quarta-feira, 10 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14727: Tabanca Grande (467): José João Braga Domingos, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (Colibuia, Ilondé e Canquelifá, 1973/74), 691.º Grã-Tabanqueiro

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo tertuliano José João Braga Domingos, ex-Fur Mil At Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516 (Colibuía, Ilondé e Canquelifá, 1973/74), com data de 3 de Junho de 2015:

Caros Camaradas
Já há alguns anos que frequento o blogue para criar ainda mais saudades.
A sua existência é uma excelente ideia e agradeço reconhecidamente aos que cuidam da sua manutenção.
Reparei que existe pouca participação do pessoal que esteve na Guiné em 1973-1974 (talvez por acharem não ter cumprido o que esperavam deles). Por isso, puxei pela memória e mais de 40 anos depois fiz uma resenha da passagem da minha Companhia (e de mim próprio) pela Guiné.
Se lhe encontrarem algum mérito façam dela a utilização que entenderem.
Quase trinta anos depois do regresso esta Companhia reuniu-se pela primeira vez num convívio e foi formidável. Temos continuado a encontrar-nos e no próximo dia 6 de Junho lá estaremos na Quinta das Carrascas, Carrascas, Alcobaça.

Um abraço
José João Domingos
Ex-Fur Mil At Inf

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BCAÇ 4516 - 2.ª CCAÇ

Esta descrição tem com certeza alguns erros e omissões. As recordações são as de cada um e as versões do mesmo facto serão tantas e tão diversas quantos os seus narradores. Por isso mesmo, não consultei qualquer documentação ou camarada para validar o que escrevi que saiu apenas da minha memória ou da falta dela.

Após formação do Batalhão no RI 15 em Tomar, embarque em Alcântara, no navio “Niassa”, no dia 6 de Julho de 1973 com destino à Guiné. Despedida com a presença de uma multidão de familiares, namoradas e amigos dos militares que partiam.

No barco boas condições de alojamento, higiene e alimentação que, com o decorrer dos dias, se iam nitidamente degradando. Por outro lado, as diferentes condições de transporte dos militares das várias patentes não potenciavam o espírito de grupo indispensável a quem ia viver dois anos em circunstâncias muito duras.

Chegado ao porto de Bissau, após escala no Funchal para receber uma Companhia Independente, uma semana depois, sexta-feira 13 de julho de 1973.

Largas horas entre o fundear do navio (não acostou), em que se processou a distribuição de correio e à desinfestação do navio, e o desembarque para uma LDG com destino a Bolama.

O BCAÇ 4516 estava destinado a Teixeira Pinto mas tinha havido alteração na distribuição das tropas e ficaria como unidade de intervenção. A divisa do Batalhão era “Firmes e Constantes”.

Instalado na LDG, no meio de grande confusão de bagagem, indaguei junto de alguém da tripulação pelo local de satisfação das necessidades básicas e, obtida a resposta, conclui que tinha chegado à guerra.

A LDG de vez em quando andava uns metros mas, meia dúzia de horas depois, ainda víamos as luzes de Bissau. Já clareava quando, finalmente, se pôs a caminho tendo chegado a Bolama cerca do meio-dia.

O desembarque foi um quadro surrealista. Apareceram dezenas de crianças negras propondo-se transportar as bagagens dos militares até ao quartel, que era próximo, a troco de uns pesos. Era doloroso vê-los a arfar debaixo de malas maiores do que eles, sendo frequente os donos das malas pagar-lhes e fazerem eles o serviço. Entretanto, aqueles que não tinham arranjado cliente colocavam-se ao lado dum recém-chegado que transportasse um saco de plástico e, subrepticiamente, no meio da barafunda, com as unhas iam produzindo rasgões no saco até que o seu conteúdo caísse no chão após o que em bando disputavam os despojos.

À vista de uma cidade que tinha sido capital da Guiné Portuguesa fiquei dececionado e perguntei-me que civilização, após 500 anos de domínio, apenas consegue produzir uma cidade daquelas, com edifícios degradados (o hotel, residência dos oficiais, estava escorado) e as ruas sem asfalto. Salvava-se a piscina, junto ao mar, o quiosque perto da entrada onde se bebia um café manhoso e o restaurante do cabo-verdiano onde se comia leitão (já velhote) muito mal escanhoado.

O patriotismo que levava na bagagem: o meu respeito pela nossa bandeira, o arrepio que sempre me causava a audição do hino nacional e o meu orgulho de ser português, contra tudo e contra todos, levou um forte abanão.

Um mês em Bolama a tirar a IAO deu-nos mais preparação do que toda a instrução na Metrópole, em particular para adaptação ao clima na época das chuvas. A experiência com a época seca viria mais tarde e foi bem mais dolorosa pois as noites no mato faziam abanar o corpo todo e as consequências estão hoje bem presentes.

No dia 3 de Agosto de 1973, dia de festa do PAIGC, fomos brindados com cerca de uma dezena de disparos de morteiro 120mm que causaram sete ou oito vítimas mortais, entre militares e população. Só por sorte não aconteceu uma tragédia ainda maior pois o pessoal estava preparado para o jantar e algumas das granadas explodiram bem perto do aquartelamento. O obus do CIM retaliou passada mais de meia hora sendo provável que os autores já estivessem bem longe. Por precaução, fomos dormir para a mata nos arredores da cidade.

Durante a instrução o general Spínola deslocou-se a Bolama para receber o BCAÇ 4516, na presença dos representantes das forças vivas locais, com uma parada de tempo exagerado e alguns desfalecimentos. Na reunião com oficiais e sargentos, realizada no tal hotel, lembro-me bem do general Spínola dizer, entre outras coisas que não fixei, que “a guerra em África não se mantinha devido aos grandes rasgos de visão da retaguarda”.
De facto, era claro que aquela guerra não tinha saída para o nosso lado. A conquista de populações tão diversas teria que ter sido feita muitas décadas atrás se o País tivesse gente com visão no seu comando. Por outro lado, a concessão da independência traria consequências para os territórios mais apetecíveis sob o nosso domínio. Também o final da guerra do Vietname iria com certeza trazer problemas acrescidos para as nossas tropas por maior disponibilidade dos fornecedores de armamento.

Na segunda quinzena de Agosto lá fomos de LDG para Buba, com destino ao setor de Aldeia Formosa (Quebo). O caminho entre Buba e Aldeia, com paragem em Nhala e Mampatá, demorou uma eternidade para um periquito mas perfeitamente normal para o resto do pessoal, atendendo à época das chuvas.

Chegados a Aldeia pôs-se a questão do aboletamento tendo o pessoal ficado muito mal instalado nos primeiros dias, em sobreposição com o BCAÇ 4513.

