Em África nascia o movimento apelidado de Negritude, iniciando-se o aparecimento dos movimentos independentistas, com as potências Europeias a abandonarem de qualquer maneira África, que ficava à mercê de disputas étnicas e de que resultaram os graves problemas ainda hoje vividos.

Julgo ter cumprido o compromisso de cidadania, totalmente consciente, sem ter em consideração qual o poder político vigente na altura.

Resumi-me como disse a cumprir um dever, independentemente das minhas ideias.

Hoje passados que são 46 anos, com conhecimentos muito mais completos de toda a situação da guerra e os motivos a que a levaram, posso afirmar com firmeza que todos perdemos.

A guerra é a invenção mais estúpida da humanidade. Mas estivemos nela. Estando nela tivemos de a fazer. Opção zero: Ou matávamos ou deixavam-nos matar!

Esta preliminar explicação tem razão de ser derivado às várias situações que hoje nos são postas:

Nós soldados combatentes fomos sempre ignorados! Fomos e somos hoje achincalhados por senhores generais que estiveram na mesma guerra na Guiné, enchendo o peito de condecorações à custa do valoroso soldado Português e acusando-os de serem bandos dentro do arame farpado.

Por militares, políticos, pseudo-escritores analistas de profissão (treinadores de bancada), mas com eco em alguma comunicação social, a quem muitos de nós ajudámos a dar a liberdade de poderem falar. Somos hoje alcunhados de ter feito parte de um exército fascista.

Sobre nós são lançados labéus acusadores de termos deixado na Guiné uma miserável herança ao General Spínola.

Ignorantes do passado, ou não, dizendo a verdade: Enganam-se!

O contrário pode ser confirmado a partir da página 175 do livro: “O meu testemunho” de Aristides Pereira - Secretário-geral adjunto do PAIGC e mais tarde Presidente da Republica de Cabo Verde -, sobre a situação do PAIGC, de 1966 a 1968.

Toda essa situação foi resultante de quem actuou na Guerra antes de Spínola.

Quanto a nós! Os últimos homens de farda amarela, mas de camuflado, basta referir o descrito no prefácio de “Pami na Dondo A Guerrilheira”, página 10, cito:

“O Governador e comandante-chefe na altura, chegou a confidenciar a alguém que se tivesse seis (6) Companhias como a CCAÇ 763 o problema da guerrilha estaria resolvido.”

Quem foi alcunhado de “LASSAS” pelo próprio chefe da guerrilha no Cantanhês, Zona 11, e mais tarde Presidente da Guiné-Bissau João Bernardo Vieira (Nino)?

Cumprimos aquilo que a Pátria nos pediu e os políticos não souberam resolver. Não deitámos para o caixote do lixo quinhentos anos de História.

Só estes homens que aqui estão, poderão contar o que foi a sua juventude com uma G3 na mão, construindo um aquartelamento de raiz, porque os primeiros três meses em Cufar, foram vividos nos buracos como toupeiras.

Só quem viveu os dolorosos momentos da C.CAÇ. 763, tem autoridade para falar do que é: “Ser nobre na Paz e na Guerra” e a forma como irmãmente por nós foi tratado todo o povo da Guiné.

A História um dia mostrará toda a verdade e compreenderá os caminhos das margens do Cumbijã, das matas de Cufar Nalu, Camaiupa, Àfiá, Cachaque, Cantumane, Cabolol, Flaque Injã, Caboxanque, Cadique, Cafal, Darsalame e Cachanga.

Foram os nossos caminhos queridos camaradas! As nossas pegadas marcaram indelevelmente todos estes trajectos.

Há quinze dias estive com homens que a determinada altura nos acompanharam nos citados caminhos e que mandam um grande abraço de saudade para todos nós. São os homens da C.CAV. 1484.

Agora:

Para vós! Esposas, companheiras amantes e amigas!

Para vós! Filhos, netos e amigos adorados, destes “Cotas” combatentes.

Estes homens são dignos de respeito. Se a Pátria e aqueles que a não quiseram servir os tem ignorado e abandonado, aceitai-os vós pelo seu sangue suor e lágrimas com que regaram a terra vermelha, a lama dos pântanos e rios, e as águas das bolanhas da Guiné.

Viva a C.CAÇ. 763!

Vivam os LASSAS de Cufar!

4. Palavras do ex-alferes miliciano Jorge Paulos:

Caros Companheiros, Amigos e Familiares,

Mais um ano se passou sobre a última vez que nos juntámos para almoçar, confraternizar e relembrar os momentos que, em conjunto, andámos pelas terras da Guiné vivendo aquela aventura de uma guerra, rastejando nas matas e atravessando linhas de água, tarrafos e bolanhas, com água e lodo pelos pés, pela cintura ou mesmo pelo peito, em que, a todo o momento, sentíamos a presença de um “inimigo numeroso, aguerrido e bem armado”, que, naturalmente, nos causava angústias e sobressaltos que era preciso vencer.

Guerra que nunca desejámos mas que enfrentámos com determinação e coragem porque, enquanto portugueses, o país assim nos exigia. E digo exigia porque, quer quiséssemos quer não, tínhamos de ir arriscar as nossas vidas, sem que nunca nos tivessem dito bem para quê.

Porque a verdade, companheiros, é que muitos lá morreram e muitos outros ficaram afectados para toda a vida, sem que jamais o país tenha verdadeiramente reconhecido e compensado esses enormes sacrifícios.

Pelo contrário, as gerações seguintes, que tem estado de uma forma ou doutra no poder e por ele continuam a lutar, querem lá saber que a vida que hoje têm e que é incomparavelmente melhor do que foi a nossa, tenha resultado, em grande parte, do nosso sacrifício e do nosso árduo trabalho. Hoje, o que conta, é o interesse pessoal, como se pode ver pelas medidas cegas que vão ser tomadas e que afectam, entre outras coisas, as reformas, tornando a vida dos mais idosos muito mais difícil.

Quando vemos a juventude actual, que só tem tido facilidades, vir para a rua gritar que estão “à rasca”, temos de sorrir e pensar que, de facto, eles não sabem nem sonham o que é estar “à rasca”.

Mas Companheiros, não vale a pena lamentar a escuridão; o que é preciso é acender o fósforo para podermos ver de novo.

Como dizia um político francês “os pessimistas são meros espectadores, os optimistas são quem transforma este mundo”.

Habituados, como fomos, a lutar contra a adversidade, lembremos os momentos difíceis porque passámos, mas tenhamos também a satisfação de, apesar de tudo, podermos estar aqui e agora, de novo, a festejar a vida com a família e os amigos.

É bom aproveitarmos, ao máximo, estes pequenos momentos, porque também a abelha é pequena e, todavia, produz o que de mais doce existe.

