quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22853: Historiografia da presença portuguesa em África (296): "Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné", as partes I e II foram editadas em 1899, o seu autor foi Cristiano José de Senna Barcelos, Capitão-Tenente da Armada (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Março de 2021:

Queridos amigos,
Este distintíssimo oficial da Armada, que combateu na Guiné, natural de Cabo Verde, elaborou uma extensa memória para a Real Academia das Ciências e sem dar por isso estava a lavrar os caboucos para uma aproximação à História da Guiné, o mínimo que se pode dizer é que foi um investigador pioneiro até a colónia ter fronteiras legitimadas. Não tem papas na língua, denuncia atropelos e corrupções. Na justa medida em que aqui se tem tratado com alguma largueza o primeira período da presença portuguesa, centrámos a observação com a chegada da Restauração, é bem patente a fatura de abandonos e incúrias, franceses e ingleses começaram a escolher posições e irão definir a geografia do Senegal e da Gâmbia, da Guiné Conacri e da Serra Leoa. O que se regista neste texto tem a ver com as tentativas de missionação e a garantia da nossa presença em Cacheu e zonas limítrofes bem como apoiar o comércio português em Bissau, também ele sujeito a severa concorrência. Não é admissível fazer-se historiografia da Guiné Portuguesa sem dar a palavra a Senna Barcelos, é dado assente.

Um abraço do
Mário



Um oficial da Armada que muito contribuiu para fazer a primeira História da Guiné (1)

Mário Beja Santos

São três volumes, sempre intitulados "Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné", as partes I e II foram editadas em 1899, o seu autor foi Cristiano José de Senna Barcelos, Capitão-Tenente da Armada, oficial distinto, condecorado com a Torre e Espada pelos seus feitos brilhantes no período de sufocação de sublevações em 1907-1908, no leste da Guiné. Todo este esforço de inventário é dedicado à memória de Gil Eanes e ele dá a justificação: “Gil Eanes não descobriu só o caminho marítimo para o Oriente; abriu as portas à navegação para todo o mundo. Das suas cinzas ninguém sabe onde repousam; recordação do seu nome nem no pobre casco de um navio português figura a par de Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Sá da Bandeira, Duque da Terceira e outros que não cometeram nunca actos de tanto heroísmo nem deram a Portugal tantas riquezas e páginas tão brilhantes na sua História”.

Começa o seu levantamento do período de 1460 a 1466. Abre deste modo: “A história destas ilhas não é para nós, filhos delas, um estudo indiferente, de mera curiosidade, em que toquemos ao de leve. Consultámos os principais cronistas, Fernão Lopes, Azurara, Rui de Pina, Damião de Góis, João de Barros, André de Resende e lemos com atenção as viagens do piloto veneziano Luís de Cadamosto; passámos pela vista os trabalhos de Lopes de Lima e de outros escritores modernos; com sossego vimos os arquivos das ilhas, Torre do Tombo e as bibliotecas públicas de Lisboa, Évora, Coimbra e particularmente a da Ajuda, as quais encerram preciosos manuscritos”.


É desassombrado, desmascara tropelias, corrupções, atos de maldade, até erradas decisões régias. Vê-se que escritores e investigadores que o seguiram o leram cuidadosamente, a ponto de vezes sem conta o repetirem. Como não vejo novidade de tudo quanto ele escreve até meados do século XVII, vamos tomar em conta alguns dados que ele apresenta com D. João IV e a Restauração. Não esconde que as lutas da Restauração afetaram profundamente a Guiné e Cabo Verde, basta pensar na proibição de comércio, a escassez de navios de Portugal para permutar fazendas com géneros coloniais. O Vaticano, indisposto com Portugal por causa de Castela, negou-se a confirmar bispos, foi assim durante toda a Guerra da Restauração. “D. João IV, prevendo as funestas consequências que haveria se o fervor religioso desaparecesse, especialmente na Guiné, onde os nossos domínios se estendiam à sombra da Cruz, ordenara a construção, na cidade da Ribeira Grande, de um convento e de um hospício na Guiné, cujas obras só ficaram concluídas depois da sua morte. Além disto ainda a despesa era aumentada com o transporte e alimentação dos religiosos, pagos com ordenado custeado pelos rendimentos da capitania. Reduzido à maior pobreza o erário desta, abusavam por necessidade, governadores e ouvidores, das ordens régias, proibindo o negócio com estrangeiros e até negociando alguns por sua conta e risco, vendendo-nos escravos para assim conseguirem meios de poderem viver desafogadamente (…) Os religiosos, passando à Guiné, iam primeiro a Cacheu e dali internavam-se pelo chão do gentio, convertendo este; para melhor podermos ajuizar dos trabalhos e martírios destes varões narremos o que nos conta frei André de Faro entre 1663 e 1664.

Deu começo à sua missão partindo do Cacheu para o porto de Guinguim, reino dos Banhuns, e uma vez na Praça do Rei D. Diogo lhe disse o fim por que viera à Guiné. Foi bem tratado pelo rei, e como nesse porto se estivesse fazendo uma igreja e próximo houvesse um china (feitiço ou ídolo dos pretos) pediu Frei André ao rei que o mandasse tirar dali, ao que ele anuiu. Em seu lugar armaram uma cruz, fizeram a procissão, e depois de um Te Deum Laudamus seguiram para Bissau, continuando na conversão dos Banhuns os religiosos que já ali estavam.
Em Bissau foram igualmente bem recebidos pelo rei. Havia já ali uma igreja e religiosos. Os frades pediram ao rei para se batizar, dizendo ele que a essa hora não podia responder, porém que não proibia a ninguém do seu reino que se fizesse cristão.

Passaram ao rio Nuno e foram à povoação onde vivia o rei D. Vicente, que já se tinha convertido ao Cristianismo. Aqui também já havia uma igreja, e conta Frei André que era grande o número de portugueses ali residentes e empregados no comércio de tintas, marfim e negros, e que se encontravam casas inglesas. Em peregrinação para a Serra Leoa encontrou Frei André um religioso espanhol, de quem se separou no rio, indo agasalhar-se na casa de um gentio ausente da aldeia; dentro da casa estavam os ídolos, que Frei André e um seu companheiro quebraram e deitaram ao fogo. Os gentios, sabedores disto, irritaram-se, e se não fora o soba cristão teriam pago com a vida essa imprudência, sujeitando-se apenas a serem expulsos (…) As necessidades e sofrimentos que deviam ter suportado os religiosos na missão de Cabo Verde e Guiné podem-se bem avaliar comparando-as com a miséria dos padres seculares das freguesias novas, criadas nas pequenas e estéreis ilhas de Maio, Boavista e S. Nicolau, que para se manterem à testa da freguesia lhes fora preciso aceitar esmolas dos habitantes, já de si pobres”
.

