terça-feira, 4 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18981: Agenda cultural (647): Inauguração da exposição "Gestos de Liberdade - Retrospetiva de Pintura de João António", a ter lugar no dia 7 de Setembro de 2018, pelas 18 horas, na Sede da Associação 25 de Abril, em Lisboa

C O N V I T E

INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO "GESTOS DE LIBERDADE - RESTROSPETIVA DA PINTURA DE JOÃO ANTÓNIO"

Dia 7 de setembro de 2018, pelas 18 horas, na sede da Associação 25 de Abril, em Lisboa

Organização de Patrícia e Carla, filhas do artista João António




A expoição estará patente até ao dia 21 de setembro de 2018 e pode ser vista de segunda a sexta das 12,00 às 19,00 horas

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João António [1950-2010] | Auto-didacta


Nasceu a 7 de Dezembro de 1950 em Memória, Leiria. 
Nos anos 60 matriculou-se no Liceu, em Leiria, onde teve o primeiro contacto com desenho (geométrico e decorativo). Nessa época, viu reconhecido pela primeira vez o seu mérito num trabalho sobre o Natal de 1963, pelo seu Mestre, o arquitecto Célio Cantante.

Mobilizado para a Guerra Colonial entre 19 de Abril de 1972 e 12 de Maio de1974, esteve como sargento miliciano na Guiné, Aquartelamento de Brá (Batalhão do Serviço de Material, Chefia do Serviço de Material do Quartel General - CTIG). Colaborou na ilustração de algumas revistas editadas na sua Unidade.

Exerceu a actividade bancária entre 1974 e 2000. Nesse período, colaborou na ilustração de vários programas culturais alusivos ao Natal na instituição bancária. 
Em 2000 reformou-se passando então a dedicar-se intensamente à obra pictórica aqui representada. 
A morte em 2010, veio ditar um fim abrupto de uma obra em plena expansão e entusiasmo.

Mostras Realizadas:
 Dezembro 2000: SIMBOLOGIA NAS IDEIAS – Mostra individual de Pintura e Desenho na Biblioteca Mouzinho de Albuquerque, na Batalha;
 Agosto 2001: SIMBOLOGIA NAS IDEIAS II – Mostra individual de Pintura na Galeria da Biblioteca Afonso Lopes Vieira, em Leiria;
 Setembro 2001: VIAGENS DO TEMPO – Exposição individual de Pintura no Centro Cívico Casinet D’Hostafrancs, Bairro de Sants, em Barcelona.
 Junho 2003 – Exposição colectiva de Pintura no Regimento de Artilharia n.º4, em Leiria;
 Setembro de 2004 – Exposição colectiva de Pintura nas Galerias Jardins do Lis, em Leiria;
 Abril de 2011: PINTO O QUE SINTO: EXPOSIÇÃO RETROSPECTIVA DA PINTURA DE JOÃO ANTÓNIO – Exposição individual, a título póstumo, na Livraria Arquivo Bens Culturais, em Leiria;

Representado em:
 Biblioteca Afonso Lopes Vieira – Leiria (Portugal)
 Câmara Municipal da Batalha (Portugal)
 Câmara Municipal de Leiria (Portugal)
 Câmara Municipal de Barcelona – Ajuntamento de Sants, Catalunha (Espanha)
 Jornal “Notícias de Colmeias” - Leiria (Portugal)
 Junta de Freguesia de Memória – Leiria (Portugal)
 Regimento de Artilharia n.º4 – Leiria (Portugal)
 Colecções particulares
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Notas do editor:

Vd. poste de 31 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18968: Em busca de... (289): Camaradas de armas do ex-Fur Mil João António (1950-2010) do Batalhão do Serviço de Material da Guiné (Brá, 1972/74), de quem vai ser inaugurada uma exposição de pintura na Associação 25 de Abril, em Lisboa (Dulce Afonso/A25A)

Último poste da série de 15 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18923: Agenda cultural (646): Conferência "História da Pesca do Bacalhau na Terra Nova", sexta-feira, 24 de agosto, às 20H00, no Ateneo Ferrolan, Madalena, Ferrol, província da Corunha, Galiza, Espanha (Capitão Aveiro)

Guiné 61/74 - P18980: Blogpoesia (583): "Eu amo", poema de Júlio Corredeira, Piloto Aviador Reformado (Mário Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Santos (ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12, Bissalanca, 1967/69), com data de 31 de Agosto de 2018:

Caro Carlos.
Com votos de que encontres bem, daqui te envio para publicação em tempo oportuno, mais um poema do meu bom amigo Piloto/Aviador reformado Júlio Corredeira.
Um hino ao amor e à vida que merece ser lido por todos que apreciam a beleza da palavra escrita com todo o seu esplendor e significado.

Grande abraço,
Mário Santos

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Eu amo

Eu amo a Natureza e tudo
o que ela encerra:
O mar, os rios, o límpido ribeiro,
As campinas de searas que enchem o celeiro
Ou a neve a cair nos píncaros da serra.

Amo as aves do campo que bicam a terra
Ou a terna andorinha que apanha o argueiro,
E deleitam-me as flores de aromático cheiro
E os animais da selva cuja voz me aterra.

Porém amo bem mais o sorrir da criança
Tão cheio de ternura, pleno de esperança,
Que, ás vezes, me parece uma vera miragem.