Até para o ano Companheiros e felicidades para vós e para as vossas Famílias.

Viva a Companhia de caçadores 763 !!!

Jorge Paulos

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Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P8368: Notas de leitura (244): Guynea, de Arlinda Mártires (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Maio de 2011:

Queridos amigos,
Desta vez a descoberta ocorreu num alfarrabista à entrada da Rua das Portas de Santo Antão, nos baixos do Palácio da Independência.
Ia para a biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, fazer umas leituras do antropólogo António Carreira.
É o que se chama, lido esta Guynea, uma agradada surpresa. E é de perguntar como é que é possível nenhum de nós saber que existia uma poetisa luso-guineense chamada Arlinda Mártires.
Um abraço do
Mário


Guynea, a poética do deslumbramento do quotidiano

Beja Santos

“Guynea”, de Arlinda Mártires, é um pequeno volume de poesia de um coração grande, muito grande, a transbordar deslumbramento pelas gentes e terras da Guiné.

Arlinda da Conceição dos Mártires Nunes foi Leitora na Escola Normal Superior Tchico Té, em Bissau, entre 1993 e 1998, teve participação activa no GREC - Grupo de Expressão Cultural e em Tcholona – Revista de Artes e Letras.

A poetisa homenageia o que há de mais singelo que o seu olhar afaga (olha até ao fim do horizonte), vive encantada com os valores e as particularidades do universo guinéu, sobre eles discursa alegremente, entusiasticamente. Não hesito em dizer que este punhado de poemas é um caso sério na linguística luso-guineense (“Guynea”, por Arlinda Mártires, UNEAS-União dos Escritores e Artistas de São Tomé e Príncipe,2004).

Comove-se a Arlinda Mártires com as acácias rubras, os odores agridoces dos cajueiros, canta hossanas ao ventinho rasteiro da estação seca, exalta Rubane, ilha de águas de gentes serenas. Dir-se-á que é uma poesia de simplicidade deliberada, pois contém-se o vocabulário, enxuga-se a métrica, adoça-se a lírica à altura do enfeitiçamento tropical. Vamos aos exemplos:


estação seca

Janeiro
sopra ventinho rasteiro
levanta a terra vermelha
entra na boca, na orelha,
entranha-se no pulmão.
De tudo faz sua cama
do chão até ao poilão
passa por casas e leitos
leva vírus e maleita
de uma vez se deita
depois do primeiro trovão.


estação das chuvas

Cai a chuva
em catadupa
lava matas e casas
(a outras leva)
Lava corpo, não a boca.
Escorrem rios
pelo telhado.
Pela estrada
lagoas de água vermelha,
morna, parada,
berço de coaxar de rãs,
cólera, malária,
morte.


É como se a poetisa também saboreasse a proximidade/intimidade nestes registos de aguarelas expressionistas e sonoridades em torno das estações. Mas os locais também a tocam. Veja-se


Cacheu

Em Cacheu
jaz o Império.
Mira ainda o rio
a Fortaleza
que as cabras guardam
sem pastor.
Trocaram o mar pela terra,
por onde foram deitados,
navegadores, vice-reis e
governadores.
Permanecem os canhões,
cofre de memória
e de aves marinhas,
contra os quais
só a ferrugem marcha.


Temos as pessoas, o contexto em que se movem, a profissão e até a condição feminina. O que fascina é a contenção, mão há rodriguinhos e o fraseado multi-étnico soa autêntico, translúcido, um ocidental que se delicia com as carícias do sol do Equador. Outros exemplos:


menino de criação

Meio-dia
na tabanca
sol vertical
palha e barro.
Deserto
o caminho arde rubro.
O silêncio mora
na sombra do poilão.
Correm nus no bantabá
os meninos de criação
mãos sujas de terra e de chabéu
pedem ao branco a caneta, o chapéu
e chove o riso e a alegria.
Por tão pouco se ganha o dia


bidera

Sentada está a bidera
sob a mangueira florida
está formosa e divertida.

Pão a espreitar na bacia
no chão de terra vermelha
brinco a luzir na orelha
gargalhar de melancia
corpo em pano d’alegria
vida a rir da própria vida
está formosa e divertida.

Crianças nuas de roda
outra na mama chupada
aiôôô… có-cóóó… risada
gengiva azul desde a boda
dentes de alvura toda:
pon ka na bai, amiga?
Está formosa e divertida.


Chamemos-lhes, à falta de melhor termo, de apontamentos líricos sobre o quotidiano, rendições sublimes à multiculturalidade. Sim, sublimes, na particular circunstância de corresponderem, na íntegra ao que o coração colhe e a lírica empresta música, tudo despojado na ocupação da palavra pela paisagem dos sentimentos cooperantes pelo gosto das gentes, em devoção pela natureza, pelo resgate do território. É de perguntar como é que se editam 500 exemplares de tantíssima beleza e originalidade numa linguagem do luso-guineense. E são mais dois poemas, em jeito de despedida:


costureiro

Toc-toc-toc
Toc-toc-toc
baloiça o pedal
basin, seda,
linho, legoss.
Toc-toc-toc
Toc-toc-toc
mastiga a agulha
boubou, folhos,
rendas, taille-bas.
Toc-toc-toc
Toc-toc-toc
cavalgam os dias
turquesa, esmeralda,
rosa
pretu nok


feito pedra

Ocorre-me aos lábios
um corpo ébano
flancos de potro selvagem
entre colinas de mármore.


Não se esqueçam, se houver alguém que esteja a preparar uma antologia de poesia luso-guineense que não cometa a indelicadeza (injustiça) de omitir esta “Guynea”.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de Guiné 63/74 - P8353: Notas de leitura (243): Província da Guiné, 1972, publicado por Agência-Geral do Ultramar (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8367: Parabéns a você (268): António Azevedo Rodrigues, ex-1.º Cabo do Agrupamento 2957 (Tertúlia / Editores)


PARABÉNS A VOCÊ

DIA 3 DE JUNHO DE 2011

ANTÓNIO AZEVEDO RODRIGUES

NESTE DIA DE FESTA, A TERTÚLIA E OS EDITORES VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR AO NOSSO CAMARADA ANTÓNIO AZEVEDO RODRIGUES AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.

