sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20629: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte VII


Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC colocando uma mina", Fundação Mário Soares / DAC – Documentos Amílcar Cabral, disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43786 (com a devida vénia)


Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC colocando uma mina antipessoal num trilho.", Fundação Mário Soares / DAC – Documentos Amílcar Cabral, disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43129 (com a devida vénia).


Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC montando uma mina", Fundação Mário Soares / DAC – Documentos Amílcar Cabral, disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44195 (com a devida vénia).




O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, 
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, indigitado régulo da Tabanca de Almada e da Tabanca dos Emiratos; tem 230 registos no nosso blogue.GUINÉ



ENSAIO SOBRE AS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE, ACIDENTE, DOENÇA – PARTE VII


1. - INTRODUÇÃO

Continuamos a levar ao conhecimento do colectivo da «Tabanca Grande» os resultados da investigação que encetámos, titulada de «Ensaio sobre as mortes de militares do Exército, no CTIG (1963-1974), da especialidade de "condutores auto rodas"», tendo por principal fonte de consulta e análise o universo das "Baixas em Campanha" identificadas na literatura "Oficial" publicada pelo Estado-Maior do Exército.

Para a estruturação do presente fragmento – o sétimo – partimos do contexto abordado no anterior (P20576), que tinha por cenário Cumbijã – "um deserto cheio de minas" – e onde o colectivo da CCAV 8351 (os Tigres do Cumbijã), do ex-Cap Mil Vasco da Gama, contabilizou o levantamento de mais de três dezenas de engenhos explosivos durante o mês de Abril de 1973.

Porque a acção do levantamento desses engenhos é "causa e efeito" da sua existência, onde o primeiro acto (colocação) é responsável pelo segundo (levantamento), quem sabe se na "árvore de minas", ronco e obra do colectivo da CCAV 8351, apresentada no poste anterior, está alguma que as imagens acima documentam/comprovam. Ou se, na pior das hipóteses, foram accionadas, provocando dor, sofrimento e perdas humanas.


2. - ANÁLISE DEMOGRÁFICA DAS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE-ACIDENTE-DOENÇA (n=191)

Recordamos que a análise demográfica que comporta esta investigação, e as variáveis com ela relacionada, continuam a incidir sobre os casos de mortes de militares do Exército durante a guerra no CTIG (1963-1974), da especialidade de "condutor auto rodas", ocorridas durante a guerra no CTIG (1963-1974), e identificados nos "Dados Oficiais" publicados pelo Estado-Maior do Exército, elaborados pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II, Guiné; Livros 1 e 2; 1.ª Edição, Lisboa (2001).

No presente fragmento, a análise demográfica foi estratificada a partir da naturalidade do universo dos casos (n=191), primeiro por Distrito (dezoito no continente), Ilhas do Atlântico (Arquipélagos da Madeira e dos Açores) e CTIG (Recrutamento Local). Seguiu-se a sua organização pelas três Regiões Continentais (Norte, Centro e Sul), mais as duas Regiões Autónomas (Madeira e Açores) e o CTIG (Recrutamento Local).

São de salientar dois casos particulares. No continente, o Distrito de Setúbal não registou qualquer baixa na especialidade de "condutor auto rodas" durante o conflito. Igual resultado foi apurado na Região Autónoma da Madeira.

Para conhecimento do vasto auditório, abaixo de apresentam os diferentes quadros elaborados para o efeito, seguido do mapa do território nacional à data do conflito.







3. - MAIS ALGUNS EPISÓDIOS E CONTEXTOS ONDE OCORRERAM MORTES DE CONDUTORES AUTO RODAS ["CAR"] POR EFEITO DE REBENTAMENTO DE "MINAS"

Neste ponto, reservado à caracterização de cada uma das ocorrências identificadas durante a realização do estudo, apresentamos mais dois "casos" (de um total de trinta e três). Em cada um deles, recuperamos algumas memórias, consideradas relevantes, extraídas das diferentes fontes de informação consultadas, em particular o vasto espólio do nosso blogue, enquadradas pelos contextos conhecidos.

3.20 - O CASO DO 1.º CABO 'CAR' JÚLIO FERNANDO ANTUNES FERNANDES, DO PREC FOX 1101, EM 19.MAI.1967, ENTRE ALDEIA FORMOSA E MISSIRÁ

A nona morte de um condutor auto rodas, do Exército, em "combate", por efeito do rebentamento de uma mina, foi a do 1.º Cabo Júlio Fernando Antunes Fernandes, natural da freguesia de Vilarinho, Município da Lousã, Coimbra, ocorrida no dia 19 de Maio de 1967, 6.ª feira, no decurso de uma coluna militar, no itinerário entre Aldeia Formosa e Missirá (ver mapa abaixo), na qual participavam, também, elementos da CCAÇ 1622.


O condutor Júlio Fernandes pertencia ao Pelotão de Reconhecimento FOX 1101 [PEL REC FOX 1101], uma unidade formada no Regimento de Cavalaria 8, de Castelo Branco. O contingente do PREC 1101 cumpriu a sua comissão entre 12Mai66 (chegada a Bissau) e 17Jan68 (regresso a Lisboa). Sobre a História desta unidade não foi possível obter qualquer informação, apenas sabemos que os seus dezanove meses de missão foram passados em Aldeia Formosa.

De referir que a morte do condutor Júlio Fernandes ocorreu oito meses e meio depois da primeira baixa registada pelo Pel Rec Foz 1101, pelos mesmos motivos, como foi o caso do soldado Arnaldo Augusto Fernandes Clemente, natural da freguesia de Chacim, Município de Macedo de Cavaleiros, Bragança. Esta verificou-se no decurso de uma coluna militar, no itinerário entre Aldeia Formosa e Cumbijã (P20576).

Quanto à CCAÇ 1622 [18Nov66-18Ago68, do Cap Mil António Egídio Fernandes Loja], assumiu, em 18Nov66, a responsabilidade do subsector de Aldeia Formosa, em substituição da CCAÇ 764 [17Fev65-20Nov66, do Cap Inf António Jorge Teixeira (1.º), Cap Inf José Domingos Ferros de Azevedo (2.º) e Ten Inf José Alberto Cardeira Rino (3.º)], destacando um Gr Comb para Cumbijã e, depois, outro para Chamarra, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1861 [23Ago65-17Abr67, do TCor Inf Alfredo Henriques Baeta] e depois do BART 1896 [18Nov66-18Ago68, do TCor Art Celestino da Cunha Rodrigues].

Em 09Fev67, deslocou um Gr Comb para Colibuia, a fim de colmatar a saída da CCAÇ 1488 [26Out65-01Ago67, do Cap Inf António Manuel Rodrigues Cardoso] até à instalação da CART 1613 [18Nov66-18Ago68, do Cap Mil Grad Art Fausto Manteigas da Fonseca Ferraz (1.º) e Cap Art Eurico de Deus Corvacho (2.º) e de onde saiu em 28Mai67, a fim de guarnecer, temporariamente, a localidade de Contabane.

Em 18Jun67, após rotação com a CCAÇ 1591 [04Ago66-09Mai68, do Cap Inf Luís Carlos Loureiro Cadete], foi instalada em Mejo, no mesmo sector, com vista à realização continuada de emboscadas e patrulhamentos no corredor de Guileje, em coordenação com a actividade de outras subunidades do sector e onde se manteve até ser substituída pela CCAÇ 2316 [24Jan68-08Nov69, do Cap Inf Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (1.º), do Cap Inf António Jacques Favre Castel Branco Ferreira (2.º), …], em 22Mar68, após o que se deslocou para Bolama, mantendo, no entanto, um Gr Comb em Catió até 16Mai68, em reforço do BART 1896 [18Nov66-18Ago68, do TCor Art Celestino da Cunha Rodrigues].

Após um período de descanso e recuperação em Bolama [vinte e cinco dias], então como subunidade de reserva do Comando-Chefe, foi transferida para Jolmete em 17Abr68, onde substituiu a CCAÇ 1683 [02Mai67-16Mai69, do Cap Mil Cav José Manuel Pontífice Mancoto Monteiro], ficando então integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1911 [o seu, do TCor Inf Álvaro Romão Duarte (1.º), …] e depois do BCAÇ 2845.

Em 05Jun68, foi substituída em Jolmete pela CCAÇ 2366 [06Mai68-03Abr70, do Cap Mil Art Fernando Lourenço Barbeitos], por troca, seguindo para Teixeira Pinto, no mesmo sector, onde se manteve até 22Jun68, colaborando na realização de patrulhamentos, emboscadas e na segurança do aquartelamento. Em 23Jun68, recolheu a Bissau, onde se manteve a aguardar o embarque de regresso.