Passados dias fomos integrados numa força militar conjunta para efetuar uma operação, creio que o nome era “Operação Pertinente”, cujo objetivo era chegar ao Unal. Para além do BAÇ 4516 entraram na força uma CCAV e outra do BCAÇ 4513.
Foram 4 dias de operação a partir de Buba, com chuvadas intensas, cujo objetivo não foi alcançado tendo apenas servido para treino operacional do BCAÇ 4516.
No regresso o primeiro paludismo e, em poucos dias, 10 kg a menos.

E lá fomos todos distribuídos pelo setor de Aldeia: 1.ª CCAÇ: Cumbijã; 2.ª CCAÇ: Colibuia e 3.ª CCAÇ: Nhacobá. A CCS ficou em Aldeia.

Ficou, portanto, a minha companhia estacionada em Colibuia, tendo adstrito um pelotão de milícia e dispondo de um morteiro de 81mm. Fazíamos o patrulhamento diário da zona e, periodicamente, estacionávamos uma noite no mato. Os confrontos mais frequentes foram com as abelhas. Diariamente procedíamos ao abastecimento de água numa fonte entre Colibuia e Aldeia, cuja estrada era de alcatrão, num local particularmente exposto a ataques o que obrigava a medidas de segurança rigorosas.

O aquartelamento não teria maior área que um campo de futebol sem bancadas e o telhado das casernas era em chapa de zinco tornando-as um forno a energia solar. A segurança do perímetro era feita com duas fiadas de arame farpado e, no meio, alguns fornilhos. Mas, finalmente, tínhamos a nossa casa.

A comida era péssima e escassa, não existindo alternativa no aquartelamento. Nestas condições, não faltavam clientes para o posto médico de Aldeia.
Contudo, se houve tempo em que senti grande liberdade em relação ao espartilho militar foram esses dois meses. Ninguém se preocupava com o tamanho do cabelo e da barba, com o ataviamento e com a ordem unida. Tomar banho era uma necessidade diária cuja concretização tinha alguma coisa de épico pois, devido à escassez de água, o caudal saído do buraco do depósito da água (que não chuveiro porque gastava mais) era pouco superior à baba de um menino o que permitia que se fumasse durante o banho, entre o acto de molhar e o de ensaboar, quando se dava a vez a outro.

Em Outubro, substituídos pela 3.ª CCAÇ, deslocámo-nos para Bissau (Adidos), durante alguns dias, tendo sido depois colocados no Ilondé, entre Bissalanca e Quinhamel, em tendas de campanha, sem latrinas, tendo sido aberta uma vala para onde as tropas defecavam directamente, e sem refeitório, sendo a comida feita e distribuída ao ar livre. O tempo passado até serem construídas as latrinas e os chuveiros dava para uma longa metragem de situações caricatas.

Passámos a fazer segurança às colunas de Bissau para Farim, às quintas-feiras, com paragem em Mansoa, Cutia, Mansabá e K3, tendo substituído uma companhia de açorianos que, já com a comissão cumprida, estava a ser bastante castigada. Uma das colunas estendeu-se a Guidaje e vimos bem as sequelas dos ataques de Maio de 1973 quer materiais quer psicológicos com destaque para as campas de algumas vítimas daquela acção que, creio, repousam hoje nas suas terras de origem, graças ao trabalho de camaradas que não os esqueceram e a quem presto homenagem.
Participámos ainda em várias operações no terreno e fizemos segurança entre Bissau e Mansoa ao Ministro do Ultramar.

Entretanto, a 1.ª CCAÇ foi para Binta fazer segurança à construção da estrada Binta-Guidage e a 3.ª CCAÇ foi para o Ilondé em trânsito para Canquelifá. A CCS ficou no Ilondé.

Em Fevereiro/Março de 1974 estive de férias na Metrópole. Estava em Lisboa quando se deu o levantamento das Caldas da Rainha em 16 de Março e, embora sem êxito, deu para perceber que alguma coisa estava finalmente a mudar. No regresso de férias trouxe na mala um exemplar do livro “Portugal e o Futuro” de autoria do general Spínola.

No final de Março nova mudança, agora para Canquelifá, a substituir a 3.ª CCAÇ que passou lá um mau bocado. Outro buraco, sem comida e sem água potável.

O segundo paludismo, em poucos dias menos 10kg e, na recuperação, uma peritonite que me mandou evacuado para o HM 241 de Bissau, e cujo tratamento correu muito mal. Esta evacuação, a 20 de Abril de 1974, dava também um filme pois evacuado de helicóptero em Canquelifá pelas 12h00 cheguei ao HM pelas 20h00 horas, após paragens em Nova Lamego (para um salto de pára-quedas) e Bambadinca (para receber correio e lanche). Com um peso de 80kg à chegada trouxe 53kg à partida.

No Hospital, ainda nos cuidados intensivos, tomei conhecimento do 25 de Abril. Foi uma alegria enorme plena de esperança em dias melhores para nós e para o nosso País.
Seguiram-se dias de grande expectativa cheios de bocas e palpites que confundiam os que não estavam por dentro da revolução.

Por mero acaso, estava nos Adidos, assisti a uma reunião feita na parada de Brá, com o pessoal dos Comandos africanos, na altura da sua desmobilização, onde lhes foram prometidos benefícios e protecção que, foi depois voz corrente, teriam sido esquecidos.

A minha Companhia regressa de Canquelifá e passa a fazer segurança a Bissau até à independência da Guiné-Bissau em Setembro de 1974.

Em linhas gerais está aqui um pouco da minha história e da 2.ª CCAÇ do BCAÇ 4516.

Foram tempos difíceis mas ficaram recordações para toda a vida, boas e más, tristes e alegres. Talvez um dia me disponha a contar alguns episódios a que assisti e que representam bem a forma como os portugueses são desenrascados ou, antes, como encontram soluções para resolver problemas em contextos complicados.

Gostaria de destacar ainda alguns factos que considero muito importantes na estadia desta Companhia na Guiné:

1 – O seu comandante, capitão miliciano, foi muito competente na defesa dos seus homens e no trabalho operacional.

2 – Todos comiam do rancho, sendo que os soldados comiam primeiro e o que restava era para oficiais e sargentos.

3 – Estando definido o custo unitário de cada refeição, nunca percebi porque comíamos tão mal (estivemos quase sempre dependentes de outros em matéria de alimentação) e outros que fomos conhecendo comiam bem melhor.

Pessoalmente, adorei o povo da Guiné que considero puro e justo apesar de notar aqui e ali a influência perniciosa oriunda da Metrópole. Acho, também, que aquela terra se entranha em nós (ou nós nela) e, apesar das condições difíceis, sinto que ainda hoje a tenho em mim.




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2. Comentário do editor

Caro camarada Domingos
Desde já, bem aparecido na Tabanca Grande, escolhe um lugar sob o nosso poilão e dispõe-te a cumprir a promessa que fazes: Talvez um dia me disponha a contar alguns episódios a que assisti e que representam bem a forma como os portugueses são desenrascados ou, antes, como encontram soluções para resolver problemas em contextos complicados.