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Notas de CV:

- António Azevedo Rodrigues foi 1.º Cabo no Agrupamento 2957 que esteve em  Bafatá nos anos de 1968, 1969 e 1970

Vd. último poste da série de 2 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8362: Parabéns a você (267): António Barbosa, ex-Alf Mil Op Esp da 2.ª CART/BART 6523 e Osvaldo Colaço, ex-Fur Mil da CCAÇ 3566 (Tertúlia / Editores)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8366: As mulheres que, afinal, foram à guerra (15): Aerogramas precisam-se, para reportagem sobre madrinhas de guerra e ex-combatentes (Sara Oliveira, mestrado de comunicação e jornalismo, Universidade de Coimbra)

1. Mensagem que nos chega de um nossa leitora, Sara Oliveira, aluna de um curso de Mestrado em Comunicação e Jornalismo da Universidade de Coimbra [, vd. foto à esquerda: Coimbra > 3 de Outubro de 2009 > Universidade de Coimbra > A famosa torre sineira e a cabra... Foto de L.G.]


De: Sara Oliveira [sara.i.s.oliveira@gmail.com]


Data: 1 de Junho de 2011 16:45


Assunto: Reportagem sobre madrinhas de guerra e ex-combatentes


Caro Luís Graça, 

Sou estudante de mestrado em Comunicação na Universidade de Coimbra e estou, neste momento, a fazer uma grande reportagem sobre madrinhas da guerra colonial e ex-combatentes que se corresponderam com elas. 


Estive a falar com a [jornalista e cineasta] Diana Andringa e ela sugeriu-me o seu nome como alguém que talvez me pudesse ajudar. 


Correspondeu-se com madrinhas de guerra? Ainda tem cartas/aerogramas dessa altura? 

Aguardo uma resposta sua, com a esperança de que me possa ajudar... 

Os meus melhores cumprimentos,  


Sara Oliveira




Uma aerograma enviado de Guileje, com data de 17/4/72, pelo nosso camarada J. Casimiro Carvalho aos seus pais (na Maia)... 




Foto: © José Casimiro Carvalho  / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados




2. Comentário de L G.:


Cara Sara: Você foi bater à porta errada e à janela certa. Sou ex-combatente mas não tive madrinha de guerra, nem nunca escrevi nenhum aerograma... Em contrapartida, há aqui, neste blogue, muitos camaradas meus que, no teatro de operações da Guiné, tinham madrinhas de guerra, escreviam regularmente e provavelmente conservam alguns, poucos, aerogramas... 


Poucos ? Com tantas centenas de milhares de homens em armas durante a chamada guerra do ultramar, com tantos milhões de aerogramas distribuídos, gratuitamente, pelo Movimento Nacional Feminino (mais de 30 milhões por ano, nos últimos anos da guerra), é difícil encontrar alguém que tenha uma boa colecção desses documentos, e sobretudo que esteja disposto a pô-la à consulta dos outros (investigadores, escritores, editores de blogues, etc.). Já fiz esse apelo aqui, e os resultados ainda são magros, ao fim de sete anos... Veja os descritores:


madrinhas de guerra
aerogramas
as nossas mulheres


Em muitos casos, os correspondentes perderam o rasto uns dos outros. As madrinhas de guerra devem ter deitado ao lixo ou à fogueira as cartas e aerogramas de homens, estranhos, que nunca chegaram a conhecer pessoalmente.  Essas operações de limpeza costumavam fazer-se na véspera dos casórios... E depois a guerra acabou, war is over, baby, como diz um poema que eu escrevi... Alguém mais quis saber do que um afilhado de guerra dizia a uma madrinha de guerra, na tal guerra de que já ninguém se lembra nem quer lembrar ?...  


A ideia é linda, Sara, mas vem com um atraso de décadas... Parabéns às mulheres, às nossas mulheres, que estão a pôr a mão na velha massa das ressequidas e dolorosas recordações daquele tempo... Procure também no Arquivo Histórico Militar...


Em todo o caso pode ser que alguém, de bom coração, nos leia e queira fazer uma boa acção (de que todos, afinal,  beneficiaremos, espero)... Para isso, seria bom que a Sara dissesse mais alguma coisa sobre si e sobre o seu projecto de trabalho: Qual o seu "curriculum vitae"  resumido ? Qual o seu interesse especial por este tema ? Podemos usar o seu e-mail ? Não nos quer mandar uma fotografia ? (Aqui estamos habituados a dar a cara...)...


Enfim, não leve a mal que a gente faça estas perguntas... É também jornalista ? A "grande reportagem" (sic) destina-se a que fim  ? É mais um trabalho académico, uma tese de dissertação de mestrado ? É um trabalho de investigação jornalística ? É para publicar em livro ? Quem paga as fotocópias dos aerogramas e o seu envio para si ?, etc ... 


Desculpe estas perguntas todas... Temos todo o gosto em colaborar consigo (temos ajudado estrangeiros, por que é que não deveríamos ajudar  uma jovem, presumo, investigadora portuguesa ?) e, naturalmente, temos a obrigação cívica e moral de colaborar com a Academia, mas gostamos também de saber com quem, e em que termos,  apesar de você trazer a recomendação da nossa amiga Diana Andringa, uma das cerca de 40 mulheres que integram este blogue. 


Aqui fica o seu pedido (parti do princípio que era para divulgar através do blogue), e aqui tem a expressão (pública) do meu apoio à sua louvável iniciativa. Esperemos que alguém nos leia, de entre as ex-madrinhas e os ex-afilhados de guerra... Saudações bloguísticas. Luis Graça

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Nota do editor:


Último poste da série > 28 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8340: As mulheres que, afinal, foram à guerra (14): Mais de um terço de uma amostra (de conveniência) dos nossos leitores tenciona ver o filme de Marta Pessoa, em breve no circuito comercia

Guiné 63/74 - P8365: O nosso blogue em números (9): 78.500 visitas mensais desde Julho de 2010; mais de 500 tabanqueiros; 5,5 postes e 45 comentários, em média, por dia; uma em cada quatro visitas vem fora de Portugal...











Fonte: Blogger / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011)



Amigos, camaradas, camarigos, estimados leitores:


Na véspera de realizarmos o nosso VI Encontro Nacional, no próximo dia 4, em Monte Real, no ano em que celebramos o 7º  aniversário do nosso blogue (23 de Abril de 2011) (*), aqui vão mais alguns números sobre a nossa actividade (**)


(i) Atingimos ontem os 2,640 milhões de visitas (segundo as estatísticas da Brevenet)... e presumivelmente,  se formos todos vivos, estivermos activos e nos deixarem, atingiremos os 3 milhões em meados de Outubro próximo;


(ii)  Desde que o Blogger nos começou a contar, temos cerca de 865 mil visitas, desde Julho de 2010 a Maio de 2011, o que dá uma bonita média (mensal) de 78.500, um pouco menos de 2600/dia (uma frequência que se mantém constante, sendo sempre maior no início da semana e menor no fim de semana, por razões compreensíveis);


(iii) O mês em que quase atingimos as 100 mil visitas foi o de Janeiro de 2011; o pior (com menos de 65 mil) foi naturalmente o mês de Agosto de 2010;


