quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18052: Os nossos seres, saberes e lazeres (243): Em Vila de Rei, um passeio em relance (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 1 de Setembro de 2017:

Meus queridos amigos,
Quem desfruta de uma vista desafogada a partir da barragem do Cabril, pode organizar passeios nas redondezas, maravilhas não faltam: a casa de Malhoa em Figueiró dos Vinhos, localidade que possui um belo centro cultural com exposição permanente de artistas naturalistas; em Cernache do Bonjardim, é possível visitar o Colégio das Missões, daqui partiram missionários para todos os pontos do império e também é possível visitar o ateliê de um grande pintor, Túlio Vitorino.
Encurtando razões, estas localidades de interior, acoitadas por falta de indústria, pela fuga dos jovens que desesperam pela inexistência de trabalho, temos aqui tributos de resistência que são as bibliotecas municipais, o cinema aos fins de semana, as casas de cultura, os festivais gastronómicos e muito belas praias fluviais.
Este passeio por Vila de Rei foi só para despertar o apetite, aqui se regressará, e de muito boa vontade.

Um abraço do
Mário


Em Vila de Rei, um passeio em relance (2)

Beja Santos

Estando o viandante exatamente no centro de Portugal, saciada a curiosidade com a visita à biblioteca municipal José Cardoso Pires, não havendo condições para desfrutar o que o município oferece entre a ribeira do Codes e o rio Zêzere, neste território que até lembra uma península, que é bastante montanhoso, e para o caso basta relembrar a Serra da Melriça onde se alberga o Centro Geodésico de Portugal, aproveita-se o tempo útil a dar umas passadas pela vila, ficará para mais tarde uma visita aos museus de Geodesia, ao municipal e ao da escola da fundada, e até mesmo a Água Formosa, aldeia de xisto muito procurada pelo caráter arquitetónico.



Logo este fontanário que corresponde a um tempo em que se azulejava com o mesmo espírito em que se acreditava que a arte deve estar à disposição do povo, assim se encheram de azulejos gares ferroviárias, nunca se esqueça a estação de S. Bento, uma catedral do azulejo. Em Lisboa, goza fama o que foi a fábrica Viúva Lamego, o edifício virado para a Avenida Almirante Reis e a esplendorosa fachada em pleno largo do Intendente. Azulejos icónicos, os fontanários perderam funcionalidade, o que é de lamentar, pois criariam outro ambiente a esta arte pública, como agora soe dizer-se. E que belos são estes azulejos, verso e reverso.


O viandante, está-lhe na massa do sangue, fareja tudo quanto é porta, portal ou portada. Esta está descorada, desprezada, talvez a aguardar uma substituta, toda metalizada. É uma relíquia do passado, a pintura está escalavrada, tem tons ferruginosos. Enfim, um mundo antigo, irrecuperável. Todos iremos perder com a substituição desta porta, neste espaço marcado por património virá talvez a modernização e a perda de caráter.


Entrou-se no arco, percorreu-se nas duas direções, a da plena luminosidade e a do claro-escuro, como a claraboia a meio a lançar um jato de luz. Conferidas as imagens, foi esta que prevaleceu, do negrume se parte para a luz, só por deambular entre os arcos valeu vir a Vila de Rei.


Pediu-se respeitosamente à proprietária licença para reter esta ondulação da varanda, a senhora sorriu, agradeceu e recolheu-se. O que era mais importante não cabe na fotografia, é a elegância da varanda que altera, por ilusão de ótica, o comprimento da fachada. A despeito desse revés, compartilha-se da fruição dessa onda de mar desenhada pelo ferro.


É na subida desta rua antiga que temos mais azulejo, desta vez uns serafins rubicundos a encimar duas colunas floreadas. O viandante pôs-se a perguntar onde reside a força peculiar deste azul e branco que tudo realça, que dá um ar moçoilo a estas paisagens urbanas, tão próximas da paisagem rural, e não obtém resposta. O azul é rei em Vila de Rei.


