quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23515: In Memoriam (446): Gen João Almeida Bruno (1935-2022), que esteve connosco no CTIG, foi comandante da mítica Op Ametista Real, à frente dos seus bravos Comandos da Guiné, e participou depois no 25 de Abril


Lisboa >  2009 >  Da esquerda para a direita, o cor inf 'comando' ref Raul Folques e o ten general 'comando' ref Almeida Bruno (os dois primeiros comandantes do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné, e ambos Torre e Espada) e o saudoso grã-tabanqueiro Amadu Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015).

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2015). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




João Almeida Bruno (19935-2022)


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Mário Vitorino Gaspar:

Data - 11 ago 2022 9h18

Assunto - Morreu o general Almeida Bruno, capitão de Abril 

Caras Amigas e Caros Amigos

Estive mais uma vez hospitalizado no Hospital das Forças Armadas (HFAR), e tive a companhia, na mesma Enfermaria, do General Almeida Bruno.

Tive Alta a 8 de agosto e o Capitão de abril faleceu a 10.

Paz à sua alma (*)…

Mário Vitorino Gaspar
 

2. Presidente da República evoca General Almeida Bruno

10 de agosto de 2022

O Presidente da República evoca, com respeito, admiração e amizade, o General João de Almeida Bruno, apresentando as suas condolências à Família e ao Exército Português, que serviu com independência, sentido de missão e devoção integral.



3.  Recorte do Diário de Notícia, de  10 ago 2022, às 18h42 (com a devida vénia):

Morreu o general Almeida Bruno, que a PIDE tentou matar a um mês do 25 de abril

(...) Morreu esta quarta-feira o general João de Almeida Bruno, aos 87 anos, no Hospital das Forças Armadas.

Um dos mais condecorados oficiais da Guerra Colonial, participou no Golpe das Caldas, em que se tentou acabar com a Ditadura que vigorava em Portugal, um mês antes da revolução do 25 de abril de 1974. Nessa altura, foi alvo de uma tentativa de homicídio por parte da PIDE.

Almeida Bruno incorporou o Exército em 1952 e serviu as Forças Armadas ao longo de mais de quatro décadas, tendo estado na Guiné-Bissau e em Angola durante a Guerra Colonial e integrado o curso de oficiais da Academia Militar em 1953, ao lado de Loureiro dos Santos, Gabriel Espírito Santo, Ernesto Melo Antunes e Ramalho Eanes.

Após o 25 de abril, o general assumiu o cargo de diretor da Academia Militar. Entre 1994 e 1998, antes de passar à reforma, foi presidente Supremo Tribunal Militar.

Ao longo da carreira foi distinguido com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, com as medalhas de Valor Militar e da Cruz de Guerra, e com a Ordem Militar de Avis, entre outras condecorações. (...)



O comandante da mítica Op Amestista Real 


4. Na sua página do Facebook, escreveu hoje, às 8h53,  o Carlos Matos Gomes (ambos participaram na mítica Op Amestista Real, de que o major Bruno Almeida era o comandante, à frente dos seus bravos Comandos da Guiné):

No falecimento do general Almeida Bruno.

Acima de tudo a tristeza de ver partir um amigo, mas depois a de ver partir um ser excecional de generosidade, de coragem e de afetos, Ficarei com a memória de momentos muito difíceis partilhados e da sua atenção para com os amigos.
 
As Forças Armadas perdem um dos seus melhores. A democracia e a nova posição de Portugal no mundo após o 25 de Abril devem-lhe muito (mais do que é comum ser dito).  Um dia será reconhecido.

Eu perco uma voz e uma presença com quem cada momento era de cumplicidade e de respeito.

Até sempre, comandante. Encontramo-nos em Cumbamory, em Madina, no Estoril, na Amadora, em Caxias, em Brá, no Jóquei, na Colina. Uma bela coincidência, esta, a do nome do último restaurante onde nos encontrávamos.


5. Comentário do editor LG:

Não convivi com o gen (capitão no meu tempo, 1969/71) Almeida Bruno. Era então ajudante de campo do gen Spínola (que, entre as várias alcunhas que tinha, também era conhecido como o "Aponta, Bruno").

Para além das anedotas e dos "faits-divers" (e dos pequenos "desaguisados", das "frases menos felizes", etc.) ficam os homens, os portugueses que honraram Portugal, seja nas armas seja nas artes, nas letras, na ciência, no desporto, na política, etc... O Almeida Bruno já lá estará no "céu dos guerreiros" e no "cantinho dos portugueses"...

Que a família, os amigos do peito e os camaradas mais próximos saibam suportar a dor da sua perda.  
A Tabanca Grande, que representa o blogue dos amigos e camaradas da Guiné, apresenta condolências à família e aos camaradas que com ele combateram ou privaram de mais perto. 

Guiné 61/74 - P23514: Tabanca Grande (536): Francisco Pinho da Costa (1937-2022), ex-alf mil médico, CCS/BCAÇ 1888 (Fá Mandinga e Bambadinca, 1966/68), grã-tabanqueiro nº 864, a título póstumo, por proposta dos camaradas da CCAÇ 1439 (1965/67) (João Crisóstomo)



Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) > Fevereiro de 1966 > Cecília Supico Pinto, presidente do Movimento Nacional Feminino, na sua 1ª visita à Guiné, então já com 44 anos (ia fazer 45 em 30 de maio de 1966). De pé à esquerda, na última fila, de óculos, o alf mil médico Francisco Pinho da Costa (assinalado or cercadura a amarelo), que residia em São João da Madeira, antes de morrer há dias (*).  Era oftalmologista reformado. O João Crisóstomo é o primeiro da esquerda, na 1ª fila.

Foto (e legenda): © João Crisóstomo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



São João da Madeira > 23 de outubro de 2021 > Dois velhos camaradas do tempo de Porto Gole: o alf mil at inf João Crisóstomo, da CCAÇ 1439 (1965/67) e o alf mil médico Francisco Pinho da Costa, da CCS/ BCAÇ 1888 (Fá Mandinga e Bambadinca, 1966/68). (**)

Foto (e legenda): © João Crisóstomo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de João Crisóstomo (ex-alf mil at inf, CCAÇ 1439, 1965/67, a residir em Nova Iorque):

Data - sexta, 5/08/2022, 23:33 
Assunto - A CCaç 1439 associa-se à homenagem ao Dr. Francisco Pinto da Costa

Hello, Luís Graça,
 
Cheguei há pouco a casa e como sempre a primeira coisa que fiz foi ver o "correio do dia” no computador. 

 Quando no ano passado, em outubro, fui encontrar o Dr. Francisco da Costa,  ele parecia de boa saúde e,  porque não recebi notícias em contrário desde então, esta foi agora uma surpresa triste para mim.