Como referes, há algum défice de memórias da nossa presença na Guiné depois do 25 de Abril até à nossa retirada, talvez porque da parte de quem viveu esses tempos haja uma espécie de conflito de interesses, por um lado os momentos difíceis vividos antes da revolução e por outro a euforia do fim da guerra que contrastará com um sentimento de missão não cumprida. Não sei se pensas assim.
No vosso tempo havia já muita malta com convicções e ideais contra a guerra colonial, que ficaram contentes com o desenrolar da situação, e outros camaradas que por formação ideológica ou suposto dever patriótico talvez ficassem frustrados com aquela retirada sem glória.
Acredito que em muitas Unidades a indisciplina imperasse, pois já ninguém teria mão nos militares que queriam regressar depressa a casa e esquecer aquele pesadelo.

Como vês há aqui muita matéria da qual te podes valer para desenvolver a tua colaboração.

Aqui fica um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores Luís Graça, Eduardo Magalhães e eu próprio.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14705: Tabanca Grande (466): Joaquim Fernando Monteiro Martins, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4142 (Ganjauará, 1972/74) - 690.º Grã-Tabanqueiro

Guiné 63/74 - P14726: Os nossos seres, saberes e lazeres (99): Tomar à la minuta (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 11 de Maio de 2015:

Queridos amigos,
Foi um sábado que amanheceu pardo e até ventoso, depois ensoleirou. Ziguezagueei entre o velho RI 15, a Praça da República, de novo o Rossio onde está esse velho RI 15 e depois a capela de S. Gregório, bem perto do Mouchão.
Assim se juntam avulsamente imagens do que há de místico e fervoroso, do esplendor da natureza, de um casco histórico que guarda lembranças de uma abastança passada, Tomar em muito supera o que está classificado como património da Humanidade, tem o bastante para que o forasteiro passe aqui pelo menos quatro dias envolvido por tesouros da arquitetura civil e religiosa, ruas e ruelas, arcaria, azulejos. Isto para já não falar daquele momento estarrecedor que dá pelo nome da Festa dos Tabuleiros.

Um abraço do
Mário


Tomar à la minuta (3)

Beja Santos

Em termos convencionais, o chamado percurso histórico à cidade de Tomar inicia-se pela visita ao Castelo dos Templários e ao Convento de Cristo, deambulação que requer horas, e é de toda a conveniência ir previamente informado ou ter guia, só no Paço há pedras amontoadas que não podemos decifrar e mesmo à entrada do Convento temos tudo a ganhar quando alguém nos ajuda a decifrar vestígios, lápides, aquele edifício arruinado em frente ao Convento e que tem tanto peso histórico, pois aqui se realizaram as Cortes de Tomar que alçapremaram Felipe II. Temos andando aos ziguezagues, misturamos arquitetura civil com arquitetura militar e também com a arquitetura religiosa, é um passeio ao sabor das possibilidades, acicatado pelo bichinho da descoberta. É por isso que começamos hoje pela zona do antigo RI 15, fronteiro a um esplendoroso rossio, marcado por um lado pelo tribunal e do outro pela estação ferroviária e terminal rodoviário.


Aqui houve Convento, chegados a 1834 foi extinto e mais tarde apareceu quartel. Há lugares recuperados como este, tirou-se a imagem à porta do Museu dos Fósforos, do outro lado há um atelier de bela cerâmica, o que me cativou é o empedrado e as belas artes contrastando com a brancura da alvenaria.



Já se disse que o Sr. Aquiles da Mota Lima terá sido o maior colecionador de fósforos que se conhece. Uma das facetas do seu colecionismo são os fósforos primitivos e caixas de fósforos do princípio do século XX. Goste-se ou não se goste do tema dos fósforos, a verdade é que estas caixas têm um belo cromatismo, não resisti a comprar estes dois bilhetes-postais. Atravessei a praça e dirigi-me à Igreja de S. Francisco.



A Igreja de S. Francisco está a precisar de uma boa intervenção, por fora as manchas de unidade anunciam graves problemas, abre-se a porta e é penetrante o odor a bafio. É um templo de grandes proporções, o olhar é atraído pelo altar, por este gigantesco calvário com figuras em terracota. Aqui é insólito mas todos sabemos que estas figuras são comuns em certas vias-sacras, caso da mata do Buçaco e nos Olivais em Coimbra. Artistas houve que se renderam à terracota, caso de Rafael Bordalo Pinheiro que fez uma impressionante Paixão de Cristo que está hoje no museu José Malhoa, nas Caldas da Rainha, aqui se mostra.


No cimo da Corredoura, numa praça desafogada, elegante pela simetria e deslumbrante pela vista que se projeta daqui até ao castelo, apanhando-se mesmo uma nesga Mata Nacional dos Sete Montes, temos a Igreja de S. João Batista, consta que aproveitou as estruturas de outro templo que vinha do século XII, mas o que se pode ver, e a fachada é eloquente, é o gótico flamejante, tem uma esplêndida torre manuelina, e no seu interior são de visita obrigatória os quadros de Gregório Lopes e o tríptico flamengo onde se representa o batismo de Cristo. Mas gosto muito deste púlpito e de outros pormenores, que mostro adiante.




Juro que esta deambulação em nada se prende com estabilidade ou instabilidade emocional, mesmo amador canhestro, sei que não podemos brincar com a luz e nem sempre as manhãs de Tomar são resplandecentes, vim a correr do Rossio para apanhar certos detalhes: a fachada do tal gótico flamejante, mais a mais as obras de restauro são muito recentes, está tudo um brinquinho; e temos o interior da igreja, suspirei em apanhar aquelas infiltrações de luz, acho que tive sorte e aconteceu-me um puro acaso, um claro-escuro quando a luz caiu a pique sobre a rua, pus-me na obscuridade e catrapus, gosto muito da imagem que daqui resultou.







Voltei açodado ao antigo RI 15, sempre a perguntar-me como malbaratamos edifícios, com a guerra de África tornou-se imperativo um quartel novinho em folha, está lá em cima, na vizinhança do hospital e de um supermercado. Cá em baixo ficou numa lenta agonia, há edifícios emprestados à Cruz Vermelha e a uma outra instituição, o resto parece arqueologia industrial, em que somos pródigos, temos as velhas fábricas de têxteis em Castanheira de Pera também a apodrecer. Destaco o monumento aos heróis da Primeira Grande Guerra, sóbrio e perfeito, dá para estar ali a meditar no sofrimento dos nossos avós. Depois indignei-me com a lista de mortos, há ali um desditoso José da Silva que só temos direito ao nome da mãe, mesmo tombado em nome da Pátria ali fica o vexame de filho de pai incógnito. Passei-me no interior desse velho RI 15, encontrei as armas da Unidade, não consigo conformar-me com tanto edifício ao abandono, se quiserem façam condomínios fechados, shopping chineses ou indianos, hotéis de charme, albergarias para os peregrinos de Fátima mas aproveitem o que custou dinheiro ao contribuinte. E a última imagem é porque não resisti aos sanitários públicos ali à porta, usava-se então a palavra sentinas, é do nosso tempo, caiu em desuso, felizmente ficaram ali os azulejos para nos lembrar que temos outras palavras para além de WC.