E amo todo o ser, um reflexo do amor
Que manifesta em si o dedo criador,
Mas, acima de todos, o Homem, sua imagem.

jc
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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18972: Blogpoesia (582): "Brilhantina espanhola", "Magia das manhãs" e "O regato da serra", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18979: Parabéns a você (1493): Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 488 (Guiné, 1963/65); José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73) e Torcato Mendonça, ex-Alf Mil Art da CART 2339 (Guiné, 1968/69)



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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18976: Parabéns a você (1492): Luís Gonçalves Vaz, Amigo Grã-Tabanqueiro, ex-Fur Mil PE (EPC - 1983/84)

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18978: In Memoriam (320): Joaquim Carlos Rocha Peixoto (Penafiel, 1949 - Porto, 2018) (Luís Graça / Alice Carneiro / Tabanca de Matosinhos / Francisco Baptista / Joaquim Mexia Alves / Ana Sequeira)



Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real >  26 de Junho de 2010 >  V Encontro Nacional da Tabanca Grande  > Uma foto para a eternidde... Uma foto, muito feliz, do Manuel Carmelita, grande fotógrafo, e grande amigo do casal: o Joaquim e a Margarida Peixoto, o nosso casalinho de professores de Penafiel, apanhados num belíssimo momento de descontracção e de ternura... (*)

Foto: © Manuel Carmelita (2010). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O professor do 1º ciclo do ensino básico Joaquim Peixoto e um grupo de alunos. S/d, s/l. Foto do arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


O escritor (José Ferreira) e... o professor (Joaquim Peixoto). Em segundo plano, ao fundo, ao centro, o José Cancela. um velho amigo e vizinho dos Peixoto (Joaquim e Margarida). O José Ferreira escreveu sobre ele uma história deliciosa, publicada aqui no nosso blogue, e a tradicional cortejo do carneirinho, em Penafiel, tradição única no país, que remonta ao ano de 1880.


Vila Nova de Foz Coa > Restaurante do Museu do Côa > 3 de setembro de 2013 >  O meu cunhado, Augusto Pinto Soares e o Joaquim Peixoto, numa visita que fizemos juntos, com as nossas mulheres, ao Museu do Coa, com viagem de comboio até ao Pocinho.

Foto: © Luís Graça  (2013). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Alguns dos seus amigos e camaradas da Guiné com quem convivia regularmente: da esquerda para a direita, José Manuel Moreira Cancela, Joaquim Peixoto,  José Manuel Lopes, Antonio Carvalho, Isolino Gomes e Manuel Carvalho. Foto de Manuel Carmelita, outro dos seus grandes amigos.

Fonte: página do Facebook do  Joaquim Carlos Rocha Peixoto.


Tabanca de Guilamilo, freguesia de Polvoreira, concelho de Guimarães... 21 de Agosto de 2011 > Sete magníficos (a contar da direita, Carvalho de Mampatá, Zé Rodrigues, Zé Manel Lopes, Zé Cancela, Joaquim Peixoto - régulo da tabanca-, Manuel Carmelita, Brito da Silva) mais um (Luís Graça, o fundador da Tabanca Grande)...

Foto (e legenda): © Luís Graça  (2011). Todos os direitos reservados.  [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Tabanca de Guilamilo, freguesia de Polvoreira, concelho de Guimarães > 21 de Agosto de 2011 > A arte de bem receber e partilhar  do casal Peixoto > À hora refeição, em que participou também o resto da família Peixoto (o filho e a filha da Margarida e Joaquim, mais o genro, marido da Joana).

Foto (e legenda): © Luís Graça  (2011). Todos os direitos reservados.  [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Cinfães, Porto Antigo, albufeira da Barragem do Carrapatelo > 29 de Agosto de 2011 > A Alice, o Joaquim Peixoto e a Margarida... O casal Peixoto veio à Tabanca de Candoz (Quinta de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses) retribuir a nossa, minha e da Alice, visita à Tabanca de Guilamilo,  no passado dia 21 de agosto de 2011.

Foto (e legenda): © Luis Graça (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Vizela > 30 de agosto de 2010 > Santuário de São Bento, a 410 metros acima do nível do mar, ao pôr do sol... Dois camaradas da Guiné, Joaquim Peixoto e Luís Graça, os dois primeiros inscritos na Tabanca de Guilamilo....

Foto (e legenda): © Luis Graça (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Joaquin Carlos Rocha Peixoto (Penafiel, 1949- Porto, 2018), Foto da página no Facebook.


Obrigado, Joaquim, pelo privilégio de te termos  conhecido... E até um dia, lá no Olimpo dos deuses, dos heróis, e dos amigos e camaradas da Guiné!... 



1. Conheci o Joaquim e a Margarida Peixoto por ocasião do IV Encontro Nacional da  Tabanca Grande, na Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria, em 20 de junho de 2009. Por um feliz acaso, apresentei-os à Alice  por que serem da mesma região; eles, de Penafiel, a Alice, do Marco de Canaveses... Ficámos, para sempre, bons amigos, os dois casais.

A Alice proporcionou logo a seguir, na sua casa, nesse verão o reencontro da senhora professora Margarida Peixoto com alguns dos seus antigos meninos e meninas...  A escola primária de Passinhos /Foz, no Marco de Canaveses, em 1972, foi o seu primeiro ano de atividade como professora. (**)

Eu e o Joaquim estivemos naturalmente presentes... Encantados. Foi um momento único, irrepetível. Como têm sido, para muitos de nós, alguns momentos aqui proporcionados pelo nosso blogue... De tal modo que já paga direitos de autor a frase O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande.

Em 11 de julho desse ano,  já se havia apresentado formalmente à Tabanca Grande  o Joaquim Carlos Rocha Peixoto, ex-fur mil inf,  com o curso de Minas e Armadilhas, da CCAÇ 3414 (Bafatá e Sare Bacar, 1971/73 (***).
CCAÇ 3414: Joaqiim Peixoto e Fernando Ribeiro (c. 1973)

Mas os nossos contactos remontavam já a 2007, quando o Joaquim respondeu a um pedido de
informação  nosso sobre o seu camarada Fernando Ribeiro, natural de Condeixa, morto em 1973 numa emboscada na estrada de Binta-Farim (****)

O nosso malogrado camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) nasceu em Canelas, Penafiel. O pai era um conceituado comerciante. Também tinha um irmão que já morreu.

Segundo os dados que constam na sua página no Facebook, andou no Colégio João de Deus, no Porto,  e frequentou o Liceu Nacional de Guimarães. Já depois depois de regressar da Guiné, e por conselho da sua namorada e futura esposa, fez o curso de professor  no Magistério Primário de Penafiel (*****).