O estado de abandono, a ausência de presença portuguesa convidava a concorrência estrangeira, como escreve Senna Barcelos: “Vimos a França de posse da Goreia sem para isso ter despendido um real com missões, e também a Inglaterra que mandava ocupar a Gâmbia quase às portas de Cacheu, onde a nossa influência já era grande. Fizemos despesas enormes com a construção de conventos e sustentação de religiosos, para os deixar viver na ociosidade, sem deles se aproveitar o que mais importava a Portugal: a nossa expansão na Guiné”.

Mais adiante o investigador fala-nos na evolução da situação em Cacheu: “Em 1686 houve um levantamento do povo de Cacheu contra o Capitão-Mor, José Gonçalves de Oliveira, prendendo-o e desterrando-o para Farim, por motivo de excessos cometidos. Foi nomeado então António de Barros Bezerra para tratar de compor a sedição, prender os criminosos, fazer a ocupação, ficando Cacheu independente de Cabo Verde enquanto os ânimos dos alevantados não sossegassem. O novo Capitão-Mor, Bezerra, mandou levantar um auto pelo juiz ordinário, do qual se provou terem sido autores dessa prisão uma tal Bibiana Vaz, ricaça de Cacheu, e que vivia no chão do gentio; e seu irmão António Vaz e sobrinho Francisco Vaz, que andavam indispostos com o capitão-mor por este não consentir que negociassem com inglês e mais estrangeiros. Ordenou-se ao novo governador de Cabo Verde que passasse à Guiné e sequestrasse os bens daqueles criminosos. Não pôde fazer sequestro algum, visto que a fortuna da Bibiana estava nas terras do gentio. Regressou a Santiago trazendo os dois criminosos presos. Durante a sua permanência em Cacheu ocupou-se da proibição do comércio com os estrangeiros e da fortaleza de Bolor. O Capitão-Mor Bezerra dizia em 4 de março de 1687 haver muito sossego em Cacheu, e ter fortificado esta Praça, porém que o comércio estava arruinado porque os ingleses e franceses causavam ali grandes danos com os navios que metiam naqueles portos, dizendo senhores de toda a costa até ao Cabo da Boa Esperança.

Relatou circunstanciadamente a pretensão que tiveram os franceses de construir uma fortaleza em Bissau para o que já tinham enviado três fragatas de guerra e os materiais precisos, assim como quatro pequenas embarcações, assenhoreando-se de todo o negócio dali, e que, se não houvesse cuidado, em breve seriam senhores de toda a Guiné; porém que ele tinha evitado essa construção por intermédio daquele gentio e que eles vendo frustrados os seus desejos, intentaram fazê-lo no ilhéu junto, o que ele não podia impedir por falta de recursos. Mostra que a importância de Cacheu proveio dos rios, e principalmente de Bissau, para onde vão os portugueses, que ali pretendem levantar uma fortaleza, levando as suas embarcações de pouca força, que não são de guerra, o que fará sucumbir Cacheu, que se ia despovoando com a fuga de muitos para o mato por não poderem comerciar com os estrangeiros”.

É um relato minucioso, dele vamos dar mais pormenores até chegarmos à parte terceira, já no reinado de D. José I.

(continua)


Bibiana Vaz, grande negociante de Cacheu
Pormenor da Fortaleza de Cacheu
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22830: Historiografia da presença portuguesa em África (295): Memória dos Felupes, artigo de José Joaquim Lopes de Lima, 1839 (2) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22852: In Memoriam (421): Jorge Pedro de Almeida Cabral (Lisboa, 1944- Cascais, 2021), ex-al mil at art, cmd Pel Caç Nat 63 (Fá e Missirá, 1969/71), advogado, professor de direito penal no Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa, nosso colaborador permanente e autor da impagável série "Estórias cabralianas" (de que se publicaram cerca de uma centena de postes)






Jorge Pedro de Almeida Cabral, advogado, professor de direito penal,
alferes mil at art, cmdt Pel Caç Nat 63 (Fá e Missirá, 1969/71) 
(Lisboa, 1944 - Cascais, 2021)

com 4800 amigos. Com a devida vénia aos seus autores...



1. Deixou-nos hoje, o Cabral (*). Aos 77 anos (**). Cansou-se de brincar às guerras, morreu na única guerra que ele verdadeiramente temia, o cancro do pulmão... "Estou a morrer, estou a morrer", dizia-nos ele a alguns de nós por estes dias, por estas semanas... Não o levávamos a sério, a princípio ... Um humorista não morre. O "alfero" Cabral, o nosso anti-herói,  não podia morrer!

Estou em Vila Nova de Gaia, telefonou-me o Benjamim Durães a dar-me a funesta notícia... À hora do almoço... Sei que era uma morte anunciada,  mas a família, e sobretudo os amigos,  acabam sempre por ser surpreendidos, s
obretudo  quando se  está mais longe, quando chega o "carteiro da morte".  

Depois  já  não dava para mantermos a ilusão de que ia "correr tudo bem"... Não correu, ele vinha desanimado do hospital de Cascais onde estava a ser tratado. Tornou -se penoso telefonar-lhe. A conversa, "do outro lado da linha", era lacónica e não deixava antever nada de bom. Havia já sinais  de que o sopro da vida se estava a apagar. 

Mesmo assim, a festa que as suas antigas alunas (as suas "almas" ou "almas peregrinas",) do Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa lhe fizeram, no seu último aniversário (6/11/2021) deixaram-no extremamente emocionado. "Chorei", confessou-me ele, nesse dia, já ao fim da tarde (***).

2. O nosso blogue deve-lhe muito. Foi um dos nossos históricos. Colaborador permanente, e sobretudo autor de uma série absolutamente "impagável", as "estórias cabrialianas" (, de que publicou em 2020, em livro, com o mesmo título, o 1.º volume, sonhando ainda  lançar um 2.º, quando entretanto o seu editor também adoeceu de cancro...). Fiz questão de lhe escrever o prefácio, gesto que o sensibilizou.

Tem cerca de 230 referências no blogue. E eu não hesito em dizer, como já aqui disse, que ele foi uma das estrelas da nossa Tabanca Grande.  

Escrevo "a quente", quase em cima do joelho... Vou a caminho de Candoz, onde a Net nem sempre se apanha com qualidade e velocidade... Mas quero fazer-lhe, por estes dias,  uma bonita homenagem de despedida no blogue. Como acontece nestas ocasiões, quando se perde alguém que muito se ama ou se estima, queria dizer-lhe tantas coisas que nunca há tempo, em vida, para se dizer...

Confesso que estou desolado, perdi/perdemos um bom amigo e camarada. Não creio que ele tivesse inimigos. Por onde passou deixou a "peugada" de um grande ser humano, um homem bom, um professor venerado e sobretudo amado. Ao seu filho, neto e irmão (que não conheço pessoalmente), aos seus amigos e amigas do peito, às suas "almas",  transmito a nossa dor e o nosso preito de homenagem.

Aos nossos leitores, e nomeadamente aos amigos e camaradas da Guiné, peço que nos mandem fotos e pequenos depoimentos sobre o Jorge Cabral, criador da figura do "alfero Cabral". Com ele, morreu também o nosso "alfero", o único, o inimitável, cujo voz ainda ecoa pelos matos do Cuor: "Não fujam não tenho medo... É o alfero Cabral... E Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum"...