Consta que esta porta vem de um passado muito antigo, trata-se de uma igreja sofredora, por aqui andaram franceses invasores que profanaram o templo, sabe-se lá o que pilharam, se cuspiram nas imagens ou derribaram alfaias religiosas, tabernáculos ou até mesmo esfaquearam quadros. A esta hora do dia, esses pensamentos deixam de ser contabilizáveis, o fascínio é a luz, o seu transporte, o que escurece e o que encandeia. Há um pintor português, Manuel Amado, que brinca com estes contrastes, com vigor e engenho. O que importa é que o viandante não quis perder aquele capricho de luminosidade, ele aqui fica.


Para a próxima, é por aqui que recomeça o passeio, na picota da Serra da Milriça, é o museu de geodesia, a vista é um desfrute, acreditem. Quem lá for notará duas coisas bem curiosas: a rebeldia na natureza, o verde ao cimo da terra depois dos grandes incêndios que aqui ocorreram em 1986 e 2003; e postando o olhar noutra direção a recente desolação do incêndio de 2017 que desfalcou em grande parte uma das freguesias do seu coberto florestal. Mas mesmo com terra calcinada, a panorâmica é incomparável. Só para estar aqui, com vista tão desafogada, vale a pena viajar de onde quer que seja até Vila de Rei.
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18022: Os nossos seres, saberes e lazeres (242): Em Vila de Rei, à procura de José Cardoso Pires (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18051: Consultório militar do José Martins (27): Memórias de Guerra (2): Distritos de Coimbra, Aveiro e Porto


1. Segundo poste do trabalho de pesquisa do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), composto por sete postes, sobre as Memórias de Guerra (Grande Guerra e Guerra do Ultramar), espalhadas pelo país e estrangeiro, trabalho este que pode ser corrigido ou actualizado pelos nossos leitores. 




(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18049: Consultório militar do José Martins (26): Memórias de Guerra (1): Distrito de Leiria

Guiné 61/74 - P18050: Manuscrito(s) (Luís Graça) (132): a nossa história trágico-marítima: mais um barco de pesca, de Ribamar, Lourinhã, que naufraga, roubando a vida a 4 pescadores... 13 barcos em meio século, 40 mortos.



1. Reproduzo aqui parte da mensagem comunitária, com data de 3 do corrente, que recebi do meu amigo Padre Joaquim Batalha, pároco de Ribamar, Lourinhã, e presidente da Fundação João XXI - Casa do Oeste, acompanhando o envio da do Farol - Folha Paroquuial,   ano XIII, nº 13, de 3 de dezembro de 2017:



Amigos

Paz e Bem com votos de uma boa semana também.

Na semana finda caiu mais uma vez o luto sobre Ribamar, esta nossa querida terra de pescadores. Mais um barco naufragou e tirou a vida a uma companha de quatro  marinheiros [, três deles de Ribamar, Lourinhã,  e um outro da vizinha Maceira, Torres Vedras].

Com este já são 13 barcos, nos últimos 50 anos. Neles morreram mais de 40 homens.

Já fizemos o funeral de três destes quatro  pescadores, mas ainda falta o corpo do mestre do barco “Veneza”. Hoje as notícias vinham a dizer que o navio hidrográfico já encontrou o “Veneza” a 80 metros de profundidade. Será que irão encontrar o Orlando,  preso na casa do leme?

Andamos todos ansiosos, sentidos e tristes com mais esta tragédia. Por isso na próxima 5ª feira vamos celebrar Missa de 7º dia por estes nossos irmãos: Orlando Fonseca, Leonel Candeias, José F. Henriques e o Paulo Jorge. Deus se compadeça deles e os acolham na Sua Misericórdia e às suas famílias tão doridas as conforte, confirme na Fé e na Esperança da Vida eterna.