Era casado, pai de um filho e uma filha, avô de dois netos (de 3 e 5 anos) que o adoravam. Foi professor do 1º ciclo do ensino básico, tendo-se reformado no Agrupamento Escolar de Penafiel Sul. Leccionou durante anos na Casa do Gaiato, em Paços de Sousa. Aí o professor também foi aluno, recebeu lições grandes de vida, por que naquela instituição acolhem-se e educam-se meninos da rua, alguns dos quais com dramáticas histórias de abandono, violência, exclusão social...

Sempre o conheci como  um homem simples, bom, discreto, sensível, reservado (mas nem por isso menos alegre e brincalhão), hospitaleiro, amigo do seu amigo, enquanto a Margarida, também nossa grã-tabanqueira (***),  é uma típica nortenha, de verbo fácil e a sensibilidade à flor da pele. Tive o privilégio de estar com eles, na sua belíssima casa nessa belíssma terra, que é Penafiel, da qual então era então um sítio de passagem, a camimnho de Candoz, desde 1975... O pouco que sabia, do tempo da guerra colonial,  é que Penafiel era a capital do vinho verde. Ora é muito mais do que isso: rica de história, património e gente boa. Uma terra que ele amava e de que tinha orgulho  (******).

Também passei, duas vezes, pela Quinta de Guilamilo, muito ligado à memória do seu pai, que ele estava a recuperar, e onde gostava de receber os amigos, e em especial dos camaradas da Guiné.


2. Depoimentos sobre o Joaquim Peixoto

(i) Luís Graça & Maria Alice Carneiro (*******):

Estivemos, ontem à noite, na Igreja das Freiras, em Penafiel, a despedirmo-nos do nosso amigo Joaquim, e a acompanhar na dor a Margarida, a sua filha e o seu filho... Apesar de tudo, era uma família que mostrava uma grande serenidade e dignidade... O Joaquim esperara por eles para morrer, em paz, ao fim da manhã!... Lucidamente, apenas com a morfina para lhe aliviar as dores físicas!...

Desgraçadamente era uma "morte anunciada"... Morre-se sozinho, sendo este o ato mais solitário da vida, mas a companhia dos que nos amam é um bálsamo!... Não há melhor morfina do que o amor e a compaixão!... Que lição extraordinária, esta, para todos nós que receamos esse momento derradeiro e fatal... Como iremos morrer? Às três da manhã, sozinhos, numa cama do hospital, o "terminal da morte", ou lúcida, digna, corajosamente, de mão dada com os que nos amam?... 

Que melhor despedida podia querer um homem bom e um grande camarada da Guné como o Joaquim?!

Soubemos pela Margarida, quanto bem lhe fez, em vida, o nosso blogue e as amizades que ele criou e alimentou na Tabanca Grande, na Tabanca de Matosinhos, na Tabanca dos Melros e na Tabanca de Guilhomil, em Guimarães, de que ele era o generoso e hospitaleiro régulo.

Obrigado/a, Joaquim, pelo privilégio de te termos conhecido... E até um dia, lá no Olimpo dos deuses, dos heróis, e dos amigos e camaradas da Guiné!... 

Malta da Tabanca de Matosinhos, vamos fazer-lhe a nossa homenagem de despedida no almoço de 4.ª feira? Eu e a Alice alinhamos, ainda estamos por cá esta semana!... E ver-nos-emos, mais logo, com certeza, às 15 horas, na derradeira despedida do Joaquim desta "terra da alegria".

À Margarida e à sua família apresentámos também os votos de pesar da Tabanca Grande e demais tabancas, incluindo a de Candoz.


(ii) Tabanca Matosinhos

Um Camarada que parte para a eternidade.

Joaquim Carlos Rocha Peixoto

Um camarada que parte deixa-nos sempre um pouco de si. O Peixoto deixou-nos muito de si:
- Deixou-nos a amizade profunda que sabia cultivar, enriquecida pela alegria, o seu sorriso, a sua meiga palavra de acolhimento...


A sua forte vontade de viver e saborear o que a vida tem de bom era contagiante.
O Peixoto partiu. Deixou-nos mais pobres. Paz à tua alma, bom amigo. Bem mereces.

À sua esposa Margarida e demais família as nossas profundas condolências e a nossa amizade.



(iii) Francisco Batista (*******):

Aos homens bons, aos melhores homens de todos nós, desejamos uma vida longa para podermos usufruir, se possível até ao limite, a sua companhia tão agradável e relaxante.

A perda do amigo Joaquim Peixoto, que ainda há poucos meses era um homem saudável, bom, alegre, transparente, vai criar em mim um vazio que ninguém poderá preencher. Tenho a certeza que o mesmo acontecerá a muitos camaradas e amigos que o conheceram e que conviveram com ele.
A minha mulher que o conheceu, a ele e à esposa Margarida, num almoço na quinta do poeta da Régua [, José Manuel Lopes e Luisa Valente], e gostou muito do casal, gostaria muito ir ao funeral amanhã. Eu, por maioria de razões, mais conhecimento e mais convivência gostaria muito de estar presente, mas porque a minha mulher está bastante adoentada, embora por doença passageira segundo me dizem, terei que lhe fazer companhia e não vamos poder ir. 

À Margarida enviamos um grande abraço de pêsames, sabemos que a sua dor é grande, nós compartilhamos dela e tal como nós uma multidão de homens e mulheres que o conheceram que o estimaram e se sentiram felizes e honrados com a sua convivência.


(iv) Joaqim Mexia Alves (********)

(...) Pergunto-me se o conhecia assim tão bem e chego à conclusão de que não, mas a sua bonomia, a sua simpatia, o seu olhar sereno, confiante, camarigo, ligado ao da sua mulher, Margarida, transporta-me para uma realidade que queria longe de mim e que é o saber que nós, os camarigos, vamos partindo, e que não sei se deixamos história, se deixamos sentimentos, se deixamos alma lusa, para motivar os vindouros, que já cá vão estando!