O passeio termina na Capela de S. Gregório, perto do Hotel dos Templários e do parque conhecido por Mouchão, onde está a roda ou nora, dispositivo que herdamos dos árabes, e que é um dos símbolos da cidade, com o Nabão a murmurejar em cascata. O que tem de especial esta capela? É um templo octogonal, pequenino e harmonioso, doseado pela decoração manuelina, o interior é muito sóbrio e os azulejos opulentos, teve recentemente obras, e daí o ar de lavado e pintado de fresco. Nada mais por ora, mas promete-se que a viagem continua: ainda não se mostrou o Nabão, o local onde Nuno Álvares Pereira se encontrou com o Mestre de Avis e dali partiram até Aljubarrota onde mudaram a História; e à Mata Nacional dos Sete Montes, e muito mais, o casco histórico tem detalhes extraordinários, irresistíveis.

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 3 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14694: Os nossos seres, saberes e lazeres (97): Tomar à la minuta (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 7 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14709: Os nossos seres, saberes e lazeres (98): A Ana Luísa Valente mais o José Manuel Lopes, a Quinta Senhora da Graça e o Pedro Milanos à vossa espera hoje, das 17h às 22h, nos jardins setecentista do Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras, no Festival de Vinhos Europeus e do Enoturismo

Guiné 63/74 - P14725: (Ex)citações (280): Sexo em tempo de guerra... Regra geral, por onde passavam, os soldados respeitavam as populações locais, e mantinham com elas um bom relacionamento; os abusos, quando existiam, eram esporádicos... Citam-se dois casos (Domingos Gonçalves)



Guiné > Zona Leste > Gabu > Canjadude > CCAÇ 5 (1973/74) > "A psico na tabanca. Em pé está o fulano que eu conheço desde o meu primeiro dia de vida" [
João Carvalho, ex-furriel miliciano enfermeiro].

[E no meio, uma bajuda fula, ainda adolescente, linda de morrer, talvez ligeiramente estrábica... Sob o olhar vigilante da mãe, e rodeado dos irmãos mais pequenos... Dois militares brancos não param de a  contemplar... Repare-se como os tugas, no TO da Guiné, passada a primeira surpresa da exposição ao nu étnico, se apoderaram rapidamente do termo psico e deram-lhe uma outra conotação... mais épica, mais erótica, mais camoniana... Outra legenda possível: Canjadude, Ilha dos Amores, Lusíadas, Canto IX] ]LG]

Foto: © João Carvalho (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Mensagem de Domingos Gonçalves [ex-alf mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887,  Nova Lamego,  Fá Mandinga e Binta, 1966/68]


Data: 9 de junho de 2015 às 09:15

Assunto: Amores em tempo de Guerra.


Prezado Luís Graça:


Sobre o assunto, que reconheço algo delicado, passo a fazer algumas observações.

Regra geral, por onde passavam, os soldados respeitavam as populações locais, e  mantinham com elas um bom relacionamento. Os abusos, quando existiam, eram  esporádicos. Desse bom relacionamento com as populações indígenas, nasciam  alguns amores, relacionamentos consentidos, ou até desejados.

Cito dois casos que, penso, não estiveram na origem de qualquer nascimento de criança.

Um desses casos tem a ver com um militar que se apaixonou por uma nativa. Quando o pelotão,  a que pertencia, foi substituido, quis ficar na localidade em causa, Como não o deixaram,  nos tempos seguintes ia sempre, voluntariamente, integrado na escolta das colunas de viaturas que abasteciam a guarnição militar da localidade. Quando regressámos à metrópole, quis  ficar, com o seu grande amor, na localidade, Não foi fácil demovê-lo.

Outro caso tem a ver com um abuso. Determinado militar,  para ter um relacionamento, não  consentido, que consumou, espancou, para o conseguir, o marido da vítima. Sofreu, claro, as consequências disciplinareas.

A abordagem do assunto, que não é fácil, deve ter em conta, por um lado, (i) o facto de grande parte  do nosso contingenrte militar ser originário das aldeias, com acentuada formação cristã, e mentes saudáveis, portadores de um sentido ético da vida muito acentuado; e  por outro lado, /ii) a mentalidade das populações nativas, os seus usos e costumes.

Com um abraço amigo,

Domingos Gonçalves

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P14724: Parabéns a você (919): Alcides Silva, ex-1.º Cabo Estofador do BART 2913 (Guiné, 1967/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14716: Parabéns a você (918): Ernesto Duarte, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1421 (Guiné, 1965/67)

terça-feira, 9 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14723: 25º convívio da CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus" (Contuboel, Nova Lamego e Piche, 1969/70): Vimeiro, Lourinhã, 30 de maio de 2015 (Valdemar Queiroz) - Parte I



Lourinhã. Vimeiro_> 25º Convívio  da CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus" (Contuboel, Nova Lamego, Piche, 1969/70) >  30 de maio de 2015>  Concentração do pessoal junto ao monumento comemorativo do 1º centenário (1908) da batalha do Vimeiro (1808).



Lourinhã. Vimeiro_> 25º Convívio da CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus" (Contuboel, Nova Lamego, Piche, 1969/70) > 30 de maio de 2015 > Chegada ao Vimeiro, restauranet Braga: Cunha, Martins e Pereira, de costas.


Lourinhã. Vimeiro_> 25º Convívio da CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus" (Contuboel, Nova Lamego, Piche, 1969/70) > 30 de maio de 2015 > Centro interpretativo da batalha do Vimeiro (1808)  > Esposa do Cunha,  Pinto, Cunha  e Pina Cabral.


Lourinhã. Vimeiro_> 25º Convívio da CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus" (Contuboel, Nova Lamego, Piche, 1969/70) > 30 de maio de 2015 > Centro interpretativo da batalha do Vimeiro  (1808) > Escutando a palestra (1)...



Lourinhã. Vimeiro_> 26º Convívio da CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus" (Contuboel, Nova Lamego, Piche, 1969/70) > 30 de maio de 2015 > Centro interpretativo da batalha do Vimeiro  (1808) > Escutando a palestra (2): à esquerda, o Valdemar Queiroz.