(...) Solidários em poupar água…

Abraço-vos com amizade e gratidão. Paz e Bem e Feliz Advento também! Pe.Batalha

Joaquim Batalha
padrebatalha@gmail.com


2. Nota de Luís Graça, cuja bisavó materna era de Ribamar, Lourinhã, do "clã" Maçarico, Maria Augusta Maçarico (1864-1932):

Não resisto a comentar esta notícia, mesmo podendo ser acusado de  infringir uma das regras básicas do nosso blogue que nos "proibe" de  falar da "atualidade"... Mas onde, camaradas e amigos,  é que começa e acaba a guerra da Guiné que é o nosso "objeto de estudo e de escrita" ?

Já aqui em tempos escrevi que o concelho da Lourinhã, donde sou natural,  também tem a sua elevada quota-parte na história trágico-marítima deste país. Entre 1968 a 2000, por exemplo, estavam contabilizados seis naufrágios de barcos de pesca onde tinham morrido três dezenas de filhos da terra, com especial destaque para as gentes de Ribamar (fora outros acidentes de trabalho mortais, cujo número se desconhece).

Um desses naufrágios, ao largo do Cabo Carvoeiro, Peniche, foi o do barco Deus é Pai, em 26 de março de 1971,  tinha eu acabado de regressar da Guiné, Os restantes foram os do Certa (15 de maio de 1968), Altar de Deus (6 de novembro de 1982), Arca de Deus (17 de fevereiro de 1993), Amor de Filhos (25 de julho de 1994) e Orca II (antigo Porto Dinheiro) (19 de julho de 2000). [Fonte: Cipriano, Rui Marques (2001) – Vamos falar da Lourinhã. Lourinhã: Câmara Municipal da Lourinhã].

Entre estes homens há parentes meus, da grande família Maçarico, de Ribamar, Lourinhã.

Sobre o barco Deus é Pai, lembro-me de se dizer, na época, que fora cortado ao meio, à noite,  por um cargueiro russo, e que os náufragos teriam sido levados, vivos, para aquele país da "cortina de ferro", na altura a URSS... Estávamos em plena guerra fria e em África (Guiné, Angola, Moçambique) eram  armas russas e chineses que nos matavam e estropiavam... (Também nunca esqueço isso!).

Em vão esperaram por notícas deles, as "viúvas dos vivos", vestidas de preto... Os únicos destroços que deram à praia terão ao sido restos de redes e a tabuleta com os dizeres "Deus é Pai".

Depois de 2000, houve outros tantos naufrágios, a fazer fé na contabilidade do pastor das almas daquela terra que me diz muito, o padre Batalha. Ele fala em 13 naufrágios e mais de 4 dezenas de mortos... É um balanço trágico!

E vem a propósito evocar aqui  o filme do João Botelho, "Peregrinação", que se estreou recentemente, em 1 de novembro p.p., e que eu fui ver no cinema "Ideal", no Chiado... O filme inspira-se na obra do Fernão Mendes Pinto, "Peregrinação", o nosso primeiro "best-seller" de viagens... A música é do Fausto, ou grande parte dela, reconheci músicas e letras que tinha no ouvido... Ou melhor: a música de Luís Bragança Gil e Daniel Bernardes,   a partir do álbum “Por este rio acima”, de Fausto Bordalo Dias .

Os portugueses nunca leram a "Peregrinação"!... e alguns de nós, mais mesquinhos,  foram perpetuando o mito de que o Fernão Mendes Pinto era um desprezível impostor, denegrindo a "grandeza" da nossa "epopeia dos Descoberimentos... Brincávamos com o sue nome:
- Fernão,  mentes »
- Minto!

Ora a "Peregrinação é um livro maior da literatura portuguesa!... É produto nacional, muito mais do que o CR7 ou que a pera rocha do Oeste...

O filme, claro, é uma (impossível)  adaptação das aventuras e desventuras do "tuga" quinhentista!... Foi filmado na China, Japão, Índia, Malásia, Vietname e Portugal...

È um filme português que merece ser visto, . ... Som e imagem e direção de atores impecáveis... Quatro estrelas em cinco!...

