quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20583: Agenda cultural (723): Exposição de fotografia do nosso camarada Renato Monteiro, "Festas de N. Sra. da Troia", sábado, 25 de janeiro, 16h00, em Setúbal, no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS)



O Museu de Arqueologi e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS) fica na Av Luisa Todi, nº 162, 2900-451 SETUBAL.


1. O Renato Monteiro é membro da nossa Tabanca Grande, tem mais de meia centena de reerências no nosso blogue:

(i) ex-fur mil, CART 2439 /, CART 11, (Contuboel e Piche, 1969), e CART 2520 (Xime e Enxalé, 1969/70);

(ii) licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,

(iii) professor do ensino secundário reformado;

(iv) tornou-se um notável fotógrafo do quotidiano, com obra feita (vários álbuns publicados desde 1998; e tem pelo menos 20 blogues de fotografia, com destaque para Fotografares e A Minha Cave;

(v) nasceu em 1946, no Porto, vive em Lisboa;

(vi) um dos seus primeiros trabalhos publicados foi "a Fotobiografia da Guerra Colonial", em coautoria com Luís Farinha (Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1990, e Círculo de Leitores, 1998).



Guiné > Zona Leste > R3gião de Bafatá > Contuboel > Junho de 1969 > Passeio de piroga junto à ponte de madeira de Contuboel, sobre o Rio Geba. Furriéis milicianos Henriques [Luís Graça] (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12) e Renato Monteiro (CART 2479 / CART 11, Cuntuboel e Piche; Xime e Enxalé, 1969):

Foto ( e legenda): © Luís Graça (2005). Tdoos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

2. Sobre esta tradição de Setúbal, as Festas de Nossa Senhora do Rosário de Tróia, padroeira dos pescadores de Setúbal, encontrámos na Net uma pequena notícia, que reproduzimos, com a devida vénia (texto e foto):



Uma tradição de Setúbal.

As tradicionais Festas de Nossa Senhora do Rosário de Tróia, padroeira dos pescadores de Setúbal, estão de regresso às águas do Rio Sado, de 17 a 19 de agosto. Um concurso de barcos engalanados, um círio fluvial, entre a Setúbal e a Península de Tróia, animação musical e fogo-de-artifício são os destaques do programa deste ano.

O evento popular, que todos os anos atrai milhares de pessoas às margens do rio azul e lhe dá novas cores, arranca no dia 17 de agosto, sábado, com uma missa por alma dos marítimos falecidos, na Igreja de São Sebastião, em Setúbal, seguida de procissão para a capela de Tróia.

No dia 18 de agosto, domingo, está marcado um concurso com dezenas de barcos engalanados, às 17 horas e à meia-noite um espetáculo de fogo-de-artifício. No mesmo dia, pode contar com divertimentos, um arraial e animação musical com André Patrão, na Praia de Tróia.

Os festejos terminam a 19 de agosto, segunda-feira, com o círio fluvial de regresso a Setúbal, às 17h15. O evento é organizado pela Comissão de Festas da Junta de Freguesia de São Sebastião, em parceria com a Câmara Municipal de Setúbal.

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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de janeito de 2020 > Guiné 61/74 - P20581: Agenda cultural (722): Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento: Celebrando o 5º Aniversário do Cante, Património Cultural e Imaterial da Humanidade: concertos, em Lisboa, CCB, Grande Auditório, praticamente esgotados, em 20 e 21 de março de 2020.

Guiné 61/74 - P20582: Parabéns a você (1745): Rogério Freire, ex-Alf Mil Art MA da CART 1525 (Guiné, 1965/67) e Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Os Diabólicos (Guiné, 1965/67)


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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20579: Parabéns a você (1744): João Graça, Médico, Amigo Grã-Tabanqueiro

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20581: Agenda cultural (722): Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento: Celebrando o 5º Aniversário do Cante, Património Cultural e Imaterial da Humanidade: concertos, em Lisboa, CCB, Grande Auditório, praticamente esgotados, em 20 e 21 de março de 2020.



Morada: Rua do Sobral, 22, 7830-082 Vila Nova de São Bento
Telefone: +351 961 528 663
E-mail: ranchodecantadoresansbento@gmail.com
Facebook: https://www.facebook.com/F%C3%A3s-do-Rancho-de-Cantadores-de-Aldeia-Nova-SBento-625510734241168/
Fundação: 1986

Fonte: Sítio da Câmara Municipal de Serpa (com a devida vénia...)


1. Três memoráveis concertos em Lisboa, no CCB... Os últimos bilhetes estão prestes a esgotar-se! (*)

CCB - Lisboa
20 março 2020 | 21:00
21 março 2020 | 16:00 e 21:00
Grande Auditório
M/6
Duração aprox. 70 min s/intervalo


"O Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento, criado há 33 anos, é herdeiro de uma longa tradição há muito reconhecida na região como «terra de bons cantadores». 

O grupo, com idades compreendidas entre os 16 e os 93 anos, representa com distinção o Cante Alentejano – considerado em 2014 Património Cultural e Imaterial da Humanidade pela UNESCO – e concebeu um concerto pensado como uma celebração, que irá decorrer no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, inicialmente apenas a 20 de março, mas com este espetáculo praticamente esgotado,  é anunciada data extra no dia 21. 

António Zambujo, Jorge Benvinda, Pedro Mestre (viola campaniça) e Mafalda Vasques serão convidados especiais das duas datas, aos quais se junta Luísa Sobral para o espetáculo de dia 20."

Produção | Sons em Trânsito


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Nota do editor:

Último poste da série >  21 de janeiro de  2020 > Guiné 61/74 - P20580: Agenda cultural (721): Convite para a sessão de apresentação do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial": Lisboa, Casa do Alentejo, sábado, 8/2/2020, 15h00. Apresentações a cargo de maj gen Raul Cunha e de Luís Graça. Momento cultural com 2 dois "grandes" do Cante: (I) Rancho de Cantadores da Aldeia Nova de São Bento; e (ii) Grupo Musical 'Os Alentejanos' de Serpa.

Guiné 61/74 - P20580: Agenda cultural (721): Convite para a sessão de apresentação do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial": Lisboa, Casa do Alentejo, sábado, 8/2/2020, 15h00. Apresentações a cargo de maj gen Raul Cunha e de Luís Graça. Momento cultural com 2 dois "grandes" do Cante: (I) Rancho de Cantadores da Aldeia Nova de São Bento; e (ii) Grupo Musical 'Os Alentejanos' de Serpa.




1. Mensagem do José Saúde, camarada, amigo e escritor, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74):


Data: sexta, 17/01/2020 à(s) 16:12

Assunto: Convite "Um Ranger na Guerra Colonial, Guiné-Bissau, 1973/1974"

Meu caro amigo e camarada Luís Graça,

Junto te envio um convite para a apresentação do meu livro  "Um Ranger na Guerra Colonial, Guiné-Bissau, 1973/1974",. no dia 8 de fevereiro, sábado, 15h00, na Casa do Alentejo em Lisboa.
ão de

Como está programado a Mesa será composta por mim, Zé Saúde, Rosa Calado, dirigente do espaço, Fernando Mão de Ferro, editor da Colibri, tu, Luís Graça,  e pelo camarada ranger Major-General Raul Cunha que fará uma apresentação geral da obra, aliás, tal como tu.