3.21 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' JOAQUIM CORVO TRINDADE, DA CCAÇ 2446, EM 29.AGO.1969, ENTRE GALOMARO E DULOMBI

A vigésima quarta morte de um condutor auto rodas, do Exército, em "combate", por efeito do rebentamento de uma mina anticarro, foi a do soldado Joaquim Corvo Trindade, natural da freguesia e Município de Castro Marim, Faro, ocorrida no dia 29 de Agosto de 1969, 6.ª feira, no decurso de uma coluna militar de reabastecimento, no itinerário entre Galomaro e Dulombi, na qual participava, também, o 3.º Gr Comb da CART 2339 [21Jan68-04Dez69, do Cap Mil Grad Art Arnaldo Manuel Pedroso de Lima (1.º), …], do camarada Carlos Marques dos Santos, falecido em 30 de Dezembro último (P20513).

Este episódio aconteceu três dias depois de uma outra viatura da mesma unidade ter accionado uma mina anticarro na região de Cansissé, na estrada Madina Xaquili-Galomaro, provocando a morte do soldado Fernando Orlando Rodrigues Vasconcelos, natural da freguesia de Santa Luzia, Município do Funchal, Madeira.

O soldado Fernando Vasconcelos e o soldado "CAR" Joaquim Trindade pertenciam à Companhia de Caçadores 2446 [CCAÇ 2446], uma unidade formada no Batalhão Independente de Infantaria 19 [BII19], no Funchal, Madeira [15Nov68-01Out70, do Cap Mil Inf Manuel Ferreira de Carvalho].

Esta unidade "Madeirense" foi colocada no Cacheu, em 04Dez68, a fim de render a CCAÇ 1681 [02Mai67-16Mai69, do Cap Inf Manuel Francisco da Silva], assumindo, então, a responsabilidade do respectivo subsector em 07Dez68, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 2845 [06Mai68-03Abr70, do TCor José Martiniano Moreno Gonçalves] e depois do BCAV 2868 [01Mar69-30Dez70, do TCor Cav Carlos José Machado Alves Morgado], com um Gr Comb destacado em Bachile, desde 29Nov68 a 24Abr69. Em 24Abr69, foi substituída na missão de quadrícula pela CCAV 2485/BCAV 2868 [do Cap Cav José Maria de Campos Mendes Sentieiro], ali colocada anteriormente de reforço, recolhendo temporariamente a Bissau.

Em 01Mai69, foi deslocada para Mansabá, onde se manteve até 20Jun69. Em 21Jun69, seguiu para Bafatá, a fim de assumir a função de subunidade de intervenção e reserva do AGR 2957, tendo sido atribuída em reforço do BCAÇ 2856 [28Out68-01Out70, do TCor Inf Jaime António Tavares Machado Banazol], para a realização de operações na região de Sinchã Jobel e de emboscadas na região de Padada, tendo-se deslocado para Madina Xaquili, en 24Jul69.

Em 28Jul69, foi atribuída ao COP 7, então criado, com vista à realização de emboscadas e batidas na região de Cansissé/Madina Xaquili/Duas Fontes, estacionando em Dulombi a partir de 31Jul69, permanecendo dois Grs Comb em Madina Xaquili.

Em 19Ago69, o comando e um Gr Comb foram deslocados para Galomaro, continuando dois Grs Comb destacados em Madina Xaquili e Dulombi, respectivamente até 05Nov69 e 23Nov69. Em 07Nov69, a subunidade assumiu a responsabilidade do subsector de Cancolim, então criado com a entrada em sector do BCAÇ 2861 [11Fev69-07Dez70, do TCor Inf César Cardoso da Silva (1.º) e TCor Inf João Polidoro Monteiro (2.º)] e respectiva reformulação de limites de zonas de acção do AGR Leste, tendo transferido para aquela localidade a sua sede em 16Nov69 e guarnecido o destacamento de Sanguê Cambomba, a partir de 23Nov69.

Em 30Jun70, foi rendida no subsector de Cancolim pela CCAÇ 2699 [01Mai70-20Mar72, do Cap Mil Art João Fernando Rosa Caetano], por troca, tendo-se deslocado, por fracções, para o sector de Bissau, em 28Jun70 e 02Jul70, assumindo então a responsabilidade do subsector de Brá (Bissau).


Mapa da região de Bafatá e do subsector de Galomaro por onde circulou o contingente da CCaç 2446 (Madeirense) durante um ano (Jun'69-Jun'70).

Entretanto, e em face do particular agravamento da situação na zona de Pirada, foi atribuída, temporariamente, ao COP 1 em reforço dos efectivos na área, em 17Jul70, com vista a garantir a defesa de Pirada e povoações de Sissancunda, Goler e Deabugu, ali permanecendo até à chegada da CART 2762 [20Jul70-17Jun72, do Cap Art Fernando Manuel Gomes da Silva Malha], em 26Jul70, após o que regressou a Bissau, permanecendo em Brá até finais set/70.

Pela análise à síntese operacional da CCAÇ 2446, constata-se que o episódio que vitimou o soldado "CAR" Joaquim Trindade ocorreu um mês após o estacionamento da sua unidade em Dulombi.


Um dos elementos que esteve envolvido neste doloroso acontecimento foi o nosso camarada ex-Fur Mil Art Carlos Marques dos Santos (1943-2019), da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69) [imagem ao lado]. Sobre esta ocorrência, a nossa testemunha ocular conta-nos o que presenciou (P9340):

"Um mês a feijão-frade, sem banho e sem muda de roupa, em Mondajane (Dulombi-Galomaro), de 27 de Agosto a 27 de Setembro de 1969, a menos de três meses do fim da comissão, onde estive com o meu pelotão em reforço do sector de Galomaro/Dulombi, mais propriamente em Mondajane. (…)

"A 27Ago69 foi recebida a notícia de que íamos para Galomaro, em reforço da CCAÇ 2405 [30Jul68-28Mai70, do Cap Mil Inf José Miguel Novais Jerónimo]. No dia seguinte (28), saímos e chegámos cerca do meio-dia com indicação de que iríamos para Mondajane, a seguir a Dulombi, o que não aconteceu nesse dia mas sim no dia seguinte (29). No cruzamento para Dulombi rebenta uma mina na GMC que segue à minha frente (nós íamos apeados, fazendo a segurança à coluna que integrava uma nova Companhia em treino operacional e que era de madeirenses, a CCAÇ 2446, a cerca de 15/20 metros, destruindo a sua frente.

"O resultado desta explosão foi um morto (desintegrado) [António Camacho da Silva, natural da freguesia de Estreito de Câmara de Lobos, Município de Câmara de Lobos, Madeira] e um ferido (condutor) [Joaquim Corvo Trindade] que faleceu nesse dia. Esta mina rebentou a cerca de 12 metros de mim e felizmente nada sofri. O soldado, pela acção da mina, desintegrou-se, literalmente. Bocados desse soldado, o relógio, roupa, etc., ficaram agarrados à árvore. Impossibilitados de prosseguir fomos para Dulombi com os reabastecimentos. Aí fomos informados que deveríamos seguir a pé para Mondajane (a sudoeste de Dulombi), que atingimos e onde nos instalámos." (…).

Em comentário à narrativa do Carlos Santos, publicada no P9340, Luís Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ
3491 (Dulombi e Galomaro, 1971/1974) refere:

"A minha companhia foi render a CCAÇ 2700 [01Mai70-22Mar72, do Cap Inf Carlos Alberto Maurício Gomes], no Dulombi, em Janeiro de 1972 (…). Passado aquele tempo todo [dezasseis meses], um pouco a seguir ao cruzamento da picada entre Galomaro e Dulombi, com a picada para Mondajane, ainda existiam vestígios nas árvores dessa mina A/C que tu referes. A tabanca de Mondajane terá sido abandonada, após uma forte ataque do PAIGC já em 1970".

Continua …
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Fontes Consultadas:

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002).

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-569.

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 2; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-304.

Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.
31Jan2020
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Guiné 61/74 - P20628: Notas de leitura (1262): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (44) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Setembro de 2019:

Queridos amigos,
Encaminhamo-nos para o desfecho esperado, o regresso a casa.
É tempo de cirandarmos por diferentes regiões, falou-se do Sul, do Norte, foram sobretudo estas as áreas de atuação do BCAV 490, faltando o Leste, é dele que hoje se fala, continuando para o episódio seguinte. E é o quadro de vida que também merece ser pontuado: a mina e a emboscada, por exemplo. E deixa-se um desabafo ao leitor: quanto mais se lê sobre as primícias da luta armada, logo releva silêncios e omissões dos dois lados, praticaram-se excessos, brutalidades inarráveis.
O PAIGC, no fervor da propaganda, não esquecia a morte de um dos seus primeiros líderes militares, Vitorino Costa, mas omitia as atrocidades, cortes de orelha e narizes, tudo ficou documentado, mas não convinha dar muito nas vistas, haverá sempre mistérios de parte a parte. E quanto mais se tenta perceber a reação dos Altos Comandos Portugueses a um fenómeno avassalador, totalmente inesperado enquanto atos subversivos, terá que se concluir que esses Altos Comandos, mormente Louro de Sousa e Arnaldo Schulz não podiam deixar de disseminar forças militares por todo o território e tentar, com aldeamentos nas proximidades dos destacamentos, dar a segurança indispensável. O que é curioso é que o mediático Spínola, que criticava acerbamente os seus antecessores, não mexeu nas pedras essenciais, e teve muitíssimos mais meios que esses seus antecessores não tiveram.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (44)

Beja Santos

“Grande amargura se passou
com estilhaços de uma granada.
A vinte e sete deste mês
morreu mais um camarada.

Em Maio com seus companheiros
o amigo Rogério saiu
e de manhã cedo se viu
num carreiro dois bandoleiros.
O Rodrigues foi dos primeiros
que aos bandidos apontou,
um deles morto ficou
e o outro nos acompanhava
e quando a Fambantã se chegava
grande amargura se passou.

O bandoleiro começou a gritar
com sinais despercebidos
fez despertar os bandidos
que nos vieram espiar.
Começaram então a atirar
à nossa rapaziada.
Foi uma espécie de emboscada
que nos armaram.
E no Candeias acertaram
com estilhaços de granada.

O Rogério levava o preso pela mão
e a ele logo apontaram
uma granada lhe jogaram
ficando estendido no chão.
O comandante do Pelotão
uma transmissão urgente fez
e o helicóptero, mais uma vez,
trouxe um ferido com gravidade,
que foi pra a eternidade
a vinte e sete deste mês.

Um telegrama à metrópole chegava
havendo grandes gemidos.
Os seus pais estavam convencidos
que seu filho regressava
pouco tempo lhe faltava
para se abraçarem na chegada.
Enquanto andou na porrada
lutou sempre com fé
mas, por azar, cá na Guiné,
morreu mais este camarada.”

********************

O bardo dá-nos a notícia de mais um morto em combate, notícia inopinada, e porquê? Quem vai acompanhando em sequência cronológica este final da comissão, dá-se bruscamente com a morte do Rogério, talvez em data anterior às delícias da vida em Bissau. O que quer que seja, remete-nos para considerações da grande elasticidade em que esta guerra da Guiné se apresenta, o BCAV 490 tarimbou no Norte, fez toda a batalha do Como, teve rescaldo na península de Bissau e partiu para o Norte, ali o esperavam novas agruras. Já se falou do Sul, onde praticamente brotou a luta armada, ainda em 1962, rebentando infraestruturas e comunicações, isolando comunidades, intimidando apoios, com resposta não menos violenta das nossas Forças Armadas. E logo em 1963 a guerrilha se apropriou da Ilha do Como, que deu pretexto mediático para anunciar uma “zona libertada”. Falou-se um pouco acima de Sangonhá, de Cacoca ou de Guileje, regiões de muito sobressalto, procurava-se travar o avanço da guerrilha nas zonas fronteiriças, impedir a formação de corredores de circulação nacionalista, a luta alastrou para o Corubal e para o Morés. No Leste, foi um tanto diferente, mas em finais de 1964 iniciava-se uma via-sacra para as forças portuguesas na região do Boé. Vale a pena darmos agora atenção a alguns testemunhos.

José Miranda Alves, em edição de autor, escreveu as suas recordações que intitulou “A passagem por uma guerra inútil, memórias e acontecimentos da minha juventude”. Conta-nos a sua infância e juventude, num pequeno lugar de Montalegre, vila onde aos 19 anos vai à inspeção, e faz questão de nos dizer com quem vai nesse dia: com o Toninho Martins, do lugar de Sidrós, o Alexandre Alves (Barreira), de Vila Nova, o já falecido João do Alves, o António do Amaro e ele, eram todos do Ferral, o Francisco de Trás da Casa de Viveiro, mais o Zé, mais o Chico Torrão de Santa Marinha e o também falecido Aníbal do Militão Sacoselo. O Zé Miranda trabalhou desde adolescente como eletricista, andou na Barragem de Pisões, no Alto Rabagão. Tem 20 anos quando recebe aviso para se apresentar no Regimento de Infantaria 13, em Vila Real, é incorporado em outubro de 1964, rememora muitas coisas, não esqueceu a semana de campo e outros detalhes.

Em agosto de 1965, o BCAÇ 1856 está sediado no Gabú, ele pertence à CCAÇ 1416. Foi mandado fazer um estágio com uma Companhia de Comandos, andou em operações no Oio, regressa e fez mais operações, em Canquelifá. Anda por Paunca e Cabuca. E em 27 de abril de 1966 inicia-se a sua estadia de um ano em Madina do Boé. O 3.º Pelotão da CCAÇ 1416 ficou em Béli, esta Companhia vinha substituir a CCAV 702. A partir deste momento, os relatos que o Zé Miranda nos dá são os ataques em catadupa a Madina, os grupos do PAIGC não escolhem a hora a que flagelam, mas têm as suas preferências no escurecer ou antes da alvorada, assim não havia o risco de aparecer a aviação. Os abastecimentos por terra são sempre operações com mortos e feridos, a passagem do Corubal em Ché Che informava o PAIGC, não faltavam minas nem emboscadas. A despeito deste fogo permanente, construíram-se abrigos e fizeram-se patrulhamentos próximos, mais era impossível. São recordados os bravos pilotos que traziam vitualhas, munições, medicamentos, correspondência e levavam feridos e também a correspondência para as famílias. Vem a férias entre janeiro e fevereiro de 1967, não deixa de registar que na sua ausência ocorreu uma emboscada na estrada Ché Che - Madina que provocou seis mortos e cinco feridos, em 9 de fevereiro. Destaca uma entrevista que anos depois foi feita ao seu comandante de Companhia, Capitão Jorge Monteiro, condecorado com a medalha de Valor Militar com Palma, este não esconde o seu ceticismo sobre as vantagens de se manter ali uma unidade militar, com uma capacidade de resposta mínima. E há também uma figura brejeira no seu testemunho, o Capelão Mota Tavares, reguila e contestatário.

Este documento pode associar-se a outro, porque lhe é muito próximo, intitulado “Uma Campanha na Guiné, 1965-1967, História de uma Guerra”, o seu autor é Manuel Domingues, que foi alferes, o seu fito foi o de deixar um testemunho, na falta de história da unidade do BCAÇ 1856, que, pasme-se, veio render o BCAV 490.

Manuel Domingues, nesta sua edição de autor, com data de 2003, enceta a publicação contando a origem, formação e mobilização do batalhão. A unidade mobilizadora foi o RI 1 e em junho de 1965 fizeram instrução de aperfeiçoamento operacional na Guarda. É profundamente crítico sobre a preparação militar, recorda a apresentação tardia de muitos especialistas, tudo veio a ter reflexos no funcionamento global da unidade e até nos aspetos operacionais. Por exemplo, o responsável da CCS – Companhia de Comando e Serviços, e os elementos das Transmissões só se apresentaram em setembro, já na Guiné. O BCAÇ 1856 ficou às ordens do Comando-Chefe. E confirma que a CCAÇ 1416 partiu logo para o Leste (Gabú), a CCAÇ 1417 veio a ter treino operacional em Bula e Fula Mandinga, e a CCAÇ 1418 treinou em Bissau, Bula e Teixeira Pinto. Em maio de 1966, o BCAÇ 1856 assume a responsabilidade do setor L3, o que significa que a sua missão se estendia por dois terços do concelho do Gabú e um sexto da área total da Guiné.

Manuel Domingues recorda que a grande maioria da população pertencia ao grupo étnico Fula mas que havia também bastantes Mandingas e núcleos de Pajadincas. As companhias operacionais irão ficar em zonas de fronteira, da seguinte forma: a CCAÇ 1416, em Madina do Boé, com um destacamento em Béli; a CCAÇ 1417 foi para Bajocunda, com um destacamento em Copá; e a CCAÇ 1418 sediou-se em Buruntuma, com destacamento em Ponte Caium. Manuel Domingues fala do imenso sofrimento das gentes de Madina do Boé. O que nos remete para outro livro, desta feita um romance, de que falaremos em seguida, “sairòmeM, Guerra Colonial”, Gustavo Pimenta, Palimage, 2000.