Falas em integrar a título póstumo o nosso camarada Dr. Francisco Pinho da Costa na Tabanca Grande. Acho uma boa idéia. Como dizes,  não eram muitos os médicos que se atreviam a deixar a segurança, embora relativa,   da caserna, e acompanhar os militares nas saídas. Especialmente depois de terem sido avisados por indivíduos da tabanca que a coluna ia ser atacada…

Tentei o telefone da sua esposa, agora viúva,  Maria Augusta, com quem no passado falei ao telefone mais do que uma vez, para lhe pedir o seu consentimento. Acredito que ela até se sentiria muito contente que tal sucedesse. Não consegui resposta mas acho que podemos assumir o seu consentimento.

Como o Adão Cruz era colega e amigo dele de muitos anos e por diferentes facetas com ele associado, acho que, com mais razões do que eu, devia ser ele a fazer essa apresentação. Por mim não tenho mais informações e fotos do que aquelas que já enviei e apareceram já no blogue. Mas se houver mais alguma coisa que eu possa contribuir, falo-ei imediatamente.

Pensei em te telefonar, mas quis primeiro dar a notícia aos camaradas da CCaç 1439, que doutra maneira dificilmente chegariam a saber. Apesar das tuas e minhas várias tentativas nesse sentido, e apesar de sempre manifestarem interesse nele,   poucos têm o cuidado de o seguir. Uma pena! Não sei como explicar nem muito menos remediar.

Mas na falta de melhor, permite-me juntar o que segue como uma homenagem dos camaradas da CCaç 1439 que ainda estão connosco, cujos contactos pessoais actualizados ainda possuo e que com ele conviveram na Guiné.

Ao dar a conhecer o fim da chamada telefónica, duma maneira ou outra todos manifestaram o seu pesar. Embora diferentes na sua maneira de se expressarem, a resposta de todos eles foi mais ou menos expressada nas palavras do primeiro que contactei, o Sousa (Francisco Viemonte de Sousa) :

"Eh, pá! Mas que pena . Era um tipo porreiro . Gostava muito dele".

Além das condolências pelo desaparecimento do nosso Dr. Francisco da Costa, os contactados, sabendo que eu ia falar com outros colegas, aproveitaram para que eu fosse o portador dum abraço de cada um deles.

Assim me recomendou o Freitas, da Madeira, ao mesmo tempo em que lembrava o carinho e desvelo que o agora falecido mostrou na enfermaria de Enxalé no primeiro dia em que este foi atacado:

"Ele era médico mas via-se que era primeiro que tudo um amigo, ajudando os outros, esquecendo-se de si próprio" . A

liás essa era sempre a impressão que dele tínhamos. Assim o lembro e assim escrevi na "História da CCaç 1439", publicada neste blogue no  poste P22478 (***),  sobre o dia em que ele foi evacuado para o HM 241, em Bissau:
 
(...) "Sabíamos que o médico, alferes Francisco Pinho da Costa,  também apresentava dificuldades; não sabíamos porém a sua gravidade, pois ele não deixava de prestar socorros a toda a gente. Só nos disse da sua gravidade quando o helicóptero já estava a chegar e ele disse que também tinha de ser evacuado: depois de violentamente projectado pelo sopro da mina,  ao cair no chão tinha partido as pernas". (...)

Falei com bastantes outros camaradas da CCaç 1439, e todos sem excepcão, depois dos pêsames pelo nosso falecido, se queixaram da enfermidade que mais cedo ou mais tarde prova não ter cura : a idade. Alguns como o Verdasca, o Pimentel, o Figueiredo e o Mafra mostram a sua não diminuída valentia,  continuando a trabalhar nos seus quintais… 

O Teixeira, o Neiva, o Henrique Matos e o Viegas também não esmorecem, como provam as diversas actividades sociais e similares que os conservam ocupados, que nem tempo têm para pensarem em queixumes. Já o Lopes, o Arantes e o Júlio dão a mão à palmatória reconhecendo que a coisa é mais ou menos complicada e a vida seria muito difícil sem a ajuda dos seus queridos.
 
O Geraldes e o Carvalho juntaram os seus nomes a uma longa lista de inacessíveis. Oxalá reapareçam no próximo “roll call”.

Este já vai longo. Telefono-te amanha, OK?
Abraço.
João (e Vilma)

2. Comentário do editor LG:

No passado dia 6 do corrente, tinha enviado ao João Crisóstomo a seguinte mensagem:

(...) "Obrigado, João. Vou publicar a tua homenagem póstuma ao Francisco Costa, tua e dos teus camaradas da CCAÇ 1439. Vou aguardar o parecer do dr. Adão Cruz, mas penso que há consenso, entre nós, sobre a minha proposta para o nosso Francisco Costa passar a figurar na lista, na Tabanca Grande, dos que 'da lei da morte já se libertaram'... Há referências dele no blogue, fotos e textos, mais do que suficientes. É também a nossa forma de honrar a sua memória, evitando que fique inumado na 'vala comum do esquecimento'...Talvez o Adão, seu amigo do peito, tenha informação adicional sobre a sua biografia: ano e local de nascimento, contactos com a família, etc." (...)

João: vejo que o Adão Cruz também se associa, implicitamente, à tua e à minha proposta. Escreveu o Adão Cruz, em 6/8/2022, as 11h13:

(...) "Caro Luis Graça. Neste momento não sei em pormenor os dados que vocês pretendem. No entanto, vou deixar passar alguns dias e tentarei obtê-los através da família. Grande abraço do Adão". (...)

O Francisco Pinho da Costa "não vai esperar" mais, agora que o seu corpo desceu à terra e ficamos privados do seu convívio terreno. Passa, pois, a integrar a nossa Tabanca Grande, embora infelizmente a título póstumo (****). Não temos outra maneira de o homenagear,

Pela conversa que ele manteve em 21 de outubro de 2021 com o João Crisóstomo (**), vê-se que se sentiria honrado em juntar-se, em vida, aos seus antigos camaradas da Guiné, se o nosso convite lhe tivesse chegado a tempo. Por certo que a família não porá quaisquer objeções a este nosso gesto de amizade e camaradagem. E é isso que vamos pedir ao Adão Cruz: que explique à viúva, quando se proporcionar a ocasião, o sentido do nosso gesto. O nome do Francisco Pinho da Costa passara então a figurar na lista dos amigos e camaradas da Guiné, membros da Tabanca Grande, já falecidos desde 2007, e que são já 123, conforme consta da coluna estática do blogue, do lado esquerdo.
_________

Notas do editor:

(**) Vd. poste de 24 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22657: (De) Caras (180): 55 anos depois, o reencontro ao vivo, em São da João da Madeira, com o ex-alf mil médico Francisco Pinho da Costa (BCAÇ 1888, Fá Mandinga e Bambadinca, 1966/68) (João Crisóstomo, Nova Iorque, de visita a Portugal) 