Haverá outras surpresas que. obviamente, não vamos agora revelar [...].

Aguardo, por outro lado,  um cartaz da Casa do Alentejo a publicitar o acontecimento e que farás o favor de publicar oportunamente.

Abraço, Zé Saúde
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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 – P20544: Agenda cultural (720): Lançamento do livro "Da Senhora e Da Franqueira: Memórias das nossas Origens", de Manuel Luís Lomba, a levar a efeito, amanhã, dia 11 de Janeiro de 2020, pelas 16,00 horas, no Auditório da Biblioteca Municipal de Barcelos, apresentação pelo professor aposentado, Dr. José Gomes Campinho

Guiné 61/74 - P20579: Parabéns a você (1744): João Graça, Médico, Amigo Grã-Tabanqueiro

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20575: Parabéns a você (1743): José Horácio Dantas, ex-1.º Cabo At Art da CART 1742 (Guiné, 1967/69)

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20578: Convívios (914): A festa dos 10 anos da Magnífica Tabanca da Linha: gente feliz, sem lágrimas, mas com saudades dos que já partiram - Parte II (Fotos de Jorge Canhão / Zé Rodrigues / Manuel Resende)


Foto nº 1  >  Em  primeiro plano, o régulo (e fotógrafo) da Tabanca. Manuel Resende, e um dos magníficos tabanqueiros de todas as horas,  o Armando Pires... Em segundo plano, o Virgínio Briote, o Mário Fitas e o Zé Rodrigues

47º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 16 de janeiro de 2020 >

Foto: © Jorge Canhão (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 2 > O Manuel Resende, o régulo, sempre sereno e discreto.

47º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 16 de janeiro de 2020 >

Foto: © José Rodrigues (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 3 > João Parreira e Mário Fitas... Em segundo plano, o Raul Folques e a Maria Irene (de costas)


Foto nº 4 > C. Caria e Domingos Robalo... Seguramente falando de obuses... Em segundo palno, o "Sintra"


Foto nº 5 > Da esquerda para a direita, José Martins, Luís Graça, Francisco Silva e Carlos Silva


Foto nº 6 > Da direita para a esquerda, Jorge Araújo (coeditor do nosso blogue) (Almada),  Arménio Conceição e a esposa, Madalena (Cascais), e por fim o Arménio Santos (Lisboa)


Foto nº 7 >  Aspeto geral da sala... Reconhece-se, na mesa em primeiro plano,  de perfil, o Carlos Silvério (Lourinhã), do lado esquerdo, e o Luís R. Moreira, do lado direito, mais a esposa Irene (Sintra)


Foto nº 9 > Outra mesa; da esquerda para a direita, de costas, a Maria Irene, a Alice Carneiro e Maria Elisabete; em segundo plano, de frente, Zé Carioca (que faz anos amanhã), Mário Fitas, João Parreira e Virgínio Briote.

47º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 16 de janeiro de 2020 >

Fotos: © Manuel Resende  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 10 > O fidelíssio Diniz de Sousa e Faro


Foto nº 11 > Outro artilheiro, magnífico, António Duque Marques... Não falha nos convívios da Tabanca da Linha... mas ainda não pertence à Tabanca Grande...


Foto nº 12 > Hélder Sousa, o régulo da Tabanca de Setúbal, na outra banda,  que, um dia, anda há de ter... tabanqueiros!...


Foto nº 13 > Mais dois alentejanos, felizes, sem lágrimas: Zé Colaço e Mário Fitas


Foto nº 14 > O editor da Tabanca Grande, Luís Graça, que de vez em quando aparece na Tabanca da Linha... 

47º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 16 de janeiro de 2020 >

Fotos: © José Rodrigues  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Guiné 61/74 - P20577: Notas de leitura (1257): Um relato que se vai aprimorando de edição para edição: Liberdade ou Evasão, por António Lobato (3) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Dezembro de 2019:

Queridos amigos,
António Lobato mexe e remexe no seu poderoso testemunho, de edição para edição. Nos dois textos anteriores apegámo-nos à 2.ª edição, com data de 1995 e agora, tendo em conta a 5.ª edição, de 2014, verificam-se aprimoramentos que, é o meu pensar, tornam este documento imorredoiro na história da literatura da guerra da Guiné, pegam-se em duas descrições, uma a fulgurante aterragem depois do acidente aéreo no regresso da Ilha do Como, é de uma vivacidade impressionante, incluindo não só os gestos necessários à pilotagem mais adequada às circunstâncias como o texto faz fé ao estado de alma de quem vai procurar sobreviver; o segundo texto é uma narrativa de cativeiro, releva o macabro da sordidez do presídio, o macabro e o nauseabundo de toda aquela escravidão a que estavam submetidos os adversários de Sékou Touré.

Um abraço do
Mário


Um relato que se vai aprimorando de edição para edição: 
Liberdade ou Evasão, por António Lobato (3)

Beja Santos

António Lobato
É bem evidente a marca da catanada na região frontal

Dedicamos este espaço à última edição da obra de António Lobato, o autor tem vindo a mexer e a remexer, temos agora uma narrativa ainda mais vigorosa e em muitos pontos ganhou intimismo, espelhando os altos e baixos de um cativo que descobre força anímica para acreditar em si próprio e tentar escapar ao degredo.

A primeira descrição relaciona-se com o acidente aéreo, tem mais detalhe, dinâmica, a clara perceção do risco, a mestria da operação para aterrar em condições excecionalmente hostis:

“O meu avião continua a vibrar como que sacudido por uma peneira gigante, devido ao desequilíbrio provocado pelo hélice todo torcido. Nestes casos, o procedimento para evitar o descontrolo total é parar o motor e saltar em paraquedas, ou então tentar uma aterragem de emergência sem motor.
Num relance de olhos para o exterior, vejo uma clareira no meio da mata onde me parece que sou capaz de meter o avião.

Como o motor está parado, sei que tenho de guardar uma velocidade tal que me permita manter o avião a voar como um planador e fazer uma avaliação muito correta de aproximação ao início da clareira, tão baixa quanto possível, mas sem bater nas árvores que a circundam.

A quem não está familiarizado com os assuntos de aerodinâmica e pensa que a um avião com o motor parado só resta cair, devo esclarecer que, enquanto houver altitude suficiente para descer e manter uma velocidade de planeio, este voa normalmente até chegar ao solo.

Perante a rapidez de decisão que a situação exige, o afluxo de adrenalina é tal que todas as faculdades passam a ter uma acuidade várias vezes superior ao normal.

Todas as mnemónicas aprendidas há cinco anos atrás, ainda na fase da formação, para fixar procedimentos de emergência, afluem à memória com um rigor e uma fidelidade alucinantes.
Nos escassos segundos que me separam do contacto com o solo, enquanto vigio e controlo com a cabeça, com as mãos e com os pés, não só o valor sagrado daquela velocidade mínima que ainda permite voar, mas também a altitude, a direção e as manobras de glissagem, perigosas mas necessárias para encaixar o avião no início da exígua clareira, vou simultaneamente executando os restantes procedimentos que contribuem para o sucesso de uma aterragem de emergência, tais como: apertar cintos, abrir cabine, desligar combustível, mistura e magnetos, desligar bateria e assumir uma atitude de corpo e alma bem encostados à cadeira.