O  "trailer" pode ser visto aqui. E a sinopse diz o seguinte: 

"...e assim partimos contra a razão,
sem nenhuma lembrança dos perigos do mar!"

“Em março de 1537, aos 26 ou 28 anos, Fernão Mendes Pinto, fugindo à miséria e estreiteza da sua vida, partiu para a Índia em busca de fama e fortuna”. Assim, no meio de uma terrível tempestade, começa este filme que relata os sucessos e as desventuras deste escritor aventureiro que, no decurso de 21 anos em que esteve no Oriente, foi “13 vezes cativo e 16 ou 17 vendido”. 

Mas, em vez da fortuna que pretendia, foram-lhe crescendo os trabalhos e os perigos. Aventureiro sim, mas também peregrino, penitente, embaixador, soldado, traficante e escravo, Fernão Mendes Pinto foi tudo e em toda a parte esteve. 

“Por extraordinária graça de Deus” regressou salvo para nos deixar um extraordinário livro de viagens, numa escrita hábil e fulgurante, carnal e violenta, terra-celeste. Esse livro de viagens editado três dezenas de anos após a sua morte transformou-se no primeiro best-seller da língua portuguesa, sendo traduzido e publicado em todos os reinos da Europa. 

A PEREGRINAÇÃO que agora vos apresentamos narra pedaços dessa observação aguda, exacerbada, exagerada que, na sua fascinante pressa de contar, aquele aventureiro dos sete mares nos deixou. Desventuras sim (“cada acção tem uma paga, cada pecado um castigo”) mas também sucessos: o cometimento e a grandeza das descobertas ou “achamentos” de outras terras e de outras gentes,no século de oiro da História de Portugal. 

Um filme de aventuras!"...

Fico com  vontade de voltar a ouvir o álbum do Fausto (editado em CD, pela CBS, em 1984, "Por
este rio acima"...Recordo-me de o ter oferecido, mais tarde, ao meu filho, que nasceu justamente nesse ano).

(...) Vou no espantoso trono das águas,
vou no tremendo assopro dos ventos,
vou por cima dos meus pensamentos,
arrepia,
arrepia,
e arrepia ,sim senhor,
que vida boa era a de Lisboa (...)




Naufrágio do "Galeão Grande S. João", uma ilustração da Historia Trágico-Marítima de 1735. Cortesia de Wikipédia.

Por Este Rio Acima baseou-se justamente-se nas aventuras de Fernão Mendes Pinto, relatadas na livro Peregrinação (1614). O álbum seguinte, o sétimo do Fausto,  Crónicas da Terra Ardente (1994), seria por sua vez  inspirado pela História Trágico-Marítima,  de Bernardo Gomes de Brito,  "colecção de relações e notícias de naufrágios, e sucessos infelizes, acontecidos aos navegadores portugueses",  publicada em dois tomos no tempo de D. João XV (1735 e 1736). (Os especialistas estimam que,  nos séculos XVI e XVII,  terá naufragado  um navio em cada cinco dos que partiram de Lisboa com destino à Índia.)

Por Este Rio Acima é considerado, pela crítica especializada, como um dos grandes álbuns da música popular portuguesa do pós-25 de Abril. Eu não tenho dúvida. Mas quando é que nós, portugueses,  aprendemos a dar valor ao que é nosso e aos nós próprios ?

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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18049: Consultório militar do José Martins (26): Memórias de Guerra (1): Distrito de Leiria


1. Vamos começar a publicar hoje um trabalho de pesquisa do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), que se prolongará por sete postes, sobre as Memórias de Guerra (Grande Guerra e Guerra do Ultramar), espalhadas pelo país e estrangeiro, trabalho este que pode ser corrigido ou actualizado pelos nossos leitores.