(****) Último poste da série > 23 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23379: Tabanca Grande (535): Ramiro Alves de Carvalho Figueira, ex-Alf Mil Op Esp da 2.ª CART/BART 6520/72 (Nova Sintra, 1972/74). Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 863

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23513: Historiografia da presença portuguesa em África (329): Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
Graças ao indefetível apoio da bibliotecária da Sociedade de Geografia de Lisboa lá vou mergulhando por mares nunca por mim navegados, cheguei a porto ignoto, o Boletim Mensal das Missões Franciscanas, sempre à busca de uma nova pérola, sei muito bem que não posso encontrar nada de mais completo daquilo que escreveu o Padre Henrique Pinto Rema sobre as missões católicas da Guiné. Mas logo me chamou a atenção este Padre António Joaquim Dias, andou em missionação mais de oito anos pela Guiné, guarda recordações inolvidáveis de Bolama e as suas impressões são dignas de ser postas em público, três quartos de século depois.

Um abraço do
Mário



Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (1)

Mário Beja Santos

A leitura do Boletim Mensal das Missões Franciscanas e Ordem Terceira, um conjunto de cartapácios que ando a folhear na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, reserva surpresas quanto à Guiné. No boletim referente a janeiro de 1943 começam a ser publicadas as impressões do Padre António Joaquim Dias. Começa por alertar quem para lá viaja, e deste modo: “Como na Guiné é verão todo o ano, o sol é fogo e o suor hábito inveterado, muna-se de roupas leves, claras e sem forros. Os casacos brancos e batinas da mesma cor, coadjuvados pelos capacetes ou chapéus coloniais, igualmente brancos, são os únicos para-raios a defender-nos das picadas terríveis do sol tropical”.

E começa a sua descrição da Guiné, não se pode dizer que não seja bom observador:
“Para quem leva os olhos feridos e a alma picada pelas penedias basálticas das ilhas de Cabo Verde, a entrada na Guiné sabe bem, enternece até ao fundo da alma. Da água do oceano, ergue-se a planície imensa, aveludada. É um alfobre, risonho e ondulado, de um quente verde-amarelo, a espreguiçar-se, convidativo, acariciador. O mangal mergulha as raízes na própria água salgada e lança outras, aéreas e robustas, a segurar melhor a Guiné, a vincá-la mais ao chão, que o mar lhe disputa. Não se sabe onde o oceano termina e a terra começa.
Aquele, atrevido, infiltra-se por todos os lados, em baías e canais, no continente fronteiro; e estende também os seus braços, numa luta titânica, a procurar arranjar mais espaço, maior domínio, mais um pedaço para o seu leito. Investe contra os próprios rios, a quem desrespeita, às vezes, por léguas e léguas, com lhes sujar e salgar a água cristalina, ósculo amoroso de terra amiga. É por isso que, na Guiné, viaja-se navegando; e, navegando, se vai a toda a parte, como dizia o outro”
.

Dá-nos a saber que andava a pesquisar sobre as antigas missões da Guiné, mas preferiu começar por crónica ligeira, continua a dar muita importância aos roteiros e viagens, acha proveitoso lermos arquivos de Geografia, de Etnografia e até de História. Promete não escrever nenhum roteiro, dizendo que foi apenas à Guiné e regressou, começou no porto de Bolama e terminou no de Bissau, por onde voltou. Ficamos a saber que embarcou para a Guiné em fevereiro de 1934, foi para África por livre vontade, ia acompanhado por outro confrade missionário, “levávamos umas roupas, uns livros, muito entusiasmo para o trabalho, muita confiança no Senhor e a saúde precisa”. Fora-lhes abonada a viagem, encontraram benfeitores em Bissau, eram missionários sem côngrua. Terá feito o seu apostolado até 1942, e confessa o seu pesar pela partida: “Não é debalde que, durante oito anos, nos afazemos a chamar nossa terra mesmo à África. Ao dobrar Caió – a porta da Guiné –, duas lágrimas, grossas e quentes, desceram rapidamente as faces”.

Confessa que está a escrever no Hospital de Jesus, com data de outubro de 1942, veio com pouca saúde, e dedica os seus textos aos obreiros evangélicos, presentes e futuros, da saudosa Guiné. Disserta sobre o trabalho de missionário, não é só o apostolado, há a instrução literária, o saber acompanhar as técnicas agropecuárias e observa que é da máxima conveniência haver missionários que saibam traçar, em escala, projetos simples de edifícios a levantar nas missões, e explica porquê: “As missões sofrem, não raro, pelo prejuízo que lhes advém da falta dos edifícios, das demoras dos traços, sujeitando-se a perder os auxílios financeiros terminado o ano económico. Os técnicos, por via de regra, gostam de delinear bonecos bonitos, alçados vistosos que, amanhã, possam despertar a curiosidade pública… Nem sempre, porém, essas belezas e devaneios artísticos se coadunam com a exiguidade de recursos das missões”. E deriva para uma outra observação: “Não são contrários à tradição missionária portuguesa os estudos e coleções de História Natural e de Etnografia, recomendados, insistentemente, e favorecidos, desde 1926, pela legislação missionária o Comandante João Belo”.

Dá-nos uma impressão de Bissau, capital da Guiné desde dezembro de 1941, parece estar a conversar connosco:
“Para além, para nascente, a parte antiga, a começar na Amura ou pequeno recinto muralhado, onde ainda se conversam em minúscula igreja paroquial e os edifícios do quartel e repartição militar; ali o centro, a este lado do poente e lá para o alto, a parte nova. Repare numa coisa: a cidade parece reclinar-se numa encosta que não existe; espreguiça-se molemente. E para dar-se tom, para roncar, como aqui dizem, ela rasgou avenidas, abriu ruas; mas esqueceu-se de levantar casas. Anda agora empenhada nisso. Entre os edifícios, novos e menos novos, sem serem velhos, avultam: a imensa Casa Gouveia, da CUF, a maior empresa comercial da Guiné; depois, o Banco Nacional Ultramarino, única entidade bancária da colónia; ainda o edifício dito das Repartições; a imponente Catedral, em românico estilizado, mas não rematada; a Companhia da África Ocidental Francesa; um dos improvisados hotéis, que são três ao todo; mais algumas casas comerciais; um ou outro chalé modesto, particular ou do Estado; os bairros dos funcionários, que há para todos os gostos; talvez também o hospital, com seus múltiplos pavilhões de um só piso, e não vejo mais nada que mereça citar-lhe, a não ser a nova Alfândega. Ao centro da Praça do Império, no alto da povoação, atira-se para os ares uma espécie de obelisco granítico de uns quinze metros de altura; um monumento ao Esforço da Raça. A vasta praça, incontestavelmente uma das mais amplas do Império Português, aguarda que adotem de edifícios condignos, entre os quais há de sobressair o Palácio do Governador, em construção. Acrescentemos a isto umas dezenas de casinhotos térreos, em paredes de barro, meia dúzia de edifícios de primeiro andar, rodeados das indispensáveis varandas, ainda algumas ruas e vielas, - e aí tem o meu amigo a ínclita cidade de Bissau”.