O ponto de contato com o solo confirma-me a justeza do planeamento, mas surge um imprevisto que do ar foi impossível detetar – o terreno não é totalmente liso; sulcos profundos, espaçados metro a metro, cortam-no de lés a lés. É uma bolanha.


Ao intradorso das asas do T6 estão suspensas duas metralhadoras Browning, saliências que, ao entrar nos sulcos da bolanha, oferecem uma forte resistência ao deslizar do avião no solo.
Atendendo a que este tipo de aterragem é feito com o trem recolhido, o entrar das metralhadoras num dos sulcos teve o efeito de arrancar instantaneamente as asas à aeronave.
Fico sentado dentro de um charuto que rebola agora sobre si mesmo, ao longo do terreno”.

E é com esta chave explicativa, em pleno clímax, que Lobato sai incólume e vai ser capturado, ao princípio ainda acredita que quem com ele vem dialogar o ajudará a percorrer as duas dezenas de quilómetros para chegar a Catió, é brutalmente ferido, o calvário vai começar.
Lobato já está na cela n.º 7 na Maison de Force de Kindia, Guiné Conacri.

Vai-nos contar o início do dia nessa cadeia de segurança onde jazem inimigos de Sékou Touré:
“Não resisto à curiosidade de ver o que se passa no exterior e penduro-me nas barras de reforço da porta para elevar a cabeça a uma altura que me faculte uns metros de horizonte.
O que vejo aterroriza-me! O pátio é hexagonal, um espaço a céu aberto para onde se abrem quatro portas de ferro, totalmente opacas, bem mais baixas que a minha e sem grades a encimá-las, vai-se enchendo de negros de todas as idades, descalços e quase nus, manifestamente subalimentados, que saem por aquelas portas como rebanhos escorraçados por uma fera invisível que os persegue.
No centro do pátio, chicote em riste e porta de carrasco, um guarda sem expressão facial, tão ameaçador quanto esquelético, orienta para o grande portão de saída aquela enxurrada de negros totalmente desprotegidos, distribuindo chicotadas à direita e à esquerda, vociferando insultos apenas intercalados por nojentas cuspidelas num chão de cimento muito irregular.

Junto ao portão de saída para o exterior, alinhadas ao lado de cada uma das ombreiras, duas colunas de homens armados. Nos pés trazem sandálias de plástico coloridas pela terra avermelhada dos caminhos que percorrem. Vestem calças engelhadas, de um caqui esverdeado, e uma camisa sem mangas, do mesmo tipo de tecido.
À medida que os prisioneiros saem para as GMC que os esperam à porta, vão sendo contados pelos soldados.
Terminada a tarefa do embarque para trabalhos forçados, os grandes portões fecham-se e tem início outra tarefa, atribuída aos inaptos para o trabalho no exterior e àqueles que alguma vez tentaram a fuga.
De cada uma daquelas quatro portas opacas, ainda abertas, saem agora pequenos grupos que se movem com alguma dificuldade. Uns são leprosos a que já faltam partes do corpo, sobretudo das mãos e dos pés; outros tossem convulsivamente e expelem escarros amarelos para aquele chão meio desfeito; outros, ainda, apoiam-se às paredes para não tombar e arrastam-se com dificuldade em direção a uma outra porta que entretanto se abriu e dá acesso a uma área de recreio.
Os menos afetados por doença ou caducidade sustentam nos braços metades de bidões de duzentos litros que transbordam de fezes e outros dejetos. Acompanhados por um guarda, saem pela porta principal. Minutos depois, oiço-os nas traseiras da minha cela a despejar os imundos recipientes.

Todos os dias, após esta operação, o mau cheiro engrossa como se de coisa sólida se tratasse e põe a prisão a transbordar de nojo.
O trágico amanhecer não fica por aqui. O encetar de uma terceira operação obriga-me a descer do meu posto de vigia, mas ainda bem que isso acontece, porque já tenho os braços dormentes de estar tanto tempo suspenso.
O guarda começa a abrir as portas das sete celas que também dão para o pátio hexagonal. Dois negros estropiados retiram do interior de cada cela um balde de zinco que a seguir despejam num bidão colocado para o efeito num dos ângulos do pátio.

Também eu tenho aqui dois baldes, sendo um deles substituto da sanita e outro servindo de contentor de água para todos os fins, isto é, para beber, para lavar e para substituir o papel higiénico que por estas paragens é desconhecido”.

A transcrição destes dois textos é um convite para que se releia António Lobato, um jovem sargento piloto-aviador capturado no Tombali, em maio de 1963 e libertado durante a “Operação Mar Verde”, em novembro de 1970.

Foi considerado herói nacional e voltou ao ativo até ter passado à reserva em 1981. Exerceu outros cargos, posteriormente.

É um dos mais impressionantes documentos de vida em cativeiro, senão mesmo o mais impressionante de todos. De leitura obrigatória.

Guiné 61/74 - P20576: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte VI


Foto 1 – Cumbijã; Abril de 1973. O ex-Cap Mil Vasco da Gama, Cmdt da CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74), participando no levantamento de uma das mais de trinta minas que encontraram, naquele que considerou ser "um deserto cheio de minas". Foto do seu álbum fotográfico – P7835, com a devida vénia.


Foto 2 – Cumbijã; Abril de 1973. O ex-Cap Mil Vasco da Gama, Cmdt da CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/1974), participando no levantamento de uma A/C. Da esq/dtª José Beires (Alf), Portilho (Cabo Enf), Vasco da Gama (Cap) e Florivaldo Abundâncio (Alf). Foto do seu álbum fotográfico – P3675, com a devida vénia.





O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, 
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior,  indigitado régulo da Tabanca de Almada e da Tabanca dos Emiratos; tem 230 registos no nosso blogue.GUINÉ


ENSAIO SOBRE AS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE, ACIDENTE, DOENÇA – PARTE VI


1.INTRODUÇÃO

Antes de mais, renovo os votos de Bom Ano de 2020 para todos os tabanqueiros.

Depois de um pequeno interregno motivado por razões pessoais e familiares, que são do conhecimento do Fórum, apresento-vos mais uma parte – a sexta – daquele a que dei o título de «Ensaio sobre as mortes de militares do Exército, no CTIG (1963-1974), da especialidade de "condutor auto rodas"», tendo por consulta e análise o universo das "Baixas em Campanha" identificadas na literatura "Oficial" publicada pelo Estado-Maior do Exército.
Recordo que para além do tratamento estatístico de cada uma das variáveis em presença, qualitativas e quantitativas, as diferentes narrativas abordam o que foi possível apurar nas leituras às diversas fontes consultadas, relacionadas com os episódios sinalizados/assinalados, em especial o vasto espólio disponível no blogue da «Tabanca».



2. ANÁLISE DEMOGRÁFICA DAS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE-ACIDENTE-DOENÇA (n=191)

A análise demográfica incluída nesta investigação, e as variáveis com ela relacionada, incidiu sobre os casos de mortes de militares do Exército da especialidade de "condutor auto rodas", ocorridas durante a guerra no CTIG (1963-1974), e identificados nos "Dados Oficiais" publicados pelo Estado-Maior do Exército, elaborados pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II, Guiné; Livros 1 e 2; 1.ª Edição, Lisboa (2001).