(iv) Por país (de onde são provenientes ou estão localizados os nossos visitantes), Portugal vem naturalmente à frente, destacadíssimo (74.2%), seguido à distância pelo Brasil (12.5%) e os EUA (2.5%);


(v) De qualquer modo, é de chamar a atenção de que uma em cada quatro visitas ao blogue vem fora de Portugal;


(vi) Não sabemos, infelizmente, quantas visitas são provenientes de leitores da Guiné-Bissau (nem muito menos dos guineenses na diáspora);

(vii) O último membro a entrar, formalmente para a nossa Tabanca Grande, com o nº de registo 504, foi a ex-Enf Pára-Quedista Aura Teles Rico;


 (viii) Quanto a comentários,  registávamos,  às 18h do dia 1 de Junho,  um total de 22.726 (não podemos precisar exactamente desde quando o Blogger começou a disponibilizar este dado estatístico...), o que significa mais de 2700 desde 5 de Abril de 2011 (e, portanto, 1350 em média por mês / 45 por dia, considerando apenas os dois últimos meses de Abril e Maio)...

(ix) Quanto à produção de postes, com cerca de 820 em cinco meses (, de Janeiro a Maio), vamos dentro do ritmo do ano passado (5,5 postes por dia, em média)...


(x)  O objectivo,  este ano,  é ultrapassar a cifra dos dois mil postes publicados... (Em 2010, ficámos pelos 1957; e em 2009, pelos 1888).

Mais uma vez frisamos: estes números valem o que valem, não nos deslumbram, não nos envaidecem, dão-nos apenas algum alento, incentivo e motivação,  e sobretudo dão uma ideia  de que há gente, bastante, se calhar muita gente, ainda interessada em escrever e/ou ler coisas sobre esse período das nossas vidas em que participámos numa guerra, num país que hoje fala a nossa língua e onde habita um povo que consideramos como um povo irmão. (LG)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  13 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8091: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (1): Um Oscar Bravo (OBrigado) a quem nos visita, lê, comenta, divulga, alimenta, critica, incentiva, avalia, escrutina, ajuda a crescer e a melhorar... A todos os autores, comentadores, leitores, a todos/as os/as amigos/as, camaradas e camarigos/as da Guiné (A equipa editorial)


(**) Último poste da série > 5 de Abril de 2011´> Guiné 63/74 - P8052: O blogue em números (8): Atingimos hoje os dois milhões e meio de visitas, na véspera de fazermos 7 aninhos (no próximo dia 23)...

Guiné 63/74 - P8364: Agenda cultural (127): Conferência a realizar no dia 3 de Junho de 2011, pelas 19 horas, na Biblioteca-Museu República e Resistência - Espaço Grandela, incluída no 4.º Ciclo de Conferências MEMÓRIAS LITERÁRIAS DA GUERRA COLONIAL, a cargo de Rogério Seabra Cardoso - "Rotas Sem Fim"

Leva-se ao conhecimento da tertúlia a conferência a realizar no dia 3 de Junho de 2001, pelas 19 horas, na Biblioteca-Museu República e Resistência - Espaço Grandela na Estrada de Benfica, 419, incluída no 4.º Ciclo de Conferências MEMÓRIAS LITERÁRIAS DA GUERRA COLONIAL, a cargo de Rogério Seabra Cardoso - "Rotas Sem Fim".


Cartaz - PROGRAMA  4º Ciclo de Conferências das «Memórias Literárias da Guerra Colonial»




Sobre o autor e o livro, ver aqui.


Sobre este autor, e nosso camarada de armas (que vive em Castelo Branco), e sobre o livro, vd. aqui uma entrevista.

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Nota de CV:


Vd. último poste da série de 25 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8323: Agenda cultural (126): IV Jornadas de Memória Militar, dia 31 de Maio de 2011 no Palácio da Independência

Guiné 63/74 - P8363: Contraponto (Alberto Branquinho) (35): Teatro do Regresso - 10.º e último Acto - Estou velho com'ó caraças! - ...mas não cai o pano

COMEÇOU ASSIM...

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 28 de Março de 2011:

Caríssimo Carlos Vinhal
Aí vai o "1º. Acto" do grande "TEATRO DO REGRESSO", que esteve em cena durante mais de uma década e um grande ABRAÇO do
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (26)

TEATRO DO REGRESSO
(Peça em vários actos)

1º. Acto - E Agora?


Cenário:

Finais dos anos 60 do séc. XX.
Deck de navio, navegando em mar alto, transportando tropas de Bissau para Lisboa.

Personagens:

Dois alferes milicianos, fardados, apoiados nos ferros da amurada. Um segura a cabeça entre as mãos; o outro fuma um cigarro e fixa o horizonte, olhando em frente.

Acção:

A segunda personagem, apaga o cigarro, senta-se, encosta-se bem na cadeira, cruza os braços, encara o outro e pergunta:

- O que vais fazer, agora, quando chegares?
(Silêncio, durante uns segundos).

- Não sei se tenho cabeça e disposição para voltar a estudar. E tu?

- Vou abrir um consultório.

- Consultório?! De quê?

- Ponho um anúncio à porta. Assim:

PERGUNTEM TUDO SOBRE GUERRA.
EU RESPONDO.

Ambos sorriem. Sorrisos irónicos.

(CAI O PANO)


...A VAI TERMINAR ASSIM:

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 29 de Maio de 2011:

Caríssimo Carlos
Junto estou a enviar o texto do Contraponto (35), que consta do 10º. e último Acto do "Teatro do Regresso".

Despeço-me (eu, não o Contraponto) com um abraço
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (35)

TEATRO DO REGRESSO
(Peça em vários actos)

10º. Acto – Estou velho com’ó caraças!

(Último acto – aqui.)

Cenário

Porto de Lisboa. Cais da Rocha do Conde de Óbidos.
Amurada de navio que transporta tropas, que regressam da Guiné.
O navio está a fazer manobras para atracar.
Centenas de militares observam de bordo a multidão que os espera no cais, acenando, desfraldando faixas com escritos, agitando lenços de várias cores. Os gritos de chamamento de bordo e de terra misturam-se no ar, fazendo um barulho ensurdecedor.


Acção

O cabo “Alcântara” vem caminhando calmamente, com o saco militar às costas, da proa para a ré, tossindo e ziguezagueando por entre os militares, que procuram chegar-se mais à amurada tentando ver melhor e serem vistos de terra.