Lourinhã. Vimeiro_> 25º Convívio da CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus" (Contuboel, Nova Lamego, Piche, 1969/70) > 30 de maio de 2015 > Centro interpretativo da batalha do Vimeiro (1808) > O conimbricense Aurélio Duarte.
Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz & Renato Monteiro (2015). Todos os direitos rservados (Edição: LG]




Lourinhã. Vimeiro_> 25º Convívio da CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus" (Contuboel, Nova Lamego, Piche, 1969/70) > 30 de maio de 2015 > 


Vídeo (3' 36''), produzido pelo ex-1º cabo op trms Francisco Marques. Alojado em You Tube > Luís Graça


Vídeo da autoria do Francisco Marques, 1º cabo op trms. Enviado pelo Valdemar Queiroz. Continha  originalmente um excerto da música da canção "Ó Tempo, volta para para trás",  criação do fadista  António Mourão (1935-2013) (*),  composição de Eduardo José Dantas... O som  foi removida por violar direitos de autor... Não tem a mesma graça, sem a conhecida letra e música de um dos mais populares fados do nosso tempo de Guiné, mas enfim... É um "slide show"... Nós respeitamos os direitos de autor, de acordo com as nossas regras editoriais, e por isso temos de dar o exemplo (LG),


1. Mensagem do Valdemar Silva, com data de 8 do corrente:

Ora viva, caro Luís Graça:

A CART 2479 / CArt 11,  'Os Lacraus',  fez o seu Convívio  2015, no dia 30 de Maio passado, no Vimeiro (Lourinhã), organizado, desta vez, pelo ex-alf mil Martins.

Foi um encontro extraordinário. Primeiro por que a maioria da rapaziada está já em cima, alguns já lá estão, dos 70 anos de vida. Só por isso é extraordinário, o facto de ainda nos juntarmos para conviver uns com os outros e de nos  lembrar de quando estivemos na Guiné, com poucos mais de 20 anos de idade.

Começamos a concentração no Centro Interpretativo da Batalha do Vimeiro (1808). Levamos com uma palestra, interessante, por parte duma jovem que explicou tudo o que se passou, exaustivamente, naquela Batalha do Vimeiro (1808). Desde as táticas utilizadas, passando pela a novidade do armamento, envolvimento da cavalaria,  ela explicou tudo, até à derrota do Junot que, ainda por cima, ficou a 'ver navios', em Lisboa, quando a corte de D. João VI foi para o Brasil. 

No fim de toda a explicação agradecemos e surgiu a voz do Aurélio Duarte,  declamando o que o D.
João VI decretou quando chegou a Paquetá. Espanto geral, até a cicerone bateu palmas no final e confessou que nunca tinha acontecido nada igual. (**)

Para além de fotos, a maior parte tiradas pelo Renato Monteiro, também anexo um pequeno filme com áudio da autoria do transmissões Marques.

Seleciona e publica o que entenderes. (...)(***)

 Abraços, Valdemar Queiroz

(Continua)

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Notas do editor:

(*) Ver aqui a letra da canção:

O Tempo Volta Pra Trás

Antonio Mourão

A Severa foi-se embora
O tempo p'ra mim parou
Passado foi com ela
Para mim não mais voltou

As horas p'ra mim são dias
As horas p'ra mim são dias
Os dias p'ra mim são anos
Recordação é saudade
Recordação é saudade
Saudades são desenganos

Refrão

Ò tempo volta para trás
Dá-me tudo o que eu perdi
Tem pena e dá-me a vida
A vida que eu já vivi
Ò tempo volta p'ra trás
Mata as minhas esperanças vâs
Vê que até o próprio sol
Volta todas as manhãs

Porque será que o passado
E o amor são tão iguais
Porque será que o amor
Quando vai não volta mais
Mas para mim a Severa
Mas para mim a Severa
É o eco dos meus passos
Eu tenho a saudade à espera
Eu tenho a saudade à espera
Que ela volte p'rós meus braços


(**) Vd. poste de 23 de março de  2014 > Guiné 63/74 - P12886: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte X): Quando a corte dos Lacraus chegou a Canquelifá..

(...) 

“D. João VI e a mulata”


Música; Armando Rodrigues
Letra: R Calado
Disponível no You Tube

Cortesia de Manuel Casimiro de Lopes Lopes

Canto de Villaret da Côrte de D. João VI e a Mulata de Paquetá,
gravado no Teatro Boa Vista,
em Lisboa no ano de 1954.

Quando a corte de D. João VI
Chegou a Paquetá,
Tudo servia de pretexto
P’ra censurar, p’ra criticar
Certa mulata que havia lá.

Diziam que ela era um perigo,
Que ela era uma tentação,
E que um marquês de nome antigo
Desdenhava o rei, não cumpria a lei,
P’ra ser só dela o cortesão.

Mas, quando alguém o censurasse,
Pedindo ao rei que a exilasse
Pelo mal que fazia,
D. João VI trincava uma coxinha,
De frango ou de galinha,
E sempre respondia:
– Já lhes disse que, aqui em Paquetá,
Eu sigo a lei da corte de Lisboa
E não me digam que a mulata é má,
Porque eu decreto que a mulata é boa.

Certa noite muito escura,
A moça se assustou,
Vendo surgir uma figura,
Gorda, a ofegar,
Que, sem falar,
Nos gordos braços logo a apertou,
Ela sentiu-se muito aflita,
Como a dizer que não,
Até na treva era bonita,
E lá fez de conta, que ficava tonta,
Sem saber que era o seu D. João.

Mas, quando alguém o censurasse,
Pedindo ao rei que a exilasse
Pelo mal que fazia,
D. João VI trincava uma coxinha,
De frango ou de galinha,
E sempre respondia:
– Já lhes disse que aqui em Paquetá
Eu sigo a lei da corte de Lisboa,
E não me digam que a mulata é má
Porque eu já sei como a mulata é boa.

Guiné 63/74 - P14722: Notas de leitura (725): “Guerra na Bolanha”, de Francisco Henriques da Silva - (Programa Fim do Império, Âncora editora, Lisboa, 2015) - O regresso de África e a reinserção - parte I (Francisco Henriques da Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Henriques da Silva (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá e Olossato, 1968/70; ex-embaixador na Guiné-Bissau nos anos de 1997 a 1999), com data de 5 de Junho de 2015:

Caros camaradas e amigos,
Envio-vos, em dois segmentos, o capítulo XXV do meu livro “Guerra na Bolanha” (Programa Fim do Império, Âncora editora, Lisboa, 2015) que nos fala de vários casos, que conheci, de reinserção - ou de não reinserção - de jovens, como eu, que haviam cumprido o serviço militar, na Guiné e noutras paragens ultramarinas, na sociedade portuguesa. A reintegração nuns casos foi razoavelmente bem sucedida e noutros tal não ocorreu, subsistindo traumas físicos e, sobretudo, psicológicos até aos nossos dias.