Deplora a desolação de Bolama: “Chorarei eternamente com quem me hospedou durante sete anos e me livrou dos mosquitos enfadonhos e venenosos de Bissau, das temíveis biliosas, perniciosas e quejando as esferas africanas". Começara a desventura de Bolama, tal como ele a descreve: “Dia e noite, as ruas mais desertas, ainda mais tristes. Muitas casas apagadas, diminuídas as luzes nas ruas, desolados os comerciantes. Bolama assemelhava-se a cemitério imenso. E, noite fora, manguços aos punhados – espécie de gatarrões, feios e fedorentos, monopolizavam os passeios do jardim público, para seu folgar ameno”.

Recorda aquele jardim, o quintal da sua casa, o adro da igreja, e pergunta-se: “Como viverá agora, esse malfadado jardim de Bolama e o burgo inteiro? A acarinhada povoação de outros tempos terá sucumbido, enfim? Os coqueiros do lado fronteiro ao hidroporto poderão continuar a distrair-se com as evoluções, os soberbos Clipper que por ali vão zumbir, despejar forasteiros, levar movimento e vida”. Suspira uma Bolama nova, pede benevolência ao leitor por exaltar a sua querida Bolama. As impressões vão continuar, as que escreveu agora datam de Lisboa, 1 de janeiro de 1943.

(continua)


R.P. António Joaquim Dias
Dançarino Mancanha da nossa Guiné
Bolama, interior da Igreja
Bolama, Câmara Municipal e Administração do Concelho
____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23486: Historiografia da presença portuguesa em África (328): Bissau, 1753: Escaramuças na construção da Fortaleza de S. José (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23512: Notas de leitura (1473): Eduardo Lourenço (1923-2020): afinal, quem são os portugueses, e o que significa ser português? (José Belo, Suécia)


Eduardo Lourenço (Almeida, 1923 - Lisboa, 2020).
Foto da Agência Lusa (2020). 
Cortesia de Wikimedia Commons


1. Mensagens do José Belo:

(1) Data - 6 ago 2022 11:31
Assunto - Talvez o menos estrangeirado

Caro Luís

O nosso Eduardo Lourenço soube, talvez melhor,  que muitos intelectuais contemporâneos, pôr o dedo na ferida quanto aos nossos grandiosos mitos lado a lado com profundos complexos.

Vou enviar-te um texto resultante de leitura muito atenta a alguns ensaios do mesmo

PS - Espero sinceramente que quanto às saúdes todos nós continuemos sem estar... ”piorzinhos”!

Um abraço, JBelo

(ii) Data - 6 ago 2022, 12h39

Assunto - Estrangeirados

Francamente que não sei se o tema, e texto, terá cabimento (ou interesse) para os seguidores do blogue. Os parâmetros são distintos.

A ser publicado fico grato se indicares uma data aproximada que possa permitir um debate… caso este venha a surgir.

A fins deste mês volto para Key West e, por lá,  os meus tempos dedicados à “com-puta-gem” perdem prioridade frente ao Sloppy Joe’s Bar.

Um abraço com votos, para ti e família, de Boas Férias! JBelo

 

"Lisboa é o sítio ideal para acreditar que as Caravelas continuam a existir" (Eduardo Lourenço). Foto: José Belo (2022).

2. Eduardo Lourenço:  “As palavras que definem uma Nação “ (*)

Um dos maiores intelectuais portugueses contemporâneos que, e segundo as suas palavras… ”se afastou do País para respirar liberdade”. (**)

Nascido na pequena aldeia de São Pedro do Rio Seco, passou longo período da sua vida no estrangeiro. 
Primeiro como professor na Alemanha e, posteriormente, como professor nas universidades francesas de Grenoble e Nice.

Regressou a Portugal no período final da sua vida.

O jornal “Le Monde” descreveu-o como um intelectual liberto da rigidez política das ideologias,  que soube sempre seguir o seu próprio caminho.

As suas obras mais conhecidas foram escritas nos anos setenta, antes, durante e depois da “revolução dos cravos“: Tempo e Poesia (1974); O Labirinto da Saudade (1978). Obras que o tornaram conhecido fora dos círculos literários e académicos.

Importante parte dos seus ensaios foram dedicados a Luís de Camões e a Fernando Pessoa.

No “Labirinto da Saudade“ afirma que a literatura histórica portuguesa se pode ler como uma busca de resposta às perguntas:
  • Quem são os portugueses?
  • O que significa ser-se português?
Com início em Camões, Eduardo Lourenço identifica todo um irrealismo que engloba o espírito português. Uma mistura de grandiosidades lado a lado com profundo complexo de inferioridade.

Segundo ele, a imagem histórica de Portugal não é resultante de observações baseadas em realidades. Resulta antes de sonhos político-ideológicos criados por uma minoria urbana, como referido pelo realismo de Eça de Queiroz. Uma aristocracia (e burguesia) endinheirada sempre com o pé no estribo do "Sud-Express", arrastando-se para uma Europa onde se produz a verdadeira cultura e o conhecimento.

A existência de um mítico “povo simples” torna o diálogo literário entre estes polos opostos num… monólogo literário limitativo.

É neste espaço (ou contradição) entre a “falta” e o “regresso” que, segundo ele, surge a palavra “saudade”.

Afirma também que, em Portugal, tanto o neo-realismo como o comunismo (verdadeiros polos opostos à ditadura do Estado Novo tanto nas artes como na política) se dedicaram ao mesmo tipo de “mitologia” no modo como integraram na sua visão mundial os mesmos clichês quanto ao “Povo simples”, em tudo semelhantes aos usados por intelectuais da Direita. Mitos que serviram, e servem, como conveniente “manta de cobertura “ sobre um tipo de fragilidade histórica.

Com Salazar, o patriotismo jacobino dos convulsionados 16 anos da Primeira República, transformou-se em nacionalismo exaltado. O Estado Novo, com o seu aparelho de propaganda desde a escola aos meios de comunicação, cria uma verdadeira “Disneylândia” de portugalidades feita.

Como poderá a cultura de um pequeno país, isolado num extremo europeu, manter a sua originalidade, usar de um pensamento crítico quando a análises do passado, manter vivas as suas tradições ao mesmo tempo que se abre perante o mundo?