Finalmente consegue entrever o Fonseca (um “filho de Campo de Ourique”). Coloca-se ao lado dele, poisa o saco aos pés e, para conseguir fazer-se ouvir no meio da algazarra, berra-lhe ao ouvido:

- Está tudo na mesma, pá: a Torre de Belém, os Jerónimos, a Ponte, o Cristo-Rei, o rio, o Porto Brandão, a Trafaria… e, até, esta maralha toda aí em baixo é a mesma. Eu, é que estou velho com’ó caraças! Parece que já tenho 35 anos. E cheio de gosma…

(NÃO CAI O PANO), pois…

…de muitos e desvairados ACTOS se fez o teatro do regresso!

Alberto Branquinho
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Nota de CV:

Vd. postes do Teatro do Regresso de:

1 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8028: Contraponto (Alberto Branquinho) (26): Teatro do Regresso - 1.º Acto - E Agora?

4 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8048: Contraponto (Alberto Branquinho) (27): Teatro do Regresso - 2.º Acto

11 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8083: Contraponto (Alberto Branquinho) (28): Teatro do Regresso - 3.º Acto

20 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8139: Contraponto (Alberto Branquinho) (29): Teatro do Regresso - 4.º Acto - Missa de Corpos Presentes

28 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8177: Contraponto (Alberto Branquinho) (30): Teatro do Regresso - 5.º Acto - (Des)encontros imediatos

3 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8210: Contraponto (Alberto Branquinho) (31): Teatro do Regresso - 6.º Acto - Que próximo-futuro?

10 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8254: Contraponto (Alberto Branquinho) (32): Teatro do Regresso - 7.º Acto - Prótese

17 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8288: Contraponto (Alberto Branquinho) (33): Teatro do Regresso - 8.º Acto - Foi outra guerra qualquer

24 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8316: Contraponto (Alberto Branquinho) (34): Teatro do Regresso - 9.º Acto - Filho da ausência

Guiné 63/74 - P8362: Parabéns a você (267): António Barbosa, ex-Alf Mil Op Esp da 2.ª CART/BART 6523 e Osvaldo Colaço, ex-Fur Mil da CCAÇ 3566 (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

02 DE JUNHO DE 2011




NESTE DIA DE FESTA, A TERTÚLIA E OS EDITORES VÊM POR ESTE MEIO DESEJAR AOS NOSSOS CAMARADAS ANTÓNIO BARBOSA E OSVALDO COLAÇO AS MAIORES FELICIDADES E UMA LONGA VIDA COM SAÚDE JUNTO DE SEUS FAMILIARES E AMIGOS.
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Notas de CV:

- António Barbosa foi Alf Mil Op Esp/RANGER na 2.ª CART/BART 6523, em terras de Cabuca, nos anos de 1973 e 1974

- Osvaldo Colaço Pimenta foi Fur Mil Inf na CCAÇ 3566 em Empada e Catió, nos anos de 1973 e 1974

Vd. último poste da série de 1 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8356: Parabéns a você (266): Agradecimento de Mário Beja Santos

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8361: Notícias do nossos amigos da AD - Bissau (18): No Dia Mundial da Criança, pensando na Alicinha do Cantanhez e em todas as crianças do mundo (Alice de Lisboa)







1. Mensagem que chegou à Maria Alice Carneiro, com data de 16 de Maio último, através do correio do nosso amigo Pepito, e que achamos não ficar mal publicar em Dia Mundial da Criança [celebrada em Portugal no dia 1 de Junho; para a ONU,  oficialmente é a 20 de Novembro, data em foi proclamada, em 1959,  a Declaração dos Direitos da Criança).

Fotos: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2011). Todos os direitos reservados.




Madrinha Alice;


Aqui estou eu a mandar mais umas fotografias que tenho a certeza vais gostar.

Cresci muito e já ando por tudo quanto é sítio, sempre a roncar as roupas que me enviaste.

A Mãe Cadi  tem estado em Cafine onde abriu um bar e onde vende refeições, para ganhar uns dinheiros e ajudar a família.

beijinhos da Alicinha [,de Farim do Cantanhez]



2. Resposta da madrinha Alice de Lisboa:

Querida afilhada, Alicinha, querida Cadi:

Como é bom saber que a minha flor de Farim do Cantanhez está a crescer, como uma bela e saudável criança. Nela depositamos todas as esperanças (a mãe, Cadi, o pai, António Baldé, os avós, o amigo Pepito, os fulas e os nalus, e todos os demais povos da Guiné-Bissau, mais o seu governo)...


[ Faz votos, Cadi, para que a nossa menina goze de todos os direitos que são universalmente reconhecidos a todas as crianças do mundo, desde 1959, sem distinção ou discriminação por motivo de etnia, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de qualquer natureza, nacionauidade, classe social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição, quer sua ou da sua família. Princípio 1º da Declaração dos Direitos da Criança.]


Rezo, minha querida Alicinha, ao mesmo Deus da tua mãe e do teu pai, para que os homens que governam o teu país e o mundo, tenham inteligência emocional, sabedoria humana e recursos suficientes para te poder garantir, a ti e a todos os meninos da Guiné, o direito ao futuro e à esperança, respeitando a tua dignidade e liberdade como pessoa.


[A criança gozará de protecção social e ser-lhe-ão proporcionadas oportunidade e facilidades, por lei e por outros meios, de modo a assegurar o seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, de forma sadia e normal, em condições de liberdade e dignidade. Princípio 2º.]

Felizmente, tens um pai, fula (embora longe, a viver e a trabalhar em Portugal), e uma mãe, nalu, e um nome e uma pátria. Como é bom saber que tens uma família que te protege e que te ama. E que o teu avô é um bom guineense, e um grande patriota, um combatente que lutou pela liberdade do povo a que pertences e de quem deves ter sempre orgulho.

[Desde o nascimento, toda criança terá direito a um nome e a uma nacionalidade. Princípio 3º.]


Pelas fotos tiradas pelo nosso comum amigo Pepito, e que me deixaram tão feliz (obrigado, Pepito!),  vejo que tens tido os cuidados de saúde mínimos, mas tão necessários,  para poderes escapar à terrível maldição da morbimortalidade infantil que se abate sobre as crianças do teu país e do teu continente.

[A criança gozará os benefícios da segurança social. Terá direito a crescer e criar-se com saúde; para isto, tanto à criança como à mãe, serão proporcionados cuidados e protecção especial, incluindo os  adequados cuidados pré e pós-natais. A criança terá direito a alimentação, recreação e assistência médica adequadas. Princípio 4º.]

Pelo que vejo e pelo que me contam,  és uma criança linda e perfeita. E que em breve poderás ter água potável, na tua aldeia, devendo ali ser construído um poço e montada uma bomba que será movida a energia solar... Graças aos esforços da AD, do Pepito e do meu querido amigo Zé Teixeira e demais amigos portugueses, muitos deles ex-combatentes da guerra colonial. E isso alegra o meu coração, porque a Cadi já não precisará de ir à bolanha buscar água, salobra e impura; e tu serás livre para  ires brincar com os teus amiguinhos; e já não apanharás doenças associadas à ingestão de água inquinada.