De resto, ele nunca escondeu que tinha um "grãozinho de loucura", coisa que fazia parte dos genes dos ilustres Cabrais, mas sempre modesto, definia-se como simples "escrivinhador"...  Pessoalmente, considerei-o como um dos melhores escritores do "teatro do absurdo da guerra" que nos calhou em sorte. Ninguém poderá falar do nosso quotidiano, nos quartéis do mato, na Guiné, de 1961 a 1974, sem evocar a figura do "alfero Cabral".

Mais do que ninguém ele soube dar-nos (ou devolver-nos) o seu/nosso lado mais solar, alegre, romântico, maroto, brejeiro, provocador, irreverente, desconcertante, descomplexado, histriónico, humorístico, burlesco, pícaresco, saudavelmente louco, da nossa geração,  o lado próprio próprio dos verdes anos (contrabalançando o outro lado mais negro da nossa história de vida,  quando os gerontocratas da Pátria nos mandaram para a guerra: afinal, são jovens que matam e morrem nas guerras)... 

Enfim, para o "alfero Cabral" a guerra não foi só "sangue, suor e lágrimas"... (Curiosamente, poucos sabem que ele tinha passado, se bem que efemeramente,  também pelo Colégio Militar, foi uma das "ratas" de 1955...).

Mestre do microconto, da "short story", senhor de uma ironia fina, foi responsável por alguns dos melhores postes que aqui fomos publicando, entre 2006 e 2016. E, como eu já lembrei, é pena que os os "periquitos" da Tabanca Grande, os que entraram mais recentemente,  não o conhecessem. De facto,  de há meia dúzia de anos a esta parte, tinham vindo tinho a  rarear as "estórias cabralianas",  série que chegou quase à centena de postes.

Saibamos honrar a sua memória e o seu talento... Ele iluminou a nossa "caserna" com o seu humor desconcertante... Vamos sentir a sua falta.  

Luís Graça, em nome da nossa equipa de editores e colaboradores.
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(**) Vd. poste de 16 de outubro de 2007 > Guiné 63774 - P2180: Blogpoesia (5): O vigésimo sexto aniversário de um gajo nada sério, Missirá, 6 de Novembro de 1970 (Jorge Cabral)

(...) Aniversário

por Jorge Cabral

Vinte e seis ou Mil, conto pelos dedos
Os anos que vivi, eu não sonhei
Este tempo de angústia e de medos,
Que soletro e nunca sei.
Que Guerra é esta? Onde não estou!
Que rio aquele? Não cheira a Tejo!
Que combate? Combato, mas não sou.
E quando olho o espelho, não me vejo!
Aqui em Missirá, escravo e senhor
Invento-me. E guarda – prisioneiro
Bebo, fingindo em alegria, a Dor.

Hoje faço anos… e continuo inteiro.

Missirá, 6 de Nov. 1970 (...)

Guiné 61/74 - P22851: A nossa guerra em números (11): Pedro Marquês de Sousa estima um rácio de 10 feridos por cada morto... A Guiné teve, em números absolutos e relativos, mais feridos graves em combate e Angola por acidente


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A solidariedade dos combatentes... Dois soldados, guineenses, do 3º Grupo de Combate, do Alf Mil At Inf Abel Rodrigues, amparam o 1º Cabo Carlos Alberto Alves Galvão, metropolitano (vive hoje na Covilhã, estando reformado da Direcção Geral das Contribuições e Impostos), comandante da 1ª secção, o homem que cometeu a proeza de ter sido ferido duas vezes no decurso da mesma operação (Op Boga Destemida, 9 de Fevereiro de 1970).

"Slide" do Fur Mil At Inf Arlindo T. Roda, comandante da 2ª secção, que nesses dias (8 e 9 de Fevereiro de 1970) levou para o mato  a sua máquina fotográfica... (Não era vulgar levar-se uma máquina de fotografia, para o mato, em operações, numa região como esta em que a probabilidade de contacto com o IN era muito alta. Estou muito grato ao Roda, que já não vejo desde 1994, e que vive em Setúbal, por generosamente nos disponibilizar a sua fabulosa colecção de "slides", convertidos para o digital...)

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Escrevemos em poste anterior (P22847) (*):

Segundo Pedro Marquês de Sousa ("Os números da Guerra de África". Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, pág. 144), dos cerca de 28 mil feridos graves evacuados durante a guerra (nos 3 teatros de operações), "resultaram cerca de 14 mil deficientes", dos quais "5120 com grau de deficiência superior a 60%"...

Além disso, desses 14324 feridos graves e deficientes, 1852 estão classificdos na categoria de "amputados" (12,9%), dos quais 480 em Angola, 540 na Guiné, 697 em Moçambique e 135 na instrução e serviço militar. 

Algumas centenas destes amputados deverão ter sido tratados e recuperados no Hospital Militar de Hamburgo, acrescentámos nós, ao longo da guerra.

Já agora vale a pena deixar aqui mais informação estatística sobre feridos e deficientes, militares, da guerra colonial / guerra do ultramar / guerra de África (1961/74) (**). Citando o Pedro Marquês de Sousa (que por sua vez se baseia nos historiógrafos Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes,  e estes em dados  da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas), temos o seguinte quadro, adaptado por nós,  que dá muito para reflectir:

O número de feridos graves e deficientes distribuem-se assim pelas quatro situações (os três teatros de operações e a Instrução / Serviço Militar): 

  • Angola (31%)
  • Mocambique (23%)
  • Guiné (25%)
  • Instrução / Serviço Militar (21%)

Tendo em conta que a Guiné era um território muito mais pequeno (equivalene
te ao Alentejo), mobilizou menos efetivos que Angola e Moçambique,  e em que a guerra começou mais tarde (em relação a Angola), há indícios de que naquele teatro de operações terá havido, proporcionamente, mais amputados (29% do total), mais cegos e amblíopes (31%), mais casos de surdez (total, parcial e outras deficiências auditivas) (33%)... Estes dados terão que ser analisados com cuidado, precisávamos de saber a origem dos ferimentos graves e deficiências (em combate ou acidente).

Em 1973, por exemplo, o número de militares presentes nas 3 frentes era de cerca de 163 mil (mais exatamente, 162 996) (pág. 95), assim distribuidos pelos 3 teatros de operações 

  • Angola: 43,3 %
  • Guiné; 21,8 %
  • Moçambique: 34,9 %

2. O total de mortos, entre os combatentes portugueses,  é agora calculado em 10425 (pág. 97). 

Segundo a fonte que estamos a usar (Sousa, 2021), o total de feridos (dos três ramos das Forças Armadas) ascenderia a 117 mil, na sua grande maioria (96%) pertencentes ao Exército, e distribuindo-se do seguinte modo pelos 3 teatros de operações (pág. 142):

  • 41% em Angola
  • 29% na Guiné
  • 30% em Moçambique 

Um dado relevante apurado por Pedro Marquês de Sousa é o rácio de 10 feridos (hospitalizados)  por cada morto. Grosso modo, tivemos mais de 100 mil feridos (hospitalizados), nos 3 ramos das Forças Armadas (pág. 142). (Por "hospitalizados" entende-se entradas de feridos nos hospitais e enfermarias dos setores.)