Segundo Eduardo Lourenço é fundamental para Portugal... ser europeu!

Um abraço do JBelo

Adenda - Talvez o menos… estrangeirado!

Abandona o país em 1953, mas recusa a condição de exilado. É apenas emigrado.

“Como é que um homem nascido em São Pedro do Rio Seco, pode ser outra coisa que não português?” Não aceita ser estrangeirado:” Não, não aceito!... Fico furioso. Fico desesperado.”

O seu método é o “de olhar de dentro mesmo estando fora”. No "Labirinto da Saudade" escreve:

“Pensar Portugal como vontade e como comunidade plural de destinos e valores, pondo em diálogo os mitos e a razão e… procurando afastar a maldição do atraso.”

“…é a hora de fugir para dentro de casa, de nos barricarmos dentro dela, de construir com constância o país habitável de todos, sem esperar de um eterno lá-fora ou lá longe a solução que, como no apólogo célebre, está enterrada no nosso exíguo quintal.

Não estamos sós no mundo, nunca o estivemos. A conversão cultural necessária passa por um olhar crítico sobre o que somos e o que fazemos.”

PS - E como Eduardo Lourenço escreveu: "Lisboa é sítio ideal para acreditar que as Caravelas continuam a existir"



José Belo, jurista, o nosso camarada luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande:

(i) tem repartido a sua vida agora entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Florida); 

(ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, recusando-se a jubilar-se do cargo: afinal todos os anos pela primavera, corre o boato de que a Tabanca da Lapónia morre para logo a seguir ressuscitar, como a Fénix Renascida; 

(iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); 

(iv) é cap inf ref (mas poderia e deveria ser coronel, se ele tivesse tratado da papelada a tempo) do exército português; 

(v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; 

(vi) tem 226 referências no nosso blogue.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 8 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23506: Notas de leitura (1472): "Histórias da C. CAÇ. 2533" - Os belos testemunhos da gentes da CCAÇ 2533 (1) (Mário Beja Santos)

(**) Vd. também postes de:

2 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21604: Manuscrito(s) (Luís Graça) (195): In Memoriam: Eduardo Lourenço (1923-2020), pensador maior da nossa história, da nossa cultura, da nossa identidade como povo

17 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15013: Notas de leitura (748): “Do Colonialismo como Nosso Impensado", Organização e Prefácio de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi, Gradiva Publicações, 2014 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23511: Parabéns a você (2089): Alberto Nascimento, ex-Soldado CAR da CCAÇ 84 (Guiné, 1961/63)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23498: Parabéns a você (2088): Coronel Inf Ref Fernando José Estrela Soares, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 2445 (Cacine, Cameconde e Có, 1968/70)

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23510: In Memoriam (445): António Júlio Emerenciano Estácio (Bissau, 1947 - Algueirão, Sintra, 2022): foi alf mil, RM de Angola (1970/72), viveu e trabalhou em Macau (1972/98) e era um apaixonado pela sua terra e as suas gentes

  

V Encontro Nacional da Tabanca Grande, Leiria, Monte Real, 2010 > 
António Estácio, 


Aos 17 anos, em 1964, em Bissau, na Guiné, onde nasceu em 3 de maio de 1947, de pais transmontanos, e fez o Liceu Honório Barreto (onde foi condiscípulo do Pepito e do Manuel Amanante da Rosa, entre outros).


1. Morreu o António Estácio, foi o António Graça de Abreu, seu amigo dos tempos de Macau, quem nos deu a triste notícia. Vivia em Algueirão, Sintra. Os seus restos mortais serão cremados hoje.  Não sabemos exatamente onde. Mas deve ser em Barcarena. (*)

António [Júlio Emerenciano] Estácio era um luso-guineense, nado e criado no chão de papel, em Bissau, em 1947. Completou os 75 anos, no passado dia 3 de maio. Era filho de  pais transmontanos, o pai funcionário público, a mãe professora primária. A família também viveu em Bolama, nos anos cinquenta.

Estudou no liceu Honório Barreto, em Bissau,  onde teve como professora a dra. Clara Schwarz (1915-2016), mãe do nosso comum amigo Pepito (1949-2014). Foi condiscípulo do Pepito e do Manuel Amante da Rosa, entre outros.

Veio para a metrópole, aos 17 anos (1964) (foto à direita), tendo-se formado como engenheiro técnico agrário (Coimbra, ex-Escola Nacional de Agricuktura, 1964-1967,  onde tirou o Curso de Regente Agrícola, e  onde foi condiscípulo do Paulo Santiago).

Estagiou no extinto Instituto de Algodão de Angola (IAA).  Entretanto, de janeiro de 1969 a maio de 1972 cumpriu o serviço militar obrigatório, tendo, a partir de março de 1970 a maio de 1972, prestado comissão de serviço na Região Militar de Angola (RMA), como alferes miliciano,  e estado aquartelado nas povoações de Luquembo, Sautar e Bessa Monteiro.

Depois de regressar de Macau (onde trabalhou e viveu de 1972 a 1998) (**), radicou-se   em Portugal, Algueirão, concelho de Sintra. 

Tinha uma forte ligação a Macau, cuja casa, em Lisboa, frequentava. Mas também conhecida toda a antiga comunidade luso-guineense que retornou a Portugal depois da independência. 

Era um homem discreto, reservado mas afável, e de fino humor. Esteve presente nalguns dos Encontros Nacionais da Tabanca Grande, o primeiro dos quais em 2010 (Vd. foto acima).  Também se reunia regularmente com os seus antigos condiscípulos de curso, entre eles o Paulo Santiago e outros (alguns oriundos das ex-colónias).



António Estácio, um homem apaixonado 
pela sua terra e as suas gentes


Sobre ele escrevi em 2010 (**): 

"Conheci-o, há dias, pessoalmente, na sessão de lançamento do livro do Amadu Djaló, 'Guineense, Comando, Português'... E hoje, de manhã (19 de maio de 2010)  estive a falar com ele ao telefone. É um apaixonado pela sua terra. E é dotado de um finíssimo humor. É uma pessoa encantadora. Convidei-o a (e ele aceitou em) fazer parte do nosso blogue. Fiz questão de sublinhar que não é apenas um blogue de camaradas que fizeram a guerra colonial na Guiné (1961/74) mas um espaço de diálogo entre todos aqueles que são naturais da Guiné ou são estudiosos da história e da cultura da Guiné, e nomeadamente que se interessam pela historiografia da presença portuguesa. E sobretudo daqueles que amam a Guiné e o seu povo."