[À criança com incapacidade física, mental ou social  serão proporcionados o tratamento, a educação e os cuidados especiais exigidos pela sua condição peculiar. Princípio 5º. ]


Que ternura ver a mãe Cadi seguir-te com o olhar, pegar-te ao colo, velar por ti, vestir-me com as roupinhas que te mando, posar orgulhosa como uma raínha nalu, contigo,  para a fotografia, trabalhar para ti, dar-te tudo do pouco que ela tem... [Seguiu hoje mesmo, mais um encomendinha postal com roupas e brinquedos, para ti; espero que cheguem bem, e em breve; só não te mando  lápis e marcadores para desenhares e pintares, porque ainda não tens três aninhos e não seria seguro deixar-te sozinha com estes materiais].

[Para o desenvolvimento completo e harmonioso da sua personalidade, a criança precisa de amor e compreensão. Criar-se-á, sempre que possível, ao cuidado e sob a responsabilidade dos pais e, em qualquer hipótese, num ambiente de afecto e de segurança moral e material;  salvo circunstâncias excepcionais, a criança da tenra idade não será apartada da mãe. À sociedade e às autoridades públicas caberá a obrigação de propiciar cuidados especiais às crianças sem família e aquelas que carecem de meios adequados de subsistência. É desejável a prestação de ajuda oficial e de outra natureza em prol da manutenção dos filhos de famílias numerosas. Princípio 6º].

Quero saber se vais ter escola, e professor, e cadernos e lápis e livros, na tua tabanca, quando fores maiorzinha... Tenho medo que possas não aprender o português, língua oficial do teu país e janela para o mundo (que é muito maior que a tua aldeia em Farim do Cantanhez)... Como a tua mãe, que não fala português, comunicando comigo, ao telemóvel, apenas por monossílabos, por frases curtas, por um rudimentar crioulo...

[A criança terá direito a receber educação, que será gratuita e obrigatória pelo menos a nível do ensino básico. Ser-lhe-á propiciada uma educação capaz de promover a sua cultura geral e capacitá-la para, em condições de igualdade de oportunidades, desenvolver as suas aptidões, a sua capacidade de decidir e de julgar,  e o seu sentido  de responsabilidade moral e social, bem como tornar-se um membro útil da sociedade. O superior interesse da criança deverá impor-se sempre aos responsáveis pela sua educação e orientação; esta responsabilidade cabe, em primeiro lugar, aos pais. A criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se; a sociedade e as autoridades públicas empenhar-se-ão em promover o gozo deste direito. Princípio 7º.]

Quero ter a certeza que estarás sempre em segurança neste nosso mundo, na tua África,  no teu país, na tua região de Tombali, no teu Cantanhez, na tua tabanca...


[A criança figurará, em quaisquer circunstâncias, entre os primeiros a receber protecção e socorro. Princípio 8º]


Angustia-me pensar que um dia, quando te começarem a ver como um mulherzinha, possas vir a ser vítima do cruel fanado,  da Mutilação Genital Feminina, de acordo com os usos e costumes dos fulas e de outros povos da Guiné... Espero que o teu pai (um homem grande que já conheceu mundo) e a tua mãe saibam  que o melhor para ti, e para as meninas da Guiné, passa por romper com as práticas cruéis das fanatecas, práticas essas com que os homens, no passado, tinham a veleidade de se apoderar do corpo e da alma das mulheres.

[A criança gozará protecção contra quaisquer formas de negligência, crueldade e exploração Não será jamais objecto de tráfico, sob qualquer forma. Não será permitido à criança empregar-se antes da idade mínima conveniente; de nenhuma forma será levada a ou ser-lhe-á permitido empenhar-se em qualquer ocupação ou emprego que lhe prejudique a saúde ou a educação ou que interfira no seu desenvolvimento físico, mental ou moral. Princípio 9º]

Farei o meu melhor para, eu própria, tua madrinha, te proteger contra os diabos da intolerância e do ódio entre grupos e entre povos, em Portugal, na Guiné-Bissau e no resto do mundo. Gostaria de poder acompanhar o teu crescimento com orgulho e com muito amor, como se fosses minha filha. E gostaria de um dia destes te conhecer, e conhecer os teus avós. A tua mãe, Cadi. já a conheço desde 2008. Com o  teu pai, António Baldé, falo regularmente ao telefone. Falta tu conheceres a tua madrinha portuguesa.  Mil beijinhos, para ti e para a tua mãe. Boa sorte para o negócio da Cadi, mulher de coragem. A Alice de Lisboa.

[A criança gozará de protecção contra actos que possam suscitar discriminação racial, religiosa ou de qualquer outra natureza. Criar-se-á num ambiente de compreensão, de tolerância, de amizade entre os povos, de paz e de fraternidade universal. Princípio 10º].
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8360: Blogoterapia (181): Apesar da idade, continuamos a realizar os nossos Encontros e ainda nos comovemos (Ernesto Duarte)

1.Mensagem do nosso camarada Ernesto Duarte* (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67), com data de 29 de Maio de 2011:

Boa Noite Carlos
Tudo de bem contigo e com os teus, são os meus desejos.

Carlos, eu de uma maneira geral sou um pouco vadio, um pouco vira-latas, aproveitando tudo para estar o mais tempo possível fora, e como ainda não ando com o caixote às costas, passa-se muito tempo que não tenho noticias, eu já disse isto um milhão de vezes, mas a idade não perdoa, vou sendo chato.

Na semana de 14 de Maio foi o almoço da minha Companhia, da minha Companhia é favor.
Correcto será dizer de um grupo de velhos gordos, que teimosamente continuam a não deixar morrer aquela chama. Penso que enquanto existir um que se dê mexido há almoço.

Eu e uns quantos, todos, comovemo-nos sempre, nós sentimos ali ainda aquele espírito de união, de respeito, de convivência sadia, e vêm muito ao de cima aqueles momentos que estão cá marcados. Fomos e estava tudo preparado, sem perguntas, sem más vontades, agindo como um todo.

Comovo-me por aqueles que já muito doentes, de canadianas, sem falarem, braços ao peito, mas aquele olhar é o mesmo, demonstra uma força e um querer, aqueles abraços são vidas que se agradecem em simultâneo.

Comovo-me por aqueles que lá ficaram.

Comovo-me, porque há 44 anos que chegámos, há 46 que partimos e há para aí 47 que me apareceram aqueles tipos de fardas largas e com aspecto de tudo menos de militares, e nós fizemos deles militares, combatentes e hoje estão ali uns homens que até deram um pontapé na vida difícil.

Só um militar e um operacional pode ouvir isto: - Foi graças a ti que eu cá estou, devo-te tudo.