(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17776: Consultório militar do José Martins (25): lista das companhias que estiveram em Empada depois da CCAÇ 616 (1964/66), a pedido do Joaquim Jorge, régulo da tabanca de Ferrel, Peniche

Guiné 61/74 - P18048: Agenda cultural (615): Lisboa, Casa do Alentejo, hoje, 5 de dezembro, 19h00: apresentação do livro "Cantar no Alentejo" (organizado por Rosário Pestana e Luísa Tiago de Oliveira)... Atuação, no final, do Grupo Coral Cantadeiras de Essência Alentejana, de Almada


Capa do livro, edição da Estremoz Editora


Convite


1. Mensagem da Maria Luísa Tiago Oliveira, com data de 3 do corrente:

Car@s amig@s:

Convido-vos para uma sessão no próximo dia 5 de Dezembro na Casa do Alentejo, [Rua Portas de Santo Antão, 58,] em Lisboa, pelas 19h00, de apresentação do livro Cantar no Alentejo. A terra, o passado e o presente, coordenado por Maria do Rosário Pestana e Luísa Tiago de Oliveira

Este livro partiu de uma Conferência realizada no âmbito das Festas do Cante em Monsaraz, que reuniu estudiosos de diferentes áreas disciplinares (Antropologia, Etnomusicologia, História e Sociologia), com cantadores, letristas, autarcas e outros interessados no Cante Alentejano.

Prefaciado por Salwa Castelo-Branco, o livro divide-se em duas partes. Na primeira, contém capítulos escritos por Fernando Oliveira Baptista, Ema Pires e Daniel Rodrigues, Dulce Simões, Susana Mareco, Maria José Barriga, Maria do Rosário Pestana,Luísa Tiago de Oliveira e Paulo Ferreira da Costa. A segunda parte do livro consta de uma mesa-redonda, marcada pela espontaneidade e pela multiplicidade de perspectivas, com intervenções de cantadores, de decisores e de alguns dos autores anteriores. Neste debate, moderado por Jorge Freitas Branco, participaram Ana Paula Amendoeira, Anabela Caeiro, António Caixeiro, David Pereira, Dulce Simões, Joaquina Margalha, José Pedro Fernandes, José Pereira, Luís Caixeiro, Luís Filipe Marcão, Maria Antónia Zacarias, Maria José Barriga, Paulo Costa, Pedro Mestre, Maria do Rosário Pestana, Serafim Silva e Susana Mareco.

No seu conjunto, o livro permite uma abordagem nova e multi-situada da questão da terra, da memória e do património que, hoje, se encontram numa encruzilhada.

A apresentação contará com a actuação do Grupo Coral Cantadeiras de Essência Alentejana, de Almada.

Teria muito gosto em vos ver por lá. Até breve,

Luísa Tiago de Oliveira
ISCTE-IUL


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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18038: Agenda cultural (614): Lisboa, dia 12, 3ª feira, 18h00, Instituto de Defesa Nacional: sessão de lançamento do livro "...Da descoloniização: do protonacionalismo ao pós-colonialismo", do maj gen Pedro Pezarat Correia. Apresentação a cargo dos prof dout Luís Moita e Carlos Lopes

Guiné 61/74 - P18047: Fotos à procura de... uma legenda (97): O que é ser português hoje na "ponta mais o(a)cidental da Europa"? As coroas de flores, de muitas cores e feitios, das comemorações (oficiais) do 1.º de dezembro de 2017...


Foto nº 1 > Exército Português


Foto nº 2 > Força Aérea Portuguesa (FAP)


Foto nº 3 > Marinha Portuguesa


Foto nº 4 > Polícia de Segurança Pública


Foto nº 5 > Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA)


Foto nº 6 > Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Lisboa


Foto nº 7 > Presidente da República Portuguesa e Comandante Supremo das Forças Armadas


Foto nº 8 > 1º Ministro, António Costa


Foto nº  9 > Assembleia da República


Foto  nº 10 > > General CEMGFA (Comandante do Estado Maior General das Forças Armadas)


Foto nº 11 > Lisboa, 1 de dezembro de 2017 > Monumento aos Restauradores (pormenor)


Foto nº 12 > Lisboa > 1 de dezembro de 2017 > Monumento aos Restauradores (pormenor)