O Joaquim Peixoto era a serenidade em pessoa, pelos menos para mim, e na sua partida, chora-me o coração de camarigo, mas anima-se a minha alma de cristão: Ao homem bom, Deus recebe sempre no seu amor!

Sirvo-me da expressão popular e desejo que a “terra lhe seja leve”, porque aos homens bons Deus toma-os nos seus braços e leva-os para a eternidade!

A ti, meu amigo, camarigo, Joaquim, como eu, junto-me em oração à tua Margarida, à tua família, e espero que lá no “assento etéreo a que subiste”, nos relembres sempre junto daqu’Ele que é a vida, para que também nós a ti nos juntemos um dia, fazendo de um bocadinho do Céu, uma porção de Guiné! (...)


(ii) Ana Sequeira

 Joaquim Carlos Rocha Peixoto, obrigada pela tua amizade! Jamais me esquecerei do teu sorriso e boa disposição! Obrigada pelo teu companheirismo e apoio tão paternal quando cheguei à cidade de Penafiel!! Sou muito grata por te ter conhecido, por termos feito parte de uma equipa fantástica na Escola Básica de Guilhufe, de ter privado contigo e os teus momentos que guardarei eternamente na minha memória e no meu coração! Descansa em paz! Voltaremos a estar juntos, um dia! Beijinho desta tua "filha"...
________________


(**) Vd, blogue A Nossa Quinta de Candoz >  10 de setembro de  2009 > A homenagem da professora aos seus primeiros alunos (Escola de Passinhos, 1972)




(******) Vd. poste de 18 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5126: Um Casal Garcia, para desinfectar o dente... (Joaquim Peixoto, ex-Fur Mil, CCAÇ 3414, Bafatá e Sare Bacar, 1971/73)

Guiné 61/74 - P18977: Notas de leitura (1097): Relendo uma obra soberba - "Vindimas no Capim", por José Brás; Publicações Europa-América (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Julno de 2016:

Queridos amigos,
Quis o feliz acaso ou a fortuna que descobrisse em Vila Facaia, concelho de Pedrógão Grande, na manhã de domingo, 12 de Junho, num mercado onde se vendem, roupas usadas, cds, mil imensos bibelôs, agrícolas biológicos, pão feito por alternativos alemães, o prodigioso "Vindimas no Capim", que em tempos aqui exaltei e pela mesmo ordem de razão aqui volto a ovacionar.
Na verdade, naquele década de 1980, os combatentes, chegados aos 40 e 50 anos, deram para falar de si com uma estonteante sinceridade. Assim aconteceu, no caso da Guiné, com Álamo de Oliveira, Cristóvão de Aguiar e José Brás.
A brutalidade do romance de José Brás é por vezes arrepiante, uma brutalidade que lembra "Nó Cego", de Carlos Vale Ferraz ou "Olhos de Caçador", de António Brito. O testemunho violentíssimo de "Estranha Noiva de Guerra" de Armor Pires Mota tem outras vertentes, há também muita brutalidade (recorde-se a descrição inultrapassável do ataque a Mansabá) mas perpassa pelo seu livro um doloroso lirismo de um herói a quem se lhe nega aquela estranha noiva de guerra. José Brás pode orgulhar-nos por este seu livro soberbo, exclamativo, nunca escamoteando o jargão da caserna.
Abençoada a hora em que me decidi em ir aquele mercado de velharias e reencontrei o nosso admirável José Brás.

Um abraço do
Mário


Relendo uma obra soberba: Vindimas no Capim, por José Brás (1)

Beja Santos

Um acaso feliz permitiu-me adquirir um exemplar de “Vindimas no Capim”, estava a fazer uns dias de férias em Pedrógão Pequeno e foi um bálsamo reencontrar-me com a prosa, encontrada num mercado de velharias que funciona todos os domingos em Vila Facaia. O que é muito bom lê-se com imenso prazer, o que é muitíssimo bom, numa segunda ou terceira leitura, e distante que estamos da descoberta de uma gema preciosa, permite ver a originalidade, cerca de três décadas depois da sua publicação.

O que há de verdadeiramente distinto neste romance avassalador do nosso confrade José Augusto dos Santos Brás? Em seu nome irá falar Filipe Bento, oriundo de um meio rural, onde pontificava o machismo, a rudeza, a praga. Tempos não muito distantes, mas Filipe é solene a desvelar o teatro de origem:
“Vocês talvez não saibam, mas quem já teve a profissão de cavador, digo a profissão, não o passatempo de horas livres em pequena horta de brincar, o ofício mesmo, de levantar às cinco, cinco e meia da matina, ir à porta do patrão, caminhar os quilómetros necessários para estar no rego ao nascer do Sol, almoçar às dez, recomeçar às onze, quando não às dez e três quartos, jantar da uma às duas e largar com o pôr-do-sol, caminhar outra vez para casa, para, no dia seguinte e nos milhares de dias seguintes, repetir o gesto e isto dito assim, num repente, pode até enganar quem lê e da vida de cavador não teve notícia nunca, ou se teve foi só de raspão”.
Adrede a esta apresentação, vem um texto antológico, não é a primeira vez que o reproduzo e com muita ufania, admiração por quem o escreveu:
“Uma enxada não é só aquele pedaço de ferro retangular, moldado em meia-lua de bicos afiados num dos lados menores e encimada de um pequeno anel chamado ‘olho’, no outro lado. A enxada compra-se completa com mais dois ferros: o pescaz e a cunha.
E o que é isso do pescaz e da cunha?
Um pescaz é um pedaço de ferro alongado, com sete ou oito centímetros de comprimento por um e meio de largura, mis ou menos, com uma cabeça ligeiramente desbordada onde assentará a porrada do martelo quando se for aplicar na enxada, pontiagudo para entrar melhor no olho, entre o cabo e o ferro, atrás. A sua função é graduar o ângulo formado pela pá da enxada e pelo cabo. E esse ângulo deve ser mais aberto ou mais fechado, consoante o trabalho que se for realizar: cava, descava, sachola, abrir rego para feijão, covacho de batata, semear ou enterrar ceseirão, enterrar esterco, semear fava, tremoço ou tremocilha, ou grão preto ou branco, ou milho, ou trigo”.
Tudo começou para Filipe Bento em S. Jerónimo do Ermo, neste preciso mundo rural, não se pode falar da tropa e sobre a guerra sem ter de se falar de outras coisas.