Sentir este orgulho, é nosso, só nosso dos operacionais.

Que raio de gente fomos nós, que raio de gente somos nós, que esta quantidade de gente é ignorada pela Pátria que tanto amamos.

Mas como sou vira latas, aproveitei mais a minha companheira de 50 anos para andar por aí. O almoço era em Ílhavo / Vagos e a nossa primeira paragem foi em Badajoz.

Depois uma ida lá baixo para ver as coisas, cheguei há pedaço.

Carlos, eu no tempo em que o Azimute foi feito, era muito mais ingénuo e aquilo na altura mexeu comigo, mexeu connosco, e ao encontrá-lo hoje não sei atribuir-lhe qualquer valor, vocês com mais conhecimentos, poderão por ventura atribuir-lhe algum. Eu não gosto de me tornar pesado, sabendo o mundo de papeis ( mail ) que tens, obrigado.

Exemplar de um Azimute oferecido pelo camarada Ernesto Duarte ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Obrigado Carlos, um bom 4 de Junho, não quero ser profeta da desgraça, mas o 5 deve todo ele ser mesmo ímpar.

Um grande Abraço e tudo de bom
Ernesto Duarte
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Notas de CV:

(*) Vd. poste da série de 20 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8142: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (11): Domingo de Ramos (Ernesto Duarte)

Vd. último poste da série de 1 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8358: Blogoterapia (180): Sondagem sobre a Tabanca Grande (Miguel Pessoa)

Guiné 63/74 - P8359: A rebelião das Caldas da Rainha, em 16 de Março de 1974, lembrada pelas fotos de Luís Sacadura

1. Mensagem de Juvenal Amado* (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 28 de Maio de 2011:

Caros Luís, Vinhal, Magalhães, Briote e restante Tabanca Grande
Este texto, o poema, bem como as fotos são testemunho de um tempo que foi um pesadelo que todos vivemos com maior ou menor intensidade.

Um abraço e até para a semana em Monte Real e aos que não poderem estar na nossa festa um até sempre.
Juvenal Amado


 O 16 DE MARÇO DE 1974 EM FOTOS

O meu Batalhão estava no Cumeré já a aguardar embarque quando se deu o levantamento das Caldas da Rainha.
Foi com natural apreensão que essas notícias chegaram até nós, pois já com 27 meses de comissão, os nossos receios viram eventuais atrasos no nosso embarque resultante da situação que se vivia na Metrópole.
Ainda foi alvitrado no gozo por alguém, que quando desembarcássemos nos seria distribuída novamente as G3 e ainda acabávamos na Serra da Estrela.

Quanto a mim juntava a essas preocupações o facto de o meu primo direito Luís, que era furriel miliciano e o Caetano, que era alferes miliciano, os dois de Alcobaça, estarem nessa altura a cumprir serviço militar no referido quartel e que decerto se teriam envolvido nos acontecimentos, de resultaram à volta de 200 prisioneiros.

O meu primo já estava em liberdade quando desembarquei em 4 de Abril, mas o Caetano só o vi depois do 25 de Abril quando foi solto.

Hoje quem lê sobre os acontecimentos os nomes de militares ligados à Guiné, são prova de que, o facto terem sido lá combatentes, assumiu um peso muito grande tanto neste levantamento como no 25 de Abril, que levaria por diante o derrube do regime.

Por último as fotos foram-me enviadas dos EUA pelo o meu primo com a devida autorização para as publicar.


ESTAR VIVO E NEM PODER PENSAR

As paredes estreitam-se
Formas estranhas e bizarras deslizam
A boca sabe a qualquer coisa orgânica
As mãos tacteiam um rosto desconhecido
A pernas não lhe pertencem
Os braços não lhe obedecem

Gritos ecoam pelos corredores
Na cabeça os pensamentos baralham-se
Não quer pensar em nada
Mas a vida passa-lhe em frente
É melhor não pensar em nada
Quando pensamos ficamos transparentes

O pensamento lê-se
O nosso cérebro projecta-o
Deixa-nos nus e indefesos
Noites de gemidos e silêncios
Alguém arreganhará os dentes
Já o tinham avisado que pensar é perigoso!

Falou? Não Falou?

Quando e se sair dali;
Andará cuidadosamente
Sentirá um arrepio em cada esquina
Não se olhará nas montras
À noite ficará de olhos abertos
Qualquer ruído será um sobressalto

Tentará parecer que nada aconteceu
Beijará sua mulher em privado
Nela saciará a sua sede
Responderá aos filhos que esteve doente
Não haverá escândalos nem choros
Voltará mais tarde à luta
Todos fingirão não saber
E não ousarão sequer pensar .

Juvenal Amado



O quartel das Caldas já cercado

Jeep com parlamentar governamental que será o Brigadeiro Pedro Serrano

Pelo aspecto já se estava no capitulo das ameaças

Preparados para defender o quartel

Posto com Reforço.

Tempo de incerteza

Oficiais revoltosos

Capitão Varela um dos comandantes da revolta

Luís Sacadura que me enviou as fotos

Serviço audio-visuais

Fotos: © Luís Sacadura (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8306: Blogpoesia (148): A vida e a morte na ponta de uma vara (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P8358: Blogoterapia (180): Sondagem sobre a Tabanca Grande (Miguel Pessoa)

1. Daqui a dois dias entramos em reflexão e não será permitida a divulgação de sondagens pelo que desde já, e dentro dos prazos legais, aqui fica este exaustivo trabalho de pesquisa do nosso camarada Miguel Pessoa*... pessoa que dispensa apresentações.

SONDAGEM SOBRE A TABANCA GRANDE





Imbuído do espírito que nos últimos tempos tem originado uma série de sondagens efectuadas pelo nosso blogue, resolvi efectuar na minha rua uma sondagem à população local. O estudo era bastante abrangente e permitiu dar uma ideia aproximada do que pensam do blogue e dos bloguistas e do seu impacto na sociedade em geral. Foram entrevistadas 100 pessoas dos diversos extractos sociais, podendo-se dizer que a margem de erro não deverá exceder os 99%.
Os resultados valem o que valem. Alguns deles têm o seu quê de surpreendentes.

Assim:

- 90% acha que todos os bloguistas estão de alguma forma relacionados com a Guiné.

- 10% acha que há pessoal que lá anda que se enganou no blogue mas mesmo assim continua por lá a chatear.

- 57% acha que o Mexia Alves é Presidente da Câmara de Leiria, justificando a ideia com a sua presença imponente e o vozeirão que geralmente usa para expressar as suas ideias.