No presente fragmento apresentamos dois gráficos de barras referentes: o 1.º ao universo das "causas de morte" e o 2.º às variáveis "em combate". 


Gráfico 1 – Distribuição de frequências das "causas de morte", por anos, nas variáveis categóricas apuradas nos casos da investigação (n=191): "combate" (n=112-58.6%), "acidente" (n=57-29.9%) e "doença" (n=22-11.5%).


Da sua análise, verifica-se que em todos os anos a maioria das "causas" foram na variável "em combate", com excepção do ano de 1974, onde se registaram mais casos da variável "por acidente". Por outro lado, no ano de 1969 (o 7.º do conflito) o número de "causas" foi igual nas variáveis "em combate" e "por acidente", com oito casos cada.


Gráfico 2 – Distribuição de frequências das "causas de morte", por anos, nas variáveis categóricas em "combate" (n=112): por "contacto" (n=67-59.8%), por "minas" (n=33-29.5%) e por "ataque ao aquartelamento" (n=12-10.7%).



Da sua análise, verifica-se que em 2/3 dos anos a variável "combate" superou as restantes. Por outro lado, os casos de morte por "minas" superou as por "combate" em três anos consecutivos (1967, 1968 e 1969). De referir que nos anos de 1964, 1970 e 1974 não se registaram quaisquer casos de mortes de condutores por "minas".


3.
MAIS ALGUNS EPISÓDIOS E CONTEXTOS ONDE OCORRERAM MORTES DE CONDUTORES AUTO RODAS ["CAR"] POR EFEITO DE REBENTAMENTO DE "MINAS"

Neste terceiro ponto, honrando um dos principais objectivos deste trabalho, para além dos números, recuperam-se algumas memórias, sempre trágicas, quando estamos em presença de perdas humanas. Serão mais três "casos" (de um total de trinta e três), enquadrados pelos contextos conhecidos, aos quais adicionámos, ainda, outras informações consideradas relevantes.


Foto 3 – Cumbijã; Abril de 1973. "Árvore de minas" ronco e obra do colectivo da CCAV 8351 (os Tigres do Cumbijã), do ex-Cap Mil Vasco da Gama, relativas a três minas A/P e uma A/C, levantadas no dia 02Abr73, e nove minas A/P e três A/C, levantadas no dia 03Abr73, de um total de mais de trinta contabilizadas durante esse mês, como se refere nas legendas das fotos anteriores. Imagem do álbum fotográfico do Cap Vasco da Gama – P3675 –, com a devida vénia.

Em função da tormenta que "os Tigres do Cumbijã" tiveram de enfrentar na "guerra das minas", lidando com elas, certamente, com muita angústia, alguma raiva pelo seu impacto devastador, mas fazendo apelo a uma superior coragem e competência no seu manuseamento por parte do seu colectivo, diga-se com grande sucesso, ao Cap Vasco da Gama é-lhe dedicado o poema "NA ESTRADA DO CUMBIJÃ" escrito por Tavares de Bastos, ex-Alf da CCAÇ 3399 [Aldeia Formosa (Jul/71-Ago/73), do Cap Inf Horário José Gomes Teixeira Malheiro], unidade que, infelizmente, teve algumas baixas registadas em alguns dos itinerários comuns (P3640).




As referências à CCAV 8351, bem como ao seu Cmdt Cap Mil Vasco da Gama, pretendem ajudar a contextualizar a situação militar na região de Cumbijã, antes de aí ter chegado e durante a sua presença, para que se compreenda melhor as causas da morte do condutor auto rodas Arnaldo Augusto Fernandes Clemente, analisada no ponto 3.17.

A esse propósito, o Cap Vasco da Gama refere que o "Cumbijã havia sido abandonado em 1968 [Gr Comb da CART 1612?], durante o mandato do General Arnaldo Schulz (1910-1993), por efeito dos sucessivos ataques a que o aquartelamento era sujeito, causando inúmeras vítimas na população e nas NT". É, ainda, relevante o aprisionamento de oito militares, em 20Mai68, sendo dois da CCS/BART 1896 e seis da CART 1612 (P16171).

Entretanto, no início de 1973, ou seja cinco anos depois, é atribuída à CCAV 8381 a responsabilidade de reocupar o Cumbijã, facto verificado em Março de 1973, tendo aí ficado instalada até Junho de 1974. Foi uma missão arrojada e bastante dura, mas bem recebida pelos chefes da antiga Tabanca, que desde 1968 passaram a viver em Aldeia Formosa. Estes sentiram uma enorme alegria quando souberam que a sua antiga povoação ia ser ocupada pelos militares portugueses. Insistiam, sempre que havia colunas, a nelas serem incluídos para irem ver o que restava da sua Tabanca (P3675).




3.17. O CASO DO SOLDADO 'CAR' ARNALDO AUGUSTO FERNANDES CLEMENTE, DO PEL REC FOX 1101, EM 03.SET.1966, ENTRE ALDEIA FORMOSA E CUMBIJÃ

A quinta morte de um condutor auto rodas, do Exército, em "combate", por efeito do rebentamento de uma mina, foi a do soldado Arnaldo Augusto Fernandes Clemente, natural da freguesia de Chacim, pertencente ao Município de Macedo de Cavaleiros, ocorrida no dia 03 de Setembro de 1966, sábado, no decurso de uma coluna militar, no itinerário entre Aldeia Formosa e Cumbijã, na qual participava, também, elementos da CCAÇ 764.

O condutor Arnaldo Clemente pertencia ao Pelotão de Reconhecimento Fox 1101 [PEL REC FOX 1101], uma unidade formada no Regimento de Cavalaria 8, de Castelo Branco. O contingente do PREC 1101 cumpriu a sua comissão entre 12Mai66 (chegada a Bissau) e 17Jan68 (regresso a Lisboa). Sobre a História desta unidade não foi possível obter qualquer informação, apenas sabemos que os seus dezanove meses de missão foram passados em Aldeia Formosa.

Quanto à CCAÇ 764 [17Fev65-20Nov66, do Cap Inf António Jorge Teixeira (1.º), Cap Inf José Domingos Ferros de Azevedo (2.º) e Ten Inf José Alberto Cardeira Rino (3.º)], unidade que em 24Mai65 fez seguir para Buba dois Grs Comb, a fim de renderem iguais efectivos da CART 495 nos destacamentos de Cumbijã e Colibuia, no subsector de Aldeia Formosa, cuja responsabilidade assumiu em 01Jun65, ficando então integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 600 e depois do BCAÇ 1861 [do TCor Inf Alfredo Henriques Baeta (23Ago65-17Abr67)]. Em 18Nov66, a CCAÇ 674 foi rendida no subsector de Aldeia Formosa pela CCAÇ 1622 [18Nov66-18Ago68, do Cap Mil António Egídio Fernandes Loja], recolhendo a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso (p338).