Num outro quadro publicado na pág 143, e adaptado por nós, mostra-se a distribuição em números absolutos e relativos dos feridos graves em combate e feridos graves por acidente nos 3 teatros de operações.


Num total de 31,3 mil feridos graves, mais de metade foi em combate (N=16200), dos quais 44,5 % ocorridos no TO da Guiné. Angola teve mais feridos por acidente (43,7% mum total de 15100).

Para uma análise mais detalhada destes  (e doutros dados) recomendamos o livro do tenente-coronel, doutorado em História, Pedro Marquês de Sousa.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 26 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22847: Memória dos lugares (434): Hospital Militar de Hamburgo, onde estiveram internados, para tratamento e reabilitação, camaradas nossos deficientes como o Quebá Soncó (CCAÇ 1439) e o António Dias das Neves (CCAV 2486): não se sabe quantos, mas devem ter sido algumas centenas de um total de mais de 1800 "amputados", entre 1964 e 1974

(**) Último poste da série > 12 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22803: A nossa guerra em números (10): o Movimento Nacional Feminino tinha um orçamento ordinário de 10 mil contos (cerca de 2 milhões de euros, a preços de hoje) e uma gestão pouco profissionalizada, retirando-lhe credibilidade e apoios da sociedade civil

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22850: O meu sapatinho de Natal (21): Merry Christmas! (João Crisóstomo, Nova Iorque)


Nova Iorque, 25 de Dezembro de 2021 > O João e os filhos


Nova Iorque, 25 de dezembro de 2021 > Em primeiro plano, a Vilma, 
os três netos do João e a nora (americana); ao fundo, o João e os filhos


Nova Iorque, 25 de dezembro de 2021 > O João e o neto Caton, 
em primeiro plano (, sendo menor,  escondemos-lhe o rosto,  


Nova Iorque, Queens, 25 de dezembro de 2021 >  O Natal português 
do João Crisóstomo, passado em sua casa, 
com os seus filhos, genro, nora, e os três netos 
e, pela primeira vez, a sua Vilma, eslovena


Fotos (e legenda): © João Crisóstomo (2021) Todos os direitos reservados. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67) (a viver em Nova Iorque desde 1975, depois de ter passado por Inglaterra e Brasil)

Data - domingo, 26/12, 18:57
Assunto - Merry Christmas! 

Caro Luís Graça


Estava para deixar passar este Natal sem grande alvoroço da minha parte. Mas este teu email veio pôr tudo no seu devido lugar!

Fico satisfeito que tenhas achado a carta de Quebá Soncó, enviada da Alemanha, como relevante (*). Uma vez que foi nesse hospital que muitos dos nossos camaradas, vítimas da guerra, receberam membros artificiais. Talvez esta carta sirva como inspiração e ocasião para outros partilharem sua experiência.

E antes que me esqueça: quando estive em tua casa o nosso comum querido camarada e amigo Joaquim Pinto Carvalho deu-me o seu livro "A 'Chama' que nos chamou". Quis depois telefonar -lhe directamente, e pedi-te o número dele; mas não sei porque razão a máquina de respostas diz que não é possível o contacto. Quando puderes liga para ele e diz-lhe o que eu tencionava dizer-lhe : Levou-me tempo a arranjar ocasião para o ler . Mas quando lhe peguei sucedeu-me o que me acontece com livros que apaixonam: li-o da primeira página à última, sem conseguir parar. E sei que mais cedo ou mais tarde vou lê-lo outra vez.

E outros a quem tentei falar também não consegui fazê-lo. E continuo a fazê-lo, quando posso, quer estejam nos USA, Canadá, Holanda ou em qualquer “Cochinchina" mundo fora. Porque sou teimoso, geralmente mais cedo ou mais tarde acabo por chegar. Mas nem sempre. Oxalá de alguma maneira muitos tenham conhecimento do conteúdo deste email.
 
Se não achares inconveniente (sei que há razões hoje em dia que podem tornar coisas bem simples em grandes problemas… e por isso , quem sabe?, pode não ser coisa aconselhável a fazer; mas por mim não vejo inconveniente) podes partilhar o meu e mail e o meu telefone: 

 telefone + 1. 718 899 7776; e email : crisostomo.joao2@gmail.com

E agora ao fim primeiro deste: mas que maravilhoso Natal este  que 
acabou por ser para tantos de nós. Desde dia primeiro de Dezembro eu tenho vindo a seguir no nosso blogue , a série "O nosso sapatinho de Natal” começado por uma “reflexão" do nosso camarada Francisco Baptista (poste P22774): logo seguido por um conto do José Teixeira. 

Reparei que os dois primeiros apareceram como sendo "O nosso sapatinho de Natal" mas com António Martins de Matos, em vez de “O nosso sapatinho” começou a ser "O meu sapatinho de Natal" (poste  P22778). E assim tem sido até hoje, em que apareces tu mesmo, "cantando as janeiras" (poste  no P22841). Mas, “meu sapatinho" ou "nosso sapatinho”..., o importante é que muitos dos nossos camaradas tiveram oportunidade de partilhar no presente, ou num passado mais ou menos distante, as suas experiências e memórias de Natal.

Eu estava a seguir tudo isto, e alegrava-me com o que se passava, mas não me sentia com forças para dar o meu contributo, pois ultimamente as coisas, em vários campos, tinham estado a ser um pouco "menos fáceis" para mim. E, com pena o digo, eu não tenho a mesma coragem que tu tens que consegues "cantar janeiras”,  mesmo no meio da adversidade. Por isso me limitava a fazer alguns telefonemas a alguns camaradas. Mas as coisas mudaram.

Que bom foi receber este teu email, de 25 do corrente, em que dizias: 

"João: estou no Porto, e tenho boas notícias, vou ser operado em janeiro ou por aí (se os exames estiverem todos bem...). Foi a melhor prenda de Natal que recebi, logo no dia 22 (consulta com o meu ortopedista)...

"E tu, antes de ires a 28, para o hospital, lê aqui mais um poste das tuas memórias (**)... Foi bom teres reproduzido a carta do Quebá Soncó, datada de 6/8/1967, temos poucas referências ao Hospital de Hamburgo ...Beijinhos para a Vilma, grande abraço fraterno para ti. Vai correr tudo bem.. Mano Luís"

E mais ainda porque chegou mesmo no dia de Natal! Eu e a Vilma pulamos de contentes: compreendemos bem as tuas palavras: “ Tenho boas notícias, vou ser operado em janeiro ou por aí (se os exames estiverem todos bem...)  Foi a melhor prenda de Natal que recebi”.