Via de regra, tendo em conta a aventura espantosa que vivemos em África, arrancados que fomos à relativa mansidão da nossa Tugalândia e ao ramerrame do nosso dia-a-dia, dos idos anos sessenta do século passado, confrontámo-nos com um verdadeiro “reality shock” e, por isso, temos tendência a concentrarmo-nos nos feitos de guerra e no nosso quotidiano em terras da Guiné. Porém, existe sempre um antes, que por vezes também é referido (a nossa juventude e como a vivemos antes da nossa passagem pelas fileiras) e, de igual importância, senão mesmo mais impactante, um depois (mas desta fase poucos falam e, todavia, ela é, a meu ver, crucial).
Uma das minhas preocupações de fundo foi tentar entender em que consistiu, com um mínimo de rigor, a fase posterior, o que é uma tarefa, no mínimo, ingrata. No meu caso pessoal, creio que marquei objectivos, que, aliás, descrevo com algum detalhe no meu livro, elaborei uma estratégia para os alcançar e, com maior ou menor sacrifício, consegui atingi-los. Todavia, muitos jovens de então, por uma multiplicidade de razões, infelizmente, não obtiveram qualquer êxito nessa caminhada.

Penso que não podemos circunscrevermo-nos a falar em circuito fechado da “nossa guerra” e que nos devemos abrir à sociedade em geral, sem tabus, sem preconceitos e sem complexos. Se queremos algum reconhecimento pelo que fizemos - e todos nós sabemos bem quão ingrato é ou pode ser o nosso Portugal actual - temos de falar para que alguém nos ouça. Não queremos pancadinhas no ombro do nosso proverbial nacional-porrerirsmo, não queremos agradecimentos, medalhas, louvores e lisonjas, mas apenas, que se reconheça que, para o bem e para o mal, com sacrifícios, desassossegos e canseiras, lutámos pelo nosso país. Verifico, por exemplo, que, nos Estados Unidos, independentemente dos conflitos justos ou injustos, populares ou impopulares, da respectiva legitimidade ou ilegitimidade, a população, em geral, presta tributo aos seus veteranos, quer os da II Guerra Mundial, da Coreia, do Vietname, do Iraque ou do Afeganistão. Na Rússia passa-se exactamente à mesma coisa. Portugal, pelo contrário, parece que quer deliberadamente apagar a sua história, todavia um tal curso de acção é um absurdo, jamais poderá ser concretizado.

Um abraço
Francisco Henriques da Silva
(ex-Alferes miliciano de infantaria da C.Caç. 2402 e
ex-embaixador de Portugal em Bissau 1997-1999)

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A reinserção dos outros. Será que houve verdadeira reintegração? Realidade e ficção.

(1.ª parte)

Caso 1 

Pousou o cigarro fumegante no cinzeiro metálico na mesa daquela esplanada da Costa da Caparica. Falou e acto contínuo começou num tom fortemente emotivo:
- Sabe, meu amigo, não consigo. Não consigo. Não me sai da memória. Depois daquela emboscada já perto, muito pertinho de Bula, numa maldita bolanha. Santo Deus! Não consigo...

Bebeu mais um gole de água e um pouco mais distendido continuou:
- Emboscaram-nos em grande, os cabrões! Era um fogachal medonho por todos os lados. Disparavam as RPG’s e as Kalashes sem descanso. Não, não eram, como habitualmente, uma meia-dúzia. Desta vez, era mesmo em grande. Não sei fazer as contas, mas eram muitos, mais que às mães, como se costuma dizer. Eram tiros e rebentamentos por tudo quanto era sítio. Estavam ali à nossa espera. Já não sabíamos uns dos outros, porque tínhamo-nos reunido em pequenos grupos para resistir melhor, mas aquilo não parava e não tínhamos onde nos abrigar. Aliás, estava tudo espalhado e tresmalhado no meio da água e do capim. Se não tivéssemos cuidado, daí a pouco estávamos a disparar uns contra os outros. Sabe, são imagens que ainda hoje não me saem da cabeça. Estou a ver a cena toda. Depois, acertaram em dois ou três de nós, talvez mais. Não sei bem. Ouviam-se os gritos. Ouço-os todos os dias. “Ai minha Nossa Senhora! Acudam-me que eu fico já aqui! Mãe! Oh, minha mãe! Estou com as tripas de fora! Ajudem-me! Ajudem-me! Vamos aqui ficar todos! Virgem Maria! Acudam-me! Enfermeiro! Enfermeiro!” E o héli não vinha. Não vinha e nós cada vez mais desesperados.

Vieram-lhe as lágrimas aos olhos. Revivia tudo como num filme em câmara lenta. Parava. A bobine voltava atrás e avançava outra vez, mas não tinha fim, recomeçava. Olhou para a linha do horizonte e viu a praia com os banhistas sob o escaldante sol de Julho, um avião sobrevoou-nos, dirigia-se à Portela. O que lhe parecia verdadeiramente irreal era aquela cena corriqueira e não o seu relato, o seu filme, o que tinha para contar. Essa, sim, era a história real.


Poilão de Brá
Foto ©: Arquivo de Francisco Henriques da Silva

Caso 2

Era meu vizinho do bairro. Uns anos mais novo, mas a diferença de gerações, hoje inexistente, não nos impedia de relatarmos as nossas experiências.
- Sabes, Chico, eu era furriel da Polícia Militar e tenho duas ou três cenas que não me saem da memória, isto já no final da comissão. Em Portugal, tinha acabado de se dar o 25 de Abril e em Bissau, aquela malta começava a manifestar-se por toda a parte. Por conseguinte, a PM tinha que redobrar de esforços, por que as coisas podiam dar para o torto. Uma das tarefas de que fui incumbido e precisamente aquela que não posso, por forma alguma, esquecer foi a prisão do Governador e Comandante-chefe da Guiné, General Bethencourt Rodrigues. Mandaram-me ir prendê-lo ao Forte da Amura, no dia 26 de Abril. Perguntei: ‘Quem? Eu, um simples furriel da PM?’. Responderam-me que sim que a tarefa era da minha responsabilidade e que não ia comigo nenhum oficial. Fiquei um bocado à rasca com tudo aquilo e cheio de nervoso miudinho: ia prender o Grande Chefe, nem mais nem menos.
Cheguei à dependência onde se encontrava, na Amura, bati a pala e, antes de poder abrir a boca, o General adiantou-se-me dizendo-me: ‘Estou pronto. Podemos seguir para o aeroporto’.
Bom, lá fomos em silêncio, estrada fora. Sabes estas coisas são difíceis de contar, têm de ser vividas. Foi muito desagradável. Senti-me muito incomodado.