E depois vem a parada, a ordem unida, a disciplina, andar de quartel em quartel antes de embarcar no Niassa, o destino é o Sul da Guiné. Não há artifícios para a linguagem, o nosso furriel vai para Cutima Fula e passado um mês tudo se revirara na sua vida mas que o leitor não se acanhe para além da sua preparação naquele mundo áspero, onde pontifica a virilidade, aprendeu muito com o professor Leiria, e o seu filho militar, mais a mais major, aprendeu que existia a Legião Portuguesa, que havia maroscas, pequenos e grandes poderes entre oficiais, sargentos e praças, vagomestres ladrões.

Este o pano de fundo, a superfície preparatória de uma viagem que começou em Bissau até Buba e que se espraiou por vários locais do Sul da Guiné. É uma linguagem coloquial, um tu cá tu lá com o leitor, ele que se aguente cada vez que é necessário discorrer sobre uma expressão pertinente, caso de “no cu de Judas” que ele tinha lido num livro celebérrimo de Lobo Antunes.
E o discurso que se segue é frenético entre consonâncias e dissonâncias das diferentes guerras que cada um viveu, como segue:
“A porra toda é que se para o Lobo Antunes os cus de judas eram os casinos e os dancings da Ilha de Luanda, onde kamanguistas, comerciantes do planalto, roceiros, cauteleiros da Baixa, gente se ocupação definida, se babava nas mamas de velhas putas lisboetas e cariocas, vociferando contra os cabrões que não lhes deixavam “tratar da saúde aos pretos”; se para ele os cus de Judas eram Malange e a baixa do Cassanje, o algodão que os agricultores não podiam vender se não à empresa que lhes fornecia os fatores de produção e a que estão presos por dívidas eternas, aumentadas ano a ano, colheita após colheita, e por leis do governo de Lisboa, pela vigilância de sobas e cipaios, da O.P.V.C.D.A. e da PIDE; se para ele os cus de Judas eram o Leste de Angola, Gago Coutinho, Luso, Chiúme, Marimba, Cambo; se para ele os cus de Judas eram o deserto de areia e a chana, onde soldados Ferreiras e cabos Pereiras deixavam as pernas e as tripas e militarzinhos quase crianças se enfastiavam daquela merda de morte em vida e disparavam em si próprios; se para o Lobo Antunes os cus de Judas são os percursos entre Mangando, Marimbanguengo, Bimbe e Caputo, o servilismo de sobas e de gentes gingas, a explosão da carne da lavadeira Sofia, a cama da hospedeira da TAP no Bairro Prenda, para mim cumpriu-se os cus de Judas naquela confusão de selva e água, de batelões e LDGs, de CUF e libaneses, e comércio de mancarra com agricultores igualmente esfarrapados, igualmente ligados a dívidas e a leis e a vigilâncias de cipaios e de traidores e de milícias e pides; o meu cu de Judas foram Buba e Cutima-Fula, e Nhala e Colibuia e Cumbijã e Cajamba e Mampatá e Saltinho e Madina e Gandembel e Gadamael-Porto e Cacine, tudo terras de morte de raivas contidas no calor das tardes vazias, nas garrafas de uísque e de gin, e de conhaque e do caralho, nos ataques aos quartéis, nas emboscadas, na humidade linfática daquele ar irrespirável entre as dez e as quatro da tarde; na descarga do intestino revoltado; para mim, os cus de Judas eram as idas a Buba ou a Gadamael, trinta quilómetros para cada lado, a caçar minas, a chupar emboscadas, atascados na lama das bolanhas, todo o caminho a inventar pontes, camiões cavalgando troncos de árvores num prodígio de circo para repor o stock do vagomestre e do bar com comes-e-bebes que depois se vomitavam na caganeira, quando o estômago aguentava a corrida, ou logo ali à saída da porta se a golfada saltava sem aviso”.

E prossegue a sua toada a estabelecer diferenças, que também as havia, por exemplo a proveniência da mina, seja anticarro ou antipessoal, até houve um caso em que a mina lhe estava destinada, quis a roda da fortuna que lerpasse o cabo Júlio, e por hoje aqui ficamos com tal pungente descrição:
“Os olhos do Peniche abriam-se espantados. Ali aos pés tinha o volume do resto daquilo que fora o corpo do Júlio, meio aterrado, com os cotos dos braços e das pernas a fumegarem estorricados, apontados ao alto. A pele da barriga esticara, rebentando, e mostrava um amontoado de carvão. Toda a cabeça encolhera e as feições haviam desaparecido. O crânio estava repuxado e aberto também”.

E agora vamos vê-lo a viver em Cutima-Fula.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 31 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18967: Notas de leitura (1096): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (49) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18976: Parabéns a você (1492): Luís Gonçalves Vaz, Amigo Grã-Tabanqueiro, ex-Fur Mil PE (EPC - 1983/84)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18969: Parabéns a você (1491): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil AP Inf da CCAÇ 1419 (Guiné, 1965/67)

domingo, 2 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18975: In Memoriam (319): Uma porção de Guiné - em homenagem ao Joaquim Carlos Peixoto que hoje nos deixou (Joaquim Mexia Alves)

Monte Real, 8 de Junho de 2013 > Joaquim Carlos Peixoto e sua esposa Margarida, no VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande


Do nosso camarada Joaquim Mexia Alves chegou-nos hoje esta mensagem com um texto dedicado ao Joaquim Carlos Peixoto, que hoje nos deixou:

Meus amigos
Fui apanhado de surpresa!
Escrevi num repente um texto, ditado pelo coração, que publiquei na nossa Tabanca do Centro e aqui vos envio para dele fazerdes o que muito bem entenderdes.