3.18. O CASO DO SOLDADO 'CAR' ANTÓNIO CARLOS VIEGAS, DA CCS/BCAÇ 1856, EM 10.FEV.1967, ENTRE NOVA LAMEGO E MADINA DO BOÉ

A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas António Carlos Viegas, natural do lugar de Janardo, da Freguesia de Guardão, Município de Tondela, a sétima na sequência cronológica de casos semelhantes, ocorreu em 10 de Fevereiro de 1967, 6.ª feira, por efeito do rebentamento de uma mina anticarro [A/C], no decurso de uma escolta de reabastecimento iniciada em Nova Lamego com destino a Madina do Boé, na qual faleceu outro camarada seu, o soldado "CAR" António Zulmiro Gonçalves, a seguir indicado.


3.19. O CASO DO SOLDADO 'CAR' ANTÓNIO ZULMIRO GONÇALVES, DA CCS/BCAÇ 1856, EM 10.FEV.1967, ENTRE NOVA LAMEGO E MADINA DO BOÉ

A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas António Zulmiro Gonçalves, natural da freguesia de São Mamede de Infesta, Município de Matosinhos, a oitava na sequência cronológica de casos semelhantes, correu em 10 de Fevereiro de 1967, 6.ª feira, por efeito do rebentamento de uma mina anticarro [A/C], no decurso da mesma escolta citada acima.

Estes dois condutores auto rodas pertenciam à CCS do BCAÇ 1856, do Cmdt TCor Inf António da Anunciação Marques Lopes, unidade mobilizada pelo RI 1, da Amadora, decorrendo a sua comissão entre 06Ago65, com o desembarque em Bissau, e 15Abr67, como o seu regresso a Lisboa.

Depois de ter estado sete meses instalado em Brá (Bissau), às ordens do Comando-Chefe, e de ter actuado em diversas operações nas zonas Oeste e Leste do CTIG, como reforço de outros Batalhões, em 02Mar66 foi o comando do BCAÇ 1856 deslocado para Nova Lamego, enquanto a sua CCS se instalou em Piche, até 23Abr66, com vista à rendição do BCAV 705.

Decorridos mais dois meses, em 01Mai66, o BCAÇ 1856 assumiu a responsabilidade do «Sector L3», com sede em Nova Lamego, no qual estavam incluídos os subsectores de Bajocunda, Canquelifá, Piche, Buruntuma, Madina do Boé e Nova Lamego. Neste quadro desenvolveu intensa actividade operacional, principalmente na execução de patrulhamentos, reconhecimentos ofensivos, acções de intercepção e de defesa dos aquartelamentos e das populações, com vista a evitar o alastramento da luta armada na região do Gabú. (…) Em 15Abr67, foi rendido no sector de Nova Lamego pelo BCAV 1915, recolhendo a Bissau para embarque. (p.63)

Para a elaboração deste subponto foram consultadas, como principais fontes de pesquisa, as Oficiais publicadas pelo Estado-Maior do Exército, elaboradas pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 6.º Volume, Aspectos da Actividade Operacional, Tomo II, Guiné, Livro 2, 1.ª Edição, Lisboa (2015), p31, às quais se adicionaram, como complemento historiográfico, os contributos pessoais de alguns membros da Tabanca que destas ocorrências tiveram conhecimento.

Sobre estes casos, o livro da CECA faz referência aos factos com uma curtíssima descrição: "No período de 10 a 13Fev67 foi feita mais uma escolta de reabastecimento a Madina [Nova Lamego/Madina do Boé], conjugada com emboscadas a sul desta posição. Foi accionada uma mina anticarro, tendo as NT sofrido 6 mortos e 4 feridos, mas infligindo ao IN numerosas baixas. (Op. Cit. p31).

Na busca da identificação das baixas contabilizadas pelas NT nesta ocorrência, verificámos que para além dos dois condutores auto rodas falecidos, ambos pertencentes à CCS/BCAÇ 1856, os restantes quatro eram elementos da CCAÇ 1586, cujos nomes se indicam no quadro abaixo. 


De referir que a CCAÇ 1586, do Cap Inf António Marouva Cera, após a sua chegada a Piche a 06Ago66, assumiu dois dias depois a responsabilidade do respectivo subsector, substituindo dois Grs Comb da CCAÇ 1567, ali transitoriamente colocados, e guarnecendo, com um Gr Comb, o destacamento na ponte do rio Caium até 21Set66, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1586. A partir de Set66, passou a ter, cumulativamente, a função de subunidade de intervenção do sector, tendo os seus Grs Comb actuado em diversas operações realizadas e sido destacados, temporariamente, para várias localidades da sua zona de acção. (ver P18512).


Complementamos esta narrativa com algumas imagens da ocorrência entre Nova Lamego e Madina do Boé. 


Foto 4 – A Caminho de Madina (do Boé). Foto de José Domingues Ramos, 1.º Cabo Mecânico da CCaç 1416, do BCaç 1856. In: http://ultramar.terraweb.biz/CTIG/CTIG_Jose

DominguesRamos_Fotografias_03_A_Caminho_de_Madina.htm (com a devida vénia).


Foto 5 – As "viagens" de reabastecimento a Madina do Boé e a Béli. Testemunho do Abel Santos, da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) – P15786, com a devida vénia.


Foto 6 – Para que os bravos de Madina do Boé, de Béli e do Cheche não fiquem na "vala comum do esquecimento". Testemunho do Manuel Caldeira Coelho, da CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894 (Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68) – P8548 e P18867, com a devida vénia.


Foto 7 – Em 1998, algures na estrada Nova Lamego/Madina do Boé (trinta anos depois da foto 4), eis um exemplar, entre muitos, dos trágicos vestígios "arqueológicos" da guerra no CTIG. Foto do álbum fotográfico do Xico Allen – P3911 e P11822, com a devida vénia.

Termino este texto com uma pergunta… certamente difícil de obter resposta, e que é:

► Será que hoje, passado que está meio século, ainda existem vestígios "arqueológicos" semelhantes aos das imagens acima, no território da Guiné-Bissau?


Continua …

__________ 
 

Fontes Consultadas:

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002).
Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-569.
Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 2; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-304.

Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

17JAN2020
___________

Guiné 61/74 - P20575: Parabéns a você (1743): José Horácio Dantas, ex-1.º Cabo At Art da CART 1742 (Guiné, 1967/69)

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Nota do editor:

Último poste da série  de 19 de Janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20571: Parabéns a você (1742): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil Op Esp da CCAÇ 2617 (Guiné, 1969/71) e Manuel Mata, ex-1.º Cabo Ap Armas Pesadas do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71)

domingo, 19 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20574: Recortes de imprensa (111): Homenagem ao psiquiatra Afonso Albuquerque, "pai do stress de guerra e da APOIAR" (Mário Vitorino Gaspar, "O Notícias de Almeirim", 23/8/2019)


Lisboa > No dia 15 de Dezembro de 2000,  a APOIAR organizou um Colóquio, com o tema “A Rede Nacional de Apoio aos Ex Combatentes Vítimas do Stress de Guerra",  no Secretariado Nacional de Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência (SNRIPD).  Na foto, da esquerda para a direita, o Presidente da ADFA, Patuleia Mendes, a dra. Trindade Colarejo (SNRIPD), o doutor Afonso de Albuquerque e o Mário Vitorino Gaspar, Presidente da APOIAR.  (Foto: cortesia do Mário Gaspar, 2019)




Doutor Afonso de Albuquerque, 
Pai do Stress de Guerra e da APOIAR

O Notícias de Almeirim, 23-08-2019


[ex-fur mil art, minas e armadilhas,  CART 1659,
  Gadamael e Ganturé, 1967/68; 
tem mais de 110 referências no blogue]



1. Neste artigo, reproduzido por "O Notícias de Almeirim",  com a devida autorixação do autor,  o nosso camarada Mário Vitorino Gaspar [, foto à esquerda], presta-se uma homenagem ao "Doutor Afonso de Albuquerque:

Presidente e fundador da Associação Portuguesa de Terapia do Comportamento e da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, Ex- Director do Serviço de Psicoterapia Comportamental do Hospital Júlio de Matos, Presidente, Fundador, Presidente, em vários mandatos,  da Mesa da Assembleia Geral da APOIAR – Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra, Sócio Honorário.