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 31 de Janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20610: Notas de leitura (1260): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (43) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 3 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20619: Notas de leitura (1261): Longas Horas do Tempo Africano, por Manuel Barão da Cunha; 10.ª edição, revista e reestruturada, Oeiras Valley, Município de Oeiras, 2019 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20627: Agenda cultural (727): lançamento, hoje, às 18h00, no Mindelo, ilha de São Vicente, da obra "Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial”, do cor inf ref e nosso grã-tabanqueiro, Adriano Miranda Lima


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >"As peças anti-aéreas do Monte Sossego; fotografia oferecida pelo  meu amigo [e conterrâneo, da Lourinhã] Boaventura [Horta] em 21/3/43."´ (*)

Foto (e legenda): © Luís Henriques (1920-2014) / Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




A obra “Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial”, do nosso camarada Adriano Miranda Lima, cor inf ref,  vai ser lançada, hoje ao fim da tarde, às 18h00, no Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde (**). A notícia foi-nos dada ontem às 16h pelo Manuel Amante da Rosa, nosso grã-tabanqueiro, que tenciona estar presente hoje, no evento.

Segundo o blogue Praia de Bote, o lançamento estava previsto para ontem,  e contaria com a com a presença do Chefe de Estado Maior das Forças Armadas de Cabo Verde, estando a apresentação a cargo da  dr.ª Ana Cordeiro, historiadora e antiga directora do Centro Cultural Português do Instituto Camões (Pólo do Mindelo), e sendo o autor, Adriano Miranda Lima,  representado pelo seu primo José Carlos Soulé.

Adriano Miranda Lima, que reside  em Tomar, nasceu no Mindelo,  S. Vicente .  Durante a guerra colonial, esteve em Angola e Moçambique. Prestou serviço durante muitos anos no RI 15 (Tomar). Esteve 40 anos sem voltar à sua terra.  Tem 15 referências no nosso blogue.

É colaborador assíduo do blogue Praia de Bote, onde  publicou,  em 2012  cerca de uma dezenas de postes sobre as forças expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial. Colaborámos com ele autorizando a reprodução de algumas fotos dos álbuns dos "nossos pais, nossos velhos, nossos camaradas", que integararam essas forças, tendo passado  pelas ilhas de São Vicente, São Anão e/ou Sal. É também um grande defensor do património cultural de Cabo Verde.

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Sinopse:

Já quase se perde na memória do povo das ilhas que, entre 1941 e 1945, durante a II Guerra Mundial, forças militares de 5820 homens, destacadas pela então Metrópole, desembarcaram em Cabo Verde e distribuíram-se por S. Vicente (3015), Sal (2100) e S. Antão (705), onde prepararam posições defensivas contra um eventual invasor. 

Tudo aconteceu porque Portugal, embora neutro no conflito, foi pressionado pela Inglaterra e pelos EUA a reforçar a defesa das suas ilhas atlânticas (Açores, Cabo Verde e Madeira) para evitar que a Alemanha as ocupasse e tirasse proveito do seu potencial estratégico.

É de tudo um pouco que fala o livro. Da actividade militar e seus envolventes e vicissitudes de ordem operacional e logística, mas também do alvoroço que a presença das tropas representou para a rotina e a pacatez das ilhas. A narrativa debruça-se sobre a interacção dinâmica das forças militares com as circunstâncias concretas que as envolveram no quadro da sua missão, e abre espaço, e bastante, para pôr em evidência as múltiplas situações em que os militares interagiram com as populações e a sociedade civil.

Daí que haja muitas histórias para contar, e algumas de grata memória para as populações, como a acção médica e o apoio sanitário que as tropas disponibilizaram para os civis, em que se destaca sobremaneira a figura grandiosa do capitão médico José Baptista de Sousa, cuja imagem ainda perdura na memória do povo de S. Vicente. Para não falar também das sobras de rancho que mataram a fome a muitas pessoas carentes, iniciativa em que se destacou o comandante de companhia capitão Fernando Marques e Oliveira.

Relevo merece igualmente o pano de fundo social em que se desenrolou a missão das Forças Expedicionárias. As nossas ilhas foram à época assoladas por uma seca prolongada que, agravada pelo descaso ou pela inoperância do governo central, vitimou 24.463 criaturas, sobretudo aquelas que dependiam exclusivamente da agricultura para a sua sobrevivência. 

Do lado das Forças Expedicionárias reveste significado estatístico a circunstância da morte de 68 militares, trágica ironia porque as mortes não resultaram de acções violentas ligadas à actividade militar mas de doenças infecciosas que poderiam ter sido debeladas caso a penicilina estivesse já disponível em território nacional. Nesta particularidade, o quadro de carências era comum à população civil e à militar.

Portanto, nas 250 páginas do livro a historiografia cruza-se com a sociologia e conta histórias reais de homens fardados e de vidas humanas.

Fonte: Com a devida vénia ao blogue Praia de Bote, fundado e editado por Joaquim Saial, e de que o Adriano Lima  é um assíduo colaborador.

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(**) Último poste da série > 27 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20600: Agenda cultural (726): Seminário de História do Colonialismo #2, dia 28 de Janeiro de 2020, pelas 15h30, Campus de Campolide da Nova

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20626: (Ex)citações (362): O ventre e o patacão da guerra, segundo duas preciosas listas de junho de 1974, guardadas pelo Zé Saúde... Cada um de nós tinha direito a um "per diem" de 24$50 para comer, o equivalente na época a um dúzia de ovos da Intendência (, a preços de hoje, 4,10 euros)



Lista nº 1 > CCS/BART 6523 [, Nova Lamego, 1973/74] > Relação dos víveres existentes no dia 17/6/1974

é

Lista nº 2 > CCS/BART 6523 [, Nova Lamego, 1973/74] > Relação dos artigos de  víveres existentes no dia 18/6/1974

Fonte: cortesia de José Saúde (2016). [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Excerto do poste P16177:

(...) Mantenho ainda comigo uma cópia de um relatório literalmente especificado de uma passagem de bens alimentícios em armazém entre dois furriéis da minha companhia - CCS / BART 6523 [, Nova Lamego, 1973/74[ - que entretanto assumiram a presunçosa função de vagomestre.

Curioso, por que é justo que o citamos, é que ambos foram “atirados” para uma incumbência completamente à parte daquela a que tinham sido submetidos durante o período em que foram mancebos de uma outra especialidade mas que ditou, ao arrepio da verdade, o seu subsequente futuro por terras da Guiné. Um que assumia o cargo desde a nossa chegada a Gabu; o outro a quem foi proposta a possibilidade de substituir o primeiro durante o seu período de férias, 30 dias.

Ainda assim, fica a textura de um documento que descrimina todo o conteúdo do material armazenado e os custos que cada um deles tinham à época. No balanço geral feito à narrativa exposta, oferece-me viajar nas fileiras da ventosidade do tempo e relembrar o “montão de patacão” que os homens que lidavam com os valores sob a sua “divina” proteção mantinham no interior de um quartel onde existiam inevitáveis privações.

Revejo as quantidades, os preços por unidade e o seu subsequente total, assim como os bens nutritivos que por ora eram então averiguados no momento da transição dos artigos de viveres que ambos os furriéis assumiam. Um entregava e outro recebia.

Da listagem observada, existe a certeza que,  se de um lado estavam os bens depositados,  do outro os ditos frescos. Ou seja, tudo o que fosse arroz, açúcar, azeite, batata, banha, feijão, grão, massas, vinho, óleo, vinagre, etc, etc, etc, pertencia a um lote, sendo que os frescos eram constituídos pelo frango congelado, peixes e fruta da época, entre outros, mas devidamente faturados.

O distinto documento era completado com as rações de combate, farinha, sal, café e outros bens necessários. Não há registos das compras espontâneas que se articulavam com o quotidiano, isto é, das vacas, dos leitões, dos porcos, dos cabritos, das galinhas, e outros, que concluíam a ementa.

Reportando-me aos números, refiro que a relação dos artigos em escudos era o seguinte: viveres existentes e frescos transportavam 319 986$20; outros viveres 88 587$10.


Creio que poucos, ou quase nenhuns, dos soldados depositados num quartel onde as “fissuras” de

uma peleja teimavam em ceifar vidas de jovens em plena idade de puro crescimento, desconheciam o conteúdo real de bens alimentícios que a companhia detinha.

Relembro ainda as famosas patuscadas organizadas pela malta que entretanto comprara um leitão, ou um cabrito, e que depois da sua trivial passagem pelo forno, servia de repasto fino para uma rapaziada que se orgulhava com o distinto acolhimento de um prato bem composto. A acompanhar lá estavam as cervejolas bem fresquinhas.

Relíquias de um tempo sem tempo numa Guiné que despejou em nós um cosmos de emoções. (...)