Era (e continuará a ser)  membro da nossa Tabanca Grande desde 19 de maio de 2010; tem 64 referências no nosso blogue. Mas há mais de 2 anos que não tínhamos notícias dele. A última mensagem que publicou na sua página do Facebook data de 20 de junho de 2019. Alguém nos disse que sofria de  doença crónica degenerativa (Alzheimer). Tem, pelo menos, um filho, que foi quem contactou o António Graça de Abreu, e (se não erro) duas filhas. 

À família enlutada a Tabanca Grande, o blogue dos amigos e camaradas da Guiné,  apresenta as nossas mais sentidas condolências. Perdemos um grande amigo e um bom camarada.

2. É autor de diversas obras, de indole técnica e não técnica (*),  já aqui citadas ou em parte reproduzidas no blogue:  

(i) além de "Bolama, a saudosa" (edição de autor, 2016), dois dos seus livros mais recentes narram as histórias de vida de duas "mulheres grandes" da Guiné:

(ii) a cabo-verdiana Nha Carlota (1889-1970) ("Nha Carlota, figura esquecida da História Guineense", edição de autor, 2010):

(iii) e a guineense Nha Bijagó (1871-1959) ("Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959) (edição de autor, 2011, 159 pp., c/ ilustrações).

Publicámos também  no nosso blogue, com a sua autorização, a separata da sua comunicação "O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense, V Semana Cultural da China, de 21 a 26 de janeiro de 2002. (Referêmcia bibliográfica: Amtónio J. E. Estácio - O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense", in: Actas, V. Semana Cultural da China, Centro de Estudos Orientais, ISCSP/UTL, 2002, pp. 431‑466.)


 

Capa do livro "Bolama, a saudosa...", 
do nosso grã-tabanqueiro António Estácio, 

Excertos do Curriculum Vitae abreviado:

(...) (vi) em 28.09.1972 chegou a Macau, a fim de desempenhar funções técnicas na, então, Brigada da Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar (MEAU)); neste território, conviveu com o Mário Dias e com o José Neto (1929-2007, de quem ficou grande amigo, membros da nossa Tabanca Grande

(vii) de 28 Setembro de 1972 a 2 Dezembro de 1998 viveu em Macau, onde exerceu vários cargos e funções, como:

- Técnico e Técnico Chefe dos Serviços Florestais e Agrícolas de Macau (SFAM); 

- Criador e Coordenador da “Semana Verde”, campanha de sensibilização, nomeadamente dos jovens em idades escolar, sobre a manutenção, defesa e valorização das Zonas Verdes de Macau;

- Membro da Comissão de Educação da União Internacional para a Conservação da Natureza; 

- Vogal a Tempo Inteiro da Comissão Administrativa da Câmara Municipal das Ilhas (CMI); 

- Vogal do Conselho Consultivo do Governador; 

- Secretário-Geral e, posteriormente, vogal do Conselho do Ambiente (Macau); 

- Vice-Presidente da Câmara Municipal das Ilhas; 

- Colaborador da Editora Verbo; 

- Coordenador científico da Exposição “A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses”, promovida em 1995 pela Comissão Territorial de Macau para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; 

- Colaborador no Projecto Garcia de Orta, da “Expo 98”; 

- Colaborador do Museu de Macau; 

- Membro fundador (30.04.1974) e dirigente do Centro Democrático de Macau; 

- Sócio e, em 2 mandatos não sequenciais, membro da Direcção do Clube Militar (Macau); 

- Vogal do Conselho Fiscal da Associação de Xadrez de Macau; 

- Presidente da Direcção e Vice-Presidente da A.G. da Associação de Patinagem de Macau; 

- Segundo Secretário da A. G. da Associação para a Promoção da Instrução dos Macaenses, 

Em 03.07.1997 aposentou-se da, então, Câmara Municipal das Ilhas (Macau).

- Foi Vogal da Direcção da Casa de Macau (2003-2005); 

(viii) esteve ligado a diversas  instituições nacionais, desempenhando funções como: 

- Sócio da Sociedade de Geografia,  sendo e Secretário da sua Comissão de Heráldica; 

- Observatório da China, em cujo Conselho Fiscal, foi Vogal; 

- Membro da Associação Lusitana da Heráldica; 

- Associação Cultural da Terceira Idade e Sintra (ACTIS), sendo 1.º Secretário da Direcção. 

- Sócio n.º 456 da 223ª Casa do Benfica em Algueirão Mem Martins, fundada em 28.02.2008.

(ix) participou, por diversas vezes na Semana Cultural da China e no Fórum Internacional de Sinologia. 

(x) louvores e distinções:
  • Foi louvado pelo Despacho n.º 19/SASAS/91 e pela Deliberação n.º 268/26/CMI/97;
  • Foi agraciado, em 1995, pelo Governador de Macau, com a Medalha de Mérito Profissional ; 
  • Em Março de 2006, foi distinguido com a Moeda Comemorativa, pelo Instituto para os Assuntos Cívicos de Macau, aquando da 25.ª edição da “Semana Verde de Macau”. 
  • Em 8 de Fevereiro de 2007, distinguido com Medalha de Honra atribuída pela ONG “Acção para o Desenvolvimento” (AD), da República da Guiné-Bissau.
(xi) É autor, co-autor e coordenador de diversas publicações, na sua maioria de carácter técnico e referentes a Macau tendo apresentado comunicações, artigos, folhetos, brochuras e sido responsável pela edição de Boletins Informativos da Casa de Macau, da respectiva Folha In-formativa não periódica “Qui Nova?!...” que criou e, bem assim, responsável pela edição do Boletim da Associação Cultural da Terceira Idade e Sintra (ACTIS).

Trabalhos publicados > É autor de vários folhetos, brochuras e das seguintes publicações:

Publicações de índole técnica:

- Flora da Ilha da Taipa, Monografia e Carta Temática (M. E. Cartográficos) 1978; 

- Flora da Ilha de Coloane (S.F.A. Macau) 1982; 

- Dinâmica das Zonas Verdes na cidade de Macau (S.F.A.M.) 1982;

- Arborização de Macau. Intervenção de Tancredo Caldeira do Casal Ribeiro (1883-1885) (S.F.A.M.) 1985;

- Jardins e Parques de Macau  (Macau) 1993 (Em colaboração com o Eng.º Agrónomo e Arq. Paisagista António Manuel Paula Saraiva); 

- Zonas Verdes. Particularidades da Flora de Macau (Macau) 1994 – Ed. do B.C.M.;

- Guia do Parque de Seac Pai Van (C. M. das Ilhas - Macau) 1995;

- Evolução das Zonas Verdes das Ilhas  (C. M. das Ilhas -Macau) 1999 (Em colaboração com o Eng.º Técnico Agrário Carlos Daniel de Carvalho Batalha);

- As Árvores no Brasões Municipais – Ed. da C. M. de Freixo de Espada à Cinta 2001;

- Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense (Portugal) 2002 – Ed. do autor.