Afonso de Albuquerque fez 83 anos em 2018 e completou 50 anos de carreira. Em entrevista à Sábado, 28/10/2018, falo do seu passado, pessoal e profissional. Ficamos a saber que, depous de regressar a Portugal com o título de especialista em Psiquiatria, atribuído pela Royal College of Psychiatrists, fez o seu serviço militar obrigtório, em Moçambique, de 1961 a 1964, antes do início da guerra colonial. Teve problemas com a PIDE e a justiça militar. Voltaria a ser preso pelo PIDE, antes do 25 de Abril. Foi simpatizante do MRPP., mas nunca militante.


2. Mas regressemos ao artigo do Mário Vitorino Gaspar:

[...] Entre outros cargos, [Afonso Albuquerque] é membro do “Royal College of Psychiatrists”  (England), autor de variadas publicações e artigos na área do PTSD [, Post-Traumatic Stress Disorder,]  e da Sexologia, pesquisador do trauma dos Ex-Combatentes, nesse sentido o Serviço que presidia, colaborou com a ADFA – Associação dos Deficientes das Forças Armadas, no Palácio da Independência, no apoio aos Ex-Combatentes da Guerra Colonial, em Janeiro de 1987. Em Setembro de 1989, os Serviços saem da ADFA.

Como sócio, fundador e dirigente da AOPIAR, doente e conhecedor de um pouco do trabalho desenvolvido pelo doutor Afonso Albuquerque, habilito-me a prestar-lhe a minha homenagem. Após o registo da APOIAR, fiz de parte de diversas listas, o dutor presidiu sempre à Mesa da Assembleia Geral, desde Dezembro de 1994 até Dezembro de 2004.


A APOIAR iniciou o percurso, sempre acompanhada pelo Doutor, investigador da doença, que apresentara o resultado de uma pesquisa científica, em conjunto com a Psicóloga Clínica Doutora Fani Lopes. Neste pode-se ler:

“… o conceito actual de Perturbação Pós Traumática do Stress (PTSD) – posttraumatic stress disorder, no DSM – III em 1980, também já incluído no ICD – 10, da Organização Mundial de Saúde, em 1992”. 

Diz ainda:

 “Não havendo estudos epidemiológicos sobre a distribuição da desordem de stress pós-traumático entre a população portuguesa, apontaram para a «existência em Portugal de 140.000 ex-combatentes vítimas de PTSD, por extrapolação das estatísticas americanas». (…) 

Este trabalho foi feito tendo por base números propostos por estudos epidemiológicos realizados junto da população americana. Tais estudos teriam sido promovidos pelos “ Centres for Disease Control” [CDC].


A APOIAR dava os primeiros passos na Sede, num vão de escadas, gentilmente por ele cedido nos Serviços de Psicoterapia Comportamental, existido uma mesa, duas ou três cadeiras, um armário e uma máquina de escrever. O Dr. Afonso de Albuquerque permitia que a APOIAR se servisse do seu gabinete, no 1.º andar, para receber principalmente a comunicação social, ou qualquer individualidade.


Em Outubro de 1995, o Doutor foi o principal impulsionador do “1.º Encontro sobre o Stress Traumático” na Fundação Calouste Gulbenkian.

Em parceria com a Biblioteca Museu República e Resistência, a APOIAR colaborou neste evento também com uma Exposição com o título «Guerra Colonial», e um Ciclo de Conferências: “Guerra Colonial. Um Diferente Olhar”, de 8 a 18 de Abril de 1996. Num painel intitulado “Mesa Redonda com Ex-Combatentes”, o Dr. Afonso de Albuquerque dirigiu um longo debate.

No dia 4 de Abril de 96, a APOIAR foi convidada a participar num Colóquio, organizado pela ADFA, com o tema «A Realidade do DPTS – Suas Causas e Consequências». Presidiu ao debate o General Ramalho Eanes, e entre outros, o Dr. Afonso de Albuquerque referiu: “A guerra, principalmente a de guerrilha, é a situação mais traumática”.


APOIAR denunciou, e inclusive no seu Jornal: 

(…)  Nas situações de juntas para a reforma, ou de revisão de baixas começou-se a ouvir: “É a doença nova”; “É a doença do Dr. Afonso de Albuquerque” ou: “Desconhecemos essa nova doença”.

A APOIAR participou no Colóquio da ADFA no Porto, no dia 29 de Novembro de 96, com o tema “A Realidade do PTSD – Suas causas e Consequências”. O Dr. Afonso de Albuquerque afirmou: “O PTSD é a única doença de Psiquiatria que pode surgir muito à posteriori”. 

Continuando:  “…uma das causas que provocam o PTSD é a exposição ao combate, e existe muito de comum entre a Guerra Colonial e a do Vietname, o serem ambas guerras de guerrilha, e as diferenças, favoráveis às das tropas americanas: melhor armamento, melhores serviços e campanhas inferiores a 12 meses, 3 deles fora das zonas de combate. Gozavam licença,  enquanto o soldado português não. Os americanos não possuem a tradição de confraternizar, ser a sua idade média inferior à do português, alguns casados, noivos ou com namoradas”.

No dia 28 de Fevereiro de 1998 a APOIAR organizou em Cuba [, Alentejo,] com a colaboração da Comissão de Ex-Combatentes e Residentes de Cuba,  um Colóquio, com uma Exposição Fotográfica com o tema «Guerra Colonial – Memória Silenciada».

O Doutor Afonso de Albuquerque afirmou: 

 (i) “… o trabalho de acompanhamento aos ex-combatentes é um trabalho pesado, o mais pesado da minha vida como médico”;

(ii) “A juventude que era de alegria foi marcada pela tristeza”;

(iii) " (...) 30% de combatentes, incluindo oficiais e sargentos – principalmente os milicianos – devido à responsabilidade de comando, sofrem de PTSD. Metade, portanto 15%, estão em estado crónico”;

(iv) (...) Quer dizer, dos 140.000 – número calculado por extrapolação dos dados americanos – 50.000 podem estar incapacitados totalmente para o trabalho”;

(v) “… a doença é perversa, retardada e rebenta mais tarde”;

(vi) “Existem doenças associadas ao PTSD: o alcoolismo surge com frequência, sendo o suicídio maior nos ex-combatentes e menor a longevidade – morre-se mais cedo”.