2. Comentário do editor Luís Graça:

O Zé Saúde, em boa hora, reproduziu este poste (**) e os respetivos documentos no seu livro "Um ranger na guerra colonial: Guiné.Bissau (1973-74). Lisboa: Colibri, 2019", pp. 163-166.

São preciosas informações sobre a "economia de guerra": por exemplo, em 17 de junho de 19974, a escassos 3 três meses, da retirada dos "últimos soldados do Império", o "stock" de mantimentos (víveres)  da CCS/ BART 6523, sediada em Nova Lamego (hoje, Gabu) importava em cerca de 320 contos, o que hoje, em euros, representaria qualquer coisa como 53.563,53 €.

O item com maior peso, na relação, era o vinho: 3.320 litos de vinho, a 11$60 o litro, importavam em 38.512$00 (, valor que, a preços de hoje, equivaleria a 6.446,65 €).

Um escudo em 1974 era equivalente hoje a 0,17 €. Mas é preciso ter em conta que o "escudo guineense" (o "peso") só valia, no mercado cambial, 0,90 escudos metropolitanos..

Seguia-se o arroz (, de produção local, da "bolanha") de que havia um "stock" de cerca de 5 toneladas e meia. A  7$00 escudos o quilo,  somava 38.416$00, o que daria hoje qualquer coisa como 6.430,58 €... Havia ainda 2 toneladas de arroz, importado, da metrópole, a 14$50 o quilo,o dobro do preço do arroz guineense.

O item mais caro, desta relação, era o bacalhau liofilizado: havia pouco mais de 40 kg, a 167$20 o quilo (o equivalente hoje a 27,99 €).

Ficamos a saber que o frango (congelado) custava, em 1974, para a manutenção militar, 7 € o quilo...

Da relação do dia 18/6/1974 (Lista nº 2), vai o nosso destaque para a ração de combate nº 20 de que havia em "stock" 680 unidades, a 43$00 cada (7,20 €, hoje).

Outro item essencial para a alimentação da tropa era a farinha (e o fermento): da lista nº 2 constavam quase 5 toneladas de farinha (4.350 de farinha de 1ª, mais 450 kg de farinha americana)... O preço por quilo da farinha de 1ª (portuguesa ?) era então de 6$00 (, o equivalente hoje a 1 euro)... Em "stock" havia 285 (quilos ou embalagens ?) de fermento leverina, a 35$50 por quilo (ou unidade), equivalente hoje a  5,94 €.

Um item que era um luxo era o ovo, fazendo parte tal como os "congelados" dos víveres "frescos", que eram  transportados de Bissau por via aérea: o "stock" era de 60 dúzias de ovos, a 24$30 a dúzia. Como não havia produção local, os ovos eram importados da metrópole...

Recorde-se que cada militar tinha direito a um "per diem" de  24$50  (=4,10 €), o equivalente a uma dúzia de ovos...

Por outro lado, a proporção de "frescos" (hortaliças, legumes, peixe, carne, leite, ovos...) era pequena em relação ao resto...Na lista nº 1, os frescos não ultrapassam os 400 kg, cabendo um 1/3 ao "frango congelado"... Não sabemos como é que o frango (congelado) chegava a Nova Lamego e em que condições, de higiene e salubridade ... O mesmo se pode dizer da pescada (congelada), que não ia além de 85 kg, no inventário do dia 17/6/1974 (Lista nº 1)...

A capacidade de frio, nos nossos quartéis, era muito limitada: não havia eletricidade todo o dia, os geradores eram ligados à noite, pelo que os frigoríficos e arcas frigoríficas tinham que funcionar também... a petróleo!

Em contrapartida, veja-se o peso das "massas" (1.225 kg) e das "salsichas" (meia tonelada), bem como da "marmelada" (mais de meia tonelada), das "conservas de peixe" (330 kg.)... Havia mais de 2,3 toneladas de feijão, na maior parte "seco" (1,9 toneladas)... Em relação ao  "feijão verde" (400 kg.) não sabemos a sua proveniência...

Nestas condições, era complicado para o vagomestre (que, além disso,  não era nutricionista, ou teria pouca formação em nutrição tal como os médicos da época...) fazer dietas equilibradas e saudáveis (, veja-se aqui, no sítio da Direção Geral de Saúde, a "roda dos alimentos", um instrumento de educação alimentar largamente reconhecido pela população portuguesa pela sua utilização desde 1977 na campanha 'Saber comer é saber viver').... 

Não sabemos qual era o recurso, no Gabu, a produtos frescos locais, provenientes do mercado local e da horta da tropa: refiro-me, por ex., às alfaces, as cenouras, às couves, às frutas tropicais, à carne (vaca, porco,cabrito) eao peixe...Comia-se mal, em quantidade e qualidade... abusando-se do "casqueiro", das massas, do arroz, dos  legumes secos, da banha,  e das conservas (chouriço, cavala, atum...).

A título exemplificativo, aqui vão outros itens a preços de hoje, por quilo (ou por litro, no caso do azeite e do vinho):

Azeite: 8,03 €

Batata: 1,37 €
Café: 1,87 €
Cavala (conserva): 11,94 €
Chouriço: 10,85 €
Feijão frade: 2,56 €
Grão (de bico):2,90 €
Margarina: 2,90 €
Massa: 2,03 €
Pescada-marmota: 3,36 €
Sal: 0,17 €
Sardinha (conserva): 8,97 €
Vinho: 1,94 €


Quanto às conservas (sardinhas, cavalas...),  tal como o chouriço, partimos do princípio que vinham em embalagens (latas) de quilo. Convertidos em euros (a preços de hoje),. os valores obtidos não nos parecem divergir muito do que se pratica hoje em relação a 1974...

Constatamos, por fim, que na "despensa" da CCS/BART 6523, havia tambêm, em existência, mercadorias que pertenciam a outras subunidades: CCAÇ 11, 1ª CART / BART 6523, 3ª CART / BART 6523...
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Guiné 61/74 - P20625: Parabéns a você (1753): Ana Mittermayer Duarte, Amiga Grâ-Tabanqueira; Hugo Moura Ferreira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1621 e CCAÇ 6 (Guiné, 1966/68) e José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)



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Nota do editor

Último poste da série de 4 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20621: Parabéns a você (1752): Cap Inf Ref José Belo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20624: Historiografia da presença portuguesa em África (198): Relatório da Província da Guiné Portuguesa, 1888-1889, pelo Governador Interino Joaquim da Graça Correia e Lança (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Fevereiro de 2019:
Queridos amigos,
A historiografia da Guiné colonial não pode prescindir destes relatos de uma Guiné autónoma desde 1879, todos estes relatórios revelam vozes múltiplas, tecem-se críticas à indiferença da metrópole, relevam-se potencialidades na agricultura, denunciam-se concessões em que não se explora a terra, acentua-se o definhamento do Sul devido às guerras entre Fulas do Forreá, passa-se ao crivo o funcionamento da administração, de um modo geral não se esconde a lástima da administração civil e militar, tudo ao abandono, a administração não chega ao interior.
Sem a análise destes documentos são incompreensíveis os levantamentos na região de Bissau, na circulação do Geba, na hostilidade permanente em todo o interior da Guiné. Sem este pano de fundo que os primeiros governadores descrevem jamais se entenderão as guerras de pacificação. Mas será preciso esperar por Vellez Caroço para se poder falar da colónia da Guiné como um todo territorial e administrativo.

Um abraço do
Mário


Relatório da Província da Guiné Portuguesa, 1888-1889, 
pelo Governador Interino Joaquim da Graça Correia e Lança (1) 

Beja Santos

Conselheiro Joaquim da Graça Correia e Lança

O conjunto dos primeiros relatórios enviados pelos governadores da Guiné para o Ministro do Ultramar e da Marinha são documentos indispensáveis para conhecer opiniões, reflexões e até sugestões de personalidades que se revelam de preparações culturais bastantes diferenciadas. Não escondem as dificuldades, as guerras entre os Fulas, as questões da agricultura, a degradação das instalações e dos equipamentos, as tremendas carências nos transportes, a falta de infraestruturas rodoviárias e portuárias. O primeiro documento importante saiu do punho de Pedro Inácio de Gouveia, já aqui foi publicado. Correia e Lança apresenta-se com uma enorme humildade, homenageia os governadores que o precederam, sem esconder o muito pouco tempo que lá permaneceram.

Nada melhor do que lhe dar a palavra para lhe conhecer o pensamento, o que ele pretende obter enquanto Governador Interino:
“Uns governadores dividem o relatório anual em tantos capítulos quanto os diversos ramos do serviço público; outros seguem a ordem por que nos orçamentos estão descontadas as despesas, e vão assim relatando os vários serviços; outros ainda não adoptam nenhum destes sistemas e dão-lhes uma ordem de harmonia com os principais assuntos da sua administração. Eu, e releve-se-me a ousadia, não seguirei nenhuma das maneiras que tenho visto adoptar, talvez porque as condições especiais da Guiné me aconselham a dar ao relatório uma forma mais metódica, de maneira que muito natural e logicamente se vão tirando as conclusões a que eu quero chegar”.