Foto nº 13 > Lisboa > 1 de dezembro de 2017 > Monumento aos Restauradores (pormenores)


Foto nº 14 > Lisboa > 1 de dezembro de 2017 > Praça dos Restauradores > 6º Desfile de Bandas Filarmónicas (pormenor)


Foto nº 15 > Lisboa > Av da Liberdade > 1 de dezembro de 2017 >   6.º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas > Uma representação da banda da AMAL - Associação Musical e Artística Lourinhanense, cuja origem remonta a 1878: da esquerda para a direita, Pedro Margarido, presidente da União das Freguesias da Lourinhã e Atalaia; Paulo José de Sousa Torres,  diretor da AMAL (e meu primo em 3.º grau)  e a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro... O puto é o "porta-estandarte" da AMAL que tem uma escola de música e um grupo de teatro...

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Não fui  (aliás, nunca fui...) às comemorações oficiais do 1.º de dezembro, que voltou a ser feriado nacional na nossa terra em 2016. Mas fui à tarde, a Lisboa, à Av da Liberdade e à Praça dos Restauradores, ver as bandas e o desfile de mais de 1900 homens, mulheres e crianças das bandas filarmónicas do meu país... que é uma forma popular, agora em 6.ª edição, de comemorar esta data histórica da nossa pátria...

Mas interrogo-me sobre o significado de tudo isto: as cores e os feitios das vistosas coroas de flores, deixadas de manhã pelas instituições que nos representam, da Presidência da República à autarquia, passando naturalmente pelas Forças Armadas... E que ainda estavam viçosas, à tarde, quando por lá passei...

Afinal, o que é ser hoje português? E o patriotismo, ainda existe e faz sentido? Pode ser uma reflexão (idiota) de um homem que um dia vestiu a farda do exército português  para ir "defender a Pátria" a milhares de quilómetros de casa... Na Guiné, em 1969/71...

Qual a diferença e semelhança entre mim e os meus antepassados que lutaram na "guerra da restauração" (1640-1668), na sequência da rutura com a "monarquia dual" sob a qual Portugal viveu (entre 1580 e 1640), o mesmo é dizer sob o domínio do ramo espanhol da casa de Habsburgo.

Se a geração que fez a guerra colonial (1961/74) tivesse nascido por volta de 1620, teria lutado contra a Espanha dos Filipes em inúmeras batalhas   por ex., Cerco de São Filipe (1641-1642); Montijo (1644); Arronches (1653); Linhas de Elvas (1659); Ameixial (1663); Castelo Rodrigo (1664); Montes Claros (1665); Berlengas (1666)... Mas também contra os holandeses no Brasil, em Angola, em São Tomé e Príncipe].

Que custo tem a independência de um país? O que é hoje ser independente? O que ganharam os aliados que nos apoiaram, e nomeadamente os ingleses? Sabemos que os ingleses ganharam um império e a autoestrada da globalização que lhes permitiu ser o 1.º país industrial do mundo...  E os holandeses ocuparam boa parte das posições portuguesas na Ásia...

Não há alianças grátis...nem inimigos de borla... E nesse tempo, os portugueses tiveram mais sorte do que os catalães, debaixo da pata dos Filipes, como nós... Sorte?... Foi apenas a sorte das armas?...

Para o menino da foto n.º 14, que toca caixa na banda da sua terra (, já agora gostava de saber qual...), ter vindo a Lisboa neste dia, é  coisa que ele nunca mais vai esquecer na sua vida... Como eu, quando vim pela primeira vez à "cidade grande", à "capital do império", com os meus 7 ou 8 anos... Mas eu não toquei, como ele, os 3 hinos: o da Restauração, o da Maria da Fonte e o Nacional, ao lado da Banda da Armada e mais 32 bandas civis, num total de 1900 músicos... (Tenho vídeos dessa atuação conjunta, que prometo pôr "on line")... Este menino estava na fila da frente, a 20 metros de mim, e é por estes meninos que temos de pensar que ser português hoje ainda vale a pena e faz sentido... Ele representa a geração dos nossos netos... (LG)