Com um abraço amigo e francamente sentido do
Joaquim
  

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UMA PORÇÃO DE GUINÉ

Joaquim Mexia Alves

Chega uma pessoa de um almoço domingueiro em família e abre estas novas tecnologias de comunicação e depara-se com uma notícia: Morreu o Joaquim Carlos Rocha Peixoto!

De repente, do meio do calor da Marinha Grande, chega o calor da Guiné e sinto-me transportado para aquelas terras ou sei lá eu bem para onde!

Pergunto-me se o conhecia assim tão bem e chego à conclusão de que não, mas a sua bonomia, a sua simpatia, o seu olhar sereno, confiante, camarigo, ligado ao da sua mulher, Margarida, transporta-me para uma realidade que queria longe de mim e que é o saber que nós, os camarigos, vamos partindo, e que não sei se deixamos história, se deixamos sentimentos, se deixamos alma lusa, para motivar os vindouros, que já cá vão estando!

O Joaquim Peixoto era a serenidade em pessoa, pelos menos para mim, e na sua partida, chora-me o coração de camarigo, mas anima-se a minha alma de cristão: Ao homem bom Deus recebe sempre no seu amor!

Sirvo-me da expressão popular e desejo que a “terra lhe seja leve”, porque aos homens bons Deus toma-os nos seus braços e leva-os para a eternidade!

A ti, meu amigo, camarigo, Joaquim, como eu, junto-me em oração à tua Margarida, à tua família, e espero que lá no “assento etéreo a que subiste”, nos relembres sempre junto daqu’Ele que é a vida, para que também nós a ti nos juntemos um dia, fazendo de um bocadinho do Céu, uma porção de Guiné!

Marinha Grande, 2 de Setembro de 2018
Joaquim Mexia Alves
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Nota do editor

Vd. poste de 2 de Setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18973: In Memoriam (318): O nosso amigo e camarada Joaquim Carlos Rocha Peixoto (1949-2018), ex-Fur Mil da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73), faleceu hoje... O corpo estará, esta noite, em câmara ardente na Igreja das Freiras, em Penafiel, e as exéquias fúnebres serão amanhã, às 15 horas

Guiné 61/74 - P18974: Blogues da nossa blogosfera (102): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (21): Palavras e poesia



Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.


O SEGREDO

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


O mais belo segredo da minha vida
Onde o horizonte foge contra o tempo
É só nosso e de mais ninguém
Onde as sombras negras desaparecem
Ele procura ver-me na janela dos teus olhos
E tenta falar-me no silêncio falso do desdém.

Mais além veste-se de negro
De sol enorme e de pão quente
Do eco de tudo à volta do teu ninho
De purpúreos reflexos de sol poente
Do vermelho de sangue em coração de gente.

Não consigo ver-te tão ausente
Sem calor no descampado que aqui mora
Sem o dilúvio do desejo permanente
Que adormece nos verdes rios do meu segredo
E acorda sempre ao romper da aurora.

Tudo me encaminha para os teus olhos
Quando te sentas à porta da minha idade
Nesta entrada iluminada de enganos e algemas
Mas o segredo que devora a vida
Presa entre as mãos abandonadas e serenas
Veste de mentira a beleza da verdade.

Como criança quase me obriga a pedir ao vento
Uma lufada de Primavera amor e sentimento
Mas as palavras fazem ninho
No mais doce recanto de um beijo de sofrimento
E adormecem de mansinho.

Vou embora…
São horas de saber se a vida vale a pena
No dobrar de avessos e gargalhadas
Junto ao rio que os dedos fazem e desfazem
Vou correr as margens no sentido da nascente
Sabendo que o rio me arrasta para o fim da tarde
Na implacável força da corrente.

Ainda bem que esta margem é clara e amena
E do outro lado é tudo escuro quase negro
Mas quando o fogo queima o pensamento e a razão
Até o segredo azul de um pálido coração
Escondido desde há muito no ventre dos pinheiros
Parece verde como o verde da ilusão.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18956: Blogues da nossa blogosfera (101): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (20): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P18973: In Memoriam (318): O nosso amigo e camarada Joaquim Carlos Rocha Peixoto (1949-2018), ex-Fur Mil da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73), faleceu hoje... O corpo estará, esta noite, em câmara ardente na Igreja das Freiras, em Penafiel, e as exéquias fúnebres serão amanhã, às 15 horas

IN MEMORIAM


Joaquim Carlos Rocha Peixoto 
(Penafiel  1949-Porto, 2018)



Realidade quase impensável e inaceitável quando se trata de um amigo de há tantos anos.

Acabou de chegar ao nosso conhecimento, através do seu inseparavél amigo e vizinho, José Manuel Cancela, a notícia do falecimento do nosso camarada e amigo Joaquim Carlos Rocha Peixoto, natural de Penafiel.

Especialmente à nossa querida amiga Tertuliana Margarida Peixoto, e demais família (filhas e netos), deixamos o nosso mais sentido pesar pela perda do seu dedicado marido, pai e avô.

Voltaremos para dar notícias quanto ao local onde o malogrado amigo estará em Corpo Ardente assim como com pormenores do seu funeral.

Os editores

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PS - Acabamos de saber, por notícia das 16h, da Tabanca Matosinhos, que o corpo do nosso querido camarada e amigo Joaquim Peixoto está hoje à noite em Camara Ardente na Igreja das Freiras em Penafiel (Perto da Praça da Feira). 