 Para nós também foi um belo presente: compreendemos bem ( e sentimos) o que tu e a Alice sentes neste momento. E podes crer que muitos dos que têm seguido as tuas notícias desde que começaste com problemas de locomoção sentem o mesmo! == não foramos nós todos irmãos agora, uma irmandade criada pelas mesmas experiências na Guiné, que tu em tão boa hora decidiste lembrar, fazendo destas passadas experiências um edifício monumental em que todos nos refugiamos e até onde nos foi possível amadurecer ainda melhor, se tal é possível dizer.

No meu caso devo dizer que tenho razões duplas, pois até são semelhantes às tuas!

Como sabes no ano passado quando ainda lutava com uma lombalgia,  tive um ataque de ciática que se prolongou bem mais do que eu esperava. Quando estive aí em Portugal , um primo meu que também havia “feito a Guiné", falou-me dum tal Peixeira ( não Teixeira, como alguns o chamam por engano) que havia sido seu comandante de secção em Tite "que se mantinha ainda em contacto com toda a gente”.

 Curioso e interessado, e logo na mira de o convidar para entrar para a nossa Tabanca, no caso de ele não saber dela, contactei-o. Foi quando partilhávamos as nossas experiências na Guiné, que ele me disse ter sofrido duma lombalgia de que havia sido curado por um fisioterapista. E este era um "doutor ucraniano” já reformado mas que ainda ajudava quem o procurasse , especialmente se tivesse sido recomendado por antigos pacientes. Não só me recomendou, como se fez de guia na primeira vez que lá fui para eu não me perder.

Valeu bem a pena,  pois este não só endireitou a minha coluna com resultados surpreendentes e quase instantâneos, como me elucidou que algumas das dores que eu sentia e que eu atribuía a efeitos colaterais da ciática, eram antes provocadas por uma hérnia ( que eu desconhecia ter) que era coisa a que ele não podia ajudar mas para a qual,  ao voltar a Nova Iorque,  eu tinha de consultar o meu médico.

Assim fiz; mas se já não estava tranquilo por ter descuidado esta hérnia tanto tempo, que me obrigava a uma inação enervante, mais preocupado fiquei. Foi-me dito que só em 2022, na melhor das hipóteses em fins de Janeiro, pois devido à situação criada pela Covid poderia ser mesmo "lá para Março” em que eu poderia ser operado. 

 Valeu-me o que muitos  me creditam como perseverança, e que eu sei bem ser apenas obstinação e teimosia minha; depois de vários telefonemas e de ter sido posto em "listas de espera",   recebi um telefonema de que, devido a um inesperado cancelamento,  a minha cirurgia podia ser ainda este mês, no dia 28. 

 E tudo mudou. Porque não tencionava fazer mais "árvores de Natal” dentro de casa, com intenção de me limitar agora ao simples e mais tradicional presépio, eu tinha-me já desfeito de tudo o que com ela era relacionado e, para grande gáudio e excitação dos miúdos das redondezas, tínhamos feito uma espécie de “garage sale” (feira de garagem, como se diz aí)  oferecendo todos os ornamentos que cada um quis levar.

Quando porém fui informado da boa nova e dela participei aos meus filhos,  eles, em vez de sermos nós a ir a casa de um deles passar o Natal, concordaram em virem os dois (e seus respectivos filhos, meus netos) a virem passar o Natal deste ano a nossa casa. 

Que melhor Natal do que isto?

Foi uma revolução aqui: no mesmo dia fomos comprar uma árvore de Natal (não podia ser muito grande, pois para evitar problemas com os cães que o meu filho pediu para trazer com eles nesse dia , a árvore tinha de ser posta e ficar em lugar elevado)...  E depois foi comprar luzes e ornamentos para substituir aqueles de que nos havíamos desfeito … 

Para que não faltasse música e distrações, fomos comprar um “Alexa” (um sistema simples que permite pedir por voz as canções, músicas e informações que acharmos bem pedir); e logo a seguir eu “actualizava" uma pequena mesa de "pool"  ( bilhar, penso eu que se chama em português) que eu há anos havia feito para o meu netinho mais novo,  mesa que ainda hoje serve de passatempo quando ele vem a minha casa.

E logo a seguir com o meu neto Caton e minha filha Cristina, entusiasta nestas coisas de celebrar tradições portuguesas, deslocámo-nos-nos a Newark para fazer as compras de Natal : bacalhau, chouriço, castanhas, bolos-rei (sete deles pois serviriam de presentes para alguns dos meus vizinhos),  azeitonas e tremoços, broas e azeite português, e os necessários condimentos para fazer o arroz doce e rabanadas… 

Que os meus filhos fizeram questão que fosse um jantar (consoada) português, apesar da mãe duns ser americana e o mesmo se dizer do pai do Caton que nasceu em Cuba mas foi feito americano logo aos dois anos de idade. Uma idéia que a Vilma, apesar de ser eslovena, abraçou com todo o entusiasmo: ao fim e ao cabo nos seus tempos de meninice sob um regime de orientação comunista o Natal não contava nada. 

Mas que gosto era ver a genica dela, preocupando-se talvez mais do que eu que nada faltasse, custasse o que quer que fosse. Eu até estava preocupado pois ela tinha sobrevivido ainda há bem pouco (a segunda vez que isso lhe acontece comigo) a uma forte reaçção à vacina da Covid 19. Em ambos as vezes,  passadas cerca de 24 horas, começou a ter frio e acabou por desfalecer e me cair nos braços com um ataque de “hipotermia”. Chegou para susto. Felizmente que logo que a deitei no chão, e chamava já a ambulância, ela começou a recuperar e a instruir-me para não o fazer, que tal não era preciso.

Imagino pois a alegria da Alice e dos teus ao saberem dessa tua prenda de Natal que recebeste, logo no dia 22!... É com a mesma alegria que te enviamos o nosso grande abraço e nos associamos à Alice e os teus queridos e todos os que se felicitam pela boa notícia.

Aproveito agora este para me associar também a todos os meus/nossos camaradas que duma maneira ou outra estão celebrando esta época festiva. Obrigado aos que já me fizeram chegar os seus bons desejos, que retribuo de coração também.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22845: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XV: Dezembro de 1966: a Op Harpa em que é ferido com gravidade o Quebá Soncó, que depois irá para o hospital de reabilitação de Hamburgo, na Alemanha

Guiné 61/74 - P22849: Notas de leitura (1402): Memórias de um alferes, Leste da Guiné, 1967-1969: A CART 1690, uma das mais sinistradas, em toda a Guerra da Guiné (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Dezembro de 2021:

Queridos amigos,
Aqui fica o relato que António Martins Moreira dedicou à sua CART 1690, de vida tão atribulada, no setor de Geba, nunca pensei que os meus vizinhos para lá da ponte do rio Gambiel atingissem tal nível de sofrimento. No início da guerra houve uma separação radical da população no regulado de Mansomine, região onde o PAIGC passou a dispor de algumas bases como Sinchã Jobel, e mais para o interior Sara-Sarauol, confinando, um pouco mais abaixo, com Belel, aqui estacionavam, tal como em Madina, os meus atacantes. Ficamos a dever a António Martins Moreira um belo depoimento, ele não se cansa de afirmar que comandou gente de bravura e de enorme capacidade de sacrifício. Veio a tempo, felizmente, uma importante narrativa para que não se esqueça o que foi a vida dura no setor de Geba entre 1967 e 1969.