Publicações de índole não técnica: 

- Em Memória de Sá Nogueira (S.F.A.M.) 1984;

- Passadas. Recordações de um aluno do Liceu Honório Barreto, em Bissau. (1958-1964) - Ed. do autor (Macau)1992;

- Na Roda de Amigos – Ed. do autor (Macau) 1973;

- Para lá do Rasgar da Ganga ... – Ed. do autor (Macau) 1997;

- Histórias Vividas e Contadas – Ed. “Livros do Oriente” (Macau) 1997.

- Nha Carlota, figura esquecida da História Guineense – Ed. do autor (Portugal) 2010

Coordenador as seguintes publicações técnicas:

- Árvores de Macau, Vol. I, de autoria do Prof. Wang Zhu Hao (Ed. C. M. Ilhas) 1997;

- Árvores de Macau, Vol. II, de autoria do Prof. Wang Zhu Hao (Ed. C. M. Ilhas) 1999.

Foi editor do:

- Boletim do Rotary Club Amagao (Macau);

- Boletim da Casa de Macau (Lisboa) (2004-2006);

- Boletim da Associação Cultural da Terceira Idade de Sintra (ACTIS).

Guiné 61/74 - P23509: (Ex)citações (412): Reflexão - Ouvindo novamente a Oração de Sapiência proferida por Ana Luisa Amaral em Março passado, fui levado a reconhecer que a razão e o pensamento são as duas maiores riquezas do ser humano (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico)




1. Mensagem do nosso camarada Adão Cruz, (ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68), médico cardiologista, pintor e escritor, com data de 8 de Agosto de 2022:

© ADÃO CRUZ

REFLEXÃO

adão cruz

Ouvindo novamente a Oração de Sapiência proferida por Ana Luisa Amaral em Março passado, fui levado a reconhecer que a razão e o pensamento são as duas maiores riquezas do ser humano.

Ser capaz de parar para pensar é um enorme privilégio. Eu tenho um escrupuloso respeito pelo pensamento, pelo meu pensamento e pelo pensamento dos outros, quando racional e honesto. Acredito que todos nós, aqueles que nunca se venderam a nada nem a ninguém, aqueles que nas questões que mais nos inquietam e mais preocupam a humanidade necessitam sempre de pensar e ouvir a voz da razão. Não conseguem sentir-se livres fora da verdade, ou pelo menos fora da procura do caminho da verdade.

Há para mim três verdades que a reflexão profunda e séria de uma vida inteira tornaram irrefutáveis. Mas são minhas, e de modo algum eu pretendo impô-las a quem quer que seja.
Uma delas é a convicção de que o conhecimento e a cultura, a verdadeira cultura, ou seja, a cultura do conhecimento e, por inerência, a cultura da verdade são os mais importantes recursos de que dispomos para encontrar o caminho da justiça e da solidariedade, os sentimentos que nos acordam para a nobreza que poderia existir e não existe no coração da humanidade.
A segunda convicção é a do nefasto papel do obscurantismo, religioso ou não, arrastando consigo a irracionalidade e a secundarização do conhecimento, os grandes inimigos da verdade.
A minha terceira convicção é o simples reconhecimento de que a intencional desinformação e ignorância impostas ao mundo pelas forças que o dominam vai deformando, de forma mais insidiosa ou mais contundente, a consciência e mesmo a inconsciência das pessoas, levando-as à gelatinosa certeza de que não há verdade mais credível do que a verdade da mentira.

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23455: (Ex)citações (411): Cuidado com o "fogo amigo", cuidado com o dilagrama, cuidado com a granada defensiva... (António J. Pereira da Costa / Luís Graça)

Guiné 61/74 - P23508: (In)citações (213): Testamento, de Ana Luisa Amaral (1956-2022)... E homenagem a uma grande voz feminina da língua portuguesa (Luís Graça / Laura Fonseca)


Ana Luisa Amaral, Matosinhos,  Leça da Palmeira, 30 de setembro de 2014. 
Foto: Rita Amaral Ribeiro, 
Cortesia de Wikimedia Commons


1. Até sempre, poetisa! (*)
 por  Luís Graça

Quando morre um poeta ou uma poetisa,
morremos todos nós um pouco.
Ou morre um pouco de todos nós,
que de poeta e louco todos temos um pouco.

Não punhamos rótulos nos poetas ou nas poetisas,
porque são inclassificáveis,
não há poet...istas,
há só poemas, poemários,
há poetas, homens, mulheres,
novos, velhos, serôdios ou retardatários,
e sobretudo artesãos da(s) palavra(s),
talvez a mais bela invenção desse primata
que é o homo sapiens sapiens,
tão besta em tantas outras coisas
como a guerra, a violência, a intolerância, a estupidez.

A poesia é pura liberdade,
liberdade livre, disse outro poeta,
e a liberdade, quando é livremente livre,
é capaz de irritar, 
tão  ou mais que uma manada de elefantes a pisar a relva do jardim,
quem só vê as coisas através do manual da sua escola
ou do muro do seu quintal.

Ana Luisa Amaral
morreste, aos sessenta e seis anos,
porque eras mortal,
e tinhas medo de andar de avião,
mas gostavas tanto da vida
e das causas e das coisas e dos outros
que fazem a vida valer a pena.

Ficam os teus poemas, 
as tuas palavras magicamente concatenadas,
e eles e elas, os teus poemas e as tuas palavras,
serão, afinal, a tua prova de vida,
permanente.

Desculpa-me ter-te descoberto tão tarde 
(ou melhor, eu é que me penitencio),
só há dias fui à biblioteca municipal
requisitar o teu último livro, "Mundo".
E não o desgostei,
numa primeira leitura, avulsa, rápida, superficial, em diagonal.
Há demasiado ruído à nossa volta,
Ana Luísa Amaral,
e tanta coisa bela e essencial que nos escapa.

Nunca falariam tanto de ti, 
a comunicação social 
(e as redes sociais que tu detestavas),
se uma rainha espanhola, Sofia,
não te tivesse chamado ao paço
para te dar um prestigiado prémio... de poesia.
Sofremos, neste pequeno rectângulo ibérico,  
da síndrome do estrangeirado.
Que tristeza!

Nunca falariam tanto de ti
se agora não tivesses morrido,
assim tão de repente,
assim tão sem jeito,
sem tempo para gozares a fama e o proveito
de seres uma grande voz, feminina, da poesia em língua portuguesa.
 
Deixa-me então, reproduzir aqui, poetisa,
o teu "Testamento",
que leste há dias, uma semana antes de morreres, na RTP 3,  
no programa Grande Entrevista, do Vitor Gonçalves.