- 8% está convencido que ele orienta a selecção nacional de rugby, mas este número acaba por não ser representativo…

- 66% está convencido que o Carlos Vinhal é de Lisboa, pois estão habituados a ouvir dizer que ele é um mouro de trabalho (embora a expressão “mouro de trabalho” seja um bocado utópica, por ser difícil encontrar alguém nessas condições).

- 85% está seguro de que a Dina irá atirar o computador do Carlos Vinhal para dentro da banheira (com água, claro) no prazo máximo de 15 dias.

- 99% acha que o Miguel Pessoa devia reduzir a sua presença nos convívios e perder uns quilinhos. O 1% restante é do Miguel Pessoa, que também foi entrevistado, e que acha que ainda consegue papar mais alguns almocinhos antes de se retirar para férias.

- 76% pensa que o Luís Graça tem uma autocaravana ou pelo menos descontos significativos numa empresa petrolífera, dada a sua permanente deslocação ao longo de todo o país (e arredores). Em compensação deve ter um computador com uma óptima autonomia, pois não deixa de escrever para o Carlos sempre que o tempo lhe permite.

- 81% considera que o Virgínio Briote é um avatar do D. Sebastião pois, como sucede com este, todos continuam a aguardar pacientemente o seu regresso.

- 77% confundiu o trabalho do Eduardo Magalhães Ribeiro na EDP com as descargas das ETAR, argumentando que por vezes ele tem que limpar a porcaria que uns tantos atiram para o blogue.

Finalmente, 

- 100% confidenciaram-me que eu devia era fazer algo de útil e deixar-me destas m….. das sondagens, que são muito subjectivas e não levam a lado nenhum. Por isso fico-me por aqui…

Podem continuar a trabalhar – O intervalo acabou…

Abraço
Miguel
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8242: Agenda cultural (120): José Brás esteve na Feira do Livro de Lisboa, dia 7 de Maio de 2011 (Miguel Pessoa)

Vd. último poste da série de 27 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7871: Blogoterapia (179): Espero, para o ano, reformado, participar no VII Encontro Nacional da Tabanca Grande (Gumerzindo Silva, CART 3331, Cuntima, 1970/72)

Guiné 63/74 - P8357: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (42): Destacamentos: Augusto Barros e o Grupo das Ostras

1. Mensagem do nosso camarada Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 27 de Maio de 2011:

Amigo Carlos Vinhal
Cá vai novo apontamento de “Viagem à volta das minhas memórias”, que mais uma vez me fez reviver com prazer e saudade momentos temporalmente distantes, mas presentes no coração e na memória.
Um abraço para ti e outro para a Rapaziada que me possa vir a ler, com votos de saúde, serenidade analítica, independência e responsabilidade na decisão que se avizinha.
Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (42)



Destacamentos:
Augusto Barros


Para a grande maioria da rapaziada da “FORÇA”, os tempos de maior incerteza teriam ficado para trás, pelo menos durante uns meses enquanto permanecêssemos distribuídos pelos destacamentos, a sul de Bula.

Mato Dingal e João Landim eram tidos de certo modo como seguros e de população fiável. A excepção era Augusto Barros onde tínhamos conhecimento de a população ser mais “fingida” e de já terem ocorrido flagelações.

A confluência dos Rios Có e Dingal com o Mansôa, configurava uma península onde Augusto Barros se localizava, o que daria (?) o nome a uma Ponta . Era um meio-burako a meu ver mal amanhado e onde beneficiações iam muito lentamente acontecendo. Por lá, e como já referi, ficaram estacionados em coabitação, o Comando e os 2.º e 3.º GCOMB.

O trabalho era o normal, feito em idênticas situações onde havia reordenamentos: Serviços ao destacamento, picagem, deslocações para abastecimento de água e géneros, umas emboscadas nos arredores, pequenas acções de patrulhamento de proximidade, observação, apoio à população, aulas à “canalhada” e não só e em especial tentar que o tempo passasse depressa, ocupando-o com actividades de lazer, intelectuais, desportivas ou outras, que no mínimo provocassem algum prazer individual ou colectivo, todas elas úteis para que as horas se transformassem em minutos.


O Grupo das ostras!

Como é mais que natural, uma das formas encontradas para atingir esse objectivo, eram as reuniões de Pessoal em redor duma mesa, onde a petiscada bem regada, era o mote e por vezes “a morte”.

Chouriças e outros víveres de “qualidade superior lusitana”, enlatados diversos e vinho "estacionados” na arrecadação, de quando em vez sofriam “golpes de mão”, o que criava atritos entre o 1.º Sargento Guerreiro e o meu bom amigo Belchiorinho, Vaguemestre que não gostando que se abusasse, fazia de conta olhando para o lado assobiando, muitas das vezes acabando por participar também na festança! Alentejano e amante das “bazucas” era e continua a ser um maravilhoso ser humano, sempre bem aparecido e acarinhado por todos.

Para além destas reuniões comuns e despretensiosas, de quando em vez juntava-se uma meia dúzia de “privilegiados”, o denominado “grupo das ostras”.

A plena carga de ostras de um “burrito” (Unimog 411) era “tratada” com carinho por competentes entendidos, para vir a ser apreciada pelos convivas reunidos à volta da mesa na messe, onde profusamente se apresentavam as “bazucas”, frescas insubstituíveis e sempre renovadas, qual “Fénix doirada“.

Citrinos temperadores em presença eram “esganados” delicadamente de modo a verter os seus sucos sobre os moluscos bivalves, condicionando-lhes o paladar a gosto.

Pelos meandros de risadas e conversas normalmente “ importantes e intelectualizantes” dos convivas, onde o calão se perfilava e a retrospectiva e futurologia analíticas podiam ter lugar, os “esqueletos externos” dos moluscos e das loirinhas, iam-se acumulando por tudo o que era espaço disponível, em montes cada vez maiores, na razão inversa da quantidade do motivo do convívio que ia gradualmente diminuindo e na razão directa das barrigas dos aderentes que se avolumavam e enrijeciam, sendo os esvaziamento de fluidos corporais cada vez menos intervalados, mais relaxantes e fontes de prazer, enquanto iam passando horas alapados naquela luta tenaz que a alguns ia levando aos limites e à consequente desistência .

Mais mortos do que vivos, de barrigões empedernidos, palavra arrastada e olhares brilhantes de vitória, satisfação e não só, era chegada a hora dos uísques e cafés em multiplicidade, na tentativa de um desejado e bem vindo “amaciamento” da digestão e optimização da circulação sanguínea e não pedonal, esta afectada com certeza e dirigida para a horizontal.

Que o digam os Fur Mil Castro, Almeida, Urbano, Belchiorinho (sempre agarrado à “bazuca”) o Alf Mil Freitas Pereira e outros não tão “empenhados”.

Luís Faria
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8185: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (41): De volta a Bula - Destacamentos