Um abraço do
Mário



Memórias de um alferes, Leste da Guiné, 1967-1969:
A CART 1690, uma das mais sinistradas, em toda a Guerra da Guiné

Mário Beja Santos

Trata-se de uma edição do Município de Idanha-a-Nova, com data de 2018, são as memórias do então alferes António Martins Moreira, que combateu na região de Geba, entre 1967 e 1969, não quis o destino que nos conhecêssemos, éramos vizinhos, ele estava para lá da ponte do Rio Gambiel, eu para cá, e quando ele diz que a paisagem era deslumbrante, estou à vontade para o confirmar. Este nativo de Penha Garcia foi para Mafra em janeiro de 1966, onde permaneceu até julho, promovido a aspirante foi transferido para o Regimento de Infantaria em Abrantes, e aqui mobilizado e colocado na CART 1690, do BART 1914, frequentou o curso de operações especiais, em Lamego, ainda andou por Lisboa, Torres Novas e Oeiras, desembarcou no Pidjiquiti em 15 de abril de 1967, quem comanda a companhia é o Capitão Manuel Carlos Guimarães. Faz-se a viagem sacramental até Bambadinca, seguem para Bafatá, é-lhes atribuído o setor de Geba. Nesta localidade substituem a CCAÇ 1426. A Companhia dissemina-se por quatro destacamentos. A 17, avança para Banjara, que ele classifica como pior destacamento a seguir a Madina do Boé. “Banjara era um destacamento de alto risco, situado na estrada de Bafatá-Mansabá, a cerca de 40 quilómetros de Geba, e outros tantos de Bafatá, na mata do Oio”

Descreve Banjara e o seu perímetro. O destacamento era um verdadeiro inferno se bem que só tenha havido uma flagelação, era o isolamento, não havia população civil, os abastecimentos e o correio chegavam uma vez por mês. Banjara tinha um grupo de combate, reforçado por uma seção de autometralhadoras, Granadeiros da Cavalaria de Bafatá, um Esquadrão de Reconhecimento, 15 milícias, uma seção de armas pesadas, num total de 70 a 80 homens. “Lá passámos os 8 mais longos meses da nossa juventude”. Descreve as atividades desenvolvidas em Banjara.

Em 21 de agosto morre o comandante da Companhia e o seu guarda-costas, caíram num campo de minas anticarro e antipessoal na estrada de Geba-Banjara, depois de terem ultrapassado o destacamento de Sare Banda. O Alferes Domingos Maçarico passou a comandar a Companhia, Martins Moreira e Maçarico trocam posições, Martins Moreira vai para Geba. O histórico desta unidade militar é marcado por várias infelicidades, para além da morte do Capitão Guimarães, os alferes Maçarico e Marques Lopes foram evacuados com ferimentos em combate. Recorda situações penosas como quinze dias de alimentação sem sal e depois dá-nos uma descrição do destacamento de Cantacunda, a cerca de 35 quilómetros para norte, refere os efetivos, não esquecem o nome do comandante do pelotão de milícias, Samba So, o destacamento tinha população civil e régulo. 

Parecia calmo e seguro, mas era profundamente vulnerável, como se comprovou em abril de 1968, um numeroso grupo do PAIGC apanhou a guarnição descontraída, tomou de assalto a caserna e os abrigos, aprisionou 12 elementos, assassinou um à facada. Muitos militares conseguiram escapar e chegaram a Geba depois deambularem pelo mato uma noite inteira. Dez destes prisioneiros virão a ser resgatados em 1970, no âmbito da Operação Mar Verde.

O novo comandante da CART 1690 passou a ser o Capitão Sarmento Ferreira, é chamado a Bafatá onde lhe entregam uma ordem de operações para uma batida de Sinchã Jobel, uma importante base do PAIGC, vão dois destacamentos, a CART 1690 com três grupos de combate, Martins Pereira está em Banjara, mas dá-nos a versão dos acontecimentos. Quando os efetivos chegaram as imediações do objetivo já estavam bem referenciados pelas sentinelas, as nossas tropas caíram numa emboscada brutal, procuraram reagir abatendo os atiradores que estavam na copa das palmeiras, mas o embate era fortíssimo, retiraram deixando para trás alguns mortos e feridos e cerca de 25 desaparecidos que só se conseguiram recuperar, completamente extenuados e famintos, no dia seguinte. 

O Alferes Fernandes foi assassinado a sangue frio, conforme testemunhou o seu guarda-costas, que nessa ocasião se fingiu de morto. O Alferes Fernandes tinha substituído o Alferes Marques Lopes, ferido em 21 de agosto. O resultado desta operação foram nove mortes e cerca de vinte feridos.

O autor refere que faltavam cerca de 25 elementos, no rescaldo desta ida a Sinchã Jobel foi recuperar os desaparecidos, na manhã seguinte. Ao amanhecer, estavam em frente ao objetivo, foram aparecendo soldados a correr em grupos, completamente exaustos, um deles vinha gravemente ferido. Teve apoio aéreo e um dos pilotos avisou que à frente, a cerca de 2 quilómetros, aguardava-os uma forte emboscada, inverteram a marcha, novo aviso que há emboscada à frente, então afastam-se da picada e embrenham-se na mata até à margem do rio Geba.

 Repetiu-se a operação de resgate no dia seguinte, ainda faltavam 9 ou 10 homens, recuperaram todos com exceção do assassinado Alferes Fernandes e de um capturado, gravemente ferido e levado para Ziguinchor. “Ficou ainda o Armindo Correia Paulino, o magarefe da Companhia, também assassinado, fria e cobardemente, à facada por vários elementos do PAIGC, depois de o terem cercado e aprisionado”.

Fazendo o balanço da situação, o autor estima que em maio de 1968 a sua unidade vivia numa situação muito difícil, o comandante Companhia morto em combate, dois alferes evacuados, o Alferes Fernandes assassinado, em abril passado o assalto a Cantacunda com resultados trágicos, a Companhia estava desmoralizada. 

Em junho, o destacamento de Sare Banda, na estrada Bafatá-Mansabá, com quarenta milícias, foi tomado de assalto pelo PAIGC, com a cumplicidade do chefe de tabanca. Os guerrilheiros incendiaram todas as moranças. “Sare Banda era um destacamento vital que nos garantia a progressão a poente na direção de Mansabá até ao nosso destacamento de Banjara, o mais isolado. Retornava-se, pois, imperioso reocupar, reconstruir e reforçar este destacamento. Foi esta a missão que recebemos”

E dá-nos conta dos trabalhos de reconstrução, ergueram-se seis abrigos subterrâneos, construiu-se uma autêntica fortaleza. Findas as obras, Martins Moreira regressa a Geba. Em 12 de junho, o PAIGC ataca Sare Gana, o pelotão de milícias reage com bravura, houve que recuar, PAIGC instalou-se, na manhã seguinte as nossas tropas puseram os atacantes em debandada. Ao fim de 19 meses no setor de Geba, a CART é transferida para Bissau, teve uma comovente despedida em Geba, os últimos 4 meses foram relativamente tranquilos, fazendo colunas, rusgas, preceitos da rotina, várias emboscadas sem confronto, em 2 de março de 1969 embarcam para Lisboa. Há ainda alguns textos soltos, a completar a missão.