Interessa antes de tudo que o ex-combatente seja acompanhado por psicólogos e psiquiatras, e que o mesmo acompanhamento seja extensivo à família. Sucede existir pouca sensibilidade de certos médicos, que dizem ignorar a PTSD, embora esta seja aceite pela Organização Mundial de Saúde. 

É bom que a APOIAR e a ADFA colaborem ambas de molde a permitir que a doença seja reconhecida, a doença existe, foi causada pela guerra. Nos Estados Unidos motivado pela Guerra do Vietname, a partir de 1980 surgiram diversos movimentos: Médicos no Congresso e o Movimento dos Combatentes entre outros, conseguindo que fosse publicada legislação.

Em 14 de Julho de 1998,  foi apresentado pelo Deputado Carlos Encarnação,  do PSD,  um Projecto para o reconhecimento em Portugal do Stress de Guerra, e Criada uma Rede Nacional de Apoio às Vítimas de PTSD.

No dia 19 de Setembro de 1998,  a APOIAR reuniu com o Dr. Álvaro de Carvalho, Director dos Serviços de Psiquiatria e Saúde Mental, que solicitou à APOIAR um parecer técnico para ser enviado por ele mesmo, como responsável máximo da Psiquiatria e Saúde Mental, a todos os Hospitais, Centros de Saúde Mental e Escolas de Enfermagem para que os técnicos conheçam mais pormenores sobre a doença. A APOIAR considerou ser o Doutor Afonso de Albuquerque a pessoa mais indicada para fazer o “parecer técnico”, parecer esse que deu origem à legislação, e o reconhecimento do trabalho da APOIAR. Esse parecer,  elaborado pelo Doutor Afonso de Albuquerque,  foi-lhe entregue posteriormente.

No dia 25 de Setembro de 1998 houve um ciclo com o tema “Amor em Tempo de Guerra”, conjuntamente com uma Exposição denominada “O Erotismo na Arte”. 

O Doutor Afonso de Albuquerque, que cumpriu a Comissão em Moçambique [, enter 1961 e 1964], como médico, disse: 

“A sexualidade em tempo de guerra tem a ver com a experiência havida em tempo de paz. (...) Chegados os soldados à zona de guerra as prostitutas surgiram logo, existindo uma mulher europeia, por cada dez europeus. O perigo das relações sexuais com as nativas eram as doenças venéreas. Não havia preservativo, mas bisnagas de sulfamida. Os soldados afirmavam que aquilo tirava a potência, sucedendo existirem experiências sexuais com animais".

A APOIAR convocou uma Conferência de Imprensa no dia 19 de Maio de 1999. Na Mesa: Doutor Afonso de Albuquerque; Mário Vitorino Gaspar, Presidente e Carmo Vicente, Vice-presidente da Direcção Nacional. Foi entregue à Comunicação Social um documento, que foi lido. Muitas questões levantadas pelos bastantes jornalistas. 

A SIC fez uma entrevista em directo para o Telejornal das 13H00, entre outras questões, e prometendo-nos que nos acompanhava ao Parlamento:  “Qual a posição que a APOIAR tomará caso seja chumbado o Projecto de Lei?" Após consulta rápida decidiu a DN. Foi dito pelo Presidente Mário Vitorino Gaspar:  “… caso o projecto de lei chumbe,  não votaremos nas próximas eleições, que se aproximam, e iremos recomendar a mesma medida aos ex-combatentes e ao país”.

 O Dr. Afonso de Albuquerque afirmou:  “… É extremamente importante a publicação e regulamentação da Lei e a formação de técnicos, temendo que a mesma seja feita de modo a não apoiar devidamente os ex combatentes e família”.

O Stress de Guerra já tem lei, aprovado o Projecto de Lei, por unanimidade na Assembleia da República e fez nascer a Lei de Apoio às Vítimas de Stress Pós Traumático de Guerra e passou a existir uma Rede Nacional de Apoio. A Lei foi promulgada em 27 de Maio. {Lei nºn46/99, de 16 de Junho].

No dia 15 de Dezembro de 2000, a APOIAR organizou um Colóquio, com o tema “A Rede Nacional de Apoio aos Ex Combatentes Vítimas do Stress de Guerra",  no Secretariado Nacional de Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência. Além do Secretariado, presente o Presidente da ADFA, Patuleia Mendes, Mário Vitorino Gaspar, Presidente da APOIAR e Doutor Afonso de Albuquerque. [Vd. foto acima].


[...] Este, após resumidamente focar a história da doença referiu:   “A terapia de grupo é o melhor dos tratamentos para a doença”, continuando:  “Quanto à criação de Centros da Rede Nacional de Apoio, têm de ser diferentes de um posto dos serviços de saúde, embora necessitando sempre uma ligação com o SNS”. Mário Vitorino Gaspar afirmou: “O apoio só deve ser prestado depois de um ambiente de confiança mútua”.

No dia 4 de Fevereiro de 2002 a APOIAR na pessoa do seu Presidente da Direcção Nacional, Mário Vitorino Gaspar, assinou o Protocolo, no Salão Nobre do Ministério da Defesa Nacional .

A APOIAR, a convite de Sua Excelência o Ministro da Saúde, participou em Lisboa num Workshop, com o tema “Perturbações de Pós Stress Traumático em Ex. Combatentes” no dia 4 de Novembro de 2002. Está agendado outro Workshop no dia 5 de Novembro de 2002 em Coimbra, em 12 de Novembro, no Porto. A APOIAR e a ADFA foram convidados para a Mesa nos três Workshops.

Na sessão de abertura não estiveram presentes os Ministros da Saúde, Estado e da Defesa Nacional, Segurança Social e do Trabalho e Suas Excelências o Secretário de Estado da Saúde, e o do Estado da Defesa Nacional e dos Antigos Combatentes, tal como estava agendado.

Referiu o Doutor Afonso de Albuquerque: 

“… o conceito PTSD é recente, mas as reacções do ser humano são de sempre. Todos aprendemos a lidar com o perigo e já Shakespeare descreve na sua obra as reacções horrores agudas, mas foi principalmente a guerra,  que permitiu que estas reacções fossem estudadas. Na Guerra Civil Americana {surgou] a expressão «Irritable Heart Syndrome». Foram estudados casos, após a II Guerra Mundial, sucedendo a Guerra da Coreia, só existindo 6% de evacuações de origem psiquiátrica. 

"Os portugueses quando regressaram da guerra encontraram um clima anti-guerra, tinham partido como heróis e regressado como assassinos. PTSD de Guerra está considerada como «uma doença ansiosa".

Findou:  “… em 1992 entre 15 a 50% dos militares desenvolvem PTSD com origem na Guerra Colonial. No estudo da população em geral e em Portugal foram encontrados 7,8%”.

No dia 27 de Novembro de 2002,  a APOIAR, esteve representada pelo Presidente e Vice-presidente, respectivamente Mário Vitorino Gaspar e António Pinheiro e Técnicos, a convite dos Laboratórios Pfizer, Lda.,  surge:

Doutor Afonso de Albuquerque e da Professora Doutora Catarina Soares, esteve presente na “Apresentação dos Resultados do 1º. Estudo de Prevalência de Perturbação do Stress Pós Traumático, em Portugal”, estando presentes igualmente outras Associações e Técnicos de Saúde.