As exéquias fúnebres estão marcadas para amanhã - segunda feira - pelas 15 horas na referida Igreja.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE JULHO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18839: In Memoriam (317): João [Alfredo Teixeira da] Rocha (Ilha de Moçambique, 1944 - Porto, 2018), nosso grã-tabanqueiro n.º 775, a titulo póstumo (Luís Graça / Jaime Machado / Carlos Silva / Tabanca de Matosinhos / António Pimentel)

Guiné 61/74 - P18972: Blogpoesia (582): "Brilhantina espanhola", "Magia das manhãs" e "O regato da serra", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Brilhantina espanhola

Aos Domingos, depois da missa, vinha o adro.
O convívio com os da freguesia.
Roupas novas, muito bem brunidas.
Xailes compridos, vários temas.
Vestidos de seda, até ao chão, em grandes folhos.
Fatos de fazenda, em corte fino.
Camisas azuis em popelina.
E as gravatas variavam muito.
Largas ou fitas,
Segundo a moda.
E os cabelos, reluzindo ao sol.
Da brilhantina,
Vinha de Espanha
. Cruzavam-se olhares.
Olhos vivaços.
Moças trigueiras, crestadas do sol.
Seios ardentes,
Apetite à vista.
E os rapazes ariscos vinham de longe,
Desconhecidos, sem história.
Lançando a isca,
Tentavam a sorte.
Se era um sucesso.
Primeiro o namoro.
Depois o altar,
Com brilhantina…

Berlim, 29 de Agosto de 2018
8h32m
Jlmg

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Magia das manhãs

É vaidosa a fidalga manhã.
Cada dia uma veste diferente,
Folhos compridos,
De seda ou de lã.
Indiferente à chuva e ao sol,
Avança impante pela avenida do dia,
Cobrindo-o de cor e de luz.
Corre as montanhas,
Desliza nos vales,
Se banha no mar.
Se enxuga ao sol, deitada na praia,
Como se fosse uma dama esbelta,
Sedenta e com fome.
Se despede ufana, à chegada da tarde,
Sua vizinha e da noite.
Viaja sózinha
E vai descansar.
Ninguém sabe onde fica.
Adora a missão.
À hora certinha ela aí está...

Berlim, 31 de Agosto de 2018
8h9m
Jlmg

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O regato da serra

Corre um regato ao fundo da aldeia.
Vem lá da serra aos saltos,
Rasgando o caminho,
Parece um puto tratante,
A caminho da escola.
Assobia e canta ao ritmo das pedras,
Inunda as margens humildes e secas
Que lhe pedem esmola.
Rouba areia e semeia açudes e ilhas,
Onde crescem as canas
Com ninhos de pássaros,
Em frente de praias.
De longe a longe, se torna lagoa
E puxa a mó de moinhos,
Apesar de ser pedra,
Transformando o milho em farinha.
É um amigo atento,
Não pára quieto,
Em visita constante,
Através das aldeias.
Dizem que vai a caminho do mar.
E, muito lá à frente,
É tal o caudal,
Há barcos a remos e vela,
Levando fregueses,
Dum lado para o outro.
Vão para as romarias e feiras.
Rezam as lendas que antanho,
Até as sereias e fadas,
Vinham da serra de noite
E assombravam as gentes
Com cantos e loas,
Pareciam de anjos...

Berlim, 1 de Setembro de 2018
10h49m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18955: Blogpoesia (581): "Para que servem as palavras", "Soletro os meus versos, letra a letra" e "O essencial", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18971: Manuscrito(s) (Luís Graça) (144 ): Se tens galinha pedrês, não a mates nem a dês



















Marco de Canaveses > União das Freguesias de Paredes de Viadores e Manhuncelos > Candoz > Quinta de Candoz / Tabanca de Candoz > 1 de setembro e 2018 >  Alfaias agrícolas, coisas cada vez mais inúteis com a mecanização da agricultura, hoje uma arte e uma ciência...


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Se tens galinha pedrês, 
não a mates nem a dês 

por Luís Graça



Como era simples a vida da camponesa
que ia ao monte buscar lenha,
a moinha, as pinhas, as giestas.
No carro de bois, que chiava pelo estradão.

Ou que, de saco à cabeça,
ia levar o grão de centeio
à azenha, lá longe, no Porto Antigo

onde abicavam os barcos rabelos...
Seguia,a pé, pela linha férrea do Douro, 
mas não segura...
E que abria as pernas, depois,
ao seu homem e senhor, seu amo,
no meio do campo de milho.

Que quadro,
que pintura,
que beleza,
tardo-naturalística,
o desta humilde cena portuguesa,

desta gente
sem rosto,
sem nome,
sem registo,
sem trilho,
sem a mística nem a estética 

do Movimento Nacional Feminino.


Porra e lenha,
é quanto a venha,
diz o meu home!


Como era simples e brutal
a vida da mulher do campo
no tempo em que ainda havia
a distinção socioantropológica
entre a cidade e o campo,
ou a diferenciação teológica
entre o céu, o purgatório e o inferno.

E havia o carro de bois, 

e o penso para o tourinho,
e a maçã, biológica, do paraíso perdido,
e o império colonial, 
e as campanhas de pacificação,
e a costeleta de Adão
e as criadas de lavoura que eram violadas
em cima da meda da palha de centeio.

Enquanto os bois gemiam
e as rodas do carro chiavam,

e o varapau voltejava,
e o senhor abade praguejava:
feiras e frieiras
é coçá-las e deixá-las.


Como eram imutáveis as leis
que regiam as relações

entre a terra e o sol,
entre presas e predadores,
entre machos e fêmeas,
entre fidalgos e rendeiros,
entre donzelas e donzéis,
entre soldados e capitães, 

entre operários e patrões,
entre ricos e pobres.
entre cabaneiros e os sem eira nem beira.

Se queres conhecer o vilão
mete-lhe o mando na mão.
E cada um tomava o seu lugar 
no desconcerto da nação
e no palco do teatro da vida e da morte. 

E ela levava, com a sua licença,  a vaca,
ao boi do povo para a emprenhar,
E, com a sua licença,  o porco à feira
para, com sorte, no regresso trazer
uns vestidinhos de chita 
para o dia da comunhão da filha da puta da canalha.