Um relato bem sentido da história de uma unidade militar que conheceu o martírio e o pleno sofrimento, muitos mortos, sequestros, homens devastados e perdidos depois de uma tempestade de fogo. E enternecedor, atenda-se que António Martins Moreira já não é criança, mas exigiu-se ao dever da memória, fielmente cumprido.

António Martins Moreira, no lançamento do seu livro na Câmara Municipal de Idanha-a-Nova
Bafatá
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22828: Notas de leitura (1401): "Adeus... até ao meu regresso": livro de memórias fotográficas de 56 antigos combatentes, naturais de Vila Real, incluindo o Miguel Rocha, ex-alf mil inf, CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70) - Parte I

Guiné 61/74 - P22848: Parabéns a você (2019): José Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745/73 (Binta, Jugudul e Mansoa, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22836: Parabéns a você (2018): Fernando de Jesus Sousa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Bedanda, 1970/71)

domingo, 26 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22847: Memória dos lugares (434): Hospital Militar de Hamburgo, onde estiveram internados, para tratamento e reabilitação, camaradas nossos deficientes como o Quebá Soncó (CCAÇ 1439) e o António Dias das Neves (CCAV 2486): não se sabe quantos, mas devem ter sido algumas centenas de um total de mais de 1800 "amputados", entre 1964 e 1974


Alemanha Ocidental > Hospital Militar de Hamburgo > c. 1970 > "O meu Pai é o que está na cadeira de rodas com o prato na mão. Esteve lá 8 meses. Antes passou pelo anexo de Campolide, em Lisboa, onde fez 18 operações" (Marisa Neves).



Alemanha Ocidental > Hospital Militar de Hamburgo > c. 1970 > "O meu pai é o que está no lado direito, de camisola acastanhada, sentado na cadeira de rodas" (MN)


Alemanha Ocidental > Hospital Militar de Hamburgo > c. 1970 > "O meu pai é o que está de frente, de  camisola acastanhada" (MN)


Alemanha Ocidental > Hospital Militar de Hamburgo > c. 1970 > "O meu pai é o que vem com duas muletas,  de camisola branca" (MN)



Alemanha Ocidental > Hospital Militar de Hamburgo > c. 1970 > "O meu pai é o de camisola castanha, sentado na cadeira de rodas, em primeiro plano " (MN)



Alemanha Ocidental > Hospital Militar de Hamburgo > c. 1970 > "O meu pai sentado na cadeira de rodas, e com um camarada ao lado" (MN)



Alemanha Ocidental > Hospital Militar de Hamburgo > c. 1970 > "O meu pai, junto a um lago, amparando-se a m camarada" (MN)

Antiga Alemanha Ocidental  (ex-RFA - República Federal Alemã) > Hamburgo > Hospital Militar de Hamburgo > Álbum fotográfico de António Dias das Neves (1947-2001) (*) 


Fotos (e legendas): © Marisa Neves (2011) Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Depois de ter ficado sem as duas pernas, devido ao acionamento de uma mina A/P, a norte de Bula, no decurso da tão mediatizada Op Ostra Amarga, 18 de Outubro de 1969, o sold at cav António Dias das Neves, da CCAV 2486/BCAV 2868 (1969/70), foi evacuado para a metrópole, longe dos holofotes da televisão e do voyeurismo dos jornalistas franceses... e daqui para a Alemanha

Sabemos que passou esteve no Hospital Militar da Estrela, anexo de Campolide, desde finais de 1969. Deve ter ido no ano seguinte   para o prestigiado Hospital Militar de Hamburgo, na Alemanha  onde recebeu, com sucesso, duas próteses que lhe permitiram refazer a sua vida como civil... na sua terra natal, Ramada, Odivelas.

"O meu pai fez bastantes amigos durante os 8 meses que esteve em recuperação no hospital de Hamburgo. Sei que fartou-se de passear, pois tenho alguns postais de vários sítios da Alemanha que o meu pai mandava para a minha avó", escreve-nos a sua filha Marisa Neves.

"Sei também que o meu pai foi um caso de sucesso na adaptação das próteses, sei que fizeram bastantes arquivos documentados para próximos doentes".

"As pessoas que acompanham o meu pai nas fotos, infelizmente não sei quem são, só ele poderia dizer ou a minha avozita que infelizmente faz agora dia 6 de Novembro [ de 2011] num ano que me deixou. O meu pai sempre foi um homem de coragem e de orgulho".


Em 1979 nasceu a sua primeira filha, Marisa Neves. Estas fotos, recebidas originalmente sem legenda, documentam a parte final, germânica, do seu calvário da Guiné...

Sobre a hospitalização do seu pai, a Marisa disse-nos o seguinte:

 "Em relação aos hospitais, infelizmente não sei datas concretas, acho que ele foi, primeiro, para Bissau [ HM 241]   e depois veio para Portugal [ HMP] . A seguir foi transferido para Alemanha. Sei que esteve algum tempo na Alemanha em tratamentos e recuperação para adaptação das próteses". 

E, ao que parece, adaptou-se bem, do ponto de vista funcional, às suas novas pernas artificiais, segundo o testemunho da filha.

Há um ponto que não conseguimos (ainda)  esclarecer com a Marisa. Diz ela que, de acordo com a caderneta militar, o pai foi "evacuado para o HMP em 6/11/71"... "por despacho de 30/12/70 de sua Excia o Secretário de Estado do Exército" (?)... 

Admitamos que é um erro de transcrição, dela ou do burocrata do exército... Não é crível que tenha ficado mais de dois anos no HM 241, em Bissau (contando o período que medeia entre a data dos ferimentos em combate, 18/10/1969, e a alegada mas improvável data de evacuação para o HMP, 6/11/71)... É mais provável que a data seja 6/11/1969... Por outro não se entende a referência ao "despacho" do Secretário de Estado do Exército, de 30/12/70.

Por outro lado,  foi-lhe contado 100% o  tempo  de  serviço militar no TO da Guiné, desde 1/3/169 (data de desembarque da CCAV 2486) ate´31/12/1970.

Foi condecorado com a Cruz de Guerra de 4ª Classe.