O curioso, depois desta nota introdutória, é que ele vai estruturar a sua narrativa em moldes praticamente idênticos a anteriores relatórios, ou seja, enuncia considerações gerais, fala das questões económicas, das questões políticas e depois das questões administrativas.
Relembra que “Foi em virtude de um grave conflito gentílico, que é doloroso recordar (subentenda-se: o massacre de Bolor), pelo que foram vitimados cruelmente muitos soldados portugueses, que surgiu a reorganização administrativa da Guiné em Província independente. Se até essa data, 1879, as autoridades superiores apenas se preocupavam em resolver questões de administração, e unicamente à medida que as questões surgiam, levando-se uma vida de expedientes e imprevidências, não foi mais feliz o território que dá um título constitucional ao augusto monarca português. Em seguida a criação da Província não se resolveu o problema gentílico, antes se agravou; que não foram lançadas as bases de uma reforma económica que assegurasse o desenvolvimento agrícola e não se cuidou em reorganizar a administração: decaiu a agricultura; estão agravados os conflitos gentílicos, está comprometido o comércio. É convicção arreigada de que a Guiné há de definhar porque o seu comércio diminui e se desnacionaliza”.
E para mostrar que na opinião nacional a descrença na Guiné era um dado assente, reproduz a opinião de um publicista: “A Guiné pouca importância tem; são feitorias comerciais que nada comerciam com a metrópole, e cujo foco de atracção está nos estabelecimentos vizinhos da Senegâmbia francesa”. E comenta: “O sábio publicista recorreu à lenda que de há muito se formou acerca da decadência desta colónia portuguesa. É assim que a opinião pública se desorienta, que os mais ousados se entibiam, que os capitais se retêm, que a própria navegação nacional passa de roda como se a Guiné de facto já não pertencesse à monarquia portuguesa”.

Correia e Lança mostra-se profundamente cético com a situação degradada que se vive no Forreá, está descrente na dedicação dos Fula-Pretos ou Forros pela agricultura, acha que a sua opinião se distingue da opinião geral de quem vive na Guiné. Mas ele explica porquê: “Mamadu Paté Bolola, o chefe do Forreá, ludibria o próprio Governo. Tendo-se-lhe feito um empréstimo de cereais que pediu a pretexto da fome originada pela guerra, prometendo pagar pela colheita, pois que ia desenvolver a agricultura em larga escala, não pode cumprir esta promessa pela simples razão de que não fez lançar à terra semente alguma da que se lhe emprestou”.

Centrado na questão agrícola, observa que a zona agrícola de grande fertilidade é a do litoral, mas fala num grave condicionalismo: “Não está porém ocupado administrativamente em toda a sua grande extensão, mas nas margens do Rio Grande, Geba e Cacheu até Farim seria fácil abrir grandes propriedades agrícolas com resultado certo e remunerador”. E comenta com absoluta franqueza: “Na Guiné fizeram-se muitas concessões de terrenos mas a propriedade agrícola não se fundou. A Província de África que naturalmente estava indicada para colonizar a Guiné era Cabo Verde. Os cabo-verdianos aclimatam-se facilmente e poderiam prestar à agricultura grandes serviços. A Província conta hoje com um grande número de colonos daquela precedência, mas em geral os que para aqui vêm preferem a vida burocrática aos labores do campo, e os que não conseguem qualquer emprego público vão arrastando com dificuldade uma vida de expedientes comerciais. Ultimamente, porém, algumas propriedades têm-se organizado, pertencem de uma parte a cabo-verdianos”. O mundo das feitorias que tinha conhecido um franco desenvolvimento no último período da escravatura estava a definhar, como ele escreve: “Hoje no Rio Grande apenas se mantêm as feitorias da Casa Blanchard & C.ª e a do Sr. João Hopffer”.

Faz uma descrição minuciosa da economia dos Bijagós e depois dá conselhos sobre culturas promissoras: mancarra, cana sacarina, algodoeiro, índigo, cochinilha, tabaco, borracha, palmeira de dendém, coqueiros. Exalta também a plantação da cola: “O fruto desta bela árvore, semelhante a uma castanha, de um sabor amargo mas agradável, constitui um artigo de primeira necessidade na larga zona da Senegâmbia e do Sudão, onde residem as raças Fula e Mandinga”.

No capítulo do comércio e indústria, Correia e Lança adiciona a sua opinião, deste modo: “A Guiné Portuguesa está destinada a um papel muito secundário da vasta zona compreendida entre o Senegal e a Serra Leoa”. E explica que as grandes artérias por onde o comércio interior há de deslizar passa pelos rios Senegal e Gâmbia, Casamansa, Nunes e Pongo. Mostra-se muito crítico sobre as pautas aduaneiras, a obtenção de receitas e a movimentação de mercadorias. Os três centros mais importantes de comércio da colónia eram Farim, Geba e Bissau, e dá a relação dos géneros comercialmente mais apetecíveis: borracha, cera, marfim, couros, tudo em troca de pólvora, tabaco, cola, panos, álcool e armas. Observa que em Cacheu o comércio que se fazia era de coconote e borracha. Em Bolama o principal produto exportável era a mancarra. Buba já estava pouco comercial: “A índole dos Fulas do Forreá, em correrias e pilhagem contínua pelos caminhos que conduzem do Futa Djalon a Buba, contribuiu para a decadência comercial daquela praça”.

E faz conclusões:  
“A Província da Guiné Portuguesa, envolvida por uma zona de comércio livre, não pode manter-se no equilíbrio de concorrência senão declarando livre a importação. A corrente comercial, que a liberdade da importação deve estabelecer, barateando a vida, auxiliando a agricultura e facilitando o comércio, há de determinar o aumento considerável na exportação. A Província deve ser ligada directamente à metrópole por meio de carreiras a pavor de grande tonelagem. A situação monetária estrangeira deve ser limitada à moeda que nos mercados da Europa não sofra depreciação. A indústria indígena está no seu período rudimentar, sem manifestação de progresso sensível.”

(continua)

Antiga casa de sobrado, hoje sede da AMI, que preservou o edifício. 
Fotografia de Francisco Nogueira no livro “Bijagós, Património Arquitetónico”, Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20611: Historiografia da presença portuguesa em África (197): "Nha" Carlota (1889-1970) e Artur Lopes Nunes (1909-2007), dois portugueses de antanho

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20623: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (1): Origem do nome, Vampiros

Crónica do Miguel José Ribeiro da Rocha[1], ex-Alf Mil Inf.ª da CCAÇ 2367 do BCAÇ 2845, “o 800”

MEMÓRIAS AO ACASO

01 - Origem do nome, VAMPIROS

As canções de intervenção, mormente as de Zeca Afonso, trazidas pela malta das Faculdades Coimbrãs, cujos cursos haviam sido interrompidos pelo recrutamento intensivo para o Serviço Militar, faziam parte das noites de tertúlia da "aspirantada" que no verão de 67 arribou ao RI 7/Leiria, para dar a sua primeira recruta. Prática que se acentuou no formar do Batalhão, nas noites gélidas do inverno de 67/68, no BC 10, em Chaves, com a Guiné como destino resistentemente adivinhado.

A CCAÇ 2367, "a vinte e três sessenta e sete", era assim que entre nós se articulava o seu número, saiu da Metrópole sem nome de guerra.

Olossato - Rua principal
Com a devida vénia ao Blogue CC2367 Guiné Bissau 1968-1970  

É no Olossato, já como força de Intervenção e com independência consentida para planear as suas operações que, para além das mais rotineiras, efectua uma série de "golpes de mão" bem sucedidos a tabancas e acampamentos do IN, estabelecidos na sua zona de acção.
Basicamente, o "modus operandi" consistia em sair de noite e silenciosamente do nosso aquartelamento, fazer o percurso até ao objectivo, esperar pela visibilidade mínima, efectuar o cerco e assalto, e retirar rapidamente.

A ironia é que fragmentos dos versos da canção Vampiros do Zeca, cantados por pura rebeldia nossa, nos latejavam na mente, por perfeito encaixe, na hora de partida para estas operações. Assim nasceu o nome da CAÇ 2367.