Leste-o, o teu "Testamento",
com grande beleza interior e serenidade e encanto.
E senti que já estavas no Olimpo dos poetas.
Leste-o premonitoriamente, 
sem poderes saber ou adivinhar
que o teu coração-avião já te tinha condenado à morte,
e ia falhar ou implodir no dia 5 de agosto.

Ana Luisa Amaral,
nem a tua Ritá nem nós, teus leitores, 
te vamos esquecer.
E tu serás a primeira a concordar
que  a poesia tem de se partilhar,
e chegar a todo o lado,
sem respeito pelas fronteiras ou outras barreiras
como os semáforos vermelhos.
Precisamos urgentemente do TGV da poesia
a percorrer a autoestrada da vida
mesmo em contramão,
mesmo em contravenção,
excedendo o limite legal dos 120 km/hora de velocidade.

Mas que pachorra,  este nosso comboio 
que, no seu ramerrame, pouca terra, pouca terra, 
mal faz pela vidinha!

E foste tu a dizer, há dias,
que os futuros jovens professores,
saídos das nossas faculdades de artes e letras, 
teus alunos, afinal, 
mestres e doutores de Bolonha, 
sabem quão coisa séria e grave é a poesia
a tal ponto que têm medo de a ensinar e de a dizer....
Por vergonha.

Há fome de poesia no mundo, 'priga'
(como se diz na minha terra natal)
mas, por favor, Ana,
que não nos venham fazer crer, Luísa,
que é tudo tetras,
e que a poesia não enche barriga, 
oh poetisa  Amaral!

Luís Graça, Lourinhã, 7 de agosto de 2022

2. Testamento

por Ana Luisa Amaral (1956-2022)

Vou partir de avião 
E o medo das alturas misturado comigo 
Faz-me tomar calmantes 
E ter sonhos confusos 

Se eu morrer 
Quero que a minha filha não se esqueça de mim 
Que alguém lhe cante mesmo com voz desafinada 
E que lhe ofereçam fantasia 
Mais que um horário certo 
Ou uma cama bem feita 

Dêem-lhe amor e ver 
Dentro das coisas 
Sonhar com sóis azuis e céus brilhantes 
Em vez de lhe ensinarem contas de somar 
E a descascar batatas 

Preparem minha filha para a vida 
Se eu morrer de avião 
E ficar despegada do meu corpo 
E for átomo livre lá no céu 

Que se lembre de mim 
A minha filha 
E mais tarde que diga à sua filha 
Que eu voei lá no céu 
E fui contentamento deslumbrado 
Ao ver na sua casa as contas de somar erradas 
E as batatas no saco esquecidas 
E íntegras.

In Ana Luisa Amaral - "Inversos. Poesia 1990-2010" (Lisboa, Dom Quixote, 2010, 656 pp.)  (Esgotado)

3. Mensagem da nossa amiga (minha e da Alice Carneiro),  Laura Fonseca, socióloga, especialista em Estudos sobre as Mulheres (Faculdade de Letras, Universidade do Porto), natural da Lixa, Felgueiras, a viver no Porto, que conheceu (e conviveu com) a Ana Luisa Amaral:


Laura Fonseca, Porto (by email)
8 ago 2022 20:14

Olá, Luís

Ainda não digeri a morte deste grande ser humano, poeta, colega, mulher de causas e também de algum relacionamento pessoal, feminista, académica de excelência. Partilhei com ela, nos anos 1990/2000(?), a direção da APEM - Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres. Estava ainda no início do seu reconhecimento poético e no final do seu doutoramento. O que nós partilhávamos e apreendíamos!!!

Na verdade, o teu amigo Adão Cruz (*) faz um texto belíssimo, que exprime bem o que penso e sinto em relação a esta mulher: tão culta, tão solidária, tão inquieta e subversiva perante os problemas humanos. E fazia-o sempre e tinha sempre tempo, com a sua presença, a sua poesia.

Admirava a sua cultura, o seu empenho, o caminho de maturidade poética que estava a trilhar, sem perder o pé na terra nas pequenas e grandes coisas. Ana Luisa adorava partilhar o seu trabalho, fazer e dizer poesia, divulgar o trabalho de outras mulheres e homens. Não se cansava de dizer sim e ser generosa, mesmo que crítica com tudo o que fosse errado para as pessoas e a natureza neste mundo.

É uma pessoa que nos deixa muito. Mas é também uma pessoa que nos vai fazer muita falta, ao mundo, ao país, ao Porto, à academia, à ciência, ao movimento cívico e político, aos amigos e à sua adorada filha Rita,  sempre sua companheira e sua inspiração de amor e de humanidade.

Obrigada, Ana Luísa, obrigada, Adão Cruz, pelo seu maravilhoso texto de homenagem. (**)

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Notas do editor:


 

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23507: Agenda cultural (819): No passado dia 2 de Julho de 2022, foi apresentado, na Casa Pia de Lisboa, o livro "Alfredo Ribeiro – História, Memória, Saudade - O Universo Casapiano", da autoria de Luís Vaz. Alfredo Ribeiro foi Furriel Miliciano na CCAÇ 4150/73 (Albano Costa)

1. Mensagem do nosso camarada Albano Costa (ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150 (Bigene e Guidaje, 1973/74), com data de 5 de Agosto de 2022:

Boa tarde Vinhal
No passado dia 2 de julho foi feita a apresentação na Casa Pia de Lisboa do livro sobre a vida de um casapiano que passou pela guerra do ultramar, na Guiné, o Alfredo Ribeiro que foi furriel-miliciano na minha Companhia.

O título do livro é:
"Alfredo Ribeiro – História, Memória, Saudade - O Universo Casapiano", por Luís Vaz.

Agradeço a publicação
Albano Costa



SINOPSE

Sobre o livro:

Alfredo Ribeiro era um homem empenhadamente trabalhador, humano e de uma honestidade rara. É recordar o período posterior - a Abril de 1974.
Estamos perante alguém que não capitulou sob as vicissitudes da vida, enfrentando-as com estudo, trabalho, dedicação e alegria, desde criança até à sua morte.

Detalhes do produto:

Alfredo Ribeiro de Luís Vaz
ISBN 9789727808144
Edição/Reimpressão 07-2022
Editor: Âncora Editora
Idioma: Português
Dimensões: 149 x 229 x 18 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 312
Tipo de Produto: Livro
Classificação Temática: Livros em Português > Literatura > Memórias e Testemunhos
Preço: 16,20€

Com a devida vénia a Wook.pt

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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23490: Agenda cultural (818): apresentação, às 17 horas, em Ferrel (dia 8) e no Baleal (dia 15), de dois novos livros de Joaquim Jorge (ex-alf mil at inf, CCAÇ 616, Empada, 1964/66): (i) Versos ao Acaso; (ii) Baleal: Beleza, Encanto, Fascínio!