Fonte: Revista de Cavalaria: Anais da Cavalaria Portuguesa, Ano de 1971, pág. 96



2. De qualquer modo, o que importa é sublinhar a novidade destas fotos do álbum da filha de uma camarada nosso, já falecido, integrado na Tabanca Grande a título póstomo (poste P8910) (*),  em 2011, quando aqui foram publicadas (poste P8914) (**) eram as primeiras de camaradas nossos, feridos gravemente na guerra de África, e n0meadamente amputados, que foram beneficiários do programa de tratamento e reabilitação do Hospital Militar de Hamburgo...  

Não sabemos quantos por lá passaram, pro Hamburgo, por causa das próteses...Um deles foi o Quebá Soncó, que também perdeu uma perna, no dia 7 de dezembro de 1966, ao serviço da CCAÇ 1439 (***). 

 O mesmo se passa com o CMRA - Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitção, inaugurado em 1966 ... Não sei se a ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas tem informação estatística, ou dados históricos, adicionais, com referência  aos utentes portugueses do Hospital Militar de Hamburgo, entre 1964 e 1974.

Segundo Pedro Marquês de Sousa ("Os números da Guerra de África". Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, pág. 144),  dos cerca de 28 mil feridos graves evacuados durante a guerra (nos 3 teatros de operações),  "resultaram cerca de 14 mil deficientes  (5120 com grau de deficiência superior a 60%)"...  

Desses 14324 feridos graves e deficientes, 1852 estão classificdos na categoria de "amputados" (12,9%), dos quais 480 em Angola, 540 na Guiné, 697 em Moçambique e 135 na instrução e serviço militar. (Algumas centenas destes amputados deverão ter sido tratados e recuperados no Hospital Militar de Hamburgo, acrescentamos nós.)

À Marisa já aqui deixámos, em 2011, o nosso profundo reconhecimento por querer partilhar, connosco, com os camaradas do seu pai, este cantinho da sua intimidade, o álbum fotográfico do seu querido pai e seu grande herói (**).



3. Sobre o programa de reabilitação dos deficientes da guerra colonial no Hospital Militar de Hamburgo (****), iniciado em 1963, publicamos uma "nota histórica",  excerto da revista ELO, da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas, julho de 2013, pág. 9, com a devida vénia:


Pequeno historial

Em 1963 uma delegação alemã visitou Portugal. Integrava essa mesma delegação o General médico, Diretor do Serviço de Saúde Militar da República Federal da Alemanha, que foi convidado pela Cruz Vermelha Portuguesa, através do então Movimento Nacional Feminino, a visitar o Hospital Militar Principal, onde já se encontravam um número significativo de deficientes vindos dos conflitos das ex-colónias portuguesas de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.

Na sua maioria, esses mutilados eram vítimas de rebentamentos de minas. Esta visita deu origem à assinatura de um protocolo em que os médicos militares alemães aplicariam a sua ampla experiência adquirida com mutilados das primeira e segunda guerras mundiais, no tratamento dos mutilados portugueses. O referido protocolo também estava relacionado com a presença da Força Aérea Alemã na base de Beja e dependências em Alverca.

Em 1964, os primeiros deficientes de guerra foram internados no Serviço de Cirurgia do Hospital Militar de Hamburgo (nessa data chamava-se Standortlazarett, depois Bundeswehrlazarett) e eram levados diariamente para tratamentos para o hospital de acidentados em Hamburgo – Hospital de Bergedorf.

Em 1966, foi colocado no Hospital Militar de Hamburgo o então Capitão-de-Fragata, médico, Dr. Franz Traut, especialista em ortopedia de guerra, que criou o Serviço de Ortopedia e também foi o responsável pela instalação de uma casa ortopédica dentro do Hospital Militar.

Para complementar o processo, disponibilizou duas enfermarias, uma com seis camas e outra com quatro, destinadas aos deficientes das Forças Armadas portugueses. Criou também o Serviço de Fisiatria e chamou a fisioterapeuta, Srª. Frauke Maltusch, docente no Hospital Universitário de Eppendorf, em Hamburgo.

Os mutilados eram transportados de e para Portugal nos aviões militares de transporte alemães – a princípio Noratlas, depois Transal, sempre acompanhados por um oficial médico ou sargento enfermeiro portugueses. Os custos inerentes a todo o processo, eram suportados pelo Estado alemão.

Em 1975 e em virtude dos conflitos coloniais terem terminado, o número de camas foi reduzido para seis.

Em 1986, o então Capitão de Mar-e-Guerra, médico, Dr. Franz Traut, passou à situação de reforma (os médicos alemães eram obrigados a passar à reforma aos 60 anos) e foi substituído pelo Coronel médico, Dr. Joachim Niehaus.

Este acordo terminou em 1991 e os últimos deficientes militares regressaram a Portugal, em setembro de 1991. A partir desta data, apenas aqueles que necessitavam de tratamentos que não encontravam resposta em Portugal, eram autorizados a irem para o Hospital Militar de Hamburgo.

Atualmente, a chefia do Serviço de Ortopedia e Cirurgia de Acidentados é exercida pelo Coronel Médico, Dr. Bernhard Klein, o qual já efetuou diversas deslocações a Portugal, tendo visitado o então Hospital da Força Aérea e a ADFA.

O Dr. Franz Traut, a fisioterapeuta Frauke Maltusch e outros elementos ligados aos Deficientes das Forças Armadas (DFA), em 1981, foram condecorados pelo então Chefe do Estado-Maior do Exército, General Garcia dos Santos, em cerimónia pública no Estado-Maior do Exército.

Em 1977, o General Ramalho Eanes, na qualidade de Presidente da República, visitou os Deficientes da Forças Armadas no Hospital Militar de Hamburgo.

(***) Vd. poste de 25 de dezembro de  2021 > Guiné 61/74 - P22845: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XV: Dezembro de 1966: a Op Harpa em que é ferido com gravidade o Quebá Soncó, que depois irá para o hospital de reabilitação de Hamburgo, na Alemanha
 
(****) Último poste da série > 8 de dezembro de  2021 > Guiné 61/74 - P22788: Memória dos lugares (433): Tabatô, a tabanca da utopia, a 10 km, a nordeste de Bafatá - Parte IV

Guiné 61/74 - P22846: Blogues da nossa blogosfera (168): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (74): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.


MUNDO

ADÃO CRUZ
© ADÃO CRUZ

Neste mundo, em que os verdadeiros bárbaros são impostos aos olhos mais ou menos cegos, como agentes da paz, da justiça e do bem-estar, neste mundo em que a humanidade não come ou se enfarta de caviar, eu tento aquecer o pensamento com o abraço do nascer do sol, mas a pobreza foi reduzida a um buraco sem janelas e dói-me viver assim, sem a luz de um horizonte.

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TEMPO...

ADÃO CRUZ
© ADÃO CRUZ

Na luz do tardio amanhecer
no claro-escuro do fim da tarde
no descer da rua
no virar da esquina
no entrar da porta…
já não importa se o tempo vai se o tempo vem.
Tudo hoje é rua
tudo hoje é esquina
tudo hoje é porta de um tempo que se não tem

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22833: Blogues da nossa blogosfera (167): "Os pães e os peixes", conto de Joaquim Mexia Alves no Blogue da Tabanca do Centro