“Vampiros”.
O grafismo foi inspirado no emblema da colecção policial de livros de bolso, do mesmo nome.
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Nota do editor

[1] - Vd. poste de 21 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20369: Tabanca Grande (488): Miguel José Ribeiro da Rocha, ex-Alf Mil Inf.ª da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845 (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70), tertuliano com o número 800 da nossa Tabanca

Guiné 61/74 - P20622: Tabanca Grande (490): Luiz Farinha, ex-alf mil, STM Auto, CCS/BCAÇ 3832 (Mansoa, dez 1970 / fev 1973), psicólogo clínico aposentado, escritor: senta-se à sombra do nosso mágico e fraterno poilão, no lugar nº 803


Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 3832  (Dezembro de 1970 / fevereiro de 1973) > O afl mil Farinha, STM Auto (1)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 3832  (Dezembro de 1970 / fevereiro de 1973) > O afl mil Farinha, STM Auto (2)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 3832  (Dezembro de 1970 / fevereiro de 1973) > Ponte Nova sobre o Rio Mansoa

Fotos (e legendas): © Luiz Farinha  (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso novo grã-tabanqueiro Luíz Farinha, que passa a ser o nº 803, a sentar-se à sombra do nosso mágico,  simbólico, fraterno e protetor poilão...(e quem não tem poilão deita-se no chão):


De: José Luiz Farinha
Data: quarta, 15/01/2020 à(s) 14:29
Assunto: Pedido de informação... e de entrada na Tabanca Grande

Estimado Companheiro.

Sou o ex-alf mil Farinha,  com a especialidade de STM Auto, da CCS / BCAÇ 3832 (Mansoa, 1970-1973). Vivi momentos inesquecíveis durante estes anos na Guiné, que, sem dúvida, modificaram a minha vida e, ainda hoje, em certa medida, a afetam. 

Como sempre me dediquei à escrita, embora como atividade secundária e não remunerada, algum tempo depois da desmobilização escrevi um pequeno livro, mais uma modesta brochura do que propriamente um livro, pela editora Contra a Corrente, hoje desaparecida, texto que rapidamente se esgotou.

Passados poucos anos, recebi o honroso pedido do escritor João de Melo, então praticamente em início de carreira, para que eu autorizasse a inclusão de um dos meus relatos numa obra que ele estava a elaborar sobre textos que versassem a guerra colonial nas três frentes. Eu acedi com gosto e a obra saiu pelo "Círculo de Leitores". ["Os Anos da Guerra, 1961 – 1975, Os Portugueses em África, Crónica, Ficção e História”, com organização de João de Melo, Publicações Dom Quixote, 1988 e 1998: vd. aqui a exaustiva recensão bibliográfica do nosso camarada Mário Beja Santos, em cinco postes, em 2010].

O livrinho da "Contra a Corrente", malgrado a sua efémera vida, no entanto nunca me saiu da cabeça, como que um molde experimental de algo que poderia ser maior.

E, muitos anos depois, recentemente, aposentado como psicólogo clínico, voltei a pegar nele e a trabalhá-lo de uma forma mais profunda e extensiva.  Durou cerca de um ano esse aprimoramento que terminou num romance com muito de autobiográfico. 

Então, a minha pergunta/pedido de ajuda é o seguinte: estou no Brasil há cerca de 20 anos e não conheço o mercado editorial português nem ninguém ligado ao ramo.  Será que alguém do seu
blogue poderia dar uma ajuda (dicas, pistas, contatos, etc) para a publicação deste romance?...
Aguardo uma resposta que desde já muito agradeço, seja ela qual for. 

Felicidades para a Tabanca. 

Abraço firme.

Luiz Farinha,
Piedade, Jaboatão dos Guararapes, Estado do Pernambuco, Brasil
Contactos (omitimos o telefone e o endereço postal)
jlsfarinha1947@gmail.com

2. Resposta do editor Luís Graça:

Em 31/1/2020, o Luiz Farinha mandou-nos as fotos da praxe (uma atual e outra do "antigamente"), gesto que interpretámos como sinal da sua vontade de se juntar a esta grande comunidade de amigos e camaradas da Guiné. As fotos estão reproduzidas acima, incluindo a sua foto atual.

De Luís para Luiz, de sociólogo da saúde para psicólogo clínico, de camarada de Bambadinca para camarada de Mansoa, de escritor para escritor: temos muita coisa em comum, a começar pelo nome... Curioso, o meu pai também era Luiz com Z...Somos da mesma "colheita" (1947). Vejo, além disso,  que estamos ambos ligados à saúde, eu porventura  com um percurso mais académico, e com dois filhos "psis": um psiquiatra e uma psicóloga clínica... E mais: ambos temos o gosto da escrita...e alguma obra publicada...

"Parabenizo-te", como gostam de dizer os nossos amigos brasileiros, pela tua mensagem que muito nos honra, e  a que respondo, um pouco tardiamente, mas sempre a tempo.

Fico feliz por encontrar mais um camarada da diáspora lusófona (e, neste caso, lusitana). Mas, antes de mais, deixa-me apresentar-te a Tabanca Grande. Contigo passamos a ser 803  "grã-tabanqueiros", entre vivos e mortos, todos irmanados pelo mesmo espírito de partilha de memórias (e de afetos) à volta daquela terra, verde-rubra (sem conotações...) que foi a Guiné de 61/74.

O facto de passares a pertencer à Tabanca Grande, à nossa "tertúlia" (, talvez a maior do mundo bloguístico, em português, centrada na experiência de uma guerra...)  significa que aumentas também as tuas possibilidades de encontrar um editor para o teu livro para o qual desejo, desde já, bom sucesso. Editor e leitores...

O nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné, orgulha-se de já ter ajudado no "parto" de dezenas de livros (da poesia à ficção, do conto ao romance, da historiografia à autobiografia), da autoria de "amigos e camaradas da Guiné", na sua grande maioria antigos combatentes. Sem favor, são obras que, com maior ou menor mérito, podem ser classificadas como "literatura da guerra colonial" (, termo que, de resto, não é pacífico).

Temos aqui gente de grande talento e com obra de mérito. Eles poderão (e eu também, em próximo poste) falar-te um pouco mais detalhadamente do mercado editorial português,e dar-te alguns dicas para contactos.

Terás que ter um pouco mais de paciência. Mas sugiro que, na volta do correio, nos digas algo mais sobre a tua pessoa, a tua vida em Portugal, na Guiné e no Brasil, e sobretudo que nos mandes um "cheirinho",um excerto, do teu romance (que dizes ter "muito de autobiográfico").

O nosso blogue tem algumas regras, de bom senso e de bom convívio, que deves conhecer. Lê aqui.s 10 regras da política editorial do blogue. O teu nome passa a figurar na lista alfabética, de A a Z, da Tabanca Grande, constante da coluna (estática), no lado esquerdo, da página principal do blogue. Sê bem vindo, camarada Luiz Farinha. (*)

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Nota do editor:

Últmos postes da série:

(*) O último camarada a entrar para a Tabanca Grande, embora a título póstimo,  foi o Libório Tavares, ex-alf mil capelão, o nº 802, a seguir ao Alexandre Margarido (nº 891):


19 de dezembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20471: Tabanca Grande (489): Alexandre Margarido, ex-cap mil grad inf, op esp / ranger, último cmdt da CCAÇ 3520 (Cacine, Cameconde, Quinhamel, 1972/74)...Senta-se à sombra do nosso poilão sob o nº 801

Guiné 61/74 - P20621: Parabéns a você (1752): Cap Inf Ref José Belo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)


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Nota do editor

Último poste da série de 2 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20615: Parabéns a você (1751): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Guiné, 1970/73)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20620: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXXV: Francisco Vasco Gonçalves Moura Borges, cap cav, 1º cmdt da CCAV 2721 (Sintra, 1944 - Lisboa, HMP, 1970): ferido gravemente no decurso da Op Jaguar Vemelho, no mítico Morés, acabou por morrer um mês depois em Lisboa, no Hospital Militar Principal





1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais, oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia). (*)

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à esquerda], membro da nossa Tabanca Grande [, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972 ]

2. Sobre a Op Jaguar Vermelho, onde o cap cav Moura Borges, cmdt da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), foi ferido gravemente (, acabando por morrer um mês mais tarde, em Lisboa, no Hospital Militar Principal), temos uma referência, um poste do nosso camarada Carlos Fortunato (**).  