Parou durante uns momentos, talvez para mudar um pouco de tema, muito embora se referisse invariavelmente a episódios do pós-25 de Abril em Bissau:
- Deram-me também como missão específica, naqueles dias, logo a seguir à revolução, que fosse libertar os presos políticos que se encontravam em Bissau, à guarda da PIDE. Também não foi nada fácil, muito embora o final fosse estilo tourada. Eu já te explico. Aquela malta - refiro-me aos locais - estava possessa e queria que os presos fossem libertados de imediato. Começou-se a juntar a multidão, com cada vez mais gente, e nós, ou seja, eu e os meus homens, éramos poucos - creio que uma secção, ou coisa que o valha - tínhamos a maior das dificuldades em contê-los. Bom, lá fui à cadeia e libertei os 7 que lá se encontravam (sim, seriam 7, mas não te posso garantir o número exacto), isto perante a gritaria constante daquela gente. As coisas podiam dar para o torto, porque estavam todos excitadíssimos. Quando os gajos vieram para a rua, a multidão avançou para mim e eu, muito francamente fiquei, então, com um cagaço dos antigos. Estava a ver que podia ser linchado. Mas, não, levaram-me aos ombros como um toureiro e andaram a passear-me pelo centro de Bissau. Transformaram-me em herói. Não ganhei para o susto, mas tudo bem. O que te fui contando e que tu percebes melhor que ninguém, pois também por lá andaste, fica-nos gravado na memória. Por muito que a gente queira, isto não desaparece. Eu não andei aos tiros no mato, como tu e outros, mas vivi estas coisas na cidade intensamente. Hoje, tenho o meu emprego, à espera da reforma, a minha mulher, filhos e netos, enfim a vida que todos têm ou deviam ter. O que passei em África, está ultrapassado, mas fica sempre qualquer coisita, não é verdade?


Bissau actual
Foto de Paula Tábuas © copyright

Caso 3

Empresário com algum sucesso, o António, hoje, sexagenário, com graves problemas de artrose, lá consegue movimentar-se agarrado a uma bengala. A sua história é igual à de muitos outros, com algumas diferenças, que não são simples matizes.
- Alferes miliciano de infantaria, a minha especialidade eram as armas pesadas, andava lá para o Sul com os morteiros de 105. Veio o 25 de Abril e pouco depois tudo aquilo entrou em parafuso. Ninguém mandava em ninguém. Os soldados não queriam combater. Os “turras” confraternizavam connosco. Nada do que assisti fazia sentido e se comparássemos com o que se tinha passado uns meses antes, em que andavas para ali aos caídos a apanhar no toutiço, a comer mal e a ser comido pelos mosquitos, menos sentido fazia. Era um ver se te avias. Eu não sabia muito bem como aquela história ia acabar. Enfim, lá nos mandaram embora e para aqui viemos. Mas a verdadeira história é por cá que começa, na Santa Terrinha. Cheguei e o que eu queria era beber umas cervejolas e comer umas gambas, descontrair, gozar a vida, depois de ter passado o que passei lá pela mata da Guiné, o que quer que viesse a seguir que se lixe, ficava adiado - era para se pensar nisso mais tarde. Mas um gajo chega e, no fundo, o que é que vê? Um país em convulsão, tudo excitado e aos berros, todos a quererem tudo ao mesmo tempo, já, neste instante, agora. Estás a ver? Lembras-te, com certeza. Mas o pior nem sequer era isso. O pior é quando te acusavam de teres estado em África a matar pretos. ‘Então voltaste, mataste muitos pretinhos, não foi?’ diziam-me. De repente, éramos os maus da fita e mesmo os amigos voltavam-nos as costas. Todos eram revolucionários, comunistas, socialistas, maoístas, eu sei lá. E depois nós que andámos ali a bater com elas, éramos desconsiderados, desrespeitados, insultados. Em nenhuma parte do mundo, os militares que combateram pelo seu país foram tratados desta forma, como se fossem criminosos. O problema foi da Nação, foi colectivo e não apenas nosso, dos combatentes. Limitámo-nos a cumprir ordens que nos vinham pela cadeia hierárquica e não éramos nenhuns nazis: não fizemos nada contra a nossa consciência, nem contra os nossos princípios. Sabes, o sermos tratados como lixo é que me doeu. Essa imagem é que está gravada no meu espírito. Esta gente foi profundamente ingrata. A bolanha e os tiros esquecem-se, mas quando os teus compatriotas e os teus supostos amigos te tratam como se fosses merda, aí não te esqueces, nunca mais.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14713: Notas de leitura (724): “Olhos de Caçador”, de António Brito, Porto Editora, 2014 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14721: Convívios (686): XI Encontro do pessoal da CART 1742 (Os Panteras) (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), levado a efeito no passado dia 30 de Maio em Viana do Castelo (Abel Santos)

OS PANTERAS DA CART 1742

1. Em mensagem do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), chegou até nós o rescaldo do XI Encontro do pessoal da sua Unidade, levado a efeito no passado dia 30 de Maio de 2015.


XI Almoço/Convívio e 46º aniversário do regresso a Lisboa (13 de Junho de 1969) da Companhia de Artilharia 1742 (OS PANTERAS) Nova Lamego e Buruntuma (1967/69)


Realizou-se no passado sábado 30 de Maio de 2015 na bonita cidade minhota de Viana de Castelo, o encontro anual com formatura no campo Senhora da Agonia da CART 1742. De seguida, a tropa e seus acompanhantes dirigiram-se para a igreja local para assistirem à missa de sufrágio pelos camaradas já falecidos.

Cumprida essa missão, a tropa respondendo à voz do seu comandante, dirigiu-se para o restaurante o Camelo em Santa Marta de Portuzelo local onde fui degustado um lauto manjar minhoto, como è apanágio das gentes minhotas, desde já os meus parabéns à gerência, e que são também extensivos ao Manuel Parente pela organização deste evento.

Bolo comemorativo

E assim o repasto foi-se prolongando, aqui e ali regado com o bom néctar da região, ao qual os camaradas teceram rasgados elogios. Mais tarde depois de já estarem alimentados e, regados, procedeu-se à distribuição de lembranças aos camaradas, o certificado de presença, uma peça de artesanato que atesta a passagem da CART 1742 por Viana do Castelo, e por fim o cerimonial de cortar o bolo comemorativo do encontro, e sua distribuição pelos presentes, acompanhado pelo habitual espumante, altura aproveitada para endereçar a pasta à nova equipa liderada pelo camarada José Ribeiro de Guimarães local do novo evento.


Peça de artesanato oferecido aos participantes, alusivo ao Encontro deste ano

Foi mais um dia de fervor castrense, e que mais uma vez ficou demonstrado o quanto estes homens, que apesar de terem constituído família, nunca esqueceram os laços que se interligaram no distante ano de1967, bem hajam.

Igreja da Senhora da Agonia

Barbosa, Figueiredo, P. Mendes, Lopes e Viola. 