Como era estupidamente alegre e feliz
a infância, breve, dos rapazes e raparigas,
no tempo em que 
a sardinha era para três.
e sobrevivia o mais forte

e o pai era pai e patrão
e a mãe era mãe e pai,
quando o home partia para os brasis
ou outros eldorados que ficavam para além do mar,
ou simplesmente para lá das serras.
E o galo cantava
para a galinha pedrês.
e a vida fiava-se e tecia-se
linha a linha, em branco fio de linho, 

no tear da dor e da solidão.

Como era curta a vida, 

a esperança de vida,
e certa, tão certa, a velhice e a morte.
Muita saúde, pouca vida,
porque Deus não dava tudo,

lembrava o sino da igreja da aldeia, 
quando morria algum cristão.

E quem não poupa lenha
não poupa nada que tenha
,  

acrescentava, misógino, o rifão.
Ou noutra variante, 

quiçá feminista "avant la letre":
Se tens galinha pedrês,
não a mates nem a dês
.


Quinta de Candoz, 
setembro de 2008, versão revista em 21/7/2023 (LG)

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Nota do edtor;

Último poste da série > 17 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18853: Manuscrito(s) (Luís Graça (143): "No coração da escuridão" (filme de Paul Shrader, 2017): Quando a razão nos mata e a fé já não nos salva, o que nos resta ? ... Resta-nos a esperança.

sábado, 1 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18970: Os nossos seres, saberes e lazeres (282): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 28 de Junho de 2018:

Queridos amigos,
No início, o projeto tinha muito ambição: calcorreava-se de Aix-en-Provence até Marselha, na fase seguinte o passeio seria pela terra dos Cátaros e Albigenses, de Toulouse até Montpellier, juntavam-se as pontas da Gália ao tempo dos Romanos.
Houve que ser mais modesto, na 2.ª fase aterrou-se em Toulouse (entre nós Tolosa) à procura de joias preciosas da arte românica, seguiu-se para Albi, Carcassone, Pirenéus franceses, Pau, de novo Toulouse.
Não foi empreendimento arrojado, mas deu para ver e sentir belezas incomparáveis, se a Provença é magnífica a Occitânia não lhe fica atrás.

Um abraço do
Mário


Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (1)

Beja Santos

O viandante faz-se acompanhar de um Guia Michelin datada de 1989, certo e seguro com desatualizações, à cautela procurar-se-á invocar o que o valor patrimonial é insuscetível de estar alterado. A viagem aqui começa, antigamente falava-se em Languedoc Roussillon Midi Pyrénées, hoje o termo da região administrativa é Occitanie (Occitânia, em português). Toulouse é uma aglomeração de grandes proporções, aqui teve origem a indústria aeronáutica francesa, e recordam-se dois nomes que a literatura do século XX acolhe no seu panteão: Saint-Exupéry, o autor do Principezinho e Jean Mermoz, o pioneiro da aviação que estabeleceu a primeira ligação com a América do Sul. Toulouse é uma cidade com muito tijolo. O viandante vem com o propósito de ver alguns monumentos de renome mundial, antes de partir para Albi, e no final da viagem reservou tempo para uma deambulação mais cuidada.



A primeira impressão é o colorido do tijolo, o viandante começa o passeio à volta do Canal du Midi, um empreendimento gigantesco que permite a ligação do rio Garona ao Mediterrâneo, projetado no século XVII, entra pelos boulevards e procura o centro histórico.



A primeira escultura tem a ver com o resistente que morreu num campo de concentração na Alemanha, a segunda fala por si, glória aos heróis de vários bairros da velha Tolosa do Império Romano, quem foi martirizado pelas suas ideias e pelo seu patriotismo, quem caiu de arma na mão na trincheira ou no campo de batalha não pode ser esquecido.



O monumento emblemático de Toulouse é a Basílica Saint-Sernin (poderemos traduzir por São Saturnino), primeiro bispo de Toulouse. Houve uma modesta basílica no século V, mas a excecional popularidade do mártir tolosano falou mais alto, a afluência dos peregrinos era enorme. E foi assim que apareceu entre os séculos XI e XII o mais espetacular templo românico que há na Europa. A sua nave central é impressionante, ao fundo há um magnífico claustro. Felizmente que em meados do século XIX andou por aqui o famoso arquiteto Viollet-le-Duc, que procedeu a uma série de restauros que garantiram a formosura primitiva do templo.



As obras de Saint-Sernin duraram de 1070 até ao século XVI, mas as torres ocidentais jamais foram acabadas. Vê-se que é um edifício perfeitamente coerente, é um caso raro em que se respeitou integralmente o projeto inicial. Pela sua estrutura, Saint-Sernin pertence à família das igrejas chamadas “de relíquias e de peregrinação”, e por isso tem esta ampla nave flanqueada por naves laterais, um amplo cruzeiro, um couro majestoso e profundo rodeado de um deambulatório de onde irradiam capelas. Tem 115 metros de comprimento e 64 de altura, medida pelo cruzeiro. É por isso que é a maior igreja românica do mundo.


O acesso à basílica é feito sobretudo por três portas, veja-se a beleza deste tímpano, dentro das estritas linhas românicas. Os capitéis, tanto no interior como no exterior, são de uma enorme beleza, são livros em pedra, falam dos suplícios infernais, da Ascensão de Cristo no meio dos anjos, mostram Apóstolos, leões, Adão e Eva expulsos do Paraíso, a Anunciação e a Visitação, são necessários vários dias de visita para absorver tanto esplendor românico nesta construção de fé onde os peregrinos vinham pedir consolação e salvação das suas almas.



Pode-se fazer a visita no deambulatório, andar no exterior à volta, visitar capelas ou a sacristia, pode-se andar demoradamente no cruzeiro ou a estudar os capitéis. Aqui se vê uma porta do Renascimento, a chamada fachada principal, em seu derredor decorrem obras de beneficiação, e veja-se a belíssima torre.
Voltaremos a esta igreja de peregrinação, pela sua invulgar simplicidade e porte majestoso.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18952: Os nossos seres, saberes e lazeres (281): De Aix-en-Provence até Marselha (13) (Mário Beja Santos)