2. Ainda hoje temos um tremendo défice de patriotismo... Ou talvez melhor, de educação cívica e de conhecimento da nossa história pátria. Sem conhecimento da história da Pátria não há amor da Pátria... (Diga-se que, para mim, o patriotismo é incompatível com muitos outros "ismos", tais como etnocentrismo, chauvinismo, imperialismo, colonialismo,  racismo, xenofobia; o patriotismo é inclusivo: eu sou patriota na exata medida em que eu e o meu vizinho espanhol coexistimos, pacífica e solidariamente)...

Os portugueses, depois da "decadência nacional", com o fim da breve "época de ouro" dos finais dos séc. XV e princípios do séc. XVI, passaram a ter uma baixa autoestima coletiva... Acontece com outros povos... E a "restauração da independência" em 1640 foi um longo processo que ainda hoje continua... Afinal, o que é ser "independente", numa economia globalizada e num planeta ameaçado?...

De qualquer modo, orgulho-me de pertencer a um povo (uma comunidade, um território, uma história) que fala e escreve uma língua como o português... Pensar que há uma linha de continuidade de mil anos, ajuda-nos a ligar o passado, o presente e o futuro, e a lidar melhor com os altos e baixos da nossa história... A coletiva e a individual.

PS - Há mais de 4 décadas a trabalhar e a viver em Lisboa, tive a agradável surpresa de ver desfilar (e depois encontrar) os meus amigos da Lourinhã e os jovens músicos da AMAL, começando pelo Pedro Margarido, generoso e popular autarca que acompanhou a banda, e - surpresa das surpresas - o Paulo Torres, meu 3.º primo, na qualidade de diretor da AMAL... 

O mundo é pequeno e em português nos entendemos... O Paulo  pertence a uma família de grandes tradições musicais, com ligações à banda filarmónica local: estou-me a lembrar  do seu avô materno (o meu tio-avô Francisco  Sousa, o "Fofa") e o seu tio Carlos Sousa, sem esquecer o outro seu tio, o António Sousa, fundador e músico do conjunto "Dó-Ré-Mi" nos anos 50/60, todos já falecidos... O Carlos passou a paixão da música a um dos filhos, talentoso percussionista e promissor maestro... (Creio que faz parte da banda sinfónica do Exército, não tenho a certeza).

Por sua vez, a mãe do Paulo, a minha prima Milu, é uma pessoa que me é muito querida... Confesso que não o reconheci de imediato, ao Paulo, aparecido ali de repente na Av da Liberdade, junto ao autocarro que levaria os músicos de regresso a casa. E no entanto eu tinha estado muito recentemente com ele e a mãe, na Lourinhã. Disse-me que tem dois filhos na banda... É portanto a quarta geração dos Sousa!...

Um pouco de genealogia: a minha bisavó paterna, Maria Augusta Maçarico (Ribamar, 1864 - Lourinhã. 1932) casou com o José de Sousa, da Lourinhã, de quem tece 7 filhos nados-vivos, incluindo a minha avó, Alvarinha de Sousa, que irá morrer jovem, em 1922, de tuberculose, tinha o meu pai 2 anos... O meu avô paterno, Domingos Henriques, viúvo, casou pela terceira vez. O meu pai foi criado pelo Francisco Sousa, o "Fofa"... 

Esse casal, Maria Augusta Maçarico e José de Sousa, eram, pois, os nossos bisavós, meus e do Paulo Sousa Torres...
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Guiné 61/74 - P18046: Parabéns a você (1350): José Pereira, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 5 (Guiné, 1966/68) e Manuel Carvalho, ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf da CCAÇ 2366 (Guiné, 1968/70)


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Nota do editor

Último poste da série de > Guiné 61/74 - P18034: Parabéns a você (1349): Herlander Simões, ex-Fur Mil Art da CART 2771 e CCAÇ 3477 (Guiné, 1972/74)