Barbosa, Abel, Dantas e Pires

 Barbosa, P. Mendes, Ribeiro, J. Mendes e ex-Alf Mil Figueiredo

Texto, fotos e legendas: © Abel Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14656: Convívios (685): A Magnifica Tabanca da Linha - Encontro de 21 de Maio de 2015 - Resumo das ocorrências (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P14720: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (7): Levantar minas. Ponte interrompida

1. Em mensagem do dia 31 de Maio de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 7.ª página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74

7 - LEVANTAR MINAS. PONTE INTERROMPIDA

5 de Maio de 1973 (sábado)

É a primeira grande saída do meu grupo de combate (GC) para o mato, em sobreposição com um GC da Companhia que viemos render. Ao todo somos cerca de 60 homens. Vamos fazer um levantamento de minas antipessoais (A/P) num troço do carreiro turra de Uane. Para o interceptar, saímos por trilhos e a corta-mato, como se fôssemos para o rio Corubal, lá muito longe.
Os “velhinhos” parecem confiantes, mas são pouco faladores, como já tinha notado antes. Se eu tiver dúvidas em relação à progressão ou relacionadas com o campo de minas, já sei que terei de estar sempre a perguntar e esperar respostas curtas. Mas esta operação para mim é muito importante, porque depois de eles levantarem as minas que lá haviam instalado, terei de ser eu a voltar lá, só com o meu GC, e instalar as minhas.
[Hoje não entendo porque ficou a zona desminada até eu voltar lá de propósito para voltar a minar].

Depois de chegados à zona minada, o pessoal ficou na orla da mata à distância e os especialistas, eu incluído, dirigimo-nos para o campo aberto onde passa o carreiro, a fim de o localizar. Croquis nas mãos, procurando referências no terreno e picando sempre, chegámos ao carreiro e às minas. Não tendo anotado na altura, não recordo quantas eram mas sim que nenhuma tinha sido accionada e que todas foram levantadas sem problemas, embora com alguma demora devido às questões de segurança a respeitar. Fiquei com a impressão de que a implantação era demasiado óbvia, e tinha deixado alternativas aos turras para as evitarem. É uma lição a colher. Aproveitámos para trocar impressões sobre os problemas relacionados com a época do ano em que se implantam as minas e se fazem os croquis, para não haver grandes surpresas se as formos levantar numa época diferente. (...).

O que mais me agradou nesta operação, e porque não estava a contar, foi termos saído dali em direcção ao rio Corubal e não de volta ao aquartelamento, como era suposto. Foram mais uns 13 quilómetros por mata cerrada que ia mudando de características à medida que nos aproximávamos do rio, cada vez mais bela e luxuriante. Sem querer abusar de efusões líricas, anoto que era assim a África do meu imaginário. Muito diferente da mata grotesca e irregular, intercalada de savana árida, que já conheço. Caminho com entusiasmo, esquecido de fadigas, e tento absorver aquela beleza e a paz que transmite, só perturbada pelo latir, ao longe, dos macacos cães, segundo me informaram porque, com ingenuidade, tinha perguntado se morava para ali alguém..., e os latidos parecem de cães a sério.

Rio Corubal e ponte interrompida. 
Imagem retirada da Google Earth, tal como as duas seguintes, com a devida vénia.

Saímos da mata e deparámo-nos com um terreiro magnífico. Na nossa frente, ainda meio oculta, a surpresa que nos tinham prometido à saída do campo de minas: A PONTE INTERROMPIDA!
[Só muitos anos depois saberia o seu verdadeiro nome: Ponte Marechal Carmona. E, apesar de tantos anos decorridos, ainda hoje lamento não ter podido fotografar tudo o que vi ].

Entramos no tabuleiro da ponte e quase me emociono: tão longe de tudo, perdida no meio do mato, ali está uma obra portentosa e bela, a provar que naquele sítio remoto, houve gente a construí-la, houve gente a passá-la de uma margem para a outra do enorme rio.

Ponte interrompida e troço do tabuleiro que eu explorei.

Fico sempre impressionado quando, no meio do nada, encontro um vestígio da obra humana ainda que já inútil, como é o caso desta. Caminho ao longo deste troço da ponte atento ao estado de conservação, ainda razoável, do piso e das guardas laterais, até ficar perante o corte do tabuleiro onde a ponte é interrompida. Em baixo, o Corubal corre manso, como uma massa mole e negra que impressiona. A mata, nas duas margens, entra pelo rio dentro. Não se vislumbram pontos de penetração nas margens que indiciem travessias mas, dada a largura enorme do rio, não há certezas.

Pergunto aos graduados dos “velhinhos” quem cortou a ponte, mas não sabem dizer: «Diz-se que foram os sapadores da NT para impedir a passagem dos turras, mas também se diz que foram os turras para nos impedir a ligação entre Aldeia Formosa e o Xitole, Bambadinca, etc.». A hipótese de derrocada não é referida e, de facto, os cortes no tabuleiro parecem perfeitos demais para terem origem numa derrocada. Mas também é certo que se houvesse derrocada de pegões e o tabuleiro quebrasse pelas juntas, o corte pareceria perfeito. Ficará sempre a dúvida.

Ponte interrompida numa imagem Google Eart recente (2015), onde é visível um novo corte do tabuleiro, próximo da margem oposta. É por demais evidente que se trata de uma derrocada actual. Donde, apesar da longa separação temporal entre o primeiro corte e este, é de admitir que, afinal, a ponte ruiu simplesmente.


Chegamos a Nhala já tarde e exaustos. Para primeira saída para o mato, foi uma caminhada dura. Durante a formatura da ordem para verificações de segurança, antes do merecido descanso, tenho um dissabor com o meu GC que me deixou furioso. Os soldados andaram todo o dia carregados com as granadas de morteiro às costas e não levaram o respectivo tubo. Em caso de necessidade, apenas poderíamos municiar o pelotão “velhinho”! Como foi possível? Os furriéis não souberam responder, mas eram responsáveis por secções de homens e armamento. Certo é que o principal responsável fui eu. Mas o que mais me enfureceu foi ninguém me ter dito nada, a ver se passava, pois não acredito que ao longo de todo o dia não se tivessem apercebido da falha. Como lição valeu, e fica registada. Terei de estar mais vigilante.

(Ao transcrever notas como estas, bagatelas com mais de 40 anos, interrogo-me amiúde: que interesse tem tudo isto? E interessa a quem? Mas depois penso que é engraçado rever estas vivências com os olhos e o senso de quem já passou a barreira dos 60 anos. Éramos quase adolescentes, embora muitos com grandes responsabilidades. E pode ser que venha a ter ainda mais interesse para os meus descendentes. Sim, porque embora eu publique tudo isto no nosso Blogue, quiçá enfastiando os meus queridos camaradas, a razão última destas transcrições, (adiadas de ano para ano), é constituir uma espécie de espólio diarístico – não sei se lhe poderia chamar “diário” – a que juntarei as minhas fotografias, para os meus descendentes saberem algo mais desta fase da minha vida. Que nunca interessou à minha filha nem à restante família, nem aos amigos).

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14691: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (6): Chegada a Nhala