O Doutor Afonso de Albuquerque fez uma breve resenha histórica, e referindo o impacto na Psiquiatria das Guerras Mundiais e das Guerras da Coreia e do Vietname, e por tal a publicação em 1980 do DSM-II, em Portugal, o impacto da Guerra Colonial Portuguesa e posterior luta em defesa dos ex combatentes que deu origem à publicação da Lei nº. 46/99”. 

Frisou ainda: 

“Neste trabalho, quanto aos acontecimentos traumáticos que causaram PTSD, [surge] 

(i) o combate com 10,9%;  

(ii) abuso sexual antes dos 18 anos com 21,7%; 

(iii) violação com 23,1%; 

(iv) catástrofe natural com 1,4%; 

(v) morte violenta de familiar ou amigo com 12,3%; 

(vi) testemunha de acidente grave ou morte com 3,8%; 

(vii) acidente grave de viação com 5,6%;

(vii)  incêndio com 0,5%; 

(viii) ameaça com arma com 5,5%; 

(ix) ataque físico com 9,3%;

(x)  roubado ou assaltado com 2,4%”. 

"… PTSD na população exposta ao combate foi de 0,8% da amostra total é de 10,9%, relativamente aos indivíduos expostos."

Considerando a totalidade de acontecimentos traumáticos que foram causa de PTSD, verifica-se que a situação que mais contribuiu para o total de casos foi «morte violenta de familiar ou amigo».

No conjunto, os resultados deste estudo assemelham-se aos encontrados em estudos epidemiológicos realizados noutros países”. (...) Limitações do estudo: (...) em 1º. lugar a existência de potencial «enviesamento» da amostra; entrevistas realizadas por pessoas sem formação clínica e necessidade de confirmação destes resultados com mais estudos (população geral e/ou populações específicas).

Em 14 de Dezembro de 2002, na 16ª Assembleia Geral da APOIAR, no Salão Nobre do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, por proposta da Direcção Nacional foi atribuída a qualidade de Socio Honorário ao Doutor Afonso Abrantes Cardoso de Albuquerque.

Atrevo-me a afirmar: Doutor Afonso de Albuquerque, Pai do Stress de Guerra e da APOIAR. (...)

O Notícias de Almeirim, Edição online semanal, 23/8/2019

[Revisão / fixação de texto para efeitos de edição neste blogue: LG]
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Nota do editor:

Último poste da série >17 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20464: Recortes de imprensa (110): Pinto Leite, Leonardo Coimbra, José Vicente de Abreu e Pinto Bull, os parlamentares que pereceram no acidente aéreo de 25/7/1970 ("Diário de Lisboa", 27 de julho de 1970)

Guiné 61/74 - P20573: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (50): No dia 8 de Janeiro de 2020, o "Bando do Café Progresso" distingiu os seus Veteranos

1. Em mensagem do dia 16 de Janeiro de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos mais uma memória boa da sua guerra, desta vez dando conta de uma justa homenagem aos Veteranos que compõem o "Bando".


MEMÓRIAS BOAS DA MINHA GUERRA

50 - O Bando distinguiu os seus Veteranos


Foto dos Bandalhos junto da Câmara Municipal da Maia

Ontem, dia 8 de Janeiro, decorreu na Maia o último convívio mensal do Bando do Café Progresso - das Caldas à Guiné. Deste programa, destaca-se ainda o facto de estar a assinalar o seu 11.º Aniversário. Do Estádio do Dragão, local habitual das concentrações, seguiram os Bandalhos para o Restaurante Miramaia, após algumas fotos de grupo e de muita e saudosa “mantenha”.

Desta vez, foi aplicada a prática de menu à escolha, em regime de Almoço para Executivos

Durante o almoço, o Presidente, Jotex de Cerva, fez uso da palavra e após o brilhante discurso em verso, resolveu atribuir e distribuir aos Bandalhos, importantes diplomas de reconhecimento das suas capacidades.

Foram estas as palavras de Sua Excelência:

Caros Camaradas

“Largos dias são cem anos”
O nosso Papa, em palavra sadia,
Nos quis transmitir,
Que bem cedo ou hora mais tardia,
Justiça terá que vir.

O 25 de Abril chegou,
Portugal acordou
A guerra acabou.
Justiça prometeram
Alegrias vieram
E felicidade fizeram

Porém…
O tempo passou,
A justiça tardou
O poder abusou
E a ingratidão aumentou.

Meio século mais tarde
Muitos Heróis já morreram
E muitos mais sofreram
Nesses tempos, sem alarde
Outros adoeceram
E muitos amoleceram
Neste mundo covarde.

Restam grupos de veteranos
Chamados “peste grisalha”
Que gritam de revolta
Perante tanta canalha.

Eis senão quando
Despertam em Movimento
Camaradas que, em Bando,
Clamam contentamento.

E, assim, vamos bebendo
Conversando em voz alta
Comendo e comendo
Animando toda a malta

Agora que o tempo escasseia
E a injustiça campeia
Coisas sérias urge fazer:
Vamos brincar e sorrir
Sem as consequências medir
Mas… sem medo de viver!

Hoje, quase tudo é doutor,
Diplomas proliferam.
Já esqueceram o suor
E as lágrimas “já eram.”
Do sangue derramado
Em ambiente “sagrado”
Nada ficará registado.

Do horror dos mosquitos,
E do ódio aos “chicos”,
Dos combates aflitos,
De todo o frio nos dentes,
E das saudades ardentes
E das artes marciais
E outras que tais,
Nem uma palavra mais.

E foi por estas razões,
Assumindo as competências
Que me foram outorgadas,
Sem mais tempo ou dilações
E sem outras diligências
Porventura aconselhadas
E sem mais outros trabalhos,
Atribuo aos BANDALHOS
Com muita, muita emoção:
“Diploma de… PÓS-GRADUAÇÃO”

PARABÉNS A TODOS!!!


(UNIVERSIDADE DOS HERÓIS
Veterano Jotex de Cerva, Presidente do Colégio dos Bandalhos, faz saber que graças às experiências patrióticas colhidas na luta contra calor, “chicos” e mosquitos, com saudades, sangue, suor e lágrimas, é atribuído o grau de Homem Grande ao veterano de guerra 25 de Abril de 1974)

Edifício Lidador (Isqueiro da Maia), 5.º edifício mais alto de Portugal, tem 92 metros, 22 andares mais 51 degraus.


Graças à colaboração da Câmara Municipal da Maia, o seu Departamento de Turismo destacou a sua técnica Rita Azevedo que, com extrema simpatia e profissionalismo, nos serviu de Guia na visita ao Edifício Lidador, mais conhecido pelo “Isqueiro da Maia”. A nossa paragem no 19.º andar mereceu também umas breves palavras do Eng. António da Silva Tiago, Presidente da Edilidade.

Presidente da Câmara da Maia, manifestou a sua simpatia e respeito, pela visita dos Combatentes do Bando

Lá no alto, apesar do tempo nubloso, foi possível captarem-se imagens deslumbrantes.


A família Campos empenhou-se no seu papel de anfitriã a tão ilustre delegação de Veteranos de Guerra

E quando nos chamavam à atenção do slogan “Sorria que está na Maia”, a reacção era evidente.
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18418: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (49): O "Senhor Badalhoco" foi à Escola