Mobilizada pelo RC 4, a CCAV 2721 partiu para o TO da Guiné em 4 de abril de 1970 e regressou a 28 de fevereiro de 1972. Teve como comandantes, além do infortunado cap cav Moura Borges, o cap cav Mário [António Baptista] Tomé. O nosso camarada e amigo Paulo Salgado foi alf mil op esp nessa companhia, e poderá dizer-nos algo mais sobre a Op Jaguar Vermelho.
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(**) Vd. poste de 20 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13766: (Ex)citações (240): Água da bolanha... quem a não bebeu ?!... Recordando aqui o pesadelo que foi a Op Jaguar Vermelho, no Morés, em 9 de junho de 1970... (Carlos Fortunato. ex-fur mil trms. CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, e presidente da direção da ONDG Ajuda Amiga)

Guiné 61/74 - P20619: Notas de leitura (1261): Longas Horas do Tempo Africano, por Manuel Barão da Cunha; 10.ª edição, revista e reestruturada, Oeiras Valley, Município de Oeiras, 2019 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Janeiro de 2020:

Queridos amigos,
Manuel Barão da Cunha, um caso sério de reincidência na literatura da guerra colonial, um apóstolo da sua difusão organizando tertúlias entre Lisboa e Oeiras, desta vez convoca um elevado número de testemunhos que referenciam o homem e a sua obra.
Tendo começado a escrever ainda no Estado Novo, sobressaiu pelo cuidado posto na exaltação dos seus soldados, na satisfação expressa pela obra feita. Vê-se claramente que tem o seu coração repartido por Angola e pela Guiné. E é admirável este seu trabalho alquímico de mexer e remexer nas coisas do passado, o chamamento que faz de vivos e mortos que pertencem à sua história, participantes de toda a sua vida militar e até civil.
Deve-se a Manuel Barão da Cunha uma enorme gratidão coletiva por ser um porta-bandeira sem rival no dever de memória, trazendo-nos à presença toda e qualquer pessoa que calcorreou o império ou nele combateu. É uma dívida de peso, impagável. Mas ele também não se importa.

Um abraço do
Mário


Longas horas do tempo africano, por Manuel Barão da Cunha

Mário Beja Santos

Num estudo recente sobre as cartas de guerra, uma investigação de Joana Pontes intitulada Sinais de Vida, Tinta-da-China, 2019, esta conhecida investigadora e jornalista observa que a generalidade da correspondência estudada confina-se a um tempo demarcado, o da comissão militar, aos lugares que o combatente percorreu ou onde vive, não há um entendimento do fenómeno da guerra no seu todo, as motivações de fundo, acrescendo que com o passar dos anos, um pouco como o passar dos meses da comissão militar, é percetível o desalento e a vontade de regressar. Serve este preâmbulo para abrir caminho a uma outra consideração: toda a literatura da guerra colonial tem que ser ponderada no tempo em que se publicou, conheceu sucessivas etapas. Não é homogénea, o que se escreve sobre a Guiné tem particularidades, não se encontra na literatura de guerra angolana ou moçambicana. Qualquer relato remete-nos para a localização e a natureza do inimigo. Um exemplo mínimo: quem escreve sobre a Guiné inclui, inevitavelmente, rios e rias, lodo, diferenças de maré, humidade excessiva, calcorrear quinze quilómetros nos emaranhados de uma floresta-galeria provocam uma exaustão sem paralelo; quem escreve sobre Angola e Moçambique fala em longas distâncias, viagens de centenas de quilómetros, operações com montes e vales.

O que se vai espelhar na literatura, consoante o palco e a experiência vivida pelo combatente. Ler Armor Pires Mota, Álvaro Guerra, José Martins Garcia, Álamo Oliveira, Cristóvão de Aguiar, José Brás, Luís Rosa, é perceber como estes homens falam de um tempo, de lugares, de situações distintas, como distintas foram as perceções que eles registaram da guerra que viveram. E o mesmo se pode dizer de escritores como João de Melo ou António Lobo Antunes, em Angola, ou Carlos Vale Ferraz ou António Brito, em Moçambique.

E o fenómeno literário também é irradiante, pois abarca romance e conto, memórias, ensaio, poesia, reportagem, história e diários. Atenda-se que um significativo número de escritores faz uma só “viagem”, memórias ou romance, escreve-se uma vez e não se regressa. Há os reincidentes, caso de Armor Pires Mota e Manuel Barão da Cunha. Curiosamente, ambos escreveram na fase de arranque, sob a forma de epopeia, de gesta, da glorificação da obra do soldado, da exultação da camaradagem e do destemor de gente humilde que apanhou o início das guerras.

Manuel Barão da Cunha 

Manuel Barão da Cunha tem vasta obra, todo começou com um livro memorial, Aquelas Longas Horas, 1968, edição da Mocidade Portuguesa. Combateu em Angola, ali estava em 1961, conheceu ásperos tempos, irá intervir em regiões cruciais, como Nambuangongo, participou na operação Viriato. Estará na Guiné, anos depois, na intervenção direta, fazendo operações em santuários do PAIGC e depois na quadrícula, no Leste, no regulado de Pachana. Em 1972, reciclou o que escrevera, com novos averbamentos, e publicou Tempo Africano. Escreverá posteriormente A Flor e a Guerra, em 1974, na Parceria António Maria Pereira. É um registo distinto, tem pouco de épico ou glorificador, ressalta uma visão amargada, é um homem doente, ferido, seguramente a desiludir-se, se tivermos em conta o que escreveu.

Depois, como um alquimista, passou a torcer, a retorcer e a distorcer as diferentes narrativas de guerra. O essencial das suas memórias tem a ver com a Angola de 1960 a 1962 e a Guiné de 1964 a 1966. Foi um pioneiro desta escrita, faça-se-lhe justiça. Já uma vez escrevi como ele fala dos seus soldados, das obras que deixarão em vários pontos de Angola e da Guiné, segundo um princípio axial: “A obra ficava, o homem partia. A obra ficava para outros homens e o homem partia para outras obras”. Fazendo e refazendo o Tempo Africano foi tratado como farinha espoada, a narrativa passou a compartimentar-se em andamentos, e onde o autor se distanciava de tudo quanto contava, foi-se gerando uma aproximação autobiográfica, com o recurso a um alter-ego, Pedro Cid, que vai dialogando com um jovem, em variadíssimas situações que metem repastos e encontros com outros veteranos de guerra. O jovem, Francisco Adão, pergunta, Pedro Cid responde, ao sabor da cronologia. Tudo começa em Angola, estamos em janeiro de 1960, Pedro é um “dragão”, um jovem alferes que comanda mancebos naturais ou residentes em Angola. E assim chegamos aos acontecimentos de fevereiro de 1961, com os ataques a Luanda e musseques periféricos. Pedro é um observador privilegiado, cabe-lhe ir a Nambuangongo com os seus “dragões”, seguir-se-ão outras dolorosas missões, e mesmo autobiográfico retoma-se a atmosfera de Aquelas longas horas, dando ênfase aos comportamentos militares de exceção. Gente que aparece agora a depor, entre muitíssimos outros depoimentos na obra mais recente de Manuel Barão da Cunha, "Longas Horas do Tempo Africano", 10.ª edição, revista e reestruturada, Oeiras Valley, Município de Oeiras, 2019.

Pedro regressa a Portugal, estará em Lamego nas Operações Especiais. E em 1964, parte para a Guiné, na CCAV 704. No início, faz parte das forças de intervenção, vai ao Sul e depois ao Morés, volta agora a falar nesta operação Tornado que durou cerca de 80 horas. E depois passa para a quadrícula, estará no Leste, fala em Bajocunda e Copá, vive em Amedalai, sede do regulado da Pachana, deixarão obra. Pedro Cid regressará a Angola entre 1969 e 1971.

O seu novo livro recolhe depoimentos de amigos, de companheiros de estrada, de camaradas que o admiram, alguns deles foram seus militares: o escritor João Aguiar, o General Rocha Vieira, o Engenheiro Anacoreta Correia, o Professor Henrique Coutinho Gouveia, entre tantos outros. A edição é ricamente ilustrada com desenhos do pintor Neves e Sousa. Uma autobiografia num livro de consagração do escritor. Fala-se da sua preparação, o Colégio Militar é uma referência. É meticuloso nas suas referências. Quando fala da operação Viriato, anota: “Durante 36 dias e 36 noites e ao longo de 1419 km deparámo-nos com mais de 20 ações de combate, incluindo emboscadas, muitas das quais não foram registadas por terem sido atingidos militares de outras unidades, num total de 3 mortos e 38 feridos; mais de duas centenas de obstáculos, alguns constituídos por 4 e 5 árvores empilhadas ou embondeiros gigantes, fazendas destruídas, incluindo casas e viaturas; abrigos próximos da picada, para facilitar a emboscada".

Livro de uma vida militar, nele acorreu um conclave de diferentes protagonistas de todo este itinerário que depois se prolongou pela vida civil, um trabalho proficiente na Livraria Verney, onde começaram as afamadas tertúlias Fim do Império, que hoje se derramam por diferentes espaços, acolhendo apresentação de obras de múltiplos olhares, tal e tanto é o incansável dever de memória a que Manuel Barão da Cunha se entrega.
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de Janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20610: Notas de leitura (1260): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (43) (Mário Beja Santos)